Você está na página 1de 47

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS EXPERIMENTAL DE OURINHOS


CURSO DE GEOGRAFIA

INTRODUÇÃO AO GEOPROCESSAMENTO

PROF. DR. EDSON LUÍS PIROLI

Ourinhos, SP
Outubro / 2010
© Edson Luís Piroli

P671i Piroli, Edson Luís


Introdução ao geoprocessamento / Edson Luís Piroli. -
Ourinhos : Unesp/Campus Experimental de Ourinhos, 2010.
46 p. : ils.

ISBN: 9788561775056

1. Geoprocessamento 2. SIG (Sistema de informações


Geográficas (SIG) 3. Sensoriamento remoto 4. Geografia 5.
Sistema Geodésico de Referência. I. Piroli, Edson Luís. II.
Título.

CDD 550.285

Universidade Estadual Paulista, Campus Experimental de Ourinhos


19910-206 – Ourinhos – SP
Telefone: (14) 3302-5700
Fax: (14) 3302-5702

PROF. DR. EDSON LUÍS PIROLI


Responsável pelas disciplinas :
Graduação: Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto, Interpretação de Fotografias
Aéreas
Pós Graduação: Manejo de Microbacias Hidrográficas
elp@ourinhos.unesp.br

i
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4
2. GEOPROCESSAMENTO ........................................................................................... 5
2.1.Principais componentes do geoprocessamento: ................................................. 5
2.1.1- Informática:.................................................................................................... 5
2.1.2. Sistemas de informações geográficas (SIG) ................................................... 5
2.1.3 - Sensoriamento remoto ................................................................................... 6
2.1.4 - Sistema de posicionamento global (GPS) ..................................................... 6
2.1.5 - Cartografia digital ........................................................................................ 7
2.1.6 - Topografia e levantamentos de campo.......................................................... 7
2.1.7 - Processamento digital de imagens ................................................................ 8
2.1.8 – Profissional capacitado (Peopleware) ......................................................... 8
3. CONHECIMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O GEOPROCESSAMENTO ...... 8
3.1 - Sistema geodésico de referência .......................................................................... 8
3.2 - Sistema geodésico brasileiro (SGB) ..................................................................... 9
3.3 – Superfície de referência (elipsóide e geóide) ...................................................... 9
3.4 - Datum Córrego Alegre ....................................................................................... 10
3.5 – Astro Datum Chuá ............................................................................................. 10
3.6 - Datum Sul Americano de 1969 (South American Datum - SAD 69)................. 11
3.7 - Sistema de Referência Geocêntrico para a América do Sul - SIRGAS ............. 11
3.8 - WGS 84 (World Geodetic System 1984) ............................................................ 11
3.9 - Transformações entre sistemas de referência ..................................................... 12
3.10 – Sistemas de Coordenadas ................................................................................ 12
3.10.1 - Coordenadas Geográficas ........................................................................ 13
3.10.2 - Coordenadas UTM .................................................................................... 13
4. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS .............................................. 14
4.1 - Definições de SIG .............................................................................................. 15
4.2 - Opções de Sistemas de Informações Geográficas .............................................. 17
4.3 - Operações sobre dados em SIG .......................................................................... 21
4.4 - Tipos de operações realizadas sobre os dados ................................................... 21
4.4.1 – Aplicações dos SIGs ................................................................................... 21
4.4.2 – Áreas de Aplicações dos SIGs .................................................................... 22
4.4.3 – Exemplos de Aplicações dos SIGs .............................................................. 22
4.4.4 – Exemplos de produtos gerados a partir do uso de SIGs ............................ 23
4.5 – Diferença entre sistemas CAD, CAM , AM/FM e SIG ..................................... 27
4.5.1 – Sistemas CAD ............................................................................................. 27
4.5.2 – Sistemas CAM ............................................................................................. 28
4.5.3 – Sistemas AM/FM ........................................................................................ 28
5. BASE DE DADOS ..................................................................................................... 28
5.1 – Estruturas de representação de dados espaciais ................................................. 29
5.1.1 – Raster .......................................................................................................... 29
5.1.2 – Vetoriais ..................................................................................................... 31
5.2 – Fontes de dados para geoprocessamento ........................................................... 32
6. OPERAÇÕES BÁSICAS DO GEOPROCESSAMENTO........................................ 33

ii
6.1 – Georreferenciamento de imagens ...................................................................... 33
6.1.1 – Importância da georreferência de imagens................................................ 35
6.2 – Classificação de imagens de Sensoriamento Remoto........................................ 38
6.2.1 – Classificação supervisionada ..................................................................... 38
6.2.2 – Classificação não supervisionada .............................................................. 40
6.2.3 – Classificação por análise visual ................................................................. 40
6.3 – Modelo numérico do terreno (MNT) ................................................................. 40
6.4 – Fusão de imagens multiespectrais e pancromáticas .......................................... 41
6.5 – Operações aritméticas com mapas ..................................................................... 42
REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ............................................ 45

iii
1. INTRODUÇÃO

Este material foi desenvolvido com a finalidade de oferecer aos alunos da


disciplina de Geoprocessamento uma fonte básica de consulta para ser utilizada ao
longo das aulas. Nele busca-se apresentar o geoprocessamento de uma maneira clara,
ampla e relativamente aprofundada, tentando desta forma sintetizar o conhecimento
relativo ao tema, de tal forma que aquele aluno que está tendo o primeiro contato
com o assunto possa entendê-lo e consiga acompanhá-lo, formando assim uma base
sólida para que na sequência tenha condições de buscar o aprofundamento teórico e
prático necessários para a boa atuação nesta área do conhecimento.
O Geoprocessamento tem como uma de suas principais características integrar
uma série de conhecimentos específicos, que quando unidos possibilitam ao
profissional desenvolver atividades em diversas áreas do conhecimento, tornando-se
um campo promissor e bastante atraente profissionalmente. Esta característica, no
entanto, o torna relativamente complexo, pois exige que o estudante entenda e
posteriormente domine conceitos e técnicas de várias ciências.
Espera-se com este texto auxiliar na compreensão, facilitando assim o
aprendizado dos acadêmicos. Este material, no entanto, não deve ser a única fonte de
consulta, uma vez que o mesmo não tem a pretensão de esgotar os assuntos tratados,
mas sim criar a base para que a formação completa seja construída por cada um no
seu dia-dia.

4
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
2. GEOPROCESSAMENTO
O termo pode ser separado em geo (terra – superfície – espaço) e
processamento (de informações – informática). Desta forma, pode ser definido como
um ramo da ciência que estuda o processamento de informações georreferenciadas
utilizando aplicativos (normalmente SIGs), equipamentos (computadores e
periféricos), dados de diversas fontes e profissionais especializados. Este conjunto
deve permitir a manipulação, avaliação e geração de produtos (geralmente
cartográficos), relacionados principalmente à localização de informações sobre a
superfície da terra.

2.1.Principais componentes do geoprocessamento:


2.1.1- Informática:
Foi a evolução da informática que permitiu o desenvolvimento das
geotecnologias, uma vez que esta está baseada nos computadores e nos aplicativos
neles instalados. Estes permitem o trabalho com os grandes volumes de dados
necessários nos diferentes projetos desenvolvidos em geoprocessamento. Os
computadores trabalham bem com rotinas que para serem realizadas pelos homens
poderiam tomar muito tempo, o que os torna imprescindíveis nas análises geográficas.
A informática está dividida em Hardware – que corresponde ao computador e
aos periféricos utilizados para que as operações de geoprocessamento sejam
efetuadas, e em Software – que são os aplicativos que fornecem as rotinas e módulos
necessários para adquirir, armazenar, analisar, visualizar e plotar as informações
geográficas.

