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EFEITO DA IDADE SOBRE A EMERGÊNCIA E VIGOR DE SEMENTES DE

MARACUJÁ-AMARELO1

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA2, RUBENS SADER2 e REINALDO ANTONIO ZAMPIERI3

Revista Brasileira de Sementes, vol. 06, nº 2, p. 37-44, 1984

RESUMO. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito da idade sobre a emergência e
vigor de sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.). As sementes
utilizadas no ensaio foram extraídas dos frutos e submetidas a um processo de degomagem natural,
secas à sombra e armazenadas em câmara seca com umidade controlada e temperatura ambiente,
desde o ano de 1972 até 1982, constituindo-se os anos de coleta nos diferentes tratamentos. O
ensaio foi conduzido em casa de vegetação, com temperatura e umidade do ar registradas por um
termohigrógrafo. A emergência foi avaliada utilizando-se, como substrato, areia peneirada e
esterilizada, contando-se, após o 20o dia, a cada três dias, o número de plântulas emergidas. Os
seguintes testes de vigor foram também aplicados: índice de velocidade de emergência,
comprimento da plântula, do hipocótilo, da raiz primária e conteúdo de matéria seca. A análise dos
resultados obtidos permitiu chegar às seguintes conclusões: 1) a idade das sementes de maracujá-
amarelo influiu, efetivamente, sobre a capacidade de emergência e vigor das mesmas; 2) sementes
de maracujá-amarelo, armazenadas durante cinco anos, mostraram-se viáveis, nas condições a que
foram submetidas, apresentando porcentagem de emergência superior a 50%, com exceção do ano
de 1981, que apresentou 36%.

Termos para indexação: emergência, viabilidade, Passiflora edulis

EFFECT OF THE SEED AGE ON THE EMERGENCE AND VIGOR OF YELLOW


PASSION FRUIT

ABSTRACT. The objective of this research was to evaluate the age effect on the emergence and
vigor of yellow passion fruit (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.) seeds. Seeds extracted from
the fruits and submitted to a natural fermentation process were used after shade dried and stored in a
dry chamber provided with controlled moisture and environmental temperature. Seeds collected
from 1972 to 1982, were considered as the treatments of this study. The experiment, conducted at
greenhouse conditions, was periodically evaluated (every 3 days after 20 days of planting),
concerning seedling emergence an vigor that was expressed by: speed of emergence, seedling
length, hypocotyl length, primary root length and seedling dry weight content. The following
conclusions were obtained: 1) the age of the yellow passion fruit seeds effectively influences the
emergence and the vigor of the seedlings; 2) the viability of seeds were maintained superior to 50
percent of germination during five years at dry chamber conditions, except for the 1981 year.

Index terms: viability, emergence, Passiflora edulis

INTRODUÇÃO

A propagação do maracujazeiro é usualmente efetuada através de sementes. Segundo Pizza


Júnior (1966), o período de viabilidade das sementes de maracujá-amarelo é relativamente curto,

1
Trabalho de Graduação apresentado no ano de 1982 à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias “Campus” de
Jaboticabal UNESP (FCAVJ-UNESP).
2
Respectivamente, Professor Adjunto e Professor Assistente, Doutor, do Departamento de Fitotecnia, da FCAVJ-
UNESP.
3
Acadêmico de Agronomia, da FCAVJ-UNESP.
não ultrapassando um ano. Pruthy e Lal, citados por Pizza Júnior (1966), verificaram que sementes
de maracujá-amarelo armazenadas em temperatura ambiente apresentavam após um ano de
armazenamento, um poder germinativo variando entre 23 a 36%. Akamine et al., citados por Pizza
Júnior (1966), verificaram que sementes de frutos, quando conservadas a 13oC durante dois meses,
não apresentaram influência sobre a germinação; mas, quando submetidas a temperaturas inferiores,
a germinação foi mais lenta e, quando congeladas, as sementes morreram.
Segundo Costa et al. (1974), as sementes de Passiflora edulis f. flavicapa não devem sofrer
um período de armazenamento superior a 240 dias, pois, quando esse tempo é ultrapassado, o poder
germinativo cai a níveis inferiores a 50%.
Geraldi Júnior (1974) armazenou sementes de maracujá-amarelo em meio ambiente e câmara
seca com umidade relativa de 30 a 40%, sem controle de temperatura, e observou que, após 18
meses, a porcentagem de germinação foi de 16,5% no primeiro caso, enquanto que no segundo, esta
porcentagem foi de 31,5%.
O estudo da perda de viabilidade e vigor da semente, à medida que a mesma envelhece,
forneceria informações bastante valiosas à preservação e reposição das mesmas em bancos de
germoplasma.
Assim, devido ao reduzido período de viabilidade da semente de maracujazeiro e sua perda de
qualidade ao longo do período de armazenamento, desenvolveu-se a presente pesquisa, cujo
objetivo foi o de estudar o efeito da idade sobre a capacidade germinativa e vigor de sementes de
maracujá-amarelo.

