Você está na página 1de 29
outa anamelia bueno buoro olhos que pintam a leitura da imagem e o ensino da arte educ $2] iner Arapesp © ‘So Paulo 72002 porque sua blografiaseja to desconhecida da maioria dos brass {Quanto sua linguagem considerada inacessivel, ‘Ler uma obra de arte baseando-se exclusivamente nas Informages histéricas ou socildgicas &, até certo ponto, ouvir a letura de outrem, ou sela, ler com as lentes de outros saberes interpostas entre nosso olhar e o objeto. Aqui é preciso fazer uma ressalva 2 elite de educadores de arte brasieros com acesso a formacSo mais consistente,& Iteratura, & obra original, mediante Vistas @ museus nacionas e estrangelros, et. € preciso esclarecer ‘ue este trabalho taminém destina-se a eles, tanto quanto Squeles ‘que se véem bmados por ccunsténcias que vlo dos babxossaérios ‘Que quer ver objetvamente o munda de um ponto de vista dversO daquele adotado pelos impressionstas, considerados artistas subjetivs. Orentado por um discus creo e seguro, o enunciato compreende por que Cézanne é o primero artista na Hstona da Ate a ver 0 mundo objetivamente. Na esteira dessa revelacdo, 0 natrador expe as diferentes mansiras de representacao da realade, reafimando nessa trajtiria que natureza € uma coisa e arte @ ‘utra. Fica care, portanto, a concepcio que esté presente na ralz se producio da Alte Moderna: @ ae vista como objeto resutante da prod do artista, qua incorpora sua produgdo pensamentos € reflexes sobre o’mundo, sobre a vida, sobre os homens Dresenticando uma nova realdade, dferentemente das visbes que ‘dizem ser a arte uma representacao da realiade. ‘Ao constrir seu texto, apesar de conceltuar movimentos arisen 20 inicio de cada capitulo, Read apropria-se de percursos deartistas ‘coma fnalidade de fundamentar suas concepgées. Assim, apresenta _ Ws lnformagées biogrficas do artista, caracteriza sua personaidade, fpiota seu método de trabaino, recor a ciagbes que postam fcrescentarfacetas & sua narrativa e dal prosseque, conceltuando Dolovas-chave do vacabulirio do pripio artist, como o termo modular, que para Cézanne significa “ajustar um material (n0 aso, Ua) @ cert ampitude ou itensidade (no caso, de cor” (ker, 4). Partindo de uma citagdo de Baudelaire ~ “O artista $6.6 Fesponsvel por si mesmo e mais ninguém" (idem, p. 17) ~, 0 ‘ghunciador fa referéncia as influéncas de Cézanne, relterando que "ilo existe uma Escola de Cézanne, mas tampouco existe qualquer sta de vulto do século XX que ngo tenha sido infuenciado por ‘lgum aspecto da obra de Cézanne” (idem, p. 18). ‘Chamando a atenco para asinfluéncas da pinturajaponesa nos uses europeus, 0 narrador dé énfase também as obras produzisas Nv Grd-Bretanha, a partir do trabalho de Wiliam Morris junto 0 Movimento de afte e ofcios. O primeiro capitulo de sua histéria ‘onst-se numa relacSo de irtersemiosesestabelecias entre artistas ‘ontemporéneos e Cézanne, referindo-se também aartstas de séculos “anteriores Squele em que este viveu. No timo pardgrafo do capitulo, ‘encontramos a afrmacso de que (0). yt tinquagam da ate deara de ser adequoda 8 ‘Sines humana uma nova inguagem ta deer ‘Sable, Shae por sn, lage por agen te que 8 ‘ie putas una vez maser ma necessdae 0 So 20 ‘naval (idem, p28) Toi exemplos, narrados 20 longo das primeiras 28 piginas do lwo, revelam simuitaneamente aos olhos do leitor © esgotamento e uma estética © 2 emergéncia de outra. Segundo em direeSo & Eonceituago de outros movimentas attics desse mesmo perodo, (texto estabelece conexes enre Franca e Alemanha, ctando nomes We artistas e datas e destacando ainda dolstrabalhos inseridos No Imovimentn moderna da arte Sia eles, Abstraccisn y naturalars (1908), de Wien Worringer,® que apresentaa ida de uma vontade fe abstracdo em arte, e Do espintual na arte (1912; 1990) de Kandinsky, no qual emerge pela primeira vez, na Histéra da Arte, de fcordo com Read, a nogio da existéncia'de uma necessidade Intrinseca do ser humano, como ferdmeno contemporineo gerador 2 produco da ate abstrata (1980, p. 32). ‘questo da abstracao na arte miodema ¢trabahada no dilogo cestimulado por outros teéricos. 