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A Interdisciplinaridade Do Método Exegético Bíblico
A Interdisciplinaridade Do Método Exegético Bíblico
Resumo
Abstract
The article aims to show the interdisciplinary method exegetic in the Bible. The various fields
of knowledge such as History, Sociology, Theology, Linguistics and others are combined in
the method exegetic giving an interdisciplinary character, while ensuring the existence of
biblical analysis tool, since only making use of only one of the areas would difficult to further
research.
INTRODUÇÃO
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uma série de textos e os distribuiu, principalmente nos Estados Unidos, sob o título de The
Fundamentals: a testimony to the thruth. “O termo fundamentalista apareceu primeiro em
1920 para descrever aqueles que subscreveram os “fundamentos” da fé cristã, especialmente
as doutrinas promulgadas em 12 volumes intituladas como “Os Fundamentos.” (COOGAN;
METZGERR, 1993, p. 236). De acordo com esse movimento, esses textos continham
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INTERDISCIPLINARIDADE E O DIÁLOGO COM A BÍBLIA
O conceito ainda não está muito claro, chegando até mesmo a se confundir com outros
termos como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade. Poderíamos dizer que
interdisciplinaridade é o diálogo entre as várias ciências com a finalidade de melhor conhecer
um outro objeto de estudo. No nosso caso, o objeto de estudo, o texto bíblico, precisa ser
compreendido da maneira mais ampla possível.
Os métodos exegéticos mais usados são o histórico crítico e sociológico. Mas isso não
quer dizer que esses são os únicos métodos. O método é apenas um caminho para se chegar a
um resultado. Na análise dos métodos propostos (histórico crítico e sociológico),
verificaremos que o próprio método já contém em si várias divisões que fazem uso de outros
campos de conhecimentos. O método é um conjunto de técnicas. Portanto, a
interdisciplinaridade já existe no próprio método exegético que utilizamos. Ao traduzirmos
texto bíblico, a análise de uma simples palavra pode envolver conhecimento semântico,
conhecimento filológico e de forma mais ampla, na parte hermenêutica, a contribuição da
História e da Sociologia se tornam indispensáveis. Portanto, no primeiro passo exegético
[crítica textual] já é possível percebermos a importância da interdisciplinaridade, porque os
métodos exegéticos “[...] são conjuntos de ferramentas para compreender um texto com a
maior quantidade possível de elementos: o texto como uma unidade, a história desse texto,
sua origem e sua formação, sua forma, sua linguagem, suas idéias e conceitos, sua
mensagem.” (KRÜGER; CROATTO, 1996, p. 11).
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pluridisciplinaridade. Portanto, pluridisciplinaridade seria a análise de um tema aplicando à
metodologia de cada ciência.
Na verdade, na maioria das vezes, temos apenas o assunto, o objeto de estudo, mas não
estamos inseridos num grupo de estudo e pesquisa, por isso, só apontaremos aspectos que
poderão ser abordados e aprofundados por outras ciências, sendo assim, geralmente usamos o
conhecimentos de outras áreas de forma muito superficial. De acordo com Hilton Japiassu
(1976, p. 125-134), para que o método interdisciplinar seja realmente aplicado é necessário
seguirmos alguns passos: 1. constituição de uma equipe de trabalho; 2. estabelecimento de
conceitos-chaves; 3. estabelecimento da problemática da pesquisa; 4. repartição das tarefas; 5.
colocar em comum todos os dados ou resultados parciais coletados pelos diferentes
especialistas. Se esses procedimentos não forem tomados, não teremos uma pesquisa
interdiciplinar, porque um pesquisador não terá a pretensão nem se aventurará em atuar em
todas as áreas.
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INTERDISCIPLINARIDADE E O MÉTODO HISTÓRICO CRÍTICO
Como já foi dito, a análise dos textos bíblicos hoje, reconhece o método histórico crítico
e sociológico, como os instrumentos mais usados para se aprofundar na interpretação bíblica.
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do método histórico crítico não é possível compreender de forma mais ampla o texto. Se
realizarmos só o primeiro passo [crítica textual], reconstruindo o texto que consideramos mais
original, e se pararmos aí, que valor tem isso? Para a compreensão ampla do texto, nenhum.
