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Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
I Parte Um
1 Funções de Várias Variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.1 Funções de Duas Variáveis 9
1.2 Funções de Três ou Mais Variáveis 16
1.3 Problemas 18
4 Integrais Múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.1 Integrais Duplas 75
4.2 Mudança de Coordenadas em Integrais Duplas 88
4.3 Problemas 93
4.4 Integrais Triplas 93
4.5 Mudança de Coordenadas em Integrais Triplas 103
4.6 Problemas 110
II Parte Dois
5 Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha . . . . . . . . . . . . . . 115
5.1 Funções Vetoriais e Curvas Parametrizadas 115
5.2 Cálculo de Funções Vetoriais 123
5.3 Comprimento de Arco 134
5.4 Campos Vetoriais 144
5.5 Integrais de Linha 150
5.6 Campos Vetoriais Conservativos 159
5.7 Teorema de Green 163
5.8 Problemas 167
B Topologia de Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
Index . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
Prefácio
Estas notas de aulas foram desenvolvidas como material de apoio a disciplinas de Cálculo Diferen-
cial e Integral de cursos de Engenharia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus
Apucarana.
Apesar de conter material original, diversos trechos, exemplos e exercícios foram extraídos das
referências abaixo.
• ANTON, Howard; BIVENS, Irl; DAVIS, Stephen. Cálculo. 8. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2007. vol. 2. ISBN 9788560031634.
• STEWART, James. Cálculo. 6. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009. vol. 2.
ISBN 9788522106608.
• THOMAS, George Brinton. Cálculo. 10. ed. São Paulo: Addison-Wesley; Pearson
Education do Brasil, 2003. vol. 2. ISBN 9788588639119.
I
Parte Um
4 Integrais Múltiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.1 Integrais Duplas
4.2 Mudança de Coordenadas em Integrais Duplas
4.3 Problemas
4.4 Integrais Triplas
4.5 Mudança de Coordenadas em Integrais Triplas
4.6 Problemas
1. Funções de Várias Variáveis
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Neste capítulo estudamos funções de várias variáveis, que servem como modelo em diversas
situações. Imagine uma empresa que comercializa dois produtos, que chamaremos de A e B. O seu
lucro mensal L depende do volume de vendas destes dois produtos, que representaremos por x e y.
Dizemos neste caso que o lucro L da empresa é função de x e y, e podemos escrever L = f (x,y).
Este conceito matemático diferente fundamentalmente daquele visto tradicionalmente no início de
cursos de graduação por termos duas variáveis independentes (as variáveis x e y no caso acima),
enquanto o modelo mais simples envolve apenas uma variável independente; o caso análogo seria
aquele em que a empresa comercializa apenas um produto.
Iniciamos o capítulo com o estudo de funções de apenas duas variáveis, e a seguir estendemos
os conceitos para funções de três ou mais variáveis.
Definição 1.1.2 Seja f uma função de duas variáveis com domínio D. Definimos a imagem de
f como o conjunto de todos os valores reais que são de fato imagem de algum ponto (x,y) ∈ D.
Em outras palavras:
Escrevemos frequentemente f : D −→ R para indicar que f é uma função real com domínio D
com imagem no conjunto dos números reais.
Obs 1.1.1 Quando definimos uma função f (x,y) de duas variáveis através de uma equação, fica
entendido que o domínio de f é o conjunto de todos os pontos (x,y) do plano para os quais a
expressão dada está bem definida.
12 Capítulo 1. Funções de Várias Variáveis
1
Figura 1.1: Associação de um ponto (x,y) a Figura 1.2: Ilustração de f (−2,3) = − no
6
um número real f (x,y). Exemplo 1.3.
Exemplo 1.1 Considere o mapa do Brasil e fixe como origem do sistema cartesiano a cidade de
Brasília. A altitude z de um ponto (x,y) em relação ao nível do mar define uma função de duas
variáveis z = f (x,y). O domínio D desta função não consiste de todos os pontos do plano, pois D
está restrito aos pontos (x,y) ∈ R2 que representam o território Brasileiro.
O exemplo acima ilustra o conceito de função de duas variáveis, mas não esperamos que
seja possível encontrar uma expressão envolvendo funções elementares (funções polinomiais,
exponenciais, trigonométricas, etc) que descreva todo o relevo brasileiro. Abaixo, no Exemplo 1.3,
temos um exemplo de uma função definida através de uma expressão.
Exemplo 1.2 Considere a função
1
f (x,y) = .
xy
Podemos calcular o valor de f em algum ponto (x,y) qualquer de R2 da seguinte forma: se
(x,y) = (−2,3), então
1 1
f (−2,3) = =− .
(−2) · 3 6
Veja a Figura 1.2. Devemos ter xy 6= 0 para que a expressão acima esteja bem definida, logo
Dom f = {(x,y) ∈ R2 : x 6= 0 e y 6= 0}.
A imagem de f é dada por Im f = (−∞, 0) ∪ (0, +∞). De fato, para nenhum par (x,y) temos
f (x,y) = 0, logo 0 ∈
/ Im f . Para qualquer outro valor real z, podemos encontrar um par (x,y) tal que
f (x,y) = z. Por exemplo, o número z = 5 está na imagem de f , pois z = 5 é a imagem do ponto
(x,y) = (1, 1/5):
1 1
f 1, = 1 = 5.
5 1· 5
O mesmo argumento mostra que qualquer número z1 6= 0 é imagem, por exemplo, do ponto
(x,y) = (1, 1/z1 ). Veja a Figura 1.3.
Exemplo 1.3 Considere a função f (x,y) = x2 + y2 + 2xy. Como não existe restrição para soma
e multiplicação de números reais, temos Dom f = R2 . A fim de determinar a imagem de f ,
observamos que
f (x,y) = x2 + y2 + 2xy = (x + y)2 .
Segue que Im f = [0, +∞). De fato, para qualquer z1 ≥ 0, temos z1 = f (x,y) se e somente se
√
(x + y)2 = z1 . O ponto (x,y) = ( z1 , 0) é uma solução para esta equação:
√ √
f ( z1 , 0) = ( z1 + 0)2 + 1 = z1 .
1.1 Funções de Duas Variáveis 13
1
Figura 1.3: Imagem da função f (x,y) = destacada em vermelho.
xy
√
Em outras palavras, o ponto (x,y) = ( z1 , 0) tem como imagem z1 . Isto mostra que Im f = [0, +∞).
É comum escrevermos z = f (x,y) para representar que os valores que uma função assume
através de uma nova variável, que denotamos neste caso por z. Esta variável é dita uma variável
dependente: os valores que z assume estão condicionados ao valores que escolhemos para as
variáveis x e y. As variáveis x e y estão livres para assumir qualquer valor dentro do domínio D da
função. Por este motivo dizemos que x e y são variáveis independentes. Se escrevermos z = f (x,y)
no Exemplo 1.3, então temos que z = 9 quando (x,y) = (1,2).
p
Exemplo 1.4 Determine e esboce o domínio da função f 1 (x,y) = x2 − y.
Como a raiz quadrada de números negativos não está bem definida nos números reais, devemos
ter x2 − y ≥ 0 para que a expressão que define f1 (x,y) esteja bem definida. Em outras palavras,
devemos ter x2 ≥ y:
Dom f1 = {(x,y) ∈ R2 : y ≤ x2 }.
O domínio de f1 define uma região no plano xy que é definida pela inequação y ≤ x2 . Esta inequação
pode ser interpretada como a união de todos os pontos (x,y) que satisfazem y = x2 e y < x2 ; a
igualdade representa os pontos de R2 que se encontram na parábola y = x2 , enquanto a desigualdade
y < x2 inclui no domínio de f1 os pontos que se encontram abaixo desta parábola. Veja Figura 1.4.
p
Figura 1.4: Domínio da função f1 (x,y) = x2 − y.
14 Capítulo 1. Funções de Várias Variáveis
Figura 1.5: Mapa de calor de uma função de Figura 1.6: Gráfico da função do Exemplo
duas variáveis (Exemplo 1.5). 1.5.
√
(i) f (x,y) = x2 + y2 (ii) g(x,y) = x2 − y2 (iii) h(x,y) = x + 2y
Exercício 1.2 Obtenha uma expressão para f (t,t 2 ) se f (x,y) = exy + cos(x + y).
A representação gráfica mais comum de uma função de duas variáveis é, no entanto, o seu
gráfico em R3 , conforme definido abaixo.
1.1 Funções de Duas Variáveis 15
Definição 1.1.3 Seja F uma função de duas variáveis com domínio D. O gráfico de F é
definido como o conjunto de pontos (x,y,z) de R3 tais que (x,y) ∈ D e z = F(x,y).
Temos na Figura 1.6 a representação em R3 da função T (x,y) da Figura 1.5 e, para facilitar
a visualização, exibimos ainda o mesmo esquema de cores. Destacamos nessa figura o ponto
(x,y,z) = (0,0,100): este é um ponto do gráfico porque satisfaz z = T (x,y), isto é, 100 = T (0,0).
Como z = T (x,y), os pontos mais altos (maior valor de z) obedecem ainda a escala da Figura 1.5:
os pontos em vermelho são os mais altos, por volta de 100◦ C, enquanto os pontos mais baixos
(menores valores de z) estão coloridos em azul.
Exemplo 1.6 Considere a função f (x,y) = 6 − 3x − 2y. Note que Dom f = R2 . O gráfico de f é
definido por
z = f (x,y) ⇐⇒ z = 6 − 3x − 2y ⇐⇒ 3x + 2y + z = 6.
Segue que o gráfico de f é um plano. Assim como dois pontos definem uma reta, três pontos
(não-colineares) definem um plano; escolhemos portanto três pontos arbitrários do plano acima
para, a partir destes, traçar o gráfico da função f . Como
x = 0, y = 0 =⇒ z = 6,
x = 0, z = 0 =⇒ y = 3,
y = 0, z = 0 =⇒ x = 2,
o gráfico de f pode ser esboçado como na Figura 1.8. Temos ilustrado na Figura 1.8 também que
f (1,1) = 6 − 3 − 2 = 1.
p
Exemplo 1.7 Considere a função f (x,y) = 9 − x2 − y2 . Note que o domínio de f é dado por
9 − x2 − y2 ≥ 0 ⇐⇒ x2 + y2 ≤ 9,
Provamos acima que, se (x,y,z) é um ponto do gráfico de f , então (x,y,z) é um ponto da esfera
descrita na Equação (1.1): aquela com centropna origem e raio 3.1 Entretanto, nem todo ponto da
esfera é ponto do gráfico de f , pois se z = 9 − x2 − y2 então z ≥ 0. Segue que o gráfico de f
consiste do hemisfério superior da esfera descrita na Equação (1.1); veja a Figura 1.9.
p
Figura 1.9: Gráfico da função f (x,y) = 9 − x2 − y2 .
A seguir trataremos de curvas de nível. Este conceito nos ajuda a compreender o gráfico de
funções de duas variáveis, além de apresentar grande aplicabilidade em problemas práticos.
Definição 1.1.4 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. Uma curva de nível de f é uma
curva no plano x,y definida por uma equação da forma f (x,y) = k, para k um número real
qualquer.
Como o gráfico de f (x,y) é definido pela equação z = f (x,y), uma curva de nível f (x,y) = k
1 Para mais informações sobre a equação de superfícies conhecidas como uma esfera, ver o Capítulo 9 do livro Paulo
Curvas de nível de uma função de duas variáveis são frequentemente representadas no plano:
consideramos a projeção no plano xy da curva obtida pela interseção entre o gráfico z = f (x,y)
de uma função e o plano z = k. Dessa maneira é possível, através de uma figura bidimensional,
compreender as principais características do gráfico de uma função.
Ilustramos a representação do gráfico de uma função de duas variáveis através de curvas de
nível com a Figura 1.11. No centro da Figura 1.11 temos algumas curvas de nível da função do
Exemplo 1.8 em R3 . À direita na Figura 1.11 temos representadas a projeção destas curvas no
18 Capítulo 1. Funções de Várias Variáveis
plano xy. Note que a superfície z = f (x,y) é mais inclinada onde as curvas de nível estão mais
próximas umas das outras: no caso da função do Exemplo 1.8, isto ocorre com as curvas de nível
mais próximas ao plano xy (valores mais baixos de z).
3 0.800
1.200
1.400
1.600
1.800
3.00 3.00
2.75 2.75 2 2.200
2.400
2.50 2.50
2.25 2.25 1 2.800
2.00 2.00
1.75 1.75
1.50 1.50 0
1.25 1.25
1.00 1.00 1
2.600
3 3
2 2 2
2.000
1 1
3 0 3 0
2 2 1.000
1 1 1 1 3
0 2 0 2
1 1
2 3 2 3
3 3
2 1 0 1 2
p
Figura 1.11: Curvas de nível de f (x,y) = 9 − x 2 − y2 .
Exercício 1.4 Considere a função z = f (x,y) = 6 − 3x − 2y, cujo gráfico se encontra na Figura
1.8. Represente em um único plano cartesiano as suas curvas de nível z = k para k = 0, 1, 2, 3.
Exercício 1.6 Considere a função z = f (x,y) = sen x + cos y, cujo gráfico se encontra na Fi-
gura 1.13. Represente em um único plano cartesiano as suas curvas de nível z = k para
k = −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3.
Definição 1.2.2 Seja f uma função de n variáveis com domínio D. Definimos a imagem
de f como o conjunto de todos os valores reais que são de fato imagem de algum ponto
(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ D. Em outras palavras:
É comum também neste caso escrevermos y = f (x1 , . . . , xn ) e para indicar que y é uma variável
dependente de x1 , . . . , xn ; estas são ditas variáveis independentes. No caso de uma função f de três
variáveis escrevemos frequentemente os pontos de seu domínio como (x,y,z); veja a Figura 1.14.
Assim como na Seção 1.1, quando definimos uma função f (x1 , x2 , . . . , xn ) de n variáveis
através de uma equação, fica entendido que o domínio de f é o conjunto de todos os pontos
(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn para os quais a expressão dada está bem definida.
Exercício 1.8 Determine o domínio das funções abaixo. Para as funções dos itens (i) e (ii),
esboce ou descreva em palavras o domínio como um conjunto de R3 .
ln z
(i) f (x,y,z) = √
x+y−z
(ii) g(x,y,z) = (x + y2 − z)−3/2
2
Definição 1.2.3 Seja f (x,y,z) uma função de três variáveis. Uma superfície de nível de f é
uma superfície em R3 definida por uma equação da forma f (x,y,z) = k, para k um número real
qualquer.
Uma superfície de nível de uma função de três variáveis f (x,y,z) representa um conjunto de
pontos onde o valor da função permanece inalterado.
Exercício 1.9 Para cada uma das funções abaixo, esboce o gráfico das superfícies de nível
f (x,y,z) = k para k = −2, −1, 0, 1, 2.
(a) f (x,y,z) = x + y + z
(b) g(x,y,z) = x2 + y2 + z2
(c) h(x,y,z) = x2 − y2 + z2
1.3 Problemas
Problema 1.1 Uma caixa retangular sem tampa deve ser fabricada com volume 16cm3 .
(i) Obtenha a equação que relaciona as medidas da caixa com o volume V = 16cm3 .
(ii) Escreva a área de superfície da caixa em função das três medidas da caixa.
(iii) Sabendo que V = 16cm3 , escreva a área de superfície da caixa em função de apenas duas
medidas da caixa.
Problema 1.2 A temperatura do ar em uma sala de aula é descrita através de uma função de quatro
variáveis: a cada instante de tempo t e a cada ponto (x,y,z) da sala de aula temos associada a
temperatura em graus Celsius
20(1 + (x + y + z)e−t )
u(t,x,y,z) = .
1 + e−t
Seja (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto qualquer da sala de aula. Calcule o limite lim u(t,x0 ,y0 ,z0 ) e interprete
t→∞
este resultado fisicamente.
Problema 1.3 A Lei de Newton de Atração Gravitacional afirma que a intensidade da força de
atração gravitacional exercida pelo sol em outro objeto de massa m em nosso sistema solar é descrita
pela equação F = GMm/d 2 , onde G é uma constante, M é a massa do sol e d é a distância do objeto
ao sol. Considere o sol e os objetos como massas pontuais e considere G, M, m como constantes.
(i) Adote a posição do sol como origem de um sistema cartesiano R3 e escreva a força F como
uma função da posição (x,y,z) do objeto.
(ii) Determine as superfícies de nível da função F(x,y,z) e interprete-as fisicamente.
2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáv
Neste capítulo temos como objetivo estender o conceito de derivada de funções de uma variável
para funções de várias variáveis. Expressamos matematicamente o conceito de taxas de variação
neste contexto mais amplo através do conceito de derivadas parciais, extensão natural da derivada
de funções de uma variável. A seguir definimos o que é a derivada total de uma função; além de
fornecer a aproximação do comportamento de uma função em torno de um ponto, a derivada total
representa um conceito fundamental em estudos mais profundos de funções de várias variáveis.
Munidos destas ferramentas podemos observar como o estudo de funções de várias variáveis, em
particular o conceito de derivada, nos ajuda na abordagem de problemas presentes na indústria ou
no nosso dia-a-dia. Estudamos primeiramente, entretanto, o conceito limite de funções de várias
variáveis.
Convém escrever este conceito em termos matemáticos precisos, pois nem sempre é possível
seguir nossa intuição: o gráfico de uma função de 4 variáveis, por exemplo, é um conjunto de
pontos de R5 . Dizemos que limx→x0 f (x) = L se, dada uma margem de erro ε > 0 em torno do
valor L, basta escolhermos pontos suficientemente próximos de x0 que teremos f (x) dentro desta
margem de erro. Ou seja, dada qualquer margem de erro ε > 0, existe um intervalo (x0 − δ , x0 + δ )
tal que se x ∈ (x0 − δ , x0 + δ ), x 6= x0 , então f (x) ∈ (L − ε, L + ε).
Cabe ressaltar que excluímos o valor de f (x) em x = x0 da análise acima, pois a função f
por vezes sequer está definida no ponto x0 . Desejamos estudar o comportamento de f (x) nas
proximidades do ponto x0 , não exatamente no ponto x0 . Na Figura 2.1 temos ilustrada uma função
que tal que limx→1 f (x) não existe. Dada uma margem de erro ε > 0 pequena, não é possível
22 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
O mesmo raciocínio se aplica a uma função f (x,y) de duas variáveis. Considere um ponto
P = (a,b) que seja ponto de acumulação de seu domínio; veja a Definição B.7 e a discussão que
segue. Dizemos que
“o limite de f (x,y) quando (x,y) tende a (a,b) é L se f (x,y) assume valores arbitrariamente
próximos de L desde que (x,y) esteja suficientemente próximos de (a,b).”
Assim como é discutido no Apêndice B, para definir o limite de funções de duas variáveis basta
interpretar corretamente a noção de pontos próximos um do outro, isto é, pontos a uma distância
pequena um do outro. Ao invés de buscarmos um intervalo (x0 − δ , x0 + δ ) no domínio (conjunto
da reta), buscamos um disco de centro P e raio δ onde tenhamos f (x,y) ∈ (L − ε, L + ε).
Definição 2.1.1 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis e seja P = (a,b) um ponto de
acumulação de seu domínio D. Dizemos que o limite de f (x,y) é L quando (x,y) se aproxima
de (a,b) se, para todo ε > 0, existe um disco B com raio δ > 0 tal que, se (x,y) ∈ B ∩ D e
(x,y) 6= (a,b), então f (x,y) ∈ (L − ε, L + ε). Escrevemos nesse caso
lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)
Teorema 2.1.1 Sejam f (x,y) e g(x,y) funções de duas variáveis cujos domínios possuem (a,b)
como ponto de acumulação. Suponha que
Então:
(i) lim f (x,y) + g(x,y) = L1 + L2 ;
(x,y)→(a,b)
(ii) lim f (x,y) − g(x,y) = L1 − L2 ;
(x,y)→(a,b)
2.1 Limite de Funções de Várias Variáveis 23
x − xy + 3
f (x,y) =
x2 y + 5xy − y3
quando (x,y) → (0,1). Segue dos itens (i) e (iii) do Teorema 2.1.1 que
lim (x − xy + 3) = 0 − 0 · 1 + 3 = 3
(x,y)→(0,1)
e
lim (x2 y + 5xy − y3 ) = 02 · 1 + 5 · 0 · y − 13 = −1.
(x,y)→(0,1)
24 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
Portanto,
3
lim f (x,y) = = −3.
(x,y)→(0,1) −1
x3 − xy2
f (x,y) =
x−y
quando (x,y) → (0,0). Note que
e
lim (x − y) = 0.
(x,y)→(0,0)
= lim x(x + y) = 0.
(x,y)→(0,0)
x6=y
Se o limite de uma função de uma variável g(x) quando x se aproxima de x0 é L então g(x)
deve se aproximar do valor L quando x se aproxima de x0 , independente do caminho escolhido.
Como o domínio de uma função de uma variável é um subconjunto da reta, isto só pode ocorrer
de duas formas: pela esquerda ou pela direita do ponto x0 . Estes limites laterais devem ser iguais
para o limite limx→x0 g(x) exista. Analogamente, para que o limite da Definição 2.1.1 exista,
é necessário que f (x,y) se aproxime de L quando (x,y) se aproxima de (a,b), independente do
caminho escolhido: se f (x,y) se aproxima de valores distintos L1 6= L2 quando (x,y) se aproxima
de (a,b) por caminhos distintos C1 , C2 , então o limite lim(x,y)→(a,b) f (x,y) não existe. Veja a Figura
2.4.
Figura 2.4: Função z = f (x,y) cujos limites por caminhos C1 e C2 são distintos.
2.1 Limite de Funções de Várias Variáveis 25
Obs 2.1.2 Um caminho passando por um ponto (a,b), como citado acima, é um conjunto de
pontos do plano que possui (a,b) como ponto de acumulação. Se o limite de f (x,y) quando (x,y)
se aproxima de (a,b) por um caminho C é L, escrevemos
lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)
(x,y)∈C
Se escolhemos a reta y = x como um caminho para analisar o limite de uma função f (x,y) quando
(x,y) se aproxima de zero, podemos escrever também
lim f (x,y) = L.
(x,y)→(a,b)
y=x
Teorema 2.1.3 Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis, (a,b) um ponto de acumulação de
seu domínio e C1 ,C2 caminhos do plano contendo o ponto (a,b). Se
0·y
lim f (x,y) = lim = 0.
(x,y)→(0,0) y→0 02 + y2
(x,y)∈C1
Como os limites de f quando (x,y) → (0,0) por C1 e C2 são distintos, segue do Teorema 2.1.3 que
o limite lim(x,y)→(0,0) f (x,y) não existe.
Veja a Figura 2.5. O caminho C1 fornece os pontos em branco na figura, enquanto os pontos
no caminho C2 fornecem os pontos em tom vermelho-escuro. Apesar do argumento acima ser
suficiente para provar que o limite em questão não existe, você pode considerar o caminho Cm =
{(x,y) ∈ R2 : y = mx} na figura e calcular o limite de f (x,y) quando (x,y) → (0,0) por este caminho:
repare que cada escolha de m fornece uma cor diferente no mapa de calor à esquerda da Figura 2.5,
fornecendo também um valor diferente para o limite.
Obs 2.1.4 O Teorema 2.1.3 nos permite provar apenas que um limite não existe. Caso encontremos
dois (ou mais) caminhos que resultem no mesmo limite, nada podemos afirmar sobre o limite
global.
26 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
Assim como no estudo de funções de uma variável, a definição de continuidade de uma função
de duas variáveis é compreendida de imediato a partir do conceito de limite.
Definição 2.1.2 Uma função f (x,y) de duas variáveis é dita contínua em um ponto (a,b) de
seu domínio se o limite lim f (x,y) existe e
(x,y)→(a,b)
Caso contrário dizemos que f é descontínua em (a,b). Se f é contínua em todo ponto de seu
domínio dizemos simplesmente que f é contínua.
Obs 2.1.5 Note que o conceito de limite de uma função f (x,y) se estende a pontos (a,b) que não
pertencem ao domínio de f , enquanto a continuidade de uma função está definida apenas para
pontos de seu domínio.
Usando as propriedades de limite enunciadas no Teorema 2.1.1 podemos ver que a soma,
diferença, produto e quociente de funções contínuas resultam também em funções contínuas; no
último caso, como anteriormente, exigimos que a função no denominador não se anule no ponto
em questão.
2.1 Limite de Funções de Várias Variáveis 27
Teorema 2.1.6 Se f (x,y) e g(x,y) são funções contínuas em (x,y) = (a,b), então:
(i) f ± g é contínua em (a,b);
(ii) f · g é contínua em (a,b);
(iii) f /g é contínua em (a,b), desde que g(a,b) 6= 0.
Outros exemplos de funções contínuas são obtidos através da composição de funções, conforme
enunciado no teorema a seguir.
Teorema 2.1.7 Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis contínua, (a,b) um ponto do domínio
de f e H(z) uma função de uma variável. Se f (x,y) é contínua
em (a,b) e H(z) é contínua em
f (a,b), então a função composta (H ◦ f )(x,y) = H f (x,y) é contínua em (a,b).
Note que as funções do Exemplo 2.4 são contínuas em seus respectivos domínios, o que não
significa que estas funções possuam todo o plano como domínio. Por exemplo a função do item
(ii) não está definida no ponto (x,y) = (1, − 1), já que este ponto anula o seu denominador; logo,
a função g não é contínua em (1, − 1), mas é contínua em todo ponto (x,y) em que ela está bem
definida.
Exercício 2.2 Para cada uma das funções abaixo, determine seu domínio e a maior região do
plano em que ela é contínua.
Os conceitos de limite e continuidade vistos acima podem ser estendidos diretamente para
funções de mais de duas variáveis. Por vezes representaremos um ponto de Rn como uma n-upla
(x1 , . . . , xn ), mas também usaremos a notação x para um ponto deste espaço; tome cuidado com a
notação para não confundir um número real com um ponto de Rn , pois estes diferem na notação
muitas vezes no uso de fonte em negrito.
Definição 2.1.3 Seja f (x1 , . . . , xn ) uma função real de n variáveis com domínio D ⊆ Rn e
seja a um ponto de Rn que é ponto de acumulação de D. Dizemos que o limite de f quando
x → a é L se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se x ∈ B(a,δ ), x ∈ D e x 6= a, então
f (x) ∈ (L − ε, L + ε).
g(T ) = f (T,65).
Podemos ver através da coluna destacada como a sensação térmica aumenta conforme a temperatura
aumenta; esta taxa de variação é representada pela derivada da função g. Por exemplo, a taxa
de variação da sensação térmica S em relação à temperatura quando T = 12 é representada pela
derivada da função g em T = 12:
g(T ) − g(12) g(12 + h) − g(12)
g0 (12) = lim = lim .
T →12 T − 12 h→0 h
Como g(T ) = f (T,65), podemos escrever a derivada de g em T = 12 como
f (T,65) − f (12,65) f (12 + h,65) − f (12,65)
g0 (12) = lim = lim .
T →12 T − 12 h→0 h
Podemos também observar a variação da sensação térmica mantendo fixo um valor para a tem-
peratura. A linha destacada na Figura 2.7 corresponde aos valores de S para T = 12. Analogamente,
2.2 Derivadas Parciais de Funções de Duas Variáveis 29
se mantivermos a temperatura fixa em 12o C, a sensação térmica passa a ser uma função de apenas
uma variável: S depende apenas da velocidade V do vento. Denotamos esta função por G(V ):
G(V ) = f (12,V ).
Existem muitas notações diferentes para derivadas parciais. Abaixo vemos algumas maneira de
representar a derivada parcial de uma função f (x,y) em relação a x:
∂f ∂ f ∂z ∂ z
fx (a,b) = (a,b) = = (a,b) = = Dx f (a,b).
∂x ∂ x (a,b) ∂ x ∂ x (a,b)
Naturalmente, usamos uma notação semelhante para representar a derivada parcial de f em relação
a y:
∂f ∂ f ∂z ∂ z
fy (a,b) = (a,b) = = (a,b) = = Dy f (a,b).
∂y ∂ y (a,b) ∂ y ∂ y (a,b)
Exemplo 2.5 Calcule as derivadas parciais fx (2, − 1) e fy (2, − 1) da função f abaixo:
Para calcular a derivada parcial fx (2, − 1) podemos fixar y = −1 e considerar a função de uma
variável resultante:
Apresentamos os cálculos do Exemplo 2.5 como acima para fins didáticos, mas normalmente
calculamos derivadas parciais usando o conceito de função derivada parcial: veja a Definição 2.2.2
e o Exemplo 2.6.
Definição 2.2.2 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. A derivada parcial de f em relação
a x é definida como a função que associa a cada (x,y) ∈ Dom f a derivada parcial fx (x,y):
f (x + h,y) − f (x,y)
fx (x,y) = lim ,
h→0 h
caso o limite exista. Analogamente, a derivada parcial de f em relação a y é definida como a
função que associa a cada (x,y) ∈ Dom f a derivada parcial fy (x,y):
f (x,y + h) − f (x,y)
fy (x,y) = lim ,
h→0 h
caso o limite exista.
Para calcular a derivada parcial de uma função f (x,y) em relação a x, como as Definições 2.2.1
e 2.2.2 sugerem, consideramos a variável y como uma constante e derivamos a expressão como
uma função de uma variável. O mesmo é feito para o cálculo de fy (x,y).
Exemplo 2.6 As derivadas parciais da função
são calculadas usando a regra da cadeia para funções de uma variável. Para calcular a derivada
parcial gx , consideramos y como uma constante e escrevemos sen(x2 + 2y3 ) = F(G(x)), onde
F(x) = sen x e G(x) = x2 + 2y3 . Logo,
dF dG
gx (x,y) = G(x) · = cos(x2 + 2y3 ) · 2x = 2x cos(x2 + y2 ).
dx dx
Analogamente,
gy (x,y) = cos(x2 + 2y3 ) · 6y2 = 6y2 cos(x2 + 2y3 ).
√ √
(i) f (x,y) = x4 y − 2x y (v) G(x,y) = (ex − y) cos(1 − 4xy2 )
x (vi) H(x,y) = cos x2 + ln(2x4 y − y3 )
(ii) g(x,y) = 2
y
tan(x2 − y2 ) + xy
(iii) h(x,y) = ln(2x3 − y2 ) (vii) φ (x,y) =
x2
3y (viii) ψ(x,y) = exp sec(xy)
(iv) F(x,y) = tan(x)
x
Frequentemente, em uma situação real, lidamos com uma função f (x,y) cuja expressão algébrica
não é conhecida, como é o caso na Figura 2.7. Podemos nestes casos aproximar os valores das
derivadas parciais utilizando a sua definição.
Exemplo 2.8 Considere a função S = f (T,V ) que expressa a sensação térmica S em função da
temperatura T e da velocidade V do vento na Figura 2.7. A derivada parcial fT (12,65) expressa
a taxa de variação da sensação térmica S em função da temperatura T , isto é, descreve como a
S variará se mantivermos V = 65 fixo e aumentarmos ligeiramente a temperatura T = 12. Não
podemos, no entanto, calcular esta derivada parcial como nos Exemplos 2.5 e 2.6 pois não temos
uma expressão algébrica para f (T,V ). Utilizamos então a definição de derivada parcial para obter
uma aproximação.
Considere a função g(T ) = f (T,65). Temos fT (12,65) = g0 (12) e o valor desta derivada pode
ser aproximada utilizando a definição
g(T ) − g(12)
fT (12,65) = g0 (12) = lim .
T →12 T − 12
Aproximamos o valor de g0 (12) através de alguns valores da tabela na Figura 2.7, escolhendo um à
direita de T = 12 e um à esquerda:
g(13) − g(12) 1 − 0
g0 (12) ≈ = = 1,
13 − 12 1
g(11) − g(12) −2 − 0
g0 (12) ≈ = = 2.
11 − 12 −1
Tirando a média dos valores acima temos a aproximação fT (12,65) = g0 (12) ≈ 1,5. A interpretação
desta derivada parcial é a seguinte: quando a temperatura é 12o C e o vento tem velocidade de 65
km/h, a sensação térmica S aumenta 1,5o C para um aumento de 1o C da temperatura real.
2.2 Derivadas Parciais de Funções de Duas Variáveis 33
Analogamente, podemos obter uma aproximação para a derivada parcial fV (12,65) ao con-
siderar a função G(V ) = f (12,V ) e aproximar a derivada G0 (65) usando os valores à direita e à
esquerda de V = 65 na Figura 2.7:
G(68) − G(65) −1 − 0 1
G0 (65) ≈ = =− ,
68 − 65 3 3
G(61) − G(65) −0 − 0
G0 (65) ≈ = = 0.
61 − 65 −4
Fazendo a média aritmética destas aproximações obtemos fV (12,65) = G0 (65) ≈ 0,16. Podemos
assim prever que, quando a temperatura é de 12o C e o vento tem velocidade 65 km/h, a sensação
térmica diminui aproximadamente 0,16o C para um aumento de uma unidade na velocidade do
vento.
Vimos no começo desta seção que a derivada parcial fx (a,b) de uma função z = f (x,y) repre-
senta a taxa de variação de z em relação a x no ponto x = a, se mantivermos y = b fixo. Vejamos
agora o que esta derivada parcial representa geometricamente. A equação y = b representa uma
reta no plano, mas y = b define um plano no espaço. Veja a Figura 2.9.
∂ f 6y
=− = 3.
∂ y (1,−1) 2 (1,−1)
Até o momento estudamos superfícies em R3 dadas pelo gráfico de funções de duas variáveis,
isto é, superfícies definidas por equações da forma z = f (x,y). De um modo geral, uma equação
a três variáveis F(x,y,z) = 0 define uma superfície em R3 . Podemos, também neste caso, nos
perguntar qual é a taxa de variação de z em relação a x ou a y em um determinado ponto; o
significado geométrico destas derivadas parciais é o mesmo, ilustrado nas Figuras 2.10 a 2.13. Isto
é feito através de derivação implícita, processo que se assemelha com aquele estudado no cálculo
de funções de uma variável.
2.2 Derivadas Parciais de Funções de Duas Variáveis 35
Exemplo 2.10 Calcule o valor de ∂ z/∂ x no ponto (1,1,1) supondo que a equação
xy + z3 x = 2yz
define implicitamente uma função z = f (x,y) na vizinhança do ponto (1,1,1) cujas derivadas
parciais de primeira ordem existem.
Supondo que z é função de x e y, ambos os lados da equação acima dependem da variável
x. Suas derivadas parciais em relação a esta variável são iguais, logo, considerando que y é uma
constante, temos
∂ ∂ ∂ ∂ ∂z
xy + z3 x = xy + z3 x = 2y .
2yz ⇐⇒
∂x ∂x ∂x ∂x ∂x
Como z é uma variável que depende de x, calculamos as derivadas acima usando a regra do produto
e a regra da cadeia:
2 ∂z ∂z
1 · y + 3z x + z3 · 1 = 2y .
∂x ∂x
Segue que
∂z ∂z ∂z
3z2 x − 2y = −y − z3 ⇐⇒ (3z2 x − 2y) = −y − z3 .
∂x ∂x ∂x
36 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
Portanto,
∂z −y − z3
= 2 .
∂ x 3z x − 2y
Podemos calcular o valor desta derivada parcial no ponto (1,1,1) através da expressão acima:
∂z −1 − 13 −2
(1,1,1) = = = −2.
∂x 3 · 12 · 1 − 2 · 1 3 − 2
caso o limite exista. A derivada parcial de f em relação a xk é definida como a função que
associa a cada (x1 , . . . , xn ) ∈ Dom f a sua derivada parcial ∂ f /∂ xk .
∂f
= fxk = fk = Dk f .
∂ xk
Nosso foco neste curso se encontra em funções de duas ou três variáveis. Ilustramos a Definição
2.3.1 neste último caso: o cálculo da derivada parcial fx de uma função f (x,y,z), por exemplo, é
calculada considerando que y,z são constantes e derivando a expressão como uma função de apenas
uma variável.
Exemplo 2.11 As derivadas parciais fx , fy e fz da função
e
fz (x,y,z) = x sen(y + 3z) + xz cos(y + 3z) · (0 + 3) = x sen(y + 3z) + 3xz cos(y + 3z).
Cabe ressaltar que as derivadas parciais de uma função de três variáveis têm interpretações
semelhantes àquelas vistas para funções de duas variáveis. Por exemplo, se T (x,y,z) indica a
temperatura em cada ponto (x,y,z) de um sólido E do espaço, a derivada parcial Tx (a,b,c) indica
que variação de temperatura esperamos se caminharmos dentro do sólido E na direção do eixo x,
partindo do ponto (a,b,c).
∂2 f ∂ 2z
∂ ∂f
fyy = ( fy )y = = 2 = 2,
∂y ∂y ∂y ∂y
∂2 f ∂ 2z
∂ ∂f
fxy = ( fx )y = = = ,
∂y ∂x ∂ y∂ x ∂ y∂ x
e
∂2 f ∂ 2z
∂ ∂f
fyx = ( fy )x = = = .
∂x ∂y ∂ x∂ y ∂ x∂ y
Exemplo 2.12 Determine as derivadas parciais de segunda ordem da função
Temos
fx (x,y) = cos y + yex e fy (x,y) = −x sen y + ex ,
logo
fxx (x,y) = yex ,
fyy (x,y) = −x cos y,
fxy (x,y) = − sen y + ex ,
e
fyx (x,y) = − sen y + ex .
Verificamos que no caso da função f do Exemplo 2.12 temos fxy = fyx . Isto não foi apenas
uma coincidência; esta igualdade ocorre em muitos casos, descritos no teorema abaixo.
Teorema 2.4.1 Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (a,b) um ponto interior ao seu
domínio. Se as derivadas parciais fxy e fyx existem e são contínuas em um conjunto aberto
contendo o ponto (a,b), então
fxy (a,b) = fyx (a,b).
Obs 2.4.2 Podemos definir derivadas parciais de terceira ordem de uma função f (x,y) da mesma
maneira, isto é, como as derivadas parciais das funções fxx , fyy , fxy e fyx . Entretanto, nas aplicações
do Cálculo Diferencial e Integral à Física e às Engenharias encontramos mais frequentemente
derivadas parciais de primeira e segunda ordem.
Obs 2.4.3 Derivadas parciais de segunda ordem para funções de três ou mais variáveis, assim
como derivadas parciais de ordem superior, são definidas analogamente.
2.5 Problemas
Problema 2.1 Considere uma função z = f (x,y) que representa a altura z de um terreno em cada
ponto (x,y) do plano. Na Figura 2.16 estão esboçadas algumas curvas de nível da função f .
(i) Encontre uma estimativa para as derivadas parciais fx (2,1) e fy (2,1).
(ii) Forneça uma interpretação para o valor das derivadas parciais fx (2,1) e fy (2,1).
Problema 2.2 Considere o cone (duplo) de R3 definido pela equação z2 = x2 + y2 .
(i) Escreva a distância de um ponto P do espaço ao ponto (4,2,0) em função das coordenadas
(x,y,z) de P.
2.6 Planos Tangentes 39
(ii) Escreva a distância D de um ponto Q = (x,y,z) do cone acima ao ponto (4,2,0) como uma
função D = f (x,y) .
(iii) Calcule as derivadas parciais da função D = f (x,y) do item (ii).
Problema 2.3 Considere a função cujo esboço do gráfico se encontra na Figura 2. Determine se
as derivadas parciais fx , fy , fxx , fyy no ponto (0.5, 0.5) são positivas ou negativas. Justifique.
z − z0 = A0 (x − x0 ).
Teorema 2.6.1 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis com derivadas parciais contínuas
em torno de um ponto (x0 , y0 ). A equação do plano tangente à superfície z = f (x,y) no ponto
(x0 , y0 , z0 ), z0 = f (x0 , y0 ), é dada por
Figura 2.19: Planto tangente do Exemplo Figura 2.20: Planto tangente do Exemplo
2.13. 2.13.
Analogamente, temos
isto é,
z + 7 = −3(x − 1)2 − 2(y + 3)2 .
Logo, se
x − 1 = x1 , y + 3 = y1 e z + 7 = z1 , (2.4)
então
z1 = −3x12 − 2y21 .
Concluímos que o gráfico z = f (x,y) consiste de uma translação (Equação (2.4)) do paraboloide
elíptico z = −3x2 − 2y2 ; veja a Figura 2.21. Veja a Seção 1.3 de Cálculo Volume 1, James Stewart
e os exercícios 65 e 66 de Cálculo Volume 2, James Stewart.
