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34131
Beethoven Alvareza
Resumo
Neste artigo, apresento uma tradução em hexâmetros
datícilos do poema Mitologicale (Mitologicais),
de Mihai Eminescu (1850-1889), um dos mais
importantes poetas romenos. Esse sui generis poema
foi publicado, postumamente, pela primeira vez em
1902, na revista Sămănătorul (O Semeador).
Contudo, dois manuscritos datados da época em
que Eminescu esteve em Berlim atestam que o
poema foi composto quando o poeta tinha então 23
anos, em 1873. Além da tradução, apresento uma
análise do poema em que discuto o tom paródico da
narrativa mítica e observo a capacidade de Eminescu
de fundir o antigo e o novo, o elevado e o popular.
Utilizando o hexâmetro datílico de feição clássica,
o autor bucovino cria uma narrativa que une todas
as dimensões do conto popular romeno com uma
prosódia ironicamente arcaizada, evocando uma
melancólica filosofia particular. Ao final, comento
propriamente problemas de ritmo e do verso, e
algumas questões de tradução do ritmo do verso,
fazendo breve revisão das práticas de criação e
tradução do hexâmetro.
Palavras-chave: poesia romena; Mihai Eminescu;
hexâmetro datílico; tradução poética; versificação.
a
Professor de Língua e Literatura Latina da Universidade Federal Fluminense (UFF). E-mail:
bee.alvarez@gmail.com.
1. O POEMA E EMINESCU
Numa visão não tão otimista quanto a do poeta
nicaraguense Ruben Dario, cujo verso serve de epígrafe, o
poema Mitologicale (Mitologicais), de Mihai Eminescu (1850-
1889), um dos mais importantes poetas romenos, pinta uma
vívida narrativa de um velho bêbado que sai de casa dirigindo
uma carroça, desgrenhado, rindo alto na rua sem motivo,
acreditando que árvores e montanhas lhe acenam ao passar. Um
jovem repreende o pinguço, mas de nada adianta. Tentando ir
adiante, o velho ébrio quase se atola na lama, mas não se faz de
rogado, finge dançar e depois dá cambalhotas. Nisso, é picado
por uma pulga e se coça numa cerca qualquer. Volta para casa
trôpego, tira as roupas e as estende sobre o forno para secar,
porque, além de tudo, havia entrado no mar com roupa e tudo.
Faz xixi no penico e toca a dormir uma soneca boa. Acorda no
dia seguinte ainda sonolento e, sem se dar conta do que fez,
olha para o sol e coça a cabeça. O dia lá fora está lindo!
Embora possa ser essa apenas uma cínica sinopse do
poema, não há nenhuma impropriedade. O curioso poema
de 84 versos, composto em hexâmetros datílicos (mais à
frente tratarei especificamente da história e do emprego desse
tipo de verso na poesia romena), propõe-se a narrar uma
história mítica (como anuncia o título) de seres fantásticos que
compartilham características titânicas de forças da natureza,
mas que, ao mesmo tempo, comportam-se como ridículos
personagens do cotidiano.
