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Informativo 16-STJ (EDIÇÃO EXTRAORDINÁRIA)


Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE
DIREITO PENAL
CRIMES CONTRA A HONRA
▪ O mero compartilhamento de postagem consistente em charge elaborada por cartunista, sem agregar à conduta
objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar a honra da suposta vítima não tem o condão de qualificar a
prática de infração penal.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


▪ Nos termos da Súmula 593 do STJ, o consentimento da vítima menor de 14 anos e o seu namoro com o acusado não
afastam a existência do delito de estupro de vulnerável. O STJ admite distinguishing em relação a esse
entendimento?

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


▪ É possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do concurso formal, quando, em
delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante uma conduta, sonega diversos tributos, reiterando a conduta ao longo de
certo período.

LEI DE DROGAS
▪ O simples fato de o indivíduo ter sido preso levando uma grande quantidade de droga para terceiros não é motivo
para se afastar o tráfico privilegiado; isso porque a condição de mula não é argumento, por si só, para afastar o
privilégio.

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
▪ MP ofereceu denúncia por estelionato e organização criminosa; houve extinção da punibilidade no que tange ao
estelionato; é possível a continuidade do processo quanto à organização criminosa.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


ANPP
▪ Se o membro do MP constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele não é obrigado a notificar extrajudicialmente
o investigado informando que não irá propor o acordo; basta que faça uma cota na denúncia informando os motivos
pelos quais não ofereceu proposta.
▪ A habitualidade delitiva impede a celebração do ANPP, nos termos do art. 28-A, §2º, II, do CPP.

COMPETÊNCIA
▪ Juiz Federal não pode determinar a suspensão de inquérito penal militar.

PROVAS
▪ STJ considerou lícita a gravação feita, pela equipe de enfermagem, do anestesista que abusava das pacientes
grávidas durante o trabalho de parto.
▪ A Receita Federal não pode, a pretexto de examinar incidentes tributários e aduaneiros, investigar delitos sem
repercussão direta na relação jurídica tributária - que se afastem de sua atribuição de órgão fiscal -, sendo nulos os
elementos de prova por ela produzidos.

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IMPEDIMENTO (ART. 252 DO CPP)


▪ Magistrado que apenas recebeu a denúncia pode, no futuro, julgar, como Desembargador, a apelação interposta
pelo réu contra a sentença condenatória.

PRISÃO
▪ O fato de o réu não ter sido localizado não é motivo, por si só, para a decretação da prisão preventiva.

SENTENÇA
▪ Não é necessária instrução específica para fixar o valor mínimo de reparação dos danos (art. 387, IV, do CPP) quando
se trata de dano moral presumido (in re ipsa); por outro lado, é indispensável que a acusação indique, na denúncia
ou queixa, qual é o valor pretendido.

RECURSOS
▪ Juiz poderia ter reduzido a pena em até 2/3, mas optou por reduzir no patamar mínimo (1/3); o réu recorre alegando
falta de fundamentação para a escolha do percentual; mesmo sendo recurso da defesa, o TJ pode manter o
percentual de 1/3 acrescentando novos argumentos.
▪ O pedido de reconsideração não interrompe nem suspende o prazo para interposição do recurso cabível.

HABEAS CORPUS
▪ É inadmissível a impetração de habeas corpus no STJ para impugnar decisão monocrática do Desembargador do
TRF que deferiu a intervenção de terceiros em habeas corpus que havia sido impetrado pela defesa no TRF.

EXECUÇÃO PENAL
▪ É possível fixar condição especial ao regime aberto de submissão do condenado à frequência de tratamento
antidrogadição.

EXECUÇÃO PENAL (INDULTO)


▪ Não é possível a utilização da soma das penas unificadas para fins de obstar a concessão do indulto para crimes
praticados em contexto diverso.

DIREITO PENAL

CRIMES CONTRA A HONRA


O mero compartilhamento de postagem consistente em charge elaborada por cartunista, sem
agregar à conduta objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar a honra da suposta
vítima não tem o condão de qualificar a prática de infração penal
ODS 16

Caso concreto: Regina compartilhou, em seu perfil no Facebook, a imagem de uma charge
elaborada por um cartunista, na qual o então Presidente da República segurava o então
Procurador-Geral da República por uma coleira. Juntamente com a imagem havia um texto
que dizia que o PGR havia sido adquirido pelo Presidente da República, submetendo a sua
autoridade e comando a serviço dos interesses deste e de seus familiares. Além disso, a
publicação era acompanhada de hashtags que diziam: “corrupto fora”, “fora ditador”, “fora
fascista”, “fora genocida”, “fora psicopata” e “fora demente”.
Em razão disso, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Regina na qual se
imputou contra ela a prática dos crimes de difamação e injúria.
Os tipos de difamação e injúria exigem, além do dolo, direto ou eventual, o elemento subjetivo
do injusto - propósito de ofender -, consubstanciado no animus diffamandi e animus
injuriandi.