Exercício 2.4 Determine a equação do plano tangente ao gráfico das funções abaixo no ponto
dado.
A aproximação de f (x) pela coordenada y fornecida pela reta tangente pode então ser escrita como
A função L(x) no lado direito da Equação (2.7) é dita a linearização de f em torno de x0 . A Figura
2.22 ilustra a aproximação linear de f (x) = x2 em torno de x = 1. Veja a Seção 3.10 de Cálculo
Volume 1, James Stewart, para mais informações sobre a linearização e aproximações lineares de
funções de uma variável.
É possível aproximar os valores de uma função de duas variáveis em torno de um ponto (x0 , y0 )
através de uma função linear de duas variáveis; tais funções têm um plano como gráfico. Temos
nas Figuras 2.23 e 2.24 ilustrados o gráfico e o plano tangente da função do Exemplo 2.13; observe
o que ocorre quando damos um zoom nas proximidades do ponto (2, −2, −12).
Figura 2.23: Planto tangente do Exemplo Figura 2.24: Planto tangente do Exemplo
2.13. 2.13.
Considere o caso do Exemplo 2.13. A equação do plano tangente à função f (x,y) = −3x2 +
6x − 2y2 − 12y − 28 no ponto (2, −2, −12) é 6x + 4y + z = −8. A imagem de f em um ponto (x,y)
próximo de (2, − 2) pode ser aproximado pelo valor de z que a equação do plano tangente em
(2, −2, −12) fornece, como as Figuras 2.23 e 2.24 sugerem. Por exemplo, para (x,y) = (2,1, −1,9),
temos na equação do plano tangente
A aproximação linear afirma neste caso que f (2,1, −1,9) ≈ −3. O valor real de f (2,1, −1,9)
pode ser calculado através da expressão f (x,y) = −3x2 + 6x − 2y2 − 12y − 28, o que fornece
f (2,1, −1,9) = −3,05.
A aproximação linear acima pode ser escrita da seguinte maneira. Quando substituímos um
certo ponto (x,y) na equação 6x + 4y + z = −8 do plano tangente e calculamos o z correspondente
estamos usando a seguinte função de duas variáveis: como z = −6x − 4y − 8, temos
z = L(x,y) = −6x − 4y − 8.
A função L(x,y) acima é aquela que possui como gráfico o plano z = −6x − 4y − 8. Então as
Figuras 2.23 e 2.24 sugerem que, para pontos (x,y) próximos de (2, − 2), a aproximação de f (x,y)
por L(x,y) é bem precisa:
f (x,y) ≈ L(x,y) = −6x − 4y − 8.
44 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
Definição 2.7.1 Seja f (x,y) uma função com derivadas parciais contínuas em torno de um
ponto (x0 , y0 ) ∈ Dom f . A linearização de f em (x0 , y0 ) é definida comoa função L(x,y) que
tem como gráfico o plano tangente a z = f (x,y) no ponto x0 , y0 , f (x0 , y0 ) :
A aproximação
Exercício 2.6 Use a linearização da função f no ponto P dado para aproximar o valor de f no
ponto Q.
(i) f (x,y) = x3 − 2xy, P = (2,1), Q = (2.01, 1.99)
x2 − y
(ii) f (x,y) = , P = (−1, − 2), Q = (−1.09, −2.1)
x+y
Note que, se escrevemos x = x0 + ∆x, y = y0 + ∆y, então a aproximação linear de f em (x0 ,y0 )
é escrita como
f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) ≈ f (x0 ,y0 ) + fx (x0 ,y0 )∆x + fy (x0 ,y0 )∆y.
Em uma situação como a do Exercício 2.5 devemos nos perguntar: qual o erro cometido ao fazer
tal aproximação? Ou seja, ao aproximarmos o valor de f (x,y) em um ponto (x0 + ∆x, y0 + ∆y) pelo
plano tangente de f em (x0 ,y0 ), será que a diferença
E(∆x, ∆y) = f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) − f (x0 ,y0 ) + fx (x0 ,y0 )∆x + fy (x0 ,y0 )∆y
é pequena? Podemos reformular a pergunta da seguinte maneira: será que à medida que ∆x e
∆y se aproximam de zero o erro E(∆x, ∆y) fica cada vez menor? De certa forma, introduzimos o
conceito de diferenciabilidade (total) de funções de duas variáveis para descrever os casos em que
esta linearização fornece uma boa aproximação.
Definição 2.7.2 Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto interior ao seu
domínio. Dizemos que f é diferenciável em (x0 ,y0 ) se
E(∆x, ∆y) = ε1 ∆x + ε2 ∆y
O teorema a seguir fornece uma condição suficiente para a diferenciabilidade de uma função de
duas variáveis; como esta condição é mais simples que a diferenciabilidade, podemos usá-lo para
garantir que a linearização fornece de fato uma boa aproximação. Para um resultado mais preciso
sobre o erro cometido na aproximação linear de uma função de duas variáveis, veja a Seção 14.6 de
Cálculo Volume 2, George Thomas.
Teorema 2.7.1 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto interior ao seu
domínio. Se as derivadas parciais fx e fy existem em um disco aberto contendo (x0 ,y0 ) e são
contínuas em (x0 ,y0 ), então f é diferenciável em (x0 ,y0 ).
Definição 2.7.3 Sejam f (x,y,z) uma função com derivadas parciais contínuas em torno de um
ponto (x0 ,y0 ,z0 ) ∈ Dom f . A linearização de f em (x0 ,y0 ,z0 ) é definida como a função
L(x,y,z) = f (x0 ,y0 ,z0 ) + fx (x0 ,y0 ,z0 )(x − x0 ) + fy (x0 ,y0 ,z0 )(y − y0 ) + fz (x0 ,y0 ,z0 )(z − z0 ).
A aproximação
f (x,y,z) ≈ L(x,y,z) = f (x0 ,y0 ,z0 )+ fx (x0 ,y0 ,z0 )(x−x0 )+ fy (x0 ,y0 ,z0 )(y−y0 )+ fz (x0 ,y0 ,z0 )(z−z0 )
dy dy dx
= .
dt dx dt
Por exemplo, se y = cos(t 2 − 3t), então podemos escrever y = cos x, onde x = t 2 − 3t. Logo,
dy dy dx
= = − sen x · (2t − 3) = −(2t − 3) sen(t 2 − 3t).
dt dx dt
Este regra de derivação possui um análogo para funções compostas de várias variáveis; a Figura
2.25 ilustra a composição de funções do enunciado do Teorema 2.8.1.
Teorema 2.8.1 Sejam z = f (x,y) uma função diferenciável de x e y, onde x = g(t) e y = h(t)
46 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
dz ∂ z dx ∂ z dy
= + .
dt ∂ x dt ∂ y dt
x y
t t
nas variáveis x e y que, por sua vez, produzem um incremento ∆z na variável z. Como f é
diferenciável, segue da Definição 2.25 que
∆z = fx ∆x + fy ∆y + ε1 ∆x + ε2 ∆y,
x = 2t + 1 e y = t 3.
dz ∂ z dx ∂ z dy
= + (2.8)
dt ∂ x dt ∂ y dt
onde
2 2
∂z ∂ x x 2x
= cos = − sen ,
∂x ∂x y y y
2 2 2
∂z ∂ x x x
= cos = − sen − 2 .
∂y ∂y y y y
dz ∂ z dx1 ∂ z dxn
= +···+ .
dt ∂ x1 dt ∂ xn dt
dw
Exemplo 2.15 Encontre o valor de em t = 0 se w = xy + z e
dt
x = cost, y = sent e z = t. (2.12)
48 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
x1 x2 xn
t t t
dw ∂ w dx ∂ w dy ∂ w dz
= + + .
dt ∂ x dt ∂ y dt ∂ z dt
dx dy dz
= − sent, = cost e = 1,
dt dt dt
logo
dx dy dz
= 0, =1 e = 1.
dt t=0 dt t=0 dt t=0
Mais ainda, temos
∂w ∂w ∂w
= y, =x e = 1.
∂x ∂y ∂z
onde x = cost, y = sent e z = t implicam em x = 1, y = 0 e z = 0. Portanto,
∂ w ∂ w ∂ w
= 0, =1 e = 1.
∂ x t=0 ∂ y t=0 ∂ z t=0
Segue que
dw
= 0 · 0 + 1 · 1 + 1 · 1 = 2.
dt t=0
Note que a Equação (2.12) descreve uma hélice no espaço; o significado da derivada que
calculamos acima é a taxa de variação de w conforme o ponto (x,y,z) se desloca seguindo o
caminho descrito pela hélice.
Situações envolvendo taxas de variação relacionadas podem ser vistas através do prisma de
funções de várias variáveis.
Exemplo 2.16 A lei dos gases ideias afirma que a temperatura T em Kelvin, a pressão P em
newtons por metro quadrado e o volume V em metros cúbicos de um gás satisfazem a equação
PV = kT , onde k é uma constante de proporcionalidade. Use esta lei com k = 10 para encontrar a
taxa de variação da temperatura em relação ao tempo de um gás no instante em que seu volume é
de 120 m3 sob uma pressão de 8 N/m2 , sabendo que seu volume está crescendo a uma taxa de 2
m3 /s e a pressão está decrescendo a uma taxa de 0,1 N/m2 s.
A temperatura do gás pode ser escrita como uma função de duas variáveis
1
T= PV,
10
2.8 Regra da Cadeia 49
onde P = P(t) e V = V (t) são funções do tempo. Segue da regra da cadeia que
dT ∂ T dP ∂ T dV
= · + · ,
dt ∂ P dt ∂V dt
isto é,
dT V dP P dV
= · + · .
dt 10 dt 10 dt
Segue que no instante dado temos
dT 120 8
= · (−0,1) + · 2 = −1,2 + 1,6 = 0,4.
dt 10 10
Então a temperatura do gás está aumentando a uma taxa de 0,4 K/s neste instante.
Teorema 2.8.3 Seja y = f (x1 , . . . , xn ) uma função diferenciável de n variáveis onde cada xi é
função diferenciável de t1 , . . . ,tm : xi = gi (t1 , . . . ,tm ). Então
y = f g1 (t1 , . . . ,tm ), . . . , gn (t1 , . . . ,tm )
∂y ∂ y ∂ x1 ∂ y ∂ xn
= +···+ .
∂t j ∂ x1 ∂t j ∂ xn ∂t j
x1 x2 xn
t1 tj tn t1 tj tn t1 tj tn
Exemplo 2.17 Seja u = x4 y + y2 z3 onde x = rset , y = rs2 e−t e z = r2 s sent. Encontre o valor de
∂u
quando (r,s,t) = (2,1,0).
∂s
Temos pela regra da cadeia que
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂z
= · + · + ·
∂s ∂x ∂s ∂y ∂s ∂z ∂s
onde
∂x ∂y ∂z
= ret , = r2se−t e = r2 sent.
∂s ∂s ∂s
Segue que, se (r,s,t) = (2,1,0),
∂ x ∂ y ∂ z
= 0, =1 e = 1.
∂ s (r,s,t)=(2,1,0) ∂ s (r,s,t)=(2,1,0) ∂ s (r,s,t)=(2,1,0)
50 Capítulo 2. Limites e Derivadas de Funções de Várias Variáveis
Segue que
∂ u
= 64 · 2 + 16 · 4 + 0 · 0 = 192.
∂ s (r,s,t)=(2,1,0)
Exercício 2.7 O raio de um cilindro circular reto está decrescendo a uma taxa de 5 cm/min e
sua altura está aumentando a uma taxa de 12 cm/min. Determine a taxa de variação do volume
do cilindro no instante em que o raio é 20 cm e a altura é 40 cm.
2.9 Problemas
Problema 2.4 Considere a função f (x,y) = y ln x.
(a) Considere os planos π1 , π2 que são tangentes ao gráfico da função f (x,y) nos pontos (1,4) e
(2,3), respectivamente. Determine a equação de cada um destes planos.
(b) Use a aproximação linear de f nos pontos (1,4) e (2,3) para aproximar o valor de f (1.2, 3.7).
Qual das aproximações obtidas é, a princípio, a mais adequada? Justifique.
Problema 2.5 Um inseto se desloca em uma placa de metal de modo que sua posição (x,y) depende
do instante de tempo t da seguinte maneira:
√
x(t) = 1 + t, y(t) = 2 + t/3.
2.9 Problemas 51
A temperatura em um ponto (x,y) desta placa é dada por uma função T (x,y) que desconhecemos.
Determine a taxa de variação da temperatura no caminho do inseto em função do tempo no instante
t = 2 com as informações abaixo sobre a função T (x,y).
Tx 2√1 3 , 13 = 0 Ty 2√1 3 , 13 = −3
√ √
Tx 3, 83 = 4 Ty 3, 83 = 3
Tx (2,2) = −1 Ty (2,2) = 1
3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplic
Figura 3.1: Taxa de variação de uma função f no ponto (x0 , y0 ) na direção do vetor
unitário ~u = (a,b).
Teorema 3.1.2 Seja f (x,y) uma função diferenciável de duas variáveis definida sobre um
conjunto aberto. Se (x0 ,y0 ) ∈ Dom f e ~u = (a,b) é um vetor unitário, então a derivada direcional
D~u f (x0 ,y0 ) existe e
D~u f (x0 ,y0 ) = fx (x0 ,y0 ) · a + fy (x0 ,y0 ) · b.
Demonstração. Considere a função de uma variável g(h) = f (x0 + ha, y0 + hb). Segue da definição
de derivada de uma função que
∂ f dx ∂ f dy
g0 (h) = · + · = fx (x,y) · a + fy (x,y) · b,
∂ x dh ∂ y dh
3.1 Derivadas Direcionais e Vetores Gradiente 55
onde (x,y) = x(h), y(h) = (x0 + ha, y0 + hb). Para h = 0 temos x(h) = x0 e y(h) = y0 , então
Cabe ressaltar que o Teorema 3.1.2 é válido apenas para vetores unitários. Vetores de mesma
direção e módulos diferentes forneceriam derivadas direcionais de diferentes valores, o que não é
de nosso interesse. Por esse motivo, se a direção em questão é definida por um vetor de módulo
diferente de 1, é necessário normalizá-lo para usar então aplicar o Teorema 3.1.2.
Exemplo 3.2 Determine a derivada direcional da função f (x,y) = ln(x2 + y2 ) no ponto (2,1) na
direção definida pelo vetor ~u = (−1,2).
Temos
2x 2y
fx (x,y) = 2 e fy (x,y) = ,
x + y2 x 2 + y2
logo
4 2
fx (2,1) = e fy (2,1) = .
5 5
√ √
O módulo de ~u é dado por k~uk = 1 + 4 = 5. Segue que ~u tem a direção do vetor unitário
1 −1 2
~v = √ (−1,2) = √ , √ .
5 5 5
56 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
Observamos que o Teorema 3.1.2 descreve o valor da derivada direcional D~u f (x0 ,y0 ) através
do produto escalar dos vetores ~u = (a,b) e fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) :
D~u f (x0 ,y0 ) = fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) · (a,b) = fx (x0 , y0 ) · a + fy (x0 , y0 ) · b.
O vetor fx (x0 , y0 ), fy (x0 , y0 ) é dito o vetor gradiente de f no ponto (x0 , y0 ).
Definição 3.1.2 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis. O vetor gradiente ou, simplesmente,
o gradiente de f é a função ∇ f que associa a cada ponto (x,y) ∈ Dom f o vetor
Mas o que o vetor gradiente de uma função f (x,y) de duas variáveis representa? A resposta desta
pergunta envolve a seguinte propriedade do produto escalar de dois vetores:
Figura 3.4: Ângulo θ formado pelo vetor ~u que define a derivada direcional e o vetor
gradiente ∇ f (x0 ,y0 ).
Note que a Equação (3.5) implica ainda que a derivada direcional D~u f (x0 ,y0 ) é mínima quando
cos θ = −1; isto é equivalente a θ = π, isto é, quando ~u e ∇ f (x0 , y0 ) têm a mesma direção mas
sentidos opostos. Além disso, concluímos também que a taxa de variação de f em (x0 ,y0 ) é nula
em uma direção ~u se e somente se ~u é ortogonal a ∇ f (x0 ,y0 ).
Teorema 3.1.3 Seja f (x,y) uma função diferenciável de duas variáveis e seja (x0 ,y0 ) um ponto
de seu domínio. Então a taxa de variação máxima de z = f (x,y) no ponto (x0 , y0 ) ocorre na
direção ∇ f (x0 ,y0 ) e este valor máximo é dado por |∇ f (x0 ,y0 )|.
x2
Exemplo 3.3 Considere a função f (x,y) = + 3y2 . Determine a direção em que z = f (x,y):
2
(a) cresce mais rapidamente no ponto (2,1);
(b) decresce mais rapidamente no ponto (2,1);
(c) possui taxa de variação nula no ponto (2,1).
O vetor gradiente de f é dado por ∇ f (x,y) = (x,6y), logo ∇ f (2,1) = (2,6). Segue que a direção
em que z = f (x,y) cresce mais rapidamente é ~u = (2,6); aquela em que z decresce mais rapidamente
é −~u = (−2, − 6). As duas direções em que z possui taxa de variação nula são aquelas ortogonais
ao vetor gradiente, isto é, aquelas dadas por ~v = (a,b) onde
~v · ∇ f (2,1) = 0, isto é, 2a + 6b = 0, isto é, 6b = −2a.
Devemos então escolher dois vetores v~1 , v~2 com direções opostas que satisfazem a equação 6b =
−2a. Segue que as direções em que a derivada direcional é nula são as dos vetores v~1 = (6, − 2) e
v~2 = (−6,2).
O vetor gradiente de uma função f (x,y) possui uma outra propriedade importante. Não é
possível apresentar estas ideias em sua plenitude pois é necessário um conhecimento prévio de
parametrização de curvas; veja o Capítulo 13 de Cálculo Volume 2, James Stewart.
58 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
Teorema 3.1.4 Sejam f (x,y) = k uma curva de nível de uma função diferenciável f de duas
variáveis e (x0 , y0 ) um ponto desta curva. Então ∇ f (x0 , y0 ) é ortogonal a esta curva de nível no
ponto (x0 , y0 ).
Mais precisamente, o Teorema 3.1.4 afirma que ∇ f (x0 , y0 ) é ortogonal à reta tangente a esta
curva de nível no ponto (x0 , y0 ); veja a Figura 3.5. Nas Figuras 3.6 e 3.7 temos representados
o campo gradiente de duas funções f (x,y): para alguns pontos (x,y) do plano, é representado
graficamente o vetor ∇ f (x,y). O campo gradiente ilustra o fato que os vetores gradientes apontam
para a direção de “subida do morro” (subida de maior inclinação).
Podemos definir de maneira análoga a derivada direcional e o vetor gradiente de uma função de
três variáveis. Teoremas semelhantes são provados com os mesmos argumentos.
Definição 3.1.3 Sejam F(x,y,z) uma função de três variáveis e (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto interior ao
seu domínio. Seja ~u = (a,b,c) ∈ R3 um vetor unitário. A derivada direcional de F na direção do
vetor ~u no ponto (x0 ,y0 ,z0 ) é definida como
Definição 3.1.4 Seja F(x,y,z) uma função de três variáveis. O vetor gradiente ou, simples-
mente, o gradiente de F é a função ∇F que associa a cada ponto (x,y,z) ∈ Dom F o vetor
∇F(x,y,z) = Fx (x,y,z), Fy (x,y,z), Fz (x,y,z)
= Fx (x,y,z)~i + Fy (x,y,z)~j + Fz (x,y,z)~k.
Teorema 3.1.5 Seja F(x,y,z) uma função diferenciável de duas variáveis definida sobre um
conjunto aberto. Se (x0 ,y0 ,z0 ) ∈ Dom F e ~u = (a,b,c) é um vetor unitário, então a derivada
direcional D~u F(x0 ,y0 ,z0 ) existe e
A Equação (3.4) também é válida para vetores ~u,~v de R3 . Segue então do Teorema 3.1.5
que o máximo da derivada direcional D~u F(x0 ,y0 ,z0 ), para (x0 ,y0 ,z0 ) fixo, dentre todos os vetores
unitários ~u ∈ R3 , é k∇F(x0 ,y0 ,z0 )k e ocorre quando ~u tem a direção e sentido do vetor gradiente
∇F(x0 ,y0 ,z0 ).
Teorema 3.1.6 Seja F(x,y,z) uma função diferenciável de três variáveis e seja (x0 ,y0 ,z0 ) um
ponto de seu domínio. Então a taxa de variação máxima de w = F(x,y,z) no ponto (x0 , y0 , z0 )
ocorre na direção ∇F(x0 ,y0 ,z0 ) e este valor máximo é dado por k∇F(x0 ,y0 ,z0 )k.
Já foi discutido anteriormente o conceito de plano tangente ao gráfico de uma função. Entretanto,
nem toda superfície S de R3 representa o gráfico z = f (x,y) de uma função f de duas variáveis.
Algumas podem ser descritas como a superfície de nível de uma função F de três variáveis, isto é,
Neste caso, é possível provar que se (x0 ,y0 ,z0 ) é um ponto de S e C é uma curva contida em S que
passa por (x0 ,y0 ,z0 ), então ∇F(x0 ,y0 ,z0 ) é ortogonal à reta tangente a C neste ponto. É natural
portanto definir o plano tangente a S em (x0 ,y0 ,z0 ) como aquele que contém o ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e
tem o vetor ∇F(x0 ,y0 ,z0 ) como vetor normal. Veja a Figura 3.8.
Definição 3.1.5 Seja F(x,y,z) uma função diferenciável de três variáveis. Sejam S a super-
fície de nível definida pela equação F(x,y,z) = k e (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto de S. Suponha que
∇F(x0 ,y0 ,z0 ) 6= (0,0,0). Definimos o plano tangente π a S em (x0 ,y0 ,z0 ) como o plano que
contém o ponto (x0 ,y0 ,z0 ) e tem o vetor ∇F(x0 ,y0 ,z0 ) como vetor normal:
π : Fx (x0 ,y0 ,z0 )(x − x0 ) + Fy (x0 ,y0 ,z0 )(y − y0 ) + Fz (x0 ,y0 ,z0 )(z − z0 ) = 0.
A reta normal r à superfície S no ponto (x0 ,y0 ,z0 ) é definida como aquela que passa pelo ponto
(x0 ,y0 ,z0 ) e é normal ao plano tangente a S neste ponto:
isto é,
x = x0 + Fx (x0 ,y0 ,z0 ) · t,
r: y = y0 + Fy (x0 ,y0 ,z0 ) · t,
z = z0 + Fz (x0 ,y0 ,z0 ) · t.
Note que, se f (x,y) é uma função de duas variáveis, então seu gráfico z = f (x,y) corresponde à
60 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
f(a,b)
π
b y
x
Figura 3.8: Reta normal a uma superfície.
Exercício 3.2 Determine as direções em que a derivada direcional de f (x,y) = ye−xy no ponto
(0,2) tem valor 1.
Exercício 3.3 Determine os pontos do plano em que a direção de maior crescimento de f (x,y) =
x2 + y2 − 2x − 4y é ~v =~i + ~j.
3.2 Problemas
Problema 3.1 Uma joaninha se desloca em uma placa em metal situada no plano xy que se
encontra, para sua infelicidade, a uma temperatura muito alta. Ela está situada no momento no ponto
(1,2) e a temperatura nesta placa é dada em graus Celsius por uma função T (x,y) desconhecida,
mas sabe-se que D~u T (1,2) = −3 e D~v T (1,2) = 1, onde ~u = 35 , − 54 e ~u = 45 , 53 .
(i) Determine as derivada parciais Tx e Ty no ponto (1,2).
(ii) Determine a direção em que a joaninha deve se deslocar para que ela observe, em um primeiro
momento, o maior decréscimo possível na temperatura.
Problema 3.2 Determine as direções em que a derivada direcional de f (x,y) = ye−xy no ponto
(0,2) tem valor 1.
Para encontrar os extremos locais de funções de uma variável, buscamos os pontos que possuem
reta tangente horizontal; na Figura 3.9 temos ilustrados os extremos locais da função y = 0,1x3 −
1,2x. No caso de uma função z = F(x,y) de duas variáveis, procedemos de maneira semelhante:
buscaremos os pontos (x0 ,y0 ) do domínio de F onde gráfico deF possui plano tangente horizontal.
Como o plano tangente a z = F(x,y) no ponto x0 , y0 , F(x0 ,y0 ) tem equação
Teorema 3.3.1 — Lagrange. Sejam F(x,y) uma função de duas variáveis e (x0 ,y0 ) um ponto
interior ao domínio de F. Se (x0 ,y0 ) é um extremo local de F e as derivadas parciais de primeira
ordem de F existem em (x0 ,y0 ), então
2
-2
f
B
Cabe ressaltar que o Teorema 3.3.1 não afirma que todo ponto onde as derivadas parciais de
primeira ordem z = F(x,y) se anulam é extremo local de F; apenas a recíproca é verdadeira, logo a
lista de pontos (x,y) tais que Fx (x,y) = Fy (x,y) = 0 representam apenas candidatos para extremos
locais de F. Como o Teorema 3.3.1 não afirma nada sobre os pontos onde alguma das derivadas
parciais de primeira ordem de F não existe, estes também compõem candidatos a extremos locais.
Dizemos que os candidatos a extremos locais de F são os pontos críticos de F.
Definição 3.3.2 Sejam F(x,y) uma função de duas variáveis (x0 ,y0 ) um ponto interior a Dom F.
Dizemos que (x0 ,y0 ) é um ponto crítico de F se
(i) alguma das derivadas parciais de primeira ordem de F não existe em (x0 , y0 ), ou
(ii) Fx (x0 ,y0 ) = Fy (x0 ,y0 ) = 0.
Obs 3.3.2 Note que uma função de duas variáveis F(x,y) a condição Fx (x0 ,y0 ) = Fy (x0 ,y0 ) = 0
é equivalente a ao gradiente ∇F(x0 ,y0 ) se anular neste ponto (x0 ,y0 ) ∈ Dom F; assim o Teorema
3.3.1 afirma que se F possui um extremo local em um ponto (x0 ,y0 ) onde Fx e Fy existem, então
∇F(x0 ,y0 ) = ~0.
Exemplo 3.5 Considere a função F(x,y) = x2 − 2x + 3y2 + 12y + 16. Como as derivadas parciais
de F existem em todo o plano, os pontos críticos de F são aqueles que satisfazem o sistema
Fx (x,y) = 0, 2x − 2 = 0,
⇐⇒
Fy (x,y) = 0, 6y + 12 = 0.
Concluímos que G, assim como F, possui um único ponto crítico: (x,y) = (0,0).
3.3 Valores Máximo e Mínimo 63
x (iii) F(x,y) = x2 + y − ey
(i) f (x,y) = −3y2 + 2xy − + y
2 (iv) G(x,y) = x3 − 3x + y
xy
(ii) g(x,y) = x2 − + y2 + 4x
2
É possível verificar se os pontos críticos dos Exemplos 3.5 e 3.6 são de fato extremos locais:
completando quadrados, podemos escrever a função F como
Como (x − 1)2 ≥ 0 e 3(y + 2)2 ≥ 0 para todo (x,y) ∈ R2 , temos F(x,y) ≥ 3 para todo (x,y) ∈ R2 .
Segue de F(1, − 2) = 3 que (1, − 2) é mínimo local de F. Veja as Figuras 3.10 e 3.11.
O ponto crítico do Exemplo 3.6 não é um extremo local: na direção do plano yz (x = 0) a função
G assume os valores G(0,y) = −y2 ; na direção do plano xz (y = 0), temos G(x,0) = x2 . Segue que
em qualquer disco aberto contendo o ponto (0,0) a função G assume valores maiores e menores
que G(0,0) = 0. Veja as Figuras 3.12 e 3.13.
Figura 3.10: Plano tangente à função do Figura 3.11: Plano tangente à função do
Exemplo 3.5 no ponto (1, − 2). Exemplo 3.5 no ponto (1, − 2).
Assim como no estudo de funções de uma variável, podemos verificar se um ponto crítico
de uma função f (x,y) de duas variáveis é um máximo local ou mínimo local usando a segunda
derivada da função; neste caso, as derivadas parciais de segunda ordem da função.
Teorema 3.3.3 — Teste da Segunda Derivada. Sejam f (x,y) uma função de duas variáveis
e (x0 ,y0 ) um ponto crítico de f . Suponha que f possui derivadas parciais de segunda ordem
contínuas em uma vizinhança de (x0 ,y0 ). Considere
2
D = D(x0 ,y0 ) = fxx (x0 ,y0 ) · fyy (x0 ,y0 ) − fxy (x0 ,y0 ) .
Então:
(i) se D > 0 e fxx (x0 ,y0 ) > 0, então (x0 ,y0 ) é mínimo local de f ;
(ii) se D > 0 e fxx (x0 ,y0 ) < 0, então (x0 ,y0 ) é máximo local de f ;
64 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
Figura 3.12: Plano tangente à função do Figura 3.13: Plano tangente à função do
Exemplo 3.6 no ponto (0,0). Exemplo 3.6 no ponto (0,0).
Obs 3.3.4 Se (x0 ,y0 ) é ponto crítico de f e D = D(x0 ,y0 ) < 0, dizemos que (x0 , y0 ) é ponto de sela
de f .
Obs 3.3.5 O discriminante D = D(x,y) no enunciado do Teorema 3.3.3 é uma função de duas
variáveis; para cada ponto (x,y) ∈ Dom f , as derivadas parciais de segunda ordem de f assumem
valores possivelmente diferentes e D, portanto, também. Note que D pode ser escrito como o
determinante de uma matriz 2x2:
fxx fxy
D=
fyx fyy
Exemplo 3.7 Determine os pontos críticos da função f (x,y) = x4 + y4 − 4xy + 1 e classifique-os
como máximos locais, mínimos locais ou pontos de sela.
Note que as derivadas parciais de f existem em todo o seu domínio: Dom f = R2 . Segue que
seus pontos críticos são dados pelas soluções do sistema
3
fx (x,y) = 0, 4x − 4y = 0,
⇐⇒
fy (x,y) = 0, 4y3 − 4x = 0.
Exercício 3.5 Determine os pontos críticos das funções abaixo e classifique-os como máximos
locais, mínimos locais ou pontos de sela.
1 1
(i) f (x,y) = xy + +
x y
(ii) g(x,y) = e−y cos x
(iii) h(x,y) = (x2 + y2 )3 − 3(x2 + y2 )
Exercício 3.6 Classifique os pontos críticos encontrados no Exercício 3.4 como máximos locais,
mínimos locais ou pontos de sela.
Teorema 3.3.6 Sejam F(x1 , . . . , xn ) uma função de n variáveis e (a1 , . . . , an ) um ponto interior
a Dom F. Se (a1 , . . . , an ) é um extremo relativo de F e as derivadas parciais de primeira ordem
de F existem em (a1 , . . . , an ), então ∇F(a1 , . . . , an ) = ~0:
∂F ∂F
(a1 , . . . , an ) = · · · = (a1 , . . . , an ) = 0.
∂ x1 ∂ xn
Teorema 3.3.7 Seja F(x1 , . . . , xn ) uma função de duas variáveis com domínio D fechado e
limitado. Se F é contínua então F possui pontos de mínimo e máximo absolutos em D. Em
66 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
Se um dos extremos absolutos mencionados no Teorema 3.3.7 for um ponto interior a D, então
ele é extremo local e portanto ponto crítico. Segue que para encontrar os extremos absolutos de uma
função F contínua em um conjunto D fechado e limitado devemos procurar pelos pontos críticos
de F em seu interior e compará-los com os valores de F nos pontos de fronteira de D. Enunciamos
um método para tal abaixo, onde por compacto entende-se um conjunto fechado e limitado de Rn .
Método 3.3.8 — Extremos de Funções Contínuas em Compactos. Para encontrar os extre-
mos absolutos de uma função F de n variáveis contínua em um conjunto D fechado e limitado,
seguimos os seguintes passos:
1. encontre os pontos críticos de F no interior de D;
2. encontre os extremos de F na fronteira de D;
3. o maior dos valores de F nos pontos encontrados nos Passos 1 e 2 será o máximo absoluto
de F, enquanto o menor será o mínimo absoluto de F.
Exemplo 3.8 Determine os extremos absolutos de F(x,y) = 2 + 2x + 2y − x2 − y2 no conjunto
D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9, 0 ≤ y ≤ 9 − x}.
O domínio D considerado para a função F é um triângulo, ilustrado na Figura 3.15.
L1 = {(0,y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 9},
L2 = {(x,0) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9},
L3 = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 9 e y = 9 − x}.
Buscamos agora os extremos de F na sua fronteira (Passo 2):
3.4 Multiplicadores de Lagrange 67
Segue que o máximo absoluto de F em D é (1,1), com valor máximo 4, e o valor mínimo absoluto
−61 ocorre nos pontos (0,9) e (9,0). Veja a Figura 3.16: nela temos ilustrada o gráfico da função
f no retângulo [0,9] × [0,9]; o plano vertical delimita a região do gráfico diretamente acima do
triângulo D.
D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 10}.
√
O conjunto D define um círculo de centro na origem e raio 10. O gráfico de f , ilustrado na Figura
3.17 na direção do conjunto D acima, sugere que os valores de máximo e mínimo absolutos são
atingidos na fronteira do conjunto. A fronteira de D é definida pela equação g(x,y) = 10, onde
g(x,y) = x2 + y2 . Vemos na Figura 3.18 a fronteira de D e o gráfico de algumas curvas de nível de
f : f (x,y) = k para k = 2,3,4,5 e 6.
Note que a curva g(x,y) = 10 intercepta a primeira curva de nível de f (x,y) = 2 nos pontos
A,B,C e D: estes pontos de interseção representam os pontos (x,y) da circunferência que possuem
imagem 2 por f . O mesmo ocorre para as curvas de nível f (x,y) = 3 e f (x,y) = 4: estas curvas
de nível interceptam a circunferência em quatro pontos (não estão destacados na figura). A curva
de nível f (x,y) = 5 também intercepta a circunferência, mas desta vez através de dois pontos de
tangência: F e G. A curva de nível f (x,y) = 6 ilustra o fato que qualquer curva de nível f (x,y) = k
com k > 5 não intercepta a circunferência. Segue que os pontos de máximo absoluto (x1 ,y1 ), (x2 ,y2 )
3.4 Multiplicadores de Lagrange 69
para algum número real λ . É possível provar que o extremo absoluto de uma função f de duas
variáveis sujeita a uma condição g(x,y) = k sempre satisfaz um sistema como o da Equação (3.6).
Mais ainda, o mesmo é válido para extremos absolutos de uma função F(x,y,z) de três variáveis
sujeita a uma condição G(x,y,z) = k.
Método 3.4.1 — Multiplicadores de Lagrange. Para determinar os extremos absolutos de uma
função diferenciável F(x,y,z) sujeita a G(x,y,z) = k, onde ∇G(x,y,z) 6= (0,0,0) sobre a superfície
G(x,y,z) = k:
1. Determine as soluções (x,y,z,λ ) do sistema
∇F(x,y,z) = λ · ∇G(x,y,z),
(3.7)
G(x,y,z) = k.
2. Compare o valor de F nos pontos (x,y,z) encontrados no Passo 1; o maior deles será o valor
máximo de F sob a restrição G(x,y,z) = k, enquanto o menor será o mínimo.
Cabe ressaltar que ∇F(x,y,z) = λ · ∇G(x,y,z) se e somente se
Fx (x,y,z) = λ · Gx (x,y,z),
Fy (x,y,z) = λ · Gy (x,y,z),
Fz (x,y,z) = λ · Gz (x,y,z),
de modo que o sistema da Equação (3.7) pode ser escrita como um sistema de quatro equações.
Este método se aplica de maneira análoga à funções F,G de n variáveis, n ≥ 2.
Veremos abaixo que a função que usamos acima como exemplo tem de fato valor máximo z = 5
na circunferência x2 + y2 = 10.
Exemplo 3.9 Determine os extremos absolutos da função f (x,y) = xy no conjunto
D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 10}.
O único ponto crítico de f no interior de D ocorre quando fx (x,y) = fy (x,y) = 0, isto é, quando
y = x = 0. Segue do Método√ de Multiplicadores de Lagrange que os extremos de f na fronteira de
D (circunferência de raio 10) satisfazem o sistema
fx (x,y) = λ · gx (x,y), y = 2λ x,
fy (x,y) = λ · gy (x,y), ⇐⇒ x = 2λ y, (3.8)
2 2 2 2
x + y = 10, x + y = 10.
Segue da primeira e segunda equações que
y x
= ⇐⇒ y2 = x2 . (3.9)
2x 2y
Substituindo a Equação (3.9) na terceira equação do sistema obtemos
√
x2 + x2 = 10 ⇐⇒ x2 = 5 ⇐⇒ x = ± 5.
70 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
√ √
Concluímos
√ √ a partir √ √(3.9) que as soluções do sistema (3.8) são pontos ( 5, 5),
√ √da Equação
( 5, − 5), (− 5, 5) e (− 5, 5). Como
f (0,0) = 0,
√ √ √ √
f ( 5, 5) = f (− 5, − 5) = 5,
e √ √ √ √
f (− 5, 5) = f ( 5, 5) = −5,
os extremos absolutos de f no conjunto
√ D√ocorrem
√ nos
√ pontos:
(i) máximo absoluto nos pontos ( √ 5), ( √
5, √ 5, 5)√com valor 5;
(ii) mínimo absoluto nos pontos (− 5, 5), ( 5, − 5) com valor −5.
Veja a Figura 3.17.
Exemplo 3.11 Uma caixa retangular sem tampa é feita de 12 m2 de papelão. Determine o
volume máximo dessa caixa.
Se x,y,z são as arestas da caixa, então seu volume é uma função de três variáveis: V (x,y,z) = xyz.
A área total da caixa de papelão, considerando todas as suas faces, é igual a 12 m2 ; se g(x,y,z) =
xy + 2xz + 2yz, então temos g(x,y,z) = 12. Temos portanto que encontrar o máximo absoluto da
função V (x,y,z) sujeita a condição g(x,y,z) = 12. Consideramos, pelo Método de Lagrange, as
soluções do sistema
Vx (x,y) = λ · gx (x,y),
yz = λ (y + 2z),
Vy (x,y) = λ · gy (x,y), xz = λ (x + 2z),
⇐⇒
V (x,y) = λ · gz (x,y), xy = λ (2y + 2x),
z
g(x,y,z) = 12, xy + 2yz + 2xz = 12.
3.4 Multiplicadores de Lagrange 71
Multiplicando a primeira equação dos sistema por x e a segunda por y vemos que
Não podemos ter λ = 0 pois isso implicaria que alguma das outras variáveis se anula. Logo,
onde estamos usando o fato que os pontos de interesse satisfazem z 6= 0; caso contrário teríamos
V = 0. Temos ainda da segunda e terceira equações que
onde supomos x 6= 0 pelo mesmo argumento. Substituindo as conclusões obtidas nas Equações
(3.11) e (3.12) na quarta equação do sistema obtemos
x x
x · x + 2x · + 2x · = 12 ⇐⇒ 3x2 = 12 =⇒ x = 2.
2 2
Segue das Equações (3.11) e (3.12) que y = 2 e z = 1.
Exercício 3.7 Uma companhia possui três fábricas A, B e C produzindo o mesmo produto. O
custo total para a Fábrica A produzir x unidades é dado por FA (x) = 3x2 + 200; o custo total
para as Fábricas B e C produzirem y e z unidades é dado respectivamente por FB (y) = y2 + 400
e FC (z) = 2z2 + 300. Determine como a produção deve ser distribuída para minimizar o custo
de um pedido de 1.100 unidades.
para algum par de números λ , µ ∈ R. Veja a Figura 3.19. O ponto P0 = (x0 ,y0 ,z0 ) deve satisfazer
portanto o sistema
∇F(x0 ,y0 ,z0 ) = λ · ∇g(x0 ,y0 ,z0 ) + µ · h(x0 ,y0 ,z0 ),
g(x,y,z) = k1 ,
h(x,y,z) = k2 .
72 Capítulo 3. Derivadas Direcionais, Vetores Gradiente e Aplicações
2. Compare o valor de F nos pontos (x,y,z) encontrados no Passo 1; o maior deles será o valor
máximo de F sob as restrições g(x,y,z) = k1 e h(x,y,z) = k2 , enquanto o menor será o mínimo.
Exemplo 3.12 Determine o ponto da curva C de interseção do cilindro x2 + y2 = 1 com o plano
x + y + z = 1 que está mais próximo da origem.
