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METODOLOGIAS E ESTRATéGIAS DE MIGRAÇÃO DE DADOS

Cleber Silva de Oliveira 1


Marcio Abud Marcelino 2

Este trabalho identifica metodologias de manipulação de dados, descritas por vários


pesquisadores e profissionais em diversos países, realizando um levantamento das metodologias
gerais para migração, atualização ou integração de sistemas legados, especificamente, Sistemas
Integrados de Gestão, conhecidos ERPs (Enterprise Resource Planning). O trabalho apoia
uma direção em metodologias para construção de ferramentas que automatizem os processos
de migração, atualização ou integração de dados, evitando falhas humanas na construção
dos códigos e rotinas responsáveis por essa operação. O objetivo deste trabalho é manter a
integridade dos dados, minimizando custos e consequências, uma vez que, geralmente, os
dados de um sistema legado é o patrimônio mais importante de uma organização, onde o fluxo
intenso de transações é controlado por meio digital. Por meio de levantamentos bibliográficos,
são comparadas três metodologias de migração de dados e identificadas suas principais
características, apontando-se qual destas metodologias apresenta uma melhor abordagem
para uma migração de dados mais segura.

Palavras-chave: Migração de dados. Sistemas legados. ERP. ETL. Butterfly Methodology.


Chicken Little.

This paper identifies data manipulation methodologies, described by many researchers and
practitioners in several countries, performing a survey of the general methodologies for migration,
upgrade or integration of legacy systems, specifically, Integrated Management Systems, known as ERP
(Enterprise Resource Planning). The work supports a direction on methodologies for building tools to
automate the processes of migration, upgrade or data integration, avoiding human errors in building
codes and routines responsible for this operation. The aim of this work is to maintain data integrity by
minimizing costs and consequences, since, generally, data from a legacy system are the most important
assets of an organization, where the heavy flow of transactions are controlled by digital means.
Through literature surveys, three methods of data migration are compared and its main
characteristics identified, indicating which of these methodologies provides a better approach to
a safer data migration.

Keywords: Data Migration. Legacy Systems. ERP. ETL. Butterfly Methodology. Chicken Little.

1 INTRODUÇÃO dependente dos dados contidos em seus


sistemas, os quais são comumente chamados
Em muitas indústrias, comércios, de “Sistemas Legados”. Esses sistemas de
instituições públicas ou privadas existem informação são normalmente responsáveis
sistemas implantados e funcionais que trazem por controlar e integrar todos os processos
consigo todos os dados históricos e atuais de uma instituição, conhecidos normalmente
daquela instituição, tornando-a altamente como ERP (Enterprise Resource Planning)
1 Mestrando pela Faculdade de Engenharia Mecânica – Universidade de Taubaté - Professor da Área de Informática do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de São Paulo – Campus Guarulhos. E-mail: <cleber@ifsp.edu.br>.
2 Doutor em Engenharia Eletrônica e Computação pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica - Professor da Universidade de Taubaté e da UNESP.
E-mail: <abud@feg.unesp.br>.
Data de entrega dos originais à redação em 23/11/2011 e aceito para diagramação em 25/10/2012.

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ou Sistemas Integrados de Gestão. Passaram a baseando-se nas experiências empíricas


