Fronteiras da narrativa resgate e segurando, sobre seu bastéo de ouro, as fitas do arqueiro Apolo; ¢ ele suplicava a todos os Aqueus, mas sobretudo aos dois filhos de Atreu, bons estrategistas de guerra”, Ao contrario, a imi- tagao consiste, a partir do verso seguinte, no fato de Homero fazer falar o préprio Crisés, ou, segundo Platao, de falar fingindo ser Crisés, e “esforcando-se para nos dar na medida do possivel a ilu- sao de que ndo é Homero que fala, mas sim 0 velho, sacerdote de Apolo”. Eis o texto do discurso de Crisés: “Atridas, e vés também, Aqueus de boas grevas, possam os deuses, habitantes do Olimpo, conceder-vos a destruigdo da cidade de Priamo, e depois vosso re- torno sem ferimentos a vossos lares! Mas a mim, restitui minha fi- Iha! E para isso, aceitai o resgate que vedes aqui, por consideragao ao filho de Zeus, ao arqueiro Apolo”. Ora, ajunta Platao, Homero teria podido igualmente prosseguir sua historia sob uma forma pu- ramente narrativa, narrando as palavras de Crisés em vez de repro- duzi-las, o que, para a mesma passagem, teria dado, em estilo indi- reto ¢ prosa: “O sacerdote, tendo chegado, pediu aos deuses que Ihes concedessem a tomada de Troia ¢ os preservassem de morrer em combate, e pediu aos gregos que lhe devolvessem a filha em tro- ca de um resgate, ¢ por respeito ao deus”*, Esta divisio teorica, que opoe, no interior da i diegao poética, os dois modos Ppuros ¢ e hetero- généos da narrativa « © e dai imitagao, conduz funda uma inda uma classific. fica- propria dos géneros, que compreende os ; dois modos purc odos puros ntado pelo antigo ditirambo, mimético, repre- sentado pelo teatro), mais um modo misto, ou, mais precisamer alternada, « que é 0 da epopeia, como se acaba de ver pelo exemplo da Iliada. A classificagao de Aristételes é, 4 primeira vista, completa- mente diferente, pois que reduz toda a poesia & imitagao, distin- guindos somente dois modos in i tO, que é o que Platao 3. Iliada, 1, 12-16. Tradugao francesa de Mazon. 4, 393e. Tradugao francesa de Chambry.