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O PAPEL DA SEGURANÇA PRIVADA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL EM

PERNAMBUCO: CONTRIBUIÇÕES PARA PARCERIAS ENTRE A


SEGURANÇAPÚBLICA E PRIVADA.

DR. CLEANO LIMA ALVES

2020
AGRADECIMENTOS

Dedico este E-book a minha esposa Lays, a minha filha Talita, a minha neta
Ester e a minha mãe (in memorian), que, de muitas formas, me
incentivaram e ajudaram para que fosse possível a concretização deste
projeto. Acima de tudo, dedico-o a meu Deus, maior pilar na construção de
meu caráter – a Ele rendo todas as homenagens.

Deixo aqui também o meu agradecimento ao Dr. Renato Figueiredo, grande


profissional que com maestria sempre respondeu com presteza e clareza
todas as minhas dúvidas, bem como não mediou esforços nas orientações
mesmo em horas e dias de descanso.

2020

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3
RESUMO

O presente trabalho aborda a questão da utilização da segurança privada de maneira


complementar à segurança pública em estádios de futebol. É apresentada a discussão sobre
segurança pública e privada no Brasil, sua utilização em espaços semipúblicos, e confrontada
com a questão da violência nos estádios de Pernambuco. São identificadas vulnerabilidades
físicas e organizacionais dos estádios de futebol de Pernambuco e apresentadas
recomendações para resolução de tais questões. Por fim, a segurança privada é apresentada
como uma força especializada, que deve ser usada de maneira complementar à segurança
pública, desde que a ela integrada.

Palavras-chave: segurança privada; violência no futebol.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 – Registro do assassinato do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, durante jogo
entre Santa Cruz e Paraná, no estádio do Arruda, em 2014. _________________________ 25

Imagem 2 – Registro de violência entre as torcidas após jogo em Recife. 2013. _________ 25

Imagem 3 – Registro de torcedores do Santa Cruz em confronto com a Polícia Militar na Ilha
do Retiro. 2014. ___________________________________________________________ 26

Imagem 4 – Registro de confronto entre Polícia Militar de Pernambuco e torcida do Náutico.


2015. ____________________________________________________________________ 27

Imagem 5 – Registro de torcedora sendo atendida pelo serviço médico no estádio, vítima de
conflitos entre as torcidas. 2017. ______________________________________________ 28

Imagem 6 – Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do


Sport Clube do Recife. 2015 _________________________________________________ 29

Imagem 7 – Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do


Sport Clube do Recife. 2013. _________________________________________________ 29

Imagem 8 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do
jogo. Pouca iluminação e ausência de segurança pública ou privada. Recife, 2017. _______ 35

Imagem 9 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes do
jogo. Refletores acesos apenas minutos antes do início do jogo. Presença da Polícia Militar.
Recife, 2017. ______________________________________________________________ 35

Imagem 10 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes
do jogo. Presença do grupamento a cavalo da Polícia Militar. Recife, 2017. ____________ 36

Imagem 11 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes
do jogo. Presença de “flanelinhas” guardando veículos. Recife, 2017. _________________ 36

Imagem 12 – Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes
do jogo. Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017. 37

Imagem 13 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife,
2017. ____________________________________________________________________ 37

Imagem 14 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de segurança privada em posicionamento não estratégico diante da
amplidão do espaço. Recife, 2017. _____________________________________________ 38

Imagem 15 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de segurança privada desatenta em função complementar. Recife,
2017. ____________________________________________________________________ 38

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Imagem 16 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações
de conflito. Recife, 2017. ____________________________________________________ 39

Imagem 17 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações
de conflito. Recife, 2017. ____________________________________________________ 39

Imagem 18 – Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos
antes do jogo. Presença de número reduzido de agentes públicos ou privados. Recife, 2017. 40

Imagem 19 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Segmentação das torcidas rivais por setores com presença de barreiras físicas
e atuação da Polícia Militar. Recife, 2017. _______________________________________ 42

Imagem 20 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Momento de revolta da torcida visitante, com contenção da Polícia Militar.
Recife, 2017. ______________________________________________________________ 43

Imagem 21 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)


momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017. ________ 43

Imagem 22 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)


momento antes do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017. ________ 44

Imagem 23 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
momento antes do jogo. Primeira barreira de acesso ao estádio, na estrada social, com revista
de torcedores realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017. __________________________ 44

Imagem 24 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
momento antes do jogo. Segunda barreira de acesso ao estádio, com utilização de catracas e
segurança realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017. _____________________________ 45

Imagem 25 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
momento antes do jogo. Presença de policiais do batalhão de Choque posicionados nas gerais
e sociais onde ficarão, respectivamente, as torcidas do Náutico e do Sport. Recife, 2017. __ 45

Imagem 26 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança
privada. Recife, 2017. _______________________________________________________ 46

Imagem 27 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança
privada. Recife, 2017. _______________________________________________________ 46

Imagem 28 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança
privada. Recife, 2017. _______________________________________________________ 47

Imagem 29 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Momento em que a torcida visitante tenta avançar para o interior do estádio e
laterais com intuito de se confrontar com a torcida anfitriã. Recife, 2017. ______________ 47

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Imagem 30 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Geral frontal à social e cadeiras do Sport literalmente cheias, sem registro da
presença de policiais e segurança privada. Recife, 2017. ____________________________ 48

Imagem 31 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. Presença de reforço policial nas arquibancadas pelo Batalhão de Choque.
Recife, 2017. ______________________________________________________________ 48

Imagem 32 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
durante o jogo. A presença de segurança privada coadjuvando o Batalhão de Choque numa
tentativa da torcida do Sport romper a grande de proteção que separava as duas torcidas.
Recife, 2017. ______________________________________________________________ 49

Imagem 33–Exemplo de espaço de dispersão de torcedores no lado externo ao estádio Arena


Pernambuco. ______________________________________________________________ 52

Imagem 34 – Exemplo de disposição de torcedores em fila com auxílio de barreiras físicas


para organização de bilheteria, na Arena Pernambuco. _____________________________ 53

Imagem 35 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


procedendo à revista de torcedores durante o acesso ao estádio. ______________________ 53

Imagem 36 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ___________________________ 54

Imagem 37 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ___________________________ 54

Imagem 38 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


distribuída de maneira estratégica nos setores do estádio. ___________________________ 55

Imagem 39 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


controle de acesso ao estádio. _________________________________________________ 55

Imagem 40 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva,


realizando rondas no interior do estádio. ________________________________________ 56

Imagem 41 – Proposta de equipamento de comunicação a ser utilizado pela segurança privada


com seus componentes e a Polícia Militar._______________________________________ 56

Imagem 42 – Proposta de Colete a ser utilizado pelos seguranças no interior do estádio. __ 57

Imagem 43 – Proposta de fluxo de interação entre segurança privada e pública. _________ 59

7
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................09

1. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO.................................................15

1.1. SEGURANÇA PRIVADA: SURGIMENTO E REGULAÇÃO NO BRASIL .......................................................15

1.2. SEGURANÇA PRIVADA E PÚBLICA EM ESPAÇOS SEMIPUBLICOS............................................................18

1.2.1. Interface(s) entre Segurança Pública e Privada: do planejamento às ações operacionais.................20

1.3. A QUESTÃO A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DE PERNAMBUCO...........................................23

2. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO: UM DIAGNÓSTICO.................32

2.1. ELEMENTOS VULNERÁVEIS OBSERVADOS DIRETAMENTE.....................................................................33

2.1.1. Estádio José do Rego Maciel (Arruda).................................................................................................33

2.1.1.1. Problemas de estrutura física.........................................................................................................33

2.1.1.2. Problemas organizacionais.............................................................................................................33

2.1.1.3. Registros de imagem......................................................................................................................35

2.1.2. Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha Do Retiro)......................................................................40

2.1.2.1. Problemas de estrutura física.........................................................................................................40

2.1.2.2. Problemas organizacionais.............................................................................................................41

2.1.2.3. Registros de imagem......................................................................................................................42

2.2. QUESTÕES GERAIS APONTADAS PELOS ENTREVISTADOS.....................................................................49

2.3. RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE OS ESTÁDIOS DE PERNAMBUCO.....................................................51

2.3.1. Sugestões de uma esquematização da segurança privada em diversas áreas da Arena


Pernambuco..................................................................................................................................................52
2.3.2. Sugestões de Operacionalidade (sistema de comunicação via imagem e rádio, vídeo monitoramento
Aplicação das TICS.........................................................................................................................................57

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................60

4. REFERÊNCIAS.............................................................................................................................................62

5. RESUMO FINAL..........................................................................................................................................64

6. QUESTIONÁRIO..........................................................................................................................................65

7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS.......................................................................................................................69

8
INTRODUÇÃO

A segurança é apresentada, no preâmbulo da Constituição Federal de 1988, como um


dos valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista, sem preconceitos, harmônica
socialmente e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica dos
conflitos. Apesar de não serem normas em sentido estrito, tais valores norteiam a
interpretação constitucional. O Texto Constitucional aponta a segurança como dever do
Estado e responsabilidade de todos, pois não podemos ver aqui a segurança apenas como
responsabilidade estatal.
Desde a abertura democrática, consolidada com a Carta Magna de 1988, a segurança
pública se rivaliza em dois conceitos: um está centrado na ideia de combate, e outro, na ideia
de prestação de serviço público. Segundo o jurista NETO (2013), in verbis:

A primeira concebe a missão institucional das polícias em termos bélicos:


seu papel é “combater” os criminosos, que são convertidos em “inimigos
internos”. As favelas são “territórios hostis”, que precisam ser “ocupados”
através da utilização do “poder militar”. A política de segurança é formulada
como “estratégia de guerra”. E, na “guerra”, medidas excepcionais se
justificam. A segunda concepção está centrada na ideia de que a segurança é
um “serviço público” a ser prestado pelo Estado. O cidadão é o destinatário
desse serviço. Não há mais “inimigo” a combater, mas cidadão para servir.
Para ela, a função da atividade policial é gerar “coesão social”, não
pronunciar antagonismos; é propiciar um contexto adequado à cooperação
entre cidadãos livres e iguais. O combate militar é substituído pela
prevenção, pela integração com políticas sociais, por medidas
administrativas de redução dos riscos e pela ênfase na investigação criminal.

