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ESTUDOS
UNESCO (2025)
Direito à Repatriação de Bens Culturais
DIRETORES
Lorenzo Smith
Júlia Duarte
Nicole Zuccolotto
Paula Medice
“Dois mil anos atrás, o historiador grego Políbio nos
instigou a não transformar os infortúnios das outras
nações em embelezamentos para nossos próprios
países. Hoje, quando todos os povos são
reconhecidos como iguais em dignidade, estou
convencido de que a solidariedade internacional
pode, pelo contrário, contribuir de maneira prática
para a felicidade geral da humanidade.”
(Amadou-Mahtar M’Bow)1
1
Amadou-Mahtar M’Bow, senegalês, ocupou o cargo de diretor-geral da UNESCO entre os anos de 1974 e 1987.
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO DA MESA DIRETORA........................................................... 3
2 INTRODUÇÃO.......................................................................................................5
3 APRESENTAÇÃO DO ÓRGÃO SIMULADO........................................................6
3.1 MEMBROS DA UNESCO................................................................................ 6
3.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DA UNESCO..............................................................7
4 APRESENTAÇÃO DO TEMA............................................................................... 9
4.1 A REPATRIAÇÃO DE BENS CULTURAIS..................................................... 9
4.2 CONTEXTO HISTÓRICO.............................................................................. 15
4.3 CONVENÇÕES SOBRE BENS CULTURAIS............................................... 20
4.3.1 Convenção de Haia de 1954................................................................. 20
4.3.2 Convenção da UNESCO de 1970......................................................... 22
5.1 ALEMANHA................................................................................................... 25
5.2 BENIM........................................................................................................... 25
5.3 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA............................................................... 26
5.4 EGITO............................................................................................................26
5.5 FRANÇA........................................................................................................ 27
5.7 ITÁLIA............................................................................................................ 28
5.8 PERU............................................................................................................. 28
5.9 REINO UNIDO............................................................................................... 29
6 QUESTÕES RELEVANTES................................................................................ 30
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………….. 31
ANEXO A – GLOSSÁRIO...................................................................................... 33
ANEXO B – TABELAS/MAPAS/FIGURAS........................................................... 34
ANEXO C – QUADRO DE REPRESENTAÇÕES.................................................. 36
3
Desde o fim do evento, já tinha em mente criar um comitê para a VII edição da SiGI e
me interessei pelo tema de patrimônios e bens culturais após a tragédia ocorrida no
Museu Nacional em 2018. Dessa forma, para aprofundar meus conhecimentos sobre
o assunto em questão, decidi delegar no 19º MINIONU, no comitê CIA 1931 - A
Salvaguarda de Monumentos Históricos no Âmbito Internacional, representando em
dupla com a Diretora Assistente Paula Medice a República Portuguesa.
Espero que o presente comitê venha a agregar muito conhecimento aos senhores e
desejo uma ótima experiência a todos. Ademais, prontifico-me para ajudar com
quaisquer dúvidas que forem apresentadas. Bons estudos!
Olá, senhoras e senhores delegados! Meu nome é Júlia Duarte Mendes e estou
cursando o 2º ano do Curso Técnico em Meio Ambiente Integrado ao Ensino Médio
no Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Vitória. Meu primeiro contato com a
SiGI foi durante meu primeiro ano no IFES, quando participei do comitê CIJ 2018 -
Ucrânia vs. Rússia – Terrorismo e Discriminação Racial, no qual representei, em dupla
com o diretor geral Lorenzo Smith, o juiz Antônio Augusto Cançado Trindade,
recebendo assim menção honrosa. Neste mesmo ano participei do MINIONU na PUC,
representando a República Federativa do Brasil, no FAO 2017 - A Crise Alimentar no
Iêmen.
Tenho muito orgulho de poder participar desse evento e de trabalhar nesse comitê,
além de ter a certeza de que será uma excelente experiência no que diz respeito à
4
Caros delegados, é com muito prazer que me apresento como diretora assistente da
UNESCO 2025. Eu me chamo Nicole Zuccolotto Viana e durante a VII SiGI estarei
cursando o 2º ano do Curso Técnico em Edificações Integrado ao Ensino Médio, no
Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Vitória. Em meu primeiro ano
participando do projeto, na VI SiGI, deleguei como Noruega no comitê UNESCO 2017
- Educação como direito fundamental para refugiados e deslocados internos, sendo
prestigiada com uma menção honrosa.