ser largamente utilizados no início da dos programadores, ou nas expectativas
década de noventa e são cada vez mais autoritárias dos usuários, somando-se a
indispensáveis dentro das instituições. uma documentação deficitária que dificulta
Tendo, como característica fundamental, o ainda mais a continuidade e escalabilidade
fato de serem constituídos por pacotes, com do sistema. Assim, destaca-se a importância
módulos integrados e interligados, em tempo dos requisitos de sistema legado como ponto
real, que utilizam um único banco de dados, de partida para a compreensão do sistema
os sistemas ERP objetivam dar suporte à atual e um devido levantamento de novos
maioria das operações de uma empresa requisitos. Entretanto, a imprecisão ou
(VALENTE, 2004). ausência de documentação adequada, bem
Alguns dos princípios mais importantes como a indisponibilidade das pessoas que
na qualidade de software, segundo a desenvolveram o sistema, podem impedir
NBR ISO/IEC9126-1 (ABNT, 2003), é a a recuperação dos requisitos originais do
manutenção, que representa a capacidade de sistema e dificultar a tarefa de elicitação dos
um software ou sistema ser modificado para novos requisitos (ESPINDOLA et al. 2004).
adição de melhorias ou funcionalidades, para Um processo fundamental durante
correção de erros e para portabilidade, que a implantação é o reaproveitamento dos
é a capacidade do software ser transferido dados de outros sistemas que normalmente
de ambiente ou tecnologia; porém muitos estão sendo substituídos pelo ERP. Para a
sistemas não foram desenvolvidos realização desta tarefa, torna-se necessário
observando esses critérios e, por falta de desenvolver uma ferramenta específica para
documentação, por descontinuidade de suas acesso ao sistema anterior, e isto envolve
tecnologias ou por modificação de hardware, analisar as estruturas deste sistema e criar
estes sistemas precisam ser atualizados ou um novo projeto somente para esta migração,
reescritos. Nesse momento as instituições se demandando tempo e todos os custos
deparam com uma das tarefas mais críticas relacionados ao desenvolvimento (RIBEIRO
da tecnologia da informação, que é realizar & OLIVEIRA, 2010).
grandes alterações e garantir a integridade Para garantir a integridade de dados
de informações tão vitais. Deve-se então não basta apenas destruir a estrutura anterior
realizar um planejamento adequado, mesmo e reconstruir a nova estrutura, mas devem-se
que não haja a troca de sistema, mas que criar algoritmos de migração de dados do
a mudança estrutural seja suficiente para banco da versão anterior para a nova versão,
caracterizar uma nova versão, como um possibilitando um tratamento adequado dos
sistema distinto do anterior, e assim construir dados legados e, em consequência, causando
uma metodologia de atualização da estrutura o mínimo de impacto ou prejuízo ao
e/ou migração de dados. sistema atual.
Dentro desse contexto, identificam-se A seguir apresenta-se a definição de
metodologias por meio de uma revisão sistemas legados, sistemas de gerenciamento
da literatura, em que estas poderão apoiar de banco de dados, os tipos de dados e a
novas metodologias. Infelizmente em geral equivalência que estes dados podem possuir
observa-se que a maioria dos sistemas entre os sistemas gerenciadores de banco
está há algum tempo em uso e não foi de dados. Depois se definem as regras gerais
influenciada pelo desenvolvimento ágil de para padronização de código para gerar
software (agile software development) ou um código de portável a qualquer SGBD.
simplesmente conhecida pelos profissionais Em seguida apresenta-se a descrição de três
da tecnologia de informação como método metodologias de migração de dados: Extract,
ágil, formalizado a partir de 2001, e que, pela Transform and Loader (ETL), Butterfly
ausência de padrões, os sistemas apresentam e Cold-Turkey e a análise da comparação
uma característica de construção artesanal, entre elas.

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2 SISTEMAS LEGADOS Com o surgimento em 1974 na IBM