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Apesar de os crimes contra a honra serem tipos de forma livre, admitindo plurais formas de
execução, deve ser suficientemente caracterizada a intenção do sujeito de ofender a honra e
reputação alheias. O mero compartilhamento de postagem consistente na charge elaborada
por cartunista sem se agregar à conduta objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar
a honra da suposta vítima não tem o condão, no contexto fático dos autos, de revelar a prática
das infrações penais imputadas à denunciada.
STJ. Corte Especial. Inq 1.656/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 9/11/2023 (Info 16
– Edição Extraordinária).

O caso concreto, com adaptações, foi o seguinte:


Regina compartilhou, em seu perfil no Facebook, a imagem de uma charge elaborada por um cartunista,
na qual o então Presidente da República segurava o então Procurador-Geral da República por uma coleira.
Juntamente com a imagem havia um texto que dizia que o PGR havia sido adquirido pelo Presidente da
República, submetendo a sua autoridade e comando a serviço dos interesses deste e de seus familiares.
Além disso, a publicação era acompanhada de hashtags que diziam: “corrupto fora”, “fora ditador”, “fora
fascista”, “fora genocida”, “fora psicopata” e “fora demente”.
Em razão disso, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Regina na qual se imputou contra
ela a prática dos crimes de difamação e injúria:
Difamação
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Injúria
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se qualquer dos crimes é
cometido:
(...)
II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes do Senado
Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;
III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação
ou da injúria.
(...)

A denúncia imputou a prática dos delitos de injúria e difamação, mas o fez distinguindo duas circunstâncias
fáticas diferentes:
I) a charge e as hashtags que a acompanham; e
II) o texto objeto de compartilhamento.

Para o STJ, a conduta de Regina configurou crime?


NÃO.

Hashtags revelam conteúdo que pode se mostrar potencialmente apto a ofender a honra da vítima
Inicialmente, o STJ afirmou que é possível, em tese, que sejam cometidos crimes contra a honra por meio
de hashtags.
As hashtags são palavras-chave precedidas pelo símbolo cerquilha (#) usadas em publicações nas redes
sociais. Elas permitem que usuários, mesmo aqueles que não seguem o autor da publicação, encontrem
conteúdos relacionados a essa palavra-chave. Além de facilitar a busca por temas específicos, as hashtags

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ajudam os usuários a se conectar com grupos de discussão ou conversas sobre assuntos de interesse
comum, inserindo-os em uma mesma rede de comunicação. Usar uma hashtag em uma publicação é uma
forma de destacar temas importantes e facilitar a organização ou identificação de tópicos relevantes. Por
isso, não se pode dizer que adicionar hashtags é um ato sem significado ou impacto, pois elas podem
transmitir mensagens importantes, incluindo aquelas que são ofensivas ou difamatórias.

Crimes de difamação e injúria exigem propósito de ofender


Os crimes de difamação e injúria exigem, além do dolo (direto ou eventual), o elemento subjetivo do
injusto - propósito de ofender -, consubstanciado no animus diffamandi e animus injuriandi.
Assim, não basta a consciência da prática de determinada conduta com a potência de ofender a honra
alheia, é necessária a intenção de, com sua conduta, atingir efetivamente o bem jurídico protegido pela
norma penal, conspurcando a reputação ou a honra da vítima.

Não ficou caracterizada a intenção de ofender


No caso em testilha, a conduta atribuída à denunciada circunscreve-se ao compartilhamento da charge
acompanhado de texto jocoso sobre o Procurador-Geral da República e sua relação com o Presidente da
República. Compartilhar significa partilhar, dividir com outrem, distribuir o conteúdo da publicação.
Apesar de os crimes contra a honra serem tipos de forma livre, admitindo plurais formas de execução,
deve ser suficientemente caracterizada a intenção do sujeito de ofender a honra e reputação alheias.
O mero compartilhamento de postagem consistente na charge elaborada por cartunista sem se agregar à
conduta objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar a honra da suposta vítima não tem o
condão, no contexto fático dos autos, de revelar a prática das infrações penais imputadas à denunciada.

É necessário identificar o elemento subjetivo da pessoa que fez o compartilhamento


De acordo com o laudo pericial constante dos autos, a charge em questão havia sido compartilhada 150
vezes até aquele momento. Mesmo que fosse possível identificar, com clareza, que a intenção do
cartunista fosse a de difamar e injuriar, essa intenção não se transfere automaticamente a todas as
pessoas que compartilharam a postagem. É necessário avaliar a intenção de cada pessoa que compartilhou
a postagem, de forma individual e específica, no momento em que ela foi compartilhada na rede.

Críticas a agentes públicos


Para o STJ, a postagem não se revelou idônea a ofender o bem jurídico tutelado, se levarmos em
consideração que se refere a autoridade pública no exercício de suas funções.
Embora de forma cômica, a publicação criticava a conduta do Procurador-Geral da República enquanto
autoridade pública, o que exclui a intenção de ofender.
Além disso, o contexto da publicação, limitado à divulgação de uma charge e seu texto explicativo, não
permite ampliar significativamente a investigação para provar a acusação. Portanto, a denúncia deve ser
rejeitada, uma vez que já foi suficientemente demonstrada a falta de um elemento essencial dos crimes
atribuídos à pessoa denunciada.