MATERIAL E MÉTODOS

As sementes utilizadas neste experimento foram obtidas de frutos colhidos na Área


Experimental do Campus de Jaboticabal - UNESP, nos meses de fevereiro a maio, desde o ano de
1972 até 1982, excetuando-se o ano de 1974. Os frutos foram colhidos de plantas sadias e as
sementes foram obtidas de acordo com Carvalho (1974). Após a secagem, foram acondicionadas em
saco de papel e colocadas em câmara seca com temperatura ambiente e umidade relativa do ar
controlada, entre 40 e 45%, constituindo-se na forma utilizada de armazenamento no decorrer dos
anos.
Posteriormente, as sementes foram postas a germinar, avaliando-se a emergência
propriamente dita. Os parâmetros usados para avaliação de vigor foram: índice de velocidade de
emergência, tamanho da plântula e conteúdo de matéria seca das mesmas.
No teste de germinação, utilizou-se, como substrato, areia esterilizada a 120oC durante 24
horas, sendo as sementes colocadas para germinar em recipientes de plástico. Cada ano de coleta
constituiu-se em um tratamento com quatro repetições de 50 sementes, conduzidos em casa de
vegetação, cuja temperatura e umidade foram computadas através de um termohigrógrafo instalado
no local do experimento. A instalação do experimento deu-se em 13/06/82 e as avaliações de
emergência das sementes começaram a ser feitas a partir do 20o dia, quando surgiram as primeiras
plântulas emergidas. Consideraram-se plantas emergidas aquelas cujo hipocótilo estava 0,5cm
acima da superfície da areia.
As avaliações foram feitas a cada três dias, sendo a contagem final feita aos 45 dias após a
instalação do teste. Nas Regras para Análise de Sementes (BRASIL. Ministério da Agricultura,
1980) não há especificação de qualquer procedimento para o teste de germinação com sementes de
maracujá-amarelo. Os dados originais de percentagem de emergência foram transformados em arc
sen x / 100 , e analisados estatisticamente.
Após a instalação do teste, foram efetuadas avaliações para o cálculo do índice de velocidade
e emergência, sendo as contagens feitas inicialmente aos 20 dias e repetidas a cada 3 dias até o final
do teste (45 dias). Os cálculos foram feitos posteriormente, utilizando-se fórmula proposta por
Maguire (1962):
I.V.E. = ∑i =1Di , onde:
Ni

I.V.E. = Índice de Velocidade de Emergência


Ni = Número de plântulas emergidas no enézimo dia.
Di = Número de dias após a semeadura.

No final do teste, foram tomadas ao acaso seis plântulas por parcela, medindo-se o seu
comprimento total, o comprimento do hipocótilo e o comprimento das raízes primárias. O conteúdo
de matéria seca das plântulas foi avaliado ao final do teste, quando foram tomadas dez plântulas ao
acaso por parcela, colocadas em estufa com temperatura entre 60 e 65oC, até peso constante das
mesmas.
O delineamento experimental utilizado foi o de inteiramente casualizado, constituído por dez
tratamentos representando os anos de colheita, de 1972 e 1982, considerados em quatro repetições,
sendo usado o teste de Tukey para comparação de médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados médios obtidos, referentes à porcentagem de emergência, ao índice de


velocidade de emergência, ao comprimento da plântula e ao conteúdo de matéria seca, bem como as
análises de variância, encontram-se na Tabela 1.

EMERGÊNCIA

Os valores da porcentagem de emergência foram, de um modo geral, superiores aos


observados por Pope (1936), Akamine et al. (1956), Pruthi & Lal (1954), citados por Pizza Júnior
(1966), Costa et al. (1974) e Geraldi Junior (1974).
Houve efeito significativo da idade da semente sobre a porcentagem de emergência, conforme
se observa na Tabela 1. Pelo teste de Tukey, verificou-se que o ano de 1979 foi significativamente
superior aos demais, já os anos de 1977, 1978, 1980 e 1982 não diferiram entre si; o ano de 1981
não diferiu do de 1977, mas diferiu dos demais.
VIGOR

Índice de Velocidade de Emergência - A idade das sementes influiu significativamente


sobre o índice de velocidade de emergência. O ano de 1979 foi significativamente superior, seguido
pelos anos de 1980 e 1982 que não diferiram entre si. Esse comportamento é verificado também nos
anos de 1977 e 1978. O ano de 1981 não diferiu do ano de 1977, mas diferiu dos demais e mostrou-
se também o menos vigoroso.

