As medidas iniciais do Governo Provisório quanto à política cambial foram orientadas por um
liberalismo retórico primitivo, logo desmascarado pela realidade. A abolição do monopólio
cambial, que havia sido estabelecido no fim da República Velha, foi justificada com base no argumento de que tal controle era ineficaz e protelava o retorno da economia à normalidade. Em 1930-1931, adotou-se uma política cambial aparentemente liberal, mas na prática restritiva, decretando-se moratórias sucessivas em relação às dívidas em moeda estrangeira. Em setembro de 1931, a situação tornou-se insustentável, os pagamentos relativos à dívida pública externa foram suspensos, reintroduzindo-se o monopólio cambial do Banco do Brasil. A venda de cambiais de exportação ao Banco do Brasil era obrigatória e a distribuição de câmbio deveria atender a critérios de prioridade que privilegiavam em ordem decrescente: compras oficiais e pagamento do serviço de dívida pública; importações essenciais; outras remessas, incluindo lucros e dividendos, importações em consignação e atrasados comerciais. O controle cambial permaneceu essencialmente inalterado até 1934. Em meados de 1934, as receitas cambiais não associadas a exportações, bem como a receita cambial gerada por exportações não tradicionais, foram liberadas do controle. A crise cambial que atingiu o Brasil a partir de 1929-1930 tornou inviável a continuação do pagamento integral do serviço da dívida, pois tal pagamento envolveria proporção excessiva do saldo comercial. Além disso, a depreciação do mil-réis aumentou a carga do serviço da dívida pública externa sobre os orçamentosnos três níveis de governo, especialmente entre o final de 1930 e agosto de 1931, quando a libra esterlina e o dólar norte-americano mantiveram sua paridade em relação ao ouro. Até setembro de 1931, as esperanças de retorno ao mercado financeiro foram mantidas especialmente em vista das recomendações da missão financeira britânica chefiada por Sir Otto Niemeyer que visitou o Brasil no primeiro semestre de 1931 e acenou com a possibilidade de obtenção de empréstimo em Londres caso o Brasil adotasse um programa de austeridade que incluiria a volta ao padrão-ouro e a criação de um banco central. Com o abandono pelo Reino Unido do padrão-ouro, tais esperanças desapareceram.