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On $ALE = uma PEÇA em LIQUIDAÇÃO

E já que alguns amigos pediram...


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Aê vai a tal peça teatral que, em princípio, eu escrevi pras Satyrianas 2008.
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Boa leitura & DIVIRTAM-SE!!!..
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"On $ALE" é uma PEÇA dividida em SEIS veZes sem JUROS
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Primeira PARCELA
CAZÉ e CADU estão cara a cara e o clima é de uma TENSÃO absoluta.
CAZÉ – A polícia me deu mó baculejo na hora do RAPA, Cadu... Os filhos da puta me
levaram toda a mercadoria, eu fiquei sem nada.
CADU – E agora, Cazé?
CAZÉ – Agora eu tô fodido, cara... Não sei o que fazer.
CADU – Putz, meu... O dono dessa bosta aqui não pára de telefonar... Disse que, se a
gente não pagar o aluguel que tá devendo, é melhor dá no pé ou então ele fode com a
gente de vez. (Cadu tira algumas cédulas do bolso) Eu já consegui a minha parte do
combinado, véi... Tá aqui, ó! Só falta a tua agora.
CAZÉ – Eu não tenho nenhum puto, Cadu... Nada vezes nada!
SILÊNCIO e olhares APREENSIVOS.
CADU – Porque tu não vem comigo, Cazé?
CAZÉ – Pra onde, cara?
CADU – Ah, tu sabe muito bem...
CAZÉ – NÃO!!!
CADU – Deixa de ser otário, véi... A grana lá é boa, muito melhor do que ficar vendendo
muamba na rua e fugindo da polícia o tempo inteiro.
CAZÉ – Já disse que NÃO... Nem fodendo, viu!
BLECAUTE.

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Segunda PARCELA
Cadu está quase debruçado, quase de quatro, se contorcendo de dor. Cazé é a
perplexidade em pessoa.
CADU – Pára de ficar só olhando, cacete... Passa gelo, assopra, faz alguma coisa, porra!
CAZÉ – Puta que pariu, Cadu! Como é que tu deixa uma bicha velha foder com o teu
rabo assim, mano?
CADU – Ah, véi... Ele me disse que era só um fio-terra de leve...
CAZÉ – Fio-terra, mano?
CADU – É... Daí ele jogou duas notas de CEM na minha cara e eu fui no embalo... Ele
me deu um bagulho pra cheirar e, quando eu fui ver, o viado filho da puta já tava com a
metade do braço enfiado dentro do meu cu.
CAZÉ – E por que tu não caiu de porrada nessa maricona, cara?
CADU – Eu só pensei no cachê, véi.
CAZÉ – Pelo menos a grana que ele te pagou valeu o sacrifício?
CADU – E como valeu, véi... Toda vez que o viado metia o braço no meu rabo, ele
jogava mais uma nota de cem na minha cara.
CAZÉ – Jura?
CADU – Sem JUROS!
BLECAUTE.

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Terceira PARCELA
CADU – Eu vi na tevê, Cazé! Repetiram as imagens uma pá de vezes, tudo em câmara-
lenta, véi.
CAZÉ – Não, cara! Tu tá de sacanagem comigo... Isso não pode ser verdade.
CADU – Tu acha mesmo que eu ia brincar com uma coisa dessa, véi? Eles mostraram
tudo, tudinho... Passou tu e aqueles outros que ficam lá no centrão só catando a carteira
de tiozinho mané.
CAZÉ – Caralho... Agora fodeu tudo mesmo!!!
CADU – Tem câmera espalhada por tudo que é lugar nessa cidade, Cazé... Não dá mais
pra ficar dando mole por aí, não...
CAZÉ – Eu sei... Mas é que os caras me garantiram que essa parada era limpeza, saca?
CADU – Limpeza... Eu te disse pra tu não se meter com os caras daquele bando, não te
disse? Mó vacilo teu, véi!
CAZÉ – Ah, qual é, Cadu? Tu vai ficar agora detonando os meus chegados, brow?
CADU – Puta roubada esses carinhas aí... Todo mundo aqui da quebrada sabe que eles
são tudo um bando de escroto, que passam o rodo geral, não tão nem aí pra ninguém.
CAZÉ – E que moral tu tem pra falar dos caras, hã? Fica aí dando o RABO pra bicha
velha a noite toda e quer pagar de santinho do pau oco!
CADU – Ah, cala a boca, meu! Tu só fala merda...
CAZÉ – Cala a boca você, viado filho da puta!
CADU – Repete na minha cara o que tu acabou de dizer, babaca cuzão!
Cabeçadas e empurrões entre os dois.
CAZÉ – Não me empurra, cacete!
CADU – Quem é viado aqui, hein? Fala pra tu vê se eu não te quebro, ladrãozinho de
bosta, vacilão do caralho!
CAZÉ – Ah, vai tomar nesse teu rabo de cratera, vai, ô seu michê de um 1,99, consolo de
bicha da terceira idade...
Um avança em cima do outro, rolam pelo chão.
CADU – Repete o que tu disse aí, filho da puta!
CAZÉ – Viado!
De repente, um rasga a roupa do outro e se beijam com muito TESÃO.
BLECAUTE..