0 autor revela ao letor que seu papel de historiador “deve apontar semelhangas e identidades que Incam no ser oinviduo tao Unico quanto supde e que, por mals Isolada que seja a posicdo que ele possaassumir, est expost, nfo Cbstante, 8 germinacao de sementes invisivels" (idem, p 48). Nessa Ctagéo, 20 afrmar que 0s indviduos ro sBo tHo dnicos como $e 'supbe e que um substrato coltive resste ro individual, transparece ro pensamento do hsteradar da arte algo da urdiura tadrico= fisofica da psiclogia anal, tal como cancebida por Cari Gusta Jung em seus concetes de inconscientecoletvo e arquétipo, A tla {e mera curasidade,sabe-se que Read e Jung particparam Juntos o Cireulo de Eranos, uma escola de sabedoria com perfilde confara. de cariteriicitico,fundada em Ascona por uma ex-paciente do segundo, e& qual também pertenceram Mircea Eliade e H. Corbin ' cada capitulo da Histéria da pintura moderna, 0 narrador Posicona-se como observador dos fatose, mediante uma objetvidade ‘que se pretende minuciosamenteinformatva, persistetecendo sua Rarrativa, enquanto propée um percurso estratégico para a {tansformacdo que quer promaver: "As orgens da arte moderna “O grande avango";"Cubisma"; "Futurism, Dadalsmo eSurrealsmo"; “Picasso, Kandinsky e Klee’ “Origens e desenvolvimento de uma arte de'relacées determinadas: Construbvismo"; “Origens e desenvohimento de uma arte de necessidadeinea: Expressionismo ‘Abstrato"; "Depois do Expressionsmo Abstrato" “Sinopse plctrica da pintura moderna Discorrendo sobre suas i6ias acerca de como deve ser escrita a Histra da Arte, Read adota um posicionamento em primeira pessoa ‘que intensfica'@ paticulardade de sua observacio pare, eno, atiemar: ‘Ansa a ae be ses, confome sige, em un20 do [dor arte ~ qr dat como ua wander goal de Foes vss mas 0 no gia que devamos siesta 25 fora cases qe, desde o ego do moments ‘omtndco wetem tater cso co murder (dem, 3) 0 destinador estabelece uma rede de informacBes que tanto alimentam-se das modificacbes estruturals do texto visual quanto = oropriam-e das informagtes prevenientes do contexto sociocultural, Setininda coma momento de ihertacio de cubism aque erm que 6 foco da realzagdo do quadro, canforme tentado por Cézanne, & fabandonado (idem, p. 82). A autonomia do cubismo & entio fentendida pela prépria questo cubista, agora desvinculada das Iivéncias eezannianas. Para construir um conhecimento sobre esse mesmo assunto,o narra exclarece ao Seu narratéro que oc" dea de sr cnc, rand o objet um anus ‘ipcl ge para om pono cmnane em oss tate Sheeetironipseoupcincne pessoas coe ‘irouer, mas to cra rgreseragio de un imagen fercpta inet. Ese pens un abea Se pace" €8 fro composo (im 2) esse mesmo exempo,o enuncador ainda evidencia seu percurso acrativo de construgso da competéncia do enunciatéro-etor de $a hstéria,argumentando com ofim de esclarecé-o sobre oconceto ‘ubista de simultaneidade do tempo, o qual atera 0 paradiama da producao da ate. De novo, essa maneira de conduzir 0 argumento G'reveladora de um leltor que precisa ser informado sobre tals fquestées, a8 quals muito possivelmente no domina. Em outro momento, a natrativa aborda os processos de rupture da arte, para fentdo apontar no Cubismo a grande ruptura da arte modema, tdesencadeada pela quebra co paradigma do ponto de vista Gnico tanto quanto pela lire assocacSo de quaisquer elementos visuas ‘Oacessoaesse tipo de informacaoé paticularmente importante para as ecucadores de arte citadas neste trabalho, pois assim poderSo fprofundar sua compreensio das rypturas de linguagem acontecidas fa Arte Mederma, posto que, para esses sujttos, 0 conhecimento ‘acerca da Histéria da Ate anda persist comprometido no que diz respeto aquisiclo de uma maior competéncia que Ihes possibile Considerar © momento da arte modema na pintura com valor Semethante bquele atibuldo a0 Renszcimento. Na extra desse process, o texto de Read passa entao a destacar ‘obras que incorporam ruptures, justficando assim seus pressupostos teéricos. 0 enunciedor informa a seu enunciatério, por exempo, {que em 1928 Picasso “fez uma série de desenhos em que a figura humana é submetida a oraus extremos de metamortose” (idem, . 156) © que, nessa fase, o artista ingressara num dominio de fantasia ne Qual 3s imagens so arquetipicas ou genéricas.. lor

Você também pode gostar