O esperado tom elevado da narrativa mitológica, a
depreender-se também pelo tipo de verso, mescla-se a uma
fraseologia popular para contar a paródica história de um
velho furacão, telúrico e poderoso, que parte das montanhas
montado em carruagem trovejante pelos céus; bêbado,
organiza a maior arruaça nos campos celestes, revolvendo,
no caminho, terra e mar. Insatisfeito, o sol, fazendo papel do
jovem responsável, interpela o furacão na tentativa de dissuadi-
lo, mas só consegue arrumar uma discussão. Não podendo
* Todas as notas deste alcançar as estrelas, o velho ciclone retorna para as montanhas
artigo encontram-se ao
fim do texto. de onde veio, o Monte Rarau, nos Cárpatos moldavos, que são
Voica que destaca seu valor mítico. Voica entrevê uma relação
complexa entre “prosódia antiga” e um “universo com matiz
onírico” numa narrativa de arremedo fantástico (2004, p. 137
apud DIACONESCU, 2009, p. 135).10 É essa chave de leitura
que proponho seguirmos, a da paródia do universal, do
“mitological”. Vejamos. O mesmo Diaconescu destacou que:
[n]o poema Mitologicale, a paródia envolve múltiplos planos:
1. axiológico: o mundo elevado é rebaixado ao mundo
humilde; 2. temporal: os tempos míticos se fundem com os
tempos modernos; 3. tópico: o Olimpo é localizado no Monte
Rarăul, e o furacão é um camponês bucovino; e 4. estilístico:
a linguagem literária e popular se concretizam em imagens
hiperbólicas e originais. (DIACONESCU, 2009, p. 140).11
2. TRADUÇÃO
Ainda sobre a união de tempos e espaços, mas já
pensando em questões de tradução, cito, epigraficamente,
Marco Lucchesi, numa leitura mais expressionista, que explica
muito sensivelmente a relação da poética eminesciana que
relaciona dácios e latinos:
Mihai Eminescu contribuiu de forma extraordinária
para o alargamento do horizonte espiritual europeu
como ‘conquistador de novos mundos’. Tal como Camões,
Eminescu explorou uma vasta e selvagem ‘terra incógnita’
e transformou em valores espirituais experiências
MITOLOGICAIS13
MITOLOGICALE29
Şi-ş’ prăvă/lesc că/ciula de/ stânc’ când/ vor să-l sa/lute (v. 8)
–vv/–v/–vv/–v/–vv/–v
REFERÊNCIAS
Abstract
Mihai Eminescu’s Romanian Hexameters:
translation to Portuguese and comments
on the poem ‘Mitologicale’
In this article, I present a translation of Mihai
Eminescu’s poem Mitologicale. Eminescu
(1850-1889) is one of the most important
Romanian poets. This sui generis poem
was published, posthumously, for the first
time in 1902, in the journal Sămănătorul
(The Sower). Nevertheless there are two
manuscripts dating from the time Eminescu
was in Berlin which testify that the poem
was written when the author was then 23
years old in 1873. In addition, I propose an
analysis of the poem discussing its parodical
treatment of the mythical narrative and I
observe Emineuscu’s ability to merge the
old and the new, the high and the popular.
Using the classic-looking dactylic hexameter,
the Bucovian author creates a narrative that
unites all dimensions of the Romanian folk tale
with an ironically archaic prosody, evoking
a particular melancholic philosophy. At the
end, I comment on rhythm and verse issues,
and some questions on translating rhythm,
presenting a brief balance of the translational
and writing practices of the dactylic hexameter.
Keywords: Romanian poetry, Mihai
Eminescu, dactylic hexameter, poetic
translation, versification.
NOTAS
1
Hexâmetro datílico de Ruben Dario, de 1888, “ya veréis el salir del sol em un triunfo de liras” (v. 14), extraído de Dario (1982).
Todas as traduções, de línguas modernas ou antigas, são de minha autoria.
2
No n. 32 da revista, de 3/11/1902, nas páginas. 82-83. Cf. Opere I, p. 915. Citarei como Opere, neste texto, a edição de D.
Vatamaniuc (Univers Enciclopedic, 1999).
3
Preludii, Chendi (1903, p. 44-46).
4
Na edição de Perpessicius, de 1944-1983, promovida pela Academia Romana, o poema aparece nos volumes IV (p. 197-
199) e V (p. 167-170).
5
Tudo ganha traços alusivos mais triviais quando pensamos nos substantivos plurais com morfologia parecida: zaharicale
(“guloseimas”, de zahar, “açúcar”) e puricale (“frutas”), cf. Botez (2004).
6
Boltaşu Nicolae (2017) oferece inteligente análise do poema, observando uma intrínseca relação entre ironia e
desconstrução. Ainda adiciona que percebe no poema imagens de mundos virtuais, espaços cibórguicos e efeitos
especiais próprios do cinema. Visão com que concordo, e o que impressiona é que o cinema só seria inventado uns 20
anos após a composição do poema.
7
“Fantasticul e structurat dual şi în funcţie de atitudinea în faţa imaginarului; se vorbeşte astfel despre unfantastic macabru (generat
de teama în faţa imaginarului) şi de un fantastic comic (ca eliberare în faţa imaginarului, din care rezultă convenţionalismul ficţiunii).
Fie că e tratat în registru ironic, prin alegorizarea vechilor mituri [...], fie în registru umoristic, când mitul trece în „mitologicale”,
fantasticul se întâlneşte cu miraculosul într-un tot unitar, popular şi cult în acelaşi timp.”
