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A Criatividade e a Leitura

Sempre me fez enorme confusão perceber que há muitas pessoas que, sabendo ler, não
gostam de o fazer. E questiono-me sobre quais serão as razões para tal, conhecendo eu, e
muitos de nós, as enormes vantagens que a leitura proporciona a qualquer um.

Penso que a principal razão, para a maioria dos casos, tem a ver com o facto de faltar ao livro
o poder sedutor da imagem e do vídeo, para além de a leitura ser uma atividade fisicamente
pouco ativa, como sabemos, o que se tornam enormes desvantagens quando o livro compete
com a força, o poder sedutor bem como a influência das tecnologias: telemóvel, portátil,
tablet, tv, playstation, internet, redes sociais, etc., ou com outras atividades mundanas, mais
ativas ou de maior interação social.

Na realidade, o livro tem, à partida, uma enorme desvantagem quanto à capacidade de


sedução e atração do cidadão, quando comparada com toda a parafernália de gadgets, de
todo o tipo, que pululam no mercado. A imagem e o vídeo captam a nossa atenção com
muito mais força e têm mais impacto. Isto não invalida, contudo, as enormes virtualidades que
o livro possui. Uma coisa é o poder de sedução de um objeto ou dispositivo, outra bem
diferente é a sua capacidade transformadora da mente humana, com a multiplicidade de
vantagens associadas.

No entanto, para essas pessoas, o prazer da leitura de um livro está a apenas um pequeno
passo de poder ganhar a batalha contra a sedução dos dispositivos tecnológicos - não para
vencer, mas para conviver com as tecnologias – ou a maior apetência por atividades sociais ou
outras com maior envolvimento físico. Com efeito, é sabido que quando se começa a ler um
bom livro, que aborde temas que nos interessam, já não queremos parar – ficamos absorvidos
nele até ao fim.

Que passo é esse então que lhes falta dar?

Para vencerem essa inércia, essa resistência a uma atividade aparentemente (só
aparentemente) pouco aliciante, o que lhes falta, afinal, é decidirem conscientemente, ou
alguém próximo lhes inculcar no espírito ou fazer-lhes ver, a necessidade da leitura, as
vantagens da leitura e o prazer da leitura. O que necessitam de fazer então é ir a uma livraria e
escolher calmamente um livro, sobre um tema do seu agrado, folheando-o até se decidir por
um e não outro qualquer. Depois, é só criar uma rotina, em que a leitura entra diariamente (15
minutos, meia hora, etc.). Criado o bom hábito, quando dá por si, está o leitor renitente a
comprar outro livro, sobre o mesmo tema, ou outro tema que a leitura deste suscitou a
curiosidade em ler.

A leitura tem enormes vantagens e benefícios: melhora a concentração; reduz a ansiedade;


afasta-nos momentaneamente dos problemas do dia-a-dia, transportando-nos para outro
mundo; aumenta a nossa autoestima, pela consciência de que estamos a evoluir
positivamente; melhora a nossa criatividade, entre outros benefícios, para além de ampliar os
nossos conhecimentos.
A leitura põe o espírito a divagar, a deslizar de conceito em conceito, de imagem em imagem,
a recordar factos passados, a pensar o presente e a imaginar o futuro, a fazer analogias entre
diferentes situações, diferentes áreas do conhecimento. Ficamos globalmente mais ricos, mais
sábios.

Para mim, a leitura de qualquer livro, de qualquer área do conhecimento, tem sido sempre
fonte de muitas ideias novas que utilizo nos livros que escrevo sobre a minha área de
formação que é a eletrotecnia/eletrónica.

Perguntarão ‘O que tem a ver, por exemplo, a botânica com a eletrotecnia ou a filosofia com
a eletrotecnia ou outra área qualquer do conhecimento?’.

Respondo apenas que ‘Tudo tem a ver com tudo. Os conhecimentos parcelares estão
interligados.’.

Existem muitas ligações entre todas as áreas do conhecimento. Há muitas analogias entre
aquilo que se passa numa área e o que se passa nas outras. A corrente elétrica num condutor,
por exemplo, pode comparar-se à corrente de água numa canalização – ambas têm um meio
condutor, uma força impulsionadora, uma direção, um sentido, um caudal (ou uma corrente
elétrica). Muitos outros exemplos poderíamos aqui apresentar. Por isso, ao lermos sobre uma
dada área do conhecimento, estamos, indiretamente, a aumentar o conhecimento em outras
áreas ou a obter boas ideias para utilizar noutras áreas do conhecimento. A História está cheia
de talentos – pintores, escultores, escritores, poetas, físicos – que utililizaram ideias bebidas
em outras áreas, para executarem trabalhos de enorme criatividade, na sua área.

A criatividade desenvolve-se através da procura, da leitura, da reflexão, da meditação. A


criatividade desenvolve-se, pensando e fazendo coisas diferentes dos outros. São cérebros
diferentes que fazem o conhecimento evoluir. São formas diferentes de pensar que promovem
o conhecimento. Não é o igual que faz a diferença. É o diferente.

E isto aplica-se a todas as áreas do conhecimento, a todas as profissões, a todos os grupos


sociais. Veja-se na música, por exemplo, as bandas de sucesso trouxeram sempre algo de
diferente, que arrastou multidões. Ou na pintura, os grandes pintores que fizeram diferente do
que estava estabelecido na época, com ideias inovadoras e criativas – Salvador Dali, Picasso,
Miguel Ângelo, entre muitos outros.

Por isso, vale sempre a pena iniciar-mo-nos na leitura, ou continuar a ler, temas diversificados
que o tornarão mais rico.

O jovem, à procura do primeiro emprego, não deve descurar a leitura. Quem sabe se não será
da leitura de um livro que lhe virá a ideia para um novo projeto de vida que o realizará!

A inovação e a criatividade podem fazer toda a diferença entre ter, ou não ter, sucesso na sua
vida pessoal e profissional.

31 de agosto de 2016

José V C Matias

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