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Resumo
Este presente artigo objetiva relacionar a vida e trajetória de uma grande mulher negra,
Marielle Franco, com as discussões feitas durante a disciplina História das Mulheres e
das Relações de Gênero ministrada pela professora Erika Arantes – UFF Campos,
somado aos estudos e perspectivas feministas das autoras estudadas trazendo sempre o
contexto de raça para nortear este trabalho.
Introdução
Não é novidade para as (os) interessadas (os) em estudos sobre gênero, que o
movimento feminista tem cor e classe em suas origens: branca e burguesa,
respectivamente. A história do movimento de libertação da mulher surgiu com bases
intencionalmente nobres, porém, excessivamente excludentes. A ideia principal de que
o sofrimento das mulheres no geral na sociedade patriarcal não podiam ser medidas,
portanto, todas sofriam igualmente, gerou um erro estratégico e ideológico que sempre
fora sinalizado pelas mulheres negras ativistas das causas das mulheres, mas
frequentemente ignorado pelas mulheres brancas.
É preciso fazer uma análise aprofundada das condições de vida materiais que
envolvem determinados grupos formados por mulheres. Essas diferentes condições
materiais são o que determinam as diferentes perspectivas de mundo que o gênero pode
carregar e determina também a ou as opressões que uma mulher ou grupo de mulheres é
ou são submetidas. Como exemplo podemos pensar em como são diferentes, as
demandas de uma mulher negra trabalhadora e uma mulher branca dona de casa. Seria
realmente impossível calcular em valores, medir o sofrimento de ambos os grupos,
porém analisando a história do movimento feminista e a atual formação social política e
econômica no contexto em que vivemos, fica nítida a dificuldade que teremos em
encontrar um “vínculo no sofrimento” entre os grupos intraclasse.
Foram esses arranjos sexistas, racistas e, cabe ressaltar aqui, de resistência negra,
que atravessaram as relações cotidianas entre mulheres brancas e não brancas e as
distanciaram por muito tempo, impedindo que houvesse um diálogo entre as diferentes
demandas que perpassam a classe das mulheres e a criação de uma teoria feminista que
de fato emancipasse todas as mulheres ao invés de emancipar apenas as que tinham
acesso ao estudo e possuíam certos privilégios em detrimento a outros subgrupos da
classe das mulheres. Nesse sentido, sobre as percepções do feminismo brasileiro
segundo Lélia Gonzalez (BAIRROS, 2000):
Sua chamada eleitoral foi gravada no Morro da Maré, de onde veio e de onde
começou sua trajetória inspiradora e cheia de garra. No vídeo eleitoral, ela comenta que
em primeiro momento fez parte das estatísticas como mulher negra e favelada sendo
mãe adolescente, mas, que em segundo momento sai das estatísticas esperadas para o
contexto em que vivia quando passa para a PUC-RJ, ocupando aquele espaço negado
historicamente para sua condição. Aqui vemos como a educação abre os caminhos,
principalmente a aqueles que mais necessitam desse viés de empoderamento já que
muita das vezes seu acesso é mínimo devido à falta de oportunidade ou acontecimentos
infelizes já esperados para uma realidade enquanto pessoa negra numa sociedade
extremamente racista.
Este termo inicialmente foi criado para o meio das ciências sociais, devido à
insuficiência da mesma para explicar determinadas realidades, como por exemplo, de
mulheres negras. Logo:
Lélia Gonzalez usa muito desta ideia de Fanon para denunciar a falácia da
democracia racial vendida pelo Brasil para os países de fora, segundo ela, “um dos mais
eficazes mitos de dominação” (GONZALEZ, 1988b. p. 137). O racismo aberto e
racismo disfarçado denominado por Gonzalez (p. 72-74) era vivido frequentemente por
Marielle, tanto em sua vida pessoal quanto na profissional. Uma mulher negra e lésbica
numa Câmara Municipal cercada por homens brancos e héteros, era recorrentemente
silenciada ou obrigada a ouvir opiniões contrárias munidas de preconceito e
intolerância.
Marielle fez parte de uma mudança histórica e social, se colocava na disputa política e
de produção de conhecimento como protagonista, saindo das margens onde mulheres e
homens negros e indígenas são submetidos. Marielle levantava suas bandeiras e não se
deixava abater. Neste processo social de construção de identidade, Franco estava ali,
negando o embraquecimento, resistindo pra além de sua pele negra, com seu cabelo, seu
turbante e sua resistência política, resgatando a ancestralidade e afirmando a negritude.
4. Conclusão
Dentro dos movimentos sociais, o feminismo negro é essencial para inserir sua
perspectiva e suas demandas exclusivas ligadas ao seu gênero e a sua raça, demandas
que são provocadas por suas condições materiais de existência, resultado do sistema
desigual regente. A resistência do feminismo negro precisa ser aliada ao
reconhecimento dos privilégios por parte dos grupos colocados socialmente acima, mas
que ainda fazem parte das classes oprimidas para que haja de fato, no caso do
movimento das mulheres, um feminismo que emancipe todas as mulheres, independente
de suas condições sociais.