Comprimento da Plântula - Houve efeito significativo da idade das sementes sobre o


comprimento da plântula, de acordo com o teste de Tukey a 5%. Observou-se que o ano de 1982 foi
significativamente superior aos demais, embora não diferindo dos anos de 1979 e 1980; os anos de
1979, 1980 e 1981 não diferiram entre si, bem como os anos de 1978, 1979 e 1981 e os anos de
1977, 1978 e 1981. O ano de 1977 é o que apresentou um menor vigor, levando-se em consideração
esse fator.

Comprimento do Hipocótilo - A idade das sementes influiu significativamente sobre o


comprimento médio do hipocótilo. O teste de Tukey mostrou que o ano de 1982 foi
significativamente superior aos demais, portanto o mais vigoroso; os anos de 1977, 1979, 1980 e
1981 não diferiram entre si; o ano de 1978 não diferiu do ano de 1977, mas diferiu de todos os
demais, mostrando-se o menos vigoroso na análise desse parâmetro.

Comprimento da Raiz Primária - A idade das sementes influiu significativamente sobre o


comprimento médio da raiz primária. A comparação das médias pelo teste de Tukey mostrou que os
anos de 1978, 1979, 1980, 1981 e 1982 não diferiram entre si, destacando-se os anos de 1980 e
1982; os anos de 1977, 1978, 1979 e 1981 também não diferiram entre si, mas o ano de 1977
constitui-se no menos vigoroso, comparando-o com os demais.

Conteúdo de Matéria Seca - Houve efeito significativo da idade das sementes sobre o
conteúdo de matéria seca. Na comparação das médias, tem-se que os anos de 1979, 1980, 1981 e
1982 não diferiram entre si, destacando-se o ano de 1980 como o melhor, quando comparado aos
demais. Não diferiram entre si, também, os anos de 1978, 1979, 1981 e 1982, bem como os anos de
1977, 1978 e 1979, sendo o de 1977 o menos vigoroso.
Na condução desse experimento, verificou-se que as sementes de maracujá-amarelo, que
representaram os tratamentos de 1 a 4, estavam no estágio que corresponde ao menor vigor, pois,
não ocorrendo a germinação, a semente poderia estar viva, mas incapacitada de emergir, ou mesmo
estar morta. Esses tratamentos constituíram-se numa análise primária do processo de senescência
que, como se sabe, possui causas que são desconhecidas, mas efeitos que podem ser detectados.
De acordo com as análises estatísticas, nos tratamentos de 5 a 10, não se registrou um
comportamento padrão, ou seja, um decréscimo de germinação e vigor partindo das sementes mais
velhas. Daí jamais se poder avaliar qual a influência direta desses fatores sobre a senescência.
A avaliação sistemática das conseqüências que o envelhecimento provoca nas sementes de
maracujá-amarelo poderá auxiliar, de maneira efetiva, na busca de condições ideais de
armazenamento para que as características de alto vigor e germinação permaneçam por longos
períodos, permitindo manter a viabilidade das sementes em bancos de germoplasma.
Outro aspecto interessante observado foi que as sementes armazenadas durante cinco anos
ainda apresentavam alta taxa de emergência, pois, como foi mostrado na revisão de literatura, a
viabilidade das sementes decai rapidamente com o tempo de armazenamento. Essas informações
são principalmente importantes para a manutenção de um Banco de Germoplasma, pois, como já foi
anteriormente mencionado, existem dentro das espécies variações que merecem ser mantidas
integrais. A maior longevidade da semente torna mais flexível a manutenção de cultivares através
de sua multiplicação temporária, simplificando, assim, o trabalho desenvolvido na manutenção de
um Banco de Germoplasma.
CONCLUSÕES

• a idade das sementes de maracujá-amarelo (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Deg.)


influiu, efetivamente, sobre a capacidade de emergência e vigor das mesmas.
• sementes de maracujá-amarelo armazenadas em câmara seca com umidade controlada e
temperatura ambiente mostraram-se viáveis, por um período de cinco anos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Agricultura. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Regras para


análise de sementes. Brasília, 1980. 188p.

CARVALHO, A.M. Melhoramento cultural do maracujazeiro. In: SIMPÓSIO DA CULTURA DO


MARACUJÁ, 1, Campinas, 1971. Anais... Campinas, 1974. 9p.

COSTA, C.F.; OLIVEIRA, E.L.P.G. & LELLIS, W.T. Durabilidade do poder germinativo das
sementes de maracujá. B. Inst. Biol., Bahia, 13(1):76-84, 1974.

GERALDI JUNIOR, G. Estudo da germinação de sementes de maracujá amarelo (Passiflora


edulis Sims f. flavicarpa Deg.) armazenado sob duas condições. Jaboticabal, F.M.V.A., 1974.
22p. (Trabalho de Graduação).

McGUIRE, J.D. Speed of germination aid in selection and evaluation for seedling emergence and
vigor. Crop. Sci., (2):176-7, 1962.

PIZZA JÚNIOR, C.T. Cultura do maracujá. São Paulo: Secretaria da Agricultura, 1966. 102p.
(Boletim Técnico, 5).

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