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ORGANIZAÇÃO DO MANUAL

A DA P TAÇ ÃO
Daniel N. Rocha

O R GA N I Z AÇ ÃO
Rafaella Salles

D E S I G N & D I AG R A M AÇ ÃO
Giovanna Maciel

CA TEAM
Arthur Aguiar
Bruno Visnadi
Giovanna Maciel
Julia Yaegashi
Luccas Mateus
Rafaella Salles

CONTRIBUIÇÕES EXTERNAS
Matheus Popst – Coordenador Nacional de Debates | IBD
Rached Centeno – Diretor Regional de Debates do Sul | IBD
SO CIEDAD E D E D EB ATES FGV

I NTRODUÇÃO
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SO CIEDAD E D E D EB ATES FGV

II GV Debate, Novembro de 2019


Rafaella Salles Lopes Gomes

PREFÁCIO À SEGUNDA EDIÇÃO


Poucos são os campeonatos de debates em que não ouvimos pessoas da sala 5 reclamarem da
diferença de métricas utilizadas ali para as da sala 1. Tal fenômeno não se dá apenas pela diferença
de qualidade do debate entre as salas ou pela experiência de cada juiz que conduz estas salas, mas
pela diferença que vemos no modelo e na forma de avaliar entre estes juízes.
Também não é incomum presenciarmos debatedores aflitos após as adjudicações orais, por não
receberem bons feedbacks acerca da matéria, isto é, do conteúdo em si dos debates ou ainda,
aqueles que durante 15 minutos recebem dicas de como falar ou se portar durante suas falas que
na grande maioria das vezes são pouco ou quase nada comparativas e não analisam de maneira
explícita e criteriosa a contribuição das quatro duplas ao longo deste tempo.
Desde 2017 vimos muitas mudanças no cenário brasileiro no que diz respeito à avaliação de debates,
na mesma proporção em que nos deparamos com grandes ruídos em relação aos modelos existentes.
Boa parte destes grandes ruídos surgiram com a falta e a carência de um material que unificasse
todas as demandas e trabalhasse aos moldes dos debates competitivos ao redor de todo mundo
para melhorar a forma como avaliamos aqui no Brasil.
Além disso, é notável que as discordâncias ou dúvidas na deliberação da call final dos debates estão
intrinsecamente relacionadas ao fato de que os critérios utilizados para ranquear duplas ficam na
zona de penumbra e na área das incertezas, pois quase nunca sabemos o que esperar dos juízes e
dos torneios, onde a avaliação costuma significativamente possuir diferentes métricas de avaliação
de Sociedade de Debates para Sociedade de Debates.
Melhorar a qualidade da produção de material de avaliação no Brasil sempre foi nossa prioridade
para minimizar essas diferenças que ainda temos, por isso desde a primeira edição deste manual
buscamos traduzir, alinhar, organizar e atualizar esta edição, com base no manual do World
Universities Debating Championship de cada presente ano. Nosso objetivo é garantir que o padrão
do II GV Debate seja alinhado com os estabelecidos pelo WUDC, além de permitir a mesma linha
de avaliação em cada sala, independente de quem sejam os juízes.
Esperamos também colaborar ainda mais com o movimento de debates no Brasil, de maneira a
permitir que este guia seja utilizado em torneios futuros, garantindo além de alto padrão no país com
relação às avaliações, qualidade na construção de deliberações e adjudicações orais. Desejamos
democratizar ainda mais o acesso ao estudo por meio da leitura deste manual e proporcionar
avaliações mais alinhadas a cada torneio.

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GV Debate, Outubro de 2018


Daniel N. Rocha

PREFÁCIO À PRIMEIRA EDIÇÃO


Não é raro presenciar, em um campeonato de debates, debatedores frustrados – ou até mesmo
enfurecidos – devido a discordâncias com o feedback e a avaliação a cada rodada. Certamente,
erros de avaliação sempre ocorrerão. Reclamações sem fundamentação também serão uma constante.
No entanto, nada disso é desculpa para não nos empenharmos em tentar minimizar esses erros e
contestações inválidas. E, nesse sentido, uma das medidas mais fundamentais é melhorar a qualidade
do material técnico que disponibilizamos aos debatedores e juízes.
De fato, poucos avaliadores e oradores do torneio se preocupam em ler os manuais e refletir
detalhadamente sobre as regras. Uma análise apressada pode reivindicar que esses manuais não
são lidos porque não são necessários no entendimento da persuasão, que deveria ser passada
apenas por meio de feedbacks práticos, no seio do torneio. Não está claro, contudo, se a alegada
inutilidade dos manuais seria algo intrínseco a eles ou se na verdade é fruto da forma como eles são
escritos. Pulverizar normas vagas e sucintas podem realmente não contribuir na formação de um juiz
ou de um debatedor melhor. Mas por que não seria útil ler um manual com análises detalhadas da
deliberação, exemplos práticos, recomendações elaboradas e conceitualização aplicável?
É nesse contexto, somado ao crescente desafio de formar novos juízes vindos de novas SDs, que
organizamos este Manual. Entendemos que considerável parte das discordâncias ou dúvidas na
deliberação se devem ao fato de que os critérios usados para ranquear duplas ainda são uma
caixa preta no movimento de debates brasileiro e que a avaliação varia significativamente entre
as Sociedades de Debates e entre os juízes. Manter uma tradição de boa avaliação pautada
principalmente na transmissão oral, sem nenhuma concretização detalhada em um documento,
é fomentar diversas distorções advindas de ruídos de comunicação entre Chefes de Avaliação,
Presidentes de Mesa, Wings e debatedores.
O ensino da análise da persuasão nunca será algo tão objetivo de modo a poder ser explicado
em poucas páginas ou apenas via conversas rápidas durante a deliberação ou feedback. É preciso
destrinchar bem cada tópico, de modo a trazer mais transparência, justiça, uniformidade e bem-
estar aos debatedores e juízes. Se queremos torneios com menos estresse, precisamos nos engajar
no trabalho de melhorar o nível de análise dos nossos manuais, da mesma forma como fazemos em
nossas argumentações nos debates, que não podem ser superficiais.
É, portanto, com a pretensão de reduzir ruídos e minimizar tais problemas – tanto no GV Debate,
quanto no movimento de debates de forma geral –, que traduzimos, organizamos e adaptamos o
manual do World Universities Debating Championship de 2017, resultando neste guia. Para além
de facilitar a internacionalização dos debatedores brasileiros, a escolha por tomar este manual
como base tem o intuito de solucionar problemas endêmicos da avaliação de vários campeonatos
de debates; como, por exemplo, juízes que valorizam demasiadamente argumentos de autoridade,
referências sem conexão lógica bem relacionada com a argumentação, apelos exagerados à emoção,
entre outras falhas.
Acreditamos que o movimento de debates no Brasil será melhor à medida que valorizarmos cada
vez mais o raciocínio lógico e a criatividade argumentativa dos nossos debatedores.
Mesmo em torneios com temas divulgados previamente, a leitura deste manual pode ajudar na
construção de deliberações e argumentações mais bem fundamentadas, com bem menos saltos
lógicos. Obviamente, a leitura deste guia não exaure o estudo analítico da construção de casos,
mas pode ser uma ferramenta extremamente útil para viabilizar a maior qualidade na formação de
debatedores e juízes do país. A democratização das virtudes do movimento de debates depende
da produção e do consumo de bons materiais e, assim, gostaríamos de deixar nossa contribuição.

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REGR AS &
ORI E NTAÇÕES
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2.1 O MODELO PARLAMENTO BRITÂNICO


O modelo do Parlamento Britânico (BP) é um formato de debate no qual quatro duplas de
debatedores se confrontam para decidir se uma determinada moção é válida ou desejável de
ser aplicada. As duplas são: Primeiro Governo, Primeira Oposição, Segundo Governo e Segunda
Oposição. Os dois lados do debate frequentemente são chamados de bancada, formando a
bancada do Governo e a bancada da Oposição. Ademais, as primeiras duplas do debate também
são chamadas de primeira metade – ou primeiras casas –, bem como as segundas são chamadas
de segunda metade – ou segundas casas.

BANCADA DO GOVERNO BANCADA DA OPOSIÇÃO

PRIMEIRA METADE PRIMEIRO GOVERNO PRIMEIRA OPOSIÇÃO

PRIMEIRA METADE SEGUNDO GOVERNO SEGUNDA OPOSIÇÃO

Os debatedores são chamados de deputados e cada orador mimetiza um papel – ou função –


dentro do Parlamento. A ordem dos debatedores é a seguinte:
• Primeiro Ministro;
• Líder da Oposição;
• Vice Primeiro Ministro ou Adjunto do Primeiro Ministro;
• Vice-Líder da Oposição ou Adjunto do Líder da Oposição;
• Membro – Extensão – do Governo;
• Membro – Extensão – da Oposição;
• Whip do Governo;
• Whip da Oposição.
O debate é presidido por um Presidente de Mesa, ou “Chair”, que deve fiscalizar as condições
gerais do debate, além de orientar os demais juízes, chamados de Laterais , ou “Wings”.

2.1.1 TEMPO DE DISCURSO


Cada debatedor terá o tempo de 7 minutos para discursar. Sinais sonoros – como palmas ou som
de uma sineta – tocarão ao terem passado 1 min, 6 min, 7 min e 7min15seg. Nos dois primeiros,
será feito apenas uma sinalização, demonstrando que POI’s, Pontos de Informação, poderão ser
aceitos dentro daqueles minutos; no terceiro, duas sinalizações consecutivas demarcarão o tempo
de finalização do discurso e; no quarto, sinalizações contínuas soarão até que o debatedor encerre
seu discurso – ou três sinalizações consecutivas a cada 10 segundos. Nada dito após 7min15seg
poderá ser levado em conta na hora de avaliar a persuasão do orador. Caso o debatedor continue
falando após 8 minutos – o que idealmente nunca deve ocorrer –, o Chair deve pedir ordem e instruir
o debatedor a se sentar.

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2.2 ANTES DO DEBATE


2.2.1 A MOÇÃO
Cada rodada tem um tópico específico, conhecido como “moção”, que também poderá conter um
infoslide, para definir ou contextualizar alguns termos da moção.
“EC, no lugar da esquerda brasileira, priorizaria a Política da Diligência à Política da Resistência.”
INFOSLIDE “Política da Diligência” foca em ações construtivas, como propor políticas públicas e
trabalhar em ONGs. ‘Política da Resistência’ foca em contestatórias, como realizar protestos e tecer
críticas ao governo.
Junto com a moção será feito um “sorteio”, que mostrará a sala daquela rodada, bem como as posições
que cada dupla debaterá. Toda moção é pensada de modo a instigar o contraditório. Além disso,
o espírito das moções geralmente busca resolver um problema do status quo, seja por meio de uma
proposição ou de uma valoração – ver seção 3.4.2.
2.2.2 PREP TIME
Todos os debatedores terão o tempo de 15 minutos, antes do início dos debates, para preparar seus
discursos juntamente com a sua dupla. Durante o tempo de preparação, é expressamente proibida a
conversa com outras duplas. Além disso, nesse hiato, também é terminantemente proibida a realização
de consultas/pesquisas em aparelhos eletrônicos de qualquer tipo.
2.2.3 SWING TEAM E IRON-MAN | GIRL
Visando manter o cronograma do evento, caso alguma dupla se atrase para o início do debate,
iremos substituí-la por um swing team, que é uma dupla criada provisoriamente para preencher
aquela vaga de dupla. Após o debate ser iniciado com o swing team, a dupla não pontual terá sua
pontuação zerada e não poderá mais participar daquela rodada.
Caso apenas um debatedor da dupla se atrase ou por algum motivo fique impossibilitado de falar, a
sua dupla ainda poderá participar do debate, fazendo os dois discursos designado à dupla. Nesse
caso, o debatedor recebe duas notas normalmente; mas, no Powermatch, ele terá sua nota de dupla
zerada para aquela rodada. Assim, o debatedor ausente terá nota individual zerada para aquela
rodada, e o iron-man/girl, terá sua maior nota individual computada.

