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7 – Fundações

7.1 Sapatas

7.1.1 Sapatas Corridas

7.1.1.1 Introdução

A sapata corrida é normalmente utilizada como apoio direto de paredes, muros, e de


pilares alinhados, próximos entre si.

pilares

viga de rigidez
sapata corrida

b) apoio de pilares
a) apoio de parede alinhados e
em alvenaria próximos entre si
Figura 1.1

Os esforços solicitantes na sapata são considerados uniformes, mesmo para o caso da


fig.1.1.b onde, de maneira aproximada, a carga do pilar dividida por a, pode ser
considerada como carga uniformemente distribuída na sapata corrida. Desta forma, a
análise principal consiste em estudar uma faixa de largura unitária sujeita a esforços n, m
e v, respectivamente, força normal, momento fletor e força cortante, todos eles definidos
por unidade de largura.

A fig. 1.2. mostra a seção transversal do muro. As abas podem ter espessura constante h,
ou variável (de ho a h).
solicitações
distribuídas h ≥ 25cm (*)
n uniformes n
20cm
v m v m ho ≥ 
a c
h / 3
α α ≤ 30o
hv
h h
ho hv ≥ 
0,8l b
a
l b = comprimento de ancoragem da armadura
c = (a - ap) / 2 da parede ou do pilar (quando for o caso)
Figura 1.2

ES-013 – Exemplo de um projeto completo de edifício de concreto armado data:out/2001 fl. 1


As sapatas podem ser classificadas em blocos, sapatas rígidas (incluindo as semi-rígidas)
e sapatas flexíveis. Para carga centrada e solos deformáveis, os diagramas de tensão na
interface sapata/solo apresentam o aspecto mostrado na fig. 1.3.

tensões
normais no
solo(σsolo)

a) sapata rígida b) sapata flexível

Figura 1.3

Na prática, costuma-se relacionar esta classificação com a espessura relativa de suas


abas. Assim,

( )
se h > 2c = a − a p tem-se uma sapata muito rígida ou um bloco;
 
(
 h ≤ 2c = a − a p  )
 
se e  tem-se uma sapata rígida;
 2 a − ap 
h > c = 
 3 3 
 2 a − ap 
h < 3 c = 3 
 
se e  tem-se uma sapata semi-rígida; e
 c a − ap 
h ≥ = 
 2 4 
c a − a
se h < = p
tem-se uma sapata flexível.
2 4

Normalmente, as sapatas utilizadas no projeto de fundações são do tipo rígido.

Costuma-se admitir o diagrama linearizado de tensão normal na interface sapata/solo


(diagrama retangular para carga centrada - fig. 1.3.a - e diagrama trapezoidal ou triangular
para carga excêntrica - fig. 1.4).

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n n
m m nb = n + gb + gs
v v
hv
mb = m + v . hv

solo e = mb / nb
gb sobre gb
a sapata gb = peso da
a a
sapata
tensões gs = peso do solo
normais no sobre a sapata
solo (σsolo)

a) e ≤ a / 6 b) e > a / 6

Figura 1.4

7.1.1.2 Tensão na interface sapata/solo


e = mb / nb
nb

mb
Ponto
nb e
a/2
σb
nb σa Caso em
1m que e ≤ a / 6
mb
nb e

a Caso em
σa
que e > a / 6

Figura 2.1

Quando e ≤ a / 6 tem-se:

n  6e  n  6e 
σ a = b 1 +  ; σb = b 1 − a 
a  a a  

e, deve-se verificar

n  3e 
σ c = b 1 + ≤ σ adm .
a  a 

ES-013 – Exemplo de um projeto completo de edifício de concreto armado data:out/2001 fl. 3


Quando e > a / 6, a máxima tensão é dada por:

2 nb
σa = ⋅
3 a/2− e

devendo ser limitada a [ 1,3 σadm ], isto é:

σ a ≤ 1,3σ adm .

Obs.: neste caso, para a atuação da carga permanente, a base deve estar
inteiramente comprimida, isto é: eg ≤ a/6; adicionalmente, para a situação
mais desfavorável, deve se ter pelo menos a metade da base comprimida: e ≤
a/3.

