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Touro: A Arte de Sentir / O Prazer de Ser

Segundo Leonardo
da Vinci, os sentidos
são os guias da Alma.
Palavras de um Artista,
palavras de um Touro.
Ver, tocar, ouvir,
cheirar, saborear… e
talvez ainda um outro
sexto sentido: eis o
território de Touro.

É através dos
sentidos que nos
relacionamos com o
mundo. Eles são os
portais que permitem a
comunicação entre o
espírito e a matéria. E
o papel de Touro é
estabelecer e aprimorar essa ponte.
O prazer que as sensações físicas nos devolvem tem como propósito ancorar o
espírito na matéria. Não se trata de um engodo, de um artifício diabólico destinado a
obscurecer o espírito numa eterna prisão de separatividade.
O prazer é o grande incentivo à vida, um propulsor que nos lança na aventura da
experiência, da evolução, da criação. E se o prazer assume as mais variadas formas de
complexidade e subtileza, o prazer dos sentidos é a sua manifestação primordial. As
primeiras sensações de prazer físico que experimentamos, muito presentes no acto da
amamentação, imprimem em nós valores estruturais, como a segurança, a
abundância, a relação. E é precisamente a questão dos valores estruturais da
personalidade que está na essência do arquétipo de Touro, de um ponto de vista
psicológico.
Viver plenamente este arquétipo, requer abraçar totalmente a experiência material
sem perdermos a ligação à nossa essência transcendente. Implica amar a encarnação,
celebrar a vida terrena e usufruir dos prazeres que ela nos proporciona, saborear boa
comida, cuidar do corpo e da aparência, estimular a sensualidade, refinar o toque, o
beijo, o abraço… E nesse caminho descobrir o potencial criativo da matéria, descobrir a
Arte, quer como fruidor quer mesmo como criador.
Mas este é um percurso de fácil perdição. O prazer, tornado culto, vira indulgência.
A inércia pode tomar o lugar da actividade criativa. E a segurança não vir a ser mais
que uma teimosa desculpa para fincar pé, recusando os desafios, resistindo ao fluxo da
vida.
Perante a dificuldade de percorrer este caminho pejado de atractivos logros, surge
muitas vezes a culpa e a negação dos prazeres materiais como algo indigno e
desprovido de luz, tornando assim a vida num fardo de castigo.
Como em tudo nesta realidade dual, o segredo está no arquétipo do signo oposto:
Escorpião. Em doses homeopáticas mas consistentes, Touro deve aceitar a crise e a
ruptura em momentos chave, abrindo espaço a transformações que permitirão manter
sã a estrutura, por vezes bem pesada, que sustenta.

O planeta Vénus é regente


de Touro. Nada menos que a
deusa do amor e do prazer
sensual. Casada com Vulcano, o
ferreiro dos deuses olímpicos,
o mito deste improvável casal
ilustra profundamente o
arquétipo de Touro.
Vénus nasceu da espuma do
falo castrado de Úrano. Trazida
pelas ondas do mar deu à
costa, bela e incomparável. Por
sua vez, feio e deformado,
Vulcano desenvolveu talentos
de suprema mestria na procura de compensar os seus fracos atributos de nascença.
Como tal, os objectos que fabricava, com extrema perfeição e requinte, eram
cobiçados por todos os seus pares.
Enquanto Vénus representa o reconhecimento e usufruto dos dons naturais e
inatos, Vulcano ilustra o trabalho interno na conquista do auto-valor e na
exteriorização das capacidades criativas. Ou seja, ambas as dimensões do processo de
desenvolvimento Taurino.

Para Touro é extremamente importante a concretização material, seja pela


construção ou pela aquisição. Rodear-se daquilo que valoriza é para este signo um
meio de consolidar a sua identidade. As coisas que possuímos, as roupas que usamos,
os Cd’s e os livros que coleccionamos nas prateleiras, falam de nós. O que gostamos e
valorizamos está directamente ligado ao que somos. E Touro gosta de manter próximo
de si tudo o que a si está ligado.
Muitas vezes tido como “materialista”, o papel deste signo prende-se de facto com
a necessidade de concretizar, em forma palpável, os desígnios do espírito. Assim, a
visão espiritual de Touro não está focada num ideal projectado numa realidade subtil e
incorpórea. Mais do que sonhar com o Paraíso, Touro está investido em materializa-lo,
aqui, agora.

20 Abril 2012
Jorge Lancinha

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