2.2.4 INTERVENÇÕES DE ORDEM


Quaisquer das seguintes atividades são consideradas empecilhos ao debate e devem ser impedidas
pelo Chair, por meio de um brado pedindo “ordem”:
• Falar mais de 8 minutos;
• Conversar em volume alto ou gerar barulho distrativo;
• Realizar comportamento altamente distrativo;
• Não cessar o POI mesmo após ser cortado pelo debatedor que está discursando.
Em casos extremos, o Chair pode requisitar que o cronômetro seja pausado, como caso alguém
esteja precisando de auxílio médico, um equipamento técnico não esteja funcionando ou alguma
interferência externa esteja prejudicando gravemente o andamento do debate.

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2.3 PAPEL DAS DUPLAS E DOS DEBATEDORES


Cada dupla tem um papel a ser cumprido no debate
1 PRIMEIRO GOVERNO Definir a moção e especificar um mecanismo – caso necessário –;
apresentar argumentos a favor da moção; refutar argumentos da Oposição.
2 PRIMEIRA OPOSIÇÃO Refutar os argumentos e, caso entenda necessário, o modelo do
Governo; apresentar argumentos construtivos contra a moção.
3 SEGUNDO GOVERNO Promover novas análises a favor da moção sem contradizer ou refutar
o Primeiro Governo; refutar argumentos da bancada da Oposição.
4 SEGUNDA OPOSIÇÃO Promover novas análises contra a moção sem contradizer ou refutar
a Primeira Oposição; refutar argumentos da bancada do Governo.
Analogamente, cada debatedor tem funções específicas a cumprir
1 PRIMEIRO MINISTRO Deve definir alguns termos da moção de modo a esclarecer dúvidas
interpretativas – quando necessário – e delimitar o debate de modo justo; e também deve criar
um mecanismo – caso preciso.
2 MEMBRO DO GOVERNO E DA OPOSIÇÃO Devem estender o debate, evitando repetições
em relação ao que já foi apresentado no debate por outros debatedores, apresentando novas
perspectivas analíticas a favor da sua bancada.
3 WHIP DO GOVERNO E DA OPOSIÇÃO Devem sumarizar o debate, mostrando – sem
apresentar linhas argumentativas novas, especialmente greve pro Whip da Oposição, por ser o
último a falar –, porque sua bancada ganhou o debate. Devem enfrentar as principais questões
do debate, evidenciando porque sua bancada, mais especificamente sua dupla, venceu o debate.
4 TODOS OS DEBATEDORES Devem assegurar que seus argumentos não são contraditórios
entre si, entre os da sua dupla nem entre os dos debatedores de sua bancada. A violação dessa
regra é conhecida como “esfaqueamento”.
5 TODOS OS DEBATEDORES São fortemente recomendados a aceitar ao menos um ponto de
informação (POIs) durante seus discursos, além de oferecê-los ao longo do debate.
Contudo, juízes jamais devem diretamente penalizar debatedores por descumprimento de regras.
Sempre que um argumento de um debatedor violar alguma regra, ele deve ser simplesmente
desconsiderado. O descumprimento de regras, por si só, não é critério de desempate.
• Caso o Membro do Governo não estenda o debate, os argumentos que não apresentarem
análises diferentes das da Primeira Governo serão desconsiderados.
• Caso o Whip apresente argumentos novos – excetuando-se os casos descritos na seção 2.3.6,
esses devem ser desconsiderados.
• Caso os debatedores sejam contraditórios: Sendo a contradição entre duplas, as informações
dependentes da contradição da segunda dupla serão desconsideradas. Sendo a contradição
entre discursos de mesma dupla, os debatedores subsequentes poderão escolher com qual linha
argumentativa irão engajar, e a outra linha deve ser desconsiderada. Caso não haja uma escolha
clara, a linha argumentativa que menos contribui para o caso da dupla será desconsiderada.
• Caso um debatedor passe dos 7min15seg, tudo além desse tempo será desconsiderado.
• Caso o PM não defina bem os termos da moção ou o modelo, ele será prejudicado à medida.

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Outra exceção são os POIs:


• Caso uma dupla não aceite POIs, ela será prejudicada à medida que isso evidencie falta
de engajamento daquela dupla – ver seção 2.3.7. Caso o debatedor não tenha engajado
suficientemente via refutação, a recusa em aceitar POIs deve ser vista como um indicativo de
engajamento pobre com o melhor material da bancada oposta. A falta de engajamento só
poderá prejudicar uma dupla em detrimento de outra quando as duas estiverem muito próximas
em termos de persuasividade.
2.3.1 DEFININDO O DEBATE
A definição deverá, a partir da moção, estabelecer o problema – análise ou proposta, por exemplo
– a ser debatido. Uma boa definição não é aquela que explica cada termo da moção, mas aquela
que elucida o significado – semântico ou prático – dos termos que podem gerar confusão ao longo
do debate e que são centrais na discussão. Todos os debatedores, caso não desafiem a definição,
devem seguir a definição apresentada pelo Primeiro Ministro. A definição deve respeitar o nível de
generalidade implícita na moção, sem restringi-la demais. Contudo, é aceitável que a definição exclua
casos extremos ou anômalos, de modo a tornar o debate mais razoável. Caso haja um infoslide,
ele servirá como modificador do ônus da moção, ou seja, os debatedores devem seguir a restrição
contida no infoslide.
2.3.2 MODELO VAGO
Em algumas moções propositivas, também é preciso montar um mecanismo, ou seja, um detalhamento
de como determinada ação será implementada. O conjunto definição e mecanismo é usualmente
chamado de modelo. É recomendável que a definição, ao montar o mecanismo, responda às seguintes
perguntas, quando cabíveis:
• Qual política pública está sendo proposta?
• Onde ela incidirá?
• Quem irá implementá-la?
• Durante quanto tempo ela será implementada?
• Durante quanto tempo ela ficará vigente?
• Como ela será posta em prática?
• Quem sofrerá as consequências dela?
• Quais serão as sanções de descumprimento?
Demais duplas podem elucidar mecanismos vagos por meio de POIs feitos ao longo do discurso do
Primeiro Ministro. Muitas duplas costumam falar “Esclarecimento” ao pedir esses POIs, para avisar
ao primeiro-ministro que não se trata de um ponto de informação combativo. Isso não significa que
a adjudicação deva encarar esses pontos de forma qualquer diferente que trata um POI normal.
Aos demais debatedores do Governo, especialmente o Adjunto do Primeiro Ministro, é recomendável
complementar, em seus discursos, mecanismos que ficaram pouco claros; ainda que seja preferível
ter tudo já elucidado pelo Primeiro Ministro.

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2.3.3 DESAFIO À DEFINIÇÃO


Desafios são eventos raros, e não devem ser a primeira resposta de uma dupla para uma definição
falha, incompleta ou inusitada. O desafio é necessário caso a definição impossibilite o debate,
gerando um desequilíbrio de bancadas muito grande. A definição é um mecanismo técnico e objetivo
para restringir o debate de forma a torná-lo mais concreto e proveitoso para todas as duplas. Pode
acontecer de a definição do Primeiro-Ministro inviabilizar o debate por falta de razoabilidade no
modelo, na delimitação temporal, espacial ou algum motivo que torne necessário o oferecimento de
uma definição mais adequada, como descrito abaixo:
1 ENTRA EM CONTRADIÇÃO LÓGICA COM AS PALAVRAS DA MOÇÃO. Para essa
análise, deve-se considerar o que o eleitor hipotético bem informado e inteligente julgaria
razoável. Se, por exemplo, a moção é “EC permitiria o uso de provas obtidas por meios ilícitos
em todos os julgamentos de políticos.” e o Primeiro Ministro sugere que seria permitido apenas
para julgamentos de políticos de grande destaque, isso é claramente inválido, uma vez que a
moção diz especificamente “todos os julgamentos de políticos”.
2 RESTRINGE O DEBATE DE MODO DESLEAL E NÃO-RAZOÁVEL. Isso ocorre quando se
exclui um grande número de casos para os quais a leitura literal da moção pareceria aplicar-se.
Tais definições podem desequilibrar seriamente o debate, dando forte vantagem ao Governo.
Por exemplo, se a moção for “EC usaria o serviço comunitário como uma punição no lugar das
prisões”, e a bancada do Governo afirma que só fará isso com jovens infratores não-violentos,
esta é uma restrição severa da moção, excluindo a considerável maioria dos casos para os quais
uma leitura da moção – que não menciona limites para categorias específicas de prisioneiros –
parece se aplicar.
Dentro da categoria 2, existem dois tipos mais frequentes de restrição desafiável
RESTRIÇÃO ESPACIAL
Casos nos quais a moção é restrita a um determinado local. Em um campeonato de debates
brasileiros, por exemplo, as moções devem ser assumidas como aplicáveis a
​​ pelo menos a maioria
dos estados do Brasil, a menos que a moção especifique o contrário. A razoabilidade por trás
desta regra é não privilegiar exageradamente debatedores residentes de uma determinada
localidade, com a exceção de quando a própria moção já traz essa restrição per se, como por
exemplo: “EC lamenta a simbologia dos bandeirantes na construção da identidade paulista” ou
“EC é contrária às músicas sertanejas nas festas juninas do Nordeste”.
RESTRIÇÃO TEMPORAL
Casos nos quais uma moção é restrita a algum momento particular. Por exemplo, se a moção
for “EC aprovaria a PEC 181”, o Primeiro Ministro não pode definir o debate como sendo a PEC
181 que existia antes dos parlamentares a terem modificado – o que fez com que a proposta
de extensão da licença-maternidade se tornasse uma brecha legal para condenar mulheres por
fazerem aborto. A menos que requisitado diretamente pela moção, a restrição temporal também
é uma definição inválida de uma moção, pois as moções devem ser definidas nos dias atuais. No
entanto, a proposta de uma escala de tempo específica para uma moção não constitui deslealdade
caso mantenha a implementação razoavelmente próxima do dia atual. Assim, dizer “antes de
prosseguirmos para a implementação total, vamos permitir um período de transição de dois anos
para as empresas se adaptarem às mudanças propostas pela nossa política” é legítimo, enquanto
que dizer “acreditamos que essa política deve ser implementada talvez em uma ou duas décadas,
uma vez que todos os países terão totalmente harmonizado com os seus requisitos” não é legítimo.
Nestes casos, o Líder da Oposição – ou o primeiro a falar de outra dupla – poderá desafiar a definição

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proposta, apresentando outra e explicando porque a do Governo não deveria nortear o debate.
As duplas subsequentes deverão escolher qual definição acreditam ser mais adequada e adotá-la
para o debate, preferencialmente explicitando a razão de sua escolha.
Para ser desafiável, não é suficiente que uma definição apenas não aparente estar “no espírito da
moção”, ou que tenha sido inesperada pelas outras duplas do debate. Caso o debatedor desafie
sem a definição ser desafiável – ou sem justificar por que é desafiável –, a Mesa, ao fim do debate,
poderá desconsiderar todos os argumentos que estavam fora da definição original.
A adjudicação, posteriormente ao debate, deverá avaliar os argumentos apresentados e escolher qual
definição foi mais razoável, por meio de critérios objetivos os quais deverão ser relatados em feedback.
RITO DE DESAFIO
O participante que desejar desafiar a definição deve indicar claramente, durante o início do seu
discurso, que ele ou ela irá desafiar a definição, indicando as razões pela qual a mesma não é
razoável, e apresentar uma nova definição. Após ser feito o pedido de desafio, o tempo NÃO
é pausado e os debatedores que possuem fala após o desafio devem adotar qual definição
irão seguir. O debate segue normalmente, sem qualquer tipo de pausa no momento em que se
anuncia o desafio ou no momento posterior a ele.
Se a definição for desafiada, os juízes devem pesar as contribuições das duplas para o debate
tal como elas o encontraram no momento em que deram seus discursos. Isto é, se a Primeira
Oposição ganhou muito fortemente o embate contra o Primeiro Governo, tendo feito uma
contribuição extremamente significativa para o debate; mas o Segundo Governo desafiou com
sucesso a definição, e deu uma significativa contribuição para este “novo” debate, os juízes devem
comparar a contribuição da Primeira Oposição para o debate em que ela esteve envolvida com
a contribuição da Segunda Oposição para o “novo” debate.
Os juízes não devem desconsiderar a Primeira Oposição apenas porque “o debate se tornou
sobre outra coisa”. Se uma dupla optou por não desafiar uma definição que foi posteriormente
desafiada, deve-se sempre tratar seu caso à luz da definição vigente à sua participação – exceto
quando comparando-a diretamente com a dupla que efetivamente realizou o desafio –. A lógica
disso é manter o precedente de não recompensar uma dupla por algo que uma terceira fez. Assim,
se uma dupla desafia, uma dupla anterior a esse desafio não deve ser recompensada apenas
porque seus argumentos são mais pertinentes sob a definição nova.

