Reação das mulheres à execução de Luís XVI. In: BADINTER, Elisabeth (org.). Palavras de Homens: 1790 - 1793. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989. Cap. 13. p. 131-134.
Já no início do texto o autor desconhecido mostra a concepção de que os
acontecimentos políticos são apenas tardiamente apreendidos pelas mulheres, uma vez que “não é razoável exigir que [elas] se coloquem imediatamente à altura dos acontecimentos políticos”. Isso pode ser explicado, acompanhando a argumentação do escritor fantasma, pelo forte viés emotivo imanente ao sexo feminino já que, inclusive, “Houve talvez algumas lágrimas derramadas; mas sabe-se que as mulheres não as poupam”. Elas, enfim, não consentiram com a morte de Luís XVI: choraram, reprimiram e injuriaram aqueles que mataram o rei. Porém, elas não devem ser reprimidas por isso já que “tudo isso é bem perdoável num sexo leviano, frágil, que viu luzirem os últimos belos dias de uma corte brilhante.” Além disso, o sexo feminino é a favor do rei por conta da sua natureza luxuriosa, exagerada e ostentativa, sendo assim, conforme o autor, elas “terão alguma dificuldade em passar do reino da galanteria e do luxo ao império dos costumes simples e austeros da república”. Contudo, as mulheres, mesmo sendo mais emotivas do que racionais, se adaptarão com a novidade “quando se virem menos escravas, mais honradas e mais amadas do que antes.”
Em resumo, o autor desconhecido mostra ser a favor da morte do rei e da
instauração da república, contrapondo sua posição à das mulheres chorosas, irracionais e luxuriosas. Elas só se acostumarão à nova realidade quando perceberem (demoradamente) as vantagens claras da República, que, aliás, parece supor o autor, se tornarão tão evidentes que mesmo as inferiores às compreenderão.