Você está na página 1de 1

EXÍLIO E SOLIDÃO EM DE CÓCORAS, DE SILVIANO SANTIAGO

No Brasil de hoje, são inúmeras as formas que o romance vem assumindo, sobretudo se
pensarmos nas novas produções culturais, no novo horizonte técnico, enfim, na multiplicidade
de situações que a vida contemporânea propõe, nestes tempos de violência social, ceticismo
político e fascinação tecnológica. A situação primitiva em que se inseria o universo do narrar
um acontecimento a ser narrado, um público a quem se narra e um narrador que serve de
mediador entre essas duas esferas – contamina-se hoje pela atitude reflexiva própria do ensaio.
Flora Sussekind e Antonio Candido, este em “A nova narrativa”(CANDIDO, 2000) e aquela em
“Ficção 80”(SUSSEKIND, 2002), já anunciavam, há alguns anos, essa nova perspectiva de que
se vale agora o autor no espaço do narrar. A investigação da escrita ficcional de Silviano
Santiago justifica-se por, primordialmente, o tom de (des)continuidade das características dos
sujeitos: o moribundo, o aposentado, o esquecido pelo mundo e avesso a ele, todos marcados
pelo traço do isolamento e da atitude de construção da identidade via memória. Em De cócoras,
as reminiscências têm importância fundamental na trama, uma vez que, nos momentos finais de
sua vida, Antônio se dedica a recordar, sobretudo, cenas de sua infância e juventude. A memória
então é acionada por meio de fotografias, recordações de músicas, de filmes, enfim, do mundo
íntimo do personagem que, aos poucos, se descortina, ainda que de forma opaca, diante de si. O
patrimônio de reminiscências faz, portanto, do personagem um cativo de suas lembranças. São
lembranças que se vão ancorar nos longes da infância, e que ganham vida, novamente, pelo
sopro renovador da recordação.

Palavras-chave: Exílio. Solidão. Narrativa contemporânea.

Você também pode gostar