7.1.1.3 Estabilidade da sapata (caso de muro)

a) tombamento (rotação em torno do ponto A)

momento estabilizante: mest = nb . (a / 2)


momento desestabilizante: mdesest = mb
mest
FS = ≥ 1,5 .
mdesest

b) deslizamento
força estabilizante = (atrito) + (coesão) = nb . tg [(2 / 3) φ] + a . (2 / 3) c
φ = angulo de atrito interno do solo
c = coesão do solo
força desestabilizante = vb
2  2 
n b ⋅ tg φ  + a ⋅  c 
3  3 
FS = ≥ 1,5 .
vb

7.1.1.4 Verificações de concreto armado (sapata rígida)

7.1.1.4.1. flexão

A flexão pode ser verificada na seção de referência S1 de largura unitária, conforme


mostra a fig. 4.1.

O momento fletor (m1) na seção S1 contem três parcelas:


devido à tensão no solo ( σ solo );
Devido ao peso da aba (gbf); e
Devido ao peso do solo sobre a aba (gsf).

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c ap c c ap c
0,15a 0,15a 0,15ap 0,15ap

gsf gsf gsf gsf

gb S gbf d1≤1,5c gbf S gbf d1≤1,5c

a a
tensões
normais no
solo (σsolo)

Figura 4.1

As duas últimas parcelas são negativas e, eventualmente, podem ultrapassar o valor da


primeira parcela (positiva) tornando necessária a presença de armadura de flexão junto à
face superior das abas.

A armadura principal pode ser quantificada de maneira aproximada através da seguinte


expressão:

m1d
As = → (armadura para a faixa de largura unitária)
(0,8 ⋅ d1 ) ⋅ f yd

As
Onde d1 é a altura útil junto à face do pilar ou parede. Convém observar ρ = ≥ 0,15% ,
b1d 1
onde b1é a largura unitária da seção.

As barras que compõem a armadura principal de flexão de sapatas devem cobrir toda a
extensão a da base e ter ganchos de extremidade. Pode-se adotar φ ≥ 10 mm e
espaçamento s ≤ 20 cm.

Para a armadura secundária pode-se adotar φmin = 6,3 mm e smax = 30 cm.

7.1.1.4.2. cisalhamento

A resistência ao esforço cortante pode ser verificada na seção S2 de largura unitária


definida na fig. 4.2.

A força cortante (v2) na seção S2 contem três parcelas:


Devido à tensão no solo ( σ solo );
O peso da aba (gbf2) além da seção S2; e
O peso do solo sobre a aba (gsf2) além da seção S2.

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c ap c c ap c

c2
d1/2 c2 d1/2

gsf2 gsf2

d2≤1,5c d1≤1,5c gbf d2 d1≤1,5c


gbf2
S2 S2
a a
tensões
normais no
solo (σsolo)

Figura 4.2

A tensão de cisalhamento deve ser limitada a τ 2 u .

v 2d
τ 2d = ≤ τ 2u
b 2 ⋅ d2

onde

b2 é a largura unitária da seção.

Para sapatas corridas rígidas:


 f 
τ2u = 0,63 ⋅ ck  ou τ2u = 0,15fcd ;
 γ c 

Para sapatas corridas semi-rígidas pode-se admitir:


c f ck
τ 2u = (2,048 − 0,945 ⋅ ) ⋅ .
h γc

Obs.: pode ser dispensada a armadura transversal para sapata corrida flexível quando

fck
τ 2d ≤ 0,158 ⋅ (valores em MPa).
γc

7.1.2 Sapatas Isoladas

7.1.2.1 Introdução

A sapata isolada é utilizada como apoio direto de pilares. Geralmente, tem forma
retangular ou circular centrada no pilar.

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ap
N Ma
Va

Mb pilar
N b

bp

a
Vb

Figura 1.1

A fig. 1.2. mostra seções transversais usuais de sapatas de base retangular. As abas
podem ter espessura constante h, ou variável (de ho a h).

Solicitações junto
à base
a ca a ca 25cm
do pilar V
Va N Ma
a αa N h≥ 
Ma 0,8l b 
h ho 20cm
ho ≥ 
h / 3
a a
α a ≤ 30o
α b ≤ 30o
b cb b cb
a − ap
Vb N Mb αb N ca =
Vb Mb
2
h b − bp
ho cb =
2
b b

l b = comprimento de ancoragem da armadura do pilar


Figura 1.2

É desejável, também, que ca ≅ cb para equalizar a resistência das abas à flexão.