2 INTRODUÇÃO
Este Guia de Estudos, assim como os outros materiais disponibilizados, foi elaborado
pelo Diretor Geral e pelas Diretoras Assistentes do comitê. O documento tem como
objetivo orientar e servir como base para seus estudos, mas é essencial que ele não
seja a única fonte de pesquisa dos senhores. O presente guia é dividido de forma a
apresentar todas as informações essenciais ao Comitê.
Após isso, haverá uma delineação do contexto histórico, por meio do qual os senhores
serão conduzidos cronologicamente desde os primeiros casos de retirada de bens
culturais de seu local de origem, aos primeiros casos de repatriação, através do tempo
da colonização, aos primeiros acordos sobre o tema, até a data de realização do
comitê. Haverá então uma introdução às principais convenções relacionadas ao tema.
É fundamental a compreensão destas, uma vez que estabelecem as definições, os
princípios e as regras utilizados na discussão acerca da repatriação de bens culturais.
Sua trajetória se inicia em 1942, quando os governos dos países europeus, que
estavam enfrentando a Alemanha nazista e seus aliados, reuniram-se para a
Conferência dos Ministros Aliados da Educação (CAME). Apesar da Segunda Guerra
Mundial se encontrar longe de um encerramento, esses países já estavam discutindo
maneiras e meios de reconstruir seus sistemas de educação logo que a paz fosse
restaurada. Então, em 1945, uma conferência da ONU foi realizada em Londres,
reunindo representantes de 44 países, que decidiram instituir uma organização que
englobasse de forma genuína uma cultura pacífica, para assim impedir a eclosão de
outra guerra mundial. Quando a conferência terminou, em 16 de novembro de 1945,
37 dos Estados participantes fundaram a UNESCO junto com a sua Constituição.
Desde sua criação em 1945, a missão da UNESCO tem sido contribuir para a
construção da paz, erradicação da pobreza e diálogo intercultural. Dessa forma, a
Organização realiza ações nas áreas de Educação, Ciências Naturais, Ciências
Humanas e Sociais, Cultura e Comunicação e Informação, vendo-as como motores e
facilitadores de um futuro mais justo e próspero para todos.
4 APRESENTAÇÃO DO TEMA
Para ocorrer uma otimização dos estudos e uma melhor compreensão do debate, é
fundamental que alguns conceitos sejam esclarecidos. A princípio é elementar
tratarmos acerca do nacionalismo, ideia que surgiu durante a Revolução Francesa e,
em linhas gerais, pode ser definido como a convicção de que a nação é o princípio
central da organização política. Esse termo, embora esteja associado à crença na
autodeterminação nacional, com base no pressuposto de que todas as nações são
iguais, também foi usado para defender instituições tradicionais e a ordem social
estabelecida, assim como para fomentar programas de guerra, conquistas territoriais
e imperialismo. Além disso, é importante ressaltar que certas formas de nacionalismo
estão menos relacionadas a demandas explicitamente políticas. Pode-se aplicar isso,
em particular, ao caso do nacionalismo cultural e do nacionalismo étnico (HEYWOOD,
2010).
2
KLUCKHOHN, Clyde. Mirror For Man The Relation Of Anthropology To Modern Life. Nova York: Whittlessey House,
1949. p.17.
3
Tradução livre da mesa diretora do original: By culture, anthropology means the total life way of a people, the
social legacy the individual acquires from his group. Or culture can be regarded as that part of the environment that is the
creation of man.
10
A partir disso, pode-se analisar o período colonial, observando que esse foi em todo o
mundo um tempo de colisão de culturas e intercâmbio de hábitos, conhecimentos e
objetos. Nesse período, a necessidade de reafirmar o controle da metrópole sobre
suas colônias, junto ao fascínio pelos artefatos dessas, que detinham tanto valor
histórico-cultural quanto comercial, por muitas vezes serem feitos de metais e jóias
preciosas, levou a saques e pilhagens em massa desses objetos, retirados de seus
territórios de origem e levados para países de mercado.4
Até hoje, essa retirada de bens culturais do lugar onde foram originados se mostra um
problema, sendo esta uma das razões pela qual a UNESCO veio a lançar a Convenção
Relativa às Medidas a Serem Adotadas para Proibir e Impedir a Importação,
Exportação e Transferência de Propriedades Ilícitas dos Bens Culturais, no ano de
1970. O tráfico ilegal de patrimônios é a principal razão da saída irregular destes do
seu local de origem, além de se mostrar um grave problema, uma vez que alimenta o
crime internacional, o terrorismo e a lavagem de dinheiro. (UNESCO, 2019).
