Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3. PRINCÍPIO DA LESIVIDADE (CF/88, art. 5°, XXXIX; Código Penal, art. 13, caput)
O princípio em análise ensina que somente a conduta que ingressar na esfera de interesses de outra pessoa
deverá ser criminalizada. Não haverá punição enquanto os efeitos permanecerem na esfera de interesses da
própria pessoa.
Trazendo esse princípio para a prática, tem-se que o mesmo é o fundamento para a não punição das
chamadas condutas desviadas, como a prostituição, a homossexualidade, etc. Aos olhos da modernidade
pode soar absurdo, mas tais condutas foram criminalizadas durante muito tempo em vários rincões da
Europa medieval.
4. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
“O princípio da insignificância surge justamente para evitar situações dessa espécie, atuando como
instrumento de interpretação restritiva do tipo penal, com o significado sistemático e político-criminal de
expressão da regra constitucional do nullum crimen sine lege, que nada mais faz do que revelar a natureza
subsidiária e fragmentária do direito penal.”
O princípio da insignificância, auxiliado pelo princípio da intervenção mínima, almeja, pois,
desafogar a máquina judiciária, onde processos sem o menor potencial jurídico de importância, ocupam
tempo e despesas processuais, de outros que, por comoverem bem mais a sociedade, deveriam andar mais
celeremente.
CRITICA:Vejamos a crítica dos defensores da inaplicabilidade desse princípio, pensamento de Vani
Bemfica (Da Teoria do Crime, Saraiva, pág. 72):
“O princípio é muito liberal e procura esvaziar o direito penal. E, afinal, não é fácil medir a
valorização do bem, para dar-lhe proteção jurídica. E sua adoção seria perigosa, mormente porque, à medida
que se restringe o conceito de moral, mais fraco se torna o direito penal, que nem sempre deve acompanhar
as mutações da vida social, infelizmente para pior, mas detê-las, quando nocivas”.
Existe uma corrente doutrinária e jurisprudencial que não reconhece a insignificância como
excludente da tipicidade penal. É uma corrente conservadora, que resiste em acatar os novos rumos do
Direito Penal moderno, e vem perdendo prestígio. Seu argumento baseia-se na lei penal não fazer referência
à quantidade de lesão necessária para configurar-se um delito. Não seria possível auferir o que é, realmente,
insignificante, medindo o valor do bem para dar-lhe proteção jurídica. Logo, o princípio seria muito liberal e
esvazia o Direito Penal (12). É uma concepção clássica, ultrapassada, na medida em que considera apenas a
tipicidade formal de uma conduta para qualificá-la de delituosa, além de não enxergar além da prescrição da
norma penal. O Direito deve estar, no entanto, aberto a inovações que aperfeiçoem a sua aplicação.
6. PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
Assim, a gravidade da sanção deverá estar ligada ao grau de culpabilidade, e não em relação a
uma idéia de prevenção (como pretendem as modernas teorias da culpabilidade).
A culpabilidade deve ser vista como fundamento e como limite da própria pena, onde a sanção
imposta ao indivíduo deve guardar adequada proporção à gravidade de sua ação delituosa. Diante deste
pressuposto, estabeleceu-se que responsabilidade penal é subjetiva, ao passo que através dela, o agente, para
sofrer a conseqüência jurídica do delito, imprescindível que concorra para a realização do fato com culpa no
seu sentido lato. O estudo desenvolvido no presente artigo busca fazer uma análise do princípio da
culpabilidade, alicerce base da responsabilização penal e do seus reflexos sobre a fixação da conseqüência
jurídica do delito, inclusive, com a possibilidade da fixação da reprimenda abaixo do mínimo legal.
7. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E HUMANIDADE DAS PENAS
O princípio da humanidade da pena caracteriza-se pela presença tanto uma vertente positiva como
uma vertente negativa.
A vertente negativa caracteriza-se pela presença de proibições que se apresentam nas vedações
constitucionais da pena de morte, de penas perpétuas, indignas ou desumanas. Já a vertente
positiva caracteriza-se pela proteção da dignidade da pessoa humana em especial daquele que se
encontra no cárcere.