2.3.4 ESTENDENDO O DEBATE


Uma extensão deve lançar uma nova perspectiva sobre o debate, podendo trazer:
1 Novos argumentos que ainda não foram feitos no debate, sejam eles aditivos para o seu próprio
caso – extensão horizontal – ou responsivos ao material levantado pelo outro lado;
2 Nova análise ou explicação de argumentos existentes – extensão vertical;
3 Novas aplicações da argumentação existente – por exemplo, se o Membro do Governo assinalar
que um argumento da primeira metade é capaz de derrotar um novo argumento do outro lado;
4 Novos exemplos.
Em suma, quase tudo que não seja uma repetição palavra por palavra do material da primeira
metade será, em algum sentido, uma extensão.
No entanto, uma dupla da segunda metade só pode obter crédito por suas contribuições para o
debate que vão além do que já foi contribuído pelas duplas da primeira metade. Como resultado,
as duplas da segunda metade não derrotam as duplas da sua mesma bancada apenas por “terem

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uma extensão” – da mesma forma que o Primeiro Governo não ganha o debate apenas por “ter
um modelo”. Uma extensão vencedora trará um material inovador que seja mais persuasivo para o
eleitor hipotético bem informado e inteligente do que os demais argumentos já apresentados.
Se determinadas linhas argumentativas já foram convincentemente ganhas pela análise de uma dupla
da primeira metade, uma dupla dessa mesma bancada que apenas acrescenta uma nova análise a
esses argumentos pode ser capaz de, com base nessa análise adicional, derrotar de vez as duplas no
lado oposto, mas é improvável que ela tenha fornecido boas bases para vencer a dupla de primeira
metade da sua bancada.
2.3.5 ESFAQUEAMENTO
Debatedores devem ser consistentes com o material da sua própria argumentação, da sua dupla e
da sua bancada. Todos os argumentos de um debatedor que entrarem em contradição com as ideias
proferidas pela mesma bancada, dupla ou demais ideias dele próprio devem ser desconsiderados.
Fazer um argumento do tipo “mesmo se” – ao longo das linhas de “mesmo se a Primeira Oposição
estiver errada sobre isso, vamos mostrar que a moção ainda deveria ser rejeitada” – não constitui
esfaqueamento. No entanto, é improvável que tais argumentos do tipo “mesmo se” forneçam bons
motivos para uma dupla da segunda metade vencer a dupla da sua bancada, a menos que esses
argumentos realmente melhorem a capacidade persuasiva da bancada. Uma dupla da segunda
metade que substitui uma argumentação forte da primeira metade por uma razão inferior para
acreditar em seu lado do debate – ou que afirma um argumento do tipo “mesmo se” quando a
probabilidade do “se” é muito baixa –, é improvável de ser vitoriosa, com base nesse material, em
cima da dupla de sua bancada.
Caso as afirmativas e/ou os argumentos da dupla anterior comprometam muito severamente a
capacidade de uma dupla posterior contribuir com o debate, os juízes não devem desconsiderar os
argumentos apresentados pela dupla posterior. Contudo, sempre que possível, uma dupla da segunda
metade do debate deve utilizar a estrutura do tipo “mesmo se” para evitar contradições.
Caso a primeira dupla de uma bancada apresente afirmativas ou argumentos contraditórios entre
si, a segunda dupla dessa bancada poderá optar entre eles; defendendo, assim, a afirmativa ou
o argumento que considerar mais adequado. Nessa hipótese, a segunda dupla não incorrerá
em esfaqueamento.
2.3.6 FAZENDO WHIP
Um bom discurso de Whip notará os principais confrontos no debate – pontos de clash – entre os
dois lados e fará uso dos melhores argumentos de cada dupla do seu lado para construir o seu caso
de que a moção deve ser aprovada ou rejeitada. Um Whip que contribui para o debate usando
argumentos que foram introduzidos na primeira metade deve receber crédito por fazê-lo, se esses
argumentos forem empregados com sucesso. Um Whip pode – devido à necessidade, da sua dupla,
de contribuir com material mais persuasivo para o debate do que a dupla da sua bancada – explicar
porque as contribuições da sua dupla são as mais persuasivas ou importantes do seu lado, embora
deva fazê-lo sem rejeitar os argumentos da sua bancada.
É altamente greve que os Whips adicionem novos argumentos aos casos de sua dupla. O que conta
como um “novo argumento”? Razões inteiramente novas a favor de determinada medida, afirmações
de que novas consequências acontecerão ou reivindicações de novas verdades morais constituem
novos argumentos. As seguintes coisas NÃO contam como novos argumentos neste sentido, e são
permissíveis para os Whips abordarem:
• Novas defesas e perspectivas de argumentos já feitos;

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• Novas explicações de argumentos previamente feitos;


• Refutações;
• Novos exemplos e evidências empíricas para defender argumentos já ditos;
• Qualquer aprofundamento de ideias atreladas à argumentação da Extensão daquele Whip.
Contudo, é excepcionalmente aceitável que o Whip traga argumentos novos para responder POIs.
Ainda assim, o Whip não é autorizado a aprofundar esse argumento.
O juiz não deve privilegiar um tipo específico de Whip em detrimento dos demais. Desde que o
discurso tenha persuasividade, a estratégia de organização do Whip não deve ter relevância para a
avaliação. De forma análoga, o Whip não é obrigado a fazer um resumo de tudo que foi abordado
ao longo do debate. Ele pode até se focar apenas em fazer refutações, por exemplo. Às vezes, é difícil
avaliar a diferença entre nova refutação e análise – o que é permitido – e novos argumentos – que
não são permitidos. Os juízes devem considerar se a realização de uma alegação levanta ou não
uma nova questão ou abordagem para ganhar o debate sobre uma questão existente, para a qual o
outro lado tem pouca ou nenhuma capacidade de responder. Se uma dupla faz um novo argumento
no Whip, os juízes devem simplesmente ignorá-lo, e não permitir que esta ideia específica receba
crédito. Adicionar novos argumentos no Whip nunca deve receber uma penalização que vá além disso.
2.3.7 PONTOS DE INFORMAÇÃO | POI’s
POIs são intervenções formais no discurso de quaisquer debatedores da bancada oposta. O POI
pode ser um comentário, afirmação, esclarecimento ou pergunta. São considerados componentes tão
persuasivos e relevantes quanto o discurso em si. Os POIs podem retomar ideias já analisados pela
dupla que os oferece, trazer ideias ainda não apresentadas no debate, tentar refutar o orador, ou
tentar mostrar uma contradição argumentativa do orador. Embora não seja recomendável, é permitido
que sejam feitas mais de uma pergunta em um mesmo POI. O orador é quem decide quais e quantos
POIs acatar. Um POI deve durar no máximo 15 segundos. É recomendável que cada orador aceite
pelo menos 1 POIs enquanto estiver discursando. O debatedor não deve interromper um POI antes
de 15 segundos; e, caso o faça, o juiz deve determinar o impacto que isso teve na capacidade de
resposta à dupla que solicitou o POI. Se o debatedor que oferece o POI tiver sido incapaz de fazer
uma pergunta de uma maneira significativa, pode ser apropriado desconsiderar o engajamento,
como se o POI não tivesse sido aceito.
Caso os debatedores não aceitem POIs, os juízes não devem forçá-los, por meio de intervenções no
debate, a os aceitarem. Mas caso o debatedor falhe em acatá-los – desde que um número razoável
deles tenha sido oferecido durante a sua fala –, isso transparecerá para os juízes como uma falha
grave em engajar com as demais duplas, e deve ser julgado como um sinal de que os argumentos
do debatedor não conseguiriam sobreviver com sucesso aos ataques do outro lado.
Ao avaliar a falha em não aceitar POIs, um juiz deve também considerar se outro tipo de engajamento
feito pela dupla – por meio de refutações, por exemplo – foi suficiente para restaurar a confiança
de que os argumentos daquela dupla conseguiriam sobreviver a ataques. Um orador que não tenha
acatado POIs e não tenha engajado de forma satisfatória – ou tenha evitado alguns argumentos
específicos do outro lado – provavelmente será visto muito negativamente pelo juiz.
A escolha de qual dupla o debatedor escolhe para proferir um POI deve ser integrada na avaliação
do juiz sobre se o orador engajou bem ou não com as demais duplas. Este julgamento também será
afetado pelo modo como as duplas estavam oferecendo POIs. Se, por exemplo, o Primeiro Governo
oferecer, a um debatedor da Segunda Oposição, muitos POIs, sendo estes continuamente recusados;
e, em seguida, o Segundo Governo, que não ofereceu nenhum POI até então, requisita um POI à
Segunda Oposição e este é imediatamente aceito, isso pode ser um sintoma de que a Segunda

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Oposição está tentando ignorar ou “bloquear” o Primeiro Governo. O que não sugere uma confiante
disposição de engajar com os argumentos do Primeiro Governo.
2.3.8 EQUIDADE
O objetivo da Diretoria de Equidade é garantir que não haja qualquer manifestação preconceituosa
que possa deixar um debatedor, juiz ou ouvinte desconfortável. Essa Diretoria receberá denúncias
sobre quaisquer práticas de motivação preconceituosa e/ou discriminatória ao longo do torneio. As
denúncias poderão ser feitas por meio de um formulário online – podendo ser anônimas ou não – ou
pessoalmente, recorrendo aos Diretores de Equidade. É importante ressaltar que, sendo a denúncia
anônima ou não, o denunciado não saberá da identidade daquele que o denunciou, pois este é um
meio de garantir um maior conforto e segurança para que as denúncias sejam feitas. Embora haja
a possibilidade de a denúncia ser anônima, é recomendável que ela seja identificada, pois facilita
o retorno das providências tomadas após a denúncia.
A equidade também lidará com excepcionais pedidos de impedimento – quando um debatedor
ou juiz não se sentir pessoalmente confortável para ser avaliado por determinada pessoa ou para
avaliar determinada pessoa. Quem fizer esse pedido precisará justificá-lo pessoalmente à Diretoria
de Equidade, que garantirá absoluta privacidade e discrição. Ressalta-se que contestar a mera
qualidade técnica de um juiz não é justificativa para pedir impedimento.
Juízes só devem intervir em violações de equidade que de fato atingirem níveis extremamente
perigosos; caso contrário, o debate não deve ser parado. Violações de equidade, cortesia e respeito
mútuo não são, em si próprias, critérios para desqualificar a argumentação. Toda deliberação deve
analisar o impacto dessas agressividades na persuasão. Demais problemas de equidade devem ser
resolvidos fora do debate e não devem, isoladamente, impactar a deliberação em si. No entanto,
ser um orador preconceituoso geralmente não é persuasivo para o eleitor hipotético bem informado
e inteligente. Um debatedor que, por exemplo, afirme ideias racistas provavelmente será, em geral,
muito menos convincente.