No Brasil, a segurança pública é dever do Estado, ao qual compete exercer e administrar


suas atividades, nos termos do artigo 144 da Carta Magna, além de ser indelegável e
intransferível. Mas como a segurança é responsabilidade de todos, as atividades de segurança
privada devem ser compreendidas como complementares à segurança pública, sendo
reguladas, autorizadas e fiscalizadas pelo Departamento de Polícia Federal, conforme Lei
Federal n° 7.102, de 20 de junho de 1983. A necessidade das instituições financeiras em
recorrer à segurança privada devido ao aumento da incidência de assaltos fez surgir, em 1969,
a primeira legislação autorizando o serviço privado: o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro
de 1969.
Ao longo das décadas, a segurança privada tem exercido função importante em diversos
espaços. Um dos espaços que tem requerido o exercício da segurança privada no Brasil são os
chamados espaço semipúblicos. Trata-se de espaços intermediários entre o público e o

9
privado, que reúne características de ambos. Os estádios de futebol são exemplos de espaços
privados com forte utilização do grande público em períodos sazonais.
O futebol é considerado o esporte mais popular do mundo, envolvendo direta ou
indiretamente bilhões de pessoas, entre praticantes amadores, atletas profissionais, torcedores
e recursos financeiros incalculáveis (MURAD, 2013). O Estado de Pernambuco conta com 38
estádios, sendo os principais localizados na capital1, e estão relacionados aos seus respectivos
times2, e a Arena Pernambuco, construída para o mundial de futebol de 2014. Juntos, os
estádios têm capacidade para receber cerca de 154 mil torcedores.
A problemática da violência nos estádios é uma questão nacional. Entre 1999 e 2008,42
torcedores morreram em conflitos dentro, no entorno ou nos acessos aos estádios de futebol,
(MURAD, 2013). Contudo, essa violência encontra também forte expressão no cenário local.
Notícias sobre violência nos estádios de futebol são frequentes no Estado de Pernambuco. A
violência afeta tanto aqueles que frequentam os locais dos jogos como as pessoas que
convivem indiretamente com esses grandes eventos.
A violência nos estádios de Pernambuco não é diferente dos outros locais do Brasil.
Exemplos não faltam para retratar a falta de segurança vivenciada nesses eventos. Talvez um
dos casos mais emblemáticos, de repercussão nacional, tenha sido o assassinato do torcedor
do Sport Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, atingido por um vaso sanitário atirado do
anel superior do estádio do Arruda, em Recife, em 2014 (ZIRPOLI, 2014).
Como apontou a impressa, à época, a presença do aparato policial já não é mais garantia
de segurança para o cidadão em eventos esportivos. O comportamento imprevisível dos
grandes aglomerados de pessoas já causou tragédias em eventos esportivos, culturais e até em
encontros religiosos. Há anos os cientistas tentam explicar que um indivíduo sozinho, em
geral, toma decisões mais sóbrias, mas, na multidão, passa a fazer parte de uma massa com
vontade própria e, às vezes, desordenada. Um bom profissional de segurança pública jamais
poderá olvidar disso (VALLA, 2013).
Com a previsão de realização dos megaeventos no Brasil (Jornada Mundial da
Juventude, de 2013, a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo FIFA 2014 e os
Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016), foram necessárias diversas ações conjuntas entre
segurança pública e privada para proporcionar uma segurança condizente com a grandeza
desses eventos. Nesse sentido, a Polícia Federal, por meio da Portaria nº 3.233/2012 –
DG/DPF, que dispõe sobre as novas regras de segurança privada, visando atender aos novos

1
Arruda , Ilha do Retiro e Aflitos.
2
Santa Cruz, Sport e Náutico, respectivamente.

10
desafios dos grandes eventos. Nesse novo instrumento, foi criado o Curso de Extensão em
Segurança para Grandes Eventos, como forma de qualificar e especializar os vigilantes para
atuação nos locais onde haja grande concentração de pessoas, principalmente nos estádios de
futebol, a exemplo dos megaeventos, além de prever a utilização de segurança privada nos
eventos esportivos de forma integrada aos órgãos de segurança pública (POLÍCIA
FEDERAL, 2012).
O objetivo dessa iniciativa foi que a segurança privada utilizada em grandes eventos
seja oriunda de mão de obra especializada, sob pena de multa e de outras penalidades pela
Polícia Federal, que é a responsável pelo controle da segurança privada no Brasil. É
indiscutível que toda a atenção precisa ser dada aos grandes eventos, isso porque um
indivíduo pode agir de forma totalmente atípica quando faz parte de uma aglomeração.
Urge que a sociedade, como um todo, atente para a segurança pública, pois é dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, devendo ser exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Tal pensamento precisa ser estendido
na organização e realização das partidas de futebol em Pernambuco, pois, se houver uma
maior participação de vigilantes de segurança privada nos estádios de futebol, talvez seja
possível o Estado direcionar seu aparato militar para atuar nos arredores dos estádios de
futebol e, com isso, gerar uma maior segurança para todos os que estão direta e indiretamente
envolvidos nesses eventos.
Nesse sentido, é preciso avaliar o papel da segurança privada nos jogos de futebol em
Pernambuco, com a perspectiva de contribuir para uma possível parceria entre as seguranças
pública e privada, visto, ao se identificarem as vulnerabilidades da segurança nos estádios
durante uma partida de futebol, ao avaliar o papel da segurança privada na realização dos
jogos de futebol, ao apresentar a exequibilidade da parceria entre segurança privada e pública
nos jogos de futebol no Estado de Pernambuco, ao apontar as formas possíveis de atuação da
segurança privada em contribuição à segurança pública, com destaque para jogos de futebol
em Pernambuco, busca-se não fazer uma ilação desmedida, mas uma construção que viabilize
um ambiente que seja uma demonstração do bem-estar social, que é um direito do cidadão
torcedor.
No intuito de atender a tais objetivos, a pesquisa foi desenvolvida como um estudo de
caso. O estudo de caso consiste na observação detalhada de um contexto, ou indivíduo, de
uma única fonte de documentos, ou de um acontecimento específico, tendo como foco o
esclarecimento de uma decisão ou de um conjunto de decisões, o motivo pelo qual foram
tomadas, como foram implementadas e com quais resultados (SCHRAMM, 1971 apudYIN,

11
2004). Ele possibilita a utilização de um conjunto variado de técnicas de coleta de dados, e é
indicado para casos em que há impossibilidade de realização de experimentos, pouco ou
nenhum controle sobre os eventos analisados, foco em acontecimentos contemporâneos
e questionamentos sobre como e porque determinados fenômenos sociais acontecem
(YIN, 2004; CAMPOMAR, 1991; MEIRINHOS e OSÓRIO, 2010).
Considera-se aqui, também, a adequação do estudo de caso devido à proposta de
investigação estar focada em um fenômeno contemporâneo, no qual as relações entre ele e o
seu contexto não estão claramente definidos, conforme argumenta Yin (2004).
A pesquisa foi de cunho exploratório, na qual se buscaram informações sobre assuntos
com pouco tratamento. Gil (1995) argumenta que a pesquisa é de caráter exploratório quando
visa oferecer uma versão preliminar, em andamento, sobre o problema abordado, buscando
desvendar aspectos ainda não enfatizados, ampliando, assim, o escopo a ser estudado em
outras ocasiões. Destarte, essa pesquisa foi interpretativa, com caráter exploratório, e
eminentemente qualitativa.
A utilização da pesquisa qualitativa, aqui, relaciona-se a sua característica central de
buscar compreender processos dinâmicos vividos por grupos sociais, descrevendo a
complexidade de determinado problema e analisando a interação de certas variáveis
(RICHARDSON, 2009). Em geral, ela possibilita maior nível de profundidade no
entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (RICHARDSON, 2009)
e compreende um conjunto de diferentes técnicas interpretativas, que visam descrever e
decodificar os componentes de um sistema complexo de significados. Tem por objetivo, nesse
sentido, traduzir e expressar os sentidos do mundo social (NEVES, 1996).
Inicialmente, foi realizada a revisão bibliográfica, que resultou no referencial teórico
delineado no primeiro capítulo. Em seguida, foi realizada a coleta de dados, na qual foram
realizadas entrevistas e observação direta, como exposto adiante. Os dados coletados foram
analisados à luz do referencial teórico selecionado, gerando o relatório final de pesquisa.
A coleta de dados contou com um instrumento qualitativo3 para a coleta de questões
relevantes. Foi utilizado um questionário com questões abertas, respondido autonomamente
pelos informantes.
A seleção dos informantes focou em profissionais da área de segurança e em
frequentadores assíduos dos jogos de futebol em Pernambuco. Buscamos conceber
informações que possam nortear quais contribuições podem existir na parceria entre a

3
Disponível no apêndice.

12
segurança pública e privada nos jogos de futebol. Ao todo, foram coletadas informações de 10
informantes:

1 JOSÉ MANOEL NASCIMENTO POLICIAL FEDERAL, ADVOGADO

2 CELSO SIMONETTI TRENCH JÚNIOR GERENTE DE SEGURANÇA PORTUÁRIA


SÓCIO DO ESPORTE CLUBE DO RECIFE E FREQUENTADOR
ASSÍDUO DOS JOGOS DO SPORT EM PERNAMBUCO.
3 EVANDRO MESQUITA
AUDITOR FISCAL, FORMADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS,
PROFESSOR DE INGLÊS
4 JAILSON DA SILVA NUNES SUPERVISOR DE SEGURANÇA / INSPETOR EXECUTIVO
BACHAREL EM DIREITO. TERCEIRO-SARGENTO DO
5 IGOR JOSÉ DE FRANÇA LEITE EXÉRCITO BRASILEIRO NA RESERVA, BOMBEIRO CIVIL E
SOCORRISTA TÁTICO
PROCURADOR FEDERAL E COORDENADOR GERAL DA PGR
6 ALCIDES GAMA
EM RECIFE/PE
EMPRESÁRIO, BACHAREL EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS,
PAULO JOSÉ BANDEIRA DE
7 DIRETOR ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO DA NE
VASCONCELOS
SEGURANÇA PRIVADA
8 JEFFERSON W. SANTOS ADMINISTRADOR
CEL PMPE. COMANDANTE DO BATALHÃO DE RÁDIO
9 VALTER BENJAMIN
PATRULHA DE RECIFE/PE
SUBTENTE DA PMPE. INTEGRANTE DA FORÇA NACIONAL.
10 ISAQUE SOUZA ATUOU NOS JOGOS DA COPA DO MUNDO COMO
INTEGRANTE DA FORÇA NACIONAL

Para complementar a necessidade de informações, foi realizada observação direta de


eventos esportivos reais em dois estádios de futebol de Pernambuco. A observação consistiu
na realização de visitas técnicas durante a realização de jogos nos estádios da Região
Metropolitana do Recife, nas quais o trabalho em campo foi registrado por meio de anotações
de campo e captação de imagens, quando possível. A seguir, são apresentados os espaços
acompanhados:

ESTÁDIO JOGO DATA DA PÚBLICO


OBSERVAÇÃO PRESENTE
Estádio José do Rego Maciel Náutico vs Santa Cruz 10/04/2017 5.055
(Arruda) torcedores
Estádio Adelmar da Costa Carvalho Náutico vs Sport 16/04/2017 15.082
(Ilha do Retiro) torcedores

13
O trabalho está estruturado da seguinte maneira: o primeiro capítulo apresenta os
contornos teóricos e metodológicos relacionados à problemática apresentada. Em seguida, o
segundo capítulo apresenta os resultados e a discussão dos dados coletados, apresentando um
conjunto de vulnerabilidades físicas e organizacionais encontradas nos estádios por meio de
observação direta, corroboradas pelas entrevistas. Ao final do capítulo, são feitas
recomendações e propostas de modernização nos estádios de Pernambuco, com projeções
reais da utilização da segurança privada e outras ferramentas. O capítulo final, por sua vez,
arremata as considerações feitas nos capítulos anteriores.

14
1. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Este capítulo apresenta os contornos teóricos e metodológicos que serviram de lastro à


pesquisa realizada. Inicialmente, é apresentada a discussão sobre o surgimento da segurança
privada no Brasil e os instrumentos legais de regulação do setor. Em seguida, é introduzido o
debate sobre a atuação da segurança privada em espaços semipúblicos, buscando caracterizar
o locus no qual está a análise subsequente: os estádios de futebol. Por último, é apresentado o
cenário da violência em estádios de futebol em Pernambuco.

1.1. SEGURANÇA PRIVADA: SURGIMENTO E REGULAÇÃO NO BRASIL

Os serviços de segurança privada expandem-se no mundo de forma mais significativa a


partir dos anos 1960, atendendo a mudanças importantes nas dinâmicas urbanas das cidades.
No Brasil, a segurança privada surge oficialmente com o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de
outubro de 1969, crescendo vertiginosamente depois disso, tendo seu maior crescimento a
partir dos anos 1990. Juntamente com as atividades de segurança privada formal no país
cresceram, também, de forma semelhante, o número de vigias de rua e demais categorias de
agentes de segurança privada que exercem o serviço em caráter informal, bem como o número
de policiais que exercem funções de segurança perante o mercado de segurança privada em
seus horários de folga (ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012).
Segundo Zanetic (2005, 2010a, 2010b, 2012), três fatores foram fundamentais para a
expansão do setor privado no campo da segurança no Brasil: (1) o crescimento da violência e
da criminalidade (sobretudo a especialização do crime); (2) a percepção da violência e o
aumento da insegurança; e (3) as mudanças na utilização do espaço urbano e circulação da
população nas grandes cidades.
A atuação desse setor no Brasil envolve diversas áreas: segurança eletrônica, segurança
patrimonial (bancária, comercial, industrial, residencial, de condomínios e de “espaços
semipúblicos”, como shopping centers, estádios de futebol, centros de exposições, casas de
eventos e espetáculos diversos), escolta e monitoramento no transporte de valores e de cargas,
treinamento dos profissionais que atuam na área da segurança, blindagem de veículos e gestão
de presídios (ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). Todas essas atividades exercidas pelo
setor privado são reguladas pelo Ministério da Justiça, por meio do Departamento da Polícia
Federal.