2.1.2. Sistemas de informações geográficas (SIG)


Os SIGs são sistemas de informações destinados a trabalhar com dados
referenciados a coordenadas espaciais. São normalmente constituídos por programas
e processos de análise, que tem como característica principal relacionar uma
informação de interesse com sua localização espacial. Estes aplicativos permitem a
manipulação de dados geograficamente referenciados e seus respectivos atributos e a
integração desses dados em diversas operações de análise geográfica.
Os SIGs normalmente tem três aplicações fundamentais na área geográfica:

5
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
1 – Podem ser usados como ferramenta para produção de mapas, e ainda para
geração e visualização de dados espaciais;
2 – Podem ser usados como suporte para análise espacial de fenômenos e para a
combinação de informações espaciais, e;
3 – Podem ser usados como bancos de dados geográficos, que tem funções de
armazenamento e recuperação de informações espaciais.
Devido a sua importância para o geoprocessamento os SIGs serão melhor
discutidos no item 4 deste material.

2.1.3 - Sensoriamento remoto


De acordo com Jensen (2009) sensoriamento remoto pode ser definido como a
medição ou aquisição de informação de alguma propriedade de um objeto ou
fenômeno, por um dispositivo de registro que não esteja em contato físico ou íntimo
com o objeto ou fenômeno em estudo.
O sensoriamento remoto pode ser dividido em:
Orbital – quando as informações são coletadas por sensores localizados em
órbitas ao redor do planeta, coletando informações da superfície a determinados
intervalos de tempo e de espaço. Os exemplos mais comuns são as imagens de
satélite.
Sub-orbital – quando é realizado por equipamentos aerotransportados não
localizados em órbitas. Entre estes, destacam-se os sensores aerotransportados, que
utilizam para deslocamento aviões, balões, ou veículos aéreos não tripulados
(principalmente aeromodelos). Os produtos mais comuns do sensoriamento remoto
sub-orbital são as fotografias aéreas.

2.1.4 - Sistema de posicionamento global (GPS)


O sistema GPS é constituído de uma constelação de pelo menos 24 satélites
que orbitam a terra a 20.200km de altitude, cada um passando sobre o mesmo ponto
da superfície terrestre duas vezes por dia. Estes satélites emitem sinais de rádio que
são captados pelo aparelho de GPS, que em função da localização dos satélites, calcula
e informa a coordenada de qualquer ponto da superfície da terra. Os aparelhos GPS
permitiram grandes avanços relativos às formas de mapeamento da superfície da

6
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
terra, uma vez que oferecem a possibilidade de automatização da coleta de
informações, o que melhora e acelera os processos de análises de áreas.

2.1.5 - Cartografia digital


Os mapas e cartas topográficas, quando transformados em imagens, fornecem
informações preciosas para o geoprocessamento. Normalmente são usados como
fonte de dados para o mesmo e se beneficiam das informações geradas por este.
Muitos mapas estão disponíveis no formato analógico (em papel). Estes podem
ser convertidos para o formato digital utilizando-se scanners. Neste caso, deve-se
tomar cuidado com a resolução adotada no processo de conversão, buscando-se evitar
resoluções muito baixas, o que pode comprometer a qualidade das informações.
Também deve-se analisar bem o uso de resoluções muito altas, pois muitas vezes as
mesmas não agregam qualidade ao produto, aumentando somente o tamanho dos
arquivos gerados. Este problema pode ser evitado, calculando-se a resolução em
função da escala dos mapas, cartas ou fotografias aéreas e adotando-se esta para a
definição da resolução do produto digitalizado.

2.1.6 - Topografia e levantamentos de campo


Embora a tecnologia esteja bastante evoluída e as fontes de dados hoje
disponíveis sejam diversas, a complementação e a confirmação das informações no
campo, ainda são parte fundamental da maioria dos projetos de geoprocessamento.
Além disso, as escalas dos materiais disponibilizados muitas vezes não permitem o
detalhamento exigido para determinados fins. A topografia permite o levantamento de
informações com a qualidade requerida, principalmente em pequenas áreas. No caso
de áreas urbanas, por exemplo, são os levantamentos topográficos que fornecem as
bases de dados para os projetos de mapeamento.
Embora hoje existam imagens de satélite de alta resolução, o custo das mesmas
e as dificuldades na sua obtenção muitas vezes fazem com que a utilização das
técnicas de topografia seja a solução para levantamentos de informações localmente.

7
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
2.1.7 - Processamento digital de imagens
Este pode ser definido como sendo as transformações e adaptações realizadas
para modificar uma imagem com a finalidade de ajustá-la à necessidade de um
determinado trabalho. Os processamentos mais comuns usados em
geoprocessamento são as composições de bandas de imagens de satélite, correções
atmosféricas, aplicações de filtros e de contrastes, elaboração de fusões de imagens,
transformações e restituições, classificações de imagens, reclassificações, entre outros.
Dominar estas técnicas e saber em que casos aplicá-las, é um dos fatores mais
importantes no trabalho com geoprocessamento.

2.1.8 – Profissional capacitado (Peopleware)


Todo conjunto de ferramentas e tecnologias apresentado anteriormente de
nada adiantam se não houver o profissional especializado, com capacidade para
aplicar os recursos tecnológicos disponíveis, integrar o uso das diferentes
metodologias e interpretar os resultados do trabalho desenvolvido.

Após esta breve descrição, pode-se afirmar que o objetivo do


Geoprocessamento é utilizar o conjunto ou parte dos segmentos apresentados,
fornecendo ferramentas para que os diferentes usuários determinem as
características, e a evolução espacial e temporal de um fenômeno geográfico. Além
disso, permitir a análise das inter-relações entre diferentes fenômenos de interesse.

3. CONHECIMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O GEOPROCESSAMENTO


O desenvolvimento das atividades nesta área requer alguns conhecimentos
básicos vindos de outras ciências, sobretudo da cartografia e da geodésia. É
fundamental que o profissional saiba o que é e como pode ser utilizado um sistema
geodésico de referência e um sistema de coordenadas.

3.1 - Sistema geodésico de referência


Um Sistema Geodésico de Referência (SGR) é definido com base num conjunto
de parâmetros e convenções, junto a um elipsóide ajustado às dimensões da Terra e
devidamente orientado, constituindo um referencial adequado para a atribuição de

8
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
coordenadas a pontos sobre a superfície física. Quando um referencial é definido e
adotado por convenção, a etapa seguinte é caracterizada pela coleta de observações a
partir de pontos devidamente materializados sobre a superfície terrestre (rede). Fazem
parte do referencial, ainda, o processamento e análise, bem como a divulgação dos
resultados, que é, essencialmente, um conjunto de coordenadas associado a uma
época em particular. As coordenadas podem vir acompanhadas de suas respectivas
velocidades. Esse conjunto materializa o sistema de referência. (MONICO, 2000).

3.2 - Sistema geodésico brasileiro (SGB)


O SGB foi implantado a partir da década de 1940. Caracteriza-se por um
conjunto de estações que representam a base horizontal e vertical para a localização e
representação cartográfica no território brasileiro. A responsabilidade por sua
implantação e manutenção é do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
através de seu Departamento de Geodésia.
Sua materialização é feita a partir das Redes Geodésicas Brasileiras (RGB), que
são a rede Horizontal, rede Vertical e a rede Tridimensional (Rede Nacional GPS, Rede
Brasileira de Monitoramento Contínuo - RBMC). Estas são formadas pelos conjuntos de
estações e coordenadas geodésicas.
O sistema geodésico brasileiro, assim como os sistemas utilizados em outros
países, é gerado a partir da definição de uma superfície de referência ou elipsóide.

3.3 – Superfície de referência (elipsóide e geóide)


O elipsóide é a superfície de referência para os cálculos de posição, distâncias,
direções e outros elementos geométricos da cartografia (ROCHA, 2000). Pode ser
definido como uma superfície matemática regular representada por um elipsóide de
revolução, sem significado físico. Tem aplicação no sistema GPS.
O geóide pode ser conceituado como uma superfície coincidente com o nível
médio dos mares e gerada por um conjunto infinito de pontos, cuja medida do
potencial do campo gravitacional da Terra é constante e com direção exatamente
perpendicular a esta (FITZ, 2008).

