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RESENHA

CARVALHO, J. A. M. de, & BRITO, Fausto (2013). A demografia brasileira e o declínio da


fecundidade no Brasil: contribuições, equívocos e silêncios. In: Revista Brasileira de
Estudos de População, 22(2), 351-369. Recuperado de
https://www.rebep.org.br/revista/article/view/2495, abr./jun., 1992. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/csp/v8n2/v8n2a08.pdf.
Fernanda Salgueiro Passos

Nos primeiros parágrafos do artigo, Carvalho e Brito introduzem a discussão sobre o


papel da comunidade demográfica brasileira, na qual os autores analisam as contribuições, os
equívocos e, em particular, os silêncios dos demógrafos e estudiosos da população sobre o
processo de célere declínio da fecundidade no país e suas repercussões. De acordo com os
autores, em questões como a desinformação e falta de acesso de mulheres pobres a medidas
de controle da fecundidade, tal como em relação aos desafios e oportunidades gerados pelo
novo padrão demográfico, ainda prevalece o silêncio dos demógrafos brasileiros.

Nos dois tópicos seguintes do texto, Carvalho e brito fazem uma revisão histórica das
agendas internacional e nacional referentes a questão do crescimento populacional. A agenda
política internacional se fundamentava em duas dimensões principais: a primeira referente a
tese de que o crescimento econômico em conjunto com a modernização reduziria o
crescimento populacional e a segunda referente aos problemas políticos resultantes da pressão
demográfica em regiões pobres. Entretanto, a realidade dos países subdesenvolvidos e a
disputa político-ideológica internacional, transformou o otimismo demográfico dos países
capitalistas em um pessimismo malthusiano. A agenda nacional, se dividia entre aqueles que
acreditavam que o território brasileiro comportaria o crescimento populacional e aqueles que
defendiam a necessidade de políticas públicas que promovessem o controle da natalidade.
Apesar desses debates terem se estendido até os anos 80, o Brasil já apresentava uma queda
na fecundidade, fato que gerou perplexidade na comunidade demográfica e estimulou a
produção de análises sobre o fenômeno por parte dos controlistas, quanto dos não controlista.

Cabe ressaltar que no terceiro tópico os autores chamam a atenção para o surgimento
de um novo paradigma. Nas palavras de Carvalho e Brito:

Não se tratava mais de discutir a relevância de se controlar a fecundidade para que o


crescimento da economia fosse maior e mais justo. A própria história recente
brasileira desmentia a tese controlista: a economia tinha crescido aceleradamente
desde os anos 50, a fecundidade havia diminuído aceleradamente a partir da segunda
metade dos anos 60, e a pobreza continuava num patamar inaceitável. Não se podia
mais considerar o planejamento familiar como uma panaceia para se reduzira
pobreza (CARVALHO E BRITO, 2005, p. 364).
A partir da colaboração entre médicos progressistas e o movimento das mulheres, o
planejamento familiar passou a ser compreendido como um dos componentes da saúde da
mulher. Os autores atestam que apesar do vertiginoso declínio das taxas de fecundidade
brasileira, a população feminina pobre ainda não possui acesso à saúde reprodutiva e a meios
de controle de sua prole, o que associado a própria pobreza limita o pleno exercício de sua
cidadania.

Nesse sentido, o artigo se destaca por asseverar a necessidade de que demógrafos e


estudiosos da população se posicionem em favor do planejamento familiar, mas também
advoguem para que a ele tenha acesso a população pobre. Ademais, Carvalho e Brito alertam
para os impactos da teoria de neutralidade da população nos processos sociais, crença que
ainda hoje, faz com que grande parte da demografia brasileira tenha dificuldade em
“reconhecer que o declínio da fecundidade, com as consequentes diminuição do ritmo do
crescimento populacional e profunda mudança na estrutura etária, abriu para a sociedade
novas oportunidades, assim como coloca sérios desafios” (CARVALHO E BRITO, 2005, p.
366). Os autores se diferenciam dos demais ao fazerem uma análise crítica de dentro da
demografia para a demografia, evidenciando os equívocos e silêncios passados na esperança
que estes não se repitam no futuro.

Pensando a partir do campo da Ciência Socioambiental, a leitura do artigo A


demografia brasileira e o declínio da fecundidade no Brasil: contribuições, equívocos e
silêncios, oferece a oportunidade de apreensão da dimensão política que a questão do
crescimento populacional assumiu na segunda metade do século XX e seus desdobramentos
para o país. Além disso, permite a reflexão sobre a transição demográfica brasileira e os
possíveis desafios que as mudanças climáticas acarretaram, em especial, para uma população
cada vez mais envelhecida.

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