da SQL (Structured Query Language) ou
Os sistemas legados são programas linguagem de consulta estruturada, os SGBDs
computacionais que mantêm dados vitais começaram a utilizá-la para tarefas de criação
sobre uma instituição. Quando a instituição de objetos e estrutura, manipulação de dados
passa a depender destes dados para ação de e regras de acesso. A linguagem passou a ser
seu processo administrativo ou operacional, padronizada pela American National Standards
passa a existir a necessidade da manutenção de Institute (ANSI) no ano de 1986 e pela
continuidade do sistema. Segundo ALLIEVI International Organization for Standardization
(2007), qualquer sistema em produção é (ISO) em 1987. Após a padronização
considerado legado. existiram cinco revisões como padrões
Os sistemas legados são uma fonte oficiais ANSI/ISO da SQL nos anos de 1989,
de preocupação para qualquer organização. 1992, 1999, 2003 e 2008. Atualmente todos
Porém é consenso, por parte das organizações, os SGBDs utilizam a linguagem SQL em suas
a importância do conhecimento do modelo de atividades. Porém cada um especializa estas
dados como fator de qualidade dos sistemas atividades com objetos próprios e linguagens
de informação, ressaltando a sua contribuição adicionais para gerenciamento dos dados.
para a manutenção, o desenvolvimento Uma grande vantagem da Linguagem SQL
ou melhoria do software legado, e/ou a é que toda a informação é passada de forma
migração dos sistemas para outras plataformas textual e cada SGBD ajusta os dados conforme
tecnológicas (ALMEDA et al., 1998). padrões indicados pelos programadores,
É comum se encontrar sistemas que o que simplificou o acesso a dados que
estão em uso em instituições financeiras, anteriormente deveria ser realizado pelo
desde a década de 70 e, em indústrias, desde aplicativo final de forma binária. Como o
a década de 90, que sofreram pequenas módulo de gerenciamento reside no próprio
adaptações e ajustes periódicos que não são SGBD, existe uma grande facilidade na
suficientes para a evolução da demanda, adequação do modelo para plataformas
exigindo a troca ou o desenvolvimento de diferentes. A similaridade da linguagem SQL
outro sistema. também facilita a implementação do modelo
nos diversos bancos de dados existentes
(HUTH, 2002).
2.1 Sistema de gerenciamento de banco Hoje os SGBDs mais difundidos no
de dados mercado são os softwares proprietários Oracle,
IBM DB2, Microsoft SQL-Server, e os livres
O Sistema de Gerenciamento de Banco são o MySQL, o PostgreSQL e o SQL-Lite,
de Dados (SGBD) é um programa responsável e este último em crescente utilização por ser
pelo gerenciamento de recursos de alocação, mais adequado a dispositivos móveis.
controle e manipulação de objetos como
as entidades e seus atributos, contadores,
chamadas de eventos, visões definidas por 2.2 Tipos de dados dos SGBDs
consultas e tipos de dados. O SGBD mantém
uma estrutura paralela aos objetos criados, Os dados de cada campo de uma
que guardam todas as informações estruturais tabela podem variar em tamanho (precisão
deste objeto, e estas informações estruturais binária) ou formato. Embora existam padrões
são chamadas de metadados. Eles são úteis de tipos de dados no SQL ANSI/ISO, os
no processo de migração ou atualização de desenvolvedores de cada SGBD criaram
um modelo de dados por conterem os dados diversos objetos de apoio ao gerenciamento de
sobre a precisão de um campo, o tipo de dado, estrutura e dados, o que inevitavelmente gera
se ele pode ser nulo ou não, além de muitas novos formatos independentes em cada um,
outras (DATE, 1998). como um campo com tipo numérico podendo

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ter a classificação NUMERIC, NUMBER, um código de SQL ANSI e converte


FLOAT, INT, INTEGER, INT8, INT16 etc. para o seu formato na precisão devida.
E o programador da estrutura terá que, por Foi verificado que alguns SGBDs não
meio do manual do fabricante, identificar possuem os mesmos tipos de dados que
qual é o tipo de dado mais adequado a sua outros, necessitando de adaptações como
necessidade conforme a tecnologia utilizada. a do tipo DATE para VARCHAR(10), para
Como resultado da análise de todos os tipos caber a mesma informação “DD/MM/
de dados dos SGBDs, a tabela 1 foi construída YYYY”, ou TIME para VARCHAR(5)
objetivando a comparação entre eles. ou VARCHAR(7) como “HH:MM:SS”.