Se F(x,y,z) = x2 +y2 +z2 , g(x,y,z) = x2 +y2 e h(x,y,z) = x+y+z, segue do método de Lagrange
que devemos encontrar as soluções do sistema
2x = λ · 2x + µ · 1,
(1 − λ )x = µ/2,
= · + · h, 2y = · 2y + · 1, (1 − λ )y = µ/2,
∇F λ ∇g µ
λ µ
g(x,y,z) = k1 , , ⇐⇒ 2z = λ · 0 + µ · 1, ⇐⇒ 2z = µ,
h(x,y,z) = k2 .
x 2 + y2 = 1,
x2 + y2 = 1,
x + y + z = 1, x + y + z = 1.
x + x + z = 1 ⇐⇒ z = 1 − 2x.
3.5 Problemas 73
√ √ ! √ √ !
2 2 √ 2 2 √
Temos assim os pontos , ,1− 2 e − ,− , 1 + 2 . A distância à origem dos
2 2 2 2
pontos encontrados são dadas por
F(1,0,0) = 1,
F(0,1,0) = 1,
√ √ !
2 2 √ 1 1 √ √
F , , 1 − 2 = + + 1 − 2 2 + 2 = 4 − 2 2,
2 2 2 2
√ √ !
2 2 √ 1 1 √ √
F − ,− , 1 + 2 = + + 1 + 2 2 + 2 = 4 + 2 2.
2 2 2 2
Segue que (1,0,0) e (0,1,0) são
! os pontos mais próximos da origem, enquanto o mais distante é o
√ √
2 2 √
ponto − ,− ,1+ 2 .
2 2
3.5 Problemas
Problema 3.3 Determine os pontos críticos das função g(x,y) = e−y cos x e classifique-os como
máximos locais, mínimos locais ou pontos de sela.
Problema 3.4 Uma caixa retangular sem tampa deve ser fabricada com volume V = 24cm3 . O
custo do papelão para a base da caixa é de R$0,50 por metro quadrado e o custo para as outras
faces é de R$0,20 por metro quadrado. Determine as dimensões da caixa de modo a minimizar o
custo do material.
Problema 3.5 Uma companhia possui três fábricas A, B e C produzindo o mesmo produto. O
custo total para a Fábrica A produzir x unidades é dado por FA (x) = 3x2 + 200; o custo total
para as Fábricas B e C produzirem y e z unidades é dado respectivamente por FB (y) = y2 + 400 e
FC (z) = 2z2 + 300. Determine como a produção deve ser distribuída para minimizar o custo de um
pedido de 1.100 unidades.
Problema 3.6 Um pedaço de arame de comprimento 12m de comprimento deve ser cortado três
pedaços; estes pedaços darão origem a uma circunferência, um quadrado e um triângulo equilátero.
Determine como o arame deve ser cortado para que a área combinada das três figuras seja a maior
possível.
4. Integrais Múltiplas
Estudaremos neste capítulo a integral definida de funções de duas ou três variáveis. Ambas são
definidas de maneira semelhante, mas no caso de funções de duas variáveis temos um significado
geométrico bastante intuitivo deste conceito, que é muito semelhante àquele da integral definida de
uma função de uma variável. Por esse motivo inciamos um capítulo com uma revisão da definição
de integrais definidas em uma variável.
A soma da Equação (4.1) representa uma aproximação para a área de S, pois f (t j ) · ∆x fornece a
área do retângulo de base ∆x e altura f (t j ); veja a Figura 4.2.
Conforme ilustrado na Figura 4.3, quanto maior o número de retângulos, mais precisa é a
aproximação da área de S. Definimos a integral definida de f (x) em [a,b] como o limite das
aproximações dadas Equação (4.1) quando n se aproxima de infinito; assim, no caso de uma função
contínua e não-negativa em [a,b], a integral definida coincide com a área de S.
b n
f (x) dx = lim ∑ f (t j )∆x. (4.2)
a n→∞
j=1
76 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
Obs 4.0.1 Cabe ressaltar que a notação usada na Equação (4.2) para a integral
definida da função
y = f (x) sobre o intervalo [a,b] não foi escolhida por acaso. O símbolo representa o limite de
uma soma, conforme discutido acima. Este símbolo é acompanhado por f (x) dx, indicando a soma
da área de retângulos de altura f (x) e base infinitesimal dx: quando o número de retângulos se
aproxima de infinito, o valor de ∆x se aproxima de zero. Os números a e b que acompanham o
símbolo indicam que esta soma é feita para retângulos desde x = a até x = b.
4.1 Integrais Duplas 77
R = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}.
Denotaremos tais retângulos por R = [a,b] × [c,d]. Considere o volume do sólido S de R3 situado
acima do retângulo R e abaixo do gráfico de f ; veja a Figura 4.4.
Figura 4.4: Função contínua f (x,y) definida sobre o retângulo R = [a,b] × [c,d].
a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,
onde
b−a d −c
x j − x j−1 = ∆x = e y j − y j−1 = ∆y = ,
n n
para j = 1, . . . , n. Dividimos assim o retângulo R em n2 retângulos menores dados por Ri j =
[xi−1 , xi ] × [y j−1 , y j ], para i, j = 1, . . . , n. Veja a Figura 4.5. Note que cada retângulo Ri j tem área
∆A = ∆x · ∆y.
A aproximação dada pela Equação (4.3) fica cada vez mais precisa à medida que o número de
retângulos cresce. Escrevemos portanto o volume de S como
n n
V (S) = lim ∑ ∑ f (ui j , vi j )∆A.
n→∞
i=1 j=1
A integral dupla de f (x,y) sobre o retângulo R é escrita através da mesma expressão. Entretanto,
para apresentar a definição formal desta integral dupla consideramos uma situação um pouco mais
geral: dividimos os intervalos [a,b] e [c,d] em n e m subintervalos, onde possivelmente temos
n 6= m:
a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < ym−1 < ym = d.
Definição 4.1.1 Seja f (x,y) uma função de duas variáveis definida sobre um retângulo R =
[a,b] × [c,d]. A integral dupla de f sobre R é definida como
n m
f (x,y) dA = lim ∑ ∑ f (ui j , vi j )∆A.
R m,n→∞
i=1 j=1
Obs 4.1.1 Ressaltamos que a Definição 4.1.1 é válida não só para funções não-negativas e contínuas
em um retângulo; apenas neste caso a integral dupla representa o volume de um sólido, mas a
definição permanece válida no caso mais geral.
Obs 4.1.2 O limite através do qual a integral dupla é definida deve independer da escolha dos pontos
(ui j , vi j ). Em outras palavras, para qualquer escolha de pontos (ui j , vi j ), i = 1, . . . , n, j = 1, . . . , m,
4.1 Integrais Duplas 79
o limite da Definição 4.1.1 deve fornecer o mesmo valor. Se f é de fato integrável em R, então
podemos considerar uma escolha que nos seja mais conveniente para os pontos (ui j , vi j ): podemos
escolher (ui j , vi j ) como o ponto que fornece o máximo ou o mínimo de f no subretângulo Ri j , ou
simplesmente (ui j , vi j ) = (xi j , yi j ). Podemos também supor que m = n, de modo que a integral
dupla pode ser escrita como
n n
f (x,y) dA = lim ∑ ∑ f (xi j , yi j )∆A.
R n→∞
i=1 j=1
O teorema abaixo garante que funções em uma determinada classe são integráveis.
Teorema 4.1.3 Se f (x,y) é uma função de duas variáveis contínua em R = [a,b] × [c,d], então
f é integrável em R.
Teorema
4.1.4 Sejam R um retângulo
de R2 e f (x,y),
g(x,y) funções integráveis em R. Então:
(i) f (x,y) ± g(x,y) dA = f (x,y) dA ± g(x,y) dA;
R R R
(ii) c · f (x,y) dA = c f (x,y) dA, para todo número real c;
R R
(iii) se f (x,y) ≥ g(x,y) para todo (x,y) ∈ R, então f (x,y) dA ≥ g(x,y) dA.
R R
R f (x,y) dA, onde f (x,y) = 5 − x e R = [0,5] × [0,3].
Exemplo 4.1 Calcule a integral
Como f é contínua em R, segue do Teorema 4.1.3 que f é integrável em R. Além disso, pelo
Teorema 4.1.4 temos
(5 − x) dA = 5 dA − x dA, (4.4)
R R R
onde 5 dA = 5 1 dA representa o volume da caixa retangular de base R e altura 5:
R R
5 dA = 5 · 3 · 5 = 75. (4.5)
R
Para calcular a integral x dA, considere as partições
R
a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn = b e c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn−1 < yn = d,
então
75
x dA = . (4.6)
R 2
80 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
Cabe ressaltar que a expressão acima depende do valor x0 ∈ [a,b] fixado: a princípio, para cada
x0 ∈ [a,b] diferente, temos uma função gx0 (y) diferente e portanto um valor A(x0 ) diferente. A
integral iterada de F(x,y) sobre R é definida como
"
b
#
b d
A(x) dx = F(x,y) dy dx. (4.7)
a a c
2 2
Exemplo 4.2 Calcule a integral iterada (1 − 6x2 y) dy dx.
0 −1
Para cada x ∈ [0,2] fixo, tratamos a variável x como uma constante na integral abaixo:
2 y=2
2 2 2
= 2 − 12x2 − (−1 − 3x2 ) = 3 − 9x2 .
A(x) = (1 − 6x y) dy = (y − 3x y )
−1 y=−1
O teorema abaixo afirma que integrais duplas de funções contínuas podem de fato ser calculadas
como integrais iteradas.
Teorema 4.1.5 — Fubini. Se F(x,y) é uma função contínua no retângulo R = [a,b] × [c,d], então
b d d b
F(x,y) dA = F(x,y) dy dx = F(x,y) dx dy.
R a c c a
O Teorema 4.1.5 pode ser interpretado geometricamente da seguinte maneira. Sejam F(x,y)
uma função contínua e não-negativa em R = [a,b] × [c,d] e S o sólido entre R e o gráfico de F. Para
cada y0 ∈ [c,d], temos que F(x,y0 ) = hy0 (x) é uma função de uma variável e
b
A(y0 ) = F(x,y0 ) dx
a
representa a área entre o gráfico de h e o eixo x de x = a até x = b, isto é, A(y0 ) representa a área
lateral do sólido na Figura 4.7.
4.1 Integrais Duplas 81
onde A(yi )∆y é o volume do sólido da Figura 4.7. A soma no lado direito da Equação (4.8) fornece
uma aproximação para o volume do sólido S; à medida que n cresce esta aproximação se torna cada
vez mais precisa, fornecendo V (S) no limite quando n se aproxima de infinito.
Exemplo 4.3 Calcule a integral de f (x,y) = y sen(xy) sobre R = [1,2] × [0,π/2].
Temos
π/2 2
x=2 π/2
y sen(xy) dA = y sen(xy) dx dy = − cos(xy) dy
R 0 1 0 x=1
π/2 y=π/2
1
= − cos(2y) + cos y dy = − sen(2y) + sen y
0 2 y=0
1 π 1
= − sen π + sen − − sen 0 + sen 0 = 1.
2 2 2
Exercício 4.2 Determine o volume V do sólido delimitado pela superfície x2 + 2y2 + z = 16,
pelos planos x = 2, y = 2 e pelos planos coordenados.
82 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
Obs 4.1.6 Intuitivamente, a contribuição de F nos pontos (x,y) ∈ R − D é nula, pois F ≡ 0 nestes
pontos.
Obs 4.1.7 Se f (x,y) ≥ 0 em D, então f (x,y) dA define o volume do sólido situado diretamente
D
acima de D e abaixo do gráfico de f (x,y).
A integral dupla da Equação (4.9) tem sua existência garantida se D é uma região do tipo I ou
II. Dizemos que D ⊆ R2 é uma região do tipo I se existem um intervalo [a,b] e funções g1 (x), g2 (x)
contínuas em [a,b] tais que
D = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)}. (4.10)
Veja a Figura 4.10.
Vejamos agora como podemos calcular a integral dupla
f (x,y) dA,
D
4.1 Integrais Duplas 83
onde f (x,y) é uma função contínua sobre uma região D do tipo I. Considere um retângulo R =
[a,b] × [c,d] que contém a região D e uma função F(x,y) como na Equação (4.9). Observe que
b d
f (x,y) dA = F(x,y) dA = F(x,y) dy dx.
D R a c
Note que, conforme ilustrado na figura à direta da Figura 4.11, temos para cada x0 ∈ [a,b] fixo que
0, se c ≤ y < g1 (x0 ),
F(x0 ,y) = f (x,y), se g1 (x0 ) ≤ y ≤ g2 (x0 ),
0, se g2 (x0 ) < y ≤ d.
Portanto,
d g1 (x0 ) g2 (x0 ) d
A(x0 ) = F(x0 ,y) dy = F(x0 ,y) dy + F(x0 ,y) dy + F(x0 ,y) dy,
c c g1 (x0 ) g2 (x0 )
isto é,
g2 (x0 )
A(x0 ) = F(x0 ,y) dy.
g1 (x0 )
Teorema 4.1.8 — Integrais Duplas sobre Regiões do Tipo I. Se f (x,y) é função contínua
sobre a região do tipo I
então b g2 (x)
f (x,y) dA = f (x,y) dy dx.
D a g1 (x)
D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 e 1 ≤ y ≤ ex }
x
e calcule a integral dupla dA.
Dy
Um esboço da região D pode ser encontrado na Figura 4.12: é a região delimitada pela
exponencial e as duas retas, formando o “triângulo” com vértices A, B e C. Segue do Teorema 4.1.8
que
1 ex 1
y=ex
x x
dA = dy dx = x · ln |y| dx
Dy 0 1 y 0 y=1
1 1
x3 x=1 1
2
= (x · x − x · ln 1) dx = x dx = = .
0 0 3 x=0 3
Segue que
D = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 2 e x2 ≤ y ≤ 2x},
e portanto,
2 2x
y3 y=2x2
2 2 2 2 2
V= (x + y ) dA = (x + y ) dy dx = x y+ dx
D 0 x2 0 3 y=x2
2 2
8x3 x6 14x3 x6
3 4 4
= 2x + −x − dx = −x − dx
0 3 3 0 3 3
x5 x7 x=2 7 · 23 25 27
4
7x 3 7 4 16
= − − = − − =2 − −
6 5 21 x=0 3 5 21 3 5 21
245 − 84 − 80 81 8 · 27 216
=8 = 8· = = .
3·5·7 3·5·7 35 35
Teorema 4.1.9 — Integrais Duplas sobre Regiões do Tipo II. Se f (x,y) é função contínua
sobre a região do tipo II
então d h2 (y)
f (x,y) dA = f (x,y) dx dy.
D c h1 (y)
Exemplo 4.6 Calcule xy dA, onde D é a região do plano xy limitada pela reta x − y − 1 = 0 e
D
pela parábola y2 = 2x + 6.
Podemos escrever D como uma região do tipo II, conforme indicado na Figura 4.15. Como
y2 = 2x + 6 se e somente se x = −3 + y2 /2, temos
D = {(x,y) ∈ R2 : c ≤ y ≤ d e − 3 + y2 /2 ≤ x ≤ y + 1},
y2
−3 + = y + 1 ⇐⇒ y2 − 2y − 8 = 0 ⇐⇒ y = 4 ou y = −2.
2
Segue que
4 y+1
x2 x=y+1
4
xy dA = xy dx dy = y· dy
D −2 −3+y2 /2 −2 2 x=−3+y2 /2
1 4
4
2 y 2
= y(y + 2y + 1) − y − 3y + 9 dy
2 −2 4
5
1 4
y 3 2
= − + 4y + 2y − 8y dy
2 −2 4
y=4
1 1 6 4 2 3 2
= − y + y + y − 4y
2 24 3 y=−2
12 6
1 2 2 1 2 2
= − + 28 + 26 − 4 · 24 − − + 24 − 23 − 4 · 22
2 24 3 2 24 3
4
5 3
2 2 2 1 1
= − + 24 + − 4 + − 1 + + 1
2 3 3 6 3
23 1 −46 + 72 + 1 27
= 8 − + 12 + = 8· = 8· = 36.
3 6 6 6
Em muitos casos temos a opção de descrever uma região D ⊆ R2 como uma região do tipo I ou
88 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
do tipo II, ou ainda, como uma união de regiões do tipo I ou do tipo II. Nestes casos, podemos fazer
a escolha mais conveniente. No exercício abaixo verificamos que a região do Exemplo 4.6 pode ser
escrita como uma união de regiões do tipo I; a resolução feita acima é mais simples. Mais ainda,
no exemplo seguinte, vemos que a escolha da ordem de integração pode inviabilizar o cálculo da
integral através das técnicas vistas neste texto.
Exercício 4.3 Calcule a integral do Exemplo 4.6 como uma integral do tipo I.
2
Exemplo 4.7 Calcule ey dA, onde R é o triângulo do plano xy limitado pelas retas x = 0,
R
y = 1 e y = x.
Poderíamos facilmente escrever a integral dupla acima como uma integral do tipo I, mas
2
teríamos assim que resolver a integral indefinida ey dy, que não pode ser expressa através de
funções elementares. Escrevemos então R como uma região do tipo II, como indicado na Figura
4.17:
R = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ x ≤ y},
Segue que
1 y 1
x=y 1
y2 y2 y2 2
yey dy.
e dA = e dx dy = x·e dy =
R 0 0 0 x=0 0
Exercício 4.4 Esboce a região do plano xy sobre a qual a integral abaixo deve ser calculada e
4.1 Integrais Duplas 89
Uma das aplicações da integral definida de uma função de uma variável é o cálculo da área de
regiões do plano. Através da definição abaixo poderemos fazer isto também por integrais duplas.
Definição 4.1.2 A área de uma região fechada e limitada R ⊆ R2 é definida como
A(R) = 1 dA,
R
se a integral existir.
A intuição por trás da Definição 4.1.2 é que a referida integral dupla representa o volume
de uma caixa cilíndrica S de altura 1, cujas tampa e base têm o formato de R. Seu volume seria
portanto
V (S) = A(R) · 1 = A(R).
Veja a Figura 4.18. Note que no caso de uma região do tipo I a Definição 4.1.2 coincide com a
definição de área vista no cálculo integral de funções de uma variável: se R é dada por
R = {(x,y) ∈ R2 : a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)},
então
b g2 (x) b
y=g2 (x) b
A(R) = 1 dA = 1 dy dx = y
dx = g2 (x) − g1 (x) dx.
R a g1 (x) a y=g1 (x) a
Intuitivamente, à medida que n se aproxima de infinito a aproximação acima fica cada vez mais
precisa. Como
1 n n n→∞ 1
∑ ∑ F(xi ,y j )∆A −→ A(R) R F(x,y) dA,
A(R) i=1 j=1
se a integral existir.
Exercício 4.6 Determine o valor médio da função f (x,y) = x sen y sobre a região D limitada
pelas curvas y = 0, x = 1 e y = x2 .
u = g(z) =⇒ du = g0 (z)dz,
de modo a facilitar o cálculo da integral. Na seção a seguir veremos que é possível realizar uma
troca de coordenadas dupla no seguinte sentido: substituiremos simultaneamente ambas variáveis
de uma integral dupla por outras duas. Será possível também realizar uma substituição deste tipo
com integrais triplas.
Ao considerar a integral de uma função de uma variável f (x), muitas vezes realizamos uma
mudança de coordenadas x = g(u) a fim de facilitar nossos cálculos. A integral se escreve então da
seguinte maneira:
f (x) dx = f g(u) g0 (u) du.
4.2 Mudança de Coordenadas em Integrais Duplas 91
Por exemplo, podemos encontrar uma primitiva para a função f (x) = x cos(x2 ) ao considerar a
√
mudança de variáveis x = g(u) = u: temos
√ 1
x = g(u) = u =⇒ x2 = u e g0 (u) = √ ,
2 u
logo
2 √ 1 1 1
x cos(x ) dx = u cos u √ du = cos u du = sen(x2 ) +C.
2 u 2 2
Se desejamos calcular uma integral definida, digamos
3
x cos(x2 ) dx,
2
então devemos ajustar o domínio de integração [2,3] à nova variável através da equação
b g−1 (b)
f g(u) g0 (u) du.
f (x) dx =
a g−1 (a)
√
No exemplo citado, temos x = g(u) = u, logo u = x2 e
x = 2 =⇒ u = 4,
x = 3 =⇒ u = 9.
Segue que
3 9
9
2 1 1 1
x cos(x ) dx = cos u du = sen(u) = sen(9) − sen(4) .
2 2 4 2 4 2
Veremos agora como efetuar uma mudança de coordenadas em integrais duplas.
Considere a integral de uma função f (x,y) de duas variáveis sobre uma região R do plano. Seja
T (u,v) uma transformação de R2 em R2 :
T (u,v) = (x,y), onde x = g(u,v) e y = h(u,v).
Suponha que para algum conjunto S do plano uv temos T (S) = R. Veja as Figuras 4.19 e 4.20.
Suponha que T é uma transformação com derivadas parciais contínuas e que T é injetiva no
interior de S (note que, no Exemplo 4.8, T é injetiva em int S). Veremos agora como a transformação
T afeta a integral dupla de f (x,y) sobre R.
Na definição de integral dupla consideramos uma partição do domínio da integral em retângulos
pequenos e somamos a contribuição de cada um deles; no limite, quando o número de retângulos se
aproxima de infinito, temos a integral dupla. Consideramos portanto um retângulo S0 em S e sua
imagem R0 = T (S0 ), como ilustrado na Figura 4.21.
Definição 4.2.1 O Jacobiano de uma transformação T (u,v) = x(u,v), y(u,v) é definido como
∂x ∂x
∂ (x,y) ∂u ∂v
∂x ∂y ∂y ∂x
J(u,v) = = = − .
∂y ∂y
∂ (u,v) ∂u ∂v
∂u ∂v ∂u ∂v
Sejam S e R regiões dos planos uv e xy, respectivamente, tais que T (S) = R. Suponha que T é
uma transformação com derivadas parciais contínuas e que T é injetiva no interior de S. Suponha
que o Jacobiano de T é não-nulo em S. Então, se f (x,y) é contínua em R,
∂ (x,y)
f (x,y) dA = f x(u,v), y(u,v) dA.
R S ∂ (u,v)
p
Exemplo 4.9 Calcule x2 + y2 dA, onde D = {(x,y) ∈ R2 : x2 + y2 ≤ 4}.
D
Seja T (r,θ ) a mudança de coordenadas polares, como no Exemplo 4.8. Seja
S = {(r,θ ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ 2π}.
Temos que a imagem do conjunto S abaixo pela mudança de coordenadas T é a região D. Então,
p q 2π 2 √
∂ (x,y) ∂ (x,y)
2 2
x + y dA = 2 2
(r cos θ ) + (r sen θ ) dA = 2
r dr dθ ,
D S ∂ (r, θ ) 0 0 ∂ (r, θ )
onde
∂x ∂x
∂ (x,y) ∂r cos θ
r(− sen θ )
J(r,θ ) = = ∂y
∂θ
∂y = = r.
∂ (r,θ ) ∂r ∂θ
sen θ r cos θ
√
Logo, como r2 = |r| = r para 0 ≤ r ≤ 2,
p 2π 2 2π 2 3 r=2
2π
r 8 8 16π
x2 + y2 dA = r · r dr dθ = dθ = dθ = · 2π = .
D 0 0 0 0 3r=0 0 3 3 3
Obs 4.2.2 Note que o Jacobiano da mudança de coordenadas cartesianas-polares será sempre o
mesmo, independente da integral dupla a ser calculada. De acordo com os cálculos do Exemplo
4.9, temos
∂ (x,y)
= r. (4.13)
∂ (r,θ )
94 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
Exemplo 4.10 Se uma placa fina de metal ocupa uma região D do plano e possui densidade de
massa pontual dada por uma função f (x,y), para (x,y) ∈ D, então sua massa é dada por
M= f (x,y) dA.
D
Uma placa de metal ocupa a região do plano exterior à circunferência r = 3 e interior à circunferência
r = 6 sen θ . Sabendo que sua densidade de massa é dada por f (x,y) = (x2 + y2 )−1/2 , determine sua
massa.
Veja um esboço da região D ocupada pela placa na Figura 4.23. Temos que
D = {(r,θ ) ∈ R2 : θ0 ≤ θ ≤ π − θ0 , 3 ≤ r ≤ 6 sen θ },
onde θ0 é determinado pela interseção das circunferências:
1
3 = 6 sen θ ⇐⇒ sen θ = .
2
Segue que θ0 = π/6. Portanto,
5π/6 6 sin θ
2 2 −1/2 2 2 −1/2 ∂ (x,y)
M= (x + y ) dA = (r cos θ ) + (r sen θ ) ∂ (r,θ ) dr dθ
D π/6 3
5π/6 6 sin θ 5π/6 6 sin θ 5π/6
r=6 sin θ
−1
= r r dr dθ = dr dθ = r dθ
π/6 3 π/6 3 π/6 r=3
5π/6
θ =5π/6
= [6 sen θ − 3] dθ = (−6 cos θ − 3θ )
π/6 θ =π/6
√ ! √ !
3 5π 3 π √ 15π 3π √
= −6 − −3· − −6 · −3· = 6 3− + = 6 3 − 2π.
2 6 2 6 6 6
Exercício 4.7 Calcule a integral dupla de f (x,y) sobre a região R usando coordenadas polares.
2 2
(i) f (x,y) = e−x −y , D é a parte do círculo de centro na origem e raio 3 que se encontra à
esquerda do eixo y.
(ii) f (x,y) = x2 , D é a região do segundo quadrante do plano xy que é exterior a x2 + y2 = 2 e
interior a x2 + y2 = 3.
4.3 Problemas 95
4.3 Problemas
Problema 4.1 Faça uma mudança de variáveis para as coordenada polares nas integrais abaixo e
calcule-as.
0 0 √16−y2
2 4
(i) √ dy dx. (ii) √ x2 y dx dy.
−1 − 1−x2 1 + x2 + y2
−4 − 16−y2
Problema 4.2 Esboce a região do plano xy sobre a qual a integral abaixo deve ser calculada e
troque a ordem de integração para efetuar os cálculos:
8 2
1
√
dy dx.
0 3x 1 + y4
Denotamos caixas como B daqui em diante por B = [a,b] × [c,d] × [r,s]. Definimos a integral tripla
de uma função de três variáveis f (x,y,z) sobre B de maneira análoga a integrais duplas. Ilustramos
esta definição com uma situação prática: a Equação Geral do Balanço Molar; veja a Seção 1.2 do
livro Elementos de Engenharia das Reações Químicas, H. S. Fogler.
Considere um sistema limitado por uma caixa B como aquela da Equação (4.14) onde ocorre
uma reação química envolvendo uma substância química q. Estamos interessados em descrever
quantos mols Nq = Nq (t) desta substância nós temos em B em um dado instante de tempo. Temos
que Nq depende da taxa de mols de q que entram e saem de B; estas quantidades são denotadas
por Fq0 e Fq na Figura 4.24. Mas também devemos contabilizar quantos mols por unidade de
tempo Gq = Gq (t) são produzidos ou consumidos de B através da reação química que ali ocorre.
Descrevemos a quantidade Gq através do conceito de integrais.
de B. Entretanto, esta taxa com que q é produzida pode ser diferente em cada ponto de B; por
exemplo, esta taxa pode depender da proximidade de uma fonte de calor. Seja F(x,y,z) a função
que representa a taxa com que q é produzida no ponto (x,y,z) por minuto por cm3 . Consideramos
partições dos intervalos [a,b], [c,d] e [r,s] em n subintervalos de mesmo comprimento:
onde
b−a d −c s−r
∆x = , ∆y = , ∆z = .
n n n
Estas partições dividem a caixa B em n3 caixas menores Bi jk , para 1 ≤ i, j,k ≤ n, ditas subvolumes;
veja a Figura 4.25. O índice “i, j,k” em Bi jk indica o subvolume formado pelo i-ésimo intervalo na
partição de [a,b], o j-ésimo intervalo na partição de [c,d] e o k-ésimo intervalo na partição de [r,s].
Cada subvolume Bi jk tem volume ∆V = ∆x · ∆y · ∆z.
Em cada subvolume Bi jk escolhemos um ponto (ui jk , vi jk , wi jk ) e fazemos a seguinte aproxi-
mação: consideramos que a taxa de produção de q em Bi jk é constante e igual a F(ui jk , vi jk , wi jk ).
Assim, o número de mols de q produzidos em Bi jk por unidade de tempo é F(ui jk , vi jk , wi jk ) · ∆V .
Veja a Figura 4.25. Procedendo desta maneira para todo subvolume Bi jk obtemos a seguinte
aproximação para a taxa de produção de q no sistema:
n n n
Gq ≈ ∑ ∑ ∑ F(ui jk , vi jk , wi jk ) · ∆V.
i=1 j=1 k=1
Figura 4.25: Aproximamos F(x,y,z) em cada subvolume de controle por uma constante.
À medida que n cresce, o número de subvolumes de controle fica cada vez maior e o volume de
cada um deles fica cada vez menor. Veja a Figura 4.26. Assim, o erro cometido pela aproximação
acima (taxa de produção de q constante em cada subvolume de controle) fica cada vez menor.
Intuitivamente temos que este erro se aproxima de zero no limite quando n se aproxima de infinito,
donde
n n n
Gq = lim
n→∞
∑ ∑ ∑ F(ui jk , vi jk , wi jk ) · ∆V. (4.15)
i=1 j=1 k=1
A definição de integral tripla se dá de maneira análoga à Equação (4.15), mas nesta definição
consideramos uma situação um pouco mais geral: particionamos os intervalos [a,b], [c,d], [r,s] em `,
m e n subintervalos, onde não necessariamente temos ` = m = n.
Definição 4.4.1 Seja F(x,y,z) uma função de três variáveis definida em uma caixa retangular
4.4 Integrais Triplas 97
B
F(x,y,z) dV = lim ∑ ∑ ∑ F(ui jk , vi jk , wi jk ) · ∆V,
`,m,n→∞ i=1 j=1
k=1
Teorema 4.4.2 Se F(x,y,z) é uma função contínua em uma caixa retangular B = [a,b] × [c,d] ×
[r,s], então F é integrável em B.
Teorema 4.4.3 — Fubini. Se F(x,y,z) é contínua em uma caixa retangular B = [a,b] × [c,d] ×
[r,s], então
s d b
F(x,y,z) dV = F(x,y,z) dx dy dz.
B r c a
A integral iterada do Teorema 4.4.3 pode ser feita em qualquer ordem sem alteração no valor
da integral. Podemos escrever, por exemplo,
d b s
F(x,y,z) dV = F(x,y,z) dz dx dy.
B c a r
A integral tripla iterada, da maneira que está escrita no Teorema 4.4.3, representa o seguinte
processo: fixamos um ponto (y0 ,z0 ) ∈ [c,d] × [r,s] e consideramos a função de uma variável
F(x,y0 ,z0 ); a integral definida desta função sobre [a,b] é um número que depende de (y0 ,z0 ),
denotado por V (y0 ,z0 ):
b
V (y0 ,z0 ) = F(x,y0 ,z0 ) dx.
a
Calculamos a seguir a integral dupla de V (y,z) sobre o retângulo [c,d] × [r,s]:
F(x,y,z) dV = V (y,z) dA.
B [c,d]×[r,s]
Exemplo 4.11 Calcule a integral xy sen(yz) dV , onde B é a caixa retangular limitada pelos
B
planos coordenados e pelos planos x = π, y = 1 e z = π/3.
98 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
u = yz =⇒ du = y dz.
Então: z=π/3
π/3 π
xy sen(yz) dz = −x cos(yz) = −x cos y + x cos 0.
0 z=0 3
Logo,
π 1 π/3 π 1h π i
xy sen(yz) dz dy dx = −x cos y + x dy dx,
0 0 0 0 0 3
onde
1h y=1
π i 3 π 3 π
−x cos y + x dy = −x sen y + xy = −x sen + x.
0 3 π 3 y=0 π 3
Portanto,
√ # " √ !
3 3 π
x2 3 3 x2 x=π
xy sen(yz) dV = −x + x dx = − +
B 0 π 2 2 2π 2 x=0
√ √
π2 3 3 π2 3π 3 π 2
=− + =− + .
2 2π 2 4 2
caso a integral à direita exista. A existência desta integral é garantida se E é uma região sólida do
tipo I, II ou III, como definiremos a seguir.
Uma região sólida E ⊆ R3 é dita uma região do tipo I se existem D ⊆ R2 e funções u1 (x,y),
u2 (x,y) contínuas em D tais que
Em outras palavras, E é a região sólida de R3 que se encontra diretamente acima (ou abaixo) da
região D do plano xy, acima do gráfico da função u1 (x,y) e abaixo do gráfico de u2 (x,y); veja a
Figura 4.27. Por argumentos análogos àqueles vistos na Seção 4.1 temos
" #
u2 (x,y)
f (x,y,z) dV = f (x,y,z) dz dA. (4.18)
E D u1 (x,y)
4.4 Integrais Triplas 99
Exemplo 4.12 Calcule z dV , onde E é a região no primeiro octante limitada pelo plano
E
x + y + z = 1.
É necessário entendermos a geometria desta região sólida para descrevê-la adequadamente,
como na Equação (4.17). Note que
x = y = 0 =⇒ z = 1,
x = z = 0 =⇒ y = 1,
y = z = 0 =⇒ x = 1.
Fazemos uso da integral tripla para definir o volume de uma região sólida geral E ⊆ R3 .
Lembramos que a integral da função constante igual a 1 sobre um intervalo [a,b] ⊆ R ou sobre uma
região D ⊆ R2 fornece a medida deste domínio, isto é, o comprimento do intervalo ou a área da
região:
b
dx = b − a e dA = A(D).
a D
Definimos o volume de um sólido E de maneira análoga, como a integral da função constante 1
sobre E.
4.4 Integrais Triplas 101
Exercício 4.9 Calcule o volume da região sólida E indicada na Figura 4.30, delimitada pelo
cilindro y = x2 e pelos planos z = 0 e y + z = 1.
Dizemos que E ⊆ R3 é uma região do tipo II se existem uma região D do plano yz e funções
u1 (y,z), u2 (y,z) contínuas em D tais que
E = {(x,y,z) ∈ R3 : (y,z) ∈ D e u1 (y,z) ≤ x ≤ u2 (y,z)}. (4.19)
Cabe ressaltar que uma região sólida E ⊆ R3 pode ser vista como uma região do tipo I ou do tipo II,
ou ainda como uma região do tipo III, conforme veremos mais à frente; cabe a nós fazer a escolha
mais conveniente. No exemplo abaixo trataremos a região sólida em questão como uma região do
tipo II.
Exemplo 4.13 Calcule x2 ey dV , onde E ⊆ R3 é a região sólida limitada pela superfície
E
z = 1 − y2 e pelos planos z = 0, x = 1 e x = −1.
Um esboço da região sólida E pode ser encontrado na Figura 4.31. Podemos descrever E como
uma reigão sólida do tipo II:
E = {(x,y,z) ∈ R3 : (y,z) ∈ D e − 1 ≤ x ≤ 1},
onde
D = {(y,z) ∈ R2 : − 1 ≤ y ≤ 1 e 0 ≤ z ≤ 1 − y2 }.
Segue que
1−y2 1 1−y2
1 1
x3 y x=1
2 y 2 y
x e dV = x e dx dz dy = e dz dy
E −1 0 −1 −1 0 3 x=−1
1 1−y2 1
z=1−y2
2 y 2 2 1
zey (1 − y2 )ey dy.
= e dz dy = dy =
−1 0 3 3 −1 z=0 3 −1
temos
1
1 1 1
2 y 2 y y
yey dy
(1 − y )e dy = (1 − y )e − (−2y)e dy = 0 + 2
−1 −1 −1 −1
1
= 2 (yey − ey ) = 2 e − e − (−1)e−1 + e−1 = 4e−1 ,
−1
onde a última integral também foi feita por partes através da escolha u = y, dv = ey dy. Segue que
2 8
x2 ey dV = · 4e−1 = .
E 3 3e
Dizemos que E ⊆ R3 é uma região do tipo III se existem uma região D do plano xz e funções
u1 (x,z), u2 (x,z) contínuas em D tais que
D = {(x,z) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1 − x}.
Logo,
3−3z 1 1−x 3−3z
x dV = x dy dA = x dy dz dx.
E D 0 0 0 0
Temos y=3−3z
3−3z
x dy = x · y = 3x − 3xz.
0 y=0
Logo,
1 1−x 1
3 2 z=1−x
x dV = [3x − 3xz] dz dx = 3xz − xz dx,
E 0 0 0 2 z=0
4.4 Integrais Triplas 103
isto é,
1
3 2 3 4 x=1 3 3
3 3 3 3
x dV = x − x dx = x − x = − −0 = .
E 0 2 2 4 8 x=0 4 8 8
logo, p h p i
x2 + z2 dV = 4 x2 + z2 − (x2 + z2 )3/2 dA.
E D
A região D descrita na Equação (4.21) pode ser escrita facilmente em coordenadas polares através
de x = r cos θ , z = r sen θ e
0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ r ≤ 2.
Como x2 + z2 = r2 , segue que
p 2π 2 h i 2π 2
4r2 − (r2 )3/2 r dr dθ = 4r3 − r4 dr dθ ,
x2 + z2 dV =
E 0 0 0 0
104 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
logo
p 2π 2 r=2 2π 2π
r5
4
32 48
x2 + z2 dV = r − dθ = 16 − dθ = dθ .
E 0 0 5
r=0 0 5 0 5
Portanto, p
48 96π
x2 + z2 dV = 2π = .
E 5 5
O Exemplo 4.15 foi resolvido através do uso de coordenadas polares em um dos planos
coordenados, mais precisamente no plano xz. Quando descrevemos os pontos do espaço através de
uma das coordenadas cartesianas usuais e usamos coordenadas polares para o plano das coordenadas
restantes estamos usando um sistema de coordenadas cilíndricas. Na próxima sessão veremos
como podemos calcular integrais triplas em outros sistemas de coordenadas. Serão abordados mais
diretamente os sistemas de coordenadas cilíndricas e esféricas.
Exercício 4.10 Reescreva a integral tripla que expressa o volume do sólido do Exercício 4.9 as
ordens possíveis de integração:
(i) dz dy dx
(ii) dz dx dy
(iii) dy dz dx
(iv) dy dx dz
(v) dx dz dy
(vi) dx dy dz
Teorema 4.5.1 Sejam T (u,v,w) = (x,y,z) uma transformação com derivadas parciais contínuas
e R,S regiões sólidas dos espaços xyz e uvw, respectivamente, tais que T (S) = R. Suponha que
o Jacobiano de T não se anula em S e que T é injetiva no interior de S. Se f (x,y,z) é função
contínua em R, então
∂ (x,y,z)
f (x,y,z) dV = f x(u,v,w), y(u,v,w), z(u,v,w) dV.
R S ∂ (u,v,w)
e
y
x 2 + y2 = r 2 , tan θ = , z = z.
x
Veja a Figura 4.34. O Jacobiano da mudança de coordenadas cartesianas-cilíndricas é dado por
∂x ∂x ∂x
cos θ r(− sen θ ) 0
∂ (x,y,z) ∂r ∂θ ∂z
∂y ∂y ∂y
= = sen θ r cos θ 0 = r. (4.23)
∂ (r,θ ,z) ∂r ∂θ ∂z
∂z ∂z ∂z
0 0 1
∂r ∂θ ∂z
Exemplo 4.16 Determine o volume do sólido E no primeiro octante limitado pelo cilindro
x 2 + y2
= 4 e pelo plano z + y = 3.
Temos na Figura 4.35 um esboço do sólido E, onde o plano z + y = 3 está indicado em vermelho.
Podemos escrever a região sólida E como
onde D é a região indicada em rosa na Figura 4.35. Descrevemos esta região em coordenadas
polares da seguinte maneira:
Portanto,
3−y
V (E) = dV = dz dA = [3 − y] dA.
E D 0 D
onde
D = {(r,θ ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 1, 0 ≤ θ ≤ 2π}.
Segue da Equação (4.23) que
2π 1 4
2π 1 4
∂ (x,y,z)
V (E) = dV = dz dr dθ = rdz dr dθ ,
1−r2 ∂ (r,θ ,z)
E 0 0 0 0 1−r2
4.5 Mudança de Coordenadas em Integrais Triplas 107
onde 4
r dz = r 4 − (1 − r2 ) = 3r + r3 .