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DE BATE N DO &
J U LGAN DO
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3.1 VENCENDO UM DEBATE


Duplas estão sempre almejando ganhar o debate. Para debatedores e juízes, a assertiva central de
como duplas ganham é a seguinte:
Duplas ganham debate sendo persuasivas e cumprindo os ônus que o seu lado do debate está
tentando provar, observadas as restrições impostas pelas regras do modelo BP.
Existem dois comentários importantes sobre essa assertiva central:
1 Alguém no debate poderia se levantar e ser persuasivo sobre qualquer coisa, mas isso não o
ajudará a vencer o debate, a não ser que seja o exposto seja relevante para os ônus que as
duplas devem provar;
2 As regras do debate regulam as formas legítimas de persuasividade. Por exemplo, na ausência
de regras, o Whip da Oposição poderia ser persuasivo introduzindo novos argumentos, mas as
regras proíbem isso. Sendo assim, elementos de um discurso só ajudam uma dupla a ganhar a
rodada se eles forem mais persuasivos que as outras duplas e estiverem dentro das regras do BP.
AVALIANDO COMO O “ELEITOR HIPOTÉTICO BEM INFORMADO E INTELIGENTE”
Na maioria das camadas sociais, persuasão é algo altamente subjetivo – o grau pelo o qual somos
persuadidos por algo reflete nas nossas crenças, na estética pessoal ou nossas preferências de
estilo, nossos interesses particulares etc. Seria problemático se os debates fossem avaliados tão
subjetivamente – os resultados dependeriam tanto de quem fossem os juízes quanto da performance
dos debatedores, com um lado do debate sendo muito mais difícil de ganhar, afinal, os juízes estariam
predispostos a discordar.
Consequentemente, enquanto for humanamente possível, juízes devem, conjuntamente, avaliar a
persuasividade dos discursos de acordo com um conjunto de critérios objetivos de avaliação, ao
invés de julgar de acordo com suas próprias visões sobre o assunto. Em particular, juízes devem
imaginar a si mesmos como se fossem um “eleitor hipotético bem informado e inteligente” – algumas
vezes também chamado de “pessoa média razoável” ou “cidadão global informado”. Esse eleitor
hipotético bem informado e inteligente não tem opiniões pré-formadas no tópico do debate e não é
convencido por sofismas, mentiras ou falácias lógicas. Ele tem uma mente aberta e está interessado
em decidir como votar – dessa forma, ele quer ser convencido pelos debatedores que mostrarem o
caso mais convincente a favor ou contra uma certa política.
O eleitor médio inteligente tem o tipo de conhecimento que se esperaria de alguém que lê regularmente,
mas não memoriza, as primeiras páginas e a seção mundial de um grande jornal internacional –
como o NewYork Times, Financial Times e Der Spiegel. Ele não lê periódicos técnicos, literatura
especializada ou similares. Em suma, é uma pessoa inteligente que tem uma boa dose de conhecimento
amplo e não profundo. Imagine um estudante universitário brilhante e razoavelmente bem informado
que está cursando um assunto completamente estranho a qualquer tópico que o ajude a entender o
debate em questão.
Os debatedores podem, eventualmente, fazer referência a exemplos, fatos e detalhes que o eleitor
médio inteligente desconhece. Por isso, ao invés da mera citação de exemplos e fatos, exige-se
explicação e detalhamento que lhe confiram relevância e verossimilhança. Embora não possua
conhecimentos específicos sobre um tópico específico, o eleitor inteligente comum é genuinamente
inteligente e compreende conceitos, fatos ou argumentos complexos, desde que devidamente
explicados. As equipes não devem receber crédito por exemplos, fatos ou conhecimentos não
razoavelmente explicados.

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O eleitor hipotético bem informado e inteligente não sabe termos técnicos que requerem um curso
universitário em particular para entender. Pode-se assumir que ele possui alguma forma de vocabulário
genérico que vem de uma educação universitária de alguma forma, mas provavelmente não do seu
curso em específico. Eles não entendem um jargão do meio jurídico ou econômico com que nós,
debatedores, estamos familiarizados. Falar sobre “Curva de Laffer” para a maioria das pessoas é
equivalente a fazer alguns barulhos estranhos. Similarmente, usar termos como “eficiência econômica”
terá como entendimento apenas o que um leigo entenderia, perdendo qualquer especificidade técnica.
Juízes devem julgar de acordo, e oradores que desejarem fazer uso de uma maior especificidade
que termos técnicos possuem devem gastar seu tempo explicando as conotações do termo que
desejam utilizar.
Fundamentalmente, o eleitor hipotético bem informado e inteligente não vem de nenhum lugar.
Especificamente, ele não vem de onde um juiz em particular vem. Logo, não há “exemplos locais”
que requerem menos explicação para o eleitor hipotético bem informado e inteligente, mesmo quando
todo mundo na sala vem daquele local. De onde quer que você seja, assuma que os juízes são
de outro lugar.
Como talvez possa ser induzido dos parágrafos anteriores, o eleitor hipotético bem informado e
inteligente é muito diferente da maioria das, ou talvez de quaisquer, pessoas do mundo real. Mas o
conceito de “eleitor hipotético bem informado e inteligente” é uma forma prática de revelar um conjunto
de características importantes que um juiz deve almejar para assegurar que todos as duplas recebam
um tratamento justo em qualquer debate. Dessa forma, o termo “eleitor hipotético bem informado
e inteligente” será utilizado neste manual como uma expressão para descrever a expectativa na
qual juízes devem:
• Evitar ler o debate sob a ótica de um conhecimento pessoal que têm do assunto debatido, a
menos que seja razoável considerar que seja um conhecimento detido por alguém de inteligência
razoável e de ativo consumo de noticiários – isto é, “Síria está no Oriente Médio” ou “Rússia é
a maior produtora de petróleo” é claramente um conhecimento aceitável, mas os detalhes das
tropas do governo iraquiano é provável que não sejam;
• Dar pouco ou nenhum crédito a apelos meramente emocionais ou argumentos de autoridade,
com exceção de quando eles tiverem influência racional em um argumento;
• Evitar, ao avaliar os argumentos, presumir o contexto geográfico, cultural, nacional, étnico ou
qualquer outro contexto;
• Evitar dar preferência a argumentos ou estilos de oratória com base em preferências pessoais;
• Avaliar os méritos de um problema, solução ou política proposta desassociando quaisquer
perspectivas pessoais que estejam relacionadas a isso.
Pensar como um eleitor hipotético bem informado e inteligente não nos absolve das nossas
responsabilidades de julgar o debate – avaliar a fluência lógica dos argumentos, determinar o
vencedor de acordo com a persuasividade das duplas. Nós não devemos dizer “enquanto isso
foi claramente uma demagogia irracional, o eleitor hipotético bem informado e inteligente teria
acreditado”. Isso não só conduz a conclusões irracionais, mas, também, geralmente, superestima
quão mais espertos nós somos em relação ao eleitor hipotético bem informado e inteligente.
Nós enfatizamos que a principal razão pela qual juízes devem imaginar a si mesmos como um
eleitor hipotético bem informado e inteligente é para evitar que eles se baseiem nos seus gostos ou
nas suas crenças subjetivas. Muitos de nós debatem com frequência, e acabamos desenvolvendo
preferências estéticas sobre oratória, piadas internas e referências que achamos engraçadas. Isso
é natural, mas nos distrai, em alguma medida, do debate. Como eleitor hipotético bem informado e
inteligente, ficamos muito menos suscetíveis a acreditar em políticas públicas apenas por elas terem

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sido defendidas de forma “sofisticada” ou “engraçada”. A melhor forma de fazer isso é os juízes
simplesmente considerarem que o que está em jogo nos debates são políticas ou controvérsias reais
e ver quem teve o maior potencial para persuadir um eleitor médio inteligente.
Algumas vezes em mesas difíceis, onde existe algum split – quer dizer, quando os adjudicadores
discordam entre si a respeito de uma ou mais colocações –, alguns adjudicadores podem dizer
que existe mais de uma versão do eleitor hipotético bem informado e inteligente e que ambas as
posições dele e do outro colega adjudicador, seriam válidas. Não é esta a postura que adjudicadores
devem ter durante uma deliberação. Mais do que se colocarem na posição do eleitor hipotético bem
informado e inteligente eles devem buscar ao máximo um consenso do que eles interpretam que o
eleitor hipotético bem informado e inteligente deveria interpretar aquele debate. O mindset correto
é que só existe um único eleitor hipotético bem informado e inteligente e que ele só iria adjudicar
e ser persuadido por aquele debate de uma única forma possível. Essa diferença sutil – e alguns
talvez digam utópica – é o que permite que uma adjudicação coerente e consistente em um torneio.
Um bom juiz não é aquele finge que não possui convicções pessoais, mas aquele que conhece
bem suas preferências pessoais argumentativas e estilísticas; e desta forma, blinda-se contra elas.
Sempre que um juiz estiver lidando com material que, em termos individuais, aprecia ou desgosta
fortemente, ele deve repensar se o seu julgamento da persuasão não foi contaminado pelos seus
gostos. Da mesma forma, caso ouça um argumento que é bem incompreensível pelo eleitor hipotético
bem informado e inteligente, mas que seja de amplo conhecimento individual por parte do juiz – por
exemplo, argumentos técnicos típicos do seu curso de graduação –, o juiz também deve analisar com
mais cautela qualquer impressão que tiver. Para esses casos, também é recomendável que o juiz peça
a opinião dos outros membros da Mesa acerca dessa linha argumentativa específica.

3.2 O QUE É PERSUASIVIDADE?


Juízes julgam debates ao avaliar, sem preconceitos, a capacidade de persuasão e deslocamento que
cada dupla fornece aos juízes em um debate. A persuasividade de um argumento, no modelo BP,
está enraizada no quão plausíveis são as razões usadas para mostrar que um dado posicionamento
é verdadeiro e importante – o que nós chamamos de “análise” ou “matéria”.
ANÁLISE
A análise por trás de um argumento consiste nas razões oferecidas para apoiá-lo. Razões
podem apoiar argumentos de formas diferentes, não sendo nenhuma delas “melhor” ou “mais
importante”. Razões podem:
• Explicar logicamente porque um argumento é verdadeiro;
• Apresentar evidência empírica para um argumento – chamamos isso de garantia;
• Descrever a causa do porquê uma certa consequência ser provável de acontecer;
• Identificar intuições morais amplamente compartilhadas em favor de um argumento;
• Expor uma grave implicação lógica de um argumento contrário;
• Identificar uma resposta emotiva que nos encoraja a ter atenção a uma certa consequência;
... ou fazer várias outras coisas que encorajem o eleitor hipotético bem informado e inteligente a
acreditar que um argumento é verdadeiro e importante para o debate. Razões podem ser fortes ou
fracas de acordo com vários critérios importantes, incluindo:
• A capacidade de articulação e clareza do que o orador diz, ou seja, a forma expressa de
compreensão em si e não a oratória do debatedor

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• Os detalhes com os quais importantes exigências lógicas, evidências empíricas, processos


casuísticos, intuições morais, implicações morais ou outros elementos são explicados.
Além dessas formas de identificar, dentro de um discurso, razões que embasam os argumentos do
orador, os juízes dispõem de padrões mínimos ao avaliar o grau de embasamento que uma razão dá,
analisando se a razão, em si, é plausível; e se ela, portanto, torna o argumento do orador persuasivo.
Reivindicações extremamente implausíveis – as que qualquer eleitor hipotético bem informado e
inteligente não acreditaria nas suas premissas ou na sua lógica – provém um baixo – se algum –
embasamento ao argumento.
Inconsistência é sempre considerada relevante e problemática: duplas não devem contradizer outros
oradores da sua bancada. Duplas com inconsistência interna não podem ganhar crédito por duas áreas
de argumento mutuamente excludentes. Juízes podem, dependendo das circunstâncias, desconsiderar
ambos os argumentos por não serem persuasivos devido a análises conflitantes, desconsiderar apenas
um, ou até mesmo considerar ambos como fracos/restritos em seu escopo.
Certas coisas não importam para avaliar quão boa foi a análise de um orador:
• O número de argumentos que o orador faz;
• Quão esperto/inovador o argumento foi;
• Quão interessante o argumento foi.
O que importa, uma vez que o argumento foi feito, é o quão importante a sua conclusão parece
ter sido para o debate, em relação aos ônus que cada lado está tentando provar, e até que ponto
ela parece ter sido analisada e respondida – e o quão bem ela resistiu ou foi defendida contra tais
respostas. Juízes não consideram o quão importantes eles acharam que um argumento em particular
foi, abstratamente; mas sim o quão central ele foi para a contribuição geral de qualquer dupla – ou
duplas – para um dado debate em particular, e o quão forte foram as razões dadas pelos oradores
para embasar suas reivindicações de que esses argumentos foram importantes ou não.