15
O modelo regulatório existente no Brasil encontra respaldo nos modelos de normas e
padrões no cenário internacional. O perfil da regulação da segurança no Brasil permite
enquadrar o modelo do país como abrangente, porém com baixa capacidade regulatória
(ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b, 2012). O surgimento oficial dos serviços de segurança
privada ocorreu sob determinação legal para a atuação das empresas de segurança nas
instituições financeiras, nos anos 1950. O aumento no número de assaltos nas décadas
seguintes consolidou a necessidade do serviço, tendo se tornado obrigatório nos bancos em
1969, com o Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969.
Com a expansão do setor, a legislação existente logo se torna insuficiente, levando à
nova regulamentação em 1983. O quadro abaixo apresenta a legislação acerca da segurança
privada no Brasil:
LEGISLAÇÃO ANO CAPUT
LEI FEDERAL Nº 7.102, DE 1983 Dispõe sobre segurança para estabelecimentos financeiros,
20 DE JUNHO DE 1983. estabelece normas para constituição e funcionamento das
empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de
transporte de valores, e dá outras providências.
DECRETO FEDERAL 1983 Regulamenta a Lei Federal nº 7.102, de 20 de junho de 1983,
Nº 89.056, DE 24 DE que "dispõe sobre segurança para estabelecimentos
NOVEMBRO 1983. financeiros, estabelece normas para constituição e
funcionamento das empresas particulares que exploram
serviços de vigilância e de transporte de valores e dá outras
providências”.
Portaria 346/06 – DG/DPF 2006 Institui o Sistema de Gestão Eletrônica de Segurança Privada –
GESP e dá outras providências. Atualizado em 25/08/2010
PORTARIA 2012 A presente portaria disciplina, em todo o território nacional, as
Nº 3.233/2012-DG/DPF, atividades de segurança privada, armada ou desarmada,
DE 10 DE DEZEMBRO DE desenvolvidas pelas empresas especializadas, pelas que
2012. possuem serviço orgânico de segurança e pelos profissionais
que nelas atuam, bem como regula a fiscalização dos planos de
segurança dos estabelecimentos financeiros.
PORTARIA 2012 Dispõe sobre as normas relacionadas ao credenciamento de
N° 12.620/2012 instrutores dos cursos voltados à formação, reciclagem e
CGCSP/DIREX, alterada especialização dos profissionais de segurança privada (alterada
pela Portaria nº pela Portaria nº 30.536 – CGCSP, de 07 de fevereiro de 2013,
30.536/2013 e pela publicada no DOU em 08/02/2013 e pela Portaria 32.981/2014,
Portaria 32.981/2014 – publicada no DOU de 25/03/2014).
CGCSP
Portaria nº 30.633-2013 – 2013 Homologação do Curso de Instrutor em Segurança para
CGCSP Grandes Eventos.
Portaria nº 30.569/2013 – 2013 Dispõe sobre os novos modelos e a forma de confecção,
CGCSP/DIREX controle e emissão de Certificado de Segurança, Portaria de
Aprovação de Plano de Segurança, Certificado de Vistoria e de
Guia de Autorização de Transporte de Armas, Munições e
Apetrechos de Recarga.

16
PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre a forma e prazo de prorrogação da validade do
30.544/2013 – protocolo de requerimento de expedição da Carteira Nacional
GAB/CGCSP de Vigilante.
PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre as normas relacionadas à forma de emprego dos
30.491/2013 – meios de comunicação entre as empresas de segurança privada
GAB/CGCSP e seus veículos, e entre os vigilantes que atuam na atividade de
transporte de valores. Alterada pela Portaria 32.541/13 –
CGSCP.
PORTARIA Nº 32.451/13 – 2013 Altera a Portaria n° 30.491/2013.
CGCSP
PORTARIA Nº 3948-2013 – 2013 Altera, excepcionalmente para o ano de 2013, o prazo final de
DG-DPF apresentação de renovação do plano de segurança tratado no
art. 103, caput, da Portaria nº 3.233/2012-DG/DPF.
PORTARIA Nº 2013 Dispõe sobre as normas relacionadas à forma de emprego dos
30.491/2013 – meios de comunicação entre as empresas de segurança privada
GAB/CGCSP e seus veículos, e entre os vigilantes que atuam na atividade de
transporte de valores. Alterada pela Portaria 32.451/2013.
PORTARIA Nº 3.559- 2013 Altera a Portaria nº 3.233/12-DG/DPF.Altera o prazo de
DG/DPF exigência da qualificação do vigilante no curso de extensão em
grandes eventos.
PORTARIA Nº 2014 Publicação da Portaria nº. 32.943 (DOU Seção 1, 21/3/2014),
32.943/2014 – que alterou o art. 7º da Portaria nº. 30.491-2013-CGCSP.
GAB/CGCSP
PORTARIA Nº 2014 Dispõe sobre as normas relacionadas ao credenciamento de
32.981/2014 – CGCSP – instrutores dos cursos voltados à formação, reciclagem e
altera o texto da Portaria especialização dos profissionais de segurança privada (Portaria
n° 12.620/2012 publicada no DOU em 25/03/2014).
PORTARIA Nº 08/2015 – 2015 Delega a atribuição de julgar em primeiro grau os processos
DIREX/DPF, DE 26 DE administrativos punitivos em matéria de segurança privada ao
MAIO DE 2015 Coordenador-Geral de Controle de Segurança Privada.
PORTARIA Nº 485 – MJ, 2015 Altera a Portaria nº 2.494, de 3 de setembro de 2004, do
DE 25 DE MAIO DE 2015 Ministério da Justiça, que trata da Comissão Consultiva para
Assuntos de Segurança Privada, e o anexo da Portaria nº 1.546-
MJ, do Ministério da Justiça, que trata do regimento interno da
Comissão Consultiva para Assuntos de Segurança Privada.
PORTARIA Nº 33.731 – 2016 Autoriza a utilização de elemento adicional de segurança
CGCSP/DIREX classificado como injetor de poliuretano em cofres de veículos
especiais de transporte de valores. Publicada no DOU em 30 de
agosto de 2016, seção 1, página 31.
Fonte: Do Autor.

As diretrizes do Decreto-Lei n° 1.034, de 21 de outubro de 1969, definiam as


Secretarias de Segurança Pública dos Estados como responsáveis pelo controle das atividades
de segurança privada, ficando o treinamento a cargo das polícias civis. A falta de
instrumentos eficientes de normatização e fiscalização dos governos estaduais e dos órgãos
responsáveis (as Secretarias Estaduais de segurança e o Banco Central) ajudou a impulsionar

17
a passagem de responsabilização dos Estados para o governo federal. De acordo com esse
primeiro decreto, os vigilantes possuíam status de policiais, situação que mudou em 1983,
com a passagem do treinamento para o setor privado e do controle das atividades para o
Ministério da Justiça e o Departamento da Polícia Federal. A partir daí, os vigilantes não têm
mais status de policiais, no entanto, são autorizados a poder usar armas de fogo em serviço. O
marco regulatório atual da segurança privada é legislado pela Lei Federal nº 7.102, de 20 de
junho de 1983, e pelos Decreto Federal nº 89.056, de 24 de novembro de 1983,e Decreto
Federal nº 1.592, de 10 de agosto de 1995, complementados por decretos e portarias
específicas, que atribuíram novos requerimentos à regulação(ZANETIC, 2005, 2010a, 2010b,
2012). Passemos agora à discussão específica sobre a segurança privada e pública em espaços
semipúblicos.

1.2. SEGURANÇA PRIVADA E PÚBLICA EM ESPAÇOS SEMIPÚBLICOS

Um dos espaços que têm requerido o exercício da segurança privada no Brasil são os
chamados espaço semipúblicos. Trata-se de espaços intermediários entre o público e o
privado. O espaço privado é caracterizado pelo alto grau de controle do seu ocupante, o qual
permanece nele por longos períodos. O exemplo mais evidente desse tipo de espaço é a
habitação. O espaço público, por sua vez, ao menos em teoria, pertence a todos. É ocupado
sazonalmente por uma pessoa ou um grupo, que se comportam ali conforme normas sociais e
costumes locais(EPPINGHAUS, 2004).
O espaço semipúblico, porém, reúne características de ambos os espaços. Sua ocupação
por grupos ocorre segundo regras relativamente formais, que identificam o direito de acesso e
uso do território. Ele não é nem completamente privado, nem totalmente público. E
corresponde a ambientes onde ocorrem reuniões de grupos que tenham identidades em
comum(EPPINGHAUS, 2004). Alguns exemplos disso são os shoppings centers, centros de
exposições, casas de eventos e espetáculos diversos, além dos estádios de futebol(ZANETIC,
2005, 2010a, 2010b, 2012). É a esse último que se refere o presente trabalho.
Os estádios de futebol são exemplos de espaços privados com forte utilização do grande
público em períodos sazonais. Eles são o palco do futebol espetáculo, de alto rendimento,
movimentando centenas de milhares de torcedores todos os anos, em torno de diversos
eventos. Trata-se de um cenário de forte apego emocional, em torno de disputas quase sempre
acirradas, com frequentes casos de violência e enfrentamentos entre torcidas. Estudo realizado

18
por Reis (2005) aponta questões culturais e estruturais entre as principais causas da violência
em estádios no Brasil.
Nesse contexto, é indiscutível a atenção necessária aos grandes eventos esportivos,
tendo em vista que o comportamento esperado dos indivíduos em grandes aglomerações de
pessoas tende a ser totalmente imprevisível. Como argumenta VALLA (2013),

O comportamento imprevisível dos grandes aglomerados de pessoas já causou


tragédias em eventos esportivos, culturais e até em encontros religiosos. Há anos os
cientistas tentam explicar que um indivíduo sozinho, em geral, toma decisões mais
sóbrias, mas, na multidão, passa a fazer parte de uma massa com vontade própria e
às vezes desordenada. Um bom profissional de segurança pública jamais poderá
olvidar disso.

Os esportes são, por natureza, competitivos e podem, desse modo, induzir ao


comportamento agressivo. Todavia, tal comportamento, dentro do campo desportivo, é
tolerável, pois existem esportes nos quais o contato físico competitivo faz parte de sua
essência. Para além dessa tolerância, outros fatores influenciam o comportamento da
multidão. Para ELIAS e DUNNING (1992), in verbis:

Isto pode acontecer quando se participa demasiado a sério num desporto, talvez na
sequência de pressões sociais ou de recompensas financeiras e do prestígio
envolvido. Em resultado disso, o nível de tensão pode elevar-se até um ponto em
que o equilíbrio entre a rivalidade amigável e hostil se inclina a favor da última.
Nestas circunstâncias, as regras e as convenções destinadas a limitar a violência e a
orientá-la para caminhos socialmente aceitáveis são suspensas e, então, pode surgir a
luta a sério. Desse modo, no futebol e no râguebi pode jogar-se com o objetivo de
impor danos físicos e dor. Ou no boxe, onde o infligir de ferimentos constitui uma
parte legítima da prova, torna-se possível a luta depois de ter terminado o assalto ou
após o final da prova. Contudo, os padrões que governam a expressão e o controlo
da violência não são os mesmos em todas as sociedades. E, na nossa própria
sociedade, diferem entre grupos ou desportos diferentes, e não foram sempre os
mesmos em todos os períodos históricos (p. 331).