9
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Considera-se que o geóide representa melhor a superfície real do planeta Terra,
por ter significado físico. No entanto, não é modelável matematicamente e não é
aplicável ao sistema GPS.
As superfícies de referência fornecem as condições para que sejam
estabelecidos os sistemas de referência (datuns). Estes podem ser verticais e
horizontais.
O datum vertical (altimétrico) brasileiro oficialmente adotado é o Marégrafo de
Imbituba, localizado na cidade de mesmo nome em Santa Catarina.
Com relação aos datuns horizontais, nosso país está atualmente numa fase de
transição entre o SAD/69 e o SIRGAS (na sequência, os dois serão melhor definidos).
No entanto, temos ainda muitas bases cartográficas no Datum Córrego Alegre e
algumas no Datum Astro Chuá. Por conta disso, faremos uma breve descrição de cada
um deles a seguir.

3.4 - Datum Córrego Alegre


Este datum foi oficialmente adotado pelo Brasil no período compreendido
entre as décadas de 1950 e 1970. Na definição deste sistema adotou-se como
superfície de referência o Elipsóide Internacional de Hayford de 1924, com semi-eixo
maior a = 6.378.388 m, semi-eixo menor b = 6.366.991,95 m e achatamento f =
1/297000745015 (IBGE, on line).
Neste datum o ponto de origem é o vértice Córrego Alegre, no qual o
posicionamento e a orientação do elipsóide de referência foram feitos
astronomicamente.

3.5 – Astro Datum Chuá


No período entre o final da utilização do datum Córrego Alegre e o início do uso
do SAD 69, foi adotado um sistema de referência provisório denominado Astro Datum
Chuá, no qual foram editadas algumas cartas topográficas. Este sistema tinha como
ponto de origem o vértice Chuá e como elipsóide de referência o Hayford. O mesmo
foi estabelecido com o propósito de ser um ensaio ou referência para a definição do
SAD 69. Suas características básicas são semi-eixo maior a = 6.378.388 m, semi-eixo
menor b = 6.378.160 m e achatamento f = 1/297000 (IBGE, on line)

10
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
3.6 - Datum Sul Americano de 1969 (South American Datum - SAD 69)
O datum sul americano foi desenvolvido para ser um sistema de referência
único para a América do Sul. Na definição do sistema adotou-se como modelo
geométrico da Terra o Elipsóide de Referência Internacional de 1967, recomendado
pela Associação Internacional de Geodésia (International Association of Geodesy - IAG),
com semi-eixo maior a = 6.378.160,000 m, com semi-eixo menor b = 6.356.774,72 m e
com achatamento (1/298,247167427) aproximado para o valor f = 1/298,25. Este é o
sistema de referência adotado atualmente no Brasil. No entanto, o mesmo deverá ser
substituído pelo SIRGAS até o ano de 2015.

3.7 - Sistema de Referência Geocêntrico para a América do Sul - SIRGAS


O SIRGAS foi criado na Conferência Internacional para Definição de um Datum
Geocêntrico para a América do Sul, realizada em outubro de 1993 em Assunção,
Paraguai, que teve como objetivos (IBGE, on line):
a) definir um sistema de referência geocêntrico para a América do Sul;
b) estabelecer e manter uma rede de referência, e
c) definir e estabelecer um datum geocêntrico.
Buscou-se essa integração uma vez que ocorrem ainda diversos problemas
entre os países da região, sobretudo aqueles relacionados às suas fronteiras. Além
disso, espera-se facilitar a integração e o intercâmbio de dados entre os países. As
características do sistema de referência SIRGAS foram definidas a partir da
materialização do International Terrestrial Reference System (ITRS) na América do Sul
via estações GPS, com modelo geométrico geocêntrico formado por eixos coordenados
baseados no ITRS e parâmetros do elipsóide de referência GRS80 (Geodetic Reference
System 1980), que utiliza como parâmetros o raio equatorial da Terra a = 6.378.137m,
semi-eixo menor (raio polar) b = 6.356.752,3141 m e fator de achatamento =
1/298,25722210.

3.8 - WGS 84 (World Geodetic System 1984)


Devido à utilização crescente do GPS, o datum por ele utilizado também passou
a ser estudado e considerado no Brasil. Este usa como elipsóide de referência o GRS80

11
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
(Geodetic Reference System 1980) e tem como características básicas o semi-eixo
maior a = 6.378.137, o semi-eixo menor b = 6.356.752,31425 com um fator de
achatamento = 1/298,25722356.

3.9 - Transformações entre sistemas de referência


Muitas vezes nos deparamos com situações em que necessitamos transformar
coordenadas de um sistema de referência (datum) para outro. Os parâmetros oficiais
para a transformação de WGS 84 para SAD 69, são os seguintes:
Translação em X (ΔX) = 66,87 m ± 0,43 m
Translação em Y (ΔY) = -4,37 m ± 0,44 m
Translação em Z (ΔZ) = 38,52 m ± 0,40 m
Não existem parâmetros de transformação entre o Sistema Córrego Alegre e o
WGS 84, devendo ser feita uma transformação intermediária para SAD 69, no caso de
necessidade.
Os parâmetros de transformação do Sistema Córrego Alegre para o SAD 69 são:
Translação em X (ΔX) = -138,70 m
Translação em Y (ΔY) = 164,40 m
Translação em Z (ΔZ) = 34,40 m
Os parâmetros de transformação do Sistema SAD 69 para o Astro Chuá são:
Translação em X (ΔX) = 77,00 m
Translação em Y (ΔY) = -239,00 m
Translação em Z (ΔZ) = -5 m

3.10 – Sistemas de Coordenadas


Os sistemas de coordenadas são gerados a partir dos sistemas de referência, e
estes a partir da figura de um elipsóide. As coordenadas permitem a localização
precisa de pontos sobre a superfície da Terra. O geoprocessamento, a partir do uso dos
SIGs permite a utilização de diversos sistemas de coordenadas. No Brasil, os dois
sistemas oficialmente adotados são o de coordenadas geográficas, baseado em
coordenadas geodésicas e o UTM, baseado em coordenadas plano-retangulares.

12
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
3.10.1 - Coordenadas Geográficas
As coordenadas geográficas de um mapa são resultado da aplicação de um
sistema sexagesimal, com origens sobre o meridiano de Greenwich e sobre o Equador.
Os valores dos pontos são expressos pela sua latitude e por sua longitude. As unidades
de representação destes valores são o grau, minuto e segundo, acompanhados da
informação do hemisfério onde se encontram: norte ou sul para a latitude e leste ou
oeste para longitude. Além disso, deve-se usar sinal positivo (para N e E) ou negativo
(para W e S). Neste caso, quando a latitude está localizada ao sul do equador, seu sinal
é negativo. Da mesma forma, quando a longitude está localizada a oeste de
Greenwich, seu sinal também é negativo.

3.10.2 - Coordenadas UTM


As coordenadas UTM (Universal Transversa de Mercator) são amplamente
utilizadas em trabalhos de geoprocessamento, devido às suas características de adotar
paralelos e meridianos retos e eqüidistantes. A representação das coordenadas em
valores métricos é outro aspecto que facilita a interpretação das informações, e seu
uso. Neste sistema, a Terra, representada por um elipsóide de revolução, foi dividida
em sessenta fusos de 6º de longitude, numerados de 1 a 60, com origem no
antimeridiano de Greenwich, em sentido anti-horário para um observador situado no
polo norte.
As coordenadas leste-oeste são determinadas a partir do meridiano central de
cada fuso, iniciando com o valor 500.000 metros no fuso central, reduzindo no sentido
oeste e aumentando para leste. Neste caso, sempre que adotarmos este sistema de
coordenadas, devemos levar em consideração o fuso em que estamos trabalhando e
informá-lo nos resultados obtidos. A Figura 1 apresenta a distribuição dos fusos UTM
no Brasil.
Com relação à latitude a divisão consiste em zonas de quatro graus,
identificadas com as letras do alfabeto, iniciando com a letra A no equador,
aumentando para o Sul. O valor das coordenadas norte-sul começa a ser contado em
10.000.000 de metros no equador, diminuindo para o Sul.

