Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
A distância cada vez maior entre os grandes centros urbanos e as jazidas de agregados
naturais, a falta de áreas disponíveis para armazenamento de resíduos domiciliares e
industriais e a facilidade e rapidez na execução da drenagem com geonets e
geocompostos, fazem destes geossintéticos uma excelente alternativa para drenagem em
uma infinidade de aplicações, em obras geotécnicas e de proteção ambiental.
2. Definições
Geonet
A geonet, também chamada georrede, é constituída pela extrusão contínua de uma série
de barras poliméricas paralelas interconectadas, formando ângulos agudos entre si. A
malha resultante é relativamente aberta, com configuração de grelha, formando
pequenos canais que conduzem fluídos de todos os tipos e também gases, no seu plano.
A matéria prima da geonet é o PEAD – polietileno de alta densidade, polímero que
apresenta excelente resistência química. Possui também excelente resistência aos raios
ultravioleta, devido à adição do negro de fumo a sua formulação.
Geocomposto Drenante
Um geocomposto é constituído pela combinação de um ou mais geossintéticos, com a
finalidade de aumentar o desempenho de cada um, quando usado isoladamente. O
geocomposto drenante da Engepol consiste de uma geonet de PEAD aderida, por calor,
ao geotêxtil não-tecido em uma ou nas duas faces. O geotêxtil não-tecido poderá ser
termo-fixado ou não, de polipropileno ou de poliéster, dependendo da exigência do
projeto, a qual geralmente é função do resíduo ou do efluente a ser armazenado e da
vazão que será drenada.
Geocomposto
O geocomposto é um produto ideal quando o projeto e/ou os materiais em contato com a
geonet exigem um geotêxtil, pois a combinação dos dois geossintéticos proporciona o
aumento da resistência ao deslizamento entre os geossintéticos, quando utilizado em
taludes.
O geotêxtil não-tecido utilizado no geocomposto deve ter gramatura mínima de
200 gr/m2, a fim de minimizar a intrusão do geotêxtil nos canais da geonet. A geonet, por
sua vez, pode ter a espessura de 5 ou de 7 mm, dependendo da vazão a ser drenada.
Como a geonet, o geocomposto substitui os drenos de agregados naturais de brita e/ou
de areia com vantagens de maior rapidez de execução do dreno e maior espaço para
armazenamento dos resíduos.
Outras informações sobre o geocomposto encontram-se no capítulo 5.
4. Histórico
A geonet (ou georrede) foi usada pela primeira vez para drenar chorume em aterro
sanitário, em 1984 nos Estados Unidos. Até 1994 fazia parte da família das geogrelhas. A
separação foi devido a sua função e não a sua configuração. As geonets são usadas para
drenagem no seu plano, enquanto as geogrelhas são usadas para reforço. Apesar da
separação, não se deve encarar a geonet como um geossintético sem resistência. Sua
resistência mecânica é muito boa, principalmente a compressão, mas sua função é
drenar.
5. Aplicações
• Valas de resíduos: drenagem de líquidos e gases
• Aterros sanitários: drenagem de chorume e gases
• Coberturas de valas de resíduos: drenagem de líquidos e gases
• Muros de arrimo ou cortinas de concreto: drenagem vertical
• Muros de contenção com solo envelopado: drenagem da interface maciço x aterro
• Drenagem sob a geomembrana em lagoas de efluentes e valas de resíduos
• Drenagem sob a impermeabilização de canais de irrigação
• Drenagem sob gramados de campos e quadras esportivas
• Drenagem sob a base de pavimentos rodoviários
• Túneis
• Proteção mecânica da geomembrana em contato com os resíduos
• Proteção mecânica da geomembrana durante a colocação de solo ou de camada
drenante
• Regularização do solo de apoio da geomembrana
• Distribuição de carga sobre a geomembrana
Dreno em Túneis
7. Capacidade Drenante
A capacidade drenante tanto da geonet (georrede), como do geocomposto é calculada
por meio da transmissividade ou da vazão. É recomendável que a especificação seja em
função da vazão, porque nem sempre o fluxo através da geonet é laminar, e o cálculo por
meio da transmissividade emprega a lei de Darcy, que além do fluxo laminar, supõe
condição de total saturação. Nestas condições, a transmissividade é definida como a
vazão que passa, por unidade de largura, para um gradiente hidráulico unitário.
Tanto a transmissividade como a vazão são medidas em um aparelho semelhante ao
originalmente usado por Darcy no estudo de filtração de água em solos. Para a medida da
capacidade drenante da geonet o aparelho pode aplicar diferentes valores do gradiente
hidráulico e da sobrecarga, para simular as mais diferentes situações presentes,
principalmente em aterros sanitários e de resíduos industriais, como diferentes inclinações
do talude e diferentes espessuras de resíduos estocados. Os resultados destes ensaios,
realizados no Laboratório de Geossintéticos da Escola de Engenharia de São Carlos – USP,
para as geonets encontram-se nas tabelas abaixo, e para os geocompostos podem ser
vistos no item 15 do capítulo 5.
Richardson et al., 2002, recomendam que a capacidade drenante das geonets seja
equivalente à permeabilidade da camada superior ao dreno.
GN 900
GN 1250
8. Especificação
Na especificação por função, as propriedades hidráulicas (vazão e transmissividade) são
as mais relevantes. Além disto, deve-se verificar quais outras propriedades são
necessárias avaliar, visando levar em conta a situação de escoamento de fluídos,
carregamento e gradiente hidráulico, atuantes na obra para qual se quer especificar. Em
alguns tipos de obras, como valas de resíduos, as propriedades de durabilidade (intrusão
do material adjacente nos vazios da geonet, creep da estrutura da geonet e possibilidade
de entrada de argila, através do geotêxtil adjacente) são de fundamental importância
para o bom comportamento da drenagem ao longo do tempo, assim a capacidade
filtrante do geotêxtil utilizado no geocomposto.
