Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
música.
4 Assim como um corpo toma formas diferentes de acordo com como suas partes forem
arranjadas, o mesmo texto ou música toma formas diferentes conforme do arranjo dos
seus intervalos de tempo.
6 [Assim como substância e acidentes,] nem ritmo existe sem o ritmizado nem o oposto:
nada pode existir sem formato, e o formato não pode existir sozinho.
8 Logo, nem todo arranjo é rítmico (εὔρυθμος). Os intervalos de tempo são como as
letras: poucas maneiras de combiná-los fazem sentido, e muitas são rejeitadas pela
percepção. Pela mesma razão, uma melodia bem construída é feita de menos formas
(ίδεας), enquanto uma mal construída, de mais formas. Assim parecem as coisas
relativas aos intervalos de tempo: muitas são as proporções e arranjos que são
claramente estranhos à percepção, e poucos são os que lhe são próprios e podem ser
arranjados segundo a natureza do ritmo. O objeto ritmizado pode receber qualquer
arranjo, rítmico ou arrítmico: pode ser arranjado em qualquer combinação de intervalos.
9 O tempo é dividido pelos ritmizados através das partes de cada um deles. Estes são
três: o texto, a melodia, e a moção corporal. Cada um divide o tempo por suas partes: o
texto, por sílabas, palavras etc., a melodia, por notas, intervalos etc., a moção corporal,
por sinais, poses etc.
10 O intervalo de tempo primário é aquele que não pode ser subdividido por nenhum
dos ritmizados. O diseme (dois + sinal = dois tempos) é feito de dois dele, triseme, por
três etc.
12 [Nada de relevante.]
17 Eles se dividem em ársis e tésis; alguns se compõe de uma de cada, outros de três
partes, sejam elas uma ársis e duas tésis ou o contrário, e outros de quatro, duas de cada.
18 Um pé de apenas um intervalo de tempo não pode existir, pois um só sinal não faz
uma distribuição de tempo. Pés de dois sinais são mais fáceis de se perceber, enquanto
pés de quatro podem precisar ser subdivididos.
19 Porque os pés são compostos de no máximo quatro unidades não se deve entender
que só possam se fazer composições rítmicas de mais de quatro pés: os marcadores de
cada pé se mantêm sempre iguais em número e tamanho, mas a composição rítmica
pode ser muito variada.
22 Os pés diferem uns dos outros de sete jeitos: pelo tamanho, pelo gênero, por serem
legítimos ou irracionais, compostos ou não-compostos, em divisão, em σχέμα, ou por
antítese.
24 Por gênero quando a razão interna de cada um entre tésis e ársis é desigual (em um
são iguais, no outro têm relação de dobro).
29 Em antítese quando a ársis e tésis de dois pés são o contrário uma da outra. Essa
distinção se dá em pés iguais entre si, mas que têm a tésis desigual à ársis (não fica claro
se isso reforça a simetria entre os pés ou se faz com que dáctilos e anapestos não
possam ser antitéticos entre si por terem tésis e ársis iguais).
31 Os menores dos pés são os triseme, porque a diseme “teria uma marcação
comprimida” [?]. Os triseme são iâmbicos por gênero, por no número três só há a
proporção do dobro.
32 Depois vêm os tetraseme, que são datílicos por gênero. Porquanto no número quatro
cabem a proporção do dobro e do triplo, mas o triplo não é rítmico.
33 Depois vêm os pentaseme, que podem ter proporção quádrupla ou três para dois. O
primeiro não é rítmico, e o segundo forma o gênero do peão.
34 Por quarto os hexaseme, duração comum aos gêneros dactílico e iâmbico, pois em
seis há o igual, o duplo e o quíntuplo. Este não é rítmico, e daqueles um cai no gênero
datílico e o outro no iâmbico.
35 O heptaseme não se divide em pés, porque as três proporções dele não são rítmicas
[nem 4:3, ainda que melodicamente seja uma proporção ótima].
36 Os octaseme são dactílicos por gênero desde que...
COMENTÁRIOS DE MARCHETTI
1 O Ritmo
Corroborações ao que Benveniste defende sobre a polissemia de ρυθμός. Nota
importante sobre isso:
16 Etymological studies of the word rhythm include Sauvanet 1999, Benveniste 1951, Wolf 1955, Petersen
1917, Schroeder 1918, Plüβ 1920.
Ele também comenta que Quintiliano definiu três sentidos de “ritmo”: o estático,
como na escultura que tem bom ritmo, o das coisas que se movem, como quem anda
com bom ritmo, e especialmente o da voz.
É possível (Lohmann 1970: 51-54) que αρμονία em uso homérico englobasse
ritmo. (p. 78). O primeiro registro de “harmonia” e “ritmo” como par complementar é
em Demócrito, On Rhythms and Harmony περί ῥυθμῶν καί ἁρμονίης (Fr. 15c D-K).
