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EXITUS l

TEMA: CRIMES HEDIONDOS

A - TERMINOLOGIA

a. l - CRIMES HEDIONDOS CONSTITUCIONAIS OU EQUIPARADOS

a) Tortura-Lei 9455/97
b) Tráfico de Entorpecentes - Lei 11.343/06
c) Terrorismo - Lei 13.260/16.

a.2 - CRIMES HEDIONDOS ORDINÁRIOS OU PROPRIAMENTE DITOS

- Lei 8072/90 - Artigo 1°., I a IX e Parágrafo Único, I a V.

B - ENUMERAÇÃO TAXATIVA - NÃO HÁ POSSIBILIDADE DE ANALOGIA.

C - ALGUMAS OBSERVAÇÕES IMPORTANTES SOBRE O ROL DE CRIMES


HEDIONDOS E EQUIPARADOS

Obs. l - Artigo 243 do ECA (Lei 8069/90) - Não é tráfico de entorpecentes e não é
hediondo.
Obs. 2 - Crimes Militares – A princípio não são abrangidos pela Lei 8072/90. No
entanto, com o advento da Lei 13.491/17, que alterou a competência da Justiça Militar,
aumentando consideravelmente seu âmbito de atuação, acende-se discussão. Por
exemplo, o autor Fernando Galvão (MP Militar), alega que a partir da Lei 13.491/17,
que considera crimes militares mesmo aqueles não previstos no CPM, desde que
cometidos por militar em serviço ou em razão da função, a LCH seria aplicável na
Justiça Militar. No entanto, o mesmo autor, em contato posterior conosco, publicou
novo artigo, levando em conta a questão da natureza material da LCH. Há que
verificar se o crime é previsto no CPM, porque se for, será aplicado o CPM e a LCH
não prevê nenhum crime do CPM como hediondo (Princípio da Legalidade). Por
exemplo: Homicídio Qualificado tem previsão no CPM e então não posso aplicar a
LCH que só se refere ao do Código Penal Comum. Já o crime de Tortura não tem
previsão no CPM e o Militar seria processado na Justiça Militar por crime da Lei
9455/97 mesmo, então seria aplicável a LCH e a Lei 9455/97 na Justiça Militar. Vejam
meu artigo sobre o tema, que gerou contato com o Dr. Fernando Galvão e a alteração
de seu entendimento inicial: CABETTE, Eduardo Luiz Santos, SANNINI NETO,
Francisco. Lei dos Crimes Hediondos e sua Aplicação na Justiça Militar face à Lei
13.491/17. Disponível em https://jus.com.br/artigos/62133/lei-de-crimes-hediondos-e-
sua-aplicacao-na-justica-militar-face-a-lei-n-13-491-17 . Os artigos do Dr. Fernando
Galvão são os seguintes: a) Inicial: GALVÃO, Fernando. Novos Desafios na
Competência Criminal. Disponível em http://www.aprapr.org.br/2017/10/16/justica-
militar/ , acesso em 04.11.2017. Posterior ao nosso debate: GALVÃO, Fernando.
Natureza material do dispositivo que amplia o conceito de crime militar e o
deslocamento dos inquéritos e processos em curso na Justiça Comum para a Justiça
Militar. Disponível em https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-
post/2017/11/23/Natureza-material-do-dispositivo-que-amplia-o-conceito-de-crime-
militar-e-o-deslocamento-dos-inqu%C3%A9ritos-e-processos-em-curso-na-
Justi%C3%A7a-Comum-para-a-Justi%C3%A7a-Militar .

Obs. 3 - Estupro e Estupro de Vulnerável - Abrange os simples ou qualificados, com a nova


redação dada à LCH pela Lei 12.015/09, que alterou os crimes contra a liberdade sexual,
fazendo agora menção expressa na LCH às figuras dos caput e parágrafos, para não deixar
mais qualquer dúvida. Antes se discutia se os antigos estupro e antentado violento ao pudor
eram hediondos nas formas simples também ou somente nas qualificadas. Essa questão foi
solucionada pela Lei 12.015/09.

Obs. 4 - Envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal (art. 270


c/c 285, CP) - Não é mais crime hediondo (Lei 8930/94).

Obs. 5 - Homicídio - Só o homicídio qualificado e aquele cometido em atividade típica de


grupo de extermínio é hediondo (Lei 8930/94).