13
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 1 - Fusos UTM para o Brasil. Fonte: AGUIRRE (1997). In: Becker et al, 1998.

4. SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS


Os sistemas de informações geográficas são aplicativos de computador que
devem ter como característica principal a capacidade de efetuar análise de
informações geográficas e sua representação espacial. Para entendermos a evolução
dos SIGs, faremos um breve histórico desde seu princípio até hoje.
O desenvolvimento dos sistemas de informações esteve sempre ligado às
possibilidades oferecidas pela informática. Pode-se dizer então, que os SIGs tiveram
sua origem desde o surgimento do primeiro computador, na década de 1940, o ENIAC
(Eletronic Numerical Integrator and Computer) desenvolvido na Universidade da
Pensilvânia, nos Estados Unidos. Na década de 1950 começaram os processos de
automatização da produção de mapas na Inglaterra para a representação de
informações relacionadas à botânica, e nos Estados Unidos, na cidade de Detroit, com
softwares que espacializavam o volume e auxiliavam na organização do tráfego da
cidade.
Em 1960 foi criado na Universidade de Washington o primeiro centro de
pesquisas e desenvolvimento de SIG. Em 1964 foi desenvolvido o primeiro SIG para o
inventário das terras do Canadá, o Canadian GIS. No ano de 1967 o censo dos EUA foi

14
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
efetuado com apoio do GBF/DIME (Geographic Base File/Dual Independent Map
Encoding).
A partir da década de 1970 houve grande avanço no desenvolvimento de
hardware (processadores e equipamentos) surgindo naquela época os termos SIG &
CAD. Na década de 1980 houveram importantes avanços na microinformática. Foram
criados diversos centros de pesquisa em SIG (inicialmente acadêmicos), havendo
também aumento considerável do uso da informática e do uso comercial dos SIGs.
Em 1982 foi Lançado o Arc/Info pela ESRI (Enviromental Systems Research
Institute), software até hoje muito difundido ao redor do mundo. Em 1987 a
universidade de Clark, no estado do Massachusets lançou o Idrisi.
Em termos de Brasil, o início do uso dos SIGs ocorreu na década de 1980, tendo
tido como precursor o SAGA (Sistema de Análise Geo-Ambiental), desenvolvido na
UFRJ. Nesta década também o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) passou
a desenvolver o SITIM (1984-1990), e em seguida, o SPRING.
Atualmente temos diversos SIGs disponíveis no mercado, incluindo alguns de
distribuição gratuita, como é o caso do SPRING. Todos tem evoluído muito em termos
de qualidade dos produtos gerados e também na facilidade de operação. Além disso,
tem surgido softwares híbridos que possibilitam o acesso à informações e inclusive a
ferramentas de consulta via web, como é o caso do Google Earth, por exemplo.

4.1 - Definições de SIG


De acordo com Burrough & McDonnell (2004) é “um conjunto poderoso de
ferramentas para coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados sobre
o mundo real para um objetivo específico” Já Eastman (1998) define SIG como “um
sistema assistido por computador para a aquisição, armazenamento, análise e
visualização de dados geográficos”.
Rocha (2000) define SIG como
Um sistema com capacidade para aquisição,
armazenamento, tratamento, integração,
processamento, recuperação, transformação,
manipulação, modelagem, atualização, análise e
exibição de informações digitais georreferenciadas,
topologicamente estruturadas, associadas ou não a um
banco de dados alfanumérico.

15
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Fitz (2008) define SIG como
Um sistema constituído por um conjunto de programas
computacionais, o qual integra dados, equipamentos e
pessoas com o objetivo de coletar, armazenar,
recuperar, manipular, visualizar e analisar dados
espacialmente referenciados a um sistema de
coordenadas conhecido.

Para Teixeira, Moretti e Christofoletti (1992)


É um sistema de informação geográfica que utiliza uma
base de dados computadorizada que contêm
informação espacial, sobre a qual atuam uma série de
operadores espaciais. Estes sistemas são constituídos
por uma série de programas e processos de análise, cuja
característica principal é focalizar o relacionamento de
determinado fenômeno da realidade com sua
localização espacial.

Para que um SIG desenvolva todas as atividades necessárias, o mesmo deve


integrar numa mesma base, dados provenientes de mapas e cartas topográficas, dados
de censo, informações de cadastro urbano e rural, imagens de satélites, informações
de redes e modelos numéricos de terreno. Deve ter ainda algoritmos para manipular,
analisar, consultar, recuperar, visualizar e plotar o conteúdo da base de dados
geocodificados.
Ao se definir um SIG para ser adotado em um determinado projeto deve-se
observar alguns aspectos relativos ao hardware, como: número de usuários, forma e
nível de compartilhamento dos dados, desempenho necessário para atender as
demandas, quais hardwares suportam quais softwares, relações custos desempenho
ou custo benefício, previsão de expansão do sistema, centralização ou
descentralização das bases de dados e interfaces com outros sistemas.
Já, com relação ao software, deve-se observar seus componentes, como: a
interface com usuário, formas de entrada e integração de dados, funções de
processamento gráfico e de imagens, capacidade de visualização e de plotagem, e a
capacidade de armazenamento e recuperação de dados organizados sob a forma de
banco de dados geográficos.

16
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Outro aspecto importante a ser observado na definição de um SIG, é a forma
como o mesmo interage com o usuário. Esta observação deve considerar o grau de
acessibilidade, facilidade de operação, transparência no fluxo lógico e forma clara e
sintética de obtenção do resultado pretendido.

4.2 - Opções de Sistemas de Informações Geográficas


Atualmente há uma grande diversidade de SIGs disponíveis. A maioria tem os
módulos necessários para todas as análises espaciais. Entre os principais aplicativos
SIG disponíveis atualmente, os mais usados em nosso país são:

Spring
Software desenvolvido pelo INPE, com funções de processamento de imagens,
análise espacial, modelagem numérica de terreno e consulta a bancos de dados
espaciais, trabalha com banco de dados relacional ou orientado a objetos. A Figura 2
mostra uma tela do SPRING.

Figura 2 - Tela do SPRING.

ArcGIS
Software desenvolvido pela ESRI (Enviromental Systems Researchs Institute)
que permite amplas opções no desenvolvimento de atividades espaciais, tanto
utilizando arquivos raster como vetores. Apresenta ótima performance no trabalho

17
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
com arquivos vetoriais. Trabalha com banco de dados relacional. A Figura 3 apresenta
uma tela do ArcMap, componente do ArcGIS.

Figura 3 – Tela do ArcMap, componente do ArcGIS.

Idrisi
Software desenvolvido pela Clark University, possui amplas aplicações em
geoprocessamento, com ótima performance no tratamento de informações raster. A
Figura 4 apresenta um exemplo de uma tela do Idrisi Taiga.

Figura 4 – Tela do Idrisi Taiga.

18
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
ER Mapper
Este software oferece ferramentas avançadas para processamento de imagens,
permitindo seu uso em diversas áreas do geoprocessamento. A Figura 5 apresenta
uma tela do ER Mapper.

Figura 5 – Tela do ER Mapper.

ENVI
É um software que oferece inúmeras possibilidades de aplicação em
geoprocessamento. Destaca-se pelo ótimo desempenho no processamento de
imagens e na elaboração de modelos numéricos do terreno (MNTs). A Figura 6 mostra
uma tela do ENVI.

19
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 6 – Tela representativa do ENVI.

ILWIS
O software ILWIS (Integrated Land and Water Information System) também
realiza o tratamento computacional de dados geográficos. É distribuído gratuitamente,
tendo sido bastante usado em projetos desenvolvidos ao redor do mundo. A Figura 7
apresenta uma tela do ILWIS.

Figura 7 – Tela do ILWIS.

