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SÉTIMA LISTA DE EXERCÍCIOS

Fundamentos da Matemática II
MATEMÁTICA — DCET — UESC
Humberto José Bortolossi
http://www.uesc.br/arbelos/

Semelhança de triângulos
Dizemos que o triângulo ∆ABC é semelhante ao triângulo ∆XY Z e es-
crevemos ∆ABC ∼ ∆XY Z se, e somente se, existe uma correspondência
bijetiva entre seus vértices A ↔ X, B ↔ Y e C ↔ Z tal que
m(∠CAB) = m(∠ZXY ), m(∠ABC) = m(∠XY Z), m(∠BCA) = m(∠Y ZA),
m(AB) = k · m(XY ), m(AC) = k · m(XZ) e m(BC) = k · m(Y Z),
onde k é um número real denominado razão de semelhança (figura (1)).
X
A

B C
Y Z
Figura 1: Semelhança de triângulos.

Teorema 1 (critério AAA de semelhança de triângulos) Se os ângu-


los de um triângulo forem respectivamente congruentes aos ângulos corres-
pondentes de outro triângulo, então os triângulos são semelhantes.
Demonstração: Suponha que
m(∠CAB) = m(∠ZXY ), m(∠ABC) = m(∠XY Z) e
m(∠BCA) = m(∠Y ZA).
Vamos demonstrar que
m(AB) m(AC) m(BC)
= = = k.
m(XY ) m(XZ) m(Y Z)
1
Suponha que m(AB) < m(XY ) (se m(AB) < m(XY ), a demonstração
será a mesma, trocando-se as letras A, B e C por X, Y e Z e se m(AB) =
m(XY ), então temos um caso de congruência de triângulos (critério ALA)
com k = 1).
Considere os pontos P sobre XY e Q sobre XZ tais que m(AB) = m(XP )
e m(AC) = m(XQ) (figure (2)). Pelo critério LAL temos que
∆ABC ∼ = ∆XP Q.
Em particular, m(∠XP Q) = m(∠ABC).
X

P Q

B C Y Z
Figura 2: Semelhança de triângulos.

Como, por hipótese, m(∠ABC) = m(∠XY Z), concluı́mos então que


m(∠XP Q) = m(∠XY Z). Sendo assim, os segmentos P Q e Y Z são pa-
ralelos.
Observe que os triângulos ∆XP Q e ∆P Y Q têm a mesma altura (fi-
gura (3)) e, portanto, a razão entre suas áreas é
m(XP ) · h
S∆XP Q 2 m(XP )
= = . (1)
S∆P Y Q m(P Y ) · h m(P Y )
2
Da mesma forma,
S∆XP Q m(XQ)
= . (2)
S∆P QZ m(QZ)
Como P Q  Y Z, os triângulos ∆P QY e ∆P QZ têm a mesma altura, logo
S∆P QY = S∆P QZ . (3)
Combinando as equações (1), (2) e (3), segue-se que
m(XP ) m(XQ)
= .
m(P Y ) m(QZ)
2
X

P Q

Y Z
Figura 3: Semelhança de triângulos.

Temos então que


m(XP ) m(XQ) m(P Y ) m(QZ)
= ⇐⇒ =
m(P Y ) m(QZ) m(XP ) m(XQ)
m(XP ) + m(P Y ) m(XQ) + m(QZ)
⇐⇒ =
m(XP ) m(XQ)
m(XY ) m(XZ)
⇐⇒ =
m(XP ) m(XQ)
m(XY ) m(XZ)
⇐⇒ =
m(AB) m(AC)
m(AB) m(AC)
⇐⇒ = .
m(XY ) m(XZ)
Procedendo da mesma maneira, podemos provar (figura (4)) que

m(AB) m(BC)
=
m(XY ) m(Y Z)
e, portanto, concluir que
m(AB) m(AC) m(BC)
= = .
m(XY ) m(XZ) m(Y Z)

Teorema 2 (critério AA de semelhança de triângulos) Se dois triân-


gulos têm dois ângulos internos correspondentes congruentes, então os tri-
ângulos são semelhantes.

3
X

A R

B C Y S Z
Figura 4: Semelhança de triângulos.

Demonstração: Exercı́cio.