Os países que tiveram seus patrimônios levados muitas vezes se sentem prejudicados
por isso, já que estes artefatos, obras de arte ou objetos de uso diário ou religioso,
representam a história do país, a cultura dos povos que lá habitam ou a de seus
ancestrais. Não é incomum que museus e galerias de arte de alguns países tenham
coleções com vários objetos similares, mas o país de onde estes objetos foram
originados não possua nenhum exemplar (UNESCO, 1978).
4
Segundo Merryman (1986), nos países de mercado, "a demanda por bens culturais desejáveis supera o fornecimento interno
destes". A demanda nos países de mercado encoraja a exportação nos países de origem, ricos em artefatos culturais de tal
forma que “a oferta supera a demanda de utilização local".
11
A repatriação pode ser definida como a devolução ao seu dono ou local de origem,
enquanto o termo restituição, apesar de possuir um significado muito próximo, de
transferir um objeto ao seu dono, é de certa forma considerado controverso, por
implicar que esta devolução se dá como uma forma de compensação por alguma
injúria. Ou seja, o termo por si só já caracteriza a retirada do objeto de seu lugar de
origem como incorreta ou imprópria (PROTT, 2009). Entretanto, observa-se que
ambos os termos são amplamente utilizados como sinônimos em diferentes casos na
literatura sobre o tema. (DA COSTA, 2018)
No século XIX, Elgin era embaixador do Reino Unido em Atenas, e foi ao Parthenon
originalmente com o intuito de copiar com moldes de gesso algumas esculturas.
Eventualmente, o lorde mudou seus planos e seu novo objetivo se tornou “salvar” os
mármores. Aproveitando-se da sua condição de embaixador e a crescente influência
britânica na região, Elgin conseguiu a autorização para levar para o Reino Unido
“algumas” peças. O termo é alvo de controvérsias, principalmente porque o documento
que originalmente concedeu a autorização a Elgin foi perdido restando apenas
traduções dele. Depois de um ano, o embaixador britânico levou de volta para o Reino
Unido dezenas de estátuas e dezenas de metros de frisos, deixando lacunas no
Parthenon. Vários mármores foram serrados para ter seu transporte facilitado.
Temos da mesma forma, o Egito, que como afirmou o seu Conselho Supremo de
Antiguidades, “possui uma política de longa data de buscar a restituição de todos os
elementos arqueológicos e históricos levados de forma ilícita do país”. Como
12
Dessa forma, estas duas perspectivas caracterizam dois lados da discussão: um que
defende a repatriação de bens culturais, composto por países como o Egito, a Grécia
e o Benim, e outro que acredita que estes devem permanecer onde estão, ainda que
seja fora do território de onde se originaram, com o qual se alinham os
posicionamentos de países como a Alemanha, a França e os Estados Unidos da
América.
5
Espécime que diferencia, que torna único.
6
Tradução livre da mesa diretora, no original “Objects of cultural property are the species differentiӕ, the elements that
distinguish one nation from another. They are products of experiences lost over the centuries, of unique biological mixtures, as
well as of ways of life created under distinctive geographic, climatological, social, religious and political conditions, and,
therefore, they belong to the people who created them and now claim them as a right, no matter if they are more or less of
interest to humanity as a whole.
13
7
MERRYMAN, John Henry. Two Ways of Thinking About Cultural Property. The American Journal of International Law,
Vol. 80, No. 4. (1986), p. 847.
14
Entretanto, essas alegações podem ser contestadas, uma vez que países como o
Egito e a Grécia, por exemplo, vêm investindo em museus novos e já existentes com
a finalidade de melhorar suas instalações, tornando-as de alto padrão, além de serem
destinos tão procurados por turistas quanto os países europeus ou americanos. Como
exemplo, pode-se citar o Museu da Acrópole, inaugurado pela Grécia em 2009, em
Atenas, totalmente modernizado e com espaço destinado a acolher os mármores que
estão na Inglaterra, caso sejam devolvidos em algum momento. Zahi Hawass, antigo
chefe do Departamento de Antiguidades do Egito, em um debate em Oxford 8 sobre o
tema, contestou a crença de que os museus de países mais desenvolvidos estariam
sempre mais preparados e estariam mais aptos a abrigar artefatos, e afirmou que
situações como essa podem acontecer em qualquer lugar, como casos verificados na
Inglaterra de uma limpeza mal sucedida nos mármores do Parthenon que apagaram
algumas marcas originais e na Bélgica, que ocasionou danos em uma múmia, não se
limitando apenas ao Egito ou aos demais países árabes (DA COSTA, 2018).