1−r2
Logo,
2π 1 2π r=1 2π
3r2 r4
3
3 1
V (E) = [3r + r ] dr dθ = + dθ = + dθ
0 0 0 2 4
r=0 0 2 4
2π
7 7π
= dθ = .
0 4 2
Exercício
p 4.12 Calcule a integral tripla da função f (x,y,z) = x2 sobre o sólido delimitado por
z= x2 + y2 e z = 2.
onde
r
sen φ = =⇒ r = ρ sen φ . (4.26)
ρ
108 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
x = ρ sen φ cos θ ,
y = ρ sen φ sen θ , (4.28)
z = ρ cos φ .
{(ρ, θ , φ ) ∈ R3 : ρ = 1, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ φ ≤ π}.
Para facilitar o cálculo de uma integral tripla, podemos fazer uso de coordenadas esféricas
através do Teorema 4.5.1. O Jacobiano da mudança de coordenadas cartesianas-esféricas é dado
por
∂x ∂x ∂x
∂ ρ ∂ θ ∂ φ sen φ cos θ −ρ sen φ sen θ ρ cos φ cos θ
∂ (x,y,z)
= ∂ y ∂ y ∂ y = sen φ sen θ ρ sen φ cos θ ρ cos φ sen θ
∂ (ρ,θ ,φ ) ∂∂ uz ∂∂ vz ∂∂wz
∂ρ ∂θ ∂φ cos φ 0 −ρ sen φ .
= −ρ 2 sen3 φ cos2 θ − ρ 2 sen φ cos2 φ sen2 θ − ρ 2 sen φ cos2 φ cos2 θ − ρ 2 sen3 φ sen2 θ
= −ρ 2 sen3 φ (cos2 θ + sen2 θ ) − ρ 2 sen φ cos2 φ (sen2 θ + cos2 θ )
= −ρ 2 sen3 φ − ρ 2 sen φ cos2 φ = −ρ 2 sen φ (sen2 φ + cos2 φ )
= −ρ 2 sen φ .
110 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
Exemplo 4.20 Determine o volume do sólido p localizado no primeiro octante e limitado inferior-
mente e superiormente pelas superfícies
p z = x2 + y2 e x2 + y2 + z2 = z, respectivamente.
Vimos no Exemplo 4.19 que z = x2 + y2 define um cone no espaço cuja equação em co-
ordenadas esféricas é φ = π/4. Completamos quadrados a fim de entender a geometria desta
superfície:
1 1
x2 + y2 + z2 = z ⇐⇒ x2 + y2 + z2 − z = 0 ⇐⇒ x2 + y2 + z2 − z + =
4 4
2
1 1
⇐⇒ x2 + y2 + z − = .
2 4
Logo a equação x2 + y2 + z2 = z define uma esfera de centro (0,0,1/2) e raio 1/2; note que esta
esfera tangencia o plano xy na origem. Devemos determinar sua equação em coordenadas esféricas:
para ρ > 0 temos
x2 + y2 + z2 = z ⇐⇒ ρ 2 = ρ cos φ ⇐⇒ ρ = cos φ .
Segue que o sólido em questão é dado por
Portanto,
π/2 π/4 cos φ π/2 π/4
ρ3
ρ=cos φ
2
V= dV = ρ sen φ dρ dφ dθ = sen φ dφ dθ
E 0 0 0 0 0 3 ρ=0
π/2 π/4
1
= cos3 φ sen φ dφ dθ .
3 0 0
Exercício
p 4.15 Determine o volume do sólido limitado superiormente pela superfície z =
x2 + y2 e inferiormente por ρ = 2 cos φ .
112 Capítulo 4. Integrais Múltiplas
4.6 Problemas
Problema 4.5 O volume do sólido E situado no primeiro octante limitado pelos planos coordena-
dos e pelas superfícies y + z = 2 e x = 4 − y2 .
Problema 4.6 A integral tripla de f (x,y,z) = x sobre o sólido E situado no primeiro octante
limitado pelas superfícies x2 + y2 + z2 = 1 e x2 + y2 + z2 = 6.
Problema
p 4.7 A integral tripla de f (x,y,z) = x2 sobre o sólido E limitado pelas superfícies
z = x2 + y2 e z = 2.
Problema 4.8 O volume do sólido E limitado pelas superfícies y2 + z2 = 1, x = 0 e y = 1 − x.
Problema 4.9 A integral tripla de f (x,y,z) = x sobre o sólido E situado no primeiro octante
limitado pelos planos coordenados e pela superfície 3x + 6y + 4z = 12.
Problema 4.10 Calcule a integral tripla abaixo convertendo-a para coordenadas esféricas:
√
1 1−x2 √ 1−x2 −y2
2 +y2 +z2 )3/2
e−(x dz dy dx.
−1 0 0
Problema 4.11 A integral tripla de f (x,y,z) = xy2 z sobre o sólido E situado no primeiro octante
limitado pelos planos coordenados e pela superfície z + x2 + y2 = 4.
Problema 4.12 O volume do o sólido E limitado pelas superfícies z = x2 + y2 e z = 5.
II
Parte Dois
Considere um carro que se desloca ao longo de uma estrada sob ação do vento1 . Podemos nos fazer
as seguintes perguntas:
• Qual o efeito que o vento tem sobre o deslocamento do carro?
• Há algum impacto no combustível consumido?
Neste capítulo estudaremos conceitos do Cálculo Vetorial que são úteis no estudo de um problema
como este. Mais precisamente, estudaremos nas Seções 5.1 a 5.3 curvas parametrizadas no plano:
estes objetos permitem descrever não só a estrada como o deslocamento do carro, levando em conta
grandezas como sua velocidade e aceleração em cada ponto ou instante de tempo. Estenderemos
este conceito para curvas no espaço, com comentários sobre possíveis aplicações neste contexto.
A ação do vento será estudada na Seção 5.4. Nele estudaremos funções matemática que
denominamos campos vetoriais: estas funções associam a cada ponto do plano (ou do espaço) vetor.
Isto permite descrever a ação do vento quando a mesma não é constante em todo a região estudada;
de forma análoga, podemos estudar correntes marítimas distribuídas no plano de maneira não
uniforme. Ainda neste capítulo, na Seção 5.5, introduzimos o conceito de integrais de linha: será
através deste conceito que estudaremos a iteração do vento em uma dada região com o deslocamento
de um carro ao longo de uma estrada, que fornecerá uma estimativa para a questão introduzida
acima.
1 Como exemplos de problemas análogos temos: trem se deslocando ao longo de uma ferrovia e um navio seguindo
x = f (t), y = g(t),
onde t é uma variável independente. O conjunto de pontos do plano definido por (x,y) =
( f (t), g(t)) define uma curva C no plano que é dita uma curva paramétrica. As equações acima
são ditas as equações paramétricas da curva C e t é dito o parâmetro das equações.
Exemplo 5.1 Um caso simples de uma curva descrita por equações paramétricas é o do gráfico
de uma função de uma variável, como y = x2 . As equações paramétricas
x = t, y = t2 (5.1)
tem como gráfico a parábola y = x2 , mas com uma propriedade a mais: o sentido crescente do
parâmetro t define um sentido de deslocamento sobre a parábola, dado pelo sentido crescente de
x. Abaixo temos os valores de (x,y) para alguns valores de t. Como x = t, obtemos diretamente
pontos no gráfico de y = x2 .
t x y
0 0 0−
1 1 1
2 2 4
−3 −3 9
Exemplo 5.2 Um dos casos mais naturais de curvas paramétricas é o do círculo trigonométrico:
x2 + y2 = cos2 t + sen2 t = 1,
isto é, os pontos desta curva possuem distância 1 a origem; isto define um círculo de raio 1 e centro
em (0,0). Abaixo temos os valores de (x,y) para alguns valores de t e o esboço do gráfico das
5.1 Funções Vetoriais e Curvas Parametrizadas 117
Equações (5.2).
t x y
0 √1 0−
π/6 3/2 1/2
π/2 0 1
π −1 0
Destacamos a imagem da função nos pontos t = 1, . . . , 6, enquanto a trajetória foi traçada até o
valor t = 10. Como não foi definido nenhum intervalo para t nas Equações (5.3), supomos que são
considerados todos os valores reais possíveis para t, inclusive negativos. Entretanto, em muitos
casos as funções acima descrevem o deslocamento de uma partícula em um intervalo finito de
tempo [a,b]; neste caso as equações paramétricas são fornecidas com um intervalo específico para o
parâmetro:
x = f (t), y = g(t), t ∈ [a,b].
Dizemos que t = a é o ponto inicial e t = b é o ponto terminal.
118 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exercício 5.1 Considere uma partícula que se desloca no plano no intervalo de tempo [0,π] de
acordo com as equações abaixo:
Note que no Exercício 5.2 as curvas C2 e C3 definem o mesmo conjunto de pontos no plano:
note que para as equações paramétricas de C2 e C3 temos
x2 + y2 = cos2 t + sen2 t = 1,
o que prova que o trajeto da partícula em ambos os casos está contido no círculo unitário. No
entanto, uma investigação mais atenta mostra que o círculo é percorrido pelo parâmetro t em
sentidos opostos. Isto motiva a definição abaixo, onde faremos distinção entre as curvas C2 e C3 .
Definição 5.1.2 Considere uma curva paramétrica C definida por x = f (t) e y = g(t). A direção
em que o parâmetro percorre C é dita a orientação da curva.
As mesmas definições e terminologia da Definição 5.1.1 se aplicam neste caso. Estas definições
introduzidas acima já foram vistas, de certa forma, no curso de Geometria Analítica. Veja o
Exemplo 5.4 abaixo, que utilizamos para relembrar a equação vetorial de uma reta de R3 .
Exemplo 5.4 Um inseto se desloca no espaço partindo do ponto (0,0,1) com vetor velocidade
constante em metros por segundos dado por ~v = (−2,0,3). Determine as equações paramétricas do
seu movimento e a sua localização após 3 segundos.
Vamos determinar inicialmente a coordenada z da posição do inseto após 3 segundos. O vetor
velocidade ~v = (−2,0,3) indica que, com respeito ao eixo z, o inseto se desloca com velocidade
constante de 3m/s. Após três segundos ele terá se deslocado 3 · 3 = 9 metros. Como sua posição
inicial com respeito ao eixo z é z0 = 1, sua posição após três segundos é dada por z = 1 + 9 = 10. O
mesmo cálculo pode ser conduzido para as coordenadas x e y: quanto t = 3 temos x = 0 − 2 · 3 = −6
e y = 0 + 0 · 3 = 0. Este cálculo pode ser efetuado em notação vetorial: após 3 segundos o
deslocamento é dado pelo vetor 3~v = 3(−2,0,3). A soma do vetor deslocamento com o vetor
posição inicial fornece a posição do inseto após 3 segundos: (0,0,1) + 3(−2,0,3) = (−6,0,10).
As equações paramétricas do movimento são obtidas considerando um instante de tempo t
qualquer: seguindo o argumento acima temos que neste instante o deslocamento é t(−2,0,3), logo
a posição do inseto é dada por
Considere agora, mais geralmente, o movimento de uma partícula com posição inicial P0 =
(x0 , y0 , z0 ) e velocidade constante dada pelo vetor ~v = (a,b,c). Como o vetor velocidade não tem
alteração em sua direção ou sentido, a trajetória do inseto é uma reta. Um argumento análogo ao do
Exemplo 5.4 mostra que sua posição após t segundos é dada por
Reciprocamente, a Equação (5.4) descreve todas as retas de R3 : uma reta r de R3 que contém um
ponto P e possui vetor diretor ~v possui equação vetorial dada pela Equação (5.4); veja o Exemplo
5.5 abaixo2 .
Exemplo 5.5 As equações paramétricas da reta a r de R3 que contém o ponto P = (2,1, − 3) e
tem vetor diretor ~v = (−1,2,2) são dadas por
diretor ~v = Q − P ou ~v = P − Q.
120 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
A equação vetorial acima pode ser escrita coordenada a coordenada, fornecendo as equações
paramétricas:
x = 2 − t,
y = 1 + 2t,
z = −3 + 2t.
A reta é o exemplo mais simples de uma curva de R3 . No Exemplo 5.6 temos uma curva com
geometria mais complexa.
Exemplo 5.6 Esboce a curva de R3 que é o gráfico de equações paramétricas abaixo:
x = cost, y = sent, z = t.
As equações acima descrevem uma curva que possui a seguinte propriedade: suas coordenadas x
e y satisfazem a equação x2 + y2 = 1. Segue que os pontos desta curva se encontram diretamente
acima desta circunferência do plano xy, com coordenada z determinada por z = t.
À medida que o parâmetro t evolui a partir de t = 0 temos no plano xy uma situação idêntica
àquela do Exemplo 5.1. A equação z = t mostra que a coordenada z cresce à medida que t evolui:
quando a partícula dá uma volta inteira no círculo trigonométrico, sua altura evolui de z = 0 até
z = 2π; na próxima volta sua altura evoluirá de z = 2π a z = 4π, e assim por diante. Essa curva
paramétrica é descrita por uma hélice. Veja a Figura 5.4.
Cabe ressaltar que as equações paramétricas dadas estão definidas para todo t real, de modo
que na Figura 5.4 temos esboçada apenas uma parte da curva; esta se estende infinitamente acima e
abaixo do plano xy, pontos que correspondem respectivamente a valores positivos e negativos do
parâmetro.
Funções vetoriais.
Estudamos nesta seção curvas paramétricas descritas por equações paramétricas. O conceito de
função de valores vetoriais a uma variável real, ou simplesmente uma função vetorial, que veremos
a seguir, está intimamente relacionado. Em uma função vetorial de R3 , associamos a cada valor do
parâmetro t um ponto do espaço (x,y,z). Isto define uma função
Este ponto (x(t), y(t), z(t)) pode ser interpretado também como um vetor: daí o nome função
vetorial, pois estas funções possuem vetores como imagem.
É importante lembrar que vetores podem ser escritos de outra maneira. Então a imagem
(x(t), y(t), z(t)) da função r pode ser escrita como
isto é,
r(t) = x(t)(1,0,0) + y(t)(0,1,0) + z(t)(0,0,1),
Utilizando a notação i = (1,0,0), j = (0,1,0), k = (0,0,1) obtemos
Utilizaremos fonte em negrito para representar vetores: temos em negrito na equação acima r, i, j e
k, que representam vetores de R3 ; já t, x, y e z representam números reais, por isso estão escritos
em fonte usual.
Definição 5.1.3 Seja D um conjunto qualquer de R. Uma função r que associa a cada número
real t ∈ D um vetor r = x(t)i + y(t)j de R2 é dita uma função vetorial. As funções x(t), y(t) são
ditas as funções componente de r.
Analogamente, uma função r que associa a cada número real t ∈ D um vetor r(t) =
x(t)i + y(t)j + z(t)k é dita uma função vetorial. As funções x(t), y(t), z(t) são ditas as fun-
ções componente de r.
Trataremos neste texto apenas de funções vetoriais de duas ou três dimensões. A menos de
menção explícita do contrário, ao representar graficamente uma função vetorial, sempre adotaremos
a representação de r(t) que possui seu ponto inicial na origem do espaço considerado.
Exemplo 5.7 Considere a função vetorial
Suas funções componente são x(t) = cost, y(t) = sent e z(t) = 2. Como não há menção explícita
ao seu domínio, supomos que ele é o maior conjunto possível da reta, isto é, D = R.
O esboço da curva parametrizada pode ser compreendido de maneira semelhante àquela do
Exemplo 5.6. As coordenadas x e y dos pontos desta curva satisfazem a equação x2 + y2 = 1, donde
concluímos que os pontos da curva se encontram na direção deste círculo de R2 ; equivalentemente,
podemos dizer que os pontos da curva pertencem ao cilindro x2 + y2 = 1. A componente 2k da
função r(t) determina que a coordenada z dos pontos é constante e igual a 2. Concluímos que a
função vetorial r(t) descreve um círculo em R3 contido no plano z = 2. Veja a Figura 5.5.
No exemplo abaixo vemos uma outra técnica para compreender a geometria de curvas parame-
trizadas: obter uma equação y = f (x) ou x = g(y) e utilizar as ferramentas de cálculo de funções
de uma variável.
Exemplo 5.8 Esboce a curva parametrizada definida por
r(t) = ti + t 2 j.
Substituindo x = t na segunda equação obtemos y = x2 . Com isso provamos que os pontos da curva
parametrizada satisfazem a equação de uma parábola. Como o domínio da função r(t) é dado por
122 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exercício 5.3 Esboce ou descreva a trajetória da partícula descrita por cada uma das funções
vetoriais abaixo.
(i) r(t) = (3 − 2t)i + 5tj.
(ii) r(t) = −3i + (1 − t 2 )j + tk.
(iii) r(t) = ti + 4 costj + 4 sentk.
é um círculo e determine o seu centro e raio. Sugestão: Mostre que a curva se situa em uma
5.2 Cálculo de Funções Vetoriais 123
Obs 5.1.1 As componentes x(t), y(t) de uma função vetorial r(t) = x(t)i + y(t)j são funções reais
de uma variável real, funções usualmente vistas no curso de Cálculo Diferencial e Integral I. Logo,
embora o conceito de função vetorial esteja sendo apresentado aqui, ele é construído através de
funções com as quais o aluno já está familiarizado. Este fato será explorado na Seção 5.2.
Quando uma função vetorial r(t) é definida através de expressões algébricas para suas funções
componente, como
√ 2
r(t) = ti − j,
t
consideramos como domínio da função o conjunto de todos os números reais t para os quais a
função vetorial está bem definida. No caso acima temos Dom r = (0, +∞).
√
(i) r(t) = ln(t − 2)i + 3 tj (ii) r(t) = (t 2 − 2)−1 i + cos(t 2 )j − 2tk
Figura 5.7: Limite lim r(t) = L em curva Figura 5.8: Limite lim r(t) = L em curva
t→a t→a
paramétrica: r(t) cada vez mais próximo de paramétrica: kr(t) − Lk se aproxima de
L. zero.
3 Note que kr(t) − Lk é um número real, de modo que a função t 7−→ kr(t) − Lk se enquadra naquelas estudadas em
Definição 5.2.1 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a, exceto
talvez no ponto t = a. Dizemos que o limite de r(t) quando t se aproxima de a é L se
lim kr(t) − Lk = 0.
t→a
O teorema abaixo afirma que temos o limite acima se e somente se os limites correspondentes
nas componentes ocorrem. Veja a Figura 5.9. Um resultado análogo é válido para funções vetoriais
de R3 .
Teorema 5.2.1 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a, exceto
talvez no ponto t = a.
(i) Se r(t) = x(t)i + y(t)j e L = x0 i + y0 j, então lim r(t) = L se e somente se
t→a
Figura 5.9: Limite das componentes de uma função vetorial: x(t) → x0 e y(t) → y0 .
sent
t2 − 1
2t + 4 (ii) lim i + costj
(i) lim i+ j − et k t→0 t
t→−1 t +1 t −1
Note que o limite limt→a r(t) calculado no Exemplo 5.9 é igual simplesmente ao valor de r(a).
Esta propriedade é esperada no caso do deslocamento de partículas: à medida que analisamos
um instante de tempo cada vez mais próximo de t = a, esperamos que a posição da partícula se
aproxime cada vez mais de r(a), isto é, sua posição no instante t = a. Dizemos nesse caso que tais
funções são contínuas em t = a.
Definição 5.2.2 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a. Dize-
mos que r(t) é contínua em t = a se
Diferenciabilidade.
A definição de derivada de funções vetoriais é análoga àquela de funções reais de uma variável, e
possui também a mesma motivação. Esta definição, construída através de um processo de limite, é
ilustrada na Figura 5.10. Seja r(t) a parametrização do deslocamento de uma partícula. A diferença
r(t + h) - r(t) indica o vetor deslocamento no intervalo de tempo [t,t + h]. O quociente
r(t + h) − r(t)
h
representa, num certo sentido, o vetor velocidade média da partícula no intervalo [t,t + h]. O limite
deste quociente quando h se aproxima de zero fornece a velocidade instantânea no instante de
tempo t.
A derivada r0 (t) representa fisicamente a velocidade de uma partícula que se desloca ao logo de
uma curva C de acordo com a parametrização r(t). Entretanto, como a trajetória desta partícula não
é necessariamente retilínea, sua velocidade deve ser representada por um vetor, e não apenas por
um escalar: a velocidade deve ser fornecida através de sua magnitude, direção e sentido. De fato,
definimos a derivada r0 (t) como um vetor, e não como um número real.
Definição 5.2.3 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a. A
derivada de r(t) em t = a é definida como o vetor
r(a + h) − r(a)
r0 (a) = lim ,
h→0 h
se o limite existir. Dizemos nesse caso que r(t) é diferenciável em t = a. O domínio da função
derivada r0 (t) consiste do conjunto de todos os valores reais t para os quais a função r0 (t) está
126 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
bem definida.
dr d
r0 (t), r0 , ou [r(t)].
dt dt
Importante!
Verificamos agora que a derivada de uma função vetorial também pode ser escrita componente
a componente. Note que, se r(t) = x(t)i + y(t)j, então
Teorema 5.2.2 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a. Então
r(t) é diferenciável em t = a se e somente se suas funções componente são diferenciáveis em
5.2 Cálculo de Funções Vetoriais 127
Algumas regras de derivação de funções reais de uma variável real também se aplicam no caso
de funções vetoriais; isto é uma consequência direta do Teorema 5.2.2.
Definição 5.2.4 Seja r(t) uma função vetorial definida em um intervalo contendo t = a e seja
C a curva gráfico de r. Se r0 (a) existe e r0 (a) 6= 0, dizemos que r0 (a) é o vetor tangente a C em
r(a). O vetor tangente unitário a C em r(a) é definido como
r0 (a)
T(a) = .
kr0 (a)k
Dizemos que a reta contendo r(a) e com vetor diretor r0 (a) é a reta tangente a C em r(a).
Exemplo 5.11 Determine a equação da reta tangente à curva C parametrizada por r(t) = t 2 i +t 3 j
no ponto r(1).
Segue do Teorema 5.2.2 que a função derivada r0 (t) é dada por
r0 (t) = 2ti + 3t 2 j,
logo,
r0 (1) = 2i + 3j.
A reta tangente contém o ponto r(1) = (1,1) e possui vetor diretor r0 (1) = (2,3), logo sua equação
vetorial é dada por
A seguir obtermos a equação da reta tangente em sua forma usual. Podemos a partir da equação
acima obter o seguinte do sistema:
t = 12 (x − 1),
x = 1 + 2t,
⇐⇒
y = 1 + 3t, y = 1 + 3t.
3 3 1
y = 1 + (x − 1), isto é, y = x− .
2 2 2
Exercício 5.7 Determine a equação da reta tangente à curva C parametrizada por r(t) =
√
(1 + 2 t)i + (t 3 − t)j + (t 3 + t)k no ponto (3,0,2).
Exercício 5.8 Obtenha a equação vetorial da reta tangente e o vetor tangente unitário à curva
dada no ponto dado.
Teorema 5.2.4 Seja r(t) uma função vetorial diferenciável em t = a. Se kr(t)k é constante em
um intervalo contendo t = a, então r0 (t) é ortogonal a r(t), isto é,
r0 (t) · r(t) = 0.
130 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
d d d
[r(t) · r(t)] = [r(t)] · r(t) + r(t) · [r(t)] = 2r(t) · r0 (t). (5.7)
dt dt dt
Por outro lado, temos que r(t) · r(t) = kr(t)k2 . Como kr(t)k é constante em torno de t = a por
hipótese, e portanto kr(t)k2 também, temos
d d
kr(t)k2 = [r(t) · r(t)] = 0. (5.8)
dt dt
Segue das Equações (5.7) e (5.8) que
2r(t) · r0 (t) = 0,
como gostaríamos.
Neste texto evitaremos, de um modo geral, curvas com um comportamento errático. Nos
restringiremos a curvas suaves (ou lisas), de acordo com a Definição 5.2.5 abaixo. O Exercício 5.12
ilustra o que pode ocorrer quando a Definição 5.2.5 não é atendida.
Definição 5.2.5 Seja C uma curva de Rn parametrizada por uma função vetorial r(t). Dizemos
que C é uma curva suave ou uma curva lisa se:
(i) as funções componente de r têm derivadas contínuas;
(ii) r0 (t) 6= 0 para todo t.
Dizemos nesse caso que r é função vetorial suave ou uma parametrização lisa de C.
A função vetorial r1 possui funções coordenada infinitamente diferenciáveis para todo valor de
t, logo a condição (i) da Definição 5.2.5 é satisfeita. Seu vetor derivada é dado por
Este sistema não tem solução: além de c = 0 não ocorrer por hipótese, não é possível termos
sent = cost = 0 para algum valor de t. Segue que r1 é função vetorial suave.
A curva r2 também tem funções coordenada infinitamente diferenciáveis, no entanto r02 (t) = 0
se e somente se
2t = 0,
3t 2 = 0.
Este sistema possui solução t = 0, isto é, temos r02 (0) = 0. A função vetorial r2 não é portanto suave.
Veja na Figura 5.14 o que ocorre no ponto r2 (0): a joaninha se desloca pelo quarto quadrando em
direção à origem e tem uma mudança de direção não-natural no ponto r2 (0). Podemos entender
que esta é a razão da não-suavidade de r2 e da curva correspondente.
problema com o conceito de integral indefinida de funções vetoriais, mas primeiramente definimos
a integral definida.
A integral definida de uma função vetorial em um intervalo a ≤ t ≤ b é definida através de um
processo semelhante àquele de funções reais de uma variável real. Particionamos o intervalo [a,b]
de acordo com pontos a = t0 ,t1 , . . . ,tn−1 ,tn = b, onde tk − tk−1 = ∆t = (b − a)/n, e escolhemos um
ponto qualquer uk em cada intervalo [tk−1 ,tk ]. O limite da soma de Riemann
n
∑ r(uk )∆t
k=1
quando n se aproxima de infinito fornece a definição desejada. Note que ao aplicar esta definição
ao vetor derivada r0 (t) observamos que o termo r0 (uk )∆t pode ser visto como uma aproximação
para o deslocamento da partícula neste intervalo de tempo.
Definição 5.2.6 Seja r(t) uma função vetorial contínua no intervalo a ≤ t ≤ b. A integral
definida de r(t) no intervalo [a,b] é definida como
b n
r(t) dt = lim ∑ r(uk )∆t,
a n→∞
k=1
se o limite existir.
A integral definida da Definição 5.2.6 pode ser calculada também componente a componente.
De fato, seja r(t) = x(t)i + y(t)j uma função vetorial de R2 . Então,
n n n
∑ r(uk )∆tk = ∑ (x(uk )i + y(uk )j)∆tk = ∑ (x(uk )∆tk )i + (y(uk )∆tk )j ,
k=1 k=1 k=1
isto é,
n n n
∑ r(uk )∆tk = ∑ (x(uk )∆tk )i + ∑ (y(uk )∆tk )j.
k=1 k=1 k=1
O limite de uma função vetorial é dado pelo limite de suas funções coordenadas, então
b n
! !
n n
r(t) dt = lim ∑ r(uk )∆tk = lim ∑ x(uk )∆tk i + lim ∑ y(uk )∆tk j.
a n→∞ n→∞ n→∞
k=1 k=1 k=1
Em cada coordenada na equação acima temos a definição de integral definida de uma função de
uma variável real. Portanto,
!
b !
b b
r(t) dt = x(t) dt i + y(t) dt j. (5.9)
a a a
Um argumento análogo prova o mesmo resultado para funções vetoriais de R3 : se r(t) = x(t)i +
y(t)j + z(t)k, então
b
! ! b
!
b b
r(t) dt = x(t) dt i + y(t) dt j + z(t) dt k. (5.10)
a a a a
onde 1
t 3 1 1
2
t dt = = ,
0 3 0 3
1 1
et dt = et = e − 1,
0 0
e, usando a substituição u = πt =⇒ du = π dt,
1
1
2
[−2 cos(πt)] dt = − sen(πt) = 0.
0 π 0
Segue que
1
1
r(t) dt = i + (e − 1)j + 0k.
0 3
A integral definida de funções vetoriais satisfaz propriedades semelhantes àquelas que temos
no caso escalar, também devido ao fato de que o cálculo da integral pode ser feito coordenada a
coordenada.
Teorema 5.2.5 Sejam r1 (t), r2 (t) funções vetoriais de Rn e suponha que r1 (t), r2 (t) são contí-
nuas no intervalo [a,b]. Então:
b b
(i) kr1 (t) dt = k r1 (t) dt, para todo número real k;
a b a b b
(ii) [r1 (t) + r1 (t)] dt = r1 (t) dt + r2 (t) dt;
a b a b a b
(iii) [r1 (t) − r1 (t)] dt = r1 (t) dt − r2 (t) dt.
a a a
Também temos o conceito de integrais indefinidas para funções vetoriais. Dizemos que R(t) é
uma antiderivada da função vetorial r(t) se
R0 (t) = r(t).
A integral indefinida de r(t) representa a classe de funções cuja derivada coincide com r(t), isto é,
r(t) dt = R(t) + C, (5.11)
onde C é uma constante vetorial. Veja no exercício a seguir a interpretação física desta constante
vetorial.
Exemplo 5.14 Uma partícula se encontra no instante de tempo t = 0 no ponto (x0 , y0 ) do plano
e inicia um deslocamento com velocidade constante v(t) = (a,b) unidades de tempo por segundo.
Encontre a parametrização r(t) de sua trajetória.
Temos que v(t) = r0 (t). Devemos encontrar a função r(t) cuja derivada coincide com v(t), isto
é,
r(t) = v(t) dt = [ai + bj] dt.
O domínio da função r(t) é dado por t ∈ [0, +∞). As constantes de integração C1 ,C2 podem ser
obtidas da seguinte maneira: sabemos que a posição r(0) da partícula no instante t = 0 é dada por
(x0 , y0 ), logo, usando a expressão r(t) = (at +C1 )i + (bt +C2 )j,
Exercício 5.9 Um projétil se desloca no espaço com vetor velocidade no instante de tempo t
dado por
v(t) = costi + sentj + e−t k, t ≥ 0.
Determine o vetor posição r(t) deste projétil sabendo que r(0) = k.
Obtemos a seguirpuma expressão para kPk−1 Pk k em função das funções coordenada de r(t). Note
que kPk−1 Pk k = (xk − xk−1 )2 + (yk − yk−1 )2 . Denotando xk −xk−1 = ∆xk e yk −yk−1 = ∆yk , temos
q
kPk−1 Pk k = ∆xk2 + ∆y2k . (5.13)
5.3 Comprimento de Arco 135
Como r(t) = f (t)i + g(t)j, podemos escrever ∆xk = f (tk ) − f (tk−1 ). Como f é diferenciável no
intervalo [tk−1 ,tk ], segue do Teorema do Valor Médio que
onde vk ∈ (tk−1 ,tk ). Segue das Equações (5.13), (5.14) e (5.15) que
q q
kPk−1 Pk k = [ f (uk )∆t] + [g (vk )∆t] = [ f 0 (uk )]2 + [g0 (vk )]2 ∆t.
0 2 0 2
É possível provar que o limite acima existe quando f 0 e g0 são contínuas e, além disso,
bq
L= [ f 0 (t)]2 + [g0 (t)]2 dt.
a
e portanto
b
L= kr0 (t)k dt.
a
Teorema 5.3.1 Seja C uma curva de Rn e seja r(t), para t ∈ [a,b], uma parametrização de C
cujas funções coordenadas possuem derivada contínua. Suponha que C é percorrida uma única
136 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exemplo 5.16 Determine o valor da constante c de modo que comprimento de arco da hélice
r(t) = costi + sentj + ctk, c > 0 de t = 0 até t = 2π seja igual a 8π.
Temos r0 (t) = − senti + costj + ck, logo
p p
kr0 (t)k = sen2 t + cos2 t + c2 = 1 + c2 .
Temos L = 8π se e somente se
p p √
2π 1 + c2 = 8π ⇐⇒ 1 + c2 = 4 ⇐⇒ 1 + c2 = 16 ⇐⇒ c = ± 15.
√
Como c é uma constante positiva por hipótese, segue que c = 15.
Exercício 5.10 Explique como diferentes valores da constante c do Exemplo 5.16 interferem
na geometria da respectiva curva.
5.3 Comprimento de Arco 137
√
Exercício 5.11 Calcule o comprimento de arco da curva r(t) = et i + e−t j + 2tk de t = 0 até
t = 1.
Mudança de parâmetro.
Considere partículas que se deslocam no plano de acordo com as funções vetoriais abaixo:
r1 (t) = ti + t 2 j, t ∈ [0,1],
2
r2 (t) = 2t i + t4 j, t ∈ [0,2],
(5.16)
r3 (t) = 2ti + 4t 2 j, t ∈ [0, 12 ],
r4 (t) = t 2 i + t 4 j, t ∈ [0,1].
Note que as funções componente das três funções vetoriais satisfazem a equação y = x2 , logo
r1 , r2 e r3 descrevem um pedaço desta parábola. Além disso, temos ponto inicial (0,0) e ponto
final (1,1) em todos os casos. Em outras palavras, as funções vetoriais nas Equações (5.16)
representam parametrizações diferentes da mesma curva C. Mais precisamente, podemos enxergar
r2 (t), r3 (t) e r4 (t) como funções vetoriais obtidas a partir de r1 (t) através de uma mudança de
parâmetro: uma mudança de parâmetro em uma função vetorial r(t) é uma mudança de variáveis
t = g(τ) que produz uma nova função vetorial r̃(τ) = r(g(τ)) com o mesmo gráfico, mas percorrido
possivelmente de uma maneira diferente. Veja o exemplo abaixo.
Exemplo 5.17 Considere a curva C com parametrização
Veja a Figura 5.17. A mudança de parâmetro τ = t/2 ⇐⇒ t = 2τ fornece uma função vetorial cuja
gráfico coincide com a curva C da Figura 5.17:
Teorema 5.3.2 Seja r(t) uma função vetorial de Rn diferenciável com relação a t. Se t = g(τ) é
uma mudança de parâmetro diferenciável com relação a τ, então r̃(τ) = r(g(τ)) é diferenciável
com relação a τ e
d r̃ dr dt
= .
dτ dt dτ
d r̃ dr
O Teorema 5.3.2 relaciona, através da regra da cadeia, os vetores derivada e . Estes
dτ dt
vetores representam o vetor velocidade nas respectivas parametrizações, de modo que o Teorema
138 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Figura 5.17: Curva C com parametrização r(t) = costi + sentj + tk, t ∈ [0, 2π].
d r̃
5.3.2 pode ser interpretado da seguinte maneira: o novo vetor velocidade é dado pelo vetor
dτ
dr dt
velocidade original multiplicado por .
dt dτ
Vejamos agora como o Teorema 5.3.2 pode ser utilizado para interpretar as funções vetoriais
nas Equações (5.16). Reescrevemos r2 , r3 e r4 como funções de τ para compará-las com a função
vetorial r1 , como no Teorema 5.3.2:
r1 (t) = ti + t 2 j, t ∈ [0,1],
τ τ2
r2 (τ) = i + j, τ ∈ [0,2],
2 4
r3 (τ) = 2τi + 4τ 2 j, τ ∈ [0, 12 ],
r4 (τ) = τ 2 i + τ 4 j, τ ∈ [0,1].
Podemos agora reescrever cada uma das funções vetoriais r2 (τ), r3 (τ) e r4 (τ) como r1 (g(τ)):
τ dt 1
r2 (τ) = r1 (t) com t = =⇒ = ,
2 dτ 2
dt
r3 (τ) = r1 (t) com t = 2τ =⇒ = 2,
dτ
dt
r4 (τ) = r1 (t) com t = τ 2 =⇒ = 2τ.
dτ
Segue do Teorema 5.3.2 que
dr2 1 dr1 dr3 dr1 dr4 dr1
= , =2 e = 2τ .
dτ 2 dt dτ dt dτ dt
Estas equações podem ser interpretadas da seguinte maneira: uma partícula com deslocamento
parametrizado por r2 (τ) se desloca com metade da velocidade de daquela parametrizada por
r1 (t). Analogamente, uma partícula com deslocamento parametrizado por r3 (τ) tem o dobro
da velocidade daquela parametrizada por r1 (t). A relação observada no caso de r4 (τ) pode ser
interpretada de maneira semelhante.
5.3 Comprimento de Arco 139
tal que:
(i) o círculo é percorrido no sentido anti-horário à medida que τ cresce no intervalo [0,1];
(ii) o círculo é percorrido no sentido horário à medida que τ cresce no intervalo [0,2π].
(iii) o círculo é percorrido no sentido horário à medida que τ cresce no intervalo [0,1].
No item (i) desejamos encontrar uma mudança de parâmetro t = g(τ) tal que r̃1 (τ) tenha a
mesma orientação de r(t) mas percorra o mesmo trajeto no intervalo τ ∈ [0,1]. Devemos ter a
seguinte correspondência:
t = 0 ⇐⇒ τ = 0,
t = 2π ⇐⇒ τ = 1.
A escolha mais simples para a função g que satisfaz essas condições é t = g(τ) = 2πτ, fornecendo
dt
Note que o Teorema 5.3.2 fornece neste caso = 2π, indicando que os vetores derivadas são
dτ
múltiplos positivos um do outro, indicando que possuem a mesma direção e sentido. A derivada
dt
positiva indica que t é função crescente de τ neste caso: veja a Figura ??.
dτ
No caso do item (ii) desejamos percorrer a curva com orientação contrária no mesmo intervalo
τ ∈ [0,2π]. Devemos então ter o ponto inicial de r(t) coincidindo com o ponto final de r̃2 (τ) e
vice-versa:
t = 0 ⇐⇒ τ = 2π,
t = 2π ⇐⇒ τ = 0.
A função t = g(τ) = 2π − τ satisfaz estas condições:
dt
Destacamos que neste caso temos = −1, indicando vetores velocidade com mesma direção mas
dτ
sentidos opostos (Teorema 5.3.2). Neste caso t é função decrescente de τ, como indicado na Figura
5.18.
A parametrização r̃3 (τ) do item (iii) pode ser obtida a partir de r̃2 (τ), que reescrevemos como
por ser o “ponto de partida” de nossa mudança de parâmetro. Como desejamos percorrer a curva
no intervalo [0,1], devemos ter
t = 0 ⇐⇒ τ = 0,
t = 2π ⇐⇒ τ = 1,
de modo que escolhemos, como no item (i), a mudança de parâmetro t = g(τ) = 2πτ aplicada à
função r̃2 (t) do item (ii), que já possui a orientação desejada:
Esta mudança poderia ter sido efetuada diretamente a partir da função r(t) do enunciado como
t = g(τ) = 2π − 2πτ = 2π(1 − τ).
140 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exercício 5.12 Considere a função vetorial r(t) = et i + 4e−t j e a função r̃(τ) obtida pela
dr
mudança de parâmetro t = τ 2 . Calcule a derivada utilizando a regra da cadeia e compare
dτ
com o resultado obtido ao calcular a derivada diretamente após expressar r em função de τ.
Dizemos que uma mudança de parâmetro t = g(τ) é uma mudança de parâmetro suave se r(t)
dt
suave implica em r(g(τ)) suave. Isto ocorre se é contínua e não nula para todos os valores de τ.
dτ
dt
Segue que a derivada apresenta um dos dois seguintes comportamentos.
dτ
dt
(i) Temos > 0 para todo valor de τ, caso em que dizemos que t = g(τ) é uma mudança de
dτ
parâmetro positiva; neste caso a orientação da curva é mantida.
dt
(ii) Temos < 0 para todo valor de τ, caso em que dizemos que t = g(τ) é uma mudança de
dτ
parâmetro negativa; neste caso a orientação da curva é invertida.
A parametrização por comprimento de arco de uma curva qualquer do plano pode ser definida
da seguinte maneira:
1. Escolha um ponto P0 qualquer como referencial na curva (em geral o ponto inicial).
2. Dentre as direções em que uma partícula pode se deslocar sobre a curva a partir de P0 , defina
uma delas como a direção positiva e a outra como a direção negativa.
3. Associe a qualquer ponto P da curva o comprimento de arco s de P0 a P; s carregará o sinal
positivo se P se encontra na direção positiva fixada no Item 2 acima, e o sinal negativo caso
contrário.
Veja a Figura 5.19.