Tabela 1 – Equivalência de tipos de dados

TIPOS DE
SQL ANSI DB2 ORACLE POSTGRESQL MYSQL SQLLITE
DADOS

TINYINT,
SMALLINT, SMALLINT,
SMALLINT, SMALLINT,
INTEIRO NUMBER INTEGER, MEDIUMINT, INTEGER
INTEGER INTEGER
BIGINT, INT,
BIGINT

REAL, DOUBLE, REAL, FLOAT, REAL,


REAL PRECISION, DECIMAL BINARY_FLOAT DOUBLE, DOUBLE, FLOAT,
FLOAT PRECISION REAL DOUBLE

REAL,
BINARY_DOUBLE, DECIMAL
DECIMAL DECIMAL DECIMAL DECIMAL FLOAT,
NUMBER NUMERIC
DOUBLE

CHARACTER, CHAR,
CHARACTER, CHAR, BINARY,
VARYING, VARCHAR2, VARCHAR,
CHAR, TEXT
NATIONAL, VARCHAR, CLOB, VARBINARY,
TEXTO VARCHAR, CHAR,
CHARACTER, CHARACTER NCLOB, TEXT,
TEXT CLOB
NATIONAL, NVARCHAR2, TINYTEXT,
CHARACTER, NCHAR MEDIUMTEXT,
VARYING LONGTEXT

BLOB, TINYBLOB,
BIT, RAW, BLOB,
BINÁRIO TIMESTAMP BYTEA NÃO EXISTE
BIT, VARYING LONGRAW, MEDIUMBLOB,
BFILE LONGBLOB

DATETIME,
DATE, DATE,
DATA/ DATE, DATE,
TIME, BLOB TIME, NÃO EXISTE
TEMPO TIMESTAMP TIMESTAMP,
TIMESTAMP TIMESTAMP
YEAR

BOOLEAN,
LÓGICO NÃO EXISTE NÃO EXISTE NÃO EXISTE BOOLEAN NÃO EXISTE
BOOL

Cada SGBD possui características Também os dados do tipo BOOLEAN


quanto à precisão, que está relacionada poderiam ser exportados como CHAR(1),
ao número de bits utilizados para cada com a informação “F” ou “V”.
tipo de dado, porém a maioria aceita

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2.3 Padronização de Códigos A seguir são apresentadas as principais


técnicas de migração levantadas na
Como o foco de uma migração é bibliografia, suas definições e comparações
plenamente ligado à portabilidade, torna-se entre elas:
necessário privilegiar padrões e formatos
extremamente genéricos, e o uso dos
métodos e ferramentas padronizadas evitam 3.1 Processos de migração de dados:
problemas externos aos recursos utilizados Extract, Transform e Loader
na implementação da solução, não só para
migração de dados, mas também para O ETL refere-se à sigla de Extração,
qualquer outra finalidade. Os SGBDs utilizam Transformação e Carga (Extract, Transform
internamente a linguagem SQL para definição and Loader), é uma metodologia que se
de objetos, manipulação de dados e controle divide em três estágios: um para leitura e
do acesso a dados, e apesar de não existir uma identificação dos dados, um para manipulação,
padronização de fato, o SQL-92 é o padrão conversão ou ajuste, e outro para preparação
mais utilizado. As pequenas diferenças de para inserção na tecnologia de destino.
sintaxe não comprometem a portabilidade No processo de ETL torna-se necessária
de aplicações desenvolvidas (HUTH, 2002). a extração e carga dos dados, caracterizando-se
Para que qualquer interpretador ou qualquer como opcionais a transformação e o
compilador leia os arquivos de comandos tratamento de erros dos dados de origem.
sem problemas, recomendá-se salvá-los Esta metodologia de não aplicar a validação
em um arquivo texto com formato UTF8 ou tratamento dos dados a serem carregados
(8 bit Unicode Transformation Format). deve ser adotada somente se os dados de
Este formato tem caracter universal do origem estiverem em conformidade com o
padrão Unicode e é compatível com o ASCII. escopo do processo de carga (RIBEIRO &
Em qualquer projeto de portabilidade é OLIVEIRA, 2010).
altamente recomendável não variar estes Pode-se identificar que esta metodologia
formatos, utilizando-se esses recursos é adequada a um ambiente homogêneo,
universais nas tecnologias existentes, pois servirá como um processo prático de
pois são comuns e evitam que ocorram transposição de dados, quando a estrutura
erros de sintaxe por interpretação de de destino for semelhante ou compatível
caracteres indevidos. com a de origem, criando-se somente uma
camada para tratamento simples dos dados
e já disponibilizando uma saída própria para
3 METODOLOGIAS DE MIGRAÇÃO carregamento direto dos dados no sistema
DE DADOS de destino.