Quando as pessoas se encontram em grandes aglomerados, individualmente elas passam


a não ser mais elas mesmas – passam a ser apenas mais uma na multidão. E o estádio de
futebol é um dos exemplos mais clássicos desse fenômeno. Da mesma maneira, aflora o
sentimento de anonimato, favorecendo a diluição de suas ações na coletividade. Nesse
contexto, a composição do grupo influenciará diretamente o comportamento agressivo da
multidão. Um grupo formado em sua maioria por homens e por jovens certamente
demonstrará mais agressividade. Também é importante a atitude da polícia em relação à
multidão: se esta sentir que a polícia está agindo de forma ilegítima e indiscriminada, é
possível que a massa se torne mais unida, não distinguindo os pacíficos dos arruaceiros, e atue
contra a força policial (AGUIAR & MOTA, 2008).

19
Não obstante a determinação legal (Lei Federal n° 10.671, de 15 de maio de 2003 –
Estatuto do Torcedor –, incisos I a X) de que o torcedor tenha um comportamento condizente
com a paz pública e a capacidade que os jogos têm de “promover e dinamizar a interação entre
público de todas as idades” (ALMEIDA, 2013), as pessoas, quando estão em aglomeração,
acabam por demonstrar um comportamento totalmente diferente do seu habitual. A violência
ligada aos estádios não tem classe social, é generalizada, atinge os limites internos do campo e
alcança toda a sociedade. A análise de DAMATTA (2006) explicita um pouco esse cenário:

As arenas esportivas são também palcos onde os uniformes e os equipamentos


especiais, próprios de cada competição, transformam pessoas comuns, submetidas às
leis que regem a cidadania e a posição econômica em geral, em pessoas especiais.
Em aliados e heróis ou adversários e vilões potenciais, quando, como torcedores e
disputantes de torneios esportivos investidos nos papéis de atletas e jogadores,
obtêm o privilégio de realizar ações sociais marginais, exóticas ou até mesmo
impróprias e, no limite do senso comum, criminosas, fora das arenas, ringues,
quadras e estádios onde eles se confrontam. Com isso, os espetáculos esportivos
promovem o abandono temporário das regras utilitárias que conformam a ideologia
burguesa, propondo a separação entre meios e fins, essa norma de ouro da
racionalidade moderna. Se, nas salas de aula e nos tratados científicos, o discurso
racional nos diz uma coisa de cada vez, partindo — como ensina Louis Dumont —
da decomposição do mundo em esferas distintas demarcadas empiricamente, o
esporte cria as condições para novas mitologias, propondo dizer, como fazem a arte
e a poesia, todas as coisas de uma só vez(p.147).

Esse contexto diverso impõe uma oposição necessariamente compartilhada sobre a


segurança nos estádios. As diretorias dos times de futebol precisam oferecer um ambiente
propício, no qual a segurança seja uma garantia de que os limites serão respeitados, e os
excessos, contidos.

1.2.1 Interface(s) entre segurança pública e privada: do planejamento às ações


operacionais

A Constituição da República, em seu artigo 144, assegura que a segurança pública é um


dever do Estado, é um direito do cidadão, cuja responsabilidade é dirigida a todos. Por outro
lado, a Lei Federal nº 10.671, de 2003 (Estatuto do Torcedor), diploma legal que estabelece
normas de proteção e defesa do torcedor, afirma, no artigo 1º-A, que a

20
prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das
confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas,
entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos
dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam,
coordenam ou participam dos eventos esportivos.

Contudo, ao mesmo tempo em que o Estatuto garante ao torcedor o direito a segurança


nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das
partidas (artigo 13), ele também define que a responsabilidade pela segurança do torcedor em
evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus
dirigentes (artigo 14), que deverão solicitar ao Poder Público competente a presença de
agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos
torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos
(artigo 14, alínea I).
Clóvis Lopes Colpani (2015) destaca a importância da segurança privada, desde que
integrada à segurança pública, como elemento essencial no âmbito do Sistema Nacional de
Segurança. Para o autor, a partir da Constituição Federal de 1988, a segurança é direito
fundamental, devendo ser tratada com tal importância – e, na efetivação desse direito, a
segurança privada ocupa um espaço de grande relevância, sendo exercida com altos padrões
de qualidade na prestação de seus serviços, na contínua formação e reciclagem de seus
profissionais, e sendo fiscalizada de forma eficiente pelo Estado. Para que a segurança seja
exercida na qualidade de direito fundamental, é preciso sistematizar as ações de segurança
pública e privada, que cada instituição conheça os limites de suas atribuições e as exerça de
forma efetiva, pois só haverá integralização de ações se houver o objetivo claro, por parte das
instituições responsáveis pelo futebol pernambucano, em prestar um serviço de qualidade, no
qual a segurança seja vista como um bem de todos.
Durante a realização dos megaeventos esportivos no Brasil (Copa das Confederações,
Copa do Mundo 2014, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016), observou-se o uso das
Forças Armadas na função de segurança pública, visando complementar as forças estaduais
temporariamente. Contudo, a segurança pública é um serviço prestado pelo Estado, cujo
destinatário é o cidadão, e não o inimigo externo. Dessa forma, a Lei Complementar Federal
n° 97, de 9 de junho de 1999, em seu artigo 15, §2º, estabelece que a atuação das Forças
Armadas, na garantia da lei e da ordem, ocorrerá após esgotados os instrumentos destinados à
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, demonstrando
seu caráter subsidiário. Todo o aparato militar das Forças Armadas, quando em seu uso

21
subsidiário, não deve ser visto como um chamamento à guerra, mas como a ultimaratio do
Estado para garantir a exequibilidade das políticas sociais, da prevenção e da redução dos
riscos, das medidas administrativas que visem à garantia da dignidade humana.
Nesse sentido, a complementaridade da segurança pública em espaços semipúblicos
deve ser realizada com a segurança privada. Durantea realização da Jornada Mundial da
Juventude de 2013, a Copa das Confederações 2013, a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos
Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, foram necessárias diversas ações conjuntas entre
segurança pública e privada para proporcionar uma segurança condizente com a grandeza
desses eventos. Nesse sentido, a Polícia Federal publicou, no dia 13 de dezembro de 2012, a
Portaria nº 3.233/2012 – DG/DPF, que dispõe sobre as novas regras de segurança privada,
visando atender aos novos desafios dos grandes eventos:

Neste novo instrumento, foi criado o Curso de Extensão em Segurança para Grandes
Eventos, como forma de qualificar e especializar os vigilantes para atuação nos
locais onde haja grande concentração de pessoas, principalmente nos estádios de
futebol, a exemplo da Copa das Confederações de 2013 e Copa do Mundo de 2014,
conforme modelo padrão da FIFA, que prevê a utilização de segurança privada nos
eventos esportivos de forma integrada aos órgãos de segurança pública
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS DELEGADOS DE POLÍCIA FEDERAL,
2012).

A segurança privada mostra-se, portanto, como uma aliada da sociedade para conter os
avanços da criminalidade em espaços semipúblicos, como os estádios de futebol. Nos
megaeventos esportivos sediados no Brasil, a segurança privada teve um papel significativo
para a prevenção da violência nos ambientes internos desses eventos e agiu de forma
preventiva para a segurança de todos os que participaram desses grandes acontecimentos do
esporte mundial. Dessa forma, os responsáveis pela organização e execução dos eventos de
futebol precisam enxergar na segurança privada, especializada em grandes eventos, uma
aliada para garantir a segurança.
Deve-se, assim, afastar a dicotomia entre segurança pública e privada e, em contínuo,
desenvolver a compreensão de que ambas são parte de um conjunto de ações que podem
prevenir e garantir a segurança nos estádios de futebol.

22
1.3. A QUESTÃO A VIOLÊNCIA NOS ESTÁDIOS DE FUTEBOL DE PERNAMBUCO

A violência nos estádios de Pernambuco não é diferente dos outros locais do Brasil.
Embora os dados sobre esses eventos violentos sejam escassos, exemplos não faltam para
retratar a falta de segurança vivenciada nesses eventos. Em 2012, o Brasil foi o recordista
mundial de mortes de torcedores em consequência de conflitos entre torcidas organizadas. Ao
todo, foram 23 óbitos, ultrapassando Argentina e a Itália, das quais, há uma década,
estávamos atrás (MURAD, 2013). Entre 2010 e 2016, foram registradas, no Brasil,113 mortes
relacionadas a futebol. O ano de 2013 foi o mais violento, com 30 mortes. Já em 2015, a cifra
caiu pela metade, com 15 mortes comprovadamente ligadas a torcidas organizadas
(PORTINARI, 2016).
VIEIRA & DE SIQUEIRA(2008) obtiveram dados exclusivos sobre a violência nos
estádios em Pernambuco, uma vez que não existe uma quantificação específica para esses
eventos. Segundo os autores, o Batalhão de Choque da Polícia Militar de Pernambuco, por
meio do Capitão Ronaldo, responsável por essas operações da corporação em estádios de
futebol, informou que, em 2003, o efetivo deteve 828 pessoas, sendo 178 encaminhadas às
delegacias, tanto as dos estádios de futebol, chamadas de Delegacias Itinerantes, quanto às de
plantão (localizadas nos bairros). Em 2004, foram informadas 750 detenções e 113 prisões,
em face da gravidade das ocorrências. Todas essas prisões foram ocorridas por ocasião das
partidas de futebol, válidas pelo Campeonato Pernambucano de Futebol e Brasileiro da Série
“B”, nos quais os três grandes times de futebol de Pernambuco participaram(VIEIRA & DE
SIQUEIRA, 2008, p. 59).
De acordo com dados fornecidos pelo Batalhão de Choque do Estado de Pernambuco,
as ocorrências mais comuns nos estádios de futebol de Pernambuco são as “Condutas
inconvenientes/Provocação de tumulto”, seguidas da posse de drogas. Contudo, uma
diversidade grande de atitudes desviantes tem sido registradas sob a categoria outros.4

4
No item “outros” estão reunidas as seguintes categorias: atitude suspeita; cambismo/circ. de moeda falsa;
tráfico de drogas; falsidade ideológica; comércio de bebida alcoólica; consumo de bebida alcoólica;
desacato/resistência; lesão corporal; desobediência; furto (cvp); apologia à violência; arremesso de objeto no
campo; atentado violento ao pudor; dano ao patrimônio; invasão de campo; porte de arma branca.

23
Figura 1– Número de encaminhamentos à delegacia por tipo de evento. Ilha do Retiro, Arruda e Arena
Pernambuco, 2016.

OUTROS

AGRESSÃO / VIAS DE FATO

POSSE DE DROGAS

CONDUTA INCOVENIENTE / PROVOCAÇÃO DE TUMULTO

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
CONDUTA INCOVENIENTE /
POSSE DE DROGAS AGRESSÃO / VIAS DE FATO OUTROS
PROVOCAÇÃO DE TUMULTO
ILHA DO RETIRO 37 18 0 7
ARRUDA 14 2 0 6
ARENA PERNAMBUCO 41 4 0 12

Fonte: Do Autor, a partir de dados fornecidos pelo Batalhão de Choque de Pernambuco.

Em Pernambuco, talvez um dos casos mais emblemáticos, de repercussão nacional,


tenha sido o assassinato do torcedor do Sport Paulo Ricardo Gomes da Silva, de 26 anos,
atingido por um vaso sanitário atirado do anel superior do estádio do Arruda, em Recife, em
2014 (ZIRPOLI, 2014). Ele passava próximo ao portão 6 do Arruda, destinado à torcida
adversária, quando foi atingido por um vaso sanitário arremessado da arquibancada. Ao fim
da partida, a torcida do Santa Cruz foi orientada pela Polícia Militar a sair do estádio antes da
torcida visitante. No entanto, uma uniformizada coral armou a emboscada para os rivais. Ao
deixarem o estádio, 15 minutos depois, os torcedores do Paraná foram "recepcionados" por
três bombas e recuaram. Neste momento, dois vasos sanitários arrancados dos banheiros do
anel superior do estádio foram atirados. Além da vítima fatal, outras três ficaram feridas
(PORTAL GLOBO ESPORTE, 2014).

24
Imagem 1– Registro do assassinato do torcedor Paulo Ricardo Gomes da Silva, durante jogo entre Santa
Cruz e Paraná, no estádio do Arruda, em 2014.

Fonte: ZIRPOLI, 2014.