Costuma-se admitir o diagrama linearizado de tensão normal na interface sapata/solo


(diagrama retangular para carga centrada - fig. 1.3.a - e diagrama trapezoidal ou triangular
para carga excêntrica - fig. 1.4).

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solo sobre Nbas = N + Gbas + Gs
N a sapata N
Ma Vb Mb Ma,bas = Ma + Va . h
Va
Mb,bas = Mb + Vb . h
Gbas Gbas
h ea = Ma / Nbas
a b eb = Mb / Nbas

Gbas = peso da
sapata
Gs = peso do solo
sobre a sapata
Nba Nba
eb σa eb σa
b b
ea ea

a a

σb tensões
normais no solo

ea eb 1 ea eb 1
a) + ≤ b) + ≥
a b 6 a b 6

Figura 1.4

7.1.2.2 Tensão na interface sapata/solo

a) Base retangular
e e 1
Quando a + b ≤ tem-se:
a b 6

Nbas  6e a 6e b  Nbas  6e a 6e b 
σa = 1 + a + b  ; σ b = a ⋅ b 1 − a − b  .
a ⋅b    

ea eb 1
Quando + ≥ , a máxima tensão é dada por:
a b 6

N
σ a = η ⋅ bas (η na tab.2.1), ou
a⋅b
Nbas
σ a = σ1 = e
k1 ⋅ a ⋅ b
σ b = σ 4 = −k 4 ⋅ σ1 (fictício)

(k1 e k4 no ábaco da fig. 2.1).

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x y b 
+ ⋅  ⋅ tgα 
a b a 
Num ponto (x,y) a tensão é dada por: σ = σ 4 + (σ1 − σ 4 ) ⋅
b
1 + ⋅ tgα
a

A tensão σa deve ser limitada a [ 1,3 σadm ], isto é: σ a ≤ 1,3σ adm .

ey / b
5,55 0,24
Área comprimida maior do que 4,77 5,15 5,57 0,22
50% da área da base 4,14 4,44 4,79 5,19 5,66 0,20
3,61 3,86 4,15 4,47 4,84 5,28 0,18
3,17 3,38 3,62 3,88 4,18 4,53 4,94 5,43 0,16
2,79 2,97 3,17 3,39 3,64 3,92 4,24 4,63 5,09 0,14
2,48 2,63 2,80 2,98 3,18 3,41 3,68 3,98 4,35 4,78 0,12
2,20 2,34 2,48 2,63 2,80 2,99 3,20 3,46 3,74 4,08 4,49 4,99 0,10
Base totalmente 1,96 2,08 2,21 2,34 2,48 2,64 2,82 3,02 3,25 3,52 3,84 4,23 4,70 0,08
comprimida 1,72 1,84 1,96 2,08 2,21 2,34 2,49 2,66 2,84 3,06 3,32 3,62 3,98 4,43 0,06
1,48 1,60 1,72 1,84 1,96 2,08 2,21 2,35 2,50 2,68 2,88 3,13 3,41 3,75 4,17 0,04
1,24 1,36 1,48 1,60 1,72 1,84 1,96 2,08 2,21 2,36 2,53 2,72 2,95 3,22 3,54 3,93 0,02
1,00 1,12 1,24 1,36 1,48 1,60 1,72 1,84 1,96 2,08 2,22 2,38 2,56 2,78 3,03 3,33 3,70 0,00
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 0,22 0,24 0,26 0,28 0,30 0,32
ex / b

Tabela 2.1 - Valores de η para base retangular

Figura 2.1

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Observação:

neste caso, para a atuação da carga permanente, a base deve estar


ega egb 1
inteiramente comprimida, isto é: + ≤ ;
a b 6
adicionalmente, para a situação mais desfavorável, deve se ter pelo menos a
metade da base comprimida (que garante uma segurança contra tombamento
2 2
e  e  1
maior do que 1,5); esta condição é verificada quando  a  +  b  ≤ ;
 a   b  9

b) Base circular

Nbas
Para base circular, cheia ou oca, tem-se: σ a = k r ⋅ (kr na tab. 2.2).
π(r 2 − ri2 )

