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AS 12
FORÇAS
TECNOLÓGICAS
QUE MUDARÃO
NOSSO
MUNDO
Kevin Kelly
Tradução:
Cristina Yamagami
Uma publicação da
PREFÁCIO À
EDIÇÃO BRASILEIRA
LU I S R A S Q U I L H A*
O F UT UR O É UM A CA I X A P R E TA ?
N
unca se falou tanto de futuro como agora. Nunca a sociedade e
o mundo ficaram tão atentos e preocupados com o que está por
vir como agora. Não só futuristas, mas também professores, con-
sultores, profissionais das mais variadas áreas, dedicam-se ao estudo
das mudanças que surgirão e não se limitando a identificar os padrões;
eles sobretudo buscam mapear os cenários da transformação no futuro.
A velocidade em que o planeta gira tem subido drasticamente nos
últimos anos. Alguns já chamam estes tempos de “a era exponencial“,
tal é a celeridade com que as mudanças ocorrem e as evoluções acon-
tecem. Temos uma ideia do que estamos vivenciando quando lembra-
mos que o telefone levou 75 anos para chegar a 50 milhões de pessoas,
a rádio, 38 anos, a televisão, 13, a internet, 4, o iPhone (que completou
10 anos no início de 2017), apenas 3 e, mais recentemente, o Instagram,
2 anos, o Angry Birds, 35 dias e o Pokémon Go, apenas 15 dias.
O que aconteceu para que tudo tenha mudado de repente? (Na histó-
ria da humanidade, pouco mais de uma década é de repente.) Já pensou
que em apenas 15 ou 20 anos deixamos de enviar carta por correio, fax,
telex, fitas K-7? Encostamos nossas fitas VHS, nossos computadores
VI | I N E V I T Á V E L
I N T R O D U Ç ÃO 03
1. TO R N A R - S E 13
2. COGNIFICAR 33
3. F LU I R 67
4. V I S UA L I Z A R 91
5. AC E S S A R 117
6. C O M PA R T I L H A R 145
7. F I LT R A R 177
8. R E M I X A R 207
9. I N T E R A G I R 227
1 0. R A S T R E A R 255
1 1. Q U E S T I O N A R 289
1 2 . C O M EÇ A R 311
AG R A D E C I M E N TO S 319
N O TA S 321
Í N D I C E R E M I S S I VO 339
INTRODUÇÃO
Q
uando eu tinha 13 anos, meu pai me levou para visitar uma feira
de informática em Atlantic City, Nova Jersey. Era o ano de 1965
e ele estava muito empolgado com aquelas máquinas do tama-
nho de uma sala produzidas pelas corporações mais competentes dos
Estados Unidos, como a IBM. Meu pai acreditava no progresso e aque-
les primeiríssimos computadores eram vislumbres do futuro imaginado
por ele. No entanto, eu, adolescente típico que fui, não me impressio-
nei. Os computadores que enchiam o cavernoso galpão de exposições
eram uma chatice. Não havia nada para ver lá, exceto alguns hectares
de gabinetes de metal retangulares e estáticos. Nem um único monitor
cintilante à vista. Os computadores não entendiam a fala e muito me-
nos falavam. A única coisa que aquelas máquinas conseguiam fazer era
imprimir linhas e mais linhas de números acinzentados em um longo
papel dobrado. Eu era um ávido fã de livros de ficção científica, por-
tanto sabia muito sobre computadores. E, de acordo com todo o meu
conhecimento, aquelas máquinas não eram computadores de verdade.
Em 1981, tive a chance de usar um computador Apple II em um
laboratório de ciências da University of Georgia, onde trabalhava na
época. O equipamento tinha um minúsculo monitor preto capaz de exi-
bir textos em letras e números verdes, mas aquela tecnologia também
não me impressionou. Até dava para digitar melhor do que em uma
máquina de escrever, e a máquina se provava genial na representação
gráfica de números e no monitoramento de dados. Contudo, ainda não
4 | INEVITÁVEL
D
emorou 60 anos, mas finalmente tive uma epifania: tudo, sem
exceção, requer ordem e energia adicionais para se manter. Eu
já sabia disso em termos abstratos, com base na famosa segunda
lei da termodinâmica, que afirma que tudo está se desfazendo lenta-
mente. Essa percepção não se deve só à lamúria de um homem enve-
lhecendo. Aprendi há muito tempo que até as coisas mais inanimadas
que conhecemos – rochas, colunas de ferro, tubos de cobre, estradas de
cascalho, folhas de papel – não duram muito sem atenção, conserto e
o dedicação extra. A existência, ao que parece, é em grande parte uma
questão de manutenção.
O que me surpreendeu recentemente foi perceber a extensão em que
até o intangível é instável. Manter um site na internet ou um programa
de computador em operação é como manter um barco flutuando. É um
buraco negro que não para de sugar nossa atenção. Consigo entender
por que um dispositivo mecânico como a bomba-d’água quebra depois
de um tempo: à medida que a umidade enferruja o metal, o ar oxida
as peças ou os lubrificantes evaporam – eis o motivo de todo esse sis-
tema requerer manutenção. No entanto, não imaginava que o mundo
imaterial dos bits também pode se degradar. O que há para quebrar?
Aparentemente, tudo.
Computadores novinhos em folha vão se ossificar. Apps enfraque-
cem com o uso. Códigos se corroem. Um software que acabou de ser
lançado começa imediatamente a se degenerar. Tudo por conta própria,
14 | I N E V I T Á V E L