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12/08/2020 História do MNE | Wiki Negritude Cristã | Fandom

História do MNE
O início do Movimento negro evangélico pode ser considerado em 1841 quando Agostinho José Pereira começou a pregar pelas ruas do Recife. Nasceu, assim, a primeira Igreja
Protestante Brasileira, uma Igreja Negra, a Igreja do Divino Mestre, com seus mais de 300 seguidores, negros e negras, todos livres e libertos. Agostinho ensinou-os a ler e a escrever,
numa época em que os proprietários de terras eram analfabetos.

No Brasil de 1841, fora das colônias habitadas por estrangeiras não havia protestantismo algum. O negro Agostinho foi o primeiro pregador brasileiro. Só depois, em 1858, o Reverendo
Roberto Kalley fundou a Igreja Fluminense, episódio considerado pela história oficial como data de fundação da primeira igreja protestante do Brasil. Ao passar por Pernambuco em
1852, o naturalista inglês Charles B. Mansfield referiu-se ao mestre como um “Lutero negro”, que não sabia onde ele estava, mas tinha ouvido que tinha sido condenado a três anos de
prisão ou fora deportado. O Lutero Negro deixou um legado para a igreja e a sociedade brasileira. Para o Movimento Negro contemporâneo deixou uma bela herança histórica.

Sabemos que depois de Agostinho surgiram várias outras iniciativas negras protestantes no passado que precisam ser resgatadas, como a jovem Maria, da Nação Nagô, Maria nascera
na África por volta de 1825 e fora trazida ao Brasil em 1846, ocasião em que o pastor Voges a adquirira. Os primeiros anos haviam sido voltados à adaptação à casa do pastor. Ela tivera
que freqüentar as aulas de Dona Elisabetha para ser alfabetizada e para aprender a língua alemã. Em 1860, ela se tornava uma negra consciente de sua condição africana, interessada
na sua própria história, língua e costumes. Ela desejava ensinar essas raízes e esses costumes dos ancestrais aos seus filhos e a outras negras. Os negros da Colônia passariam a tê-la
como sua líder. Os afrodescendentes passariam a chamá-la de “Mãe Maria” , em sinal de submissão e respeito. Nasce ali a primeira Pastoral Negra Protestante no Brasil. Nas reuniões,
ela não contava apenas histórias. Ela fazia questão de cantar e de ensinar passos de dança, do costume nagô. Os afrodescendentes reuniram-se com certa regularidade no “Pátio do
Engenho”, sob a liderança de Mãe Maria , até que sobreveio a Revolução Federalista, que afetaria a vida de toda a população. Tudo acabaria de repente.

Temos varias outros fatos interessantes de negros e negras que passaram em nossas igrejas fazendo historia e fortalecendo a luta do Movimento Negro Evangélico: João Cândido , o
marinheiro negro, membro da Igreja Metodista de São João de Meriti, que liderou a Revolta da Chibata - um importante movimento social ocorrido no início do século XX, na cidade do
Rio de Janeiro.

Outra contribuição foi prestada pelo líder camponês João Pedro Teixeira , negro, crente da Igreja Evangélica Presbiteriana. Ele fundou a Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba. Teixeira
foi retratado no filme “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, um marco qualitativo da cinematografia brasileira.

Também Solano Trindade que teve ação importante na igreja. Ele chegou a ser diácono da Igreja Presbiteriana, fazia poemas e citava trechos bíblicos com facilidade, voltado
principalmente para o Gólgota e os apóstolos Pedro, Tiago e João evangelista. Foi na igreja que ele começou o legado da vida. Seus poemas foram publicados na revista protestante do
Colégio XV de Novembro, de Garanhuns, e em jornais do Recife. Só depois dessa fase começaria a nascer a sua poesia negra. Decepcionado com o distanciamento do protestantismo
com as questões sociais, incluindo a discriminação contra os negros, ele deixou a igreja, justificando sua saída com um versículo da própria Bíblia: “Se não amas a teu irmão, a quem
vês, como podes amar a Deus, a quem não vês?”

Estes e muitos outros negros e negras passaram por nossas igrejas e deixaram um legado para a humanidade.

O Movimento Negro Evangélico contemporâneo, começa a se formar na década de setenta e oitenta, onde surge pessoas e organizações desafiada a trabalhar a questão racial negra
nas igrejas evangélicas. Foi a partir do centenário da abolição da escravatura que o Movimento Negro Evangélico no Brasil, depois da repressão, começou a sair dos muros das
universidades e seminários e mostrar a sua cara negra.

A Igreja Católica lançava a campanha da fraternidade: “Ouvi o clamor deste Povo”, com a temática Negra; neste período também o movimento negro começou a buscar a unidade para
uma grande marcha do centenário da abolição, a Igreja Metodista cria o Ministério de Combate ao Racismo, é criado a CENACORA - Comissão Ecumênica Nacional de Combate ao
Racismo, na época ligada ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil). Surgem varias outras organizações: Comunidade Martin Luther King, Capoeiristas de Cristo,
GEVANAB, Negros Evangélicos de Londrina, Missões Quilombo, Associação Evangélica Palmares. Surgem grupos no Rio de Janeiro (Assembléia de Deus) em São Paulo (O Brasil Para
Cristo, Assembléia de Deus, Quadrangular) no Sul, no Nordeste, aqui e ali vão surgindo novos grupos, um movimento de baixo para cima.

Mais é a partir do ano 2000 que o movimento começa a criar forma com o aparecimento de novas iniciativas e organizações, no Sul do País o Grupo de Negros e Negras da Escola
Superior de Teologia da Igreja de Confissão Luterana; No Rio de Janeiro o Fórum Permanente de Mulheres Negras Cristã, o Movimento Martin Luther King de Ação e Reflexão; Na Bahia
Surgem o Grupo de Mulheres Negras Agá, o Ministério Internacional de Afrodescendentes; em São Paulo o Fórum de Mulheres Negra Cristã, a Simeão Niger, a Comafro, vários grupos
e iniciativas espalhados por todo o Brasil.

O surgimento desses grupos e organizações no seguimento evangélico já nos faz pensar em um Movimento Negro Evangélico se consolidando no Brasil. Atualmente esse movimento é
uma das mais novas forças de combate ao racismo e de consciência negra do Brasil, ele surge dentro do seguimento evangélico brasileiro onde grande parte dos seus seguidores são
afrodescendentes, paradoxalmente um seguimento que demoniza a cultura e historia negra, e tem uma longa historia de constrangimento e racismo. A missão do movimento negro
evangélico é promover a reflexão e o debate bíblico/teológico em uma perspectiva negra e combater toda forma de racismo.

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