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Sendo o direito de crédito um direito relativo, a sua oponibilidade a terceiros é,

segundo Menezes Leitão, limitada, apenas ocorrendo em certas circunstâncias,


enquanto que a oponibilidade dos direitos reais é plena.
O direito real adere à coisa, estabelecendo uma vinculação tal com a coisa que dela é
inseparável, sendo esta a denominada inerência dos direitos reais, a qual tem uma
manifestação dinâmica que é a sequela, a qual significa que o titular de um direito real
pode perseguir a coisa onde quer que ela se encontre. No entanto, já não ocorre
sequela nos direitos de crédito, sendo que se alguém tem direito a uma prestação e o
devedor aliena o seu objecto, o credor já não a pode exigir, restando-lhe apenas pedir
uma indemnização ao devedor por ter impossibilitado culposamente a prestação.
Os direitos reais são também caracterizados pela prevalência, a qual significa, lato
sensu, que é prioritário o direito real primeiramente constituído sobre posteriores
constituições, salvo as regras do registo, e a maior força dos direitos reais sobre os
direitos de crédito (da qual Menezes Cordeiro discorda). Portanto, não é possível
constituir sucessivamente dois direitos reais incompatíveis sobre o mesmo objecto,
prevalecendo então o primeiro. No entanto, isso não ocorre com os direitos de crédito,
os quais não possuem qualquer hierarquização entre si pela ordem da constituição,
concorrendo antes em pé de igualdade sobre o património do devedor, o qual, sendo
insuficiente, será rateado para se efectuar um pagamento proporcional a todos os
credores (art.º 604.º, n.º 1, CC), salvo se estes direitos de crédito vierem
acompanhados de um direito real que atribua prevalência no pagamento (art.º 604.º,
n.º 2, CC). Assim, para Menezes Leitão, os direitos reais prevalecem sobre os direitos
de crédito.

Objecto da obrigação: a prestação – delimitação do conceito de prestação

Da definição do art.º 397.º decorre que a prestação consiste na conduta que o devedor
se obriga a desenvolver em benefício do credor, consistindo na resposta à pergunta
quid debeatur, surgindo esta, portanto, como a contraposição ontológica ao conteúdo
deontológico da vinculação assumida pelo devedor. Portanto, a realização da
prestação é considerada como cumprimento da obrigação, importando a sua extinção
(art.º 762.º, n.º 1, CC).
A prestação pode tanto consistir numa acção como numa omissão, sendo o seu
conteúdo determinado pelas partes, dentro dos limites da lei (art.º 398.º, n.º 1, CC). A
prestação consiste frequentemente não propriamente na actividade mas antes no
resultado dessa mesma, conferindo à expressão “prestação” um duplo sentido.

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