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Quarta PARCELA
SILÊNCIO e olhares CONSTRANGIDOS.
CAZÉ – Foi mal, cara... Não podia ter rolado o que rolou entre a gente ontem.
CADU – Eu nem sei do que tu tá falando, véi... Nem me lembro mais.
CAZÉ – Não lembra?
CADU (cortante) – Não!
SILÊNCIO e olhares ARISCOS.
CAZÉ (entre a raiva e a ironia) – Se tu tá puto desse jeito só porque eu não paguei o
teu cachê, então pode ficar sussa, cara, que eu te pago depois, belê!
CADU – Precisa não, véi. Eu sei que tu não tem nenhum puto pra pagar o meu preço.
Fica como uma amostra grátis, cortesia da casa.
SILÊNCIO e olhares VENCIDOS.
CAZÉ (como quem solta um grito preso entre os dentes) – Puta merda! Tá tudo dando
errado, brother. Eu não vim parar nessa cidade broxante pra levar uma vida assim, sem
nada, sem ter dinheiro nem pra comprar um churrasquinho de gato pra amansar a larica.
CADU – Pois é, véi... A vida é assim mesmo, ela não dá desconto. Tá tudo etiquetado
nesse mundo, leva quem paga mais.
CAZÉ – Paga mais, paga mais... Meu, tu só pensa nisso, né? Parece mais uma daquelas
máquinas de refri... É só enfiar uma moeda aí dentro que tá tudo certo.
CADU – Moeda de cu é rola, véi!
Cadu se prepara pra sair de cena mas é imediatamente interceptado por Cazé.
CAZÉ – Hei... Tu vai pra onde, hein?
CADU – Dá o rabo! Ou tu esqueceu que é assim que eu ganho a vida?
Mais uma vez Cadu tenta sair mas Cazé continua na frente dele.
CAZÉ – Não... Peraí!
CADU – Qual é, véi? Diz logo o que tu tem pra dizer e me deixa em paz, falô!
Por um instante os dois apenas se encaram, como se UM fosse o REFLEXO do
OUTRO.
CAZÉ (entre a humilhação e o desespero) – Tu tem algum troco aí pra me emprestar,
mano? Se eu não fumar qualquer bagulho agora eu juro que me mato.
BLECAUTE . .