Inúmeros casos podem ilustrar esse cenário pernambucano. Em 2016, em jogo entre
Santa Cruz e Sport, um torcedor do Santa Cruz ficou gravemente ferido após ser espancado
durante uma briga de torcida no bairro do Cordeiro, Zona Oeste do Recife.

Imagem 2– Registro de violência entre as torcidas após jogo em Recife. 2013.

Fonte: Superesportes, 2013.

25
Ainda em 2016, um torcedor foi alvejado com tiros na cabeça em um confronto entre
membros de torcidas organizadas do Sport (Torcida Jovem) e do Náutico (Fanáutico).
Durante esse episódio, um ônibus levando torcedores da uniformizada rubro-negra, após o
jogo Sport vs Campinense, realizado em outro horário, encontrou com torcedores do Náutico.
Depois de provocações e brigas, um tiro foi disparado, atingindo, assim, o torcedor alvirrubro.
No mesmo ano, 2016, a torcida tricolor entrou em confronto com a Polícia Militar no
“Clássico das Multidões” (Sport vs Santa Cruz), na Ilha do Retiro. Cenas de violência foram
protagonizadas envolvendo a torcida do Santa Cruz, do Sport e a Polícia Militar.

Imagem 3– Registro de torcedores do Santa Cruz em confronto com a Polícia Militar na Ilha do Retiro.
2014.

Fonte: Blog do Torcedor, 2014.

Em outubro de 2015, a Polícia Militar e a torcida do Náutico se envolvem em briga nas


arquibancadas do Arruda. Durante a partida entre Náutico e Santa Cruz, no estádio do Arruda,
a torcida do Náutico e a Polícia Militar entraram em confronto. Torcedores se envolveram em
confronto com a PM, e torcedores próximos acabaram sendo atingidos.

26
Imagem 4– Registro de confronto entre Polícia Militar de Pernambuco e torcida do Náutico.
2015.

Fonte: Superesportes, 2014.

Recentemente, abril de 2017, no jogo entre Náutico e Santa Cruz, no estádio do Arruda,
torcedores da organizada do Náutico entraram em confronto com a Polícia Militar – mais uma
vez, torcedores que não têm nada a ver com a violência foram vítimas desse quadro, que não
para em Pernambuco. As imagens registraram o momento em que os policiais, em busca de
um integrante da torcida organizada, desferem golpes de cassetetes, sem que ele tenha
esboçado nenhum tipo de reação, provocando tumulto e correria entre os demais torcedores a
sua volta (PORTAL CLUBE NÁUTICO CAPIBARIBE, 2017).

27
Imagem 5– Registro de torcedora sendo atendida pelo serviço médico no estádio, vítima de conflitos entre
as torcidas. 2017.

Fonte: Portal Clube Náutico Capibaribe, 2017.

É evidente que Pernambuco vive um ciclo ininterrupto de arruaças, confusões e vários


tipos de violência antes, durante e depois dos jogos. Muitos cidadãos, que não estão
envolvidos com o futebol, mudam suas rotinas com o único intuito de fugir da violência que
cerca os eventos dessa natureza. A cena de torcedores organizados escoltados pela Polícia
Militar, enfileirados, andando pelas ruas do Recife, mais parecendo cenário de guerra, já se
tornou uma visão comum.

28
Imagem 6– Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do Sport Clube
do Recife. 2015

Fonte: Portal JC, 2015.

Imagem 7– Registro da escolta da Polícia Militar de Pernambuco à Torcida Organizada do Sport Clube
do Recife. 2013.

Fonte: Portal Superesportes, 2014.

Segundo Daolio (1998), as manifestações no estádio de futebol, sejam as da torcida,


sejam as dos jogadores, ou as dos dirigentes e jornalistas, não podem ser analisadas de forma
desvinculada de todas as outras questões nacionais. Nesse sentido, a violência dos torcedores,
por vezes exacerbada, não pode ser explicada de forma simplista como manifestação de
alguns marginais, como querem alguns jornalistas esportivos. Ela constitui‐se em expressão
da violência da sociedade brasileira, por vezes reprimida em outras ocasiões (DAOLIO,
1998).

29
Em 2013, após uma série de atos violentos entre as torcidas, a Secretaria de Defesa
Social de Pernambuco anunciou um conjunto de medidas para conter episódios futuros.
Segundo Alessandro Carvalho, Secretário Executivo de Defesa Social de Pernambuco à
época, em entrevista concedida à Rede Globo, no dia 5 de março 2013:

O batalhão de choque passará a atuar não só no interior do estádio, mas fora.


Teremos uma atenção maior no deslocamento dos torcedores, porque a gente
vê que dentro do estádio nós não temos problema. Isso é no entorno e no
caminho dos locais de residência para o estádio. Então, isso vai ser feito com
o emprego muito maciço das câmeras de segurança, operadas pela SDS, e
uma ação firme do policiamento em campo.

De acordo com o sociólogo Gilberto da Motta, especialista no tema, o Estado não tem
trabalhado de forma contínua para coibir a violência dos torcedores. Segundo ele, os
torcedores “sabem que serão repreendidos apenas nos dias dos jogos e depois ficarão impunes
por seus delitos. Historicamente, não há registro de punições de verdade. Então se sentem
mais à vontade para infringir a lei”(MOTTA, 2013). As torcidas organizadas podem ser um
espaço de sociabilidade, expressão de identidade e sentimento de pertença de indivíduos de
vários grupos e classes sociais, que se identificam e se reconhecem como integrantes de um
mesmo grupo, por meio de seus símbolos e valores. Elas já são um fenômeno característico
das grandes metrópoles e fazem parte da realidade das diversas classes sociais.

Nesse contexto, a identidade social dos jovens passa a ser firmada na necessidade
de “ser diferente”, uma tentativa diária de provar que é capaz, seja através de
práticas construtivas para a vida social (estudo, mercado de trabalho, atividade
artística, esportes, etc.), seja através de atos ilícitos (consumo e venda de
entorpecentes, violência, crimes, etc.), contudo, que os tornem visíveis por algum
intervalo de tempo (SOUZA, 2010).

Igor de Mesquita Pípolo (2010) adverte que é um mito pensar que eventos que se
repetem podem ter sempre o mesmo plano de segurança. Cada evento de grande porte é único,
pois as aglomerações são formadas por indivíduos, tais sujeitos mudam de um evento para o
outro, principalmente nos jogos de futebol. A quantidade de torcedores varia de um jogo para
o outro; o contexto dos jogos muda de um evento para o outro; a própria situação do time
durante o campeonato afeta o comportamento da torcida. Além disso, a situação pessoal do
torcedor interfere e varia de um evento para o outro.

30
As explicações para tais eventos violentos são diversas, tanto por parte dos torcedores,
dos dirigentes esportivos e do Estado. Carlos Pimenta (2000) fez uma observação dos
discursos das “autoridades esportivas” e dos “torcedores”, e reuniu um conjunto das
justificativas mais correntes. Segundo ele, são as seguintes: a) má distribuição de renda; b)
exploração dos dirigentes esportivos e dos líderes das “torcidas”; c) efeitos da criminalidade;
d) ausência de expectativa de futuro aos jovens; e) ausência do Estado, enquanto mentor de
políticas públicas de formação social; f) efeitos da pobreza; g) afrouxamento da ordem legal
e das posturas repressivas das instituições de segurança e justiça; h) falta de emprego; i)
miséria generalizada; j) familiarização com a violência; k) falta de infraestrutura nos
estádios de futebol; l) má arbitragem; m) gozações de adversários; n) derrota de uma partida
de futebol (PIMENTA, 2000).
A insegurança que atinge as pessoas envolvidas diretamente e indiretamente em grandes
eventos, e em especial nos jogos de futebol, não é exclusividade do Estado de Pernambuco.
Tal fenômeno, promove, também, uma reflexão sobre o papel da segurança privada e suas
contribuições para a segurança nos estádios.
Com exceção do conjunto de variáveis intangíveis apontadas pelos dirigentes e
torcedores, quase sempre se eximindo da responsabilidade, como argumenta Motta (2013), os
itens em destaque nos dão pistas sobre a atuação do setor privado na minimização dos
conflitos. Não se trata, contudo, de propor um processo obtuso de endurecimento das penas e
do processo repressivo, mas de garantir elementos preventivos à violência, complementares à
atuação do Estado e que garantam a segurança dos torcedores, conforme propomos no
Capítulo2.

31
2. SEGURANÇA EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL DO ESTADO DE PERNAMBUCO:
UM DIAGNÓSTICO

Este capítulo apresenta a análise dos dados coletados em confronto com o marco teórico
delineado anteriormente. Conforme argumentado, o problema da violência nos estádios é
brasileiro, sendo Pernambuco também alvo da questão. Embora essa violência seja reflexo de
aspectos culturais da disputa, do modelo de interação no esporte e entre as torcidas, ela
também acompanha o nível de civilidade da sociedade, acompanhando também a violência
presente na própria coletividade. Contudo, uma série de elementos preventivos, de naturezas
diversas, pode ajudar a minimizar a quantidade de eventos violentos no contexto dos estádios
de futebol.
Para além disso, os estádios se constituem em um tipo específico de espaço social,
considerado semipúblico, reunindo, ao mesmo tempo, características de espaços privados e de
espaços públicos, sem serem completamente um ou outro. Os estádios de futebol são,
portanto, exemplos de espaços privados com forte utilização do grande público em períodos
sazonais, em um cenário de forte apego emocional, em torno de disputas quase sempre
acirradas, com frequentes casos de violência e enfrentamentos entre torcidas.
Ademais, os estádios de futebol brasileiros são instalações esportivas, cujas estruturas
físicas foram dimensionadas para um contexto diferente e menos complexo, em termos de
necessidade de segurança daquele encontrado atualmente nos eventos esportivos que sediam
jogos importantes (ENSSLIN, L.; ENSSLIN, S. R.; PACHECO, G. C., 2012). Ensslinet al
(2012) realizaram uma análise sobre o período de construção dos estádios brasileiros e
identificam que 87% deles foram construídos há mais de 20 anos. Especificamente em
Pernambuco, com exceção do Estádio Governador Carlos Wilson Campos (Arena
Pernambuco), construído para a Copa do Mundo de 2014, dois5 são da década de 1930 e um6
dos anos 1970.

5
Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) – 1937. Estádio Eládio de Barros Carvalho (Aflitos) –
1939.
6
Estádio José do Rego Maciel (Arruda) – 1972.

32
2.1. ELEMENTOS VULNERÁVEIS OBSERVADOS DIRETAMENTE

2.1.1. Estádio José do Rego Maciel (Arruda)

O Estádio José do Rego Maciel, popularmente conhecido como Estádio do Arruda, é a


sede do Santa Cruz Futebol Clube. Localizado no bairro do Arruda, em Recife, foi inaugurado
em 1972, mas teve sua construção iniciada em 1965, com massivo apoio da torcida. Na
década de 1970, a Campanha do Tijolo mobilizou várias doações de sua torcida, que trazia
todo tipo de material de construção, além de ajudarem a construir o estádio com as próprias
mãos, realizando serviços de construção civil. Com capacidade para 69 mil torcedores, já
chegou a receber mais de 96 mil em 1993, durante partida entre Brasil e Bolívia, pelas
Eliminatórias da Copa do Mundo.

2.1.1.1. Problemas de estrutura física

Durante a visita realizada no Estádio José do Rego Maciel (Arruda), observou-se a


presença de considerável número de policiais no entorno do local, executando o policiamento
interno e externo ao estádio, conforme esquema de segurança previamente elaborado pela
Polícia Militar de Pernambuco.
Porém, o estádio permaneceu com os refletores apagados momentos antes ao início da
partida – somente foram acesos a partir das 19h30min. No interior do estádio também foi
detectada uma porção de grades, ferros e tablados, que, em uma situação de crise e tumulto,
poderiam, prontamente, ser utilizados como armas, algo que se faz presente e patente nas
atividades esportivas dos clubes de Pernambuco. Tal negligência aponta uma falta de ação
preventiva por parte dos responsáveis pela segurança interna do estádio. Situações de
vulnerabilidade que não foram detectadas e mitigadas são prenúncios de tragédias.