8
O evento foi promovido pela Oxford Union, uma sociedade administrada por alunos que proporciona debates acerca dos
mais variados temas no âmbito internacional.
15
É lamentável que objetos culturais sejam retirados à força de seu solo nativo
e transportados para museus no exterior? Sim. É uma dádiva e um prazer
podermos visitar esses museus e aprender sobre outras civilizações?
Certamente. (GEKOSKI apud DA COSTA, 2018, p. 13).
Do ponto de vista jurídico, é um fato que até o final do século XIX, “o direito de pilhar
e saquear o que pertencia ao inimigo” e “o direito de apropriar-se do que alguém tinha
tirado do inimigo”, adotando a terminologia usada pelo jurista holandês, Hugo Grotius,
16
Enquanto isso, até o século XIX, as ferramentas legais relacionadas à bens culturais
se limitavam a acordos bilaterais e multilaterais. Um dos primeiros acordos a tratar
sobre a repatriação de objetos foi o Tratado de Paz de Westphalia, de 1648, que inclui
provisões para o retorno de artefatos roubados, como por exemplo arquivos, após o
fim da Guerra dos Trinta Anos. Como consequência do tratado, a Suécia devolveu 133
documentos de arquivos da antiga Boêmia até o final do século XVIII. Sendo assim, o
Tratado de Westphalia é considerado um grande marco histórico dentre as regulações
internacionais que influenciaram as regras para o retorno de bens culturais (UNESCO,
2018).
9
Em um sentido específico, menos amplo.
18
Este debate só veio a ganhar mais fôlego, no entanto, a partir do fim da Segunda
Guerra Mundial, com a criação da ONU, da UNESCO e do Conselho Internacional de
Museus (ICOM). Estes lançaram diversos documentos e resoluções referentes ao
patrimônio cultural, para auxiliar países no novo cenário pós-guerra que havia se
configurado. Alguns bens culturais já haviam deixado seus territórios de origem há
muitos anos neste ponto, mediante acordos, negociações, doações, tráfico ilícito e até
mesmo saques e pilhagens em períodos de ocupação colonial, de guerra e de paz.
Esses, porém, só vieram a ser definidos em 1954, pela Convenção para Proteção de
Bens Culturais em conflito armado. A UNESCO veio a redefinir o conceito em uma
resolução no ano de 1970.
O debate voltou a ter espaço no início dos anos 2000, quando o chefe de antiguidades
do Egito, Zahi Hawass, iniciou uma campanha para a devolução de artefatos
provenientes de seu país, que foram levados de forma ilegal, sendo para Zahi Hawass
o Busto de Nefertiti e a Pedra de Rosetta exemplos de patrimônios que o país almejava
recuperar. Como consequência desta campanha, o departamento de antiguidades do
Egito chegou a cortar suas relações com o Museu do Louvre. Isso pois a entidade se
recusou a devolver artefatos que, segundo os egípcios, foram roubados. Ademais, a
decisão proibiu que a realização de expedições arqueológicas ligadas ao museu
francês no Egito e uma palestra de uma ex-curadora do Louvre, Christiane Ziegler, a
ser realizada em Cairo, também foi cancelada. No entanto, entre 2002 e 2011,
aproximadamente 6000 objetos foram repatriados, ainda assim tal fato não impediu
que ocorresse a Convenção de Cairo em abril de 2010.
10
Dentre esses, pode-se citar Áustria, Bolívia, Chile, China, Chipre, Equador, Grécia, Guatemala, Honduras, Índia, Itália, Líbia,
México, Nigéria, Peru, Polônia, Rússia, Coréia do Sul, Espanha, Sri Lanka, Síria e Estados Unidos.