Teorema 3 (critério LAL de semelhança de triângulos) Se as medi-


das de dois dos lados de um triângulo são respectivamente proporcionais
às medidas de dois lados correspondentes de outro triângulo e os ângulos
determinados por estes lados são congruentes, então os triângulos são seme-
lhantes.
Demonstração: Sejam ∆ABC e ∆XY Z dois triângulos tais que
m(AB) m(AC)
m(∠CAB) = m(∠ZXY ) e = .
m(XY ) m(XZ)
Construa um triângulo ∆DEF tal que m(DE) = m(XY ), m(∠EDF ) =
m(∠BAC) e m(∠DEF ) = m(∠ABC). Pelo critério AA de semelhança de
triângulos temos que ∆ABC ∼ ∆DEF e, portanto, vale que
m(AB) m(AC)
= . (4)
m(DE) m(DF )
Por hipótese, m(AB)/m(XY ) = m(AC)/m(XZ) e, por construção, m(XY ) =
m(DE), assim
m(AB) m(AC)
= . (5)
m(DE) m(XZ)
Das relações (4) e (5) vemos que
m(DF ) = m(XZ). (6)
Pelo critério LAL de congruência de triângulos, temos então que ∆DEF
e ∆XY Z são triângulos congruentes. De fato: (L) m(DE) = m(XY ) por

4
construção, (A) m(∠EDF ) = m(∠BAC) por construção e m(∠BAC) =
m(∠Y XZ) por hipótese e, assim, m(∠EDF ) = m(∠Y XZ) e (L) m(DF ) =
m(XZ) conforme estabelecido em (6).
Desta maneira, como ∆ABC ∼ ∆DEF e ∆DEF ∼ = ∆XY Z, concluı́mos
que ∆ABC ∼ ∆XY Z.

Teorema 4 (critério LLL de semelhança de triângulos) Se as medi-


das dos lados de um triângulo são respectivamente proporcionais às medidas
dos lados correspondentes de outro triângulo, então os triângulos são seme-
lhantes.
Demonstração: Exercı́cio.

[01] Dados dois triângulos ∆ABC e ∆DEF tais que m(AB) = 8 cm,
m(AC) = 12 cm, m(BC) = 10 cm, m(DF ) = 6 cm, e m(∠BAC) =
m(∠EDF ), m(∠ABC) = m(∠DEF ) e m(∠BCA) = m(∠Y ZX). Cal-
cule m(DEF ) e m(EF ). Justifique a sua resposta.
[02] Na figura (5), m(∠ABC) = m(∠DCA), m(AB) = 12 uc, m(AC) =
8 uc e m(BC) = 6 uc. Calcule m(CD) e m(BD). Observação: uc =
unidade de comprimento.

A C
Figura 5: Um exercı́cio de semelhança de triângulos.

[03] Em um triângulo ∆ABC, m(AB) = 15 cm e m(BC) = 12 cm. Se-


jam D ∈ AB e E ∈ AC tais que m(AD) = 5 cm, m(AE) = 6 cm e DE
é paralelo a BC. Calcule m(AC) e m(DE).

5
[04] Diga se cada uma das sentenças abaixo é verdadeira ou falsa, apresen-
tando um contra-exemplo caso ela seja falsa e uma demonstração caso
ela seja verdadeira.
(a) Se ∆ABC ∼ ∆DEF , então ∆ABC ∼
= ∆DEF .
(b) Se ∆ABC ∼
= ∆DEF , então ∆ABC ∼ ∆DEF .
(c) Se ∆ABC ∼ ∆DEF , então ∆ABC ∼ ∆DF E.
(d) Se ∆ABC e ∆DEF são dois triângulos eqüiláteros quaisquer, então
∆ABC e ∆DEF são triângulos semelhantes.
(e) Se ∆ABC e ∆DEF são dois triângulos isósceles quaisquer com
bases BC e EF , então ∆ABC e ∆DEF são triângulos semelhantes.
[05] (O teorema de Tales) Sejam r1 , r2 e r3 retas paralelas disjuntas e
sejam s e t duas retas transversais. As interseções destas retas estão
indicadas na figura (6).
s t

r1
A D

B E r2

C F r3

Figura 6: O teorema de Tales.