3.3 REFUTAÇÃO, ENGAJAMENTO E COMPARAÇÕES


O resultado do debate deve depender do que as equipes dizem. Os juízes não devem intervir no
debate. Não invente argumentos para equipes, não conclua argumentos e não refute argumentos.
Os juízes não devem considerar argumentos inválidos apenas porque discordam ou porque podem
ver pontos fracos neles. Os argumentos têm a sua persuasividade reduzida se forem respondidos
por outra/s equipe/s.
Se o Primeiro Governo, por exemplo, apresentar argumentos onde a conclusão é “deveríamos fazer
a política”, e todas as outras equipes ignoram esses argumentos, então a OG não perde porque “o
debate se afastou deles”. Isso NÃO significa que os argumentos que não foram respondidos tenham
um efeito particular no ranking do Primeiro Governo, neste exemplo.
Se um argumento é claramente absurdo – de modo que você não pode conceber nenhum
eleitor inteligente comum atribuindo algum crédito a sua lógica e/ou premissas –, ou foi de
importância marginal para o caso da dupla, é razoável que uma equipe que responda decida
gastar seu tempo em outro lugar, principalmente onde houver outro material mais forte na
rodada. Além disso, os juízes têm o direito de avaliar quão bem um argumento fundamentado é
um argumento que é apenas uma afirmação – “como todos concordamos, linguagem constrói
a realidade” – sem qualquer comprovação subsequente não deve receber muito crédito.
Refutação consiste em qualquer material, oferecido por um orador, que demonstra porque os argumentos
oferecidos pelas duplas na outra bancada do debate são errados, irrelevantes, comparativamente

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sem importância, insuficientes, inadequados ou, de outra maneira, inferior às contribuições da bancada
do debatedor. A refutação não precisa ser rotulada especificamente como “refutação” – por mais que
possa ser sensato para debatedores o fazerem –, e pode ocorrer no início, meio, fim, ou ao longo
de todo o discurso. Assuntos rotulados como refutação podem ser construtivos além de refutativos,
e assuntos rotulados como construtivos também podem funcionar como refutações. A refutação,
portanto, não denota algum tipo especial de argumento ou análise – ela simplesmente se refere a
qualquer material que engaja diretamente com argumentos levantados pela outra bancada.
Ser persuasivo não é, portanto, apenas fazer argumentos que são – analisados somente em si mesmos
– persuasivos. Persuasividade em um debate também consiste em engajamento detalhado com outras
duplas, demonstrando, comparativamente, porque o argumento de um debatedor é melhor, destrói,
e deveria ser priorizado em relação a outros argumentos.
Dentro do contexto de um debate, existem basicamente dois tipos de refutação:
REFUTAÇÃO COMO ANÁLISE COMPETITIVA
Expõe uma situação alternativa àquilo que um debatedor disse que iria acontecer. Nesse tipo de
refutação a oposição não se dá por ataque direto ao argumento da outra bancada. Ela agrega
ao caso de quem a realizou, mas não destrói o caso rebatido, apenas o enfraquece em termos
comparativos. Esse tipo de refutação pode ser preferível quando é preciso, além de refutar, construir
argumentação positiva. Contudo, quando o outro lado realiza uma argumentação muito sofisticada,
essa estratégia refutativa pode ser insuficiente para dar vitória a esse clash.
REFUTAÇÃO COMO ANÁLISE NEGATIVA
Aponta falhas na argumentação da oposição. Nesse tipo de refutação, a oposição se dá por confronto
direto ao argumento da outra bancada. Ela não agrega tanto ao caso de quem a realizou, mas
destrói, à medida em que a análise for boa, o caso rebatido. Esse tipo de refutação é preferível
quando é necessário abalar mais intensamente uma determinada linha argumentativa, visto que essa
estratégia refutativa tem como finalidade mostrar porque a argumentação do outro lado é errada e
com defeitos internos.
Quando duplas têm uma chance de refutar uma a outra, avaliar contribuições relativas dessa forma
é fácil. Juízes devem olhar uma linha argumentativa e avaliar, dadas as inserções construtivas e
refutativas, qual contribuição da dupla foi mais significativa em promover suas razões para, acerca
daquele ponto disputado, nos persuadir logicamente que deveríamos implementar a política, ou que
não deveríamos implementá-la. A análise de um determinado clash argumentativo deve ser sempre
feito de modo comparativo.
Mas, quando duplas não têm a chance de refutar umas às outras, determinar quem foi mais persuasivo
é mais complicado. Isso acontece com relativa frequência, por exemplo:
• Entre duplas em diagonais curtas e longas;
• Quando o Whip da Oposição explica algo de uma nova maneira;
• Quando as duplas de primeiras casas são impedidas de fazer pontos de informação.
Nessas circunstâncias, os juízes são forçados a fazer uma avaliação mais independente acerca da
“robustez” dos argumentos que as duplas fizeram. Em outras palavras, os juízes são forçados a avaliar
quão bem os argumentos teriam se saído no engajamento, se esse engajamento tivesse sido possível.
Um material mais robusto é, com todos os outros pontos sendo iguais, uma melhor contribuição que
um material menos robusto. Idealmente, avaliar a robustez envolverá uma comparação com o material
na mesa – isto é, olhando para as análises apresentadas – ou pequenas extensões do mesmo. Por
exemplo, quando juízes comparam duas duplas em uma diagonal – por exemplo, 2G e 2O –, eles

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devem primeiro se perguntar se alguma coisa no discurso dos primeiros é inerentemente suscetível a
resposta. A última dupla sendo avaliada lidou com esse material? Veja se eles permitiram que a dupla
da diagonal tivesse pontos de informação, para dar a eles uma oportunidade de engajar. Impedir
o engajamento de uma dupla com material relevante é frequentemente óbvio e nada persuasivo.
Deve ser enfatizado que tal consideração acerca da robustez é um último recurso. Juízes são, em
teoria, instruídos a avaliar apenas as razões comparativas postas pelas duplas no debate; e, se as
duplas tiverem provido essa análise, é problemático os juízes a substituírem pela sua. Portanto, em
resumo, a análise comparativa entre duplas deve se dar da seguinte forma:
1 Comparação direta em primeiras e segundas casas: uma dupla engaja diretamente com os
argumentos de outra, mostrando porque os dela, em detrimentos dos da outra, são mais importantes;
2 Análise do impacto da argumentação: o juiz deve ponderar sobre o impacto da análise
desenvolvida por cada dupla, ainda que elas o tenham feito individualmente sobre o argumento
delas, sem refutar ou comparar com os argumentos das demais duplas;
3 Duplas não engajaram, ou o impacto foi igual – ou ainda, quando as segundas casas “repetem”
argumentos das casas anteriores –: O juiz tem que decidir o que é mais provável de persuadir
o eleitor hipotético bem informado e inteligente, verificando o nível de análise e meta-análise
que cada uma deu e a porcentagem de plausibilidade possível nos casos, sempre utilizando a
métrica de comparação para verificar tais hipóteses.

3.4 O QUE DETERMINA OS ÔNUS?


Como dito antes, não há valor em ser persuasivo com um argumento que é irrelevante para o debate. Ao
avaliar quais contribuições são relevantes, é de grande ajuda considerar os “ônus” que uma dupla tem
que ter no debate. Ônus são frequentemente mal interpretados e mal atribuídos por parte das duplas em
um debate; que tentam empurrar, aos seus oponentes, ônus que não são necessários – juízes devem ser
cautelosos para não cair na mesma armadilha. Ônus não podem ser criados por uma dupla simplesmente
afirmando que eles existem, mesmo nos casos em que os debatedores criam ônus desnecessário para si
mesmos e não os honram. Isso seria punir o debatedor e adjudicadores não devem punir debatedores
Porém, há duas formas cruciais que um ônus pode legitimamente ser atribuído a uma dupla – e debatedores
podem legitimamente apontá-las, e explicar porque eles ou outras duplas precisam atendê-los.
Primeiramente, um ônus pode estar implícito na própria moção. Se, por exemplo, a moção é “EC
priorizaria a vacinação de cidadãos cumpridores da lei em casos de grandes epidemias”, as
duplas do Governo precisam demonstrar que em grandes epidemias a vacinação de cidadãos
cumpridores da lei deveria ser priorizada. Duplas do Governo não precisam demonstrar que a
vacinação de cidadãos cumpridores da lei deveria ser priorizada no geral – fora das grandes
epidemias – ou que apenas cidadãos cumpridores da lei deveriam ser vacinados – eles devem
simplesmente ser priorizados. A maneira com a qual o Primeiro Governo define a moção
também pode interferir nesse ônus. Duplas da Oposição precisam demonstrar que o Governo
está errado: que a política de priorizar cidadãos cumpridores da lei para vacinação durante
grandes epidemias deveria ser oposta. Eles não precisam necessariamente mostrar que cidadãos
cumpridores da lei não deveriam ser priorizados em nenhuma maneira sob nenhuma condição
– apesar que, o fato de nós priorizamos cidadãos cumpridores da lei em outros casos pode ser
usado como evidência de um princípio que apoia priorizar cidadãos cumpridores da lei nesse caso.
Em segundo lugar, os ônus podem também ser colocados pelos argumentos específicos que as
duplas fizerem. Por exemplo, se a moção é “EC acredita que o assassinato é uma ferramenta
legítima de política externa”, o Líder da Oposição pode inicialmente alegar que o assassinato é
uma quebra severa do direito internacional. Para isso ser relevante ao debate, ele precisa mostrar

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que ilegalidade está atrelada diretamente a ilegitimidade. Esse ônus é especialmente forte se o
Adjunto do Primeiro Ministro alega, então, que eles aceitam que o assassinato é ilegal, mas
argumenta que a ilegalidade é uma base fraca para dizer que um ato é ilegítimo. A menos que
as Duplas da Oposição dêem razões superiores para pensar que a ilegalidade de um ato sob
o direito internacional é uma razão para sua ilegitimidade, não é relevante para os ônus que
eles precisam provar que haja um mero apontamento de que assassinato é ilegal, ou dar mais
detalhes de como isso é ilegal. Ambas as bancadas agora concordam que o assassinato é ilegal,
e continuar concordando com isso não leva a nada. O que as bancadas agora discordam é nas
implicações que isso tem para a legitimidade do assassinato, e é isso que elas têm o ônus de provar.
Portanto, as concessões feitas remodelam totalmente os ônus das bancadas, tendo em
vista que os pontos concedidos não devem mais ser passíveis de clashes, já que ambas
as bancadas estão concordando acerca daquela reivindicação específica. Debatedores
que insistirem em argumentar a favor de pontos que já foram concedidos pela bancada
oposta devem ter sua argumentação acerca desse tópico específico desconsiderada.
Uma argumentação tem maior ônus à medida em que ela se distancia do senso comum do eleitor
hipotético bem informado e inteligente. Assim, reivindicar que ações preconceituosas são ruins tem
um ônus bem menor do que argumentar que a hegemonia chinesa no Mar da China Meridional é um
perigo para a ordem global vigente. Isso não significa, contudo, que os argumentos mais próximos do
senso comum do eleitor hipotético bem informado e inteligente não necessitem de análise detalhada. A
implicação verdadeira disso é que, comparativamente, argumentos menos habituais ao eleitor hipotético
bem informado e inteligente precisam de maior desenvolvimento analítico para atingir um mesmo
nível de persuasão – se não considerarmos previamente as refutações que podem ser levantadas.
Da mesma forma, alguns argumentos, naturalmente precisam de análise detalhada em vários passos
para serem efetivamente convincentes. Logicamente, é possível fracionar um raciocínio em diversas
premissas no qual ele é fundamentado. Em alguns casos, algumas premissas são intuitivas; tendo,
portanto, menor ônus de prova. Contudo, alguns raciocínios possuem diversas premissas que, se não
analisadas detalhadamente, tornam o argumento pouco plausível; logo, essas ideias têm maior ônus
de prova, visto que o não detalhamento pode gerar uma argumentação com muitos saltos lógicos.
ANALISANDO E JULGANDO MÉTRICAS
As equipes frequentemente contestam/disputam os critérios pelos quais o debate deve ser julgado e
argumentam que os pontos devem ser julgados de acordo com certas estruturas e padrões – métricas
ou enquadramento. Isso é permitido: As equipes podem debater quais critérios devem ser usados​​
para avaliar se uma política é boa como parte da argumentação de que é, de fato, boa.
MÉTRICAS DE RELEVÂNCIA: O QUE É MAIS IMPORTANTE?
STAKEHOLDER MAIS IMPORTANTE NO CONTEXTO DO DEBATE. Quem é o principal
agente afetado e ou geralmente mais vulnerável? A quem pretendemos alcançar?
QUANTIDADE DE PESSOAS ATINGIDAS. Em qual cenário salvamos mais pessoas?
INTENSIDADE DO IMPACTO. Em qual cenário conseguimos melhor impactar e abranger mais
pessoas de forma mais densa?
TEMPORALIDADE. Em qual cenário resolvemos mais rápido? Há uma questão de urgência ou
os mesmos resultados podem ser obtidos em tempos distintos sem nenhuma perda significativa
sem essa demanda urgente? Curto Prazo x Longo Prazo.
CUSTO X BENEFÍCIO. Quais são os resultados obtidos com determinados custos? Vale a pena?
PLAUSIBILIDADE. O cenário da argumentação das bancadas é verossímil e contribui

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para a resolução dos problemas? É plausível de se realizar?