A seguir apresentamos um método geral para obter a parametrização de uma curva parame-
trizada de acordo com o comprimento de arco. Seja C uma curva suave de Rn e seja r(t), para
t ∈ [a,b], uma parametrização suave de C. A parametrização r(t) fornece a posição da partícula
como função do instante de tempo t escolhido, como em (5.17). Para obter a parametrização
em (5.18), faremos uma mudança de parâmetro t = g(s) na função r(t): informada a distância
percorrida s, o método que apresentamos determina o instante de tempo t = g(s) em que essa
ação foi concluída; a substituição de t = g(s) na parametrização original r(t) fornecerá a posição
r(g(s)) = r̃(s) desejada da partícula.
De acordo com o procedimento ilustrado na Figura 5.19, desejamos adotar um ponto de referên-
cia na curva para a parametrização por comprimento de arco. Sejam t = a e r(a) respectivamente o
instante de tempo e a posição referência para a nova parametrização. O comprimento de arco s(t)
de r(a) até um ponto r(t) qualquer da curva é dado pelo Teorema 5.3.1:5
t
s = s(t) = kr0 (u)k du. (5.19)
a
Esta equação já fornece uma relação entre o parâmetro s e o parâmetro t, porém na forma s = h(t);
devemos invertê-la e escrever t = g(s) para proceder como descrita acima. Veja o Exemplo abaixo.
Exemplo 5.19 Obtenha a parametrização por comprimento de arco da curva paramétrica
[a,t] que define o arco em questão. Utilizamos aqui a variável u para percorrer este arco na integral.
142 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
onde o intervalo [0,21] foi determinado a partir do intervalo original e a equação s = 7t: t = 3
corresponde a s = 21, indicando 21 de comprimento de arco de t = 0 a t = 3; analogamente t = 0
corresponde a s = 0.
O Exemplo 5.19 ilustra como obtemos a parametrização por comprimento de arco: utilizamos
a Equação (5.19) para obter uma expressão para s em função de t; encontramos a expressão
equivalente t = g(s); por fim efetuamos essa mudança de parâmetros na parametrização original
r(t).
Cabe ressaltar que diferenciando a Equação (5.19) com relação a t e utilizando o Teorema
Fundamental do Cálculo obtemos uma outra forma de escrevê-la:
ds
= kr0 (t)k.
dt
A equação acima possui uma interpretação interessante no deslocamento de uma partícula: à
esquerda temos a taxa de variação da distância percorrida, que é dada, pela equação acima, pela
intensidade do vetor velocidade. O fato de este teorema condizer com a nossa intuição a respeito
dos deslocamentos do dia-a-dia é evidência de uma teoria sólida. Enunciamos este resultado abaixo
como um teorema devido à sua importância.
Teorema 5.3.3 Seja C o gráfico de uma função vetorial suave r(t) de Rn e seja r(a) um ponto
qualquer de C. Então a equação
t
s = s(t) = kr0 (u)k du.
a
ds
= kr0 (t)k.
dt
Exemplo 5.20 Um inseto se desloca ao redor do tronco de uma árvore de acordo com a hélice
kr0 (u)k = (e2u (cos2 −2 cos u sen u + sen2 u) + e2u (cos2 +2 cos u sen u + sen2 u))1/2 ,
isto é, √
kr0 (u)k = (e2u (cos2 + sen2 u + cos2 + sen2 u))1/2 = (2e2u )1/2 = eu 2.
Segue que
t
0
t √ √
s = s(t) = kr (u)k du = eu 2 du = 2(et − 1).
0 0
√ t
A mudança de parâmetros t = g(s) é obtida a partir da equação s = 2(e − 1):
√ t s s
s= 2(e − 1) ⇐⇒ √ = et − 1 ⇐⇒ et = 1 + √ ,
2 2
√ √ √
ou seja, t = ln(1 + s/ 2). Como exp(ln(1 + s/ 2)) = 1 + s/ 2, temos que a parametrização por
comprimento de arco é dada por
s s s s
r̃(s) = 1 + √ cos ln 1 + √ i + 1 + √ sen ln 1 + √ j,
2 2 2 2
√
para 0 ≤ s ≤ 2(eπ/2 − 1).
Teorema 5.3.4 Seja C uma curva parametrizada por uma função vetorial suave r(s), onde s é o
parâmetro de comprimento de arco. Então, para todo valor de s, o vetor tangente a C é unitário:
dr
= 1.
ds
Além disso, a parametrização por comprimento de arco é a única que possui esta propriedade no
seguinte sentido. Seja C o gráfico de uma função vetorial r(t) em Rn tal que kr0 (t)k = 1 para
todo valor de t. Se t0 é um valor qualquer para o parâmetro t, então o parâmetro s = t − t0 é o
parâmetro de comprimento de arco C com origem no ponto r(t0 ).
define o comprimento de arco de C de r(t0 ) a r(t). Como kr0 (t)k = 1 para todo t, temos
t
s= du = t − t0 ,
t0
como gostaríamos.
Nas aplicações ilustradas nas Figuras 5.20, 5.21 e 5.22 temos presente o mesmo conceito: a
cada ponto P do plano associamos um vetor F(P) que indica o deslocamento de uma partícula do
fluido (ar ou água) naquele ponto. Este tipo associação é chamada de campo vetorial.
6 Veja a página do Professor Miller em https://people.eecs.ku.edu/~miller/WorldWindProjects/
VectorFieldVis/index.php.
5.4 Campos Vetoriais 145
Figura 5.21: Simulação de um rio fluindo. Figura 5.22: Correntes marítimas na costa
Fonte: página pessoal do Professor Evy A. oeste dos EUA. Fonte: página do
Salcedo T., Universidade Federal de Santa Departamento de Ciências da Terra e do
Catarina. Clima, San Francisco State University.
Cabe ressaltar que f (x,y) e g(x,y) são funções cujas imagens são números reais (coordenadas do
vetor imagem). Analogamente, um campo vetorial de R3 pode ser escrito como
F(x,y) = yi − xj.
F(x,y,z) = xi − yj − zk.
146 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exemplo 5.24 Considere uma carga elétrica Q situada na origem. De acordo com a Lei de
Coulomb, a força exercida por esta carga em uma outra carga q depende da localização de q.
Escrevemos agora, em uma notação mais concisa, x = (x,y) na definição do campo vetorial: se q se
encontra no ponto x = (x,y), então a força é dada por
kqQ
F(x) = x,
kxk3
Figura 5.23: Campo vetorial do Exemplo Figura 5.24: Campo vetorial do Exemplo
5.22. 5.24.
Em geral, o primeiro exemplo que vemos de campo vetorial é o de campo gradiente, isto é, o
campo vetorial ∇φ (·) que associa a cada ponto x no domínio de uma função escalar7 φ o vetor
gradiente ∇φ (x).
7 Por função escalar queremos dizer aquelas que possuem como imagem um número real, e não um vetor.
5.4 Campos Vetoriais 147
φ (x,y) = x2 − y2 .
Note que φ não é uma função vetorial pois, a cada ponto (x,y) do plano, φ associa o número
real φ (x,y) = x2 − y2 . Por exemplo, a imagem do ponto (x,y) = (2,1) é dada pelo número real
φ (2,1) = 22 − 12 = 4 − 1 = 3. Entretanto, temos um campo vetorial associado à função φ : o campo
gradiente de φ é dado por
Veja a Figura 5.26, onde estão ilustrados o campo vetorial ∇φ e as curvas de nível φ (x,y) = 1 e
φ (x,y) = −1.
F(x) = ∇φ (x),
Exemplo 5.26 Verifique se os campos vetoriais dados possuem as respectivas funções reais como
função potencial.
(i) F(x,y) = (6xy − y3 )i + (4y + 3x2 − 3xy2 )j, φ (x,y) = 2y2 + 3x2 y − xy3 .
(ii) F(x,y) = (sen z + y cos x)i + (sen x + z cos y)j + (sen y + x cos z)j, φ (x,y,z) = x sen z + y sen x +
z sen y.
Escrevendo F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j, devemos verificar se
φx = f e φy = g.
∂ ∂
φx (x,y) = (2y2 +3x2 y−xy3 ) = 6xy−y3 e φy (x,y) = (2y2 +3x2 y−xy3 ) = 4y+3x2 −3xy2 ,
∂x ∂y
∂
φx (x,y) = (x sen z + y sen x + z sen y) = sen z + y cos x,
∂x
∂
φy (x,y) = (x sen z + y sen x + z sen y) = sen x + z cos y,
∂y
∂
φz (x,y) =
(x sen z + y sen x + z sen y) = x cos z + sen y.
∂z
Segue que F(x,y) é campo conservativo com função potencial φ .
Divergente e rotacional.
Considere um campo vetorial F(x,y,z) que representa o campo de velocidade de um fluido, como
nas Figuras 5.21 e 5.22. Suponha que uma pequena bolinha com pás se encontra em um ponto
(x,y,z) com o fluido escoando por ela. É possível determinar, a partir do campo vetorial F(x,y,z),
se esta bolinha entrará em um movimento de rotação? Se sim, qual a direção e intensidade deste
movimento? Estas perguntas são respondidas com o conceito de rotacional, que introduzimos
abaixo8 .
Definição 5.4.3 O rotacional de um campo vetorial F(x,y,z) = f (x,y,z)i + g(x,y,z)j + h(x,y,z)k
é definido como o vetor
∂h ∂g ∂ f ∂h ∂g ∂ f
rot F(x,y,z) = − i+ − j+ − k.
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
i j k
∂ ∂ ∂
Em R3 : rot F = ∇ × F = , , × ( f ,g,h) = ∂
∂x
∂
∂y
∂
∂z ,
∂x ∂y ∂z
f g h
i j k
∂ ∂ ∂
Em R2 : rot F = ∇ × F = , , × ( f ,g,0) = ∂
∂x
∂
∂y
∂
∂z .
∂x ∂y ∂z
f g 0
Exercício 5.13 Calcule o rotacional do campo vetorial F(x,y) = cos(x + 2y)i + sen(x − 2y)j no
ponto (π/2, π/4).
Exercício 5.14 Calcule o rotacional do campo vetorial F(x,y,z) = xzi + xyzj − y2 k no ponto
(1,2, − 1).
Figura 5.27: Divergente de campo vetorial: azul para valores baixos, verde para os altos.
150 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
∂ f ∂g
div F(x,y,z) = + .
∂x ∂y
Enquanto o rotacional pode ser escrito através de um produto vetorial, podemos escrever o
divergente utilizando o produto escalar como um operador:
∂ f ∂g ∂h
Em R3 : div F = ∇ · F = ∂ ∂ ∂
∂ x ∂ y ∂ z · ( f ,g,h) = ∂ x + ∂ y + ∂ z ,
, ,
∂ f ∂g
Em R2 : div F = ∇ · F = ∂ ∂
∂ x ∂ y · ( f ,g)
, = + .
∂x ∂y
Exercício 5.15 Calcule o divergente do campo vetorial F(x,y) = cos(x + 2y)i + sen(x − 2y)j
no ponto (π/4, π/8).
O limite acima define a integral de linha de f sobre C. A integral de linha de uma função real de
duas variáveis sobre uma curva plana é definida analogamente.
Definição 5.5.1 (i) Seja f (x,y) uma função real de duas variáveis definida sobre uma curva
suave C de R2 . A integral de linha de f sobre C é definida como
n
f (x,y) ds = lim ∑ f (uk , vk )∆sk ,
C n→∞
k=1
A partir da Definição 5.5.1 podemos provar que a integral de linha fornece diretamente o
comprimento de arco da curva C.
como gostaríamos.
Obs 5.5.2 A integral de linha de uma função de duas variáveis f (x,y) também pode ser interpretada
como a área de superfície de uma folha de papel em R3 situada diretamente acima da curva C do
plano xy com altura em cada ponto (x,y) da curva dada pelo gráfico de uma função z = f (x,y). Veja
a Figura 5.28.
Teorema 5.5.3 (i) Seja C uma curva suave de R2 com parametrização r(t) = x(t)i + y(t)j,
para t ∈ [a,b]. Se f (x,y) é uma função contínua então a integral de linha de f sobre C
existe e é dada por
b
f (x,y) ds = f (x(t), y(t))kr0 (t)k dt.
C a
(ii) Seja C uma curva suave de R3 com parametrização r(t) = x(t)i + y(t)j + z(t)k, para
t ∈ [a,b]. Se f (x,y,z) é uma função contínua então a integral de linha de f sobre C existe e
é dada por
b
f (x,y,z) ds = f (x(t), y(t), z(t))kr0 (t)k dt.
C a
Exemplo 5.27 Ambas as funções vetoriais r1 (t), r2 (t) possuem mesma curva plana C como
gráfico: o segmento de reta com extremidades (0,0) e (1,2). Calcule a integral de linha [1 +
C
xy2 ] ds usando as parametrizações abaixo.
(i) C : r1 (t) = ti + 2tj, t ∈ [0,1].
(ii) C : r2 (t) = (1 − t)i + (2 − 2t)j, t ∈ [0,1]. √
A parametrização r(t) tem vetor derivada r01 (t) = i+2j, logo kr01 (t)k = 5. O termo f (x(t), y(t))
corresponde à substituição das funções coordenadas x(t),y(t) na expressão para a função f (x,y) =
1 + xy2 :
f (x(t), y(t)) = 1 + t · (2t)2 = 1 + 4t 3 .
Segue que
1
1 √ √ √
(1 + 4t 3 ) 5 dt = 5(t + t 4 ) = 2 5.
f (x,y) ds =
C 0 0
√
Analogamente, para a parametrização r2 (t) temos r02 (t) = −i − 2j, logo kr02 (t)k = 5. Temos
f (x(t), y(t)) = 1 + (1 − t) · (2 − 2t)2 = 1 + (1 − t)(4 − 8t + 4t 2 ) = 1 + 4 − 8t + 4t 2 − 4t + 8t 2 − 4t 3 ,
isto é, f (x(t), y(t)) = 5 − 12t + 12t 2 − 4t 3 . Então,
1
1 √ 2
√3 2 3 4
√
f (x,y) ds = (5 − 12t + 12t − 4t ) 5 dt = 5(5t − 6t + 4t − t ) = 2 5.
C 0 0
5.5 Integrais de Linha 153
O Exemplo 5.27 ilustra uma propriedade importante das integrais de linha da Definição 5.5.1:
estas integrais independem da parametrização escolhida para a curva, desde que ela seja percorrida
apenas uma vez. Em particular, a integral de linha da Definição 5.5.1 não depende da orientação
da curva.
Exercício 5.16 Calcule a integral de linha de f (x,y,z) = y sen z sobre a curva C dada por
r(t) = costi + sentj + tk, t ∈ [0,2π].
caso o limite exista. Analogamente, caso o limite exista, a integral de linha de f (x,y) com
respeito a y ao longo de C é definida como
f (x,y) dy = lim f (uk , vk )∆yk .
C n→∞
Obs 5.5.4 Esta definição se aplica apenas a curvas orientadas pois o valor de ∆xk (e de ∆yk
dependem da orientação de C; este não é o caso de ∆sk = kPk−1 Pk k e a integral de linha da
Definição 5.5.1.
Estendemos a Definição 5.5.2 a curvas de R3 naturalmente. Por exemplo, a integral de linha de
f (x,y,z) com respeito a x ao longo de C é definida como
f (x,y,z) dx = lim f (uk , vk , wk )∆xk ,
C n→∞
caso o limite exista. O procedimento para o cálculo da integral acima é semelhante àquele no
Teorema 5.5.3: se r(t) = x(t)i + y(t)j + z(t)k, t ∈ [a,b], é uma parametrização de C cuja orientação
é dada pela direção crescente de t, então
b
f (x,y,z) dx = f (x(t), y(t), z(t))x0 (t) dt. (5.21)
C a
2
Exercício 5.17 Calcule as integrais de linha [1 + xy ] dx e [1 + xy2 ] dy usando as parame-
C C
trizações abaixo.
(i) C : r(t) = ti + 2tj, t ∈ [0,1].
(ii) C : r(t) = (1 − t)i + (2 − 2t)j, t ∈ [0,1].
154 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Observe que a orientação da curva interfere no resultado das integrais de linha acima no
Exercício 5.17. Já a integral de linha C f (x,y) ds calculada no Exercício 5.27, é independente
da parametrização da curva; em particular, o resultado desta integral não depende da orientação.
Resumimos estas propriedades no teorema abaixo, onde −C indica a curva munida da orientação
oposta a uma curva C de Rn .
Teorema 5.5.5 (i) Seja C uma curva de R2 e f (x,y) uma função escalar contínua de duas
variáveis. Então,
f (x,y) dx = − f (x,y) dx e f (x,y) dy = − f (x,y) dy,
−C C −C C
enquanto
f (x,y) ds = f (x,y) ds.
−C C
(ii) Seja C uma curva de R3 e f (x,y,z) uma função escalar contínua de três variáveis. Então,
f (x,y,z) dx = − f (x,y,z) dx,
−C C
f (x,y,z) dy = − f (x,y,z) dy,
−C C
f (x,y,z) dz = − f (x,y,z) dz,
−C C
enquanto
f (x,y,z) ds = f (x,y,z) ds.
−C C
Nas integrais de linha de campos vetoriais que definimos a seguir consideramos integrais de
linha com respeito a variáveis diferentes combinadas em uma únicas integral:
f (x,y) dx + g(x,y) dy = f (x,y) dx + g(x,y) dy. (5.22)
C C C
Se f e g forem funções contínuas, é possível provar que a integral acima pode ser escrita através de
um único limite, podendo assim ser calculadas em um único passo: se C é parametrizada por r(t),
t ∈ [a,b], então
f (x,y) dx + g(x,y) dy = [ f (x(t), y(t))x0 (t) + g(x(t), y(t))y0 (t)] dt. (5.23)
C C
No Exercício 5.18 abaixo calculamos a integral de linha de um campo vetorial sobre uma curva
suave por partes: se uma curva C pode ser divida em subarcos C1 , . . . ,Cn , onde cada subarco Ck é
uma curva suave, dizemos que C é uma curva suave por partes. Definimos neste caso a integral de
linha sobre C, tanto de uma função escalar como de um campo vetorial, como a soma das integrais
de linha sobre os subarcos:
= + +···+ . (5.24)
C C1 C2 Cn
Exercício 5.18 Calcule a integral de linha y2 dx + x dy, onde C é a união das curvas C1 e C2 ,
C
onde C1 consiste do segmento de reta de (−5, − 3) até (0,2) e C2 consiste do arco da parábola
5.5 Integrais de Linha 155
Aproximamos W3 pelo trabalho realizado por esta força ao longo do segmento em azul destacado
na figura, que possui o mesmo comprimento ∆s3 do arco C3 (em vermelho) e direção tangente a C
no ponto (u3 , v3 ); como a direção tangente neste ponto é dada pelo vetor tangente unitário T(u3 , v3 ),
9A estrada é representada, matematicamente, por uma curva parametrizada de R2 .
156 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
o segmento orientado em azul é dado por ∆s3 T(u3 , v3 ). A aproximação para o trabalho W3 pode ser
−→
então escrita como na Equação (5.25), onde F̃ = F(u3 , v3 ) e PQ = ∆s3 T(u3 , v3 ):
W3 ≈ F(u3 , v3 ) · (∆s3 T(u3 , v3 )) = F(u3 , v3 ) · T(u3 , v3 )∆s3 .
O mesmo procedimento é conduzido em cada subarco Ck . A aproximação para o trabalho total W é
obtida através da soma do trabalho realizado em cada subarco:
n
W≈ ∑ F(uk , vk ) · T(uk , vk )∆sk . (5.26)
k=1
À medida que o procedimento é repetido para valores cada vez maiores de n, a aproximação de
Ck (em vermelho) pelo segmento correspondente (em azul) se torna cada vez menos grosseira; da
mesma maneira, a suposição de que F é constante ao longo deste subarco fornece um erro cada vez
menor. Parece portanto natural apresentar a definição de trabalho como o limite da aproximação
(5.26) quando n se aproxima de infinito:
n
W = lim
n→∞
∑ F(uk , vk ) · T(uk , vk )∆sk .
k=1
Note que o produto escalar entre F e T pode ser escrito como uma função escalar φ (x,y) =
F(x,y) · T(x,y) para cada ponto (x,y) em C, de modo que
n
W = lim ∑ φ (x,y)∆sk .
n→∞
k=1
O limite acima é portanto muito semelhante àquele apresentado na Definição 5.5.1; veja a Equação
(5.20). Segue que o trabalho W como a integral de linha de F · T ao longo de C pode ser escrito
como
W= F · T ds.
C
5.5 Integrais de Linha 157
A integral de linha de um campo vetorial F ao longo de uma curva C é definida como acima.
Mas antes de apresentar esta definição formalmente, vejamos como podemos reescrever (e calcular)
esta integral de linha. Se C é parametrizada por r(t),t ∈ [a,b], então o vetor tangente unitário T é
escrito como
r0 (t)
T(t) = 0 .
kr (t)k
Portanto, pelo Teorema 5.5.3,
r0 (t)
W= F · T ds = F(r(t)) · 0 kr (t)k dt = F(r(t)) · r0 (t) dt.
0
C C kr (t)k C
A integral à direita é frequentemente abreviada como F · dr. Podemos ainda escrever a integral
C
acima da seguinte maneira. Se r(t) = x(t)i + y(t)j e F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j, então
logo
F(r(t)) · r0 (t) = f (x(t),y(t))x0 (t) + g(x(t),y(t))y0 (t).
Segue da Equação (5.21) que
0 0
W= [ f (x(t),y(t))x (t) + g(x(t),y(t))y (t)] dt = f dx + g dy.
C C
Esta representação do trabalho W pode ser interpretada como a soma do trabalho realizado pela
função componente abcissa de F sobre o deslocamento no eixo x com o trabalho realizado pela
função componente ordenada de F sobre o deslocamento no eixo y.
Definição 5.5.3 Seja F um campo vetorial contínuo de Rn e C uma curva suave orientada de
Rn parametrizada por r(t),t ∈ [a,b]. Seja T o vetor tangente unitário a C. A integral de linha de
F sobre C é definida como
b
F · T ds = F(r(t)) · r0 (t) dt = F · dr.
C a C
Teorema 5.5.6 (i) Seja F = f (x,y)i + g(x,y)j um campo vetorial contínuo de R2 e C uma
curva suave orientada de R2 . Então
F · dr = f dx + g dy.
C C
Figura 5.31: Força F Figura 5.32: Força F Figura 5.33: Força F não possui
impulsionamento o desacelerando o deslocamento componente na direção do
deslocamento de uma partícula. de uma partícula. deslocamento de uma partícula.
O cálculo das integrais de linha na Definição 5.5.3 se dá através das integrais na Definição
5.5.2: se F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j e C é uma curva de R2 parametrizada por r(t) = x(t)i + y(t)j,
para t ∈ [a,b], então
b
F · dr = F(r(t)) · r0 (t) dt,
C a
onde
F(x(t),y(t)) = f (x(t),y(t))i + g(x(t),y(t))j.
Exemplo 5.28 Calcule a integral de linha de F(x,y) = xyi + yzj + zxk sobre a curva
C : r(t) = ti + t 2 j + t 3 k, t ∈ [0,1].
Temos 1
F · dr = F(r(t)) · r0 (t) dt,
C 0
F(r(t)) = t · t 2 i + t 2 · t 3 j + t 3 · tk = t 3 i + t 5 j + t 4 k.
Segue que
1 1
t 4 5t 7
[t 3 + 5t 6 ] dt = = 1 + 5 = 27 .
F · dr = +
C 0 4 7
0 4 7 28
Exercício 5.20 Calcule F · dr, onde F(x,y) = −yi + xj e C é a curva orientada dada.
C
(i) C : x2 + y2 = 3, orientada no sentido horário.
(ii) C : x2 + y2 = 3, orientada no sentido anti-horário.
(iii) C : r(t) = ti + 2tj, t ∈ [0,1].
Os itens (i) e (ii) do Exercício 5.20 representam um caso particular do seguinte resultado.
Teorema 5.5.9 Seja F um campo vetorial contínuo de Rn e C uma curva orientada suave de Rn .
Então:
F · T ds = − F · T ds e F · dr = − F · dr.
−C C −C C
As integrais de linha do Exercício 5.21 são todas iguais a 1. Isto ocorre devido ao fato de que
o campo vetorial em questão é conservativo, isto é, F(x,y) = ∇φ (x,y), onde φ (x,y) = xy. Nestes
casos a integral de linha do campo vetorial sobre uma curva lisa é calculada de maneira análoga
àquelas de funções reais f (x) de uma variável real: se F 0 (x) = f (x), então
b
f (x) dx = F(b) − F(a).
a
Teorema 5.6.1 Seja C uma curva lisa por partes de Rn com pontos inicial e final P e Q,
respectivamente. Seja F um campo vetorial conservativo em alguma região aberta D contendo C.
Se φ é função potencial de F, então
F · dr = φ (Q) − φ (P).
C
160 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Em outras palavras:
(i) se P = (x0 , y0 ) e Q = (x1 , y1 ), então
F · dr = φ (x1 , y1 ) − φ (x0 , y0 );
C
Demonstração. Suponha que C é uma curva lisa parametrizada por uma função vetorial11 r(t) =
x(t)i + y(t)j, t ∈ [a,b]. Se F(x,y) = ∇φ (x,y), então F(x,y) = φx (x,y)i + φy (x,y)j. Logo,
b b
F(x,y) · dr = φx dx + φy dy dt = φx (x(t),y(t))x0 (t) + φy (x(t),y(t))y0 (t) dt.
C a a
onde
φ (x(b),y(b)) = φ (r(b)) = (x1 , y1 ) e φ (x(a),y(a)) = φ (r(a)) = (x0 , y0 ),
como gostaríamos.
O Teorema 5.6.1 pode ainda ser escrito da seguinte maneira: no caso bidimensional temos
∇φ (x,y) · dr = φ (x1 , y1 ) − φ (x0 , y0 ),
C
enquanto em R3 ,
∇φ (x,y) · dr = φ (x1 , y1 , z1 ) − φ (x0 , y0 , z0 ).
C
As integrais de linha do Teorema 5.6.2 são ditas independentes de caminho, conforme definido a
seguir. Veja a Figura 5.34. Na definição abaixo consideramos regiões conexas de Rn : uma região
D ⊆ Rn é dita conexa se, dados quaisquer pontos P,Q ∈ D, existe uma curva lisa por partes que
conecta P a Q.
n n
vetorial de R definido em uma região conexa D ⊆ R .
Definição 5.6.1 Seja F um campo
Dizemos que a integral de linha F · dr é independente de caminho se
C
F · dr = F · dr
C1 C2
para todo par de curvas C1 ,C2 lisas por partes contidas em D tais que seus pontos iniciais e
11 O caso em que C é uma curva lisa por partes é obtido através do mesmo argumento e a Equação 5.24. O caso
finais coincidem.
Figura 5.34: Curvas C1 ,C2 ,C3 com mesmos pontos inicial e final.
Exercício 5.22 Calcule as integrais de linha do Exercício 5.21 usando o Teorema 5.6.1.
Exercício 5.23 Em cada um dos casos abaixo, encontre uma função real φ (x,y) tal que ∇φ = F
e calcule a integral de linha de F sobre a curva indicada.
(i) F(x,y) = x2 i + y2 j e C o arco da parábola y = 2x2 de (−1,2) a (2,8).
(ii) F(x,y) = yzi + xzj + (xy + 2z)k e C é o segmento de (1,0, − 2) a (4,6,3).
Com o teorema abaixo podemos dizer, num certo sentido, que a recíproca também é verdadeira.
Teorema 5.6.2 Seja D ⊆ Rn uma região conexa. Então as seguintes afirmações são equivalentes
(todas verdadeiras ou todas falsas).
(i) F
é campo vetorial conservativo na região D.
(ii) F · dr = 0 para toda curva C fechada lista por partes contida em D.
C
162 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
(iii) A integral de linha F · dr é independente de caminho.
C
É possível provar que ∇φ = F, isto é, F é campo vetorial conservativo com função potencial φ .
Não daremos detalhes desta demonstração aqui, mas o leitor pode encontrá-los na Seção 15.3 do
livro Cálculo Volume 2, Anton, Bivens e Davis.
Teorema 5.6.3 Sejam f (x,y) e g(x,y) funções com derivadas parciais de primeira ordem con-
tínuas em uma alguma região aberta D ⊆ R2 . Se o campo vetorial F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j é
conservativo em D então, para todo (x,y) ∈ D,
∂f ∂g
= .
∂y ∂x
Reciprocamente, se D é região simplesmente conexa e a igualdade acima vale em todo ponto
(x,y) ∈ D, então F(x,y) = f (x,y)i + g(x,y)j é um campo vetorial conservativo.
Teorema 5.6.4 Sejam f (x,y,z), g(x,y,z) e h(x,y,z) funções com derivadas parciais de primeira
ordem contínuas em uma alguma região aberta D ⊆ R3 . Se o campo vetorial F(x,y,z) = f (x,y,z)i+
g(x,y,z)j + h(x,y,z)k é conservativo em D então, para todo (x,y,z) ∈ D,
∂f ∂g ∂f ∂h ∂g ∂h
= , = e = .
∂y ∂x ∂z ∂x ∂z ∂y
Reciprocamente, se D é região simplesmente conexa e as igualdades acima valem em todo ponto
(x,y,z) ∈ D, então F(x,y,z) = f (x,y,z)i + g(x,y,z)j + h(x,y,z)k é um campo vetorial conservativo.
Exercício 5.24 Use o Teorema 5.6.3 para determinar se o campo vetorial abaixo é conservativo:
Exercício 5.25 Use o Teorema 5.6.3 para determinar se o campo vetorial abaixo é conservativo:
é conservativo (Exercício 5.25), encontre a função φ (x,y) tal que F = ∇φ e calcule a integral
F · dr, onde C é a curva
C
Teorema 5.7.1 Seja R uma região plana simplesmente conexa cuja fronteira é uma curva C
fechada, simples e lisa por partes. Suponha que C é orientada no sentido anti-horário (sentido
trigonométrico). Sejam f (x,y) e g(x,y) funções contínuas com derivadas parciais de primeira
ordem contínuas em um conjunto aberto contendo R. Então,
∂g ∂ f
f (x,y) dx + g(x,y) dy = − dA.
C R ∂x ∂y
Segue do Teorema de Green que é possível calcular este trabalho através de uma integral dupla
sobre a região R que C delimita. O que é curioso é que o trabalho depende da ação do campo
vetorial nos pontos da trajetória da partícula; a integral de linha percorre toda a trajetória e computa
a contribuição de F · T ds ao longo da trajetória, conforme indicado nas Figuras 5.31, 5.32 e 5.33.
O que o Teorema de Green fornece é uma maneira de calcular este trabalho através de uma integral
dupla: é percorrida
h a região i R que a curva delimita e o trabalho é calculado como a soma das
∂g ∂f
contribuições de ∂ x − ∂ y dA ao longo da região, semelhante ao processo que apresenta o volume
de um sólido como uma integral dupla.
No exemplo abaixo calculamos uma integral de linha ao longo de uma curva fechada que
representa o trabalho W do campo vetorial F(x,y) = x2 yi + xj ao longo da curva dada.
Exemplo 5.29 Calcule a integral de linha x2 y dx + x dy ao longo do triângulo C com vértices
C
(0,0), (1,0), e (1,2) com orientação definida pela ordem dada dos vértices.
A integral de linha do enunciado pode ser identificada com aquela no enunciado do Teorema de
Green:
x2 y dx + x dy = f (x,y) dx + g(x,y) dy,
C C
onde f (x,y) = x2 y e g(x,y) = x. Estas funções satisfazem as hipóteses do Teorema 5.7.1, assim
como o triângulo do enunciado. Segue do Teorema 5.7.1 que
2 ∂g ∂ f
1 − x2 dA.
x y dx + x dy = − dA =
C R ∂x ∂y R
R = {(x,y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 2x}.
Logo,
1 2x 1
1 y=2x
2 2 2
2x − 2x3 dx.
x y dx + x dy = 1−x dy dx = y−x y dx =
C 0 0 0 y=0 0
12 Lembre que temos a garantia que esta integral é nula apenas no caso em que F é campo vetorial conservativo
(Teorema 5.6.2).
5.7 Teorema de Green 165
Segue que
x4 x=1
1 1
x2 y dx + x dy = x2 − = 1− = .
C 2
x=0 2 2
Note que a integral dupla utilizada acima na resolução do Exemplo 5.29 não leva em conta
a orientação da curva: regiões planas não possuem orientação. E se considerássemos a curva C1
com orientação contrária? O resultado da integral seria diferente, conforme enunciado no Teorema
5.5.9. O cuidado que devemos tomar é com a seguinte hipótese do Teorema de Green (Teorema
5.7.1): podemos aplicar diretamente o Teorema de Green apenas a curvas orientadas no sentido
anti-horário.
Exemplo 5.30 Calcule a integral de linha x2 y dx + x dy ao longo do triângulo C1 com vértices
C1
(0,0), (1,0), e (1,2) com orientação oposta àquela definida pela ordem dada dos vértices.
Esta integral de linha é igual àquela calculada no Exemplo 5.29, porém a curva possui orientação
horária. O Teorema de Green pode ainda ser utilizado, mas o resultado da integral deve ser
multiplicado por −1:
x2 y dx + x dy = − 1 − x2 dA,
C1 R
onde R é a região plana delimitada pelo triângulo C1 . Este triângulo coincide com aquele conside-
rado no Exemplo 5.29, logo
1
x2 y dx + x dy = − .
C1 6
Obs 5.7.2 É importante notar que nos Exemplos 5.29 e 5.30 o cálculo direto das respectivas
integrais de linha pelas Equações (5.24) e (5.21) deve ser feito em três partes, parametrizando três
curvas suaves diferentes. O Teorema de Green fornece uma método mais rápido para o a resolução,
pois a região delimitada pelo triângulo é facilmente descrita em uma integral dupla.
166 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
Exercício 5.27 Calcule o trabalho do campo vetorial F(x,y) = xi + (x3 + 3xy2 )j ao longo da
curva C dada pela trajetória de uma partícula que inicia seu deslocamento no ponto (−2,0),
√ ao ponto (2,0) em linha reta e retorna ao ponto inicial através do gráfico da função
chega
y = 4 − x2 .
Vejamos agora uma outra aplicação do Teorema de Green: o cálculo de áreas. Nos Exemplos
5.29 e 5.30 tínhamos em mãos o trabalho que deveria ser calculado como uma integral de linha
e, através do Teorema de Green, podemos calculá-lo como uma integral dupla. Temos agora a
situação oposta: a área de uma região plana é calculada, a princípio, por uma integral dupla; o
Teorema de Green nos permite realizar este cálculo através de uma integral de linha.
Pense na seguinte situação. Para determinar a área de um pasto retangular, grosseiramente
falando, um fazendeiro pode cobrir a área do pasto com azulejos de 1m2 : o número total de azulejos
será igual a área do pasto. Alternativamente, ele pode percorrer a cerca que delimita o pasto, se
certificando de que é de fato um retângulo e anotando suas medidas; o produto delas fornecerá a
área. O Teorema de Green fornece esta alternativa: ao invés de percorrer a região inteira do pasto
para calcular a sua área (integral dupla), podemos resolver o problema ao simplesmente percorrer a
cerca que o delimita (integral de linha).
Vejamos mais precisamente como realizar o cálculo da área A(R) de uma região plana R do
plano cartesiano através de uma integral de linha. Podemos escrever A(R) como13
A(R) = 1 dA.
R
Temos esta integral dupla no enunciado do Teorema de Green no caso em que f (x,y) = 0 e
g(x,y) = x:
∂g ∂ f
f (x,y) = 0 e g(x,y) = x =⇒ − dA = 1 dA = A(R). (5.29)
R ∂x ∂y R
Provamos acima que a área de uma região plana R pode ser calculada como uma integral de linha
ao longo de sua fronteira C:
1
A(R) = x dy = − y dx = x dy − y dx. (5.31)
C C 2 C
Para calcular a área de uma região qualquer uma das três integrais de linha acima pode ser utilizada.
x2 y2
Exercício 5.28 Calcule a área delimitada pela elipse 2 + 2 = 1.
a b
As regiões R1 e R2 são regiões simplesmente conexas, onde podemos aplicar o Teorema de Green
diretamente:
∂g ∂ f
− dA = f (x,y) dx + g(x,y) dy,
R1 ∂ x ∂y ∂ R1
e
∂g ∂ f
− dA = f (x,y) dx + g(x,y) dy,
R2 ∂ x ∂y ∂ R2
Note que temos acima as integrais de linha ao longo de cada corte com orientações opostas. A
soma destes pares de integrais de linha é zero, logo, se C1 representa a a fronteira externa de R com
orientação positiva e C2 representa a fronteira interna com orientação negativa, temos
dA = f (x,y) dx + g(x,y) dy + f (x,y) dx + g(x,y) dy.
R C1 C2
Uma extensão deste resultado pode ser obtida para regiões com dois ou mais buracos.
5.8 Problemas
Problema 5.1 Complete os espaços em branco abaixo com uma descrição da equação, indicando
em que situação pode ser usada.
b
(a) : f (x,y) ds = f (x(t), y(t))kr0 (t)k dt.
C a
168 Capítulo 5. Funções e Campos Vetoriais e Integrais de Linha
C1
R1
R
C2
R2
b
(b) : F · T ds = F(r(t)) · r0 (t) dt = F · dr.
C a C
(c) : F · dr = φ (Q) − φ (P).
C
∂g ∂ f
(d) : f (x,y) dx + g(x,y) dy = − dA.
C R ∂x ∂y
Problema 5.2 Indique em cada um dos itens abaixo se cada uma das equações (a) - (d) acima
pode ser usada ou não para o cálculo pedido, justificando.
(i) Calcule a integral de linha do√campo vetorial F(x,y) = 3yi + 3xj ao longo da curva C dada
pela semi-circunferência y = 1 − x2 munida de orientação anti-horária.
(ii) Calcule a integral de linha da função f (x,y,z) = xy + z3 sobre a curva C parametrizada por
r(t) = costi + sentj + tk, t ∈ [0,π].
(iii) Calcule a integral de linha do campo vetorial F(x,y) = cos xi + sen xk ao longo da curva C
parametrizada por r(t) = ti + t 2 j + t 3 k, t ∈ [0,1].
(iv) Calcule a integral de linha do campo vetorial F(x,y) = ey i + xey j ao longo do triângulo de
vértices (0,0), (2,0) e (2,5) com orientação anti-horária.
Problema 5.3 Calcule as integrais do Problema 5.2.
Problema 5.4 Considere o campo vetorial F e a curva orientada C da Figura 5.38. Determine por
inspeção se a integral de linha
F · dr = F · T ds.
C C
é positiva, negativa ou nula. Justifique.
5.8 Problemas 169
Em uma função
r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k,
conforme discutido no Exemplo 6.1, se fixarmos u = u0 obtemos v como a única variável na
Equação (6.1), que descreve agora uma curva:
r̃(v) = r(u0 ,v) = x(u0 ,v)i + y(u0 ,v)j + z(u0 ,v)k
= x̃(v)i + ỹ(v)j + z̃(v)k.
172 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
Veja a Figura 6.2. Conforme variamos o valor de u0 , a curva correspondente de R3 (em laranja
na Figura 6.2) se desloca, de modo que a união destas curvas forma uma superfície S de R3 .
Analogamente, a superfície S pode ser descrita como a união de todas as curvas definidas por
v = v0 :
Definição 6.1.1 Seja r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k uma função vetorial de R3 definida
em um conjunto D do plano uv. O conjunto de pontos (x,y,z) ∈ R3 tais que
para algum (u0 ,v0 ) ∈ D é dito uma superfície parametrizada de R3 . As equações x = x(u,v),
y = y(u,v) e z = z(u,v) são ditas as equações paramétricas de S.
Definição 6.1.2 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfície para-
metrizada de R3 . A curva Cu=u0 dada por
para (u0 ,v) ∈ D, é dita a curva de u constante u = u0 . A curva Cv=v0 dada por
Obs 6.1.1 O gráfico de uma função z = f (x,y) pode ser escrito como uma superfície parametrizada
através das seguintes equações, para (u,v) ∈ Dom f :
x = u, y=v e z = f (u,v)
x = r cos θ , y = r sen θ .
x = r cos θ , y = r sen θ e z = 3 − r2 ,
x = v cos u, y = v sen u e z = 3 − v2 .
Estas equações fornecem uma outra parametrização para o paraboloide da Equação (6.2).