O princípio da humanidade da pena encontra aplicação em um dos objetivos da execução penal
que é a ressocialização. A presença de tal princípio no ideal ressocializador se apresenta na
aplicação dos princípios da atenuação ou compensação e no princípio do nihil nocere.
O princípio da atenuação ou compensação caracteriza-se pela impossibilidade da pena privativa
de liberdade resumir-se ao isolamento total do preso, devendo ser proporcionado a este medidas
compensatórias ao encarceramento como forma de estimular a sua efetiva ressocialização.
Já o princípio do nihil nocere compreende a idéia de que os riscos da dessocialização deverão ser
evitados através de um sistema prisional que não contribua para a produção de tais efeitos.
O doutrinador Guilherme de Souza Nucci ensina que a Política Criminal “trata-se de uma postura
crítica permanente do sistema penal, tanto no campo das normas em abstrato, quando no contexto da
aplicação das leis aos casos concretos, implicando, em suma, na postura do Estado no combate à
criminalidade.”
O Direito é uma ciência em constante evolução. Os conceitos formados hoje, podem não ser os
mesmos amanhã. É essa dinâmica que responde aos fenômenos sociais.
No dia 07 de agosto deste ano, a Lei Ordinária Federal nº 12.015 trouxe inúmeras mudanças no
nosso Código Penal no que tange aos crimes contra a liberdade sexual.
A mídia tantas vezes explicou à sociedade a diferença dos crimes de estupro, de atentado violento ao
pudor, violência presumida, e, quais as ações que cabem em crimes contra a liberdade sexual. Tudo isso está
alterado pela nova lei. É de suma importância se familiarizar com os novos conceitos e traçar uma análise
crítica às mudanças que estamos suportando.
A primeira mudança é apenas formal. Antes da aprovação da Lei nº 12.015, o Título VI possuía a
seguinte denominação: Dos Crimes Contra os Costumes. Após a nova lei o título passou a se chamar: Dos
Crimes Contra a Dignidade Sexual. Mudanças significativas foram trazidas pela nova lei, as quais
passaremos a discorrer.
O antigo artigo 213 do Código Penal trazia a seguinte redação:
“Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça.”
Pena: reclusão de 06 a 10 anos
Conforme esta redação o sujeito ativo (quem pratica o crime) era o homem. O sujeito passivo (quem
sofre o crime) era a mulher. Não havia possibilidade alguma de um homem ser estuprado, pois o crime de
estupro traduzia em constranger (forçar, coagir) mulher à conjunção carnal (cópula entre pênis e vagina)
por meio da violência ou grave ameaça. Era necessária a introdução do pênis na vagina, mesmo que
incompleta, para se consumar o crime de estupro.
O conteúdo do artigo 214 do Código Penal estabelecia o crime de atentado violento ao pudor, assim
descrito:
“Constranger alguém, mediante violenta ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele
se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal.”
Pena: reclusão de 06 a 10 anos
De acordo com este dispositivo qualquer pessoa era sujeito ativo e passivo do crime de atentado
violento ao pudor. Este crime possuía a conduta de constranger (forçar, coagir) qualquer pessoa a
praticar (conduta comissiva, positiva – fazer) ato libidinoso (qualquer contato que satisfaça o prazer
sexual, como por exemplo, sexo oral, sexo anal, beijo) diverso da conjunção carnal (conduta própria do
estupro).
A mulher podia praticar o crime de atentado violento ao pudor contra homem ou contra outra mulher,
e o homem podia praticar o crime de atentado violento ao pudor contra outro homem ou contra mulher.
Com o advento da Lei nº 12.015/2009, o crime de atentado violento ao pudor deixou de existir. A
nova redação traz a junção do crime de estupro com o atentado violento ao pudor, e, todas as atitudes supra
descritas passam a ser unicamente crime de estupro. A nova redação possui o Código Mexicano como
inspiração. Vejamos a redação mexicana e a nova redação brasileira:
Artículo 265. Al que por medio de la violencia física o moral realice cópula con persona de
cualquier sexo, se le impondrá prisión de ocho a catorce años.
Para los efectos de este artículo, se entiende por cópula, la introducción del miembro viril en el cuerpo
de la víctima por vía vaginal, anal u oral, independientemente de su sexo.