QUAL MÉTRICA PREVALECE?
HIPÓTESE 1 Quando as duplas concordam com a métrica utilizada no debate:
Quem provou melhor ou foi mais importante, usando a mesma régua para medir os dois casos.
HIPÓTESE 2 Quando as duplas disputam a métrica ao longo do debate:
Ver, comparativamente, qual fundamentou melhor a prevalência da sua métrica.
HIPÓTESE 3 Quando as duplas não concordam e, ao mesmo tempo, não fundamentam a sua métrica
O que o eleitor médio consideraria com base em sua visão de cidadão bem informado.
TIPOS DE MOÇÃO
Moções podem vir em diferentes formas, frequentemente insinuadas pelas palavras usadas para
introduzi-las (“Esta Casa...”, “Esta Casa acredita que...”, “Esta Casa apoia...”) e, de novo, isso pode
afetar os ônus que as duplas enfrentam. Comissões de Avaliação não usam essas aberturas tão
consistentemente a ponto de nós podermos determinar clara e rapidamente regras no que elas dizem
sobre a moção, mas aqui estão algumas diretrizes gerais:
Moções na forma “Esta Casa faria X” quase sempre envolve o Governo propondo algum tipo de
política, X – uma concreta maneira de agir a qual eles desejam convencer os juízes de que deveria
ser implementada. Essas moções são sobre se a Casa deveria fazer X – com duplas do Governo
argumentando que eles deveriam e duplas da Oposição argumentando que eles não deveriam.
Esses debates não são sobre se a entidade que a Casa representa – normalmente, mas nem sempre,
governos de Estados – vai fazer a medida em questão no mundo real, ou se eles estão fazendo a
medida no presente. Assim, nunca é um caminho válido para a Oposição a essas moções dizer que
“mas o governo nunca faria isso” ou, de maneira mais sutil, “mas os políticos nunca aprovariam essa
lei”. Para o propósito do debate, as duplas do Governo são aquele governo e os políticos que fazem
isso, e o debate é sobre se eles devem ou não adotar a medida, não se suas partes no mundo real
fariam ou não.
Moções que dizem “EC, no lugar de A, faria X” são de alguma forma especiais. Essas moções são
sobre a entidade A fazendo X e, então, convidam a um exame mais detalhado da perspectiva da
entidade sobre o que ela deve fazer, com todas as duplas argumentando do ponto de vista do ator
A. Então se, por exemplo, a moção é “EC, no lugar da Turquia, interviria na Guerra Civil Síria”,
esse debate deve tomar lugar na perspectiva da Turquia. Tanto como o agente proposto a intervir
na Guerra Civil Síria, quanto como o alvo dos recursos argumentativos. Em contraste, se a moção é
“ECAQ a Turquia deve intervir na Guerra Civil Síria”, a moção não aborda somente a perspectiva da
Turquia – em vez disso, os debatedores estão simplesmente tentando convencer os juízes da verdade
da afirmação. O último debate é situado na perspectiva do espectador, e não na do ator. Nesse
último debate, os argumentos que seguem a ideia de priorizar os interesses turcos em detrimento dos
outros precisam justificar essa priorização. Para botar isso na linguagem do eleitor hipotético bem
informado e inteligente, no primeiro tipo de moções, ele assume a posição da Turquia ao decidir o
que fazer. Isso não inclui ou exclui certos argumentos ou recursos do debate – o eleitor hipotético
bem informado e inteligente que imagina a si mesmo como a Turquia é ainda um eleitor hipotético
bem informado e inteligente; e pode, como Turquia, ser persuadido por razões morais variadas,
consequências previstas, alegações sobre os principais interesses da Turquia, e por aí vai. Mas os
argumentos dos lados do debate, e os ônus que eles precisam provar, são orientadas ao redor do
ator A – e uma dupla não pode plausivelmente levantar e dizer que “a Turquia deve intervir na Guerra
Civil Síria, porque isso vai ser muito bom para os negócios americanos”, sem explicar porque ser bom
para os negócios americanos deve ser uma razão plausível para que a Turquia faça alguma coisa.

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Moções que dizem “ECAQ X” geralmente não envolvem o Governo propondo uma medida; mas, em vez
disso, requerem que as duplas do Governo argumentem pela verdade da declaração apresentada em X,
enquanto as duplas da Oposição argumentam que X é falso. Duplas do Governo ainda podem propor uma
política pública como uma manifestação de sua crença em X – por exemplo, se a moção é “ECAQ todos
os indivíduos possuem direito a um padrão mínimo de vida”, o Governo pode produtivamente especificar
uma medida que eles fariam para prover esse direito. Algumas moções do tipo “acredita que” são mais
explícitas sobre medidas, incluindo moções com a formulação “ECAQ [Ator A] deveria [fazer ação X].
Moções que dizem “EC apoia/lamenta Z” também normalmente não envolvem o Governo propondo
uma medida – porém, de novo, ele pode escolher fazê-la. Em vez disso, as duplas do Governo
precisam argumentar que eles iriam – seja simbolicamente, politicamente, materialmente ou em
alguma outra maneira – apoiar a pessoa, grupo, instituição, causa, ideia, valor ou declaração
expressa por Z. A Oposição precisa argumentar que Z não deveria ser apoiada dessa maneira.

3.5 SE OPONDO NO DEBATE


O Governo argumenta em favor do que a moção o requer que seja feito ou que seja dito que é
verdadeiro. E a Oposição? Em um debate sobre uma medida, a Oposição tem que dizer que não
se deve fazê-la: isto é, que algo é melhor do que fazer essa medida. Então, assim como com as
definições do debate pelo Primeiro Governo, a posição que a Oposição escolhe defender pode
ser o status quo em algum lugar, pode ser algo que não é atualmente feito em nenhum lugar, ou
pode ser descrito como “fazer nada” ao invés de “fazer a medida” – mas, naturalmente, duplas
que fazem isso não necessariamente recomendam total inação do governo, mas estão executando
a linha comparativa de que “independente das medidas amplamente sensatas e relevantes que já
estão sendo executadas, a adição desta nova medida deixa as coisas piores” ou que “o status quo
atual naturalmente resolverá o problema”.
CONTRAPROPOSTA
Desde que a Oposição dê razões para não fazer a medida, ela cumprirá seu papel. Não é ônus da
Oposição se comprometer a um curso de ações específicas e alternativas às medidas do Governo.
Porém, eles podem se comprometer a defender uma medida alternativa ou um curso de ações se eles
quiserem – isso é frequentemente referido como uma “Contraproposta”. Assim como apenas o Primeiro
Governo tem o direito de deixar um modelo para o Governo e tem que fazer isso no discurso do
Primeiro Ministro, apenas o Líder da Oposição pode deixar um modelo alternativo para a Oposição.
Uma contraproposta que não é mutuamente excludente com o caso ou modelo do Governo não é em
si inválida, mas é provável que ela não ajude a explicar porque a medida do Governo não deve ser
adotada – pois, intuitivamente, ambas poderiam ser feitas lado-a-lado. Uma Primeira Oposição que
escolha apresentar um modelo alternativo deve explicar não apenas porque o seu modelo é melhor
que o do Primeiro Governo, mas também porque isso seria preferível em detrimento do mecanismo
feito pelo Primeiro Ministro.
Se a Primeira Oposição não contrapropor, não é legítimo para as duplas do Governo demandarem
que eles se comprometam a uma alternativa específica – o papel da Oposição é simplesmente
derrotar a medida proposta pelo Governo, não há exigência de resolver o problema que o Governo
identificou – a Oposição pode até argumentar que não tem um problema real que precise de uma
solução, ou que o problema que a moção tenta resolver é diferente do que foi apresentado pelo
Primeiro Governo. Porém, se a Oposição aceita que um problema existe, será difícil para eles irem
bem no debate sem demonstrar que a ação do Primeiro Governo, por tornar o problema muito
pior, faz com que a inatividade seja preferível; ou demonstrar que alguma alternativa e melhor
solução existe. A Oposição tem o direito de apontar uma variedade de possíveis alternativas
superiores sem se comprometer a apenas uma, mas pode, na prática, ser difícil provar que a medida

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do Primeiro Governo é inferior sem diretamente compará-la ao menos a uma dessas alternativas.
Moção Hipotética: “EC invadiria a Síria.”
EXEMPLO 1
PRIMEIRO MINISTRO “Nós acreditamos que os EUA devem invadir a Síria de uma vez e instalar
um novo governo”.
LÍDER DA OPOSIÇÃO “Nós acreditamos que os EUA devem invadir a Síria de uma vez, mas eles
devem também dar assistência econômica a um novo regime sírio.
O JUÍZ DEVE CONCLUIR A contraproposta da Primeira Oposição não é mutuamente excludente
com a proposta do Primeiro Ministro, e aceita a premissa do caso do Primeiro Governo. A Primeira
Oposição não está, de verdade, se opondo à moção.
EXEMPLO 2
PRIMEIRO MINISTRO “Nós acreditamos que os EUA devem invadir a Síria de uma vez e instalar
um novo governo”
LÍDER DA OPOSIÇÃO “Em vez de invadir, os EUA deveriam dar ajuda militar aos grupos rebeldes
dentro da Síria”
O JUÍZ DEVE CONCLUIR A contraproposta da Primeira Oposição não é estritamente mutuamente
excludente com o caso do Primeiro Governo, mas eles deixaram uma alternativa – dizendo que
“nós sugerimos uma política de A não invadir e B dar ajuda militar”. Dependendo dos argumentos a
seguir, eles podem estar aptos a, com sucesso, mostrar que sua medida é melhor que a do Governo.