Não são hediondos - homicídio simples, homicídio privilegiado, homicídio privilegiado e


qualificado, e homicídio culposo.

Obs. A Lei 13.964/19 (Lei Anticrime) incluiu nos incisos do parêntesis um inciso VIII, como
se fosse uma nova qualificadora. Acontece que essa lei ia incluir essa qualificadora no
homicídio, mas foi vetado. Então não haveria tal qualificadora (homicídio com uso de arma de
fogo de uso restrito ou proibido). ENTRETANTO, o Congresso Nacional, 16 meses depois,
derrubou o veto do Presidente da República e então há essa nova qualificadora e crime
hediondo.

Obs. 6 – ARTIGO 218 – B, CP – Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual


de criança ou adolescente ou de vulnerável (artigo 218 – B, “caput” e §§ 1º. e 2º., CP) – CRIME
HEDIONDO (artigo 1º., VIII – nova redação dada pela Lei 12.978/14).

Obs. 7- Lesão corporal gravíssima e Lesão corporal seguida de morte, tendo por vítimas agentes de
segurança pública e forças armadas ou seus cônjuges, companheiros ou parentes até o 3º. Grau, devido
ao exercício ou em razão das funções, são agora crimes hediondos, nos termos do artigo 1º., I – A, da
Lei 8072/90, conforme nova redação dada pela Lei 13.142/15. Os demais casos de lesões corporais não
são hediondos e mesmo as gravíssimas e seguidas de morte só o são com os sujeitos passivos acima
mencionados e ainda tendo o elemento subjetivo que motiva a agressão como sendo o exercício ou em
razão das funções do agente público.

Obs. 8 – O STF reconheceu que o Tráfico de Drogas Privilegiado não é crime hediondo. Agora
também isso ganha grande reforço legal pois o artigo 112, §5º., da LEP (Lei 7.210/94) ganha a
afirmação de que “não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico
de drogas previsto no §4º., do art. 33 da Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006”, nova redação dada pela
Lei 13.964/19.
Obs. 9 – O crime de porte ou posse ilegal de arma de fogo de uso proibido o (artigo 16, § 2º., da Lei
10.826/03 – Estatuto do Desarmamento), é agora crime hediondo, conforme alteração promovida pela
Lei 13.964/19. Também os casos equiparados do atual § 1º., serão hediondos desde que se refiram a
armas de uso proibido (Este é o entendimento do STJ, HC 525.249 RS, Rel. Min. Laurita Vaz). Não
são hediondos a posse ou porte de armas de fogo de uso restrito. Também foram erigidos a hediondos o
comércio ilegal interno de armas de fogo (artigo 17 do Estatuto) e o tráfico internacional de armas de
fogo (artigo 18 do mesmo diploma).

Obs. 10 – A Lei 13.964/19 ampliou os casos de roubo como crime hediondo. Antes era somente o
latrocínio, sendo que a Lei 8.072/90 era a única que mencionava a palavra “latrocínio”. Na nova redação
o roubo qualificado pela morte continua hediondo, mas não se usa mais a palavra “latrocínio” na lei.
Também se torna hediondo o roubo qualificado por lesões graves ou gravíssimas, o roubo com aumento
de pena devido à restrição da liberdade da vítima (artigo 157, § 2º., V, CP), o roubo perpetrado com
emprego de arma de fogo (artigo 157, § 2º. – A, I, CP), e o roubo perpetrado com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido (artigo 157, § 2º. – B, CP).

Obs. 11- O crime de extorsão passa a ser hediondo somente quando houver também sequestro
(“sequestro – relâmpago”). Nesse caso, mesmo não havendo lesões ou havendo lesões leves, havendo
lesões graves ou gravíssimas ou morte. Mas, o artigo 158, § 2º., CP (extorsão com resultado morte, sem
sequestro, deixa de ser crime hediondo, por força da Lei 13.964/19).

Obs. 12 – Agora, com a Lei 13.964/19 passa a existir uma modalidade de furto hedionda. Trata-se do
furto qualificado pelo emprego de explosivos (artigo 155, § 4º. – A, CP). Note-se que o furto de
explosivos (artigo 155, § 7º., CP) não é hediondo. Incrivelmente, também não são hediondos o roubo
com emprego de explosivos e o roubo de explosivos!