Se considerará también como violación y se sancionará con prisión de ocho a catorce años, al que
introduzca por vía vaginal o anal cualquier elemento o instrumento distinto al miembro viril, por medio de la
violencia física o moral, sea cual fuere el sexo del ofendido
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou
a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior
de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Hoje, se alguém praticar conjunção carnal, sexo oral, sexo anal, beijo lascivo ou qualquer ato que fira
a liberdade sexual de uma pessoa, seja homem ou mulher, estará consumando o crime de estupro.
Vale ressaltar que o artigo 214 do Código Penal foi revogado, porém, não houve o fenômeno de
“abilitio criminis”, ou seja, quando uma lei deixa de considerar crime determinado ato. O ato descrito
anteriormente como atentado violento ao pudor foi incorporado ao crime de estupro, portanto, o que era
proibido ainda continua proibido.
A grande crítica traçada nesta mudança está nas penas. Antes, um homem que praticava o crime de
estupro e de atentado violento ao pudor contra uma mulher poderia ser punido com 12 anos de prisão no
mínimo, pois a pena mínima do crime de estupro era de 06 anos e a do atentado violento ao pudor também
era de 06 anos; somavam-se as penas, pois eram crimes diferentes. Hoje, na mesma situação acima descrita,
o sujeito ativo poderá ter a pena mínima de 06 anos apenas, pois é crime único. Claro que o juiz ao fazer a
dosimetria da pena levará em consideração a gravidade do crime praticado, porém, ocorreu um
abrandamento na aplicação da pena.
Outra sensível mudança é a criação do artigo 217-A, estupro de vulnerável.
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
No Código Penal havia o artigo 224, presunção de violência. Este artigo previa a violência sexual
quando a vítima era menor de 14 anos, alienada ou débil mental (quando o agente conhecia a circunstância),
ou, quando a vítima não estava incapacitada de oferecer qualquer resistência. O artigo 224 foi revogado, o
que trouxe um desfecho às discussões doutrinárias quanto a sua constitucionalidade, pois afirmavam ser este
artigo incondizente com nosso Estado Democrático de Direito.
O texto legal do novo artigo é mais plausível aos nossos valores democráticos, pois a presunção de violência
possui uma denotação carregada de subjetivismo. O texto do novo artigo 217-A traduz uma conduta positiva
descritiva, tornando o enunciado encorpado de alguns princípios gerais do direito penal, quais sejam,
princípio da legalidade e da anterioridade.
É de suma importância ressaltar que não importa se o menor de 14 anos, pessoa enferma ou
deficiente mental (parágrafo primeiro do novo artigo) consentiram ao realizar o ato, o crime de estupro
vulnerável já está consumado quando se pratica qualquer ato com esses sujeitos passivos.
Para finalizar a primeira parte da discussão sobre as principais mudanças trazidas ao nosso Código
Penal pela Lei nº 12.015, não podemos deixar de abordar a alteração na Lei de Crimes Hediondos.
A Lei de Crimes Hediondos tem a finalidade de elencar os crimes considerados de maior gravidade
social. O individuo que pratica os crimes ditos hediondos possuem menos benefícios, conforme previsão
expressa da Constituição Federal. Assim dispõe o artigo 5º, inciso XLIII:
“A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura,
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos,
por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.
A Lei nº 12.015 alterou os incisos V e VI, do artigo 1º da Lei de Crimes Hediondos. Antes, o inciso
V tratava do antigo estupro; agora, trata da nova conduta descrita no crime de estupro. Atualmente, o inciso
VI traz o crime de estupro de vulnerável; anteriormente, crime de atentado violento ao pudor.
As mudanças trazidas pelas leis são inevitáveis, pois a nossa sociedade está sempre em
transformação. O que não podemos suportar é a modificação para abrandar as punições, como acima
discorrido. A sensação de impunidade aumenta na mesma proporção que a criminalidade cresce. O direito
deve organizar nosso cotidiano e não torna-lo cada vez mais confuso e vulnerável ao desprezo das pessoas
para com a lei.
1. Atividades Práticas