ri / r
e / r 0,00 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00

0,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00


0,05 1,20 1,16 1,15 1,13 1,12 1,11 1,10
0,10 1,40 1,32 1,29 1,27 1,24 1,22 1,20
ri 0,15
0,20
1,60
1,80
1,64
1,64
1,59
1,59
1,54
1,54
1,49
1,49
1,44
1,44
1,40
1,40 100%
0,25 2,00 1,80 1,73 1,67 1,61 1,55 1,50
0,30 2,23 1,96 1,88 1,81 1,73 1,66 1,60
0,35 2,48 2,12 2,04 1,94 1,85 1,77 1,70
r 0,40 2,76 2,29 2,20 2,07 1,98 1,88 1,80
0,45 3,11 2,51 2,39 2,23 2,10 1,99 1,90
0,50 3,55 2,80 2,61 2,42 2,26 2,10 2,00
0,55 4,15 3,14 2,89 2,67 2,42 2,26 2,17
0,60 4,96 3,58 3,24 2,92 2,64 2,42 2,26 >50%
e Nbas 0,65 6,00 4,34 3,80 3,30 2,92 2,64 2,42
0,70 7,48 5,40 4,65 3,86 3,33 2,95 2,64
0,75 9,93 7,26 5,97 4,81 3,93 3,33 2,89
0,80 13,9 10,1 8,80 6,53 4,93 3,96 3,27
0,85 21,1 15,6 13,3 10,4 7,16 4,90 3,77 <50%
0,90 38,3 30,8 25,8 19,9 14,6 7,13 4,71
0,95 96,1 72,2 62,2 50,2 34,6 19,8 6,72

área comprimida

Tabela 2.2 - Valores de kr para base circular, cheia ou oca

7.1.2.3 Estabilidade da sapata

a) tombamento

momento estabilizante = Mest


momento desestabiliz. = Mdesest
Mest
FS = ≥ 1,5 .
Mdesest

b) deslizamento
força estabilizante = Rest
força desestabilizante = Rdesest
Rest
FS = ≥ 1,5 .
Rdesest

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7.1.2.4 Verificações de concreto armado (sapata rígida)

1.1.2.4.1. flexão

A flexão pode ser verificada nas seções de referência S1 (S1a e S1b), conforme mostra a
fig. 4.1:

O momento fletor (M1) na seção S1 contem três parcelas:


devido à tensão no solo ( σ solo );
devido ao peso da aba; e c ap ca
devido ao peso do solo sobre a aba. 0,15ap 0,15a

d1a≤1,5c
M1a = momento na seção S1a (CG)
provocado pelas cargas atuantes S1
na área (CDFG)
M1b = momento na seção S1b (AE)
provocado pelas cargas atuantes
na área (ABDE)

a
d1b≤1,5cb
B C D

cb 0,15b

A E
bp S1b S1b
b

cb S1a
0,15b
G F

Figura 4.1

As duas últimas parcelas são negativas e, eventualmente, podem ultrapassar o valor da


primeira parcela (positiva) tornando necessária a presença de armadura de flexão junto à
face superior das abas. Quando a solicitação da sapata for excêntrica, pode-se admitir
uma tensão uniforme σref dado por:

2 2
 σ a = σ max
σ ref ≥ 3 3 (σmed = média dos valores extremos)

σ med

A armadura principal pode ser quantificada através da seguinte expressão:

M1ad M1bd
A sa = e A sb =
(0,8 ⋅ d1a ) ⋅ f yd (0,8 ⋅ d1b ) ⋅ f yd

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As
Onde d1 é a altura útil junto à face do pilar. Convém observar ρ = ≥ 0,10% .
b1 h1
1.1.2.4.2. cisalhamento

A resistência ao esforço cortante pode ser verificada na seção S2 (S2a e S2b) definidas na
fig. 4.3. A força cortante (V2) na seção S2 contém três parcelas:

Devido à tensão no solo ( σ solo ); c ap ca


O peso da aba (além da seção S2); e d1a/2
Peso do solo sobre a aba (além da seção S2). c2

S2

d1a≤1,5c d2a≤1,5c
V2a = resultante sobre a área A2a
V2b = resultante sobre a área A2b

a
d2b

cb c2b A2b
d1b/2
S2
bp b d1b/2 A2a

cb
d1a/2

d1b≤1,5c

Figura 4.3
A determinação das forças cortantes pode ser feita admitindo-se tensão uniforme no solo
igual a σref, definida anteriormente.
A tensão de cisalhamento deve ser limitada a τ2u .
V2d
τ2 d = ≤ τ2u .
b2 ⋅ d2