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ORI E NTAÇÕES
PAR A J U ÍZ ES
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4.1 DECIDINDO OS RESULTADOS


Uma vez terminado o debate, os debatedores devem deixar a sala de debate, e os juízes devem
classificar coletivamente as quatro duplas em ordem: primeiro, segundo, terceiro e quarto. Os juízes
fazem isso através de uma discussão – ou “deliberação”– visando o consenso – eles não simplesmente
se decidem e votam, nem se envolvem em uma batalha um contra o outro para “ganhar” a discussão.
Mesas de Avaliação são uma equipe, e todos os membros da mesa devem se ver como tal – seu
trabalho é decidir cooperativamente sobre a melhor maneira de classificar as quatro duplas no
debate. Debates não podem resultar em um empate: uma dupla deve levar a “primeira” colocação,
uma dupla a “segunda”, uma dupla a “terceira” e uma dupla a “quarta”.
Para repetir o critério central do BP sobre os vencedores: os juízes avaliam quais duplas foram mais
persuasivas com relação aos ônus que o seu lado do debate está tentando provar, dentro dos limites
impostos pelas regras do BP, sempre comparativamente. Realizando as 6 métricas, como pode ser
visualizado abaixo:

Os juízes devem determinar qual dupla fez o melhor para persuadi-los, por argumentação lógica,
de que a moção deve ser adotada ou rejeitada. Os juízes fazem isso como um eleitor hipotético
bem informado e inteligente, e suas avaliações são sempre holísticas e comparativas: considerando
todas as contribuições que cada dupla fez para o debate em geral, e comparando-as com as das
outras duplas. As duplas não podem ganhar ou perder debates devido a detalhes isolados que elas
fizeram, como definir bem o debate ou contradizer a outra dupla da mesma bancada. Crucialmente,
não existe algo como “quarto lugar automático” ou “primeiro lugar automático”. E isso se deve a uma
questão de necessidade lógica: por mais boa ou ruim que uma dupla seja, outra dupla sempre pode
fazer exatamente a mesma ação boa ou ruim e fazer outra ação que as torne ainda melhor ou pior.
Os juízes podem e devem avaliar o quão bem-fundamentados os argumentos são. Isso inevitavelmente
envolverá alguma avaliação da qualidade das razões oferecidas para apoiar os argumentos; e
reivindicações seriamente implausíveis constituem, aos olhos dos juízes, um suporte fraco para um
argumento. Mas os juízes devem exercer o mínimo de avaliação pessoal ao fazer tais alegações, e
mesmo argumentos seriamente implausíveis não podem ser totalmente desconsiderados pelo juiz, se
eles não forem refutados – embora possam ter pouco valor persuasivo. Em um mundo ideal, as duplas
irão engajar em respostas extensivas aos pontos bem detalhados de cada uma. Na maioria dos debates
que ocorrem no mundo real, contudo, as duplas frequentemente dialogam umas com as outras e deixam
alguns pontos, um do outro, sem serem desafiados. Nessas circunstâncias, o juiz terá que avaliar não
apenas quais argumentos são mais importantes, mas também quais foram mais claramente comprovados.
Pontos não refutados que exigem que o juiz faça alguns saltos lógicos são muitas vezes mais persuasivos
do que pontos completamente refutados, e são sempre mais persuasivos do que nenhum ponto, mas não
são preferíveis a um argumento bem fundamentado, que possui apenas algumas poucas suposições
não muito substanciais. Analisar o que é e o que não é refutado é, portanto, de vital importância para
julgar debates. Note que os debatedores não precisam usar a palavra “refutação” para responder
a um argumento. Pode ser mais correto se o fizerem, mas os juízes não devem ignorar material que
engaja adequadamente com um argumento apenas porque o orador não apontou que isso acontece.

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Igualmente, isso não significa que os oradores devam ser “punidos” por não refutarem tudo: algumas
afirmações não destroem de fato a argumentação do lado oposto. Por exemplo, em um debate sobre
a legalização das drogas, se o governo disser que “Os elefantes cor-de-rosa são fofos porque têm
aquelas orelhas bonitas e são de uma cor agradável”, este argumento falho pode ser seguramente
deixado de lado e não ser refutado, pois não é uma razão para legalizar as drogas. Não há, portanto,
necessidade de ressaltar que os elefantes azuis são obviamente mais saborosos, por exemplo. Da
mesma forma, se eles disserem “algumas drogas são menos prejudiciais do que outras”, isso poderia
também ser ignorado. Embora esteja claramente mais relacionado ao debate do que o argumento
dos elefantes cor-de-rosa fofos, ainda é pré-argumentativo – isto é, não foi dado embasamento
suficiente para que realmente forneça uma razão para fazer, ou não, aquela política pública. O outro
lado pode muito bem dizer “sim, algumas drogas são mais prejudiciais do que outras” e seguir em
frente, ou simplesmente ignorar esse non sequitur argumentativo. Muitas vezes, como juiz, pode ser
tentador completar, por meio de saltos lógicos, ideias que são interessantes, mas pré-argumentativas.
Não façam isso.
Os juízes devem ser coerentes em sua adjudicação. Muitas vezes, ao resolver um clash, os juízes têm que
concluir determinadas coisas, tais como “o primeiro governo provou razoavelmente bem o argumento
X”. Ao utilizar essa hipótese para justificar, digamos, que o primeiro governo venceu a diagonal
longa porque, entre outras coisas, não deu uma boa resposta ao argumento X, os adjudicadores
não podem ignorar isso ao avaliar a primeira metade. Se o primeira oposição também não deu uma
resposta ao argumento X, isso deve ser considerado de maneira similar. Muitas vezes, após longas
deliberações em algum clash é importante revisitar os clashes já resolvidos para verificar se eles
ainda são coerentes de acordo com as novas hipóteses. Em resumo:
1 Adjudicadores conversam e com alguma facilidade resolvem a primeira metade, decidindo que
a primeira oposição ganhou.
2 Existe muita divergência e após uma longa discussão, usando o fato que “o primeiro governo
provou razoavelmente o argumento X”, eles dão o clash pro primeiro governo.
3 Sem muita hesitação, concluem que o 2O deve ter perdido do 1O.
4 Mas o presidente de mesa se atenta e percebe que eles deveriam revisitar a primeira decisão, com
o que concluiram da segunda decisão. Quando fazem isso, sob a hipótese que “o primeiro governo
provou razoavelmente o argumento X”, eles dão a primeira metade pro primeiro governo então.
5 Agora eles precisam analisar com calma o clash da oposição.
É da responsabilidade do Presidente administrar a deliberação entre os juízes de uma maneira que
permita que todos os juízes participem plenamente da discussão, produzam uma decisão consensual
e completem uma folha com os resultados dentro do limite de tempo de deliberação: 15 minutos.
Os Presidentes de Mesa devem administrar o tempo, e reconhecer que as regras exigem votação se
não houver consenso, cedo o suficiente, para que a avaliação termine em 15 minutos. Levando em
consideração o tempo gasto para decidir sobre pontuações individuais, isso significa que o Presidente
deve considerar uma votação quando, passados 12 minutos de discussão, ainda não houver um
consenso estabelecido.
4.1.1 WINGS
As opiniões dos Wings contam tanto quanto a opinião do Presidente: a principal diferença é
simplesmente que Wings não possuem a tarefa de presidir – ou seja, gerenciar – a discussão. Os
Wings devem tratar o Presidente com respeito, e não o interromper/falar por cima dele, a menos
que eles sintam que não estão sendo autorizados a participar de forma significativa na discussão.
Em troca, os Presidentes devem respeitar as opiniões dos Wings e dar-lhes oportunidade suficiente

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eles devem sempre buscar o consenso. Se a Mesa não chegar a um consenso após 15 minutos, a
eles pode – a depender do cronograma do torneio – ser concedidos mais 5-10 minutos para discutir.
Depois que qualquer tempo adicional se esgotar, os juízes devem votar nos rankings que discordam,
com a maioria, em cada desacordo, determinando o resultado. Se uma Mesa tiver um número par
de juízes e o resultado de uma votação estiver empatado, o Presidente tem o voto de minerva.
4.1.2 RITO DE DELIBERAÇÃO
1 Leitura de anotações na ordem cronológica do debate, comparando clashes, analisando
cumprimento de ônus e relembrando persuasão via análise.
2 Cada adjudicador dá sua call inicial. O presidente de mesa deve perguntar do adjudicador
menos experiente ao mais experiente e por último ele.
3 Análise de todos os clashes, focando nos mais difíceis, e dar o ranking de duplas.
4 Dar notas para cada debatedor – primeiro o melhor debatedor, depois o pior e em seguida as
demais –, de acordo com a tabela de pontuação individual.
5 Presidente entrega as pontuações finais à tabulação, enquanto um Wing chama os debatedores
para o feedback.
6 A deliberação final é soberana e irrevogável.
7 Reclamações devem ser feitas diretamente aos Chefes de Avaliação e sobretudo via
formulário de feedback.
4.1.3 GERENCIANDO A DELIBERAÇÃO
Em rodadas muito competitivas, é de se esperar que os juízes possam ter opiniões diferentes sobre
o debate. Portanto, alcançar um consenso e preencher os resultados em 15 minutos é uma tarefa
difícil, exigindo gestão pelo Presidente. Aqui nós esboçamos algumas sugestões de como isso pode
ser feito. Estes não são requisitos obrigatórios – cabe ao Presidente gerenciar a discussão da maneira
que julgar ser mais eficaz.
O presidente deve pedir que cada Wing dê uma classificação completa das quatro duplas ou, pelo
menos, algumas indicações de quais duplas eles consideram melhores ou piores do que as demais
e então dar a sua própria opinião, a razão é para evitar enviesamento e que os novos simplesmente
sigam o voto dos antigos. Também é aconselhável interromper qualquer adjudicador que queira
expressar opiniões sem antes ter lido as notas ou que seus colegas tenha lido. Deve-se fazer isso para
evitar enviesamento e aproveitar ao máximo o dissenso e visões diferentes Isso não é obrigatório,
é uma hipótese de trabalho que irá evoluir à medida que a discussão progride. Wings não devem
sentir nenhuma pressão para concordar um com o outro ou com o presidente em sua deliberação
inicial, visto que não há nenhuma sanção negativa àqueles que alterem sua deliberação inicial. Os
juízes devem ter alguma opinião sobre o debate assim que ele acabar, e devem compartilhar suas
opiniões juntamente com suas incertezas. Passados três minutos de leitura de notas, não ter nenhuma
ideia acerca do debate indica que o juiz não teve um seguimento ativo do debate, embora possa ser
razoável dedicar alguns minutos à organização das notas e a confirmar, antes do início da discussão,
algumas opiniões individuais. A presidência deve, então, avaliar o nível de consenso que existe. Existem
milhares de combinações possíveis, mas felizmente alguns cenários surgem com bastante frequência:
1 Todo mundo tem exatamente o mesmo ranking – comemorar, mas brevemente. Embora haja
concordância, a Mesa ainda deve ter uma breve discussão para garantir que os rankings são os
mesmos por razões semelhantes, e considerar com precisão todas as contribuições de todas as
quatro duplas. Eles devem então passar para o preenchimento da cédula.

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2 Todo mundo tem o mesmo ranking, exceto uma pessoa. O Presidente deve pedir-lhe que defenda
a sua posição. A discussão deve ser específica, adaptada à diferença entre a opinião minoritária
e majoritária. Se a diferença for acerca do desempenho de uma dupla, a discussão deve se
concentrar nessa dupla – sem se esquecer de fazer o item 1 para outras duplas –, etc. Os juízes
não devem presumir que alguém está errado porque ele está em minoria.
3 Há semelhança nos rankings – os juízes concordam sobre como uma dupla está classificada
ou em algumas classificações relativas, por exemplo, todos concordam que o Primeiro Governo
é melhor que o Segundo Governo –, mas há também algumas diferenças cruciais. Os juízes
devem começar por estabelecer quais discussões precisam ser dadas mais tempo – ou seja, “há
discordância sobre se a Primeira Oposição venceu o Primeiro Governo”, por exemplo. Consolide
o consenso existente e use-o como uma alavanca para quebrar os impasses.
4 Caos. Não há semelhança entre os rankings. O Presidente deve orientar uma discussão sobre os
argumentos de cada dupla; ou, dependendo do que fizer mais sentido para a Mesa em questão,
gerir uma discussão sobre os confrontos entre pares de duplas.
A Esses debates muitas vezes demonstram divergências na forma como um argumento foi
avaliado, então seu objetivo é detectar tais diferenças de interpretação. A discussão inicial é
destinada aos juízes da Mesa informarem um ao outro sobre suas perspectivas e encontrar algum
nível de entendimento comum.
B Se dois juízes acreditam que argumentos diferentes são centrais, o Presidente deve formular
uma discussão sobre sua prioridade relativa. O Presidente deve fazer com que cada juiz explique
sua posição e tente estabelecer uma métrica para a importância dos argumentos no debate.
C Após essa breve discussão, os membros da Mesa devem classificar as duplas e comparar os
resultados novamente. Se a Mesa alcançou alguma sobreposição, eles devem passar para as
sugestões acima expostas em 3. Pode eventualmente ser necessário votar.
Em todas as deliberações, os juízes não devem sentir-se obrigados a cumprir a sua deliberação original
apenas porque essa foi sua visão inicial – é crucial haver flexibilidade e mente aberta na discussão, e
as deliberações devem sempre visar o consenso. Tal consenso não é, no entanto, um ideal que deve
ser colocado acima do resultado correto. Como tal, juízes não deve “negociar” os resultados para
que cada um tenha suas próprias opiniões de certa forma representadas na classificação final. Isso
provavelmente produziria um resultado que é impossível de se justificar coerentemente. Se um juiz
acredita que uma dupla foi colocada em primeiro os outros juízes discordam, o discordante deve
tentar convencer os demais das suas razões. Todos os juízes devem ser flexíveis e dispostos a serem
persuadidos; mas, se não forem persuadidos, devem ficar atados ao que eles acreditam ser certo.
Os presidentes de mesa devem ser razoáveis a respeito do tempo e quando irão encerrar uma
adjudicação. Ao mesmo tempo que se estender demais – algo como mais de 30 minutos – pode ser
perigoso e deve ser feito com cautela porque os adjudicadores passam a avaliar o papel e não o
debate em si, não se deve parar uma adjudicação simplesmente porque o tempo bateu. Se a logística
do torneio permite (ex: a rodada acontece antes do almoço, então não acarretará em atrasos pro
torneio), se estender algum tempo deve ser considerado, se for necessário.