2.1.1.2. Problemas organizacionais

Foram constatadas várias frações de policiais, entre esses, a presença da Cavalaria


devidamente postada e pronta para atender quaisquer eventualidades. Ao longo da parte
externa do estádio, notadamente nas laterais e frente, foi visto um aglomerado de flanelinhas
que "cuidavam" de uma boa parte de veículos já estacionados e com perspectiva de

33
recepcionarem outros veículos à medida que se aproximava o início do jogo. Vale acrescentar
que não foi percebida a presença de policiais próximos daquele grupo.
Foi verificado também que aqueles que faziam o papel de vigilantes estavam sem os
equipamentos adequados e necessários para o exercício da função. Na entrada superior das
Arquibancadas havia alguns policiais cuidando da abordagem dos torcedores que chegavam.
Todavia, havia seguranças orgânicos demonstrando postura inadequada às normas de
segurança e despreparo para aquele tipo de missão, pois se colocaram de costas para a entrada
principal.
Na entrada Superior Geral houve abordagem por policiais que faziam a revista e, logo
na retaguarda, visualizei outro grupo de segurança orgânica, junto, demonstrando desatenção
aos cuidados exigidos pelas normas de segurança. Tais profissionais, se fossem oriundos da
segurança privada, treinados como exige a legislação da PF, sem sombra de dúvidas
desempenhariam um trabalho efetivo, com profissionalismo e com proficiência no
cumprimento dessas diversas atribuições inerentes à segurança privada, e que iria contribuir
de maneira satisfatória e com brilhantismo diante desses virtuais desafios.
Mesmo considerando os dois clubes já classificados, foi observado um número razoável
de torcedores das torcidas do Santa Cruz e do Náutico – com isso, o número de policiais
plotados no posto está muito aquém de mitigar os riscos ou mesmo neutralizar um conflito no
interior do estádio. No segundo tempo do jogo, houve um conflito entre a torcida do Náutico e
a Polícia Militar. E o quantitativo de segurança, aquém do necessário, foi mais uma vez
evidenciado.

34
2.1.1.3. Registros de imagem

Imagem 8– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo. Pouca
iluminação e ausência de segurança pública ou privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 9– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Refletores acessos apenas minutos antes do início do jogo. Presença da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

35
Imagem 10– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença do grupamento a cavalo da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 11– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de “flanelinhas” guardando veículos. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

36
Imagem 12– Registro do entorno do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 13– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de segurança privada sem uso de equipamentos adequados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

37
Imagem 14– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de segurança privada em posicionamento não estratégico diante da amplidão do espaço. Recife,
2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 15– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de segurança privada desatenta em função complementar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

38
Imagem 16– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 17– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de ferros, grades e tablados apresentando risco potencial em situações de conflito. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

39
Imagem 18– Registro da parte interna do estádio José do Rego Maciel (Arruda) momentos antes de jogo.
Presença de número reduzido de agentes públicos ou privados. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

2.1.2. Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)

O Estádio Adelmar da Costa Carvalho, popularmente conhecido como Ilha do Retiro, é


a sede do Sport Clube do Recife. Localizado no bairro da Ilha do Retiro, em Recife, foi
inaugurado em 1937, passando por reformas em 1950, 1953, 1984 e 1994. Em 2013, foi
apresentando um projeto para a construção de uma Arena na Ilha do Retiro para 45 mil
pessoas, projeto esse que nunca saiu do papel. Com capacidade para aproximadamente 33 mil
torcedores, chegou a receber mais de 56 mil em 1998, durante partida entre Sport e Porto,
pelo Campeonato Pernambucano.

2.1.2.1. Problemas de estrutura física

Durante a visita realizada no Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro), foi
identificada falha nas traves e telas que dividiam setores de torcidas rivais, amplificando os
esforços necessários da segurança pública ou privada.

40
2.1.2.2. Problemas organizacionais

Durante a visita realizada no Estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro), foi
registrada a presença de frações de tropa da Polícia Militar de Pernambuco fazendo ensaio da
segurança para o referido evento. A primeira barreira foi identificada na estrada social do
estádio, onde a Polícia Militar procedia à revista de torcedores. Em seguida, os torcedores
passavam por uma catraca, com presença de segurança orgânica. Até este momento, não fora
percebida a presença de segurança terceirizada privada.
No lado externo do estádio, observou-se a presença de policiais do batalhão de Choque
posicionados nas gerais e sociais onde ficaram, respectivamente, as torcidas do Náutico e do
Sport, e cujas áreas estavam devidamente protegidas por barreiras laterais. Na área social,
onde ficou localizada parte da torcida do Sport, não foi percebida presença de policiais da
Polícia Militar, tampouco de segurança privada. Vê-se, assim, um vácuo dos dois tipos e
presenças de profissionais de segurança na respectiva ala.
Na área Social e das Cadeiras, onde estão localizadas também as emissoras de
comunicações, também não foi percebida presença de policiais da PM nem, tampouco, de
segurança privada. Geral do Sport literalmente preenchida e registro do campo: neste
contingente de torcedores não foi percebido presença de policiais da PM nem, tampouco, de
segurança privada.
Na arquibancada Geral, onde permaneceu a torcida visitante (Náutico), foram
presenciadas diversas tentativas de invadir outro setor do estádio para confrontarem a torcida
anfitriã. Os PMS existentes naquela área coibiram e neutralizam de imediato a tentativa de
invasão por parte daqueles torcedores. Tal área foi reforçada, de imediato, por dois soldados e
coadjuvados por dois cães no local situado próximo à trave, onde apresentava vulnerabilidade
e potencial de riscos por conta da fragilidade da abertura da tela.
Pode-se notar que, na hipótese de os torcedores do Náutico concretizarem seus
objetivos, a segurança estaria comprometida, mesmo com a intervenção de imediato.
Momentos de acirramento dos ânimos ocorreram a cada novo gol. Durante o segundo gol,
mais um momento de agitação na torcida visitante, que foi contido com um reforço policial
nas arquibancadas pelo Batalhão de Choque. Novamente, o Batalhão conseguiu conter as
ações dos manifestantes por meio do uso de armamento não letal. Da mesma maneira, no
momento da virada do jogo, quando o time do Sport faz o terceiro gol, parte da torcida tenta ir

41
ao confronto com a torcida do Náutico. Na parte superior da Geral do Náutico foi possível
visualizar um reforço do Batalhão de Choque e a torcida do Sport tentando avançar e romper
as grades de proteção.
Nesse primeiro momento, pôde-se visualizar a presença de profissionais da segurança
privada contratada para o evento. Estavam dotados com armas não letais, capacete similar ao
do Batalhão de Choque, colete e demais acessórios previstos em legislação da Polícia Federal.
A chegada daqueles profissionais da segurança privada foi vital para reforçar o trabalho do
Batalhão de Choque. Notadamente, em relação ao evento, por ser de grande monta, havia um
número bastante reduzido de segurança privada.

2.1.2.3. Registros de imagem

Imagem 19– Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Segmentação das torcidas rivais por setores com presença de barreiras físicas e atuação da Polícia
Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

42
Imagem 20 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Momento de revolta da torcida visitante, com contenção da Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 21 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes
do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

43
Imagem 22 – Registro do entorno do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento antes
do jogo. Presença da Polícia Militar antes do jogo. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 23 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento
antes do jogo. Primeira barreira de acesso ao estádio, na estrada social, com revista de torcedores
realizada pela Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

44
Imagem 24 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento
antes do jogo. Segunda barreira de acesso ao estádio, com utilização de catracas e segurança realizada
pela Polícia Militar. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 25 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) momento
antes do jogo. Presença de policiais do Batalhão de Choque posicionados nas Gerais e Sociais, onde
ficarão, respectivamente, as torcidas do Náutico e do Sport. Recife, 2017.

Fonte: Registros próprios.

45
Imagem 26 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 27 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

46
Imagem 28 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Setor da torcida anfitrião sem presença da Polícia Militar ou de segurança privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 29 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Momento em que a torcida visitante tenta avançar para o interior do estádio e laterais com intuito
de se confrontar com a torcida anfitriã. Recife, 2017.

47
Fonte: Do Autor.

Imagem 30 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Geral frontal à Social e Cadeiras do Sport literalmente cheias, sem registro da presença de policiais
e segurança privada. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

Imagem 31 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. Presença de reforço policial nas Arquibancadas pelo Batalhão de Choque. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

48
Imagem 32 – Registro da parte interna do estádio Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro) durante o
jogo. A presença de segurança privada coadjuvando o Batalhão de Choque em uma tentativa da torcida
do Sport romper a grade de proteção que separava as duas torcidas. Recife, 2017.

Fonte: Do Autor.

2.2. QUESTÕES GERAIS APONTADAS PELOS ENTREVISTADOS

Os dados coletados apresentam alguns pontos convergentes, os quais procuraremos


explicitar a seguir. Os dados apontam para a necessidade de uma parceria maior entre
segurança pública e privada, com uma maior responsabilização do setor privado nesse
contexto.
Os entrevistados apontaram, com grande recorrência, a impressão de que a segurança
nos estádios parece estar sendo de responsabilidade única das forças públicas, não havendo ou
havendo insuficiente participação da segurança privada.

Percebe-se que a polícia militar é a única entidade de segurança


presente nos estádios de futebol. Atualmente, desempenha suas
atividades dentro e fora dos campos de futebol. Quando ocorrem os
jogos de maior vulto (clássicos), amplia-se aatividade policial
preventiva, inclusive acompanhando a mobilização dos torcedores
nas vias de acesso ao estádio. A participação de agentes de
segurança privada poderá, sim, coadjuvar muito bem neste processo,
especialmente atuando dentro dos estádios e nos acessos e junto ao
torcedor (José Manoel Nascimento, policial federal e advogado).

A necessidade de se ampliar a utilização de segurança privada foi recorrente nos


discursos. Para diversos entrevistados, “os clubes de futebol poderiam intensificar sua
margem de participação no contexto da segurança preventiva, disponibilizando melhor

49
controle e ordenamentos dos seus estacionamentos e ampliando a contratação da segurança
privada” (José Manoel Nascimento, policial Federal e advogado). Corrobora esse argumento o
depoimento do Sr. Celso Simonetti:

A meu ver a segurança interna dos campos de futebol deveria ser,


em sua maior medida, de responsabilidade dos Clubes, que teriam de
investir em material específico e na contratação de pessoal
qualificado para exercer tal mister. A presença da segurança pública
nesses locais deveria ser restrita ao mínimo necessário para atuar em
situações extremas, em que a segurança privada não tivesse
capacidade para intervir. Uma melhor e intensiva atuação
preventiva, e, se necessário, repressiva, dos agentes de segurança
pública no entorno, criaria as condições necessárias para reduzir a
possibilidade de ações de grupos marginais no interior, que teriam a
ampla possibilidade de serem barrados, ou mesmo dissuadidos em
suas intenções, ainda no perímetro interno(Celso SimonettiTrench
Júnior, Gerente de Segurança Portuária).

Contudo, foi recorrente a observação acerca da necessidade de uma articulação


complementar entre a segurança privada e pública, tendo em vista que a primeira não possui
mandato legítimo para exercer funções exclusivas do Estado.

Não há qualquer possibilidade legal de a segurança privada assumir


as responsabilidades inerentes à segurança pública, que é a
representante do poder coativo do Estado, mas lhe cabe um
importante papel como auxiliar nas ações de cunho preventivo a
serem desenvolvidas para a solução do problema. Ressalto, no
entanto, que a cooperação entre a segurança pública e privada
somente será eficiente e eficaz se houver coordenação e integração
nas ações a serem desenvolvidas e investimento na capacitação do
pessoal envolvido e no fornecimento do material adequado para as
ações a serem realizadas. (Celso SimonettiTrench Júnior, Gerente de
Segurança Portuária).