20
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
4.3 - Operações sobre dados em SIG
Estas são realizadas por operadores, que são conjuntos de programas ou
módulos que atuam sobre a base de dados para atender aos requerimentos dos
usuários, no que diz respeito à análise da informação espacial.

4.4 - Tipos de operações realizadas sobre os dados


As operações mais comuns são as de medidas de distância, de áreas, zonas de
influência, operações aritméticas em mapas, funções trigonométricas, operações
booleanas, conversões raster-vetor-raster, processamento de imagens, transformação
de coordenadas, traçado de redes, tratamento de dados altimétricos (declives,
vertentes, curvas de nível, MDT), operações com polígonos, linhas e pontos, criação,
consulta e gerenciamento de banco de dados, entre diversas outras.

4.4.1 – Aplicações dos SIGs


Um SIG deve fornecer informações relativas à:
- Localização espacial de dados;
- Relacionamento entre localizações espaciais de dados;
- Quantificação de eventos associados a uma localização espacial;
- Associação de atributos à informação espacial;
- Cálculos de áreas e distâncias;
- Cruzamento de dados espaciais;
- Determinação de trajetos de menor custo, resistência ou distância;
- Identificação de informações posicionadas espacialmente;
- Estabelecimento de zonas de interesse;
- Reclassificação de objetos com combinações de atributos de interesse;
- Simulação de mudanças entre diferentes períodos em determinadas
condições;
- Processamentos de imagens digitais;
- Modelagens numéricas de informações;
- Análises estatísticas;
- Consultas a bancos de dados.

21
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
4.4.2 – Áreas de Aplicações dos SIGs
Os SIGs podem ser usados em todas as áreas que possam ter suas informações
mapeadas, sejam elas relativas ao espaço físico ou as relações sociais, econômicas e
humanas. As principais são:
- Análises geográficas;
- Processamento digital de imagens;
- Modelagem numérica do terreno;
- Geodésia e fotogrametria;
- Agricultura de precisão;
- Produção cartográfica;
- Modelagem de redes;
- Mapas cadastrais;
- Mapas ambientais;
- Planejamento – urbano, rural, ambiental...;
- Planejamento de negócios.

4.4.3 – Exemplos de Aplicações dos SIGs


- Determinação de áreas economicamente mais propícias a uma cultura agrícola;
- Determinação de áreas com risco à erosão;
- Geração de mapas de acidentes de trânsito ocorridos em determinados
períodos, em determinada região;
- Delimitação de áreas de proteção e preservação;
- Previsão de safras agrícolas;
- Estudo de capacidade de uso das terras;
- Planejamento do escoamento da produção;
- Cadastros de espécies vegetais e animais;
- Escolha da melhor área para implantação de escolas, hospitais, creches,
comércios, indústrias, represas...;
- Zoneamentos ambientais, econômicos, sociais...
- Monitoramento ambiental;
- Modelagens de expansão de atividades ou ocupações.

22
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
4.4.4 – Exemplos de produtos gerados a partir do uso de SIGs

Mapa clinográfico

Figura 8 – Mapa clinográfico.

O mapa clinográfico anterior foi elaborado a partir da vetorização das curvas de


nível da área do município de Botucatu, SP. Estas foram interpoladas pelo método TIN
(Triangular Irregular Network). Após a geração do mapa com as classes de declive,
aplicou-se o processo de reclassificação para a delimitação dos intervalos de interesse.
Para finalizar, aplicou-se um filtro com a finalidade de melhorar a apresentação e
facilitar sua interpretação.

23
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Mapa de solos

Figura 9 – Mapa de solos do município de Botucatu.

Este mapa foi elaborado a partir da fotointerpretação dos tipos de solos


ocorrentes no município de Botucatu. Posteriormente este resultado foi confirmado
com análises de solos feitas em laboratório, a partir de amostras coletadas a campo.
Na sequência, o resultado foi mapeado e representado no mapa acima.

Mapa de capacidade de uso das terras

Figura 10 – Mapa de capacidade de uso das terras do município de Botucatu.


24
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Este mapa foi produzido a partir do mapa de declives e do mapa de solos do
município. As informações constantes dos dois mapas foram avaliadas, atribuindo-se
pesos para cada uma sendo posteriormente mapeadas para chegar-se ao produto
acima.

Mapa de aplicação localizada


O mapa a seguir apresenta a distribuição dos pontos de coleta de solos em uma
área de produção agrícola.

Figura 11 – Mapa com a distribuição dos pontos de coleta de amostras de solos.


Elaboração: Rodrigues, 2002.

Os pontos acima foram interpolados, gerando um mapa com a distribuição das


características do solo. Um dos resultados, o mapa de pH pode ser visto na Figura 12.

25
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 12 – Mapa dos valores de pH. Elaboração: Rodrigues, 2002.

A partir da interpolação dos valores de pH do mapa acima, o pesquisador


efetuou a reclassificação, fatiando as informações em intervalos, facilitando a
interpretação do mapa e a posterior aplicação do corretivo por parte do proprietário
da área. O resultado deste fatiamento pode ser visto na Figura 13 abaixo.

Figura 13 – Mapa com a classificação do pH da área de estudo. Elaboração: Rodrigues,


2002.

26
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Consulta a banco de dados
O mapa apresentado abaixo é resultado de consulta ao banco de dados que
contém informações sobre os municípios brasileiros disponibilizado pelo IBGE em seu
site. Estas informações foram baixadas em formato .shp e convertidas para o formato
lido pelo SIG. A Figura 14 mostra o resultado desta consulta.

Figura 14 – Resultado de consulta ao banco de dados.

4.5 – Diferença entre sistemas CAD, CAM , AM/FM e SIG

4.5.1 – Sistemas CAD


Computer Aided Design ou desenho apoiado em computador. São sistemas
originalmente criados para a elaboração de projetos nas áreas de engenharia.
Posteriormente passaram a ser utilizados na cartografia digital. Estes sistemas acessam
e armazenam informações de modo seqüencial, como entidades gráficas. Apresentam
limitações quanto à algumas atividades do geoprocessamento, como na atribuição de
coordenadas em processos de georreferência, pois normalmente não consideram
sistemas de projeção, nem equações de ajustes, o que compromete a qualidade desta
operação, sobretudo para áreas maiores. Mesmo assim, os CADs são amplamente

27
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
utilizados, uma vez que apresentam boa funcionalidade, ótima precisão de localização
das informações, avançados recursos de representação gráfica e capacidade de edição
e impressão. A diferença fundamental dos CADs para os SIGs é que o CAD não permite
a realização de análises espaciais.

4.5.2 – Sistemas CAM


Computer Aided Mapping ou mapeamento apoiado em computador. Estes
sistemas são utilizados para elaboração de mapas utilizando camadas (layers) de
entidades gráficas. São considerados um aperfeiçoamento dos CAD, mas ainda não
apresentam todas as características de um SIG.

4.5.3 – Sistemas AM/FM


Automated Mapping/Facility Management ou mapeamento
automatizado/Gerenciamento de Equipamentos. São sistemas baseados nos CAD,
porém, menos precisos. Tem maior potencial para armazenamento e análise de dados
para a produção de relatórios, uma vez que utilizam redes para definição das relações
entre os componentes dos sistemas, e que estas permitem a associação de atributos
alfanuméricos às entidades gráficas.

5. BASE DE DADOS
As fontes de dados em geoprocessamento caracterizam-se por sua grande
diversidade, podendo ser estas divididas da seguinte forma:
- Fontes primárias – aquelas que permitem o levantamento de dados originais,
como os trabalhos de campo e os produtos do sensoriamento remoto;
- Fontes secundárias – aquelas que fornecem mapas e estatísticas já prontos,
normalmente estas derivam das fontes primárias.
Em projetos de geoprocessamento a fonte dos dados deve ser definida em
função de alguns aspectos:
- Abrangência espacial;
- Detalhamento;
- Custo;

28
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
- Possibilidade de padronização
- Confiabilidade.
Os levantamentos de dados a campo normalmente oferecem grande
detalhamento e segurança nas informações coletadas, desde que estes sejam feitos
seguindo os procedimentos adequados. Porém, exigem deslocamentos e o uso de
equipamentos apropriados em função do fenômeno pesquisado e do tipo de
informação necessária. Como exemplos de informações normalmente levantadas em
trabalhos de campo, podemos citar:
- Coletas de amostras (solo, água, vegetação...);
- Coletas de coordenadas para pontos de controle;
- Medidas (distâncias, áreas, perímetros, ângulos...);
- Realização de entrevistas (sociais, econômicas...);
- Confirmação de padrões previamente identificados em fotos aéreas, imagens
de satélites ou entrevistas.
Um dos principais aspectos a serem considerados na formação da base de
dados é a compatibilização entre os planos de informação, pois estes devem permitir
complementações e comparações.