8
Digo “em tese” porque há enorme distinção em termos prosódicos, rítmicos, éticos e poéticos entre o hexâmetro de
Homero, num mundo grego de poesia oral do séc. VIII a.C., e o hexâmetro romeno de Eminescu, no fim do XIX.
9
Carregado pelo rei sapo, um rato se afoga no lago quando uma cobra aparece. Motivados pela história do crime, os
ratos declaram guerra aos sapos. Os deuses se reúnem e, por fim, Zeus manda um exército de caranguejos para ajudar
os sapos na batalha que dura até o pôr-do-sol.
10
Contudo, como aponta na passagem Diaconescu, os “alguns hexâmetros” de Eminescu já foram considerados apenas
como um “rascunho”, sem grande valor (um ‘bruion’, fara mare valoare), por G. Ibrăileanu.
11
“În poemul Mitologicale, parodia interferează planuri multiple: 1. axiologice: lumea înaltă este coborâtă în lumea umilă; 2. temporale:
vremurile mitice fuzionează cu cele moderne; 3. topice: Olimpul e înlocuit cu Rarăul, iar Uraganul este un ţăran bucovinean şi 4.
stilistice: limbajul literar şi popular se întrupează în imagini hiperbolice şi originale.”
12
Tratando do poema Luceafarul (Vésper), Babuts (2011, p. 156) expõe uma visão que pode muito bem ser aplicada aqui:
“A concepção de Eminescu do universo justapõe a esfera humana à esfera cósmica para mostrar como, em comparação
com o universo, nosso mundo é como o de formigas ou pessoas microscópicas.” (“Eminescu’s conception of the universe
juxtaposes the human sphere with the cosmic sphere to show how in comparison with the universe our world is like that of ants or
microscopic people”).
13
Agradeço a Adalberto Müller, Arthur Santos, Carolina Paganine, Fabio Cairolli, Guilherme Flores, Leonardo Antues,
Rafael Brunhara e Rodrigo Gonçalves, que contribuíram com leituras dos rascunhos dessa tradução. Ao Fabio também
por me apresentar os hexâmetros castelhanos. Ao Rodrigo, pelas últimas discussões, e pelo texto e contato de Smaranda
Marculescu, a quem agradeço pela indicação gentil de bibliografia sobre versificação romena. Devo render graças, ainda,
a Susana Lages, cujo apoio foi de grande estímulo.
14
Marea (“o mar”), em romeno, é feminino. Traduzi então aqui marea-albastră (os mares azuis) por “águas azuis”.
15
“Em toda parte” no lugar de pe ici, pe coleà, que seria, mais propriamente, “aqui e acolá”.
16
Segundo o Dicţionar Juridic Online, a primeira companhia seguradora na Romênia foi fundada em 1871 e chamava
“Dacia”. Em 1873, foi fundada a segunda empresa de seguro, a “Romania”. O poema é escrito em 1873. Isso pode ajudar
a aumentar nossa percepção do nível de ironia. “Todas as companhias seguradoras” soa exagerado para um país que
tinha só uma ou duas naquele momento; igualmente, a “terrível” capacidade de destruição do furacão fica ironicamente
minimizada.
17
Pepeleo (do eslavo pepelŭ, em romeno cenușă, “cinzas”) é forma masculina de Pepelea. Pepeleo designa alguns personagens
populares e folclóricos de caráter cômico. Pepelea, em algum momento, foi associada a história da “Cinderela” (Cenușăreasă,
também de cenușă, “cinzas”). Lembre-se de que Cinderella em inglês traz o radical cinder, “cinzas”.
18
“Cara de pau” para obraz cu roș (algo como “bochechas vermelhas”), da expressão să-ți fie rușine obrazului!, que se diz
de alguém que fez algo inapropriado, parecido com (não) “ter vergonha na cara”.
19
“Mocanesca”, mocăneasca em romeno, refere-se a uma dança folclórica tradicional.
20
Morișcă pode ser simplesmente “moinho”, mas aqui, dado o tom folclórico e caricato, o velho furacão fica reduzido a
um infantil “cata-vento”, tradução também possível.
21
Cojoc, uma espécie de casaco feito de pele ovelhas, largo e com bolsos internos, utilizados por camponeses e pastores
moldavos.
22
Os “negros farrapos”, ou negrele-obiele, seriam suas “meias”.