A segurança privada não tem poder de polícia. Seria muito


importante, mas haveria um limite nas atribuições. Em tumultos
generalizados, a segurança privada irá, sempre, precisar da
segurança pública. Portanto, sou a favor do hibridismo das
seguranças dentro dos estádios (Evandro Mesquita, sócio do Sport
Clube do Recife e frequentador assíduo dos jogos do em
Pernambuco. Auditor fiscal, formado em Ciências Contábeis.)

Tal argumento se justifica também por que

(...) a segurança privada, somente, não seria suficiente para conter


grandes tumultos como, por exemplo, foi observado no jogo
realizado entre Atlético/PR e Vasco/RJ no dia 8 de dezembro de
2013. Ali havia apenas segurança privada, que não conteve a fúria
entre as duas torcidas, deixando vários torcedores hospitalizados.
Defendo a ideia de que, em havendo segurança privada, a PM teria
de estar na retaguarda para agir num momento como este (Evandro
Mesquita, sócio do Sport Clube do Recife e frequentador assíduo

50
dos jogos do em Pernambuco. Auditor fiscal, formado em Ciências
Contábeis.)
Contudo, a necessidade de mais segurança privada nos estádios tem esbarrado em uma
dificuldade operacional:

Jogo de futebol é um evento privado que gera renda. Portanto, é de


responsabilidade dos organizadores do evento. Sou do parecer que
deve haver um número reduzido de policiais dentro do estádio e um
maior número fora, justamente pelo entendimento de que a polícia
atua em benefício da sociedade como um todo. O maior exemplo foi
a Copa das Confederações e, em seguida, a Copa do Mundo, nas
quais havia policiamento para apoiar a segurança privada, que tinha
como missão a primeira resposta, quando houvesse necessidade de
intervenção. [...]A prevenção da violência nos esportes é de
responsabilidade do poder público, das confederações, federações,
ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades
recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos
dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem,
organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”. Como
a responsabilidade pela segurança é dever de todos, o Estado de
Pernambuco deveria exigir um maior investimento em segurança
por parte dos clubes de futebol na realização dos jogos
(ValterBenjamin, Cel. PMPE, Comandante do Batalhão de Rádio
Patrulha de Recife/PE).

Considerando que os jogos são atividades privadas, acredito que a


segurança interna do local do evento deveria ser realizada por
vigilantes armados com armas menos que letais e treinados para
grandes eventos, porém, considero indispensável a permanência de
uma equipe da Polícia Militar para dar uma resposta proporcional,
dentro do princípio do uso progressivo da força (Isaque Souza,
Subtenente da PMPE. Integrante da Força Nacional, atuou nos jogos
da Copa do Mundo como integrante da Força Nacional).

Na minha concepção, em Pernambuco temos poucas empresas de


segurança privada e o mínimo de efetivo, treinado, preparado e
pronto para trabalhar em jogos de grandes públicos, conhecidos
clássicos, como em quase todos os estádios do Brasil. Porém, a
missão da Polícia Militar é dar proteção à sociedade nos perímetros
urbanos, cabendo à iniciativa privada os eventos como jogos de
futebol, grandes shows e etc.. Hoje, não consigo enxergar jogos em
Pernambuco sem a proteção da competente tropa de Choque da
Polícia Militar de Pernambuco, dentro e fora dos estádios (Paulo
José Bandeira de Vasconcelos, empresário, bacharel em Ciências
Contábeis, Diretor Administrativo/Financeiro da NE Segurança
Privada).

2.3. RECOMENDAÇÕES GERAIS SOBRE OS ESTÁDIOS DE PERNAMBUCO

Conforme observado nas sessões anteriores, os estádios de Pernambuco contam com


uma série de fragilidades do ponto de vista de sua estrutura, bem como um conjunto de
vulnerabilidades referentes à organização geral do pessoal, e a insuficiência da segurança
pública para atender eventos com grandes multidões. A segurança privada, nesse sentido, tem
sido insuficiente e desqualificada, sendo necessário melhor uso dessa força. Segundo Dickie

51
(1995), quatro fatores principais levam a desastres em eventos com multidão e confinamento
relativo, como é o caso dos estádios de futebol:

a) Planejamento inadequado;
b) Multidão excitada;
c) Ausência de gestão de multidão e controle;
d) Falha ou risco no ambiente.

Apenas um desses itens é de difícil contorno no contexto brasileiro: a excitação da


multidão. Considerando que os ânimos acirrados, a paixão exacerbada e o forte contexto
competitivo são partes fundamentais do futebol-espetáculo, cabe aos gestores dos eventos,
conforme argumentado anteriormente, prover os demais itens apontados. Assim, a segurança
privada, em consonância com a segurança pública, deve ser um reflexo de um sistema misto
de segurança, caracterizado pela utilização de pessoal treinado, equipamentos em pleno
funcionamento, seguindo normas e procedimentos específicos. A seguir, expomos uma série
de recomendações, nesse sentido, para os estádios de Pernambuco.

2.3.1. Sugestões de uma esquematização da segurança privada em diversas áreas da Arena


Pernambuco

Imagem 33–Exemplo de espaço de dispersão de torcedores no lado externo ao estádio Arena


Pernambuco.

Fonte: Portal Uol Notícias.

52
Imagem 34 –Exemplo de disposição de torcedores em fila, com auxílio de barreiras físicas para
organização de bilheteria, na Arena Pernambuco.

Fonte: Portal Uol Notícias.

Imagem 35 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, procedendo à


revista de torcedores durante o acesso ao estádio.
Fonte: Do Autor.

53
Imagem 36 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, distribuída de
maneira estratégica nos setores do estádio.

Fonte: Do Autor.

Imagem 37 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, distribuída de


maneira estratégica nos setores do estádio.

Fonte: Do Autor.

54
Imagem 38 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, distribuída de
maneira estratégica nos setores do estádio.

Fonte: Do Autor.

Imagem 39 – Projeção da utilização de Segurança Privada ativa em atividade preventiva, controle de


acesso ao estádio.

Fonte: Do Autor.

55
Imagem 40 – Projeção da utilização de segurança privada ativa em atividade preventiva, realizando
rondas no interior do estádio.

Fonte: Do Autor.

Imagem 41 – Proposta de equipamento de comunicação a ser utilizado pela segurança privada, com seus
componentes e a Polícia Militar.

Fonte: Portal Segurança Privada do Brasil.

56
Imagem 42 – Proposta de Colete a ser utilizado pelos seguranças no interior do estádio.

Fonte: Portal Segurança Privada do Brasil.

2.3.2. Sugestões de Operacionalidade (Sistema de comunicação via imagem e rádio Vídeo


monitoramento – Aplicação das TICS

Conforme argumentamos anteriormente, a segurança privada deve ser um reflexo de um


sistema misto de segurança, caracterizado pela utilização de pessoal treinado, equipamentos
em pleno funcionamento, seguindo normas e procedimentos específicos. Nesse contexto, é
fundamental o planejamento adequado das ações conjuntas com a Segurança Pública, a
perfeita gestão da multidão, e a minimização de fatores ambientais de risco.
Para cada estádio, deve-se realizar procedimento-padrão e customizado, isto é, aplicado
segundo a planta de cada campo dos respectivos clubes. Importante frisar também que, para
cada evento de grande, médio e pequeno porte, haverá um número proporcional de
coordenadores de segurança, que irão interagir com a PM e grupo de vigilantes escalados no
evento e, ainda, supervisores de segurança para cada ala onde os vigilantes estarão plotados
nos seus respectivos postos.
É fundamental também constar uma equipe para dar o apoio logístico aos profissionais
escalados nos seus postos de serviços, com a finalidade de suprirem os mínimos necessários e
eventuais saídas, como suprimento de água, saída à toalete, etc.
A segurança pública – diga-se o Estado – tem o dever legal de assegurar e criar
condições para que os espaços públicos sejam um ambiente de bem-estar social. Sua força
ostensiva encontra guarida na própria Constituição Federal, como meio de manter a ordem
social. O dispositivo constitucional é claro, ao dizer que a segurança pública é dever do
Estado, direito e responsabilidade de todos, e é exercida para a preservação da ordem pública
e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes órgãos: Polícia

57
Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis, Polícias
Militares e Corpos de Bombeiros Militares.
Por seu turno, a Portaria n° 387/2006 – DG/DPF, com as alterações introduzidas pela
Portaria nº 515/2007 – DG/DPF, estabelece, entre as atividades de segurança privada, o
emprego em eventos sociais, bem como permite a escolta armada e a segurança de pessoas:

Art. 1º, § 3°. São consideradas atividades de segurança privada:

I - vigilância patrimonial – atividade exercida dentro dos limites dos


estabelecimentos, urbanos ou rurais, públicos ou privados, com a finalidade
de garantir a incolumidade física das pessoas e a integridade do patrimônio
no local, ou nos eventos sociais;
[...]
III - escolta armada – atividade que visa garantir o transporte de qualquer
tipo de carga ou de valores, incluindo o retorno da guarnição com o
respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites estritamente
necessários;
IV - segurança pessoal – atividade de vigilância exercida com a finalidade de
garantir a incolumidade física de pessoas, incluindo o retorno do vigilante
com o respectivo armamento e demais equipamentos, com os pernoites
estritamente necessários;
[...]

Art. 13. A atividade de vigilância patrimonial somente poderá ser exercida


dentro dos limites dos imóveis vigiados e, nos casos de atuação em eventos
sociais, como show, carnaval, futebol, deve se ater ao espaço privado objeto
do contrato.

58
Imagem 43– Proposta de fluxo de interação entre segurança privada e pública.

UNIDADE DE
SEGURANÇA
CCOS ESTÁDIO
VIGILÂNCIA
MÓVEL-ESTÁDIO

CCOS/CFTV
EMPRESA

POLÍCIA MILITAR

Fonte: Do Autor.

Para que a segurança seja exercida na qualidade de direito fundamental, é preciso a


sistematização das ações de segurança pública e privada, que cada instituição conheça os
limites de suas atribuições e as exerça de forma efetiva, pois só haverá integralização de ações
se houver o objetivo claro, das instituições responsáveis pelo futebol pernambucano, em
prestar um serviço de qualidade, no qual a segurança seja vista como um bem de todos.

59
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a segurança privada surge no final da década de 1960, inicialmente para


atender a demanda por segurança nos bancos e, posteriormente, expandindo-se, pouco a
pouco, a uma série de setores e uma infinidade de atividades. Reguladas pelo Ministério da
Justiça, por meio do Departamento da Polícia Federal, tem exercido papel fundamental na
complementação da segurança de diversos tipos de espaço, sobretudo nos espaços
considerados semipúblicos (shoppings centers, centros de exposições, casas de eventos e
espetáculos diversos, e os estádios de futebol).
Nesse contexto, embora a função de segurança pública seja exclusiva do Estado, a
segurança privada deve complementar e auxiliar as funções estatais de maneira integrada. No
caso específico dos estádios de futebol, é ela ainda mais necessária, tendo em vista a
regularidade dos eventos, o quantitativo de pessoas envolvidas, e os acentuados aspectos
emocionais e culturais presentes nas torcidas e no esporte como um todo.
A segurança privada, portanto, não é concorrente da segurança pública. Contudo, a
atuação da segurança pública e privada requer um conjunto de ações integradas e
complementares. A responsabilidade da segurança pública é indelegável, mas ela pode ser
exercida de forma conjunta e planejada. Tal realidade é possível se todos os envolvidos na
realização dos jogos em Pernambuco compreenderem que a segurança é de responsabilidade
de todos.
Conforme visto anteriormente, os estádios brasileiros e, especialmente os de
Pernambuco, são estruturas antigas, construídos há mais de 20 anos, quase sempre
apresentando um conjunto de vulnerabilidades. A observação direta identificou tais
vulnerabilidades, sendo uma parte referente a aspectos físicos e estruturais dos estádios,
enquanto outra parte se refere à má distribuição e uso das forças privadas em complementação
à segurança pública.
Também nas entrevistas ficou evidente a necessidade de se ampliar a utilização de
segurança privada nos estádios. Para diversos entrevistados, os clubes de futebol poderiam
intensificar sua margem de participação no contexto da segurança preventiva,
disponibilizando melhor controle e ordenamentos de seus estacionamentos e ampliando a
contratação da segurança privada.