4.2 AVALIAÇÃO ORAL


O feedback deve distinguir as razões que determinaram o resultado dos conselhos para as duplas:
os juízes podem dar ambos. As razões devem ser sobre o que aconteceu; enquanto o conselho é
sobre o que não aconteceu, mas talvez devesse ter ocorrido. Este último não pode ser uma base
para justificar o primeiro. O principal objetivo de um feedback é transmitir às duplas o raciocínio da
Mesa ao fazer o ranking das duplas da forma como eles fizeram.

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O feedback deve, portanto, apresentar um argumento fundamentado para explicar a classificação,


usando como evidência os argumentos feitos no debate e como eles influenciaram os juízes. Embora
existam muitas teorias sobre como abordar debates – de discussões sobre solução de problemas
a desconstruções da persuasão em subconceitos –, elas não podem determinar ou explicar um
resultado, embora os juízes possam usar tais conceitos ao oferecer conselhos. O fato de uma dupla
estar de acordo com a forma com a qual um determinado juiz iria treiná-los para debater não tem
relevância alguma nas decisões dos juízes; embora algo que uma dupla tenha feito ou deixado de
fazer; pode, por si só, ter tido um impacto sobre a persuasão de seus argumentos.
A avaliação deve, em geral, ser estruturada da seguinte forma:
1 Anunciar o ranking das duplas;
2 Percorrer as duplas em uma ordem que faça sentido, comparando pares de duplas e explicando
por que uma venceu a outra;
3 Resumir e convidar as duplas para um feedback mais detalhado posteriormente.
Comparar duplas envolve mais do que fazer afirmações isoladas sobre a Dupla X e a Dupla Y, e dizer
“então X claramente venceu Y”. A comparação na verdade exige que o juiz explique a interação
entre as duplas para estabelecer quem teve os melhores argumentos. O juiz deve ser específico e
detalhado – a aplicação vaga de adjetivos não é uma avaliação suficiente. Identificar argumentos, se
e como eles foram respondidos, e qual foi o impacto do restante. Identifique quais duplas receberam
crédito pelo quê, e como isso influenciou a decisão sobre se devemos ou não fazer determinada
política pública.
Uma maneira de dar feedback é discutir as duplas e suas contribuições em ordem cronológica –
discutindo inicialmente o Primeiro Governo, depois a Primeira Oposição, e assim por diante. Outra
abordagem é começar pela dupla que ficou em primeiro lugar, e depois ir decrescendo; ou pela
dupla que ficou em quarto, e ir crescendo. Em alguns debates, pode ser apropriado discutir as
bancadas ou as metades.
Qualquer que seja a abordagem adotada pelo juiz que dá a avaliação, ela deve ser comparativa
e específica. Conselhos devem ser separados das razões que justificam a deliberação, para não
confundir as duplas sobre qual é qual.
É recomendável aos adjudicadores que explorem bastante expressões como “além disso”, “não
foi só isso que eles disseram” e “e vou além” para destacar que não foi apenas uma razão ou um
argumento de uma dupla que foi decisivo para a vitória naquele clash. Novamente: quase não existem
momentos heróicos onde uma dupla “acaba” com a outra. Isso acontece durante vários momentos
durante o debate, evidencie-los.
Se houve algum adjudicador que foi voto-vencido durante a deliberação, ele deve ser convidado
para justificar e dar a sua posição discordante.
Os adjudicadores tenham empatia durante suas adjudicações-orais. Não queremos que debatedores
deixem de debater após uma adjudicação-oral correta porém excessivamente seca e fria, que não
poupa os debatedores de seus defeitos. Também não queremos que os adjudicadores subestimem
os iniciantes e não justifiquem inteiramente suas decisões. Pedimos empatia, mas sem nunca perder
a responsabilidade que é justificar a decisão.
Existem vários tipos de aconselhamento que você pode dar como juiz, incluindo:
• Conselhos gerais sobre como melhorar;
• Sugestões de razões pelas quais as coisas identificadas na avaliação aconteceram;

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• O que poderia ter sido executado – embora geralmente seja aconselhável minimizar isso, a
menos que solicitado, para evitar confundir duplas sobre por que elas perderam o debate.
É importante que o cerne do feedback foque na lógica argumentativa da dupla, e não em elementos
periféricos ao raciocínio, oratória, estrutura do discurso e demais pontos que não são tão cruciais
na construção persuasiva.
Além disso, enquanto estiver justificando as posições, é importante que o juiz se mantenha na posição
do eleitor hipotético bem informado e inteligente, de modo a não imprimir suas impressões pessoais
sobre a argumentação que foi feita.
4.2.1 ARMADILHAS A SE EVITAR NA TOMADA DE DECISÃO E FEEDBACK
A seguir, temos um conjunto comum de erros que avaliadores podem cometer na determinação do
resultado e na passagem de feedback. Nós enfatizamos que muitos dos exemplos que nós damos sobre
essas armadilhas não são propriamente “maus feedbacks” – eles apenas precisam ser acompanhados
de explicação mais aprofundada para que então sejam um comentário introdutório apropriado. Mas,
avaliadores não devem se sentir satisfeitos com tais comentários sem uma explicação e clarificação
mais aprofundada para os debatedores, que tornam claras as razões específicas e comparativas de
porque uma dupla derrotou a outra.
1 LIDANDO COM GENERALIDADES EM DETRIMENTO DAS ESPECIFICIDADES
“Nós achamos que a Segunda Dupla de Oposição realmente trouxe o caso a seu favor, então eles
ganharam o debate.”
“A Primeira Dupla de Oposição teve alguns pontos importantes a dizer, mas a análise não melhorou
até a Segunda Dupla de Oposição.”
É perfeitamente razoável que avaliadores usem uma linguagem geral para introduzir suas razões, desde
que cada comentário geral seja acompanhado de exemplos do que realmente aconteceu. Nenhum
comentário dos exemplos que listamos acima deve ser dito sem o suporte de exemplos específicos
sobre o que se está sendo avaliado, seja durante a divulgação do resultado ou durante o feedback.
2 CONCEDENDO A CERTAS CLASSES DE ARGUMENTOS UMA PRIORIDADE INDEVIDA
“Apenas a Primeira Dupla de Governo sabia os nomes das principais cidades brasileiras.”
“A Segunda Dupla de Governo ganhou porque seus argumentos eram mais morais do que práticos.”
Essa armadilha de avaliação toma um número de formas, um dos quais é a fantasia do uso de
conhecimento específico na elaboração de argumentos. Duplas que fazem argumentos fortes
reforçados por bom conhecimento devem ser recompensados, mas não devido à quantidade total de
argumentos citados, e sim por causa da força dos argumentos nos quais esses fatos foram organizados.
Um uso inteligente de fatos torna o argumento mais forte e melhor, mas eles não compõem por si
próprios um argumento.
Uma segunda forma dessa armadilha é dar prioridade indevida a argumentos que são de vários
tipos – moral, filosófico, econômico, prático, etc. Um argumento “principiológico”, por exemplo, não
é necessariamente pior ou melhor do que um “prático” – isso depende do que cada argumento
procura provar e de quão bem ele o faz.
3 JULGANDO SOMENTE PELAS PENALIDADES
“Você não aceitou nenhum Ponto de Informação, então não havia jeito de você ficar em primeiro.”
“Nós tivemos dúvida sobre o seu mecanismo, então o colocamos em último.”

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Um bom árbitro não é aquele que incessantemente apita e para o jogo. Similarmente, um bom
avaliador não é aquele que tenta achar tantas razões quanto for possível para desconsiderar os
argumentos de uma dupla e falar da forma em detrimento do conteúdo de suas contribuições. Se uma
dupla viola os requerimentos intrínsecos ao seu papel, eles devem ser penalizados apenas até o ponto
de remover qualquer dano que eles causaram ao debate por meio de fracasso em cumprir seu papel.
Alguns exemplos:
• Não aceitar qualquer Ponto de Informação significa que o debatedor não engajou plenamente
com a outra bancada – seu discurso pode ser interpretado como menos persuasivo, mas não
deve ser excluído de consideração.
• A falta de clareza de um mecanismo deve ser resolvida permitindo que as duplas de Oposição
façam quaisquer interpretações razoáveis por conta própria e deixando o debate seguir a
partir disso, e não desconsiderando outras contribuições da dupla de Governo por causa do
mecanismo em si.
• Se um debatedor introduz novos argumentos em um discurso de Whip da Oposição, estes devem
ser desconsiderados, como se o debatedor não tivesse dito nada acerca dessas novas linhas
argumentativas – mas outros pontos que ele tenha trazido devem ser considerados.
4 JULGANDO FORMA EM DETRIMENTO DO CONTEÚDO
“Você deveria ter colocado seu argumento sobre direitos em primeiro lugar.”
“Sua dupla esteve desbalanceada – todos os bons pontos vieram do primeiro debatedor.”
“Você só falou por cinco minutos.”
Falar por certo período de tempo ou colocar argumentos em certa ordem é irrelevante – por si só
– para determinar qual dupla ganhou o debate. Naturalmente, debatedores e duplas que gastam
todo seu tempo em bons argumentos e gastam mais tempo explicando argumentos mais importantes
e mais complexos serão mais persuasivos, mas eles têm sucesso porque eles fizeram bons argumentos
e explicaram bem seus argumentos, não porque “gastaram tempo neles”. Um debatedor pode ganhar
um debate com um discurso de um minuto – embora seja muito, muito difícil fazê-lo. Muitos dos
exemplos listados aqui podem muito bem serem feedbacks úteis, mas eles não expressam, por si
próprios, o quão persuasiva uma dupla foi.
5 RAPIDAMENTE CHEGANDO A UMA DECISÃO E DEPOIS ENCONTRANDO UMA
JUSTIFICATIVA PARA A MESMA
“Nós todos vimos o debate da mesma maneira, então apenas venham a nós individualmente
para o feedback.”
“As duplas da segunda metade foram muito mais persuasivas, e seus argumentos realmente
permaneceram em nossas cabeças ao final do debate, então o Primeiro Governo ficou com o terceiro
lugar e a Primeira Oposição com o quarto lugar.”
Tanto no individual, quanto no coletivo, pode ser tentador sentir ao final do debate que o resultado está
muito claro, e não analisar cuidadosamente as contribuições das quatro duplas de modo a garantir
uma justificativa clara para aquele ranking – ao invés de artificialmente construir uma justificativa
“que se adeque” às aparências iniciais. Isso é especialmente verdade quantos todos os avaliadores
terminam o debate com o mesmo ranking; e, consequentemente, concluem que devem estar corretos
já que todos concordaram. Avaliadores devem sempre, ao final do debate, revisar cuidadosamente
o conteúdo trazido por todas as quatro duplas e garantir que o resultado saia de uma justificativa
lógica e razoável, ao invés do contrário.

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