Para sapatas rígidas:


 f 
τ2u = 0,63 ⋅ ck  ou τ2u = 0,15fcd ;
 γ c 
Para sapatas isoladas semi-rígidas pode-se admitir:
c
τ2u,semi = τ2u − (2 ⋅ − 3)( τ2u − τ2u,flex ) .
h

Obs.: pode ser dispensada a armadura transversal para sapata isolada flexível (ap <bp)
quando
ap f fck
τ2d ≤ τ2u,flex = 0,315 ⋅ (0,5 + ) ⋅ ck ≤ 0,315 (valores em MPa).
bp γc γc

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7.2 Blocos sobre Estacas

Para fundações profundas é comum a utilização de estacas, geralmente constituindo um


grupo, capeado por blocos rígidos de concreto.

É fundamental para o dimensionamento, conhecer os esforços atuantes em cada estaca


do grupo. Nos casos correntes, os estaqueamentos são simétricos com estacas atingindo
a mesma profundidade. Admite-se que o bloco seja rígido e costuma-se considerar a
hipótese das estacas serem elementos resistentes apenas a força axial (elemento de
treliça), desprezando-se os esforços de flexão.

7.2.1 Determinação das Reações nas Estacas

7.2.1.1 Bloco simétrico sujeito a cargas atuando segundo um plano de simetria

Sejam:

Nbas (força vertical),


Mbas (momento), e
Vbas (força horizontal)

Os esforços atuantes no centro do grupo de estacas junto à base (topo das estacas),
fig. 1.1.

Nbas Mbas Vbas

Figura 1.1

a) Bloco com estacas verticais iguais (nv estacas) sujeitas a carga vertical Nbas , fig. 1.2

Neste caso, como todas as estacas ficam sujeitas ao mesmo encurtamento (u), a força
normal numa estaca é dada por:

Rvert = Nbase / nv ,

Pois: ∑ R vert = ∑ (k ⋅ u) = n v ⋅ (k ⋅ u) = n v ⋅ R vert =Nbas

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E⋅A
sendo k = coeficiente de rigidez axial da estaca (= ), onde l é a profundidade
l
atingida pelas estacas.

Nbas
u

Figura 1.2

b) Bloco com estacas verticais (np,vert pares) e estacas inclinadas de α (np,incl pares)
sujeitas a carga vertical Nbas , fig. 1.3

Rincl

Nbas
u.cos
u u

α
α l cosα
l

Figura 1.3

A força normal na estaca vertical é dada por:

Nbase
R vert = ;
2(npv + np,incl cos3 α )

e na estaca inclinada, por:

Nbase ⋅ cos2 α
Rincl = .
2(npv + np,incl cos3 α )

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De fato, devido à simetria, ocorre um recalque vertical constante (u). A reação numa
estaca vertical é dada por:

E⋅A
R vert = k ⋅ u = ⋅u.
l

A reação em uma estaca inclinada vale

 E⋅A  2 2
Rincl = kincl ⋅ uincl =   ⋅ (u ⋅ cos α ) = (k ⋅ u) ⋅ cos α = Rvert ⋅ cos α .
 l cos α 
Portanto,

Nbas = ∑ R vert + ∑ (Rincl ⋅ cos α ) = 2npvR vert +2np,incl (Rincl ⋅ cos α )

= 2(npv + np,incl cos3 α ) ⋅ R vert

c) Bloco com estacas verticais (np,vert pares) e estacas inclinadas de α (np,incl pares,
distribuídos em duas linhas) sujeitas a carga vertical Nbas, a momento (Mbas) e a força
horizontal (Vbas), fig. 1.4.a.

O
M0
ho Vbas

Nbas θ
Mba Vbas

α
80 40 40 80

a a
1 2 3 4 ak

(a) (b) (c)


Figura 1.4

A força normal na estaca vertical genérica k é dada por:

Nbas M0ak
Rvert,k = + ;
2(np,vert + np,incl cos α ) 3
∑ ai2
vert

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E na estaca inclinada genérica (i), por:

Nbas cos2 α Vbas


Rincl,i = ±
3 2np,incl sen α
2(np,vert + np,incl cos α )

sendo Mo = Mbas − Vbas ⋅ ho = momento em relação ao ponto O.