23
Monte Hinom refere-se ao vale de Hinom, em Jerusalém. Associa-se, normalmente, a geografia da região com o “Lago
de Fogo” que aparece, por exemplo, em Apocalipse, 20, 14, como sinônimo do próprio Inferno. Monte Hinom em hebraico
diz-se Geh Ben-Hinom, literalmente “Vale do Filho de Hinom”, cuja forma helenizada era Geena. No vale, fora dos muros
da cidade, costumava-se queimar constantemente lixo e cadáveres. Em romeno, ocorre neste verso: la focul Gheenei, “no
fogo da Geena”.
24
Sim, é isso mesmo.
25
“Kaiser”, palavra de origem germânica para “rei”, “monarca”.
26
Note-se o tom erótico entre o sol (soarele, masculino), que, brando, conforta, e “águas do mar” (marea, feminino), que
têm a “face azul” e os seios acariciados.
27
“Margarida de Fausto”, ou Margarete, ou Gretchen, é a amada de Fausto, personagem do homônimo poema trágico
de Goethe.
28
Monte Rarau, grande cadeia de montanhas nos Cárpatos moldavos e transilvanos, em que se encontram as conhecidas
e turísticas Pietrele Doamnei (“Pedras do Senhor”).
29
O texto em romeno é aquele estabelecido em Opere I, p. 484-486.
30
Diz-se “longa” em relação ao tempo de pronúncia, ou por comportar uma vogal longa, ou por se tratar de sílaba
travada, ou seja, terminada em consoante, o que aumenta a percepção do tempo de pronúncia; “breve” seria a sílaba
não terminada em consoante, composta por vogal breve.
31
Ver Alvarez (2015) sobre uma discussão sobre a estruturação do hexâmetro da poesia épica oral da Grécia.
32
Cf. Opere I, p. 799-801. Cito os v. 1-2 da Odisseia, na tradução hexamétrica de Eminescu: “Spune-ne, muză divină, de mult
iscusitul bărbat, ce / Lung rătăci după ce-au dărâmat Troada cea sfântă.”
33
O primeiro verso é: “Lupte vă cânt și pe-oșteanul ce-odată din câmpii troianici”. É difícil atestar qualquer relação dos
hexâmetros de Coșbuc com os de Eminescu.
34
Em verdade, anteriormente, a importante tradução de G. Murnu já vinha sendo publicada em fascículos (1900-1905)
e teve uma primeira edição dos 12 primeiros cantos em 1906. Em 1998, quando o classicista Dan Sluşanschi retraduz a
Ilíada também em hexâmetros, emprega o mesmo primeiro verso da tradução de Murnu: “Cântă, Zeiță, mânia ce-aprinse
pe-Ahil’ Peleianul”. Cito a tradução desse mesmo verso da Ilíada feita por Eminescu em 1877, em alexandrino: “Cântă-ne,
zână, a lui Ahil Peleidul mânie”.
35
Cito Galdi (1964, p. 130): “Devemos a Eminescu excelentes hexâmetros (Mitologicais 1873); um pouco mais tarde
ensaia traduzir um epigrama de Ovídio (Donec eris felix), uma ode de Horácio (I, 11), e até alguns versos da Ilíada e da
Odisseia; essa última tradução (1877) parece preparar o caminho para os análogos esforços de Coșbuc” (“Nous devons
à Eminescu d’excellents hexamètres (Mitologicale 1873); un peu plus tard il essaya de traduire une épigramme d’Ovide
(Donec eris felix...), une épître d’Horace (I, 11), de même que quelques vers de l’Iliade et de l’Odyssée; cette dernière
traduction (1877) semble préparer la voie aux efforts analogues de Coșbuc”).
36
Ver, ainda, Oliva Neto (2014, p. 189).
37
Sobre o hexâmetro em Portugal, entre o séc. XVIII e o início do XX, ver Oliva Neto; Nogueira (2013).
38
Na “técnica de Klopstock, el troqueo (más bien que el espondeo) reemplaza con frecuencia al dáctilo en los cuatro primeros
pies del verso”.