As migrações de dados podem ter


dois perfis: a transposição de arquivos ou 3.1.1 Extração
objetos digitais para uma nova tecnologia
entre servidor, e a reutilização dos dados Cada sistema oferece uma origem de
ou atualização de uma estrutura de um dados, podendo ser: arquivos texto, como
sistema legado em seu SGBD. A migração padrões de retorno e remessa, planilhas,
da informação, de uma parte essencial de arquivos xml etc. Porém o mais importante
um sistema para outro, e de transferência não é o formato em que o dado será
de dados, de um ambiente para outro, exportado, visto que isso pode ser ajustado
estão estreitamente inter-relacionadas com por qualquer profissional de programação,
os processos, podendo ser divididas em o importante mesmo é documentar
migração de dados e migração de sistemas muito bem como estes dados estão
(BROY, 2005). organizados no sistema de origem/legado.

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Para isso deve-se realizar um levantamento Para exemplificar, via código SQL,
minucioso sobre todo o modelo da a criação do módulo temporário que vai
aplicação e a regra utilizada, para servir de engrenagem de migração necessita
que a implementação das operações inicialmente de uma análise dos dois modelos
de transformação explore todos os de dados, e a exportação dos dados é analisada
recursos existentes. a seguir:
● Origem: a tabela ORIGEM.tbl_pessoa
agrega tanto os dados de todos os telefones
3.1.2 Transformação quanto os de endereço.
● Destino: a tabela DESTINO.tbl_pessoa
A qualidade da documentação não precisa de todos os dados de endereço,
existente tanto do modelo de dados do pois já possui uma tabela tbl_cep que se
sistema de origem quanto de destino fará relacionará com tbl_pessoa. Já os dados
toda diferença na construção de uma telefônicos teriam que possuir quatro
engrenagem de transformação dos dados, colunas e ser separados em quatro linhas
também conhecidas como middleware ou que referenciassem cada uma delas ao
software intermediário. Dentro da definição identificador da pessoa.
da metodologia, não cabe detalhar regras,
tecnologias e funções necessárias para 3.1.3 Carga
esta transformação , e como um número
muito significativo de sistemas não possui Uma vez executas as rotinas de
padrões de desenvolvimento, cria-se uma transformação, se faz necessária a saída em
variação de possibilidades que necessitam linguagem SQL, através de comandos de inserção,
ser avaliadas caso a caso, quanto a sua em que é indicado o uso para SQL ANSI99
estrutura e regras para transformação. em UTF8. Quando o sistema de destino for um
Cabe à engrenagem de transformação único SGBD, deverá simplesmente executar um
dos dados possuir tabelas temporárias que arquivo texto contendo os comandos. Após esta
controlem um mapa de equivalência de tarefa sugere-se, mesmo que nenhum erro tenha
quais colunas ou conjunto de colunas do sido indicado durante as operações de migração,
modelo de dados no sistema de origem uma validação por amostragem dos dados.
são respectivas às colunas ou conjunto de
colunas do modelo de dados no sistema 3.2 A metodologia Chicken Little
de destino, bem como as conversões e
reindexações dos relacionamentos que estas Esta estratégia de migração consiste
terão que sofrer. de onze pequenos passos, que são realizadas

Figura 1 - Base de dados de origem, temporária e de destino

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de forma iterativa, em que a migração se métodos de desenvolvimento moderno, em