Obs. 13 – Passa a ser hediondo o crime de formação de Organização Criminosa com


vista à prática de crimes hediondos ou equiparados (artigo 2º., c/c artigo 1º., § 1º., da
Lei 12.850/13. Também é considerada hedionda a Organização Criminosa para a
prática de Terrorismo (artigo 3º., da Lei 13.260/13). Não há menção expressa a esse
crime na Lei dos Crimes hediondos, mas há na Lei 12.850/13, que trata também das
organizações terroristas, sendo o Terrorismo crime equiparado a hediondo.

D - VEDAÇÕES (art. 2°, I e II)

d. l - a) Anistia
b)Graça
c)Indulto
d)Fiança
e)Saída temporária (artigo 122, § 2º., LEP - Lei 7.210/84 com nova redação dada pela Lei
Anticrime – Lei 13.964/19 ) vedada nos casos de crimes hediondos com morte.

Obs. l - Anistia - Legislativo (Lei) + Geral

Graça - Executivo (Decreto) +


Individual

Indulto - Executivo (Decreto) +

Geral

Obs.2 – A lei anteriormente vedava também a liberdade provisória sem fiança.

Havia grande crítica na doutrina, sob a alegação de violação do princípio da

presunção de inocência e da regra da liberdade provisória. Após a entraga em

vigor da Lei 11.464/07, foi retirada a vedação da liberdade provisória sem

fiança, restando apenas a vedação da fiança.

d.2 - REGIME INTEGRAL FECHADO (art. 2°., § 1°.)

a) Não havia progressão de regime


b) Único benefício possível era o livramento condicional, que não é
regime de cumprimento de pena, mas antecipação da liberdade
mediante certas condições. No caso, só após cumprir 2/3 da pena.
c) Ver artigo 83, V, CP sobre o livramento condicional.
d) Não pode ser reincidente específico em crime da mesma natureza (Hediondo).
IMPORTANTE: Agora também é vedado o livramento condicional para o condenado
por crime hediondo com morte, mesmo primário, por força do artigo 112, VI, “a”, LEP
(Lei 7.210/84, com nova redação dada pela Lei 13.964/19).

Correntes :

a)Restrititva – subdividida em duas vertentes a.1)Os crimes não podem ser relativos ao
mesmo bem jurídico, mas podem ser diferentes (ex. Estupro e estupro de vulnerável);
a.2)Os crimes não podem ser idênticos (Ex. Estupro e Estupro).

b)Ampliativa – os crimes não podem ser hediondos ou equiparados, não importando


qual. Podem ser versando sobre o mesmo bem jurídico, iguais ou não. Ex. Estupro e
tráfico de drogas; Tortura e Homicídio qualificado etc. Essa corrente tem prevalecido.

Obs. No tráfico de drogas há norma especial que prevalece (artigo 44, Parágrafo Único,
da Lei 11.343/06) – só veda o livramento quando houver reincidência específica em
tráfico de drogas. Nesse caso temos a corrente restritiva aplicada excepcionalmente.

Obs. No entanto a Lei 11.464/06, após o STF finalmente reconhecer a inconstitucionalidade


do regime integral fechado, veio a permitir expressamente a progressão de regime em crimes
hediondos e equiparados, dando nova redação ao § 1º. do art. 2º. da Lei 8072/90 (“A pena
por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado”). A nova Lei
11.464/07 também tratou de regulamentar o sistema de progressão especial dos crimes
hediondos, estabalecendo no novo § 2º. o seguinte:
a)Progressão após o cumprimento de 2/5 da pena para os primários;

b)Progressão após o cumprimento de 3/5 da pena se reincidente;

OBS. O STF decidiu que mesmo o regime inicial fechado obrigatório previsto agora
na LCH é inconstitucional porque violaria a individualização da pena de acordo com o
artigo 33, CP.

No seguimento vem a Lei 13.769/18 e altera a parte final do artigo 2º. § 2º., da
LCH para permitir uma progressão de regime especial com o cumprimento de
apenas 1/8 (um oitavo) da pena, mesmo em casos de crimes hediondos ou
equiparados, desde que preenchidos os requisitos “cumulativos” previstos no
artigo 112, § 3º., da LEP (Lei 7210/84), quais sejam:

a)A presa (mulher) deve ser gestante ou mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência;

b)o crime não pode ser praticado com violência ou grave ameaça à pessoa;

c)cumprimento, como já dito, de ao menos 1/8 da pena no regime anterior;

d)a presa deve ser primária e ter bom comportamente carcerário, comprovado
por atestado firmado pelo Diretor do Estabelecimento Penitenciário;

e)A presa não pode integrar organização criminosa.