Note que as curvas dadas por u = u0 e v = v0 são distintas daquelas fornecidas pela parametri-
zação em coordenadas cartesianas. Na parametrização acima, u = u0 corresponde a θ = u0 : isto
define um plano vertical que forma um ângulo θ com o plano xz e a curva correspondente é dada
pela interseção deste plano com a superfície. Já a equação v = v0 corresponde agora a r = v0 :
fixamos assim a distância v0 à origem no plano xy e obtemos curvas de v constante como círculos
com centro no eixo z.
174 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
com ρ ≥ 0, θ ∈ [0, 2π] e φ ∈ [0, π]. É possível descrever uma esfera com este sistema de coorde-
nadas ao fixar ρ = a > 0: obtemos uma esfera de raio a e centro na origem com parametrização
r(θ , φ ) com equações paramétricas
isto é, x2 + y2 + z2 = a2 . Isto prova que as equações dadas fornecem pontos contidos na esfera de
centro (0,0,0) e raio a.
Superfícies de revolução.
Considere a superfície S obtida pela revolução de uma curva y = f (x), x ∈ [a,b], em torno do eixo
x. É possível prova que S é parametrizada por
x = u, y = f (u) cos v e z = f (u) sen v, (u,v) ∈ [a,b] × [0,2π]. (6.3)
Veja a Figura 6.6.
176 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
Exemplo 6.5 Obtenha uma parametrização da superfície S obtida através da revolução da reta
em relação a u estamos mantendo variável v = v0 fixa e considerando apenas u como uma variável.
Este procedimento define a curva Cv=v0 de v constante v = v0 , parametrizada por r̂(u) = r(u,v0 ).
A derivada parcial ru (u0 ,v0 ) coincide com a derivada da função r̂(u); segue do conteúdo visto na
Seção 5.2 que a derivada parcial ru (u0 ,v0 ) fornece o vetor tangente à curva de v constante v = v0
no ponto (u0 ,v0 ). Analogamente, a derivada parcial rv (u0 ,v0 ) fornece o vetor tangente à curva de
u constante u = u0 no ponto (u0 ,v0 ). Veja a Figura 6.8.
x = u, y=v e z = f (u,v),
temos pelas Equações (6.5) que as derivadas parciais da parametrização satisfazem ru = (1,0, fu ) e
rv = (0,1, fv ). Usando x e y como parâmetros na notação obtemos
rx = (1,0, fx ) e ry = (0,1, fy ).
Este vetores indicam a inclinação da reta tangente ao gráfico da função z = f (x,y) nas direções do
eixos x e y, conforme estudado no cálculo de funções reais. Veja a Figura 6.9.
Exemplo 6.6 Calcule os vetores ru e rv no ponto (u,v) = π4 , π2 no caso da superfície parametri-
zada do Exemplo 6.3.
Temos
r(u,v) = a sen v cos ui + a sen v sen uj + a cos vk,
logo
ru (u,v) = −a sen v sen ui + a sen v cos uj + 0k,
rv (u,v) = a cos v cos ui + a cos v sen uj − a sen vk.
Segue que
√ √
= −a 22 i + a 22 j + 0k,
π π
ru 4, 2
π π
rv 4, 2 = 0i + 0j − ak.
6.1 Superfícies Parametrizadas 179
(a,b,c) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0.
isto é,
ax + by + cz = d,
onde d é um número real que depende de a, b, c, x0 , y0 e z0 . A fim de seguir este raciocínio para
definir o plano tangente a uma superfície parametrizada em um ponto P0 = r(u0 ,v0 ), observamos
que o ponto P0 = (x0 , y0 , z0 ) é um ponto conhecido do plano; resta apenas definir o que seria, neste
caso, o vetor normal ao plano tangente a uma superfície parametrizada em um ponto P0 .
Observe a Figura 6.11, onde temos esboçado o plano tangente (em azul claro) à superfície no
ponto P0 (em roxo). Na figura temos destacadas em laranja e verde as curvas definidas respectiva-
mente por v = v0 e u = u0 . Os vetores ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ) estão destacados na mesma cor em que
o plano tangente está esboçado, uma vez que estes vetores são paralelos ao plano tangente. Segue
que um vetor n normal a ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ) será normal ao plano tangente também. Sabemos dos
conceitos de Geometria Analítica que o produto vetorial ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é simultaneamente
ortogonal aos vetores ru (u0 ,v0 ) e rv (u0 ,v0 ). Isto motiva a definição a seguir.
Obs 6.1.2 O raciocínio acima se aplica apenas a pontos onde o produto vetorial ru × rv é não nulo.
Superfícies paramétricas S : ru × rv que possuem derivadas parciais contínuas e tais que ru × rv 6= 0
180 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
são ditas superfícies paramétricas lisas ou suaves; tais superfícies possuem plano tangente bem
definido em todo ponto (u,v) do seu domínio de parametrização.
Definição 6.1.3 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k uma superfície parametrizada e
P0 = r(u0 ,v0 ) = (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto qualquer de S. Se ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) 6= 0, definimos o
plano tangente a S em P0 como o plano que contém o ponto P0 e é normal ao vetor
i j k
ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) = xu yu zu .
xv yv zv
Cabe ressaltar que, tipicamente, ao calcular a equação do plano tangente a uma superfície
S : r(u,v) em um certo ponto, calculamos primeiramente o produto vetorial ru (u0 ,v0 ) e em seguida,
já utilizando os valores numéricos de (x0 ,y0 ,z0 ), calculamos o produtor escalar na Definição 6.1.3.
Exemplo 6.7 Calcule a equação do plano tangente à superfície do Exemplo 6.3 no ponto
P0 = r π4 , π2 .
Vimos no Exemplo 6.6 que
√ √
= −a 22 i + a 22 j + 0k,
π π
ru 4, 2
π π
rv 4, 2 = 0i + 0j − ak.
6.2 Áreas e Integrais de Superfície 181
isto é, √ √ √ √
22 a3 2 2 a3 2 2 2 2
−a x+ −a y + = 0 ⇐⇒ a x+a y − a3 = 0.
2 2 2 2 2 2
√ √
Multiplicando a equação acima por 2/a2 obtemos a equação x + y = a 2.
Como o vetor ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é normal ao plano tangente à superfície S : r(u,v) em
P0 = r(u0 ,v0 ), dizemos que ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) é normal à superfície S neste ponto. No entanto,
reservamos daqui em diante a notação n para o vetor normal unitário principal, definido a seguir.
Definição 6.1.4 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k uma superfície parametrizada e
P0 = r(u0 ,v0 ) = (x0 ,y0 ,z0 ) um ponto qualquer de S. Se ru (u0 ,v0 ) × rv (u0 ,v0 ) 6= 0, definimos o
vetor normal unitário principal à superfície S em P0 como o vetor
ru × rv
n = n(u,v) = .
kru × rv k
Obs 6.1.3 No cálculo da equação do plano tangente podemos utilizar qualquer vetor normal à
superfície, não necessariamente o vetor normal unitário principal.
dos retângulos Rk define uma região Sk em S. Temos dessa maneira que a área A(S) de S é igual a
soma A(Sk ) das áreas dessas regiões:
n
A(S) = ∑ A(Sk ).
k=1
Figura 6.13: Paralelogramo de área kru ∆u × rv ∆vk como aproximação para a área de Sk .
A área de Sk é aproximada pela área do paralelogramo definido pelo vetores ru (uk ,vk )∆u e
rv (uk ,vk )∆v; veja a Figura 6.13. Note que este paralelogramo está contido no plano tangente à
superfície no ponto r(uk ,vk ). A área deste paralelogramo é dada pela norma do produto vetorial
6.2 Áreas e Integrais de Superfície 183
O produto ∆u∆v representa a área de um dos retângulos da Figura 6.13 que, por construção, possuem
a mesma área. Denotando ∆A = ∆u∆v temos
n
A(S) ≈ ∑ kru × rv k∆A.
k=1
Quando o número n de retângulos se torna cada vez maior e a área dos retângulos Rk se aproxima
de zero e o erro cometido pela aproximação na Figura 6.13 se torna cada vez menor. É razoável
portanto escrever a área de superfície de S como
n
A(S) = lim
n→∞
∑ kru × rv k∆A.
k=1
Note que o somatório acima é análogo àquele que define uma integral dupla: a norma kru × rv k
do produto vetorial acima é um número real que depende do ponto (u,v) escolhido em D, logo, ao
denotar f (u,v) = kru × rv k, obtemos
n
A(S) = lim ∑ f (u,v)∆A = f (u,v) dA = kru × rv k dA.
n→∞ D D
k=1
Apresentamos a seguir a definição de área de superfície para superfícies paramétricas suaves, isto
é, superfícies S munidas de uma parametrização r(u,v) tal que ru e rv são contínuas e ru × rv 6= 0
para todo (u,v) ∈ D.
Definição 6.2.1 Seja S : r(u,v), (u,v) ∈ D, uma superfície paramétrica suave. Suponha que
r(u,v) é injetiva no interior de D. Definimos a área de superfície de S como
A(S) = kru × rv k dA,
D
Exemplo 6.8 Calcule a área de superfície da esfera de raio a > 0 parametrizada por
Temos
A(S) = kru × rv k dA,
D
onde
ru (u,v) = −a sen v sen ui + a sen v cos uj + 0k,
rv (u,v) = a cos v cos ui + a cos v sen uj − a sen vk.
Logo,
i j k
ru × rv = −a sen v sen u a sen v cos u 0 ,
a cos v cos u a cos v sen u a sen v
184 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
isto é,
ru × rv = a2 sen2 v cos ui + a2 sen2 v sen uj + (−a2 sen v cos v sen2 u − a2 sen v cos v cos2 u)k
Segue que
ru × rv = a2 sen2 v cos ui + a2 sen2 v sen uj − a2 sen v cos vk
logo,
1/2
kru × rv k = a4 sen4 v cos2 u + a4 sen4 v sen2 u + a4 sen2 v cos2 v .
Usando sucessivamente
√ a identidade trigonométrica fundamental cos2 θ + sen2 θ = 1 obtemos
4 2
kru × rv k = a sen v. Como v ∈ [0,π] temos
1/2
kru × rv k = a4 sen2 v = a2 sen v.
Logo,
2π π 2π
v=π 2π
2 2
2a2 du,
A(S) = a sen v dv du = −a cos v
du =
0 0 0 v=0 0
onde
ru (u,v) = 1i + 0j + 2uk,
rv (u,v) = 0i + 1j + 2vk,
logo,
i j k
ru × rv = 1 0 2u = −2ui − 2vj + 1k.
0 1 2v
Segue que p
kru × rv k = 4u2 + 4v2 + 1,
e portanto, p
A(S) = 4u2 + 4v2 + 1 dA,
D
onde o elemento de área dA é um elemento de área do plano uv: escrevemos na integral dupla
iterada du dv ou dv du. Como o domínio D de integração é um círculo do plano uv, utilizaremos
coordenadas polares:
D = {(r, θ ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 3, 0 ≤ θ ≤ 2π}.
6.2 Áreas e Integrais de Superfície 185
É importante observar que ao usar coordenadas polares estamos realizando uma mudança de
coordenadas na integral acima, escrita originalmente nas variáveis u e v, logo devemos incluir o
Jacobiano da mudança de coordenadas no cálculo:
2π 3 p
A(S) = 4r2 + 1r dr dθ .
0 0
z
S
y
D
x
Figura 6.14: Superfície do Exemplo 6.9.
Integrais de superfície.
Considere agora uma lâmina disposta no espaço de acordo com uma superfície paramétrica suave
S : r(u,v), (u,v) ∈ D, e suponha que o material que a compõe não é uniforme: a lâmina possui uma
densidade pontual de massa dada por uma função escalar f (x,y,z), (x,y,z) ∈ S. Deduziremos nesta
seção uma expressão para a massa M desta lâmina através de uma integral dupla.
Podemos calcular a massa M desta lâmina a partir de sua densidade pontual de massa de maneira
análoga ao cálculo de área de superfícies visto acima. Particionamos o domínio D de maneira
análoga em retângulos Rk , k = 1, . . . , n, e consideramos as regiões correspondentes Sk , k = 1, . . . , n;
veja a Figura 6.12. Se as regiões Sk são muito pequenas e (ak , bk , ck ) é um ponto qualquer da
região Sk , esperamos que não seja grande o erro que cometemos ao supor que a densidade de massa
sobre Sk é constante e igual a f (ak , bk , ck ). Se ∆Sk representa a área da região Sk , então podemos
aproximar a massa Mk da região Sk da lâmina por
Mk ≈ f (ak , bk , ck )∆Sk .
É razoável esperar que o erro nas aproximações acima se aproximam de zero à medida que n se
aproxima de infinito e a área das regiões Rk se aproximam de zero. Escrevemos então
n
M = lim ∑ f (ak , bk , ck )∆Sk .
n→∞
k=1
caso o limite exista e seja independente da partição de D e da escolha dos pontos (ak , bk , ck ).
isto é,
dS = A(S).
S
O teorema abaixo fornece um método para o cálculo de integrais de superfície.
Teorema 6.2.1 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfície paramé-
trica suave. Então a integral de superfície de f (x,y,z) sobre S satisfaz
f (x,y,z) dS = f (x(u,v), y(u,v), z(u,v))kru × rv k dA.
S D
Não apresentaremos a demonstração deste resultado, mas obtemos uma intuição por trás dele
da seguinte maneira: a integral de superfície de f (x,y,z) sobre S é definida como
n
f (x,y,z) dS = lim ∑ f (ak , bk , ck )∆Sk ,
S n→∞
k=1
S
f (x,y,z) dS = lim
n→∞
∑ f (ak , bk , ck )kru × rv k∆A.
k=1
O ponto (ak , bk , ck ) foi escolhido como um ponto qualquer da superfície S, logo existe (uk , vk ) tal
que (ak , bk , ck ) = r(uk , vk ). Portanto,
n
S
f (x,y,z) dS = lim
n→∞
∑ f (x(uk , vk ), y(uk , vk ), z(uk , vk ))kru × rv k∆A.
k=1
Segue que
2
x dS = (sen v cos u)2 kru × rv k dA,
S D
onde, pelo Exemplo 6.8, kru × rv k = sen v. Segue que
2π π
2 3 2
x dS = sen v cos u dA = sen3 v cos2 u dv du.
S D 0 0
Note que a integral acima, assim como aquela no Teorema 6.2.1, é escrita originalmente nas
variáveis u e v. Como não estamos realizando uma mudança de coordenadas ao escrever a integral
acima, não é necessário usar o Jacobiano.
Como sen3 v = sen2 v · sen v = (1 − cos2 v) sen v, a mudança de variáveis w = cos v =⇒ dw =
− sen v dv fornece
2π
cos3 v v=π 1 2π
2 2 1
x dS = − cos u · cos v − du = cos2 u du.
S 0 4 3
v=0 3 0
Exercício 6.6 Calcule a integral de superfície de f (x,y,z) = xy sobre a superfície definida pela
região triangular de vértices (1,0,0), (0,2,0) e (0,0,2).
clara para avaliar o fluxo através do plano xy: o volume de fluido que atravessa o plano de cima
para baixo será considerado um fluxo positivo, e o volume de fluido que atravessar o plano no
sentido contrário representará um fluxo negativo. Entretanto, algumas superfícies não possuem dois
lados: a faixa de Mobius, logotipo do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), ilustrada
na Figura 6.15, possui apenas um lado. Em outras palavras, um inseto pode caminhar ao longo da
superfície e alcançar ambos os lados sem atravessar a superfície ou uma de suas arestas1 .
A ideia de superfície orientada por ser formalizada da seguinte maneira: uma superfície S é dita
orientada se é possível fazer uma escolha de vetor normal n tal que n varia continuamente sobre S;
a escolha de n é dita a orientação de S. No caso do plano xy, podemos considerar n = (0,0,1) para
todo ponto do plano xy; no caso de uma esfera centrada na origem, podemos considerar n como o
vetor unitário que aponta na direção da origem (ou na direção oposta à da origem). Em ambos os
caso n varia continuamente na superfície, definindo uma orientação para as respectivas superfícies.
No Teorema 6.3.1 e na Definição 6.3.1 a seguir temos uma ideia mais precisa de orientação de uma
superfície parametrizada.
Teorema 6.3.1 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfície paramé-
trica suave. Então a função
ru × rv
n(u,v) =
kru × rv k
é contínua sobre S. Em particular, a escolha n = n(u,v) acima define uma orientação para S.
Definição 6.3.1 Seja S : r(u,v) = x(u,v)i + y(u,v)j + z(u,v)k, (u,v) ∈ D, uma superfície para-
métrica suave. A orientação
ru × rv
n(u,v) =
kru × rv k
é dita a orientação positiva de S, enquanto a escolha −n(u,v) é dita a orientação negativa de S.
logo,
i j k
ru × rv = − sen u 0 cos u
= − cos ui + 0j − sen uk.
0 1 0
O vetor cos ui + sen uk é o vetor que aponta da origem para o ponto correspondente do plano xz,
logo o produto vetorial acima define um vetor que, com origem na superfície do cilindro, aponta no
sentido contrário. Segue que a orientação positiva do cilindro parametrizado acima é aquela com
vetores normais apontando para dentro da superfície.
Integrais de Fluxo.
Seja S uma superfície com vetor normal unitário n sendo atravessada por um fluido com densidade
pontual de massa ρ(x,y,z) e campo de velocidades v(x,y,z). Veremos agora como expressar através
de uma integral de superfície o fluxo Φ de massa do fluido através de S por unidade de tempo.
Em cada ponto da superfície S devemos decompor o vetor velocidade v do fluido em uma com-
ponente normal e uma componente tangencial à superfície S, como na Figura 6.16: a componente
normal, a projeção projn v de v sobre n, define o fluxo através da superfície neste ponto. Como n é
unitário, o produto escalar v · n fornece a componente de v na direção de n, isto é, v · n representa
a componente da velocidade do fluido que está de fato atravessando a superfície, e não correndo
paralelamente a ela.
Estimar o fluxo de massa através de uma superfície de geometria complexa é uma tarefa difícil.
Dividimos a superfície de S em pedaços Sk de área muito pequena ∆Sk , como na Figura 6.12, a
fim de obter uma aproximação para Φ através da soma do fluxo por cada pedaço Sk . À medida
que consideramos pedaços Sk de área cada vez menor, podemos aproximar a geometria de Sk pela
de um plano com vetor normal n. Supondo que v é constante sobre toda a superfície Sk podemos
aproximar a massa de fluido atravessando Sk na direção do vetor normal pelo produto
isto é,
ρ · (v · n) · ∆Sk .
Somando a fluxo de massa por cada pedaço Sk da superfície temos a seguinte aproximação para o
fluxo total Φ:
n
Φ≈ ∑ ρv · n∆Sk .
k=1
190 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
Faz sentido supor que as aproximações acima se tornam cada vez mais precisas no limite quando
n se aproxima de infinito. Podemos assim escrever o fluxo Φ de fluido através S por unidade de
tempo como
n
Φ = lim
n→∞
∑ ρv · n∆Sk .
k=1
Note que ρv · n é uma função escalar, como na Definição 6.2.2: em cada ponto (x,y,z) temos um
vetor normal n e uma velocidade v diferentes tais que ρv · n é um escalar f (x,y,z) que depende do
ponto (x,y,z). Podemos portanto escrever, de acordo com a Definição 6.2.2,
Φ= ρv · n dS.
S
A equação acima fornece o fluxo de um fluido através de uma superfície como a integral de
superfície de F · n sobre S, onde F = ρv. Integrais deste tipo serão ditas integrais de fluxo de F
sobre S.
Definição 6.3.2 Seja F um campo vetorial contínuo definido sobre uma superfície S uma
superfície orientada com vetor normal unitário n. Definimos a integral de fluxo (ou de superfície)
de F sobre S como
F · dS = F · n dS.
S S
e fica subentendido que o lado direito da equação está escrito em termos de u e v. Segue da
expressão da Definição 6.3.1 para n que
ru × rv
F · nkru × rv k = F · kru × rv k = F · (ru × rv ).
kru × rv k
Teorema 6.3.2 Seja S : r(u,v), (u,v) ∈ D, uma superfície orientada suave e seja n o vetor normal
unitário que define sua orientação positiva. Se F é um campo vetorial com funções componente
contínuas em S então
F · n dS = F · (ru × rv ) dA,
S D
onde o lado direito é escrito em função de u e v.
6.3 Superfícies Orientadas e Integrais de Fluxo 191
Obs 6.3.3 A orientação negativa de uma superfície S é dada por −n, onde n define sua orientação
positiva. A integral de fluxo Φ de F através S com orientação negativa é dada por
Φ= F · (−n) dS = − F · n dS = −Φ0 ,
S S
x = u, y = v, z = f (x,y) = 1 − u − v, (u,v) ∈ D,
D = {(u,v) ∈ R2 : 0 ≤ u ≤ 1, 0 ≤ v ≤ 1 − u}.
Temos
F · n dS = F · (ru × rv ) dA,
S D
onde
i j k
ru × rv = 1 0 −1 = i + j + k.
0 1 −1
Note que o vetor normal acima coincide com a orientação pedida (para cima).
Escrevemos o campo vetorial F(x,y,z) usando as expressões para x,y,z da parametrização da
superfície:
logo,
Segue que
1 1−u 1 v=1−u
v2
F · n dS = [1 − u − v] dv du = (1 − u)v − dv du
S 0 0 0 2
v=0
isto é,
1
(1 − u)2 1 1
2
F · n dS = (1 − u) − du = (1 − u)2 du.
S 0 2 2 0
Fazendo a substituição w = 1 − u =⇒ dw = −du obtemos
u=1
1 3
1
F · n dS = − (1 − u) = .
S 6 u=0 6
192 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
2 Alternativamente, podemos considerar o vetor ru × rv original e multiplicar o resultado da integral de fluxo por −1.
6.4 Teorema da Divergência de Gauss 193
Vejamos agora que o cálculo do Teorema 6.2.1 podem ser simplificados em alguns casos. Seja
S uma superfície definida por uma equação da forma z = g(x,y), y = g(x,z) ou x = g(y,z); em todo
caso podemos subtratir a função g de ambos os lados da equação e escrever a equação que define S
como G(x,y,z) = 0. É possível provar que o vetor gradiente ∇G é normal à superfície, logo
∇G
n=
k∇Gk
é vetor normal unitário e define uma orientação para S. Note agora que, se S é dada por z = g(x,y)
e é parametrizada por
x = u, y = v, z = g(u,v),
então
ru (u,v) = i + 0j + gu (u,v)k,
e
ru (u,v) = 0i + j + gv (u,v)k.
Portanto,
i j k
ru × rv = 1 0 gu = −gu i − gv j + k = ∇G.
0 1 gv
É possível provar que a equação acima também pode ser obtida nos casos x = g(y,z) e y = g(x,z).
onde a orientação é dada pelo sentido positivo do eixo definido pela variável independente nas
Equações (6.7).
a Planos xy, yz ou xz, respectivamente.
pedaços suaves, como uma caixa. Uma superfície S é dita uma superfície lisa por partes se S pode
ser escrita como uma união finita de superfície com parametrizações lisas.
Obs 6.4.1 Utilizaremos aqui a seguinte convenção. Dada uma região sólida fechada E, a orientação
positiva de sua superfície S de fronteira é aquela orientada para fora.
Teorema 6.4.2 Seja E um sólido cuja superfície S de fronteira é munida do vetor normal unitário
n orientado para fora. Se F(x,y,z) é um campo vetorial cujas funções componente possuem
derivadas paricis de primeira ordem contínua em algum conjunto contendo E, então
F · n dS = div F dV.
S E
Note que a integral tripla à direita no Teorema 6.4.2 possui o divergente do campo vetorial
como argumento: frequentemente este é um indicativo de que o Teorema da Divergência de Gauss
é o caminho mais simples para o cálculo de uma integral, como no Exemplo 6.14 acima.
Exercício 6.7 Calcule o fluxo do campo vetorial F(x,y,z) = 2xi + 3yj + z2 k através da caixa
unitária que contém vértices os (0,0,0), (1,0,0), (0,1,0) e (0,0,1). Considere a orientação para
dentro da superfície.
Note que no Exercício 6.7 acima temos uma superfície com seis faces: o cálculo direto da
integral de superfície, como no Teorema 6.2.1, demandaria a soma do resultado de seis integrais
de superfície diferentes. O Teorema da Divergência de Gauss nos permite calcular o fluxo com
uma única integral, no caso uma integral tripla. Mais geralmente, é sempre interessante considerar
a possibilidade da aplicação do Teorema da Divergência de Gauss no cálculo de integrais de
superfícies sobre superfícies lisas por partes.
2
Exercício 6.9 Calcule o fluxo do campo vetorial F(x,y,z) = xyi + (y2 + exz )j + sen(xy)k através
da fronteira S da região delimitada por z = 0, y = 0, y+z = 2 e z = 1−x2 . Considere a orientação
para dentro da superfície.
uma curva paramétrica fechada simples C. Veja a Figura 6.18. A orientação de C com relação à
orientação de superfície S pode se dar de duas maneiras: se a orientação de C coincide com a regra
da mão direita aplicada aos vetores normais de S, dizemos que C possui orientação positiva com
relação a S; caso contrário dizemos que C tem orientação negativa com relação a S. Em outras
palavras, a fronteira C de uma superfície S possui orientação positiva se uma pessoa que caminha
ao longo de C de acordo com sua orientação tem a superfície S sempre à sua esquerda. Veja a
Figura 6.18.
Figura 6.18: Superfícies delimitadas por uma curva C orientada positivamente com relação à
orientação da superfície.
Teorema 6.5.1 Seja S uma superfície orientada lisa por partes delimitada por uma curva C lisa
por partes, fechada, simples e com orientação positiva em relação à orientação de S. Se F(x,y,z) é
um campo vetorial com funções componentes que possuem derivadas parcias de primeira ordem
contínuas em algum conjunto aberto contendo S, então
F · dr = (rot F) · n dS.
C S
com (x,y) pertencente à região D do plano xy que corresponde à projeção desta superfície no plano
xy:
D = {(x,y) ∈ D : 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 2x}.
Temos
F · dr = (rot F) · n dS = ± (−4i − 2xj + k) · (rx × ry ) dA,
C S D
onde
i j k
rx × ry = 1 0 −1 = i + k.
0 1 0
Note que a orientação da curva C é positiva em relação à orientação de S dada por esta parametriza-
ção, que é para cima. Logo,
1 2x 1 2x
F · dr = (−4i − 2xj + k) · (i + 0j + k) dy dx = (−3) dy dx,
C 0 0 0 0
e assim temos
1
y=2x 1 x=1
2
F · dr = (−3y) dx = (−6x) dx = (−3x ) = −3.
C 0 y=0 0 x=0
ao longo da curva C dada pelo círculo de raio 2 e centro (0,0,4) contido no plano z = 4 munido da
orientação anti-horária. Use o Teorema de Stokes e a superfície S dada pelo paraboloide z = x2 + y2 .
A superfície S acima pode ser parametrizada por coordenadas cilíndricas:
como no Exemplo 6.2, com (r,θ ) descrevendo a região D que corresponde à projeção da superfície
no plano xy. Como consideramos a parte do paraboloide abaixo de z = 4, onde obtemos a equação
x2 + y2 = 4, a região D representa um círculo de raio 2 e centro na origem:
D = {(x,y) ∈ D : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ 2π}.
onde
i j k
Rr × Rθ = cos θ sen θ 2r = −2r2 cos θ i − 2r2 sen θ j + rk.
−r sen θ r cos θ 0
Note que a orientação para cima deste vetor normal determina que a orientação da curva C é positiva
em relação à superfície. Logo,
2π 2
F · dr = ± (−4i − 2r cos θ j + k) · (−2r2 cos θ i − 2r2 sen θ j + rk) dr dθ ,
C 0 0
198 Capítulo 6. Superfícies Parametrizadas e Integrais de Superfície
isto é, 2π 2
F · dr = (8r2 cos θ + 4r3 sen θ cos θ + r) dr dθ ,
C 0 0
ou seja,
2π
64
F · dr = cos θ + 16 sen θ cos θ + 2 dθ .
C 0 3
É possível encontrar uma primitiva para a função 16 sen θ cos θ através da substituição u =
sen θ =⇒ du = cos θ dθ . Obtemos assim
θ =2π
64 2
F · dr = sen θ + 8 sen θ + 2θ = 4π.
C 3 θ =0
Note que a relação entre a superfície S e a curva C no enunciado do Teorema 6.5.1 é apenas
que C delimita a superfície C. Segue que se duas superfícies S1 e S2 são delimitadas pela mesma
curva C e satisfazem as hipóteses do Teorema 6.5.1, então
F · dr = (rot F) · n dS e F · dr = (rot F) · n dS,
C S1 C S2
de modo que
(rot F) · n dS = (rot F) · n dS.
S1 S2
Por exemplo, no Exemplo 6.16 utilizamos o Teorema de Stokes aplicado a um paraboloide para
calcular a integral de linha dada, mas poderíamos ter utilizado outra superfície delimitada pela
mesma curva C, como disco contido no plano z = 4.
Exercício 6.10 Calcule a integral de linha do Exemplo 6.16 utilizando a superfície S2 definida
por x2 + y2 ≤ 4, z = 4, que é delimitada pela mesma curva C.
O Teorema de Stokes é uma generalização do Teorema de Green. De fato, temos pelo Teorema
de Green que, dentro de certas hipóteses, a integral de linha de um campo vetorial F(x,y) =
f (x,y)i + g(x,y)j ao longo de uma curva fechada C positivamente orientada pode ser escrita como
∂g ∂ f
F · dr = f (x,y) dx + g(x,y) dy = − dA,
C C R ∂x ∂y
onde R é a região delimitada por C. Vejamos agora como este resultado pode ser obtido através do
Teorema de Stokes. Podemos interpretar esta região R como uma superfície de R3 contida no plano
z = 0 e o campo vetorial F como um campo vetorial de R3 dado por F(x,y,z) = f (x,y)i+g(x,y)j+0k.
O rotacional de F é dado portanto por
∂g ∂ f
rot F(x,y,z) = − k.
∂x ∂y
Podemos parametrizar a superfície S dada por (x,y) ∈ R, z = 0 por
r(u,v) = ui + vj + 0k, (u,v) ∈ R,
de modo que ru × rv = i × j = k. Aplicando o Teorema 6.5.1 obtemos
∂g ∂ f ∂g ∂ f
F · dr = (rot F) · n dS = − k · k dA = − dA,
C S R ∂x ∂y R ∂x ∂y
o que coincide com o Teorema de Green.
6.5 Teorema de Stokes 199
Exercício 6.11 Use o Teorema de Stokes para calcular o trabalho realizado pelo campo vetorial
ao longo da curva C dada pelo quadrilátero contido no plano z = y de vértices (1,0,0), (0,0,0),
(0,3,3) e (1,3,3). Considere a orientação de C dada pela ordem que os vértices foram dados.
Exercício 6.12 Use o Teorema de Stokes para calcular o trabalho realizado pelo campo vetorial
F(x,y,z) = −y2 i + xj + z2 k
B Topologia de Rn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 261
Index . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
7. Sequências e Séries Infinitas
problemas. Na Figura ?? temos ilustrado um método para resolver este tipo de problema: o Método
da Bisseção. Se f (x) é contínua e temos pontos x = a e x = b tais que f (a) < 0 e f (b) > 0, segue
do Teorema do Valor Intermediário que existe uma solução ξ para a equação f (x) = 0 no intervalo
(a,b); no caso da Figura ?? temos inicialmente a = 1 e b = 3. Consideramos então o ponto médio
do segmento (x1 = 2) e, como f (x1 ) < 0, concluímos que a raiz ξ se encontra no intervalo [x1 ,b].
Repetimos o processo com a = 2 e b = 3: o intervalo definido por a = 2 e b = 3 possui ponto
médio x2 = 2.5 e o mesmo argumento nos leva a considerar o intervalo [x2 , b], onde sabemos que a
raiz ξ se encontra. Observamos que os pontos x1 , x2 , x3 , . . . se aproximam cada vez mais da raiz ξ
da equação. É possível repetir o processo indefinidamente, a fim de obter um ponto xn tão perto
quanto se queira da raiz ξ . Formalizamos estes conceitos neste capítulo: estes pontos definem uma
sequência infinita de números reais {xn }∞
n=1 que, dentro de certas hipóteses, converge para a raiz ξ .
Figura 7.1: Primeira aproximação para a Figura 7.2: Segunda aproximação para a raiz de
raiz de y = f (x). y = f (x).
Figura 7.3: Terceira aproximação para a raiz Figura 7.4: Quarta aproximação para a raiz de
de y = f (x). y = f (x).
alunos pela data de nascimento, por exemplo, onde em primeiro lugar temos o aluno mais novo e
por último o mais velho, como se os alunos formassem uma fila.
Neste curso trabalharemos com sequências de números reais, conforme exemplificado abaixo.
Exemplo 7.1 Os números naturais pares 2, 4, 6, . . . formam naturalmente uma sequência através
da ordem crescente. O primeiro elemento desta sequência, denotado por a1 , é dado por a1 = 2, o
segundo elemento é dado por a2 = 4 e assim por diante. Temos assim a sequência
a1 , a2 , a3 , a4 , . . .
onde a seguinte regra geral é satisfeita: an = 2n. As reticências acima indicam que a sequência é
infinita.
Identificamos no Exemplo 7.1 a regra geral an = 2n para os termos daquela sequência. A função
an = 2n = f (n) = 2n na notação da Definição 7.1.1, é dita o termo geral da sequência.
Exemplo 7.2 Encontre o termo geral das sequências abaixo.
1 2 3 4
(i) {an }∞
n=1 definida por , , , , . . .
2 3 4 5
1 2 3 4
(ii) {bn }n=1 definida por , − , , − , . . .
∞
2 3 4 5
A sequência {an }∞
n=1 do item (i) pode ser escrita como
a1 , a2 , a3 , . . . .
O primeiro elemento da sequência possui numerador igual a 1, enquanto o segundo possui nume-
rador 2 e assim por diante; segue que o numerador de an é dado por n para n ≥ 1. Analogamente
concluímos que o denominador de an é dado por n + 1, de modo que
n
an = , n ≥ 1.
n+1
A sequência do item (ii) é idêntica àquela do item (i), exceto pelo sinal: temos bn = ±an
para n ≥ 1. Observamos que os termos {bn }∞ n=1 são alternadamente positivos e negativos. Esta
alternância é classicamente descrita por um dos termos abaixo:
(−1)n , n ≥ 1 : − 1, 1, −1, 1, . . . ,
ou
(−1)n+1 , n ≥ 1 : 1, − 1, 1, −1, . . . .
Como o primeiro termo da sequência {bn }∞n=1 é positivo, combinamos o termo geral de {an }n=1
∞
Obs 7.1.1 Podemos escrever uma sequência como aquelas do Exercício 7.1 como {an }∞
n=1 ou
{an }∞
n=0 , isto é, podemos identificar o primeiro termo da sequência como a1 ou a0 . Por exemplo, a
sequência do item (iii) do Exercício 7.1 pode ser escrita como
n+3 n+2
bn = , n ≥ 0, ou bn = , n ≥ 1.
5n+1 5n
Note as duas expressões acima estão relacionadas pela substituição n ← n + 1.
Em alguns casos pode ser conveniente ilustrar o comportamento de uma sequência através de
um gráfico. Considere as sequências {an }∞
n=1 , {bn }n=1 , {cn }n=1 e {dn }n=1 definidas abaixo:
∞ ∞ ∞
n+1 (−1)n
an = , bn = n2 , cn = , dn = (−1)n .
n n2
Nas Figuras 7.5 a 7.8 temos ilustradas estas sequências. Note que as sequências {an }∞
n=1 e {cn }n=1
∞
se aproximam, respectivamente, cada vez mais dos valores 1 e 0; o mesmo não pode ser dito das
sequências {bn }∞
n=1 e {dn }n=1 . Mais precisamente, observamos que a diferença entre o termo geral
∞
an = (n + 1)/n e o “valor limite” L = 1 se aproxima de zero à medida que n cresce. De fato, temos
que
n+1 n+1−n 1
an − 1 = −1 = = ,
n n n
de modo que podemos tornar a diferença an − 1 tão pequena quanto queiramos: basta escolher o
índice n grande o suficiente. Baseados neste tipo de raciocínio diremos que o limite da sequência
{an }∞
n=1 é L = 1, conceito que formalizamos a seguir com a Definição 7.1.2.
Obs 7.1.2 Lembramos que se a, b são números reais então |a − b| indica a distância entre a e b na
reta. Em particular, |an − L| representa, na Definição 7.1.2, a distância entre an e L.
lim an = L ou an → L quando n → ∞.
n→∞
Se {an }∞
n=1 não é convergente dizemos que {an }n=1 é divergente.
∞
Em outras palavras, dizemos que o limite de uma sequência {an }∞ n=1 é L se os termos da
sequência eventualmente ficam arbitrariamente próximos de L. A definição de limite de uma
sequência é muito semelhante àquela vista em Cálculo I: por arbitrariamente próximos entende-se
que os termos da sequência se encontram dentro de uma “margem de erro” ε > 0 em torno de L,
definindo um intervalo (L − ε, L + ε). Matematicamente entendemos o conceito de “eventualmente”
da seguinte maneira: existe um inteiro N ≥ 1 tal que a partir deste ponto os termos da sequência se
encontram dentro da margem de erro desejada; em outras palavras, temos an próximo de L para
n ≥ N.
Conforme visto na Definição 7.1.1, uma sequência pode ser vista como uma função com
domínio dado pelos números naturais, de modo que graficamente temos a seguinte representação:
para cada n ≥ 1, marcamos um ponto (n, an ) no plano cartesiano. Dessa maneira, o intervalo
(L − ε, L + ε) acima é representado no eixo vertical, definindo uma faixa horizontal no plano
cartesiano. Se {an }∞
n=1 converge para o valor L, então todo termo da sequência n à direita de N se
encontra dentro desta faixa para n ≥ N. Veja a Figura 7.9.
1
Exemplo 7.3 Considere a sequência {an }∞
n=1 dada por an = , n ≥ 1. Seus primeiros termos são
n
208 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
dados por
1 1 1 1
1, , , , , . . . .
2 3 4 5
Os elementos da sequência decrescem sucessivamente e parecem convergir para o valor L = 0. De
fato, fixando ε = 0.1, temos a “margem de erro” dada pelo intervalo (−0.1, 0.1) centrado em torno
de L = 0. Como
a10 = 0.1,
a11 = 0.090909 . . . ,
a12 = 0.08333 . . . ,
temos que a propriedade na Definição 7.1.2 vale para N = 11. Em outras palavras, temos
an ∈ (L − 0.1, L + 0.1)
Exercício 7.2 Prove pela Definição 7.1.2 que as sequências abaixo são convergentes.
(i) an = n/(n + 1), n ≥ 1.
(ii) an = 2−n , n ≥ 0.
Obs 7.1.4 O Teorema 7.1.3 não pode ser utilizado no caso de sequências cujo termo geral não está
definido para números reais, como an = (−1)n e bn = n!.
O Teorema 7.1.3 pode ser interpretado da seguinte maneira. Uma sequência an = f (n), n ≥ 1,
pode ser vista como uma “pequena amostra” de uma função F(x) definida em [1, ∞). Se a função
F(x) possui limite L quando x → ∞, então os termos da sequência dada por an = f (n) também
convergirão para L. Veja a Figura 7.10.
Exercício 7.3 Esboce no mesmo plano cartesiano alguns termos da sequência {an }∞
n=1 ilustrada
na Figura 7.5 e o gráfico da função correspondente. Faça o mesmo para a sequência {bn }∞
n=1
ilustrada na Figura 7.6.
Exemplo 7.4 Determine se as sequências abaixo são convergentes e, em caso positivo, encontre
seus limites.
7.1 Sequências de Números Reais 209
3x 3 3
lim f (x) = lim − = lim − = − .
x→∞ x→∞ 2x + 5 x→∞ 2 2
Segue portanto do Teorema 7.1.3 que an → −3/2 quando n → ∞.
A sequência bn , n ≥ 0, não se estende para os números reais. Observamos no entanto que os
elementos desta sequência oscilam entre 1 e −1:
b0 = 1, b1 = −1, b2 = 1, b3 = −1, . . . .
A sequência não se aproxima portanto de nenhum valor específico, donde concluímos que ela é
divergente3 .
Exercício 7.4 Determine se as sequências abaixo são convergentes e, em caso positivo, encontre
seus limites.
n2
(i) an = n , n ≥ 1.