Pois uma fase está comprometida com a outra. No entanto, há quem faça uso de apenas uma
das fases com o objetivo de descobrir, por exemplo, as tradições que estão por trás de
determinados assuntos. É o caso de DODD (1986); ele estuda as tradições que deram origem
ao querígma da Igreja e para isso ele aplica o método redacional.
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a outros setores da ciência Linguística como método estruturalista [busca o sentido do texto
no próprio texto, porque o texto é entendido como um complexo de relações], Semântica
[ciência que estuda os significados dos signos e suas combinações] e Pragmática [estuda a
função do texto, ou seja, com que objetivo foi escrito tal texto]. “O texto é considerado antes
de tudo sob o aspecto sincrônico, como uma estrutura [quantidade ordenada de elementos] e
como parte de uma complexa situação de comunicação, de ação e de vida.” (EGGER, 1994).
O terceiro passo é a crítica das formas, “[...] começa sua problemática perguntado
pelas formas literárias e pré-literárias em sua evolução histórica.” (ZILMMERMANN, 1969,
p. 132). Além disso, procura determinar o gênero literário e a forma que está sendo usado.
Parte-se do pressuposto de que os escritos bíblicos contém vários gêneros literários e por trás
desses gêneros há comunidades específicas que também possuem histórias específicas. Estes
são os três pilares básicos que constituem fundamentalmente o método histórico crítico.
Cremos que este deve ter sido o ponta-pé inicial para uma comunicação e nova
interpretação dos textos bíblicos em diálogo com outras ciências. Antes disso, os textos
bíblicos estavam amparados, protegidos pelo dogma e pela interpretação da própria Igreja
Católica e depois Protestantes. Portanto, qualquer interpretação que viesse pôr em dúvida as
verdades da Igreja seria rechaçada. O método histórico crítico rompe com essa tradição.
Não é nosso objetivo explicar o método sociológico,4 mas apenas mostrar aspectos
desse método e constatar em que momento a interdisciplinaridade é ser utilizada e como as
várias ciências se complementam no estudo do texto bíblico.
O método sociológico é também conhecido como leitura dos quatro lados, porque tem
como suporte fundamental de análise os aspectos: 1. econômico, 2. político, 3. social e 4.
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ideológico. Esse método, como o anterior, procura em outras ciências a cooperação na análise
dos textos bíblicos. Sociologia e História são fundamentais para o desenvolvimento do
conhecimento e interpretação bíblica.
Importante, também, é saber a partir de quem a história está sendo contada. Quando
analisamos sociologicamente um texto não estamos aplicando um método específico de cada
área, ou seja, quando analisamos a economia não estamos aplicando os métodos da economia
para extrair o máximo possível desse texto. Na verdade, trabalhamos com informações gerais
que estão presentes na maioria dos livros de história quando descreve a situação social ou
características daquele período ou sociedade.
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método usa expressões como: classes sociais, modo de produção, ideologia, estrutura de
dominação. Além do mais, está preocupado com os conflitos que ocorrem no interior do texto,
por isso será relevante descobrir a partir de onde o texto foi produzido. Será importante
estudar o mundo contemporâneo do Antigo e Novo Testamento. Assim, percebemos o quanto
é importante o conhecimento da História, da Sociologia e mesmo da Filosofia. Como
dissemos, a história bíblica se desenvolve em contextos específicos como: o Oriente, e, mais
especificamente, o contexto das grandes dominações, como a Babilônica, a cultura grega, a
romana, etc. Portanto, investigar a história e a literatura antiga é uma obrigação. Nesse
sentido, os métodos empregados para análise dos textos bíblicos são os mesmos que se
aplicam à outros textos antigos.
[...] pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integração das
disciplinas num mesmo projeto de pesquisa. Em termos de
interdisciplinaridade ter-se-ia uma relação de reciprocidade, de mutualidade,
ou melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de interação, que irá
possibilitar o diálogo entre os interessados [...]. A interdisciplinaridade
depende então, basicamente, de uma mudança de atitude perante o problema
do conhecimento, da substituição de uma concepção fragmentária pela
unitária do ser humano. (FAZENDA, 1992, p. 31).