5.1 – Estruturas de representação de dados espaciais


Estas estruturas podem ser:
- Geométricas – quando descrevem atributos de um elemento relativos à posição,
vizinhança e conexão com outros elementos;
- Não geométricas – descrevem atributos com características não geométricas entre os
elementos, como nome, população, e atividade econômica.

- As estruturas geométricas são divididas em:


5.1.1 – Raster
Esta estrutura é também chamada de matricial, pois a delimitação do espaço
representado é obtida através de uma malha com linhas verticais e horizontais
espaçadas regularmente formando células ou pixels (do inglês picture element, ou seja,
elemento da imagem). Estas células possuem dimensões verticais e horizontais iguais,
definindo sua resolução (área abrangida no terreno por cada célula). Este fato leva à

29
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
generalização da representação, onde vários elementos que constituem um pixel
deixam de ser individualizados. Cada um destes elementos apresenta um valor z que
pode indicar um atributo, normalmente, o seu nível de cinza (valor de brilho). Esta é a
estrutura comum das imagens (de satélite, fotografias aéreas digitais e mapas
digitalizados). As Figuras abaixo apresentam exemplos de estruturas raster.

Figura 15 – Exemplo de estrutura raster e sua representação.


Fonte: Jensen, 2009, p. 197.

30
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 16 – Exemplo de matriz numérica de imagem raster. Fonte: Crosta, 1992, p. 24.

As principais vantagens das estruturas raster são sua fácil interpretação,


simplicidade de representação e de processamento. Também permitem operações de
superposição e operações de modelagem e simulação. Além disso, representam muito
bem variabilidades espaciais.
Suas principais desvantagens consistem no fato de que sua precisão depende
da resolução, tem dificuldade de representação de pequenas áreas e padrões lineares
(rios, estradas, linhas de transmissão, entre outras), ocupam grandes volumes de
memória e, além disso, na maioria das vezes a qualidade visual dos mapas finais é
inferior àquela dos mapas vetoriais.

5.1.2 – Vetoriais
Estas estruturas são baseadas nos elementos geométricos básicos (pontos,
linhas e polígonos) que estão situados em sistemas de coordenadas bi ou
tridimensionais.

31
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Os pontos são as entidades geográficas que podem ser representadas por um
único par de coordenadas. Como exemplo, podemos ter a localização de uma casa, de
um poste, ou dependendo da escala, de uma cidade.
As linhas – são conjuntos de pelo menos dois pares de coordenadas
representadas por seus pontos. Uma linha além das coordenadas deve possuir pelo
menos um atributo. Por exemplo: um rio e seu nome.
As linhas também podem fazer a representação das redes. Estas são linhas que
trazem informação de como ocorrem as ligações entre elas, através dos nós.
Já os nós devem trazer as informações das cadeias de linhas e sobre os ângulos
de confluência de cada uma de suas linhas componentes.
Os polígonos são conjuntos de pontos em que sua última coordenada deve
coincidir com a primeira, fechando desta forma o polígono. Através de sua
representação fornecem informações de localização de áreas e perímetros.
As informações das relações entre os pontos, as linhas e os polígonos fornecem
a topologia das figuras geométricas, conforme pode ser visto na Figura 17.

Figura 17 - Topologias comuns em geoprocessamento. Fonte:


Câmara & Monteiro, INPE – on line.

5.2 – Fontes de dados para geoprocessamento


Os dados usados nas análises do geoprocessamento podem ser obtidos em
bases oficiais ou então levantados pelo próprio interessado. É importante frisar que

32
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
normalmente as bases de dados disponibilizadas estão representadas em escalas
menores, mas mesmo assim podem fornecer informações importantes. As principais
fontes são:
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística);
INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais);
DSG (Diretoria de Serviço Geográfico do Exército);
CPRM (Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais);
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária);
IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis);
Universidades, órgãos públicos estaduais e prefeituras municipais.
Além destes, órgãos internacionais como a NASA (National Aeronautic and
Space Administration) e o GLCF (Global Land Cover Facility) também disponibilizam
dados de qualidade gratuitamente.

6. OPERAÇÕES BÁSICAS DO GEOPROCESSAMENTO

6.1 – Georreferenciamento de imagens


Compreende a transformação geométrica que relaciona coordenadas de
imagem (linha, coluna) com coordenadas de um sistema de referência. É um
procedimento executado para registrar espacialmente uma imagem à sua posição
conhecida do terreno em coordenadas de referência universalmente reconhecidas,
como geográficas ou Universal Transversa de Mercator (UTM), ou mesmo outras
menos utilizadas no Brasil.
A relação entre os dois sistemas de coordenadas (mapa e imagem) pode ser
calculada de duas formas:
1 – Através do conhecimento exato dos parâmetros geométricos da órbita do satélite,
da rotação da terra e do fator de amostragem do sensor, chamada de modelo de
geometria orbital. O grau de precisão desta técnica é baixo.
2 – Através da definição de pontos de controle, o que permite o cálculo da relação
entre os dois sistemas de coordenadas. Estes pontos devem ser reconhecíveis tanto na
imagem a ser georreferenciada quanto no mapa ou carta que contém o sistema de

33
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
coordenadas a ser usado. A precisão deste método depende da precisão na
identificação e posicionamento dos pontos de controle.
Caso os pontos de controle não sejam identificáveis nas cartas e mapas
disponíveis, podemos coletá-los a campo com auxílio de um aparelho GPS.
Os pontos de controle mais comuns são:
- Intersecções de estradas (encruzilhadas);
- Cruzamentos de estradas com ferrovias;
- Cruzamento de estradas com rios (pontes)
- Aeroportos;
- Cantos de cercas e esquinas (para escalas maiores), entre outros.
Quando se tratar de georreferência de cartas topográficas ou mapas, podemos
usar suas malhas de coordenadas.
Um detalhe importante a ser observado é que ao definirmos os pontos de
controle e obtermos suas coordenadas na imagem, devemos observar com “zoom”
aumentado, buscando o máximo de precisão na informação.
Ao obtermos os pontos de controle no campo com GPS devemos observar a
precisão deste, comparada com a resolução da imagem a ser georreferenciada, e o
datum em que o mesmo está obtendo as coordenadas.
O SIG utilizado para a elaboração da georreferência deve oferecer a opção de
comparar os erros relativos a cada ponto de controle antes de efetuar a
transformação. Deve-se trabalhar com um mínimo de 6 pontos de controle, para
equações lineares, prevendo a possibilidade de exclusão daqueles de menor
contribuição na equação de ajuste. Para equações quadráticas ou cúbicas, o número
de pontos deve ser ainda maior. Este aspecto depende do SIG em que esta tarefa
estiver sendo executada.
É importante que mesmo obtendo-se dados georreferenciados por outras
fontes, seja feita uma avaliação da qualidade desta georreferência, e sempre que
possível, efetuar nova georreferência, visando:
1 – O monitoramento e a redução de erros de posição inevitavelmente
introduzidos durante qualquer processo de reamostragem.
2 – Ajustar as distorções que alguns sistemas de referência, e as projeções a
eles associadas, introduzem para uma mesma área.