Mostre que
m(AB) m(DE) m(AB) m(DE) m(BC) m(EF )
= , = e = .
m(BC) m(EF ) m(AC) m(DF ) m(AC) m(DF )

Dica: para mostrar, que m(AB)/m(BC) = m(DE)/m(EF ), seja X


←→
a interseção da reta DC com a reta r2 . Verifique que ∆DXE ∼

6
∆DCF e conclua que m(CX)/m(DX) = m(EF )/m(DE). Verifi-
que também que ∆BCX ∼ ∆ACD e conclua que m(CX)/m(DX) =
m(BC)/m(AB). Destas duas últimas igualdades segue-se a relação de-
sejada: m(AB)/m(BC) = m(DE)/m(EF ).
[06] (O teorema de Pitágoras) Um triângulo é denominado retângulo se
um dos seus ângulos é reto (tem medida de 90◦ ). O lado de maior medida
é denominado hipotenusa e os outros dois lados de catetos do triângulo.
Na figura (7), o triângulo ∆ABC é retângulo, com m(∠BAC) = 90◦ ,
hipotenusa BC e catetos AB e AC. O ponto H é o pé da altura AH
relativa à hipotenusa BC do triângulo.
A

c b
h

m n
B H C
a
Figura 7: O teorema de Pitágoras.

(a) Mostre que os triângulos ∆ABC, ∆HBA e ∆HAC são semelhantes.


(b) A partir das semelhanças estabelecidas no item (a), deduza as se-
guintes relações métricas em um triângulo retângulo:
b2 = a · n, c2 = a · m, h2 = m · n, b · c = a · h,
onde a = m(BC), b = m(AC), c = m(AB), m = m(BH), n =
m(HC) e h = m(AH).
(c) A partir das relações métricas estabelecidas no item (b), deduza
o teorema de Pitágoras: a soma dos quadrados das medidas dos
catetos é igual ao quadrado da medida da hipotenusa. Em sı́mbolos:
a2 = b2 + c2 .

7
[07] (Recı́proca do teorema de Pitágoras) Mostre que se as medidas
dos lados de um triângulo satisfazem a relação a2 = b2 + c2 , então este
triângulo é retângulo.
[08] Construa em uma folha de papel dois quadrados de lados 4 cm e 5 cm
respectivamente. Em seguida, mostre como “dissecar” estes dois qua-
drados em triângulos e quadriláteros e rearranjá-los como um único
quadrado. Qual é a relação entre as medidas dos lados deste último
quadrado com as medidas dos lados dos dois primeiros? Dica: use a
figura (8).
c b b c

c c c
a a
b
a

a a
b b b
a
c

b c b c
Figura 8: Dissecação de dois quadrados em um quadrado.

[09] Construa em uma folha de papel três quadrados de lados 4 cm, 5 cm


e 8 cm respectivamente. Em seguida, mostre como “dissecar” estes três
quadrados em triângulos e quadriláteros e rearranjá-los como um único
quadrado.
[10] Construa, “para dentro” de quadrado ABCD, triângulos eqüiláteros
∆BCX e ∆CDY sobre os lados BC e CD. Sejam P a interseção da
←→ ←→ ←→ ←→
reta AX com a reta BC e Q a interseção da reta AY com a reta CD
(figura (9)).
(a) Mostre que ∆AP Q é também um triângulo eqüilátero.
(b) Mostre que S∆AP B + S∆ADQ = S∆CP Q .
[11] (A demonstração de Euclides do teorema de Pitágoras) A fi-
gura (10) ilustra os passos da demonstração dada por Euclides para o
teorema de Pitágoras. Escreva os detalhes da demonstração!

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D Q C

A B
Figura 9: Inscrevendo um triângulo eqüilátero em um quadrado.

A A

B C B C

A A

B C B C

Figura 10: A demonstração de Euclides do teorema de Pitágoras.

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[12] Três moedas de ouro de mesma espessura mas com diâmetros diferentes
foram colocas sobre os três lados de um triângulo retângulo ∆ABC,
conforme a figura (11). O que você prefere? Ficar com as duas moedas
menores ou apenas com a moeda maior?

B C

Figura 11: Uma conseqüência do teorema de Pitágoras.

Texto composto em LATEX2e, HJB, 11/05/2004.

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