torna realizável, uma vez que a migração real que o sistema legado é totalmente parado
é dividida em partes menores (princípio da para evitar riscos, e começa a implantar o
Divide and Conquer). Chicken Little ainda novo sistema utilizando uma estratégia Big
significa uma reformulação completa do Bang, ou seja, tudo de uma vez. O maior
sistema. (BROY, 2005) problema é que este método sugere parar o
sistema para começar a migração e, conforme
Essas onze partes citadas por Broy são: os profissionais vão encontrando erros, serão
gerados os códigos adaptativos no sistema de
1 - Analisar o sistema legado; destino, e isso cria um problema geral, uma
2 - Decompor a estrutura do sistema legado; vez que estas alterações são inseridas em
3 - Projetar a interface destino; partes no sistema legado que já haviam sido
4 - Projetar a aplicação destino; concluídas. O autor destaca que este método
5 - Projetar a base de dados destino; está sujeito a erros e é dispendioso.
6 - Instalar o ambiente destino; É identificado que normalmente isso
7 - Criar e instalar os gateways necessários; ocorre em sistemas que possuem um volume
8 - Migrar as bases legadas; muito grande de informações, inviabilizando
9 - Migrar as aplicações legadas; um planejamento adequado ou suficiente pela
10 - Migrar as interfaces legadas; ausência de documentação, e que não se pode
11 - Mudar para o sistema destino. previamente criar nenhuma regra de migração
e nem prever seus detalhes, tendo-se que
Os gateways são programas utilizar o código fonte como documentação
intermediários responsáveis pela dos processos e requisitos, o que aumenta de
transformação da informação, porém, forma imensurável o tempo da migração.
diferentemente das engrenagens descritas no A Cold Turkey não parece ser uma
ETL, eles trabalham de forma passiva quanto metodologia e sim uma atividade aventureira
às requisições e chamadas feitas pelo sistema de desbravamento de códigos, e só seria
de origem ou destino, o que permite que o realizada quando nenhuma outra fosse
administrador do projeto de migração decida possível, pela exploração linha a linha de
por uma das estratégias a seguir: seu código fonte para extrair as regras da
organização de relacionamentos e tentar
● Forward ou Database First: em que os salvar o que fosse possível dos dados legados
dados são direcionados do sistema legado da instituição.
para uma nova estrutura de modelo de
dados. O forward, ou adiante, denota que
o sistema de origem envia os dados para 3.4 Butterfly
o destino.
● Reverse ou Database Last: o reverso é Esta é uma metodologia em que,
realmente a forma contrária ao forward, diferentemente da Chicken Little ou Cold
em que o sistema de destino busca a Turkey, o sistema legado permanece em
informação intermediada pelo gateway operação, enquanto que, em um ambiente de
no sistema de origem. teste, o novo sistema pode ser desenvolvido
e testado previamente a uma migração,
sem afetar o funcionamento ou mesmo
3.3 Cold Turkey causar transtornos. Sua abordagem é muito
semelhante à ETL. Inclusive em literaturas
Broy é o único autor que apresenta uma que abordam a ETL não se observa a
metodologia classificada por ele como Cold abordagem da Butterfly, ou vice-versa.
Turkey que é, como a Chicken Little, uma Para uso desta abordagem, necessita-se de um
reescrita completa do sistema legado utilizando bom conhecimento sobre o modelo de dados e

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suas regras, tanto no sistema de origem quanto módulo de migração de dados entre modelos
no sistema de destino dos dados, utilizando-se de dados homogêneos, para migração
uma engrenagem ou motor de migração de dos dados nas atualizações de versão dos
dados que na Butterfly os autores classificam módulos de um mesmo sistema. Portanto,
como Chrysaliser. a metodologia ETL pode ser especializada