19
No ano seguinte, o Egito iniciou uma nova tentativa de negociações com países como
EUA, Inglaterra e Alemanha para tentar conseguir a repatriação de seus bens culturais
que se encontravam nestes países. O país não obteve êxito nestas negociações, e
tentou recorrer ao "Comitê Intergovernamental para Promoção do Retorno de Bens
Culturais aos seus Países de Origem ou sua Restituição em caso de Apropriação
Ilícita" (ICPRCP), para que este pudesse ajudar o país nas negociações, em janeiro
de 2020. Grécia e Itália, que já haviam se mostrado favoráveis à campanha iniciada
por Hawass, seguiram o exemplo do Egito, iniciando novamente negociações com
países que abrigam seus bens culturais, e se juntando ao país em um movimento a
favor do direito de repatriação de bens culturais, formando uma frente internacional,
que eventualmente veio a ser chamada de Cooperação Internacional para a Proteção
e Repatriação do Patrimônio Cultural (CIPREPAC). O Peru entrou na frente, após
também tomar medidas para buscar a repatriação de artefatos do país em outubro de
2020, no centenário do envio do seu primeiro pedido à Universidade de Yale para
devolução de artefatos do país. O Benim, no mesmo ano, protagonizou na África
Subsaariana um movimento de apoio à frente, e países que já haviam se mostrado
11
Questionamento feito por Zahi Hawass em entrevista à BBC News Brasil.
20
A Colômbia e a Indonésia associaram-se no ano de 2023 à frente que, até então, não
havia obtido grandes progressos. Foi então que a CIPREPAC se organizou, e após
uma reunião com representantes de todos os países-membros, decidiu por contatar
diretamente a UNESCO. Desde então, a frente requisita que a organização convoque
uma reunião, para que suas demandas sejam colocadas em pauta, com o intuito de
criar uma resolução que se aplique a todos os países e sirva de referência para
resolução de impasses relacionados à propriedade dos bens culturais. Esse pedido,
no entanto, só veio a ser acatado em outubro de 2025, data de realização do comitê.
do passado para, em caso de guerra, essa possa ser conservada para o usufruto
nosso e de nossos antecedentes.” Ela obriga os Estados, nesse sentido, a “respeitar
e salvaguardar” os bens culturais (SALIBA; FABRIS, 2017).
A Convenção já em seu artigo 4(3) proíbe o roubo e a pilhagem de bens culturais, fato
substancial ao andamento do comitê (BOZ, 2018).
Além disso, é possível observar que esta Convenção coloca em evidência o caráter
internacional do patrimônio cultural, como afirma John Henry Merryman no "The
American Journal of International Law12". Pode-se dizer que apresenta uma noção
cosmopolita de interesse geral dos bens culturais, distinto de qualquer interesse
nacional (MERRYMAN, 1986). Isto é demonstrado já no próprio preâmbulo da
Convenção: "Estando convencidos de que o dano à propriedade cultural pertencente
qualquer povo é um dano para o patrimônio cultural de toda a humanidade, uma vez
que cada povo faz a sua contribuição para a cultura mundial”.13
12
"A Revista Americana de Direito Internacional"
13
Tradução livre da mesa diretora, no original "being convinced that damage to cultural property belonging to any people
whatsoever means damage to the cultural heritage of all mankind, since each people makes its contribution to the culture of the
world".
22
Uma das mais significativas orientações contidas no Segundo Protocolo diz respeito
a medidas mais detalhadas sobre que ações devem ser tomadas em tempos de paz,
visto que a Convenção por si só não as prevê. Segundo o artigo 3º da Convenção de
Haia de 1954, os Estados se encarregam de preparar em tempos de paz a proteção
de bens culturais contra efeitos previsíveis de um conflito armado “adotando as
providências que julgarem necessárias” (HENCKAERTS, 1999). Alguns exemplos
concretos citados pelo Protocolo de 1999, em seu 5º artigo são a preparação de
inventários; planejamento de medidas emergenciais para a proteção contra o período
de incêndios ou desabamento; preparação para a retirada de bens culturais móveis
ou a oferta de proteção in situ14 adequada para tais bens; designação de autoridades
competentes responsáveis pela proteção dos bens culturais. Vale salientar também,
que o Segundo Protocolo, a fim de sanar as limitações do sistema de “proteção
especial” de 1954, o qual teve êxito relativo, introduziu um novo sistema de “proteção
reforçada”15. Além disso, identificou sanções a serem aplicadas em caso de violações
graves da Convenção, incluindo a aplicação da responsabilidade criminal individual.
