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Revista

Ñanduty
PPGAnt- Programa de Pós-Graduação em Antropologia
UFGD - Universidade Federal da Grande Dourados

Dourados - MS - Brasil
http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/nanduty
PPGAnt - UFGD

Resenha
RUIBAL, Alfredo Gonzáles. La experiencia del otro: una introducción a la etnoarqueologia. Madri: Ediciones Akal.
2003, 177p.
Luiz Carlos Medeiros da Rocha*
Andréa Lourdes Monteiro Scabello**
O livro “La experiencia del otro: una muitas vezes, leituras prévias.
introducción a la etnoarqueologia”, de au- O primeiro capítulo, “Teoría y Méto-
toria de Alfredo Gonzáles Ruibal, apresen- do”, além de trazer um panorama sucinto da
ta muito mais do que o título propõe, tendo etnoarqueologia, apresenta também a função
em vista a amplitude das abordagens e dis- deste subcampo de pesquisa, que tradicional-
cussões a respeito da etnoarqueologia. Essa mente dedicou-se a estudar grupos étnicos
obra apresenta uma linguagem clara e didá- prestes ao desaparecimento, investigando
tica, dedicada aos profissionais que buscam a produção da cultura material desses gru-
conhecer melhor o objeto de estudo deste pos. Esse olhar para a produção da cultura
subcampo da Arqueologia. Embora o autor material – da origem à morte – auxiliará os
tenha se dedicado a estudar a Idade do Ferro, arqueólogos no entendimento dos processos
na Península Ibérica (pesquisa de doutora- de formação dos registros arqueológicos.
do), atualmente preocupa-se com a arqueo- Ruibal, ainda nesse capítulo, apresenta
logia contemporânea e com temas como: as algumas das tendências teórico-metodológi-
guerras, as migrações em massa, entre ou- cas pelas quais a etnoarqueologia passou e
tros, realizando pesquisas na Espanha, Etió- vem passando, sobretudo na perspectiva da
pia, Guiné Equatorial e Brasil. arqueologia processual e a pós-processu-
Ao longo das 177 páginas, divididas em al, citando os seus maiores representantes
quatro capítulos, são apresentadas questões (Lewis Binford e Ian Hodder, respectiva-
de cunho teórico-metodológico e reflexões mente), e as pesquisas etnoarqueológicas re-
sobre o futuro da etnoarqueologia. Mesmo alizadas por eles. Cita, também, os trabalhos
de forma modesta, o autor ressalta as interfa- teóricos de etnoarqueologia de autoria de
ces entre a etnoarqueologia e outros campos Gustavo Politis, Nicholas David e a Susan
da arqueologia, como a arqueologia histó- Kramer. No entanto, o autor não se prende
rica, a arqueologia experimental etc., mos- às pesquisas do chamado mundo anglo-sa-
trando uma ampliação das pesquisas. xônico, mas aborda igualmente aquelas de
O tema central do livro abrange as autoria de pesquisadores franceses (dando
perspectivas do pensar e fazer etnoarqueoló- um pequeno destaque a estas), belgas, su-
gico. Por se tratar de uma obra em espanhol íços, alemães e latino-americanos. Segundo
e ainda não traduzida, o leitor poderá encon- ele, nesses últimos anos a investigação et-
trar dificuldade de compreensão requerendo, noarqueológica mostrou-se promissora, es-
* Mestrando – PPGAArq - Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia (PPGAArq) Universi-
dade Federal do Piauí – Bolsista CAPES
** Bacharel em Arqueologia e Conservação de Arte Rupestre - Universidade Federal do Piauí

Revista Ñanduty | Vol. 1 - N. 1 | julho a dezembro de 2012


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pecialmente através do estudo da variedade Não obstante, ainda estão presentes
cultural no continente sul-americano. questões que demonstram a amplitude que
Finaliza o capítulo chamando a aten- os estudos em etnoarqueologia podem al-
ção para a natureza dos projetos etnoarque- cançar, a partir das perspectivas de análise
ológicos e aos aspectos como a ausência das paisagens, dos espaços, do tempo, do
de consenso metodológico; a natureza das gênero, além das próprias etnias, isso tudo a
generalizações e analogias e das descrições partir da cultura material.
densas, dando destaque as suas experiências Finalmente, no último capítulo o autor
na Etiópia. apresenta as perspectivas dessa disciplina
Os segundo e terceiro capítulos abor- ou subdisciplina, chamando atenção para a
dam na verdade uma única temática, a da possibilidade do fim iminente, em função do
“La Práctica Etnoarqueológica” sob duas processo de globalização.
perspectivas: a “Vida y muerte de la cultura Particularmente, apontamos como um
material”, e da “ Sociedad y mundo mate- dos pontos fortes dessa obra as reflexões,
rial”. perspectivas e abordagens que possibilitam
No segundo capítulo, a discussão cen- um novo pensar, mais ampliado e não limi-
tra-se especificamente sobre a cultura mate- tador sobre o registro arqueológico.
rial estudada pelos etnoarqueólogos, como Este livro é sem dúvida uma referência
os materiais líticos, cerâmicos e os metais. para iniciantes, que almejam realizar traba-
O autor faz uma crítica a maneira como a lhos bem estruturados e uma contribuição
maioria dos arqueólogos se debruça sobre a para os profissionais que já vêm se dedican-
cultura material, analisando os aspectos tec- do a este fazer arqueológico.
nológicos e os funcionais, deixando a mar-
gem o restante da biografia destes objetos ____________
juntamente com suas relações sociais. Apon- Recebido de 28 de Novembro de 2011
ta, com isso, a necessidade de que sejam in-
vestigados os vários episódios da vida de um
artefato, desde o seu nascimento, uso e até
sua morte (apropriando-se aqui do conceito
de cadeia operatória).
Nesse livro, os estudos tecnológicos
apontam para uma compreensão de que não
se devem descrever puramente as atividades
de micro-escala, mas entender os processos
sociais que ocorrem no seio das mesmas.
Deve-se analisar inclusive a forma como os
objetos foram abandonados, para permitir o
entendimento do processo de formação do
registro arqueológico. Para desprendermos
das intuições sobre o descarte e abandono
dos objetos recomenda-se fazer o uso da ta-
fonomia.
No terceiro capítulo, o autor vai deta-
lhar aspectos da análise da cultura, envol-
vendo a sociedade e o seu mundo material,
trazendo exemplos de vários lugares. A uti-
lização da etnografia nos trabalhos arqueo-
lógicos e etnoarqueológicos ganha destaque.
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