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transformá-lo. Portanto, o método sociológico delimita alguns conceitos e a partir daí a
pesquisa se desenvolve. É natural que isso aconteça porque se não fosse assim não haveria
como avançar na pesquisa já que os conceitos variam muito.
O estudo dos textos bíblicos se torna complicado porque não existe uma metodologia
especificamente bíblica. “A exegese é uma disciplina teológica, não pelo seu método, mas
pelo seu objeto.” (STENGER, 1990, p. 14). Cada parte do método exegético se constitui numa
ciência independente, mas ao mesmo tempo interrelacionada, pois, isoladas não conseguem
explicar o texto de forma completa. Portanto, quando fazemos exegese aplicamos métodos.
CONCLUSÃO
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Interdisciplinaridade pode se dar tanto na integração de métodos quanto no domínio de
alguns conceitos básicos de outras ciências. “Talvez fosse mais adequado dizer que as
ciências têm algum tipo de relação umas com as outras, por força de recortes que, ao longo
dos tempos, são feitos sobre a realidade física e social, no sentido de melhor conhecer o todo e
mesmo as partes.” (BOCHNIAK, 1998, p. 37).
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NOTAS
1
De acordo com o professor Antonio Gouvêa Mendonça em: Introdução ao Prostestantismo
no Brasil, São Paulo: Loyola/IEPGCR, 1990, p. 139-140, o objetivo do fundamentalismo é
preservar as bases da fé cristã contra novas formas de pensamento. Surgiu como reação ao
liberalismo do século XIX. Em relação à Bíblia assume posições radicais: inerrância quanto
aos manuscritos originais, está fora de cogitação qualquer forma de contextualização da
Bíblia, reage ao movimento do Jesus histórico ou qualquer outra afirmação que tenha como
ponto de partida a humanidade de Cristo, Deus está sempre intervindo na história mas
sempre através de atos sobrenaturais.
2
As principais fases do método histórico crítico de acordo com Heinrich Zimmermann. Los
métodos histórico críticos en el Nuevo Testamento. Biblioteca de autores cristianos, Madrid,
1969, são os seguintes: crítica textual, crítica literária, história das formas e história da
redação. Já Severino Croatto e René Krüger, op. cit. p.14, apresentam outra ordem: critica
textual, filologia, crítica literária, crítica e história das formas, crítica e história das tradições,
Crítica, história da redação e análises, exegese ou leitura sociológica.
3
Entendemos que a linguística tem como estudo o conjunto de estruturas fonológicas,
morfológicas e sintáxicas.
4
Para quem deseja conhecer o método sociológico recomendamos os trabalhos de: Uwe
Weger. A leitura bíblica por meio do método sociológico. Mosaicos da Bíblia, São Paulo, n.
12, 1993.
REFERÊNCIAS
COOGAN, Michael D.; METZGER, Bruce M. The Oxford Companion to the Bible.
Oxford: Oxford University Press, 1993.
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DA SILVA, César Camargo. A força político-sacralizadora do fundamentalismo EUA
(1880-1930). 1989. f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião)- Instituto Ecumênico
de Pós-Graduação em Ciências da Religião, Instituto Metodista de Ensino Superior, São
Bernardo do Campo, 1989.
KELLER, Werner. ...E a Bíblia tinha razão. São Paulo: Círculo do Livro, 1978.
SILVA, Ailton José da. Leitura sociológica da Bíblia. Estudos Bíblicos, v. 32, 1992.
VOLKMANN, Martin. Origem do método histórico crítico. São Paulo: CEDI, 1992.
(Leituras da Bíblia, 4).
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VOLKMANN, Martin; DOBBERAHN, Friederich Erich; CÉSAR, Ely Éser Barreto. Método
histórico crítico. São Paulo: CEDI, 1992.
WEGNER, Uwe. A leitura bíblica por meio do método sociológico. São Paulo: CEDI,
1993. (Mosaicos da Bíblia, 12).
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