34
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Conforme Crosta (1992) o processo de georreferência resulta na produção de
uma nova imagem, com nova localização espacial e com DNs (números digitais) que
devem acompanhar esta localização.
Este processo é feito por interpolação, que pode ser feita pelos métodos:
1 – Vizinho mais próximo – considera como novo valor do píxel o DN de maior
abrangência dentro da nova imagem.
2 – Interpolação bilinear – toma por base os DNs dos 4 vizinhos mais próximos do
centro do novo píxel, calculando uma média ponderada pelas distâncias do centro dos
4 vizinhos ao centro do novo píxel.
3 – Convolução cúbica – baseia-se no ajuste de uma superfície polinomial de terceiro
grau, à região circundando o pixel a ser reamostrado. Os 16 pixels vizinhos são
utilizados para determinar o valor do novo pixel.

6.1.1 – Importância da georreferência de imagens


- Possibilidade de obtenção de medidas verdadeiras, como distâncias, áreas,
ângulos, altitudes, etc;
- Localização de pontos na superfície terrestre a partir da identificação de suas
coordenadas na imagem ou vice-versa;
- Integração de imagens à base de dados existente num SIG;
- Troca de informações padronizadas com outros usuários;
- Combinação de imagens de sensores diferentes sobre uma mesma área ou
execução de estudos e análises multi-temporais.

Exemplo:
Para georreferência da foto aérea da Figura 18, utilizou-se as coordenadas UTM
extraídas da carta topográfica da região (ambas de Ourinhos).
Nesta Figura estão demonstrados os 5 pontos de controle extraídos da tela do
computador.

35
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 18 – Pontos de controle destacados sobre o aerofotograma.

Na Figura 19 estão destacados os pontos de controle sobre a carta topográfica,


de onde serão identificadas as coordenadas no sistema UTM.

36
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 19 – Pontos de controle destacados sobre a carta topográfica.

Na Figura 20 o ponto de controle está aproximado e já teve suas coordenadas


identificadas. A partir deste momento, o mesmo pode ser usado no procedimento de
georreferência da imagem.

Figura 20 – Ponto de controle identificado sobre a fotografia aérea e a carta


topográfica.
37
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
6.2 – Classificação de imagens de Sensoriamento Remoto
A classificação de imagens multi-espectrais é feita à partir da associação de
pixels da imagem a um conjunto de rótulos que descrevem a característica real
predominante de cada pixel (vegetação, água, solo, etc). Tem como finalidade
organizar as informações existentes em uma imagem ao conjunto de rótulos,
facilitando sua interpretação através de uma legenda. Caracteriza-se pela amostragem
de um conjunto de pixels relativos a um determinado uso, e pela associação destes
DNs (Números Digitais) a todos os pixels que possuem reflectância (DNs) parecida.
Utiliza-se neste processo pelo menos duas bandas de imagens de satélite.
A classificação de imagens multi-espectrais pode ser dividida em:

6.2.1 – Classificação supervisionada


É elaborada a partir da intervenção do profissional, usando sua capacidade
interpretativa. Na classificação supervisionada, coberturas do solo são identificadas e
diferenciadas umas das outras pelo seu padrão de resposta espectral. Nesta
classificação define-se as assinaturas espectrais das categorias de uso conhecidas, e o
aplicativo associa cada píxel da imagem à assinatura mais similar. Para que o software
efetue este procedimento, necessita-se da definição de áreas de treinamento
contendo os padrões que se deseja classificar.
As áreas de treinamento são delimitadas por polígonos desenhados sobre cada
uso do solo na imagem. Estes polígonos devem ter o mesmo identificador para cada
classe de uso.
As imagens são classificadas utilizando-se de classificadores, que podem usar os
métodos:

Paralelepípedo
Neste método é considerada na análise uma área quadrada ao redor do
conjunto de treinamento. Esta deve ser representativa de uma classe de uso da terra,
onde o DN mínimo e máximo dos pixels definirá sua classificação em uma ou outra
classe.

38
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Distância mínima
Este método emprega a estatística para ser executado. A partir da delimitação
dos polígonos, o software calcula o valor médio dos pixels de cada classe e no processo
de classificação os utiliza para analisar a distância dos demais pixels em relação a cada
média das classes. Após, associa os pixels àquelas classes em que seu DN estiver mais
próximo.

Máxima verossimilhança
Nele, os valores de reflectância de uma área de treinamento são descritos por
uma função de densidade de probabilidade, baseada na estatística Bayesiana. Este
classificador verifica a probabilidade que um píxel tem de pertencer a uma
determinada classe e o classifica na categoria que tiver maior probabilidade. A Figura
21 a seguir apresenta o resultado de uma classificação supervisionada pelo método de
verossimilhança.

Figura 21 – Mapa de uso da terra do município de Botucatu.

Este mapa foi elaborado a partir da classificação supervisionada de imagem do


satélite Landsat 7, sensor ETM.

39
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
6.2.2 – Classificação não supervisionada
Neste método as imagens são classificadas de acordo com a semelhança
espectral das diferentes tonalidades nelas existentes. Normalmente o software
procura “nuvens” de pixels com DNs parecidos e os classifica em uma categoria. Pode
haver a intervenção do intérprete na delimitação do número de classes a serem
extraídas.

6.2.3 – Classificação por análise visual


Neste método o intérprete identifica cada uso e os demarca sobre a imagem
digital com polígonos. É demorado e depende da habilidade do mesmo.

6.3 – Modelo numérico do terreno (MNT)


Também denominado de modelo digital do terreno (MDT) ou modelo de
elevação do terreno (MET).
É a representação matemática da distribuição espacial de uma determinada
característica vinculada a uma superfície real. Normalmente a superfície é contínua e
representada por um fenômeno variado. Seus principais usos são:
- a) Elaboração de mapas de declividade e exposição para análises de geomorfologia
e erodibilidade;
- b) Análises de corte-aterro para projetos de estradas e barragens;
- c) Geração de mapas topográficos;
- d) Apresentação tridimensional de informações (em combinação com outras
variáveis).
A representação dos dados do modelo numérico do terrenoé feita através das
coordenadas x,y,z, onde z caracteriza o parâmetro a ser modelado, sendo z=f(x,y). A
aquisição destes dados é geralmente efetivada através de levantamentos de campo,
digitalização de mapas, medidas fotogramétricas a partir de modelos estereoscópicos
e dados altimétricos adquiridos por GPS, aviões e satélites.
Podemos adquirir os dados através de pontos amostrados com espaçamento
irregular e regular bem como por mapas de isolinhas. A Figura 22 a seguir apresenta
um exemplo de MNT.

40
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Figura 22 – MNT da microbacia hidrográfica do Arroio do Meio, na região central do
Rio Grande do Sul.

6.4 – Fusão de imagens multiespectrais e pancromáticas


A fusão de imagens de satélites pode ser empregada para melhorar a resolução
(espacial e espectral) das imagens, facilitando a identificação de alvos. Essa técnica de
processamento pode ser empregada para melhorar a classificação de imagens, uma
vez que a heterogeneidade espectral de áreas em sensoriamento remoto pode
conduzir a erros em sua classificação. Normalmente uma fusão é feita utilizando-se
uma imagem pancromática de alta resolução espacial, e bandas de imagem
multiespectral com menor resolução espacial. Deste modo, a resolução espectral pode
ser preservada, enquanto a melhor resolução espacial é incorporada com o intuito de
captar o conteúdo de informação das imagens com maior detalhamento.
Nesta tarefa utiliza-se normalmente o método HLS que é a sigla para: hue,
lightness e saturation, que significam, respectivamente, matiz, brilho e saturação (este
método também é chamado de IHS). Este é um espaço de cor mais uniforme que o
espaço RGB e que separa a cromaticidade da luminância. A transformação RGB-HLS
separa a informação acromática (valor) e cromática (matiz e saturação) de uma
imagem RGB. Neste método, três bandas espectrais de menor resolução espacial são
transformadas do espaço RGB de cores para o espaço HLS. A componente L é
substituída pela imagem PAN, sendo na seqüência efetuada a operação inversa,

41
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
retornando para o espaço RGB. A Figura 23 a seguir apresenta o resultado da fusão das
bandas multiespectrais AVNIR (resolução espacial de 10 metros) com a banda
pancromática PRISM (resolução espacial de 2,5 metros) do satélite japonês ALOS, da
região de Ourinhos, SP.

