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Carta aos brancxs “politizadxs” autointituladxs intelectuais de Governador Valadares/MG

Queridxs (alguns nem tanto),

Essa carta é motivada por um episódio de violência de cunho simbólico ocorrida em


14/12/2019. E como brancx não perde a oportunidade de fazer branquice, vamos lá. Estava em
um samba com músicos, em sua maioria, brancxs (já me dá taquicardia). Depois de umas três
horas de samba no pé e no gogó, surge a ideia de colocar um funk porque a gente gosta
também de fazer uns quadrados no ar. Alguém colocou. Começamos a dançar. Os músicos se
afastam dizendo que iriam embora se continuasse porque “fora do meio”.

Esses caras, fazendo uso da cultura afro-brasileira, conhecem a história do samba? Pelo jeito
não. Sabem eles que há uns 100 anos portar pandeiro já foi motivo de prisão? Vão estudar!
Pensando em eurocentrismo, a gente já tem que se (des)educar, tentar (des)educar xs nossxs e
ainda tentar não morrer pelas mãos do Estado. O Estado já nos quer mortxs ou criadxs-mudxs,
parem de querer nos matar simbolicamente, de querer nos jogar contra nossa cultura, contra
o que nos dá vida interna. Quem colocou o funk ficou com o sentimento de que tinha feito
algo errado. Parem de armar campos de batalha minados e ideológicos internos e entre nós.
Esse discurso e ação é a ponta do que legitima ações criminosas e genocidas praticadas pela
PM como o assassinato recente de adolescentes e jovens negrxs em Paraisópolis no RJ, o
assassinato de Marielle Franco, o desaparecimento de várixs outrxs (como o de Amarildo Dias
de Souza, morador da Rocinha) ou prisões políticas, classistas e racistas (como a de Preta
Ferreira, presa por lutar por moradia em SP).

Inclusive descobri que esse é um pensamento que vem sendo disseminado inclusive por
membros do PC do B / GV.

Se quiserem discutir a hipersexualização das mulheres negras, o machismo, a cultura do


estupro, a pedofilia e outras questões vocalizadas no funk tamo junto. Mas discutir isso é
discutir a sociedade brasileira, uma cultura, não o funk em si. Botar o funk como cultura de
segunda classe (ou nem isso) é classista, é racista, é genocida. Não vi pudor nenhum ao
cantarem “Amélia”.

Apenas parem. Se não for pedir muito, parem e pensem. Vocês precisam do samba. O samba
que fala em mim, assim, não precisa de vocês. Cultura não é só o que faz brancx burguês
dormir em paz. E MPB é a sigla de Música Popular Brasileira e não Música Para Branco.

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