Traz usos anteriores a Aristóxeno que relacionam ritmo e palavra. Um é de
Platão no Crátilo 424c1-2, outro nas Categorias 4b32-37, mas os mais interessantes são
na Retórica 1408b28-29 e 1408b21-1409b-25, onde define metro como as unidades
pelas quais os ritmos são medidos. Um segundo tipo de distinção entre ritmo e metro
também por Platão e Aristóteles é o que trata “ritmo” genericamente enquanto algo que
pode ser naturalmente apreciado pelo homem, e “metro” uma especificidade sua (o que
não nega o primeiro grupo de usos). Isso é em Leis 653e3-5 e Poética 1448b20-22. O
terceiro grupo de usos separa ritmo de metro tratando metro como ligado às estruturas
de sílabas. Acontece em Filebo 17d e Górgias 502c5-6 em Platão e Aristóxeno difere a
rítmica e a métrica como partes da ciência musical em E.H. 2.34.
2 Percepção
Aristóteles falou da percepção como relativa àquilo que é percebido em
Categorias 6b3-36 e em Física 218b21-24 em relação à não-percepção do tempo no
caso de nada se mover. Aristóteles considera o tempo como uma quantidade em
Categorias 4b24 e 5ª6, como a medida do movimento em Física 21ª33-b3 e o diz
essencialmente ligado à atividade mental de alguém que percebe o movimento em
Metafísica 1077b15-1078ª5.
3 Físis
4 Léxis
5 Tempo
Assim como para Aristóteles as coisas não podem se compor de forma sem
matéria, também é para Aristóxeno. E, para Aristóteles, Físia 199b34-200ª15, o
propósito de alguma coisa limita as suas maneiras materiais de ser, como uma serra, que
para cortar só pode ser de metal. Da mesma forma para Aristóxeno, algo que é dividido
no tempo (propósito) só pode ser algo que é constituído de partes discerníveis.
Por Platão Crátilo 424c1-2, Halicarnasso cap. 14, Quintiliano 1.20 e Aristóteles
Poética 1456b20-38 sabemos que o estudo do ritmo começou pelo das palavras; no
entanto Aristóxeno o estuda independentemente delas.
Aqui (p. 112) ele confirma que o ritmizado está para a substância e o ritmo para
um acidente (formato, dentro das qualidades).
Assim como nas Categorias se admite que qualidades tenham diferenças (traços
que as especificam), também pelo ER, 4 e 22, podemos concluir que o ritmo tem
diferenças que o especificam. Igualmente, como qualidades têm contrários, por vezes
afirmativo-negativos ou não, o eurrítmico tem o contrário arrítmico, e autores
posteriores, como Quintiliano 1.14 (ou 33.5 W.I), consideram o meio-termo ritmóide.
10 di-tri-tetraseme
Os sinais para di e triseme aparecem em vários fragmentos preservados. Ver 49
West and Pöhlmann 2001 passim, see esp. DAGM 23, 42, 50. The earliest document to attest a
hyper-length syllable is DAGM 11, dated to about 200 B.C.
O comentador observa (p. 128 e anteriores) que o limite mínimo para o intervalo
primário é aquele delimitado pela percepção, ou seja, se num aulos muitas notas forem
tocadas rápido demais para serem distinguidas entre si, a unidade ainda será maior do
que cada uma delas [e elas serão consideradas, logo um efeito, e não um intervalo
independente].
Ele menciona Marius Victorinus 2515 (VI.65 Keil) citando Aristóxeno para
defender uma teoria de que os versos hexâmetro-datílicos poderiam ser divididos em
três grupos de dois ou dois grupos de três. Isso mostra uma noção de agrupamento de
pés em unidades inferiores ao metro, ou seja: em compassos, pelo menos na Roma do
séc. IV.
16 Pés diseme
Aristóxeno rejeita a possiblidade de pés diseme ou marcação diseme não
dizendo que é impossível, mas que exigiria marcação muito comprimida (pesada). O
comentador crê que isso se deve ao fato de que dois pés constituídos por breves
justapostos acabariam soando à cognição como um tetraseme com a longa resolvida. O
termo usado para “marcação” é σημασία, que se refere ao meio pelo qual se guia o
agrupamento do ritmo pelo ouvinte, e esta é, logo, independente das mudanças de
duração entre breve e longa, já que uma sequência de curtas não a utiliza (p. 147).
16 pés
As primeiras aparições do termo “pé” como algo rítmico são em Aristófanes Rãs
e na República, onde Platão diz estar esse termo na teoria musical de Damon (400c).
“Upon the musical modes are to follow for us the rhythms; we should not pursue their
complexity and the great diversity of their basic modes but we should observe what the
rhythms are of a life that is well-ordered and brave. After having observed these, we should
require the musical foot and the mode to conform to the speech of such a man but not the
speech to the foot and the mode”. Rep. 399e-400a.
Esta passagem da a entender que existem ritmos de uma vida ordenada e ritmos
de uma vida não ordenada, o que talvez também confronte a hipótese de Jaeger.
No mesmo comentário, o comentador diz que Platão se refere ao ritmo como
metro poético, à léxis como estilo narrativo e ao logos como o caráter do poema (385d5-
9)