De fato, as parcelas devidas a Nbas já são conhecidas. Os demais efeitos resultam como
se mostra a seguir.

Efeito isolado de Vbas aplicado em O, fig. 1.4.b: as estacas verticais não são
solicitadas, pois o momento é nulo, ocorrendo uma translação do bloco; a força Vbas é
simplesmente decomposta segundo as direções das estacas inclinadas resultando,
assim, o segundo termo de Rincl.i, pois:

Vbas = 2.np,incl.senα;

Efeito de Mo , fig. 1.4.c: provoca uma rotação do bloco em torno do ponto O de modo
que as estacas inclinadas não são solicitadas; o equilíbrio é garantido pelos binários
correspondentes a cada par de estacas verticais; tem-se:

u k = θ ⋅ a k ; R v,k = k ⋅ uk = k ⋅ θ ⋅ a k
Mo
Mo = ∑ (R v,i ⋅ a i ) = ∑ (k ⋅ θ) ⋅ a i2 → θ ⋅ k = e, portanto
∑ a i2
Mo
Rv,k = ⋅ ak (segundo termo de Rvert,k).
∑ ai2
7.2.1.2 Bloco simétrico sujeito a cargas atuando segundo os dois planos de simetria

Sejam:

Nbas (força vertical),


Mbas,a e Mbas,b (momentos), e
Vbas,a e Vbas,b (forças horizontais)

Os esforços atuantes no centro do grupo de estacas junto à base (topo das estacas),
fig. 2.1.

Sejam, ainda,

np,vert pares de estacas verticais,


np,incl,a pares de estacas inclinadas segundo a direção a,
np,incl,b pares de estacas inclinadas segundo a direção b

ES-013 – Exemplo de um projeto completo de edifício de concreto armado data:out/2001 fl. 16


Oa

hoa

Nbas
Mbas,a Vbas,a

Vbas,b bk

a
Ob
Mbas,b
α ak
b 120

hob 80 80 80 80

Figura 2.1

Aplicando as idéias desenvolvidas nos itens anteriores, tem-se a reação na estaca vertical
genérica, k, dada por:

Nbas
R vert,k =
[
2 ⋅ np,vert + (np,incl,a + np,incl,b ) cos3 α ]
M0aak M0bbk
+ +
∑ ai2 + cos3 ∑ ai2 ∑ bi2 + cos3 ∑ bi2
vert incl,b vert incl,a

e nas estacas inclinadas (k), por:

Nbas cos2 α Vbas,a


Rincl,a,k =
[
2 np,vert + (np,incl,a + np,incl,b ) cos3 α ] ±
2np,incl,a sen α

Mob cos2 α ⋅ bk
+
∑ bi2 + cos3 α ⋅ ∑ bi2
vert incl,a
Nbas cos2 α Vbas,b
Rincl,b,k =
[
2 np,vert + (np,incl,a + np,incl,b ) cos3 α ] ±
2np,incl,b sen α

Moa cos2 α ⋅ ak
+
∑ ai2 + cos3 α ⋅ ∑ ai2
vert incl,b

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sendo: Moa = Mbas,a − Vbas,a ⋅ hoa = momento em relação ao ponto Oa
Mob = Mbas,b − Vbas,b ⋅ hob = momento em relação ao ponto Ob.

7.2.2 Verificações de Concreto Armado

Geralmente, os blocos têm forma retangular ou poligonal em planta, fig 3.1.

ces ap cao co

b bp
cest ca
cbo
cb aes
co

Figura 3.1

As abas podem ter espessura constante h, ou variável (de ho a h), fig. 3.2.
a a
30cm
a ca αa a ca h≥ 
0,8l b 
cao co h 30cm
ho cao co ho ≥ 
h / 3
cest = (2,5 a 3) ⋅ a est
a est
b b co ≥ 
25φ s
b cb αb b cb α a ≤ 30o

cbo co
α b ≤ 30o
h ho cbo co
a − ap
ca =
2
b − bp
cb =
Figura 3.2 2

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Costuma-se fixar a altura do bloco rígido (h) obedecendo as seguintes relações
2
geométricas: c i ≤ h ≤ 2c i ; sendo ci igual ao maior valor entre cao e cbo .
3

7.2.2.1 Flexão

Em geral, a flexão pode ser verificada nas seções de referência S1 (S1a e S1b), conforme
mostra a fig. 3.3.
ca ap ca