14
No local.
15
Os bens culturais podem ser colocados sob proteção reforçada desde que preencham as três condições seguintes:
(a) Constituam um património cultural da maior importância para a humanidade;
(b) Estejam protegidos por adequadas medidas nacionais de caráter jurídico e administrativo que reconheçam o seu valor cultural
e histórico excecional e assegurem o mais elevado grau de proteção;
(c) Não sejam utilizados para fins militares ou para proteger locais militares e a Parte, que os controla, tiver feito uma declaração,
na qual confirma que eles não serão utilizados para esses fins.
23
pela arte por países considerados “importadores”. Este cenário expôs a necessidade
de uma ferramenta legal internacional que pudesse ser aplicada em tempos de paz,
diferentemente da Convenção de Haia, para resolver o problema da importação e
exportação fraudulenta de bens culturais. Com este propósito, a Conferência Geral da
UNESCO na sua 16.ª sessão, realizada em Novembro de 1970 coeriu a Convenção
relativa às medidas a adotar para proibir e impedir a importação, a exportação e a
transferência ilícitas da propriedade de bens culturais, considerada como o primeiro
esforço relevante em ordenar o comércio de bens culturais e contribuir para a proteção
do patrimônio.
No começo de 1973, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou uma série de
resoluções pedindo a restituição de bens culturais aos países de origem, e em 1978,
a UNESCO, em sua resolução 20 C4/7.6/5, estabeleceu o Comitê Intergovernamental
para a Promoção do Retorno dos Bens Culturais aos seus Países de Origem ou sua
Restituição em caso de Apropriação Ilícita (ICPRCP). Sendo independente da
24
Convenção de 1970, ele é composto por 22 países, e atua nos casos em que
convenções internacionais não conseguem diretamente resolver litígios relacionados
à posse e à repatriação de bens culturais. (UNESCO, 2001)
5 PRINCIPAIS ATORES
Todos os atores presentes neste comitê são primordiais para que se consiga
enriquecer o debate e alcançar uma resolução que vise solucionar a problemática em
pauta. Contudo, algumas delegações detêm maior relevância para a discussão de
forma que serão expressos os posicionamentos dessas delegações nesta seção. É
importante que os senhores se atentem a essas questões, uma vez que diz respeito
ao posicionamento de sua delegação e de possíveis aliados.
5.1 ALEMANHA
5.2 BENIM
O Benim foi uma colônia francesa, grandemente pilhada e saqueada no final do século
XIX. Um exemplo de saque ocorrido nesse período aconteceu no ano de 1812, quando
tropas lideradas pelo general Alfred Amédée Dodds levaram objetos do Palácio de
Abomey, a capital histórica do país. Atualmente o Benim pede a restituição destes
objetos, considerando-os seus tesouros roubados, sendo que estes se encontram em
diferentes partes do mundo. Só no Museu do Quai Branly, na França, existem entre
4.500 e 6.000 artefatos que pertencem ao país, incluindo tronos, portas de madeira
gravada e cetros reais. Enquanto isso, totens que se encontravam no palácio de
Abomey antes do saque de 1812, hoje se encontram em exposição no British
Museum. Apesar do país já ter encontrado frustrações nas suas tentativas de repatriar
estes artefatos, como em 2016, quando a França negou um pedido para a repatriação
26
5.4 EGITO
O Egito foi durante sua história demasiadamente saqueado por países que ocuparam
suas terras. Na atualidade, muitas das suas antiguidades se encontram espalhadas
ao redor do mundo, em diferentes instituições culturais e o país tem sido obstinado na
busca por recuperá-las. Desde 2002, o ex-secretário geral do Conselho Supremo de
Antiguidades do país, Zahi Hawass, posicionou-se efetivamente nesse âmbito,
tomando como base para suas falas a prática imperialista de se apropriar e de manter
sob a sua custódia os artefatos que foram retirados do Egito em um período de
ocupação. Essa ação que foi chamada pelo estudante Ed Evans de “souvenirs do
Imperialismo”, inclui também o fato de esconderem essa informação do público. Uma
das justificativas para a expatriação dos patrimônios culturais por outros países é que
eles têm melhores museus para comportá-los, além de permitir o acesso de mais
pessoas a esses artefatos, por receberem mais turistas. Entretanto, essas alegações
27
podem ser contestadas, uma vez que o Egito está investindo na construção do Grande
Museu Egípcio, no Cairo, com instalações de alto padrão, além do país se destacar
cada vez mais como destino turístico.