2
n2
(ii) bn = , n ≥ 0.
n−1
Os Teoremas 7.1.5 e 7.1.8 são consequências diretas do Teorema 7.1.3 e dos teoremas corres-
pondes para limites de funções.
3É possível formalizar este argumento com a Definição 7.1.2, porém este argumento será o suficiente no nosso curso.
210 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
L1 e L2 . Então,
(i) lim (an + bn ) = L1 + L2 ;
n→∞
(ii) lim (an − bn ) = L1 − L2 ;
n→∞
(iii) lim can = cL1 , para toda constante c ∈ R;
n→∞
(iv) lim an bn = L1 L2 ;
n→∞
an L1
(v) se L2 6= 0, então lim = .
n→∞ bn L2
Exemplo 7.5 Prove que a sequência definida por an = 5 + 1/n, n ≥ 1, é convergente e encontre
o seu limite.
Temos que an = bn + cn , n ≥ 1, onde bn = 5 e cn = 1/n para n ≥ 1. As sequências bn e cn são
convergentes:
lim bn = 5 e lim cn = 0.
n→∞ n→∞
Segue que an → 5 + 0 = 5 quando n → ∞.
O Teorema 7.1.6 pode ser utilizado em sequências alternadas; veja o Exercício 7.6.
Exemplo 7.6 Prove que a sequência definida por an = (−1)n /n, n ≥ 1, é convergente e encontre
o seu limite.
Note que a sequência {an } não se estende para número reais, no entanto |an | = f (n) = 1/n,
onde f (x) está definida para todo x > 0. Como
1
lim f (x) = lim = 0,
x→∞ x→∞ x
segue do Teorema 7.1.3 que |an | → 0 quando n → ∞. Temos portanto pelo Teorema 7.1.6 que
an → 0 quando n → ∞.
1 π
Exercício 7.5 Prove que a sequência definida por an = cos , n ≥ 1, é convergente e
n n
encontre o seu limite.
então limn→∞ bn = L.
6 24
1, 1, , ,....
27 256
n! n · (n − 1) · · · 2 · 1 n · (n − 1) · · · 2 1
an = = = · ,
nn n·n···n·n n·n···n n
onde
n · (n − 1) · · · 2 n n − 1 2
= · · · · ≤ 1 · 1 · · · 1 = 1.
n·n···n n n n
Então an ≤ 1/n para n ≥ 1. Como an ≥ 0 para todo n ≥ 1, temos que xn ≤ an ≤ yn para n ≥ 1, onde
xn = 0, yn = 1/n e
lim xn = lim yn = 0.
n→∞ n→∞
1 π
Exercício 7.6 Prove usando o Teorema 7.1.8 que a sequência definida por an = cos , n≥
n n
1, é convergente e encontre o seu limite.
212 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
a1 ≤ a2 ≤ a3 ≤ . . . an ≤ . . . ,
a1 ≥ a2 ≥ a3 ≥ . . . an ≥ . . . .
Se a sequência {an }∞ n=1 é crescente ou decrescente, dizemos que {an }n=1 é monótona; se
∞
{an }∞
n=1 é estritamente crescente ou decrescente, dizemos que {an }n=1 é estritamente monótona.
∞
No teorema abaixo temos métodos precisos para avaliar de um modo geral se uma dada
sequência é crescente. A seguir temos o resultado análogo para sequências decrescentes.
{bn }∞
n=1 é decrescente (crescente).
Exemplo 7.9 Prove que a sequência abaixo é monótona:
n
an = , n ≥ 1.
n+1
Consideramos, de acordo com o Teorema 7.2.2, a razão an+1 /an :
an+1 (n + 1)/(n + 2) n + 2 n + 1 n + 2
= = · = .
an n/(n + 1) n+1 n n
7.2 Sequências Monótonas 213
Como n + 2 > n para todo n ≥ 1, concluímos que an+1 /an > 1 para todo n ≥ 1. Segue do Teorema
7.2.2 que {an } é sequência monótona (estritamente) crescente.
No teorema abaixo fazemos uso dos critérios de monotonicidade de funções para verificar o
mesmo para sequências de números reais.
As desigualdades f 0 (x) > 0 e f 0 (x) < 0 no Teorema 7.2.4 provam que {an }∞
n=1 é sequência
estritamente monótona.
√ n
Exemplo 7.10 Prove que a sequência an = 2, n ≥ 1, é monótona.
1/n 1/x
Temos an = 2 = f (x), onde f (x) = 2 é uma função real definida para x > 0. Como
0 1/x 1
f (x) = 2 · ln 2 · − 2
x
e ln 2 > 0, temos que f 0 (x) < 0 para todo x > 0. Segue que a função f (x) é decrescente para x > 0
e portanto, pelo Teorema 7.2.4, a sequência {an } é monótona decrescente.
m ≤ an , para todo n ≥ 1.
Se {an }∞
n=1 é limitada superiormente e inferiormente, dizemos que {an }n=1 é limitada.
∞
(ii) se {an }∞
n=1 é limitada então {an }n=1 é sequência convergente.
∞
√
n
Exemplo 7.11 Prove que a sequência an = 2, n ≥ 2, é convergente usando o Teorema 7.2.5.
Provamos no Exemplo 7.10 que a sequência {an } é monótona decrescente, isto é,
a2 ≥ a3 ≥ a4 ≥ · · · ,
√ √
onde a2 = 2. Segue que an ≤ 2 para todo n ≥ 2. Como an ≥ 0 para todo n ≥ 2, temos que {an }
é limitada. Segue portanto do Teorema 7.2.5 que {an } é convergente.
214 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
limitada superiormente, então não existe um número M ∈ R que limita superiormente todos os
elementos da sequência. Em outras palavras, para qualquer número M escolhido sempre encontra-
remos um elemento an da sequência maior do que M, logo {an }∞ n=1 tendo ao infinito e é portanto
divergente. Por outro lado, se {an }∞
n=1 é limitada superiormente por um número M ∈ R, então pela
monotonicidade da sequência concluímos que os elementos da sequência devem se acumular em
um número L ≤ M.
Obs 7.2.6 Se {an }∞
n=1 é uma sequência monótona crescente limitada superiormente por um número
M, então o limite de {an }∞
n=1 pode ser diferente de M. Mais ainda, {an }n=1 possui diversos limites
∞
10n
an = , n ≥ 1,
n!
7.2 Sequências Monótonas 215
10n
Figura 7.13: Temos da sequência an = .
n!
216 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
0, 1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, . . . .
Esta sequência é conhecida√pela razão áurea: a razão entre os elementos an+1 e an se aproxima
cada vez mais de ϕ = (1 + 5)/2 ≈ 1.61803. Confira abaixo:
a4
= 1.5,
a3
a5
= 1.666 . . . ,
a4
a6
= 1.625,
a5
a7
= 1.61538,
a6
..
.
A razão áurea surpreendentemente é vista em aplicações diversas como arquitetura, arte, crescimento
populacional4 e em proporções diversas na natureza, como espirais em conchas e em girassóis5 .
1 x1 = 1 1.000000
2 x2 = 12 1 + 12 =
3
2 1.500000
3 x3 = 2 2 + 3/2 = 17
1 3 2
1.416666
12
1 17 2 577
4 x4 = 2 12 + 17/12 = 408 1.414216
Figura 7.15: Soma das áreas de infinitos quadrados iguais: série divergente.
No caso de uma dízima periódica temos uma soma infinita: o número 0.333 . . . é escrito como
1
= 0,333 · · · = 0,3 + 0,03 + 0,003 + · · · .
3
Conceitos básicos.
É importante relembrar a notação sigma para somatório: a letra grega maiúscula “Σ” indica o
somatório da quantidade à direita deste símbolo, que em geral depende de uma variável que percorre
um intervalo definido abaixo e acima deste símbolo. Por exemplo: a soma 1 + 4 + 9 + 16 + 25
218 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
representa a soma de quadrados de números inteiros, que representamos de maneira genérica como
i2 ; os inteiros considerados neste caso são i = 1, 2, 3, 4 e 5. Podemos escrever esta soma através da
notação sigma da seguinte maneira:
5
1 + 4 + 9 + 16 + 25 = ∑ i2 .
i=1
1 1
Um outro exemplo: a soma dos infinitos termos da progressão geométrica 1 + + + · · · pode ser
2 4
escrita como ∞
1 1 1
1+ + +··· = ∑ n . (7.4)
2 4 n=1 2
Este é, em geral, o primeiro exemplo de série convergente que nos é claramente apresentado: apesar
de estarmos somando infinitos números positivos, o valor da soma não cresce cada vez mais, se
aproximando de infinito; o valor da soma se aproxima do número 2.
Definição 7.4.1 Uma série infinita, ou simplesmente série, é a soma infinita dos termos de
uma sequência infinita {an }∞
n=1 de números reais. Escrevemos
∞
∑ an = a1 + a2 + a3 + · · · .
n=1
Obs 7.4.1 Podemos considerar o conceito de série para uma sequência {an }∞
n=n0 para qualquer
índice inicial n0 . Em particular, para uma sequência com termo inicial a0 , podemos considerar a
série ∞
∑ an = a0 + a1 + a2 + · · · .
n=0
A soma de infinitos números reais é um conceito que ainda precisamos definir: sabemos calcular
a soma 1 + 4 + 9 + 16 + 25, mas a soma infinita 1 + 4 + 9 + 16 + 25 + 36 + · · · é avaliada através de
um limite. Considere a série ∑∞ −n apresentada na Equação (7.4). Avaliamos esta soma infinita
n=1 2
através das somas parciais sn dos n primeiros termos da série:
sn = a1 + · · · + an .
Temos os seguintes valores para n = 1, 2, 3, 4:
s1 = a1 = 0,5,
1 1
s2 = a1 + a2 = + = 0,75,
2 4
1 1 1
s3 = a1 + a2 + a3 = + + = 0,875,
2 4 8
1 1 1 1
s4 = a1 + a2 + a3 + a4 = + + + = 0,9375.
2 4 8 16
À medida que consideramos valores cada vez maiores para n, nos aproximamos da ideia de
soma infinita da Equação (7.4). Em outras palavras, consideramos o limite da sequência {sn }∞
n=1 ,
conforme visto na Seção 7.1.
Vejamos agora como podemos calcular o valor S = lim sn . Temos
n→∞
1 1 1 1
sn = + + +···+ n ,
2 4 8 2
7.4 Séries de Números Reais 219
isto é,
1 1 1 1
2 − 2n+1 2 − 2n+1 1
sn = 1
= 1
= 1− .
1− 2 2
2n
Como
1
lim sn = lim 1 − n = 1,
n→∞ n→∞ 2
dizemos que a série (7.4) converge para 1:
∞
1 1 1 1
lim 1 + + + · · · + n−1 = 1.
∑ n = n→∞
n=0 2 2 4 2
sn = a1 + a2 + · · · + an .
∞
A sequência {sn }∞n=1 é dita a sequência de somas parciais da série ∑n=1 an . Se a sequência
∞
{sn }∞
n=1 converge para um número S ∈ R dizemos que a série ∑n=1 an é convergente e escrevemos
∞
∑ an = S.
n=1
Dizemos neste caso que S é o limite ou a soma da série ∑∞ n=1 an . Se a sequência de somas
∞
parciais {sn }∞
n=1 diverge dizemos que a série ∑n=1 a n diverge.
O argumento utilizado para provar que a série (7.4) é convergente pode ser utilizado para provar
que toda série geométrica de razão r satisfazendo |r| < 1 é convergente.
Exercício 7.11 Escreva o número 2.3171717 . . . como uma série. Prove que esta série é
convergente e determine o seu limite.
∞
Exercício 7.12 Determine se a série ∑ (−1)n é convergente ou divergente.
n=1
Exemplo 7.13 Determine se cada uma das séries abaixo é convergente ou divergente. Caso seja
convergente, calcule seu limite.
∞
5
(i) ∑ n
n=0 4
∞
(ii) ∑ 32n 51−n
n=1
A série do item (i) pode ser escrita como
∞ ∞ n
5 1
∑ 4n = ∑ 5 4 .
n=0 n=0
Como esta é uma série geométrica de razão r = 1/4 < 1, segue do Teorema 7.4.2 que esta série é
convergente. Para calcular seu limite, procedemos como no caso da série (7.4). Seja
1 1 1
sn = 5 1 + + 2 + · · · + n−1 .
4 4 4
Então,
1 − 41n
1 1 1 1 4
sn = 5 · 1 + 5 · + 5 · 2 + · · · + 5 · n−1 = 5 = 5 1− n .
4 4 4 1 − 14 4 3
20
Segue que lim sn = .
n→∞ 3
A série do item (ii) pode ser escrita como
n
∞
2n 1−n
∞
n −n
∞
9n ∞
9
∑3 5 = ∑ 9 5·5 = ∑5 n = ∑5 .
n=1 n=1 n=1 5 n=1 5
A série do Exercício 7.12 é divergente pois a sequência de somas parciais correspondente oscila
indefinidamente entre os números −1 e 0. No exemplo abaixo temos uma sequência de somas
parciais que diverge para o infinito.
∞
Exercício 7.13 Prove que a série ∑ n = 1 + 2 + 3 · · · + n + · · · é divergente.
n=1
7.4 Séries de Números Reais 221
Somas telescópicas.
Veremos a seguir como a técnica de somas telescópicas pode ser utilizada para provar a convergência
de séries.
Exemplo 7.14 Considere a série
∞
1 1 1 1
∑ n(n + 1) = 1 · 2 + 2 · 3 + 3 · 4 + · · · .
n=1
A fim de provar que esta série é convergente, utilizamos frações parciais para escrever o termo
1
an = como
n(n + 1)
1 A B
= + , (7.5)
n(n + 1) n n + 1
onde A,B são números reais a serem determinados6 . Ao somar as duas frações à direita na Equação
(7.5) sob o múltiplo comum n(n + 1), obtemos
1 A(n + 1) + Bn 1 (A + B)n + A
= , isto é, = .
n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1) n(n + 1)
Exercício 7.14 Use a técnica de frações parciais para provar que cada uma das séries abaixo é
convergente e calcular seu limite. Se necessário, fatore o denominador do termo geral da série.
∞ ∞
4 6
(i) ∑ (4n − 3)(4n + 1) (ii) ∑ 4n2 − 1
n=1 n=2
6 Note que a expressão na Equação (7.5) não é completamente arbitrária: faz sentido pensar que ao realizar a soma
das frações à direta através do mínimo múltiplo comum obteremos a expressão à esquerda.
222 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
O termo “séries telescópicas” parece carecer de uma definição precisa, mas dizemos de um
modo geral que uma soma ∑ an , finita ou infinita, é telescópica se há um algum tipo de cancelamento
aditivo recorrente entre os termos an e an+1 , como aquele observado na Equação (7.6).
Demonstração. Seja ∑∞ n=1 an uma série convergente com limite L e seja {sn }n=1 a sequência de
∞
Segue que
lim an = lim (sn − sn−1 ) = lim sn − lim sn−1 = L − L = 0,
n→∞ n→∞ n→∞ n→∞
como gostaríamos.
Demonstração. Este resultado segue diretamente do Teorema 7.5.1. De fato, seja ∑ an uma série
tal que limn→∞ an 6= 0. A série ∑ an não pode ser convergente pois, pelo Teorema 7.5.1, teríamos
como consequência limn→∞ an = 0. Segue que ∑ an é divergente.
É muito importante ressaltar que o Teorema 7.5.1 não garante a convergência de uma série ∑ an
1 ∞ 1
tal que limn→∞ an = 0. De fato, as séries ∑∞n=1 2n e ∑n=1 n satisfazem ambas esta condição, porém
a primeira é convergente e a segunda é divergente, conforme vemos a seguir no Exemplo 7.15. Isto
prova que a partir da condição limn→∞ an = 0 não podemos afirmar nada sobre a convergência da
série ∑ an .
Exemplo 7.15 Considere a série abaixo, conhecida como série harmônica:
∞
1 1 1
∑ n = 1+ 2 + 3 +··· .
n=1
Provaremos que esta série é divergente8 . Como 1/n > 0 para todo n ≥ 1, a série ∑∞ n=1 1/n define
uma sequência de somas parciais monótona crescente. Provamos a seguir que esta sequência não
possui limitante superior, logo diverge para infinito (Teorema 7.2.5). Observe o comportamento
7 Adotamos a notação ∑ an para indicar uma série genérica cujo índice inicial para n pode ser n = 1 ou n = 0. Em
outras palavras, ∑ an pode representar ∑∞ ∞
n=1 an ou ∑n=0 an .
8 A primeira demonstração registrada deste fato é dado ao professor e bispo francês Nicole Oresme, no século XIV.
7.5 Teste do Termo Geral e Propriedades Básicas 223
É possível generalizar este argumento e provar que sn > (k + 1)/2 para n = 2k , k ≥ 1. Para qualquer
número real M0 > 0, existe k0 ≥ 1 tal que
k0 + 1
> M,
2
então, para n0 = 2k0 , temos sn0 > M. Isto prova que a sequência de somas parciais {sn }∞
n=1 fica
arbitrariamente grande, maior que qualquer número real M fixado. Segue que
lim sn = +∞,
n→∞
1
e, portanto, a série ∑∞
n=1 n é divergente.
Importante!
n2 + 2n∞
Exemplo 7.16 Mostre que a série ∑ 2 é divergente.
n=1 n + 1
Podemos escrever a série acima como ∑∞n=1 an , onde
n2 + 2n
lim an = lim = 1.
n→∞ n→∞ n2 + 1
Obs 7.5.4 Se ∑∞ ∞
n=1 an e ∑n=1 bn são séries divergentes, nada podemos afirmar sobre a convergência
da séries ∑∞ ∞
n=1 (an − bn ) e ∑n=1 (an + bn ). Veja os exemplos abaixo.
(i) As séries definidas por an = (−1)n , n ≥ 1, e bn = (−1)n+1 , n ≥ 1, são ambas divergentes,
∞
mas a série ∑ (an + bn ) é convergente.
n=1
(ii) As séries definidas por an = (−1)n , n ≥ 1, e bn = (−1)n , n ≥ 1, são ambas divergentes, mas
∞
a série ∑ (an + bn ) é divergente.
n=1
224 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
∞
Figura 7.16: Região plana de área 1
∞
1 Figura 7.17: Região plana de área ∑ √n .
√ dx. n=1
1 x
∞ ∞
1 1
Segue do argumento geométrico (Figura 7.17) que ∑ √ ≥ √ dx, onde a integral à
n=1 n 1 x
direita é divergente:
√ x=t √ √
∞
1
√ dx = lim 2 x = lim 2 t + 2 1 = +∞.
1 x t→∞
x=1
t→∞
∞
1
Como a série ∑ √n é maior que a integral acima que diverge para +∞, segue que a série é
n=1
divergente.
7.6 Teste da Integral 225
Podemos também utilizar integrais impróprias para provar a convergência de séries infinitas.
Considere a série
∞
1 1 1 1
∑ n2 = 1 + 4 + 9 + 16 + · · · .
n=1
∞
1
Temos an = f (n) para f (x) = 2 , de modo que a integral f (x) dx representa a área entre o eixo
x a
x e o gráfico da função f , à direita de x = a. Veja a Figura 7.18. Conforme ilustrado na Figura 7.19,
1
o termo an = 2 da série pode ser interpretado como a área de um dos retângulos que aproximam a
n
área da Figura 7.18.
∞
Figura 7.18:Região plana de área 1
∞
1 Figura 7.19: Região plana de área ∑ n2 .
2
dx. n=1
1 x
Importante!
Mesmo quando o Teste da Integral (Teorema 7.6.1) fornece a convergência, não é possível
afirmar que o valor da integral coincide com o valor da série:
∞ ∞
f (x) dx 6= ∑ an .
a n=1
Obs 7.6.2 O teorema acima é um critério que avalia o comportamento dos termos an da série
para valores grandes de n através do comportamento da função f (x) para valores grandes de x. O
teorema continua válido se an =f (n) para n ≥ a, onde a é um número real qualquer; consideramos
∞
neste caso a integral imprópria f (x) dx.
a
∞
1
Exemplo 7.17 Prove que a série harmônica ∑ n é divergente usando o teste da integral.
n=1
Temos que a série acima é dada por números positivos ∑ an , onde an = f (n) e f (x) = 1/x é
função contínua e monótona decrescente. Como
∞ x=t
f (x) dx = lim ln x = lim (lnt − ln 1) = +∞,
1 t→∞ t→∞
x=1
∞
1
Exemplo 7.18 Determine se a série ∑ (2n + 1)3 é convergente ou divergente.
n=1
Temos que a série acima é dada por números positivos ∑ an , onde an = f (n) e f (x) = 1/(2x +
3
1) é função contínua e monótona decrescente. Fazendo a substituição u = 2x + 1 =⇒ du = 2dx
obtemos
1 du 1 1
f (x) dx = 3
= − u−2 +C = − +C.
u 2 4 4(2x + 1)2
Logo,
∞ x=t
1 1 1 1
f (x) dx = lim − = lim − + = .
1 t→∞ 4(2x + 1)2 x=1 t→∞ 4(2t + 1)2 36 36
Segue que a série harmônica é convergente. Ressaltamos que 1/36 não é o valor da série, e sim o
valor da integral imprópria; esses valores não necessariamente coincidem.
O Teste da Integral fornece exatamente os valores de p para os quais uma importante classe de
1
séries10 é convergente: ∑∞n=1 n p é convergente se e somente se p > 1.
∑n=1 n1p é conhecida como a função zeta de Riemann ζ (s) avaliada em s = p. Sua relação com números
10 A série ∞
∞
1
Teorema 7.6.3 A série ∑ n p é convergente para p > 1 e divergente para p ≤ 1.
n=1
∞ ∞
1 ln n
(i) ∑ 1 + n2 (ii) ∑
n=1 n=1 n
Demonstração. Provaremos o item (i) e deixamos o item (ii) como exercício. Suponha que ∑∞
n=1 bn
é uma série convergente com limite T e sejam
m m
Sm = ∑ an , Tm = ∑ bn .
n=1 n=1
monótona crescente e limitada, donde concluímos que {Sm }m=1 é sequência convergente. Isto
∞
Obs 7.7.2 Novamente o teorema em questão representa uma avaliação do comportamento dos
termos an de uma série para valores grandes de n. Não é necessário que a condição an ≤ bn valha
para todo n ≥ 1: se an ≤ bn para todo n ≥ n0 , onde n0 é um inteiro positivo qualquer, o teorema
ainda é válido. Veja o Teorema 7.5.5.
Exemplo 7.19 Determine se as séries abaixo são convergentes ou divergentes.
∞
n ∞
4 + 3n
(i) ∑ 2n3 + 1 (ii) ∑ n
n=1 n=1 2
228 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
Note que para valores muito grandes de n o denominador do termo geral do item (i) é aproxi-
madamente 2n3 + 1 ≈ 2n3 . Por exemplo, para n = 100 temos
Observamos portanto que o termo geral do item (i) é, intuitivamente, semelhante a 1/2n2 para
valores grandes de n:
n n 1
3
≈ 3 = 2,
2n + 1 2n 2n
onde ∑ 2n12 define uma série convergente. Isto nos leva a crer que a série do item (i) é convergente,
mas resta ainda provar! Faremos isso através to teste da comparação: temos 2n3 + 1 ≥ 2n3 , logo
1 1
≤
2n3 + 1 2n3
e assim
n n 1
≤ = ,
2n3 + 1 2n3 2n2
onde ∑ 2n12 é convergente (Teorema 7.6.3). Segue do Teorema 7.7.1 que ∑∞ n
n=1 2n3 +1 é convergente.
Já a série do item (ii) tem seu termo geral dado aproximadamente por
n
4 + 3n 3n 3
n
≈ n=
2 2 2
n
para valores grandes de n, onde ∑ 32 é divergente (Teorema 7.4.2). Esta intuição nos leva a crer
que a série do item (ii) é divergente, algo que provaremos com o teste da comparação: como
n
4 + 3n 3n 3
n
≥ n=
2 2 2
n
e ∑ 32 é divergente, segue do Teorema 7.7.1 que ∑∞ n
n=1 2n3 +1 é divergente.
∞
n3 ∞
2 + (−1)n
(i) ∑ 4 (ii) ∑ n√n
n=2 n − 1 n=1
para algum número real c > 0, então ambas as séries ∑ an e ∑ bn convergem ou divergem.
7.8 Testes da Razão e da Raiz 229
A intuição por trás do Teorema 7.7.3 é a seguinte. Seja c > 0 e suponha que
an
lim = c.
n→∞ bn
Segue que, para valores grandes de n, temos an /bn ≈ c, isto é, an ≈ cbn . Como convergência de
uma série ∑ an é definida pelo comportamento de an para n grande e as séries ∑ bn e ∑ cbn ambas
convergem ou divergem, é de certa forma natural esperar um resultado como o do Teorema 7.7.3.
Exemplo 7.20 Determine se as séries abaixo são convergentes ou divergentes.
∞ ∞
1 5
(i) ∑ n3 − 2n (ii) ∑ 3n + 1
n=1 n=1
A série do item (i) se assemelha à série ∑ n13 , pois para valores grandes de n temos que
n3 − 2n ≈ n3 . Consideramos portanto as séries ∑ an e ∑ bn , como no Teorema 7.7.3, onde
1 1
an = e bn = .
n3 − 2n n3
Como
an n3
lim = lim 3 =1
n→∞ bn n→∞ n − 2n
e ∑ n13 é convergente (Teorema 7.6.3), segue que a série do item (i) é convergente.
Analogamente ao item (i), consideramos no item (ii) as séries ∑ an e ∑ bn com
5 5
an = e bn = ,
3n + 1 3n
pois intuitivamente temos 3n + 1 ≈ 3n para valores grandes de n. Como
an 3n 1
lim = lim n = lim =1
n→∞ bn n→∞ 3 + 1 n→∞ 1 + 3−n
e ∑ 53−n é convergente (Teorema 7.4.2), segue que a série do item (ii) é convergente.
∞
n2 ∞
3n − 2
(i) √
∑ 5 3 (ii) ∑ (n + 2)2
n=2 n − n n=1
Teorema 7.8.1 — Teste da Razão. Seja ∑ an uma série de termos positivos e considere o limite
an+1
lim = ρ.
n→∞ an
(n + 1) p n+1 p
an+1
lim = lim = lim = 1 p = 1.
n→∞ an n→∞ np n→∞ n
Segue que, para valores grandes de n, temos an+1 /an ≈ ρ, isto é, an+1 ≈ ρ · an . Estendo este
argumento para valores maiores ainda de n temos:
an+1 ≈ ρ · an ,
an+2 ≈ ρ · an+1 ≈ ρ 2 an ,
an+3 ≈ ρ · an+2 ≈ ρ 3 an ,
..
.
an+k ≈ ρ · an+k−1 ≈ ρ k an .
Estas aproximações sugerem que a sequência {an }∞ n=1 se comporta como uma progressão geomé-
trica de razão ρ para valores grandes de n. É portanto natural que esperar que a série convirja para
ρ < 1 e divirja para ρ > 1; no caso ρ = 1 o teste falha e nada podemos afirmar.
Exemplo 7.21 Determine se as séries abaixo são convergentes ou divergentes.
∞
2n ∞
nn
(i) ∑ 3n (ii) ∑
n=1 n=1 n!
Se an = 2n/3n , então
an+1 (n + 1)n+1 n!
lim = lim .
n→∞ an n→∞ (n + 1)! nn
(n + 1)n+1 1 (n + 1)n 1 n
an+1
lim = lim = lim = lim 1 + .
n→∞ an n→∞ n + 1 nn n→∞ nn n→∞ n
O limite acima à direta é conhecido e igual ao número de Euler e = 2,7 · · · > 1. Segue do Teorema
7.8.1 que a série é divergente.
7.8 Testes da Razão e da Raiz 231
∞
4n + 5 ∞
(2n)!
(i) ∑ n (ii) ∑
n=1 5 n=1 n!n!
√
A seguir apresentamos o teste da raiz, onde consideramos o limite de n an quando n → ∞ no
caso de uma série ∑ an de números positivos. Se este limite é igual ρ, onde ρ é um número real
√
ou +∞, podemos esperar que para n grande tenhamos n an ≈ ρ, que poderia ser reescrito como
an ≈ ρ n . Isto sugere que para valores grandes de n os termos da série ∑ an se comportam como os
de uma série geométrica de razão ρ; esta é a ideia por trás da demonstração do teorema abaixo.
Teorema 7.8.3 — Teste da Raiz. Seja ∑ an uma série de termos positivos e considere o limite
√
lim n
an = lim (an )1/n = ρ.
n→∞ n→∞
Ao aplicar o Teste da Raiz é por vezes necessário fazer uso do seguinte resultado: a sequência
√
{an }∞
n=1 definida por an = n, n ≥ 1, é convergente e possui limite 1. De fato, temos
n
1/n
1/n
1
an = n = exp log n = exp log n .
n
Consideramos então o limite da função real f (x) = exp 1x log x . Note que, pela Regra de L’Hôpital,
log x 1/x
lim = lim = 0.
x→+∞ x x→+∞ 1
Obs 7.8.4 Vemos que o teste da raiz é inconclusivo quando ρ = 1 de maneira análoga àquela do
teste da razão: se an = 1/n p para n ≥ 1, temos
√ 1 1
lim
n
an = lim √ lim √ .
n→∞ n→∞ n n→∞ ( n) p
n p n
√
Segue da Equação (7.7) que limn→∞ n an = 1. Conforme visto anteriormente, dependendo do valor
de p temos que a série ∑ an é convergente ou divergente.
Exemplo 7.22 Determine se as séries abaixo são convergentes ou divergentes.
232 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
n ∞
3n
∞
n + 10
(i) ∑ (ii) ∑ n2
n=1 5n − 2 n=1
n+10
Seja an = 5n−2 . Então
√ n + 10 1
n
an = lim lim = .
n→∞ 5n − 2
n→∞ 5
√
Como limn→∞ n an < 1, segue do Teorema 7.8.3 que a série do item (i) é convergente.
n
Considere agora an = n32 . Temos que
√ 3 3
n
an = lim √
lim = lim √ ,
n→∞ n→∞ n n2 n→∞ ( n n)2
√ √
onde, pela Equação (7.7), temos limn→∞ ( n n)2 = 12 = 1. Segue que limn→∞ n an = 3 > 1, portanto,
pelo Teorema 7.8.3, a série do item (ii) é divergente.
onde an é um número positivo. O teorema a seguir é um importante critério para séries alternadas:
ele afirma que, dentro de certas condições, o Teorema 7.5.1 fornece uma condição não só necessária
mas também suficiente para a convergência da série.
onde {an }∞
n=1 define uma sequência monótona decrescente de números positivos. Se limn→∞ an =
7.9 Séries Alternadas, Convergência Absoluta e Condicional 233
s2 = a1 − a2
s4 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) = s2 + (a3 − a4 ), onde a3 − a4 ≥ 0,
s6 = (a1 − a2 ) + (a3 − a4 ) + (a5 − a6 ) = s4 + (a5 − a6 ), onde a5 − a6 ≥ 0,
..
.
Note que, como (a2k−1 − a2k ) ≥ 0 para todo k, vemos pelas equações acima que a sequência
{s2k }∞
k=1 = s2 , s4 , s6 , s8 , . . . é limitada inferiormente por 0. Além disso, temos
s2 = a1 − a2 ≤ a1
s4 = a1 − (a2 − a3 ) − a4 ≤ a1 + 0 − a4 ≤ a1 ,
s6 = a1 − (a2 − a3 ) − (a4 − a5 ) − a6 ≤ a1 + 0 + 0 − a6 ≤ a1 ,
..
.
É possível provar agora que a sequência {sn }∞ n=1 é convergente. Seja ε > 0. Como {s2k }k=1
∞
converge para L, existe N1 ≥ 1 tal que |s2k − L| < ε para todo 2k ≥ N1 . Também temos que
{s2k+1 }∞k=0 converge para L, logo existe N2 ≥ 1 tal que |s2k+1 − L| < ε para todo 2k + 1 ≥ N2 . Seja
N = max{N1 ,N2 }. Se n ≥ N, consideramos os dois casos a seguir.
(i) Se n é par então n = 2k. Como n ≥ N e N = max{N1 ,N2 } ≥ N1 , temos n ≥ N1 e portanto
|sn − L| = |s2k − L| < ε.
(ii) Se n é ímpar então n = 2k + 1. Como n ≥ N e N = max{N1 ,N2 } ≥ N2 , temos n ≥ N2 e
portanto |sn − L| = |s2k+1 − L| < ε.
Segue das Definições 7.4.2 e 7.1.2 que ∑∞ n+1 a é convergente.
n=1 (−1) n
A aplicação do Teorema 7.9.1 é muito simples: basta verificar que o valor absoluto dos termos
da série em questão formam uma sequência decrescente que converge para zero.
Exemplo 7.23 Verifique em cada um dos casos abaixo se a série converge (provando que a sérire
satisfaz as hipóteses do Teorema 7.9.1) ou divergente.
234 Capítulo 7. Sequências e Séries Infinitas
∞
(−1)n ∞
5n + 1
(i) ∑ n (ii) ∑ (−1)n+1 2n + 3
n=1 n=1
n
Note que (−1) n
n = (−1) an , onde an =
1
n é uma sequência monótona decrescente de números
reais positivos. Como
lim an = 0,
n→∞
5n + 1 5
an = →
2n + 3 2
quando n → ∞. Isto prova que o termo geral (−1)n+1 an da série não converge para zero, logo, pelo
Teorema 7.5.1, a série do item (ii) é divergente.
Exercício 7.21 Verifique se a série abaixo converge (provando que a sérire satisfaz as hipóteses
do Teorema 7.9.1) ou divergente.
∞
(−1)n n2
∑ 3 .
n=1 n + 1
Ambas são convergentes, mas ao desprezar as respectivas trocas de sinal temos séries harmônica e
geométrica:
(−1)n (−1)n
∞
∞ ∞
∞
1 1
∑ n = ∑ n e ∑ 2n = ∑ 2n .
n=1 n=1 n=1 n=1
Ao tomar o valor absolutos dos termos destas séries obtemos respectivamente séries divergente e
convergente. Isto motiva as definições a seguir.
Definição 7.9.1 Dizemos que uma série ∑∞ ∞
n=1 an converge absolutamente se a série ∑n=1 |an |
converge. Caso contrário dizemos que a série diverge absolutamente.
(−1)n
Exemplo 7.25 A série ∑∞
n=1 2n é convergente. Sua série de valores absolutos também converge,
(−1)n
logo ∑∞
n=1 n é absolutamente convergente.
Teorema 7.9.2 Se uma série ∑ an é absolutamente convergente então ela é também convergente.
Em outras palavras, se a série ∑ |an | converge então a série ∑ an também converge.
7.9 Séries Alternadas, Convergência Absoluta e Condicional 235
Segue que 0 ≤ bn ≤ 2|an | para todo n ≥ 1, logo ∑ 0 ≤ ∑ bn ≤ ∑ 2|an |. Segue do teste da comparação
que ∑ bn é convergente. Como ∑ cn também o é, concluímos que ∑ an = ∑(bn − cn ) é convergente,
como gostaríamos.
∞
sen n
Exercício 7.22 Prove que a série ∑ 3
é absolutamente convergente.
n=1 2n
(−1)n n2
∞
Exercício 7.23 Provamos no Exercício 7.21 que a série 3∑ é convergente. Determine
n=1 n + 1
se esta série é absoluta ou condicionalmente convergente.
Abaixo temos uma nova versão do teste da razão: o Teorema 7.8.1 pode ser aplicado apenas a
série de números positivos; mas se a série ∑ an não possui nenhum termo nulo, podemos aplicar o
Teorema 7.8.1 à série ∑ |an |. De um modo geral não podemos afirmar que uma série ∑ an diverge a
partir da divergência de ∑ |an |. Entretanto, o teorema a seguir fornece uma maneira de concluir a
convergência ou a divergência de ∑ an a partir do estudo de ∑ |an |.
Teorema 7.9.3 — Teste da Razão para Convergência Absoluta. Seja ∑ an uma série de
números reais não-nulos. Considere o limite
an+1
lim = ρ.
n→∞ an
∞
(−1)n+1 ∞
n!
(i) ∑ n!
(ii) ∑ (−1)3n+1 2n
n=1 n=1
8. Séries de Potências
É de grande importância para um engenheiro compreender que é possível definir uma função real
f (x) tal que, para cada x no domínio de f , a imagem f (x) é definida através de uma série. O
modelo matemático para fenômenos físicos e químicos é frequentemente dado por uma função
definida através de uma série. Isto ocorre por exemplo nos casos da transferência de calor em
uma barra sólida e da propagação de ondas acústicas, ondas de água e ondas eletromagnéticas1 .
Funções definidas através de somas infinitas também desempenham um papel importante no Cálculo
Numérico, uma vez que fornecem um método computacional eficaz para a aproximação do valor
que funções não triviais assumem. Neste capítulo estudamos séries de potências, que podem ser
vistas como um “polinômio” de grau infinito e que são ferramentas importantes nestas aplicações.
1 Ver Seções 10.5 e 10.7 de W. Boyce e R. DiPrima, Equações diferenciais elementares e problemas de valores de
contorno.
238 Capítulo 8. Séries de Potências
Figura 8.1: Região delimitada por y = 0, Figura 8.2: Aproximação da área da região da Figura
y = exp(x2 ), x = 0 e x = 1. 8.1.
Temos
f (x) − f (0)
f 0 (0) = lim .
x→0 x−0
Então para x próximo de x = 0 temos
f (x) − f (0)
f 0 (0) ≈ , isto é, f (x) ≈ f (0) + f 0 (0)x.
x
Em outras palavras, para um valor de x próximo de x = 0, podemos aproximar o valor de f (x) pelo
valor do polinômio linear p1 (x) = f (0) + f 0 (0)x. Considere o exemplo da função f (x) = ex . Temos
f (0) = f 0 (0) = e0 = 1, portanto
p1 (x) = 1 + 1 · x = x + 1.
Veja a Figura 8.3. Note que esta aproximação é muito boa para valores próximos de x = 0, mas
a curvatura do gráfico da função f afasta o seu gráfico da reta que representa p1 (x). Podemos
relacionar este fenômeno com a concavidade do gráfico da função f , isto é, pelo valor de f 00 (0).
A fim de obter uma aproximação mais precisa para o gráfico de f em torno de x = 0, observamos
o seguinte fato: p1 (x) é um polinômio tal que p1 (0) = f (0) e p01 (0) = f 0 (0). Isto nos motiva a
8.1 Polinômios de Taylor e MacLaurin 239
p2 (x) = c0 + c1 x + c2 x2
tal que
p2 (0) = f (0), p02 (0) = f 0 (0) e p002 (0) = f 00 (0). (8.1)
c0 = 1, c1 = 1 e 2c2 = 1.
De fato, o polinômio quadrático p2 (x) fornece uma aproximação mais precisa para os valores de
f (x).
x2
Figura 8.4: Função f (x) = ex aproximada por p2 (x) = 2 + x + 1 em torno de x = 1.
pn (0) = f (0),
p0n (0) = f 0 (0),
..
. (8.4)
(n−1)
pn (0) = f (n−1) (0),
(n)
pn (0) = f (n) (0).
240 Capítulo 8. Séries de Potências
Temos que
pn (x) = c0 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + · · · + cn−1 xn−1 + cn xn ,
p0n (x) = 1c1 + 2c2 x + 3c3 x2 · · · + (n − 1)cn−1 xn−2 + ncn xn−1 ,
p00n (x) = 2 · 1c2 + 3 · 2c3 x · · · + (n − 1)(n − 2)cn−1 xn−3 + n(n − 1)cn xn−2 ,
(3)
pn (x) = 3 · 2 · 1c3 · · · + (n − 1)(n − 2)(n − 3)cn−1 xn−4 + n(n − 1)(n − 2)cn xn−3 ,
..
.
(n)
pn (x) = n(n − 1)(n − 2) · · · 2 · 1cn .
Para satisfazer a Equação (8.4) devemos ter
f (0) = pn (0) = c0 ,
f 0 (0) = p0n (0) = c1 ,
f 00 (0) = p00n (0) = 2c2 ,
(3)
f (3) (0) = pn (0) = 3 · 2 · 1c3 ,
..
.
(n)
f (n) (0) = pn (0) = n(n − 1)(n − 2) · · · 2 · 1cn ,
e, portanto,
f 0 (0) f 00 (0) f (3) (0) f (n) (0)
c0 = f (0), c1 =, c2 = , c3 = , . . . , cn = . (8.5)
1! 2! 3! n!