60
Por fim, foram feitas algumas recomendações para melhoria da segurança nos estádios,
com projeções reais da utilização da segurança privada, de barreiras físicas para ordenamento
da multidão, bem como de equipamentos e ferramenta de gestão integrada entre segurança
privada e pública.
Dessa maneira, a segurança privada jamais poderá substituir o dever do Estado de
garantir segurança aos cidadãos, mas só quando o poder público reconhecer suas limitações e
compreender que segurança privada pode ser uma ferramenta de grande valia nas execuções
de políticas públicas é que poderemos encontrar saídas mais criativas e menos dispendiosas
para atender ao clamor social por segurança.

61
4. REFERÊNCIAS

ALMEIDA, João Luís Pereira de. Gestão de Eventos Desportivos: O Controlo de Multidões e
os seus intervenientes na Segurança dos Estádios. 2013. 80 f. Dissertação (Mestrado em
Gestão do Desporto) - Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa. 2013. Disponível em:
https:<//www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/5665/1/Tese%20J.%20Almeida.pdf>.
Acesso em: 05 nov 2016.

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aconteceu logo após a partida entre Santa Cruz e Paraná. pp. 6-8, 2017.

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produção. São Paulo: Reino editorial, 2010.

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2012, 2012.

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<http://www.pmpr.pr.gov.br/arquivos/File/cultura/A_Questao_da_Seguranca_Publica_nos_E
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particulares de segurança. 2005.

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regulação e implicações sociais do setor. v. 2010, n. 3, pp. 51-70, 2010.

ZANETIC, A. Policiamento e segurança privada: duas notas conceituais. Estudos


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ZIRPOLI, C. Vítima fatal na violência sem controle do futebol pernambucano. Portal Diario
de Pernambuco, 3 maio 2014.

63
5. RESUMO FINAL

Prezado leitor, com o intuito de facilitar o entendimento dos objetivos do presente E-


book, bem como de auxiliá-lo nas respostas dos itens, seguem algumas informações acerca do
tema em questão.
Estamos assistindo a uma crise no sistema de segurança brasileiro, retratada
especialmente no Estado do Espírito Santo. Tal situação afeta a segurança em todos os níveis
da sociedade e (não podia ser diferente) na segurança nos estádios de futebol. No dia 12 de
janeiro de 2017, no clássico carioca Flamengo vs Botafogo, o time do Botafogo ameaçou não
entrar em campo devido à insegurança na qual se encontrava, pois a Polícia Militar do Estado
do Rio de Janeiro ameaçava uma paralisação.

Tal insegurança atinge as pessoas envolvidas diretamente e indiretamente em grandes


eventos, além de promover uma reflexão sobre o papel da segurança privada e as
contribuições de uma parceria entre as seguranças pública e privada nos jogos de futebol, de
forma específica, em Pernambuco. Uma ótica pragmática deve perceber que a segurança
privada não é concorrente da segurança pública.
Conquanto esteja presente no caput do art. 5º da Constituição Federal, não podemos
interpretar o princípio do direito à segurança como sendo apenas segurança pública, isso
devido a seu caráter multidimensional. De acordo com Cláudio Pereira de Souza Neto
(2013),7in verbis:

A segurança, como vários outros princípios constitucionais, é multidimensional,


exercendo diversas funções em diferentes contextos, e se especializando em
múltiplos subprincípios, que vão da irretroatividade da norma tributária à anualidade
das regras eleitorais. Tais subprincípios, contudo, subsumem-se a três categorias
básicas: estabilidade, previsibilidade e ausência de perigos.

O princípio da segurança, quando se apresenta sob a forma de ausência de perigos,


deve ser entendido como sendo, neste caso, segurança pública.E, como tal é dever do Estado e

7
NETO, Cláudio Pereira de Souza. Comentário ao artigo 144º.In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES,
Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.624-625.

64
responsabilidade de todos, conforme se verifica na leitura do artigo 144 da Carta
Constitucional. A atuação estatal por meio de políticas públicas tem o condão de garantir um
ambiente de bem-estar, que só é possível se garantida a segurança prevista naquela Carta.
Para isso, o Estado precisa voltar seus olhos para a segurança privada, enxergando-a não
como uma concorrente, mas como uma parceira na consecução de sua missão constitucional.
A segurança privada jamais poderá substituir o dever do Estado de garantir
segurança aos cidadãos. Mas só quando o poder público reconhecer suas limitações e
compreender que segurança privada pode ser uma ferramenta de grande valia nas execuções
de políticas públicas é que poderemos encontrar saídas mais criativas e menos dispendiosas
paraatender o clamor social por segurança.
Mesmo sem um ambiente de instabilidade, a segurança pública, embora presente
nos estádios, não tem sido suficiente para coibir os atos de bestialidades cometidos por
aqueles que se dizem apaixonados pelo futebol.

6. QUESTIONÁRIO

Prezado leitor, ante o exposto, espero sua contribuição, respondendo as questões


abertas e fechadas, você estará contribuindo para a formação do conhecimento e, quiçá,
ajudando a contribuir para a melhoria da segurança que atua nos estádios de futebol em
Pernambuco. Nas questões abertas, não se limite aos espaços indicados, pois é só uma
sugestão.

a) A segurança nos jogos de futebol em Pernambuco seria mais eficiente se todo o efetivo
Militar, que fica dentro dos estádios, estivesse também presente nas ruas em torno dos
estádios e dentro dos campos estivessem presentes agentes de segurança privada,
capacitados para atuarem em grandes eventos.

( ) Concordo integralmente
( ) Concordo parcialmente
( )Discordo integralmente
( ) Discordo parcialmente

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Comentários cabíveis:
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________________________________________________________________________
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________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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________________________________________________________________________
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b) A presença dos “Flanelinhas” em torno dos estádios de futebol, muitas vezes coagindo os
torcedores ao pagamento adiantado de valores absurdos com a promessa de “guardarem”
os carros, favorece a sensação de insegurança. Isso é um reflexo da falta de policiamento
nas ruas durante os jogos.

( ) Concordo integralmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Discordo integralmente
( ) Discordo parcialmente

Comentários cabíveis:
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c) Recentemente, o Brasil foi palco de grandes eventos. Alguns foram esportivos, como os
Jogos Mundiais Militares de 2011, a Copa das Confederações em 2013, a Copa do
Mundo de Futebol FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.
Especialmente na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, por meio das transmissões
desses eventos, foi perceptível a presença dos agentes de segurança privada? E quanto às
forças de segurança pública, elas eram perceptíveis dentro ou fora dos locais dos grandes
eventos?

Comentários cabíveis:
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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d) Se o(a) senhor(a) foi ao estádio de futebol nos últimos dois anos, como avalia os
seguintes temas?
Considere: 1 = péssimo 2 = ruim, 3 = regular, 4 = bom e 5 = ótimo

( ) Quantidade de policiais nas ruas em torno do


jogo.
( ) Segurança privada nos locais de entrada.
( ) Quanto à segurança para estacionar.
( ) Sensação de segurança na ida e volta do
jogo.
( ) Mobilidade dentro dos estádios.
( ) Identificação dos agentes de segurança
dentro dos estádios.
( ) Agentes de segurança privada nas
arquibancadas.
( ) Quanto à presença de torcidas organizadas.

67
e) O artigo 1°-A do Estatuto do Torcedor diz:“A prevenção da violência nos esportes é de
responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes,
associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores,
inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma,
promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos”. Como a
responsabilidade pela segurança é dever de todos, o Estado de Pernambuco deveria exigir
um maior investimento em segurança por parte dos clubes de futebol na realização dos
jogos.

( ) Concordo integralmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Discordo integralmente
( ) Discordo parcialmente

Comentários cabíveis:
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f) O artigo 2o do Estatuto do Torcedor define torcedor como toda pessoa que aprecie,
apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do país e acompanhe a
prática de determinada modalidade esportiva. Em sua opinião, existe uma
preocupação com a segurança do torcedor que frequenta os estádios de futebol?

Comentários cabíveis:
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g) A segurança privada jamais poderá substituir o dever do Estado de garantir


segurança aos cidadãos, mas pode contribuir de forma significativa nas realizações
dos jogos de futebol em Pernambuco, especialmente no que diz respeito à segurança
interna dos estádios, abrindo espaço para uma maior participação da Polícia Militar
nos arredores dos campos.

( ) Concordo integralmente
( ) Concordo parcialmente
( ) Discordo integralmente
( ) Discordo parcialmente

Comentários cabíveis:
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7. INFORMAÇÕES ADICIONAIS
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O objetivo deste questionário é a obtenção de uma amostra do tipo não-probabilística,


realizada com agentes da segurança pública e privada, para fomentar o conhecimento
científico, na produção do projeto de pesquisa, que aponte o papel da segurança privada e as
contribuições de uma parceria entre as seguranças pública e privada para a segurança nos
jogos de futebol em Pernambuco.

ROTEIRO DE CONSULTA/ANÁLISE A DOCUMENTOS

Com o objetivo de aprofundar o conhecimento e contribuir para uma visão holística da


segurança pública, debruçamo-nos sobre o tema deste E-book, buscando contribuir para tornar
claras a importância e as contribuições da segurança privada para os jogos de futebol em
Pernambuco. Para isso, é mister estabelecer um diálogo com outros pensadores que já
contribuíram direta e indiretamente com o tema em apreço.
Seguindo nessa direção, consultar outros trabalhos, que já abordaram a temática sob um
ângulo pertinente ao presente trabalho, é tarefa primordial.
As regras gerais da FIFA sobre segurança nos estádios de futebol trouxeram um novo
modelo de expansão da segurança privada no Brasil, e buscar nessas fontes o arcabouço
necessário ao desenvolvimento do tema proposto é outro dos desafios, seguido da pouca
bibliografia direta sobre a pesquisa.
No entanto, acreditamos que a pesquisa explicativa, somada àexpertise dos profissionais
consultados e eventuais dados novos que também que serão buscados, considerando que o
conhecimento tem-se desenvolvido e multiplicado em uma velocidade nunca vista antes,
contribuíram para construir uma argumentação sólida e sustentável na defesa do tema
proposto.

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A. Número de ocorrências policiais nos estádios de Pernambuco. 2015-2017 (até abril)

ARENA PERNAMBUCO ARRUDA ILHA DO RETIRO


2015 2016 2017 2015 2016 2017 2015 2016 2017
AGRESSÃO / VIAS DE FATO 4 0 0 0 0 0 3 0 2
APOLOGIA À VIOLÊNCIA 0 0 1 0 1 9 0 1 0
ARREMESSO DE OBJETO NO CAMPO 0 0 0 0 0 0 0 1 0
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR 0 0 0 0 0 0 0 0 1

ATITUDE SUSPEITA / CAMBISMO / CIRC. DE MOEDA FALSA / TRÁFICO


3 0 0 1 2 0 1 0 0
DE DROGAS / FALSIDADE IDEOLÓGICA

COMÉRCIO DE BEBIDA ALCÓOLICA 3 0 0 0 0 0 0 0 0

CONDUTA INCOVENIENTE / PROVOCAÇÃO DE TUMULTO 104 41 1 6 14 4 2 37 4

CONSUMO DE BEBIDA ALCÓOLICA 1 0 0 1 0 0 3 0 0


DANO AO PATRIMÔNIO 0 1 0 0 0 0 0 1 0

DESACATO / RESISTÊNCIA / LESÃO CORPORAL / DESOBEDIÊNCIA 1 3 0 5 3 0 3 4 1

FURTO (CVP) 1 0 0 0 0 0 0 0 0
INVASÃO DE CAMPO 0 8 0 2 0 0 0 0 0
PORTE DE ARMA BRANCA 0 0 0 1 0 0 0 0 0
POSSE DE DROGAS 26 4 5 10 2 2 3 18 3
total 143 57 7 26 22 15 15 62 11
Fonte: Batalhão de Choque Recife/PE.

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