39
Não conseguirei discutir aqui as particularidades das técnicas de Voss e Klopstock no que diz respeito ao emprego
de pés e cesura. Apenas cito Mendicino (2011) para apresentar a questão: “Klopstock opõe, de fato, o ‘Wortfüß’ (‘pé-palavra’
[do alemão]) aos ‘künstlichen Füße’ (‘pés artificiais’) das métricas tradicionais, que criam grupos métricos que desconsideram
agrupamentos semânticos” (“Klopstock opposes, in fact, the ‘Wortfuß’ to the ‘künstlichen Füße’ of traditional metrics, which create
metrical groups that disregard semantic groupings”).
40
Sobre Hermann und Dorothea, Voss e Kant, ver Wagner (1999). O verso hexamétrico também foi usado em dísticos
elegíacos por Goethe, Schiller, Hölderlin e outros.
41
Para uma detalhada análise dos hexâmetros desse período na obra dos autores germânicos, ver Saavedra Molina
(1964, p. 31-38). Como mencionei, há certa diferença no tratamento das cesuras praticadas por Voss e Klopstock.
42
Para uma lista completa das traduções de Homero em inglês até o início do século XX, ver Bush (1926). Por questão de
espaço, não tratarei dos hexâmetros em França, Espanha e Itália no período.
43
O que é, no mínimo, curioso, uma vez que foram Schlegel, Tieck e Hoffmann as influências germânicas mais marcadas
na obra de Eminescu, como atesta Ștefan (2014, p. 459). Até onde pude conferir, não há relato do próprio Eminescu sobre
essa filiação, embora me pareça clara.
44
A escansão de poesia (e sua própria composição) é deveras complexa, uma vez que se vale de parâmetros rítmicos
muito variados, conforme ensina Galdi (1964, p. 10 et seq.). Em 2006, Mihai Dinu discute três métodos de abordadem
estrutural da rítmica versificatória romena, variando entre um método “idealista”, um “materialista” e um “dualista”.
45
Aqui as vírgulas marcam pausas sintáticas de leitura, e o apóstrofo, a apócope da preposição “de”.
46
Oliva Neto e Nogueira (2013) traçam a história das primeiras tentativas de aclimatar o hexâmetro em português do
século XVIII ao início do XX.
47
Uma outra tradição que data de Camões e que encontra em Odorico Mendes (1799-1864) seu patriarca se vale do
decassílabo heroico da poesia de língua portuguesa para traduzir os hexâmetros greco-romanos. Sobre essa tradição,
ver Thamos (2011).
48
Oliva Neto associa esse tipo de cesura ao modelo de Klopstock, e não ao de Voss, que não coincidiria cesura e conteúdo
sintático-semântico. Pela questão do espaço, optei por não discutir aqui os problemas de cesura, tanto do verso de
Eminescu quanto da tradução.
49
Cf. Gonçalves (2011) e Gonçalves (2017), Antunes (2011 e 2015) e Nogueira (2013).
50
Cf. Gonçalves (2014, p. 161).
51
Importante esforço de discussão e sistematização das possibilidades tradutórias do hexâmetro empreendeu Marcelo
Tápia (2012), que, em sua tradução, utiliza um hexâmetro similar ao de Gonçalves. Em trabalho mais recente, Luiza Souza
(2016) realiza detalhada revisão dessa história de adaptação do hexâmetro núnico para aceitar troqueus e anacruses.
52
Conferir Flores (2011). E ainda: note-se que o segundo pé é considerado um espondeu. Antunes (2015, p. 13, n. 3),
tratando dos troqueus de Tápia, também identifica que troqueus devem ser lidos como espondeus.
53
Em língua portuguesa, encontram-se poucas, porém preciosas traduções de Eminescu, dentre as quais destaco os
importantes trabalhos de Nelson Vainer e Luciano Maia.
54
Na Espanha, Agustín Garcia Calvo, Ilíada (1995); na própria Romênia, Dan Sluşanschi, Ilíada (1998) e Eneida (2000);
nos Estados Unidos, Rodney Merrill, Odisseia (2002) e Ilíada (2007); na Inglaterra, Frederick Ahl, Eneida (2007); na França,
Philippe Brunet, Ilíada (2010); na Itália, Daniele Ventre, Ilíada (2010).
55
Há também recentes trabalhos acadêmicos orientados por tradutores aqui citados que praticam e praticaram hexâmetros
em Catulo, Lucrécio, Ovídio e outros. Uma lista detalhada seria imprecisa agora.