Figura 23 – Fusão de bandas multiespectrais com pancromática do satélite


ALOS.

6.5 – Operações aritméticas com mapas


Estas são operações matemáticas realizadas entre duas ou mais imagens, com o
objetivo de destacar informações de interesse ou comprimi-las. As operações
aritméticas mais comumente usadas são a adição, subtração, multiplicação e divisão.
Nestas operações os pixels componentes da imagem sofrem as operações um a um,
tendo seus DNs substituídos pelo seu novo valor, resultado da operação aplicada.
Abaixo é apresentado um exemplo simples de operação de multiplicação, com os
valores dos DNs dos pixels substituídos pelo resultado da multiplicação efetuada.
3 2 4 8 4 3 24 8 12
7 1 5 X 9 1 3 = 63 1 15
9 2 6 2 5 7 18 10 42

42
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
Em seguida, na Figura 24 é apresentada a operação de multiplicação entre o
mapa da classe de capacidade de uso da terra IIIs e o mapa de uso da terra do
município de Botucatu, SP.

Figura 24 – Mapa de uso da terra na classe de capacidade IIIs.

O mapa da Figura 24 acima foi obtido a partir do cruzamento do mapa de uso


da terra com o mapa da classe de capacidade de uso da terra IIIs, a partir de uma
operação de multiplicação. O resultado apresenta o uso da terra do município apenas
na classe de capacidade IIIs.
Além destas operações, o geoprocessamento permite o desenvolvimento de
atividades de:

43
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
- Reclassificação de imagens;
- Elaboração de histogramas que apresentam a distribuição das freqüências dos
pixels das imagens;
- Aplicação de contrastes nas imagens;
- Operações de criação, manutenção e consulta ao banco de dados;
- Criação de buffers e a realização de análises relativas à distâncias de
determinadas entidades, como estabelecimento de zonas de interesse e o estudo de
caminhos de menor custo;
- Análises de superfícies, tais como criação de mapas de declividades,
operações de filtragens, agrupamentos, geração de microbacias e localização de
pontos de interesse;
- Análises estatísticas relacionadas à localização espacial das informações;
- Suporte à decisão. Estas permitem que sejam realizadas análises que geram
mapas de apoio à tomada de decisões baseados na localização espacial das
informações;
- Trabalho com séries de dados e análise das mudanças ocorridas em uma dada
região em um período de tempo;
- Interpolação, geoestatística, variáveis topográficas e extração de feições;
- Operações de modelamento de dados, de classificação de imagens e de
simulações;
- Simulação e avaliação de tendências e mudanças no uso do solo, além de
módulos para análises de equações de perda de solo;
- Aplicação de transformações por componentes principais, análises de Fourier,
análises de textura, análises termais e de índices de vegetação;
- Análises de imagens hiperespectrais;
- Mudança de formato de dados e modificações na estrutura de imagens e
vetores, assim como transformações de linha para ponto ou polígono e vice-versa;
- Mudança de sistemas de projeção e de coordenadas e ainda mudanças de
datuns em imagens georreferenciadas;
- Edição de textos e de outros formatos, muito usados para ajustes nos arquivos
de documentação das imagens e vetores, ou para criação destes arquivos. Permite
alterações nos dados armazenados;

44
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
- Interpolação de superfícies, possibilitando a realização de interpolações por
contorno, rede irregular de triângulos e krigagem.

REFERÊNCIAS E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ASSAD, E.D., SANO, E.E. Sistema de informações geográficas aplicações na agricultura.


2 ed. Brasília: Embrapa, 1998.

BECKER, E. L. S., PIROLI, E. L., TREVISAN, M. L., CASSOL, R. Algumas considerações com
referência às formas de representação da terra através de coordenadas UTM. Ciência e
Natura, Santa Maria, v. 20, p. 215-229, 1998.

BURROUGH, P.A; McDONNELL, R.A.. Principles of geographical information systems.


Oxford: University Press, 2004.

BUZAI, G.D.; DURÁN, D. Enseñar e investigar com sistemas de información geográfica


(S.I.G.) Buenos Aires: Traquel, 1997. 192p.

CALIJURI, M.L., RÖHM, S.A. Sistemas de Informações Geográficas. CCET/DEC -


Universidade Federal de Viçosa. Imprensa Universitária: Viçosa, 1994. 34p.

CÂMARA, C, & DAVIS, C. (1996). Fundamentos de Geoprocessamento. Livro on-line:


www. http://www.dpi.inpe.br/gilberto/livro.

CÂMARA, G. & MEDEIROS, J. S. (1998). GIS para Meio Ambiente. São José dos Campos:
INPE.

CÂMARA, G. MEDEIROS, J.S.de. Princípios básicos em geoprocessamento. In: ASSAD,


E.D., SANO, E.E. Sistema de informações geográficas aplicações na agricultura. 2 ed.
Brasília: Embrapa, 1998. p. 3 – 11.

CROSTA, A.P. Processamento digital de imagens de sensoriamento remoto. Campinas:


IG/UNICAMP. 1992. 170p.

EASTMAN, J. R. Idrisi for Windows - Manual do usuário: introdução e exercícios


tutoriais. Editores da versão em português, Heinrich Hasenack e Eliseu Weber. Porto
Alegre, UFRGS Centro de Recursos Idrisi, 1998. 240 p.

EASTMAN, J. R. IDRISI32. Guide to GIS and image processing. Massachusettes, Clark


University. V. 2, 1999. 169p.

FITZ, P.R. Geoprocessamento sem complicação. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Geodésia. Disponível em:


http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/geodesia. Acesso em 06/10/2010.

45
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO
MONICO, J. F. G. Posicionamento pelo NAVSTAR-GPS: Descrição, Fundamentos e
Aplicações. São Paulo: Ed. UNESP, 2000.

NOVO, E.M.L. Sensoriamento Remoto, princípios e aplicações. São Paulo: Blucher,


1992. 308p.

ROCHA, C.H.B. Geoprocessamento: tecnologia transdisciplinar. Juiz de Fora: Ed. do


Autor, 2000.

RODRIGUES, J.B.T. Variabilidade espacial e correlações entre fatores de produção e


produtividade na agricultura de precisão. Botucatu, 2002. 116 p. Dissertação
(Mestrado em Agronomia/Energia na Agricultura) - Faculdade de Ciências
Agronômicas, Universidade Estadual Paulista.

ROSA, R. Introdução ao sensoriamento remoto. Uberlândia: Edufu, 1995. 117p.

SENDRA, J.B., MARTÍNEZ, F.J.E., HERNÁNDEZ,E.G., GARCÍA M.J.S. Sistemas de


Información Geográfica: prácticas con PC ARC/INFO e Idrisi. Madrid: RA-MA, 1994.

SILVA, A.de B. Sistemas de informações geo-referenciadas. Campinas: Editora Unicamp,


2003.

TEIXEIRA, A.L.A.; CHRISTOFOLETTI, A. Sistemas de Informação Geográfica: Dicionário


ilustrado, São Paulo: Hucitec, 1997.

TEIXEIRA, A.L.A.; MORETTI, E.; CHRISTOFOLETTI, A. Introdução aos Sistemas de


Informação Geográfica, Rio Claro-SP, 1992.

TOMLIN, C.D. Geographic information systems and cartographic modeling. Prentice


Hall, Englewood, 1990, 243 p.

XAVIER DA SILVA, J. Geoprocessamento para análise ambiental. Rio de Janeiro: Ed. Do


Autor, 2001.

46
Introdução ao Geoprocessamento – Prof. Dr. Edson Luís Piroli
Universidade Estadual Paulista – Campus de Ourinhos – Curso de Geografia – CEDIAP-GEO

Você também pode gostar