OBS. TUDO ISSO FOI REVOGADO PELA LEI 13.964/19, ADOTANDO-SE AS


NOVAS REGRAS DO ARTIGO 112, LEP (LEI 7210/84) E AINDA
MANTENDO O DISPOSTO NO ARTIGO 112, § 3º., LEP PARA MULHERES
NAQUELAS CONDIÇÕES, MESMO EM CRIMES HEDIONDOS, EMBORA
ESSE TEMA POSSA SER POLÊMICO.

E - PENAS ALTERNATIVAS (ART. 44, CP)

A LCH é silente a respeito. O entendimento predominante é que cabe a aplicação


de penas alternativas (STF e STJ). Esse entendimento mudou, porque antes os tribunais
julgavam pelo não cabimento, vez que:

- Não satisfaria o requisito subjetivo previsto no art. 44, III, CP.


F - SURSIS - IDEM SUPRA.

G- DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE (ART. 2°., § 3°. ) -

É possível por decisão fundamentada do Juiz.

H - PRISÃO TEMPORÁRIA (ART. 2°., § 4°.)

- Crimes Comuns - 5 dias renováveis por igual período (Lei 7960/89 - art. 2º.

- Crimes Hediondos e Equiparados - 30 dias renováveis por igual período (art. 2°.,
§ 3°. LCH).

I – ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA (art. 8°.)

a) Associação criminosa de crimes comuns - art. 288, CP (3 ou mais pessoas).


b) Associação criminosa de crimes hediondos ou equiparados - art. 288, CP c/c art. 8°. ,
LCH (3 ou mais pessoas).

Obs. l - EXCEÇÃO – Associação criminosa para cometer "extorsão mediante seqüestro"


(art. 159, § 1°., CP - não aplica o tipo penal de associação criminosa porque já é uma
qualifícadora do crime. A aplicação configuraria "bis in idem".

Para os entorpecentes aplica-se o artigo 35 da Lei 11.343/06 (duas ou mais pessoas).

Para o Genocídio aplica-se o artigo 2º., da Lei 2889/56 (quatro ou mais pessoas). Há discussão
doutrinária sobre se o artigo 8º., da LCH teria revogado o dispositivo da Lei de Genocídio. Para
Alberto Silva Franco sim. Já para Rogério Greco, prevalece o dispositivo da Lei de Genocídio por
tratar-se de sistema especial. A Jurisprudência não se manifestou até o momento sobre o tema.

Há casos de organização criminosa, que são diferentes: Lei de Organização Criminosa (artigo 1º., §
1º. c/c artigo 2º., da Lei 12.850/13) e Lei de Terrorismo (artigo 3º.) – 4 ou mais pessoas.

J - AUMENTOS DE PENA - ver art. 9°. , LCH

Obs. Nos casos de estupro de vulnerável, com ou sem violência (artigo 217 – A, CP) o
aumento não é aplicado — configuraria "bis in idem". Esse entendimento é pacífico.

Obs. Com o surgimento da Lei 12.015/09 ocorreu uma divisão na doutrina com relação aos
aumentos de pena do artigo 9º., em relação aos demais casos:

a)Para alguns o artigo 9º. tornou-se inaplicável porque faz referência ao artigo 224, CP, hoje
revogado.

b)Para outros o antigo artigo 224, CP, teria continuidade no atual artigo 217-A e seu § 1º., CP, de
modo que, tirante os casos do próprio Estupro de Vulnerável (artigo 217 – A, CP), o aumento
poderia ser aplicado, tendo em vista o fenômeno da “continuidade normativo – típica”.

Ver para aprofundamento do tema: JOVELI, José Luiz. Breves considerações sobre a noviça Lei
no. 12.015/2009. Disponível em www.jusnavigandi.com.br . E também: ARAÚJO, Tiago
Lustosa Luna de. Os novos crimes de estupro. Apontamentos sobre as modificações
implementadas pela Lei 12.015/2009. Disponível em www.jusnavigandi.com.br. FERREIRA,
Dario Reisinger. A influência da Lei n. 12.015/2009 sobre as causas de aumento de pena na Lei
dos Crimes Hediondos (Lei n. 8072/90). Disponível em www.jusnavigandi.com.br .

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