FS = Qensaio - R / Qprojeto
Onde:
FS = fator de segurança em relação às condições de carregamento, nem sempre
conhecidas, e às incertezas de projeto.
Qensaio - R = vazão obtida em ensaio de laboratório
Qprojeto = vazão de projeto
FS = θensaio - R / θprojeto
Onde:
Qensaio = vazão determinada segundo a ASTM D 4716 ou ISO/DIS 12598.
FRIN = fator de redução que leva em conta as deformações elásticas, ou intrusão, dos
geossintéticos adjacentes nos canais da geonet.
FRCR = fator de redução que leva em conta as deformações de creep da geonet e/ou dos
geossintéticos adjacentes nos canais da geonet.
FRCC = fator de redução que leva em conta a colmatação química e/ou precipitação de
produtos químicos nos canais da geonet.
FRBC = fator de redução que leva em conta a colmatação biológica nos canais da geonet.
FRTotal = produto de todos os fatores de redução para as condições específicas da obra.
A tabela abaixo, Koerner 1999, fornece os fatores de redução recomendados para alguns
tipos de obras:
9. Exemplos de Cálculo
9.1. Que valor da vazão obtida em ensaio de laboratório deve ser usada no projeto do
dreno testemunho de uma vala de efluentes?
Supor que o valor da vazão obtida em ensaio de laboratório, nas condições de carga
e gradiente hidráulico da obra, foi de 2,5 x 10-4 m3/s.
= 2,5 x 10-4 [1 / 1,75 . 1,7 . 1,75 . 1,75] = 2,5 x 10-4 [1 / 9,11] = 0,27 x 10-4 m3/s
9.2. Uma área de estrada necessitará ser recuperada com um novo pavimento devido a
problemas de infiltração anteriores. Está prevista para o novo pavimento a colocação
de uma camada drenante, constituída por um geocomposto com um núcleo de
geonet aderida por calor a geotêxteis não-tecidos nas duas faces, imediatamente
abaixo da cota sujeita a infiltração, conforme o desenho abaixo.
Devido à capilaridade ascendente da água abaixo do pavimento, a vazão a ser
escoada está prevista para ser cerca de 0,17 x 10-4 m3/s. O geocomposto
selecionado para ser usado apresenta uma vazão de 0,83 x 10-4 m3/s, a um
gradiente hidráulico de 0,05. Qual fator de segurança estará sendo utilizado?
a) Supondo que o ensaio de laboratório foi de curta duração e realizado entre duas
placas rígidas, o valor 0,83 x 10-4 m3/s deve ser reduzido de acordo com a tabela
dos fatores de redução:
Qensaio - R = = 0,83 x 10-4 [1 / 1,2 . 1,1 . 1,3 . 1,2] = 0,83 x 10-4 [1 / 2,06] =
FS = Qensaio - R / Qprojeto = 0,4 x 10-4 / 0,17 x 10-4 = 2,4, o qual é um valor adequado.
9.3.1. Cálculo da vazão máxima, através da rede de fluxo, que chega na geonet:
i = sen 90º = 1
Q = k . i . A = k . i . (e . L) = (k . e) (i . L)
θ ensaio – R = 1,56 x 10-3 [1 / (1,4 . 1,3 . 1,2 . 1,2)] = 1,56 x 10-3 [1 / 2,62]
200
B B
150
obs:medidas em metros
Detalhes da ancoragem
1.5 1.5
0,5 25
25 0.5
0.5
Corte AA Corte BB
Q=K.i.A
K . e = Q / i . L ou θ = Ks . es
Onde:
Q = quantidade de fluxo que passa
i = gradiente hidráulico
A = área do dreno
L = largura do dreno
es = espessura do dreno
θ = transmissividade
Ks = coeficiente de permeabilidade da areia
Para obter a estabilidade da camada de areia nos taludes, a inclinação destes deve
ser βs ≅ 26,5º (2:1) e as dimensões As = 200 m, Bs = 150 m e H = 25 m, veja figura.
A área que será coberta pela camada drenante, antes da colocação do resíduo será:
Ss = [2 . (H / sen 26,5º) + as] . [2 . (H / sen 26,5º) + bs = 34.366 m2
A área que será coberta pelo geocomposto para drenagem, antes da colocação do
resíduo será:
Sg = [2 . (H / sen 45º) + ag] . [2 . (H / sen 45º) + bg = 37.678 m2
11. Instalação
A geonet e o geocomposto são fornecidos em rolos de 2,08 metros de largura por 50
metros de comprimento, podendo também ser fornecidos com dimensões conforme a
necessidade da obra. Sua colocação no local do dreno é simples e rápida, bastando
desenrolar o rolo.
Em valas de resíduos, a ancoragem é feita na canaleta, escavada em volta da vala, na
crista do talude junto com a geomembrana; em muros pode ser presa por grampos de
aço ao muro de concreto ou, para pequenas alturas, simplesmente colocado à medida
que sobe a cota do reaterro. Neste caso, usa-se o geocomposto de uma geonet com o
geotêxtil não-tecido aderido na face oposta a de contato com o muro.
No fundo das valas, uma bobina de geocomposto é unida a outra pelo trespasse das
abas do geotêxtil das bordas da bobina, no entanto para evitar o risco de deslocamento
relativo, na ocasião de espalhamento da camada superior, é recomendável fazer uma
amarração entre os rolos estendidos com abraçadeiras plásticas ou com fio de
polietileno, ou ainda pela emenda do geotêxtil das abas com ar quente. Nos taludes
deve-se sempre fazer a amarração e a emenda do geotêxtil com ar quente.