5.5 FRANÇA
5.6 GRÉCIA
5.7 ITÁLIA
5.8 PERU
A trajetória britânica de apropriação de artefatos vem de longa data. Com sua histórica
prática expansionista aliada ao pioneirismo no neocolonialismo, o Reino Unido detém
em seu território uma extensa lista de bens culturais trazidos de outros países,
principalmente durante o século XIX. No Museu Britânico, podem ser encontradas
centenas de relíquias de Atenas, trazidas para Londres a mando do embaixador
britânico lorde Elgin, tesouros retirados de templos e tumbas no Egito, além de
diversos exemplares trazidos do continente africano durante sua colonização. Para
além desse caso, o museu Pitt Rivers, da Universidade de Oxford, exibe 330 artefatos,
roubados do reino de Bunyoro-Kitara. O Museu Britânico afirma que certas obras são
parte da herança do mundo e transcendem fronteiras políticas, por receber mais
visitantes e turistas, o Reino Unido permite um maior acesso e estudo dos artefatos.
30
6 QUESTÕES RELEVANTES
Abaixo segue uma lista com algumas questões para auxiliar na compreensão do tema,
além de auxiliar na linha de debate da simulação, visto que se reflete delas a própria
agenda a ser criada pelos diretores.
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOZ, Keynep. Fighting the illicit trafficking of cultural property: a toolkit for
European judiciary and law enforcement. Paris: UNESCO, 2018. Disponível em:
<https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000266098?posInSet=1&queryId=69eeca
8c-383e-4b4f-b795-0e3dad58dab5> acesso em 21 abr. 2019.
LUNDÉN, Staffan. Displaying the Loot: Benin Objects and the British Museum.
Gotamburgo: GOTARC Série B, 2016.
McINTOSH, Molly L. Exploring Machu Picchu: an Analysis of the legal and ethical
issues surrounding the repatriation of cultural property. Duke Journal Comparative
and International Law. v. 19, 2006, pp. 199-221, p. 215; YALE.
SALIBA, Aziz; FABRIS, Alice Lopes. O retorno de bens culturais. Revista de Direito
Internacional, Brasília, UniCEUB, v. 14, nº 2 (2017).
UNESCO. The trail of stolen cultural objects - stop trafficking and save culture.
2019. (1m38s). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=JymJQP5lWOQ>. Acesso em 19 mai 2019.
YATES, Donna. Illicit Cultural Property from Latin America: Looting, Trafficking,
and Sale. Paris: ICOM, 2015
33
ANEXO A – GLOSSÁRIO
Acrônimo
Memorandum of Understanding
Acordo firmado entre duas ou mais partes para alinhar os termos e detalhes de um
entendimento, assim como seus direitos e deveres.
Nação
Conjunto de pessoas unidas por tradições e valores em comum, bem como por uma
mesma religião e história, que em geral ocupam a mesma área geográfica.
Nacionalismo cultural
Nacionalismo étnico
ANEXO B – TABELAS/MAPAS/FIGURAS
LEGENDA:
Representações pontualmente
demandadas a tomar parte nas
discussões.
Representações medianamente
demandadas a tomar parte nas
discussões.
Representações frequentemente
demandadas a tomar parte nas
discussões
DELEGAÇÃO DEMANDA
Afeganistão
África do Sul
Alemanha
Andorra
Angola
Arábia Saudita
Argélia
37
Argentina
Austrália
Áustria
Bangladesh
Bélgica
Belize
Benim
Bielorússia
Bolívia
Bósnia e Herzegovina
Botswana
Brasil
Bulgária
38
Burkina Faso
Butão
Camarões
Camboja
Canadá
Catar
Cazaquistão
Chade
Chile
China
Chipre
Colômbia
Coréia do Sul
39
Costa do Marfim
Costa Rica
Croácia
Cuba
Dinamarca
Djibouti
Egito
El Salvador
Equador
Eritréia
Eslováquia
Eslovênia
Espanha
40
Estônia
Etiópia
Finlândia
França
Gabão
Gana
Grécia
Guatemala
Guiné
Haiti
Honduras
41
ICOM
Iêmen
Índia
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