Figura 2 - Butterfly

O Christalizer é um sistema em contexto de migração, integração ou


intermediário e tem a função de converter o atualização de SGBDs, uma vez que suas
modelo do banco transpondo a informação e generalidades são abertas a qualquer contexto
realizando os ajustes necessários, para que os de migração de dados para qualquer objeto no
dados presentes no SGBD LEGADO sejam universo computacional.
transferidos para o SGBD DESTINO com
a redução de prejuízo. Como as inserções
no banco de destino necessitam de regras 5 CONCLUSÃO
customizadas, existe a necessidade de o
administrador de banco de dados incluir estas Este trabalho realizou um levantamento
regras manualmente no Christalizer, pois é por meio de revisão da literatura, sobre
necessário completar os campos de destino, as metodologias utilizadas para migração
que não podem ser nulos ou serão completados de dados, e pode-se observar que essas
por consultas de relacionamentos entre duas metodologias, embora genéricas, servem
ou mais tabelas com dados já existentes de referência para outros trabalhos sobre
no destino. integração de sistemas e atualização de
Dentre as descritas, pode-se observar estrutura e migração de dados em sistemas
que as metodologias ETL e Butterfly possuem legados, e que cada sistema apresenta
os mesmos princípios e recomendações. particularidades em seu desenvolvimento, que
A ETL possui uma abordagem mais moderna; necessita de uma análise caso a caso. Durante o
a Chicken Little é mais burocrática e divide período de levantamento da bibliografia,
o processo de migração em diversas partes, foram identificados detalhes específicos em
o que pode até ser interessante quando se documentação de sistemas proprietários, que
tem uma equipe de trabalho em que existe não se baseiam em nenhuma metodologia
a possibilidade de distribuir melhor as especificada e não puderam ser citadas neste
funcionalidades de controle de cada camada; trabalho, já que suas licenças só preveem que
e que a Cold Turkey é aplicada não por deverão ser utilizadas junto de processos de
recomendação, mas por necessidade quando migração de suas ferramentas. Uma vez que
não é possível uma análise detalhada antes as especificações dos sistemas geralmente não
de começar a migração. Como resultado utilizaram padrões de desenvolvimento para
desta análise, especificamente as diretrizes uma automação independente de migração de
apontadas pela metodologia ETL serviram dados e a interação entre o administrador de
de base para o desenvolvimento de um banco de dados e a ferramenta intermediária

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de controle desta migração é muito requerida, BROY, M. Legacy Migrationsstrategien.


o profissional praticamente indicará todas as Hauptseminar Management von
relações entre as tabelas de origem e destino Softwaresystemen. TU München. Fakultät
e quais os comandos necessários para incluir für Informatik. Lehrstuhl IV: Software &
dados de relacionamentos na base de destino. Systems Engineering. München, 2005.
Para melhorar o Christalizer como ferramenta
de apoio ao administrador de banco de dados, DATE, C. J. Introdução a sistema de banco de
deixa-se como proposta para trabalhos dados. Rio de Janeiro: Campus. 8. ed. 2004.
futuros a realização de estudos para aplicação
de conceitos de classificação automática ESPINDOLA, R. et al. Uma análise crítica
de dados, de websemântica e arquétipos, dos desafios para engenharia de requisitos em
gerando uma comparação de dados para manutenção de software. Proc. VII Workshop
uma descrição semântica processável pelo on Requirements Engineering, 2004, Tandil,
Christalizer, em que, por meio destas técnicas, Argentina, 2004.
possam diminuir o número de intervenções
na transposição dos dados dos modelos HUTH, G. Um modelo para o gerenciamento
estruturais de bancos diferentes. de bancos de dados SQL através de
Stored Procedures. Florianópolis, 2002.
Dissertação (Mestrado em Ciências da
REFERÊNCIAS Computação). Universidade Federal de
Santa Catarina, UFSC.
ABNT. NBR ISO/IEC9126-1: Engenharia
de software: qualidade de produto (Parte 1: RIBEIRO, A. L.; OLIVEIRA, E. C. Processos
Modelo de qualidade). 2003. de implantação e migração de dados com
utilização de ETL para um ERP comercial.
ALLIEVI, O. Refl exões sobre manutenção de Universidade Luterana do Brasil. Curso de
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br/artigo/5919/desenvolvimento/reflexoes_
sobre_manutencao_de_sistemas_legados>. VALENTE, N. T. Z. Implementação de ERP
em pequenas e médias empresas: estudo de
ALMEIDA, A. B et al. Levantamento de caso em empresa do setor da construção civil.
modelos de dados em sistemas legados. São Paulo, 2004. (Mestrado em Controladoria
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27 out. 2011. <http://193.137.8.31/index.php/ de Economia, Administração e Contabilidade,
revista/index>. Universidade de São Paulo, USP.

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