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Quinta PARCELA
CAZÉ – Não agüento mais ficar de bobeira nesse muquifo de merda, sem fazer porra
nenhuma...
CADU – Relaxa, Cazé... Pode deixar que eu... Eu... Eu te banco!
CAZÉ – Não, cara! Eu sempre me virei sozinho, nunca precisei ficar encostado em
ninguém...
CADU – Véi... A polícia tá atrás de ti, neguinho ainda não esqueceu da tua cara...
CAZÉ – Mas isso aqui é pior do que cadeia, mano. Nunca me senti tão preso na vida.
CADU – É o preço da fama, véi... Quem mandou tu aparecer na televisão?!
CAZÉ – Ah, mano... Tá me tirando, é?
SILÊNCIO e olhares ANSIOSOS.
CADU – Hoje eu vou descolar uma grana do caralho, vai dar pra ficar de boa por uns
dois meses, tá ligado!
CAZÉ (entre o ciúme e a inveja) – Sorte a tua!
CADU – Vou sair com aquela bichona do fio-terra, lembra?
CAZÉ – Não, Cadu! Não me diga que tu...
CADU – Já é, brow! Ele me ligou oferecendo o dobro do meu cachê... E por esse valor
dá até pra encarar a fera de novo.
CAZÉ – Tu pirou, meu? A bicha quase detonou com o teu cú da vez passada, tu quase foi
parar no hospital!
CADU – Eu tenho que ir, não dá pra ficar jogando dinheiro fora.
CAZÉ – E não tem um outro jeito não?
CADU – Que jeito?
CAZÉ – Ah, sei lá... Um outro programa menos perigoso!?
CADU – Até que tem... Mas é que teria que rolar com mais um, saca? Uma vez um
cliente até me perguntou se eu tinha um parceiro ou qualquer coisa assim pra rolar um
sexo a três com ele.
CAZÉ – E se tu conseguir um outro cara pra ir junto contigo será que o cachê dobra?
CADU – Cada um leva a sua parte mas, se o cliente gostar da parada, sempre pode rolar
mais um por fora.
CAZÉ – Ah, é?
CADU – É! Mas... Peraí! Pra quê que tu tá querendo saber disso, Cazé?
CAZÉ – Por nada.
CADU – Como assim 'por nada'?
CAZÉ – Por nada, ora bolas!
SILÊNCIO e olhares DESCONFIADOS.
CADU – Tu já me disse uma vez que não entra nessas paradas nem fodendo.
CAZÉ – Ah, mano, se o cara paga o dobro e é de um parceiro que tu tá precisando, então
não precisa mais!
CADU – Não... Fica fora disso!
CAZÉ – Por quê? Lembra que foi tu mesmo que me convidou uma vez!? Ah, já sei... Tá
com medo da concorrência, né?
CADU – Não é isso.
CAZÉ – É o quê então?
CADU – Ah, tu sabe!
CAZÉ – Sei de nada não!
SILÊNCIO e olhares DECIDIDOS.
CADU – Então fica sabendo agora.
CAZÉ – Do quê?
CADU – O que é meu ninguém mete a mão, tá ligado!
CAZÉ – E quem te disse que eu sou teu.
CADU – Eu tô dizendo agora! Quer que eu repita?
Os dois se beijam com muita PAIXÃO.
BLECAUTE
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Sexta PARCELA
CADU – O cara era mó filé, né?
CAZÉ – Só achei meio bizonho quando ele pediu pra gente mijar na cara dele enquanto
ele gozava.
CADU – Aquilo não foi nada, véi... Já me pediram pra fazer cada coisa cabulosa que, se
eu sair contando por aí, neguinho vai achar que é papo de pescador.
CAZÉ – Sério???
CADU – E eu faço é mesmo, posso até sentir nojo, mas eu faço. Quem manda é o cliente,
véi... Principalmente quando o cliente paga bem que nem esse carinha que a gente saiu
hoje.
CAZÉ – Nooossa, mano... Nem acreditei quando ele abriu a carteira e tirou todas aquelas
“onças” de dentro. Fazia tempo que eu não via tanta grana junta.
CADU – Se tu quiser eu até posso descolar uns outros programinhas aí...
CAZÉ – Eu faço... Mas só faço se for junto contigo. Sem tu eu não vou não!
CADU – Porra, não dá pra tu ser michê mesmo, tu bota mó banca, é cheio de vontade...
Pensa que ser garoto de programa é como passear no shopping, é?
CAZÉ – Eu sei que não é a mesma coisa, que o buraco é bem mais embaixo.
CADU – Pois é, véi... É a vida!
CAZÉ – Vida é?
SILÊNCIO e olhares RESIGNADOS.
BLECAUTE
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FINAL de ESTOQUE
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