M1a = momento na seção S1a (CG) 0,15a 0,15a


provocado pelas estacas
posicionadas na área (CDFG)
M1b = momento na seção S1b (AE)
S1 d1a≤1,5
provocado pelas estacas
posicionadas na área (ABDE)

a
d1b≤1,5c
B C D

cb 0,15b
A E
bp b
S1b S1b
cb S1a
0,15b
F
G
Figura 3.3
Obs.: no cômputo dos momentos M1a e M1b pode-ser desprezada a inclinação
das estacas, (cosα ≅ 1); normalmente, pode-se adotar d1 ≅ h - aest/4.

A armadura principal pode ser quantificada através da seguinte expressão:

M1ad M1bd
A sa = e A sb =
(0,8 ⋅ d1) ⋅ fyd (0,8 ⋅ d1 ) ⋅ f yd

As
Onde d1 é a altura útil junto à face do pilar. Convém observar ρ = ≥ 0,10% .
b1h1
As barras que compõem as armaduras principais de flexão devem cobrir toda a extensão
da base e ter ganchos de extremidade. Pode-se adotar φ ≥ 10 mm e espaçamento
s ≤ 20 cm. Normalmente, estas armadura podem ser distribuidas de maneira uniforme por
toda a base.

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7.2.2.2 Cisalhamento

Em geral, a resistência ao esforço cortante pode ser verificada nas seções S2 (S2a e S2b)
definidas na fig. 3.4.

c ap ca
d1a/2
c2
V2a = soma das reações das estacas
posicionadas na área A2a
V2b = soma das reações das estacas d2a≤1,5c2
S2
posicionadas na área A2b d1a≤1,5c

a
d2b

c2b A2b
cb
d1b/2 d1b/2
S2
bp b A2a bp +

cb d1a/2

a p + d1
d1b≤1,5c

Figura 3.4

Obs.: quando uma ou mais estacas estiverem situadas a distâncias inferiores a d1 /2 da


face do pilar, a seção S2 deve ser tomada junto à face deste pilar com largura b2 e altura
útil d1; e no cômputo das forças cortantes, pode-se desprezar a inclinação das estacas
(admitir cos α ≅ 1)

A tensão de cisalhamento deve ser limitada a τ 2 u .

V2d
τ2 d = ≤ τ2u .
b2 ⋅ d2
onde
 f 
τ2u = 0,63 ⋅ ck  ou τ2u = 0,15fcd .
 γc 

A resistência ao esforço cortante deve ser verificada, também, junto às estacas de canto,
fig. 3.5. Deve-se verificar:

γ fR
≤ τ2u .
b2c d2c

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d2c
d1c

d1c /2 aest

b2c = aest + d1c

Figura 3.5

7.2.2.3 Observações

a) em blocos com estacas alinhadas, fig. 3.6, convêm adotar estribos com ρwmin , porta
estribos de mesmo diâmetro e armaduras de pele;

Figura 3.6

b) em blocos com estacas em disposição poligonal, as armaduras de tração podem ser


posicionadas segundo os lados do polígono; em geral, a quantidade de armadura As,l
sobre cada par de estacas adjacentes pode ser estimada como segue, fig. 3.7:

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Asl
S1
M1 = Ri . c1
Zp

Asl Z
Z = M1 /(0,8 d1)
α
Zp = (Z/2) / cos α
c1

Asl
Asl = γn.γf Zp / fyd

γn = 1,1

Ri

Figura 3.7

c) neste caso, (fig. 3.8), quando cest > 3 aest, convém utilizar armadura de suspensão
(estribos) enfeixando as barras de tração posicionadas sobre cada par de estacas; a
força suspender pode ser estimada em
N
Z d = d ⋅ γ n com γn = 1,1 (aplicar γn, também, ao cálculo da armadura de tração).
1,5n

Figura 3.8

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7.2.3 Blocos sobre duas Estacas pelo modelo Biela-Tirante

a) Verificação do concreto:

ae bp b

a ae

Qd

h d

ao l ao

Fixação das dimensões:


tanθ = d / ( l 3 /2 - a/4) (45o ≤ θ ≤ 55o)
dmin = 0,5 ( l - a/2); dmax = 0,71 ( l - a/2)

Compressão nas bielas:


Qd
σ cd,biel,p = ≤ 1,4 fcd
A p sen2θ
Qd
σ cd,biel,est = ≤ 0,85 fcd
2A est sen2θ

c) Armadura:
Qd

h d

ao l ao

Estribos: (Asw/s)min = 0,15 %


8cm ≤ s ≤ 15cm

“Pele”: (As/s) = 0,075% (cada face)


10cm ≤ s ≤ 20cm

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7.2.4 Blocos sobre três Estacas

a) Verificação do concreto

ae

Rest

Fixação das dimensões:


tanθ ≅ d / ( l 3 /3 - 0,3a) (45o ≤ θ ≤ 55o)
dmin = 0,58 ( l - a/2); dmax = 0,83 ( l - a/2)

Compressão nas bielas:


N
σ = d ≤ 1,75 fcd
cd, biel, p
A sen 2 θ
p
Nd
σ cd, biel, est = ≤ 0,85 fcd
3A est sen2θ

b) Armadura
Qd

h d

ao l ao

Estribos: (Asw/s)min = 0,15 %


8cm ≤ s ≤ 15cm

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7.2.5 Blocos sobre quatro Estacas – Aplicação ao Edifício Exemplo

Solução para a fundação do pilar P7: quatro estacas pré-moldadas φ40 para 700KN cada.

7.2.5.1 Formas:

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7.2.5.2 Esforços Solicitantes:

1 Mx 2 Mx = 21,67 KNm

My My = 64,96 KNm

Nk = 2358,3 KN
3 4

Peso Próprio do Bloco: 25x(1,80x2,10x0,70)=71 KN

7.2.5.3 Reações nas Estacas:

2358 + 71 64,96 21,67


R1 = − − = 572 KN
4 1,30 x2 1,00 x2
2358 + 71 64,96 21,67
R2 = + − = 622 KN
4 1,30 x2 1,00 x2
2358 + 71 64,96 21,67
R3 = − + = 593 KN
4 1,30 x 2 1,00 x2
2358 + 71 64,96 21,67
R4 = + + = 643 KN
4 1,30 x2 1,00 x2

Segue que RMAX = 643 KN < Ru,estaca = 700 KN OK!

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7.2.5.4 Determinação da altura d:

d
θ = arctg ; 45 o ≤ θ ≤ 55 o
x

Para θ = 45o ⇒ d = 66,5 cm; adotado d = 70 cm ⇒ θ = 46,5o

Biela comprimida

θ Rs

7.2.5.5 Verificação junto ao pilar

Neq, d
σbp, d = ≤ 2,1 fcd
2
Apxsin θ
643 x1,4 2.1x25000
⇒ σbp, d = = 13853 KN/m 2 < = 37500 KN/m 2 OK!
2 1,4
0,19 x0,65 xsin 46,5

7.2.5.6 Verificação junto à estaca

Neq, d
σbe = ≤ 0,85 fcd
Aexsin 2 θ
643 x1,4 0,85 x25000
⇒ σbe = = 13622 KN/m 2 < = 15179 KN/m 2 OK!
2 1,4
πx0,40
xsin 2 46,5
4

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7.2.5.7 Determinação das Armaduras

β = 47,1o
θ
Rs2
β
Rs1
Re

Re
Rs1 = x cos β = 415 KN
tgθ
Re
Rs2 = x sen β = 447 KN
tgθ

γnxRs, d fyk
As = ; σsd = = 43,48 KN/cm 2
σsd 1,15

1,1 x1,4 x415


As1 = = 14,7cm 2
43,48
1,1 x1,4 x447
As2 = = 15,8 cm 2 (adotado 8φ16 (16 cm2))
43,48

Será adotado a mesma armadura para ambas direções dos blocos.

Ancoragem: la, nec = 0,8 lb - 10φ

σsd , ef
Onde lb = lb1
fyd

Para fck = 25 MPa e fyk = 500 MPa tem-se que lb1 = 38φ

50 15,8
Portanto: σsd , ef = x = 39 KN/ cm 2
1,1x1,15 16

 
 
 39 
E la, nec = 0,8 38φ - 10φ ≈ 17,3φ = 27,7 cm (existente: φe – 3cm = 37cm ok!)
 50 
 
 1,15 

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7.2.5.8 Detalhamento

Corte A

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Corte B

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