O polinômio pn (x) de grau n com os coeficientes dados pela Equação (8.5) é dito o n-ésimo
polinômio de MacLaurin2 para f . De fato, à medida que o valor de n cresce, eles representam uma
melhor aproximação para a função f (x) = ex em torno de x = 0; veja o Exercício 8.1.
Definição 8.1.1 Seja f (x) uma função diferenciável n vezes em x = 0. O n-ésimo polinômio
de MacLaurin para f é definido como
isto é,
n
f (k) (0) k
pn (x) = ∑ x.
k=0 k!
2 Colin MacLaurin foi um matemático escocês, aluno de Isaac Newton, que publicou seus trabalhos no século XVIII.
8.1 Polinômios de Taylor e MacLaurin 241
Exercício 8.1 Use o Exemplo 8.1 para determinar, utilizando uma calculadora, os valores de
f (x), p3 (x) e p9 (x) para x = 0,5.
1
Exemplo 8.2 Determine o n-ésimo polinômio de MacLaurin da função f (x) = .
1−x
1
Temos que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = é dado por
1−x
n
f (k) (0) k
pn (x) = ∑ x,
k=0 k!
Veja as Figuras 8.5 e 8.6. Frequentemente é o caso que, quanto maior o grau do polinômio de
MacLaurin, maior é o intervalo em torno de x = 0 cuja aproximação tem uma determinada previsão.
Exemplo 8.3 Seja n ≥ 1 um número inteiro par. Determine o n-ésimo polinômio de MacLaurin
para da função f (x) = cos(x).
Temos que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = cos x é dado por
n
f (k) (0) k
pn (x) = ∑ x,
k=0 k!
242 Capítulo 8. Séries de Potências
onde
f (x) = cos x =⇒ f (0) = 1,
f 0 (x) = − sen x =⇒ f 0 (0) = 0,
f 00 (x) = − cos x =⇒ f 00 (0) = −1,
f (3) (x) = sen x =⇒ f (3) (0) = 0,
f (4) (x) = cos x =⇒ f (4) (0) = 1,
(5)
f (x) = − sen x =⇒ f (5) (0) = 0,
..
.
onde este ciclo observado em f (x), f 0 (x), · · · , f (3) (x) se repetirá a partir de f (4) (x). Segue que as
derivadas de ordem ímpar de f (x) = cos x se anulam em x = 0.
Note que todo número par se escreve como 2k para algum k ≥ 0, enquanto os números ímpares
se escrevem como 2k + 1 para algum k ≥ 0. O polinômio pn (x) pode ser então escrito como a
soma de dois polinômios, onde um contém apenas potências pares de x e outro apenas as potências
ímpares de x, conforme a seguir:
n/2
f (2k) (0) 2k n/2−1 f (2k+1) (0) 2k+1
pn (x) = ∑ x + ∑ x .
k=0 (2k)! k=0 (2k + 1)!
Segue que
n/2
f (2k) (0) 2k
pn (x) = ∑ x ,
k=0 (2k)!
onde ainda resta determinar que padrão podemos observar nas derivadas de ordem par f (2k) (0).
Vemos acima que estas derivadas alternam os valores ±1, donde obtemos a expressão
Então,
n/2
(−1)k 2k
pn (x) = ∑ x .
k=0 (2k)!
Exercício 8.2 Determine o n-ésimo polinômio de MacLaurin da função f (x) = ln(1 − x).
Exercício 8.3 Seja n ≥ 1 um número inteiro ímpar. Determine o n-ésimo polinômio de Ma-
cLaurin para da função f (x) = sen(x).
Polinômios de Taylor.
Os polinômios de MacLaurin fornecem uma aproximação para os valores de uma função em torno
de x = 0. Entretanto, é possível aplicar o mesmo raciocínio a um ponto x = x0 onde uma função
f (x) de uma variável é diferenciável. Temos
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) = lim .
x→x0 x − x0
8.1 Polinômios de Taylor e MacLaurin 243
Figura 8.9: Quinto polinômio de MacLaurin Figura 8.10: Décimo terceiro polinômio de
da função f (x) = sen x. MacLaurin da função f (x) = sen x.
f (x) − f (x0 )
f 0 (x0 ) ≈ , isto é, f (x) − f (x0 ) ≈ f 0 (x0 )(x − x0 ).
x − x0
Segue que, para um valor de x próximo de x0 , podemos aproximar o valor de f (x) pelo valor do
polinômio linear p1 (x) = f (x0 ) + f 0 (x0 )(x − x0 ). Note que p1 (x0 ) = f (x0 ) e p01 (x0 ) = f 0(x0 ).
Analogamente ao que foi feito anteriormente em torno do ponto x = 0, procuramos por um
polinômio pn (x) = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + · · · + cn−1 (x − x0 )n−1 + cn (x − x0 )n de grau n tal
que
pn (x0 ) = f (x0 ),
p0n (x0 ) = f 0 (x0 ),
..
. (8.6)
(n−1)
pn (x0 ) = f (n−1) (x0 ),
(n)
pn (x0 ) = f (n) (x0 ).
Os argumentos vistos anteriormente mostram que
Obs 8.1.1 É possível considerar acima um polinômio da forma p(x) = c0 + c1 x + · · · + cn−1 xn−1 +
cn xn , porém os cálculos são substancialmente mais complexos. Note que ao considerar potências
de x − x0 estamos em uma situação análoga àquela dos polinômios de MacLaurin: o argumento
dessas potências se anula no ponto x = x0 de interesse.
Definição 8.1.2 Seja f (x) uma função diferenciável n vezes em x = x0 . O n-ésimo polinômio
de Taylor para f em torno de x = x0 é definido como
isto é,
n
f (k) (x0 )
pn (x) = ∑ (x − x0 )k .
k=0 k!
Note que a substituição x0 = 0 na Definição 8.1.2 acima fornece a expressão da Definição 8.1.1
para polinômio de MacLaurin. Em outras palavras, polinômios de MacLaurin representam um caso
particular de polinômios de Taylor.
Exemplo 8.4 Determine n-ésimo polinômio de Taylor de f (x) = ln x em torno de x = 1.
Temos que o n-ésimo polinômio de Taylor de f (x) = ln x em torno de x = 1 é dado por
n
f (k) (1)
pn (x) = ∑ (x − 1)k ,
k=0 k!
onde
f (x) = ln x =⇒ f (1) = 0,
f 0 (x) = x−1 =⇒ f 0 (1) = 1,
f 00 (x) = (−1)x−2 =⇒ f 00 (1) = −1,
f (3) (x) = 2 · 1x−3 =⇒ f (3) (1) = 2 · 1,
f (x) = −3 · 2 · 1x−4
(4) =⇒ f (4) (1) = −3 · 2 · 1,
f (5) (x) = 4 · 3 · 2 · 1x−5 =⇒ f (5) (1) = 4 · 3 · 2 · 1,
..
.
logo, f (k) (1) = (−1)k+1 (k − 1)! para todo k ≥ 1. Segue que
n
(−1)k+1 (k − 1)! (−1)k+1
pn (x) = ∑ (x − 1)k = ∑ (x − 1)k ,
k=0 k! k=1 k
isto é,
1 1 (−1)n+1
pn (x) = (x − 1) − (x − 1)2 + (x − 1)3 + · · · + (x − 1)n .
2 3 n
1
Exercício 8.4 Determine n-ésimo polinômio de Taylor de f (x) = em torno de x = 1.
x
Termo de erro.
A apresentação dos polinômios de MacLaurin e Taylor foi baseada na aproximação em torno de um
certo ponto de uma função f (x) por um polinômio p(x). Cabe então discutir qual o erro cometido
pela aproximação f (x) ≈ p(x), isto é, se o erro R(x) = f (x) − p(x) é grande ou pequeno. No caso
do n-ésimo polinômio de Taylor temos
n
(x − x0 )k
Rn (x) = f (x) − ∑ f (k) (x0 ) . (8.8)
k=0 k!
8.1 Polinômios de Taylor e MacLaurin 245
A função Rn (x) acima é dita o resto ou erro do n-ésimo polinômio de Taylor. O teorema a seguir
fornece um limite superior para o erro da aproximação f (x) ≈ pn (x).
Teorema 8.1.2 Seja f (x) uma função diferenciável n + 1 vezes em um intervalo I contendo
x = x0 e suponha que | f (n+1) (x)| ≤ M para todo x ∈ I. Então
M
|Rn (x)| ≤ |x − x0 |n+1 .
(n + 1)!
Exemplo 8.5 Use o Teorema 8.1.2 para determinar um valor para n tal que a aproximação de
f (x) = ex no intervalo [−1,1] por seu n-ésimo polinômio de MacLaurin tenha erro menor que 10−5 .
Temos que f (x) = ex é infinitamente diferenciável em todo ponto da reta. Mais ainda, sabemos
do Exemplo 8.1 que o n-ésimo polinômio de MacLaurin de f (x) = ex é dado por
n
xk
pn (x) = ∑ k! .
k=0
Temos pelo Teorema 8.1.2 que o erro Rn (x) da aproximação f (x) ≈ pn (x) satisfaz
M
|Rn (x)| ≤ |x − x0 |n+1 ,
(n + 1)!
Como x 7−→ ex é função crescente, o maior valor que ela assume em I = [−1,1] é e1 = e. Segue
que M = e satisfaz as condições do Teorema 8.1.2 e portanto
e
|Rn (x)| ≤ |x − 0|n+1 ,
(n + 1)!
Vemos na estimativa acima que quanto maior o grau n do polinômio de MacLaurin, menor é o erro
cometido na aproximação f (x) ≈ pn (x). A estimativa acima fornece os seguintes valores para os
primeiros valores de n:
n = 1 : |Rn (x)| ≤ 1,3591409,
n = 2 : |Rn (x)| ≤ 0,4530470,
n = 3 : |Rn (x)| ≤ 0,1132617,
n = 5 : |Rn (x)| ≤ 0,3775391 · 10−2 ,
n = 8 : |Rn (x)| ≤ 0,7490856 · 10−5 ,
n = 9 : |Rn (x)| ≤ 0,7490856 · 10−6 .
Segue que para n = 8 já temos a garantir de que o erro é menor que 10−5 . Note que o mesmo vale
para valores maiores de n, pois fornecem erros ainda menores.
Exercício 8.5 Use o Teorema 8.1.2 para estimar o erro cometido pela aproximação de f (x) =
cos x pelo seu segundo polinômio de MacLaurin no intervalo [0,1].
246 Capítulo 8. Séries de Potências
Mais ainda, quanto maior for o valor de n, mais precisa é esta aproximação: veja as Figuras 8.3 a
8.6 e observe que a estimativa do erro no Teorema 8.1.2 fica cada vez menor para um valor de x fixo
como x = 0,1. Parece então natural considerar o limite destes polinômios quando n se aproxima de
infinito, isto é, a soma infinita
∞ k
x
∑ k! .
k=0
A expressão acima é uma série, no entanto difere dos objetos apresentados na Seção 7.4 por conter
uma variável. Note que para cada x = x0 fixo, obtemos uma série de números como aquelas vistas
na Seção 7.4, que pode ser convergente ou não. Por exemplo, para x = 1 temos
∞
xk ∞
1
∑ com x = 1 7−→ ∑ k! .
k=0 k! k=0
A série à direita é dita uma série de MacLaurin, caso particular de uma série de Taylor. Este é o
objeto de estudo do restante deste capítulo3 .
Definição 8.2.1 Se f é infinitamente diferenciável no ponto x = x0 , definimos sua série de
Taylor como
∞
f (k) (x0 ) f 0 (x0 ) f (k) (x0 )
∑ (x − x0 )k = f (x0 ) + (x − x0 ) + · · · + (x − x0 )k + · · · .
k=0 k! 1! k!
3 Veremos neste capítulo como responder às perguntas no item (i). É possível que a série definida pelo polinômio de
Taylor de uma função f (x) convirja para um valor diferente daquele que f (x) fornece, mas esta é uma discussão que
deferimos para a Seção 8.3.
8.2 Séries de Potências 247
de x = 0.
1
Exemplo 8.6 Determine a série de MacLaurin da função f (x) = .
1−x
Os cálculos deste exemplos são semelhantes àqueles do Exemplo 8.2. Temos que a série de
MacLaurin de f (x) é dada por
∞
f (k) (0) k
∑ k! x ,
k=0
onde, pela regra da cadeia,
f (x) = (1 − x)−1 =⇒ f (0) = 1,
f 0 (x) = 1(1 − x)−2 =⇒ f 0 (0) = 1,
f 00 (x) = 2 · 1(1 − x)−3 =⇒ f 00 (0) = 2 · 1,
f (x) = 3 · 2 · 1(1 − x)−4
(3) =⇒ f (3) (0) = 3 · 2 · 1,
f (4) (x) = 4 · 3 · 2 · 1(1 − x)−5 =⇒ f (4) (0) = 4 · 3 · 2 · 1,
..
.
logo, f (k) (0) = k! para todo k ≥ 0. Segue que a série de MacLaurin de f (x) é dada por
∞
f (k) (0) k ∞
k! ∞
∑ x = ∑ xk = ∑ xk .
k=0 k! k=0 k! k=0
onde na última igualdade foi usado o fato que f (2k) (0) = 0 para todo k ≥ 0. As derivadas de
ordem ímpar também apresentam a alternância entre ±1, de modo que a série de MacLaurin de
f (x) = sen x pode ser escrita como
∞
f (k) (0) k ∞
(−1)k 2k+1
∑ x =∑ x ,
k=0 k! k=0 (2k + 1)!
248 Capítulo 8. Séries de Potências
Exercício 8.8 Determine a série de Taylor das funções abaixo nos pontos indicados.
(i) f (x) = ex em torno de x = 1.
(ii) f (x) = e−x em torno de x = 2.
1
(iii) f (x) = em torno de x = 2.
x
Vimos nas Seções 7.6 a 7.9 que é possível determinar que uma série é convergente sem
conhecermos o valor de uma sua soma ou uma expressão para tal. Da mesma forma, é possível
determinar que uma série da forma
∞
∑ ck xk
k=0
é convergente para certos valores de x sem conhecermos uma expressão para a soma limite. Convém
introduzirmos a seguinte definição, para trabalharmos com séries de maneira independente.
Definição 8.2.3 Uma série da forma
∞
∑ ck x k ,
k=0
onde c0 , c1 , . . . são números reais e x é uma variável, é dita uma série de potências.
Note que a série acima não é necessariamente obtida a priori através de uma função: é possível
definir uma função através de uma série de potências, como no exemplo abaixo.
Exemplo 8.8 Sabemos que a série definida por uma progressão geométrica de razão |r| < 1
converge. Por exemplo, temos
∞
1
∑ rn = 1 + r + r2 + · · · + rn + · · · = 1 − r , para |r| < 1. (8.9)
n=0
A partir deste fato podemos definir uma função f (x) através de uma série: para cada x ∈ R
satisfazendo |x| < 1, definimos o valor de f (x) pelo valor dado pela Equação (8.9), ou seja,
∞
f (x) = ∑ xn .
n=0
O domínio da função f é dado por Dom f = (−1,1). Poderíamos ter adotado a definição mais
simples f (x) = (1 − x)−1 , porém o objetivo deste exemplo é ilustrar a possibilidade de definir uma
função através de uma série.
O teorema abaixo lida com questões como a pergunta (i) apresentada no início desta seção: ao
fixar um valor para x na série de potências ∑ ck xk , obtemos uma série numérica que pode convergir
ou não. No teorema abaixo é discutido para que valores uma dada série de potências converge; o
8.2 Séries de Potências 249
conjunto destes valores é dito seu conjunto de convergência. Note que toda série de potência desta
forma é convergente para x = 0, pois
∞
∑ ck 0k = c0 + 0 + 0 · · · = c0 .
k=0
Teorema 8.2.1 Para qualquer série de potências ∑k ck xk , exatamente uma das afirmações abaixo
é verdadeira.
(i) A série é convergente apenas para x = 0. Dizemos neste caso que o raio de convergência é
0.
(ii) A série converge absolutamente para todo número real x. Dizemos neste caso que o raio
de convergência é infinito.
(iii) Existe um número real R > 0 tal que a série converge absolutamente para x ∈ (−R, R)
e diverge para todo x ∈ (−∞, −R) ∪ (R, +∞). Dizemos neste caso que o raio de conver-
gência é R. Nos pontos x = R e x = −R a série pode convergir absolutamente, convergir
condicionalmente ou divergir, dependendo de cada série particular.
Considere um valor qualquer para x, como x = 1/2. Este valor dá origem á série de números
reais ∑∞ −k
k=0 ak , onde ak = 2 . O teste da razão absoluta (Teorema 7.9.3) fornece o limite
ak+1 2−(k+1) 1
lim = lim = lim 2−1 = .
k→∞ ak k→∞ 2−k k→∞ 2
onde é importante destacar que o limite acima está escrito na variável k, e não na variável x. Quando
k se aproxima de infinito, x permanece constante, logo
ak+1
lim = |x|. (8.10)
k→∞ ak
Note que esta expressão coincide com aquela obtido no início deste exemplo para x = 1/2. O teste
da razão absoluta afirma que
ak+1
(i) a série converge absolutamente quando lim < 1, e
k→∞ ak
ak+1
(ii) diverge quando lim > 1.
k→∞ ak
250 Capítulo 8. Séries de Potências
Segue da Equação (8.10) que a série de potências converge absolutamente (e portanto converge)
para |x| < 1 e diverge para |x| > 1. O raio de convergência é portanto R = 1.
O intervalo de convergência é determinado ao analisar a convergência da série nos valores
x = ±1, para determinarmos se os extremos ±1 devem ou não ser incluídos no intervalo (−1,1)
determinado pelo raio de convergência. Como as séries
∞ ∞
∑ 1k e ∑ (−1)k
k=0 k=0
são divergentes pelo Teorema 7.5.1, segue que o intervalo de convergência da série de potências é
(−1,1).
Procedemos análoga ao Exemplo 8.9. Seja ak = xk /k!, k ≥ 0. O teste da razão absoluta fornece
o limite k+1
ak+1 x k! |x|
lim
= lim
k
= lim .
k→∞ ak k→∞ (k + 1)! x k→∞ k
para qualquer número real x fixado. Em outras palavras, para qualquer valor de x fixado obtemos
uma série de números cujo limite no teste da razão absoluta fornece o valor zero. Segue do Teorema
7.9.3 que a série de potências converge para todo x ∈ R, isto é, o raio de convergência é infinito e o
intervalo de convergência é R.
Segue do Teorema 7.9.3 que a série de potências diverge para todo x 6= 0, isto é, o raio de
convergência é zero e o intervalo I de convergência é dado por I = {0}.
Da mesma maneira que é possível encontrar o polinômio de Taylor de uma função em torno de
um ponto diferente da origem, podemos considerar séries de potências centradas em outros pontos.
Definição 8.2.4 Seja x0 um número real qualquer e x uma variável. Uma série da forma
∞
∑ ck (x − x0 )k ,
k=0
Abaixo temos o resultado análogo sobre o raio de convergência para séries de potências em
x − x0 .
8.3 Convergência de séries de Taylor 251
Teorema 8.2.2 Para qualquer série de potências ∑k ck (x − x0 )k , exatamente uma das afirmações
abaixo é verdadeira.
(i) A série é convergente apenas para x = x0 . Dizemos neste caso que o raio de convergência
é 0.
(ii) A série converge absolutamente para todo número real x. Dizemos neste caso que o raio
de convergência é infinito.
(iii) Existe um número real R > 0 tal que a série converge absolutamente para x ∈ (x0 − R, x0 +
R) e diverge para todo x ∈ (−∞, x0 − R) ∪ (x0 + R, +∞). Dizemos neste caso que o raio de
convergência é R. Nos pontos x = x0 + R e x = x0 − R a série pode convergir absolutamente,
convergir condicionalmente ou divergir, dependendo de cada série particular.
Procedemos de maneira análoga àquela vista no Exemplo 8.9. Temos pelo teste da razão
absoluta para ak = k(x + 2)k /3k+1 , k ≥ 0, que
(k + 1)(x + 2)k+1 3k+1
= lim k + 1 |x + 2| .
ak+1 k +1 x+2
lim
= lim
k+2 k
= lim
k→∞ ak k→∞ 3 k(x + 2) k→∞ k 3 k→∞ k 3
Lembramos novamente que o limite acima é feito na variável k, de modo que x representa apenas
uma constante. Como
k+1
lim = 1,
k→∞ k
temos que
ak+1 |x + 2| k + 1 |x + 2|
lim
= lim = .
k→∞ ak 3 k→∞ k 3
O teste da razão absoluta afirma que a série converge absolutamente quando o limite é menor que 1
e diverge quando o limite acima é maior que 1. Devemos então ter
|x + 2|
< 1 ⇐⇒ |x + 2| < 3
3
para que a série seja convergente. Note que a série de potências dada é escrita como potências de
x − x0 , onde x0 = −2. Segue que o intervalo de convergência tem raio 3 e centro em x0 = −2; os
extremos deste intervalo são dados por x = −5 e x = 1.
Devemos agora analisar o comportamento da série nos extremos deste intervalo, isto é, a
convergência da série de potências nos pontos x = 1 e x = −5. Temos respectivamente as séries
∞
k3k ∞
k ∞
k(−3)k ∞
k
∑ 3k+1 = ∑ 3 e ∑ k+1
= ∑ (−1)k ,
k=0 k=0 k=0 3 k=0 3
ambas divergentes pelo Teorema 7.5.1. Segue que o intervalo de convergência da série de potências
dada é (−5,1).
No entanto, é possível que a série de Taylor de uma função convirja para um valor diferente. Este é
o caso da função
exp(−1/x2 ), para x 6= 0,
f (x) =
0, para x = 0.
Veja a Figura 8.11. É possível provar que:
(i) f (x) é infinitamente diferenciável em x = 0 e
(ii) f (k) (0) = 0 para todo k ≥ 1
Segue que a série de MacLaurin de f é dada por
∞
xk ∞
∑ f (k) (0) = ∑ 0 · xk .
k=0 k! k=0
Logo a série de MacLaurin de f é convergente para todo x ∈ R e fornece o valor 0 para todo x ∈ R,
o que não coincide com o valor que f assume.
Este caso é considerado patológico, mas devemos de qualquer maneira considerar esta pergunta:
Dada uma função f (x) infinitamente diferenciável em x = x0 , existe
um intervalo contendo x = x0 onde a Equação (8.11) é verdadeira?
Note que a Equação (8.11) é verdadeira se e somente se
!
n
(x − x0 )k
lim f (x) − ∑ f (k) (x0 ) = 0,
n→∞
k=0 k!
onde o somatório acima representa o n-ésimo polinômio de Taylor da função f ; veja a Definição
8.1.2. A diferença em parênteses na equação acima representa o erro na aproximação discutida no
começo da Seção 8.1; veja a Equação (8.8).
Teorema 8.3.1 Sejam f (x) uma função infinitamente diferenciável em x = x0 e Rn (x) como na
Equação (8.8). A igualdade
∞
(x − x0 )k
∑ f (k) (x0 ) k!
= f (x)
k=0
Exemplo 8.13 Mostre que a série de MacLaurin para f (x) = sen(x) converge para f (x) para
todo número real x.
Sabemos que a série de MacLaurin de f (x) = sen x é dada por
∞
x2k+1
∑ (−1)k (2k + 1)!
.
k=0
Veja o Exemplo 8.7. É possível mostrar que esta série converge para todo x ∈ R. De fato, seja
ak = (−1)k x2k+1 /(2k + 1)!, k ≥ 0. Então,
2k+3 x2
ak+1 k+1 x (2k + 1)!
lim
= lim (−1)
k 2k+1
= lim
,
k→∞ ak k→∞ (2k + 3)! (−1) x k→∞ (2k + 3)(2k + 2)
onde usamos o fato que (2k + 3)! = (2k + 3)(2k + 2)(2k + 1)!. Então para qualquer x ∈ R temos
|x|2
ak+1
lim = lim = 0,
k→∞ ak k→∞ (2k + 3)(2k + 2)
Segue da Equação (8.12) que limn→∞ Rn (x) = 0 e portanto, pelo Teorema 8.3.1, a série de MacLaurin
de f (x) = sen x converge de fato para f (x).
Exercício 8.9 Mostre que a série de MacLaurin para f (x) = ex converge para f (x) para todo
número real x.
O Teorema 8.1.2 nos permite determinar se a Equação (8.11) é verdadeira, isto é, se a série de
Taylor de uma função f converge de fato para o valor da função.
Teorema 8.3.2 As séries de potências abaixo convergem para as funções indicadas no intervalo
indicado.
∞
1
(i) ∑ xk = 1 − x para −1 < x < 1;
k=0
∞ k
x
(ii) ∑ k! = ex para x ∈ R;
k=0
∞ k
x
(iii) ∑ = − ln(1 − x) para −1 < x < 1;
k=1 k
∞
x2k
(iv) ∑ (−1)k (2k)! = cos x para x ∈ R;
k=0
254 Capítulo 8. Séries de Potências
∞
x2k+1
(v) ∑ (−1)k (2k + 1)! = sen x para x ∈ R.
k=0
É importante observar que o Teorema 8.3.2 oferece uma expressão algébrica para as funções
acima no domínio indicado. Por exemplo, como
∞
xk
ex = ∑ k! ,
k=0
x k
Mais ainda, como a igualdade ex = ∑∞ k=0 k! vale para todo x ∈ R, ela também será válida para todo
t ∈ R se x = −t 3 :
k
−t 3
∞
(−t 3 )k ∞
(−1)k t 3
e =∑ =∑ .
k=0 k! k=0 k!
Teorema 8.3.3 Se uma série de potências ∑k ck (x − x0 )k tem raio de convergência R > 0, então
a função definida por
∞
f (x) = c0 + c1 (x − x0 ) + c2 (x − x0 )2 + c3 (x − x0 )3 + · · · = ∑ ck (x − x0 )k
k=0
d
Exercício 8.10 Use as séries de MacLaurin das funções sen x e cos x para verificar que sen x =
dx
cos x.
Exercício 8.12 Calcule a integral termo a termo da série de MacLaurin da função 1/(1 + x2 )
obtida no Exercício 8.11 para encontrar a série de MacLaurin da função arctan x.
A. Coordenadas Polares
Nesta seção estudaremos uma maneira alternativa de descrever pontos do plano. Este conteúdo
nos ajudará a calcular integrais duplas (e triplas), mas é importante ressaltar que as aplicações de
coordenadas polares não se restringem ao cálculo de integrais múltiplas.
Podemos descrever a localização de um ponto P do plano através das coordenadas (x,y) usuais:
estes números representam a distância de P aos eixos x e y. Alternativamente, consideramos um
ponto O, dito o polo, e um eixo semelhante ao eixo x, dito o eixo polar; localizamos P no plano
através do par (r,θ ), onde r representa a distância de P até a origem e θ o ângulo entre o eixo polar
−→
e OP no sentido trigonométrico. Veja a Figura A.1.
Note que podemos representar um mesmo ponto em coordenadas polares através de diferentes
pares (r,θ ) ∈ R2 . Para cada ponto P(r,θ ) do plano, os pares (r,θ + 2π), (r,θ + 4π), etc, representam
o mesmo ponto P. Outros pares (r,θ ) com r < 0 também representam o mesmo ponto P; veja a
Figura A.2. Frequentemente consideramos para r valores não negativos e fixamos para a variável θ
o intervalo [0,2π] ou [−π,π].
A transformação de coordenadas polares para coordenadas cartesianas é simples, basta conside-
256 Capítulo A. Coordenadas Polares
y
r 2 = x 2 + y2 tg θ = (A.2)
x
Observamos, no entanto, que dado qualquer número w ∈ R existem dois ângulos θ1 , θ2 ∈ [0,2π]
tais que tg(θ1 ) = w e tg(θ2 ) = w; esta escolha deve ser feita com bastante atenção.
Exemplo A.1 As coordenadas cartesianas para o ponto (r,θ ) = (2, π/4) são dadas por
√
2 √
x = r cos θ = 2 · = 2,
2
√
2 √
y = r sen θ = 2 · = 2.
2
√
Exemplo A.2 Determine coordenadas polares para o ponto (x,y) = (− 3,1).
Temos pela Equação (A.2) que
p q √
r = x + y = (− 3)2 + 12 = 2,
2 2
−1
y
−1 1
θ = tg = tg −√ .
x 3
√
Como tg(π/6) = 1/ 3, temos que
√
π π 3
tg π − = tg − =− .
6 6 3
Os pontos (r,θ ) = (2,5π/6) e (r,θ ) = (2, − π/6) representam,
√ respectivamente, pontos no segundo
e quarto quadrantes. Portanto, o ponto (x,y) = (− 3,1) corresponde a (r,θ ) = (2,5π/6).
outros quadrantes. O mesmo pode ser dito das propriedades trigonométricas abaixo, principalmente
no que diz respeito a integração de funções trigonométricas:
cos2 θ + sen2 θ = 1,
tg2 θ + 1 = sec2 θ ,
cotg2 θ + 1 = cosec2 θ , (A.3)
cos(a + b) = cos a cos b − sen a sen b,
sen(a + b) = sen a cos b + sen b cos a.
Uma equação em duas variáveis F(x,y) = 0 descreve uma curva no plano através de coordenadas
cartesianas. Da mesma forma, uma equação F(r,θ ) = 0 descreve uma curva no plano, que consiste
em todos os pontos que possuem pelo menos uma representação polar que satisfaz essa equação.
Lembramos que um mesmo ponto possui diferentes representações em coordenadas polares: por
exemplo, o ponto (x,y) = (−1,0) pode ser representado como (r, θ ) = (1, π) ou (r, θ ) = (−1,0).
Como um primeiro exemplo, observamos que a equação r = k descreve o conjunto de pontos a
uma distância fixa do polo (origem), logo a curva em questão é a circunferência de raio r = k. Veja
a Figura A.3. Vejamos agora o que ocorre com a equação θ = t: esta equação descreve o conjunto
de pontos P tais que OP forma um ângulo fixo t com o eixo polar; considerando não só r ≥ 0, mas
também valores negativos para r, concluímos que a equação θ = t representa uma reta que contém
o polo (origem). Veja a Figura A.4.
Obs A.0.2 Um ponto do plano contém muitas representações polares distintas e escolhemos a
mais conveniente em cada situação. No caso de uma reta θ = t, ilustrada na Figura A.4, optamos
por manter o ângulo θ fixo e considerar valores positivos e negativos para r:
{(r, θ ) ∈ R2 : θ = t, r ∈ R}.
Esta última descrição pode não ser tão conveniente por ter um caráter descontínuo.
Exemplo A.3 Esboce a curva definida pela equação r = 6 sen θ .
Faremos uso das Equações (A.1) e (A.2) para tal: como y = r sen θ , temos r = 6 sen θ se e
somente se
y
r = 6 · =⇒ r2 = 6y =⇒ x2 + y2 = 6y.
r
Completando quadrados obtemos:
x2 + y2 − 6y = 0 ⇐⇒ x2 + y2 − 6y + 9 − 9 = 0 ⇐⇒ x2 + (y − 3)2 = 9.
258 Capítulo A. Coordenadas Polares
Segue que a equação r = 6 sen θ define uma circunferência de raio 3 e centro (0,3). Veja a Figura
A.5.
Algumas regiões planas são descritas mais facilmente através de coordenadas polares; isto nos
é bastante útil no cálculo de integrais duplas. Como exemplo, consideramos a região
Veja a Figura A.6. As descrição dada pela Equação (A.5) sofre de ambiguidade na fronteira do
retângulo da Figura A.6 no seguinte sentido: todos os pontos do segmento r = 0 correspondem ao
ponto (x,y) = (0,0); mais ainda, os segmentos θ = 0 e θ = 2π correspondem ao mesmo segmento
nas coordenadas cartesianas. Veja a Figura A.7. Entretanto, para cada ponto (x,y) no interior
deste retângulo, temos exatamente um ponto da forma (A.4) e vice-versa. Temos uma situação
semelhante para o retângulo definido pela Equação (A.6).
Considere agora as Equações (A.7) e (A.8) abaixo:
Exemplo A.4 Descreva em coordenadas polares a região D do plano limitada pela circunferência
x 2 + y2= 4 que se encontra à direita da reta x = 0.
Uma representação gráfica desta região é encontrada na Figura A.8. A circunferência x2 +y2 = 4
possui equação r = 2 em coordenadas polares. Considerando o intervalo [0, 2π] para a coordenada
θ , podemos descrever esta região como
D = {(r, θ ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 0 ≤ θ ≤ π/2} ∪ {(r, θ ) ∈ R2 : 0 ≤ r ≤ 2, 3π/2 ≤ θ ≤ 2π}.
A descrição acima, entretanto, possui um caráter descontínuo que pode ser evitado ao se considerar
Obs A.0.3 Cabe ressaltar que um intervalo da forma [0,2π] é suficiente para descrever os pontos de
uma circunferência, mas em alguns casos é necessário considerar um intervalo maior para descrever
(sem ambiguidade) uma curva. Este é o caso da curva r = θ , θ ∈ [0, 8π]. Veja a Figura A.9.
Conforme vimos nas Seções 1.1 e 1.2, o domínio de uma função de duas ou três variáveis é
um conjunto de R2 ou de R3 , respectivamente. Conjuntos fechados também desempenharão um
262 Capítulo B. Topologia de Rn
papel importante na busca por máximos e mínimos de funções de várias variáveis. Ao estudo de
conjuntos abertos e fechados damos o nome de topologia.
O conceito fundamental no estudo da topologia de Rn é a distância entre dos pontos, de modo
que as definições que apresentamos abaixo para conjuntos de R2 podem ser adaptadas prontamente
para espaços de dimensão n 6= 2, como R ou R3 ; basta interpretar corretamente o significado do
conceito de distância em cada espaço.
Definição B.1 Sejam P1 = (x1 , y1 ) e P2 = (x2 , y2 ) pontos de R2 . Definimos a distância destes
pontos como q
|P1 − P2 | = (x1 − x2 )2 + (y1 − y2 )2 .
Denotaremos a distância de dois pontos P1 , P2 também por d(P1 , P2 ).
Com exceção de conjuntos triviais como o conjunto vazio ou um conjunto unitário, um dos
conjuntos mais simples de R2 é um disco. Definimos um disco a partir da noção básica de que uma
circunferência é lugar geométrico dos pontos a uma distância fixa de seu centro. Mais precisamente,
a circunferência de raio r e centro P0 de R2 pode ser descrita como {P ∈ R2 : |P − P0 | = r}. Um
disco fechado de R2 é um conjunto que contém a fronteira de uma circunferência assim como seu
interior. Um disco aberto é um conjunto que contém o interior de uma circunferência, mas não a
circunferência propriamente dita.
Definição B.2 Sejam P0 um ponto de R2 e r > 0. Definimos o disco fechado de R2 de centro
P0 e raio r como o conjunto
B(P0 , r) = {P ∈ R2 : |P − P0 | ≤ r}.
Exercício B.1 Considere o ponto P0 = (1,2). Determine se as afirmações abaixo são verdadeiras
ou falsas, justificando.
(a) (3,4)
∈
/ B(P0 ,2)
3
(b) , 3 ∈ B(P0 ,2)
2
√ !
3 4+ 3
(c) , ∈ B(P0 ,2)
2 2
√ !
3 4+ 3
(d) , ∈ B(P0 ,2)
2 2
263
Como mencionado acima, basta interpretar corretamente o conceito de distância que as defini-
ções e teoremas apresentados nesta seção sejam válidos para Rn , n ≥ 1. Daremos destaque não só a
de conjuntos do plano mas também a conjuntos da reta, já que este espaço nos é bastante familiar.
O disco aberta de R2 de centro P consiste do conjunto de pontos do plano a distância menor que r
de P; o conceito análogo de R é o conjunto de pontos a distância menor que r de um número a, ou
seja, o intervalo (a − r, a + r). Analogamente, discos fechados de centro P e raio r correspondem a
intervalos da forma [a − r, a + r].
A seguir apresentamos os conceitos de ponto interior e ponto de fronteira de um conjunto.
Tome o exemplo do intervalo [0,1]: ambos os pontos 0 e 1/2 pertencem ao intervalo [0,1], mas o
ponto 0 intuitivamente pertence à fronteira deste conjunto, enquanto o ponto 1/2 não. O ponto 0 é
ponto de fronteira de [0,1] e o ponto 1/2 é ponto interior a [0,1].
Definição B.3 Seja A um conjunto de R2 .
(i) Dizemos que P é ponto interior a A se existe r > 0 tal que B(P,r) ⊆ A.
(ii) Dizemos que P é ponto exterior a A se existe r > 0 tal que B(P,r) ∩ A = 0.
/
(iii) Dizemos que P é ponto de fronteira de A se P não é ponto interior ou exterior a A.
É possível provar que P é um ponto de fronteira de A se e somente se para todo r > 0 o disco
B(P,r) contém pontos de A e seu complementar R2 − A.
Cabe ressaltar que P é dito um ponto interior a A se existe um disco centro em P que está
contido em A. Não é necessário que todos os discos centrados em P estejam contidos em A; basta
que um deles esteja e a definição de ponto interior estará assim satisfeita. Veja a Figura B.5.
A partir das definições acima, que tratam da natureza de um ponto em relação a um conjunto,
definimos o que são conjuntos abertos e fechados.
Definição B.4 Seja A um conjunto de R2 . O interior de A, denotado por int A, é definido como
o conjunto de pontos interiores a A:
Dizemos que A é um conjunto fechado se A contém todos os seus pontos de fronteira, isto é, se
∂ A ⊆ A.
Definição B.6 Seja A um conjunto de R2 . O exterior de A, denotado por ext A, é definido como
o conjunto de pontos exteriores a A:
int A ∪ ∂ A ∪ ext A = R2 .
Exercício B.2 Para cada um dos conjuntos abaixo, determine e esboce seu interior e sua
fronteira. Determine também se os conjuntos são abertos e/ou fechados.
(a) A1 = {(x,y) ∈ R2 : 1 ≤ x ≤ 2, 1 ≤ y ≤ 2}
(b) A2 = {(x,y) ∈ R2 : 1 < x < 2, 1 < y < 2}
(c) A3 = {(x,y) ∈ R2 : 1 ≤ x ≤ 2, 1 < y < 2}
(d) A4 = R2
(e) A5 = {(1,1)}
Pontos de acumulação são fundamentais para a definição do conceito de limite. Veja o exemplo
ilustrado na Figura B.6, onde o domínio da função está destacado em vermelho. O ponto x = −5
265
não é um ponto de acumulação da função ilustrada. Apesar da função possuir uma descontinuidade
no ponto x = 1, é natural pensar em limites laterais e no limite absoluto de f (x) à medida que x se
aproxima de 1. A discussão de qualquer tipo de limite de f (x) quando x se aproxima de x = −5
não faz sentido.
O teorema abaixo fornece uma caracterização de pontos de acumulação. Isto significa que você
pode usar a condição da Definição B.7 ou a condição do teorema abaixo como definição de ponto
de acumulação; adote aquele com que você se sente mais à vontade.
Teorema B.2 Seja A um conjunto de R2 . Um ponto P ∈ R2 é ponto de acumulação de A se e
somente se para todo r > 0 o disco B(P,r) contém infinitos pontos de A.
Por fim, apresentamos a definição de conjunto limitado. Este conceito é importante no contexto
de máximos e mínimos de funções contínuas, discutido no começo desta seção. Uma função
contínua de uma variável f (x) admite máximo e mínimo em um intervalo fechado desde que este
intervalo seja limitado. Por exemplo, a função f (x) = x é contínua no intervalo [1, +∞) mas não
admite ponto de máximo neste intervalo. Veja a Figura B.8 Veremos que este intervalo não é
limitado com a definição abaixo.
266 Capítulo B. Topologia de Rn
Definição B.8 Dizemos que um conjunto A de R2 é limitado se existe r > 0 tal que A está
contido no disco de raio r e centro na origem O = (0,0):
A ⊆ B(O,r).
Mencionamos acima que basta adaptar o conceito de distância em espaços de dimensão maior
para que as definições e teoremas desta seção se apliquem nestes espaços. Definimos abaixo
precisamente a distância entre dois pontos de Rn .
Definição B.9 Sejam P = (x1 , . . . , xn ) e Q = (y1 , . . . , yn ) pontos de Rn . Definimos a distância
destes pontos como
q
|P − Q| = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + · · · + (xn − yn )2 .