Em suma:
O mero compartilhamento de postagem consistente em charge elaborada por cartunista, sem agregar
à conduta objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar a honra da suposta vítima não tem o
condão de qualificar a prática de infração penal.
STJ. Corte Especial. Inq 1.656/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 9/11/2023 (Info 16 – Edição
Extraordinária).

Outro ponto interessante do julgado: o fato de o Ministério Público ter denunciado Regina sem
denunciar também o cartunista autor da charge implicou violação ao princípio da indivisibilidade da
ação penal?

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NÃO.
O princípio da indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada vem expressamente previsto no art. 48
do Código de Processo Penal: a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de
todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade.
Ao transferir ao particular o direito de agir em consideração a interesses que lhe são próprios, a lei não
lhe confere também a possibilidade de escolher quais autores do delito incluir na queixa-crime, porquanto
a tutela penal destina-se a proteger determinados bens jurídicos de fatos possam atingi-los e não
propriamente das pessoas.
Nesse sentido, a lei processual obriga que o querelante inclua em sua queixa-crime todos os autores e
partícipes do fato, sob pena de estender a todos a renúncia ao direito de queixa em relação a um ou algum
deles. Assim, não lhe é dado definir a extensão subjetiva da acusação, que deve ser considerada pela
amplitude do número de agentes a quem as condutas podem ser imputadas.
Segundo jurisprudência do STJ, o princípio da indivisibilidade, notadamente em relação ao seu efeito de
extensão da renúncia ao direito de queixa, somente se aplica à ação penal privada e não à ação penal
pública condicionada à representação.
No caso concreto, trata-se de ação penal pública condicionada à representação. Logo, não se aplicaria o
princípio da indivisibilidade.
Além disso, mesmo que fosse ação penal privada, não haveria que se falar em violação ao princípio. Isso
porque não existe coautoria ou participação no contexto fático de elaboração, divulgação e
compartilhamento da charge e do conteúdo tido por ofensivo pela acusação, não há falar-se em violação
do princípio da indivisibilidade da ação penal. Nesse sentido:
Não afronta o princípio da indivisibilidade da ação penal privada a ausência de oferecimento de queixa-
crime contra todos os internautas que proferiram ofensas contra o querelante, pois não há hipótese de
coautoria ou participação nesse caso, e sim existência de delitos autônomos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 159.718/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/5/2022.

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


Nos termos da Súmula 593 do STJ, o consentimento da vítima menor de 14 anos e o seu namoro
com o acusado não afastam a existência do delito de estupro de vulnerável. O STJ admite
distinguishing em relação a esse entendimento?
ODS 16

Admite-se o distinguishing quanto ao Tema 918/STJ, na hipótese em que a diferença de idade


entre o acusado e a vítima não se mostrou tão distante quanto do acórdão sob a sistemática
dos recursos repetitivos (no caso, o réu possuía 19 anos de idade, ao passo que a vítima
contava com 12 anos de idade), aliado ao fato de a menor viver maritalmente com o acusado
desde o nascimento da filha do casal, devidamente reconhecida, o que denota que não houve
afetação relevante do bem jurídico a resultar na atuação punitiva estatal.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 2.015.310/MG, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do
TJDFT), julgado em 12/9/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

PRATICAR SEXO COM MENOR DE 14 ANOS É CRIME


A Lei nº 12.015/2009 acrescentou o art. 217-A ao Código Penal, criando um novo delito, chamado de
“estupro de vulnerável”:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

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Antes do art. 217-A, ou seja, antes da Lei nº 12.015/2009, as condutas de praticar conjunção carnal ou
ato libidinoso com menor de 14 anos já eram consideradas crimes?
SIM. Tais condutas poderiam se enquadrar nos crimes previstos no art. 213 c/c art. 224, “a” (estupro com
violência presumida por ser menor de 14 anos) ou art. 214 c/c art. 224, “a” (atentado violento ao pudor
com violência presumida por ser menor de 14 anos), todos do Código Penal, com redação anterior à Lei
n. 12.015/2009.
Desse modo, apesar de os arts. 213, 214 e 224 do CP terem sido revogados pela Lei nº 12.015/2009, não
houve abolitio criminis dessas condutas, ou seja, continua sendo crime praticar estupro ou ato libidinoso
com menor de 14 anos. No entanto, essas condutas, agora, são punidas pelo art. 217-A do CP. O que
houve, portanto, foi a continuidade normativa típica, que ocorre quando uma norma penal é revogada,
mas a mesma conduta continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua
tipificada em outro dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.

Antes da Lei nº 12.015/2009, se o agente praticasse atentado violento ao pudor (ex: coito anal) com um
adolescente de 13 anos, haveria crime mesmo que a vítima consentisse (concordasse) com o ato sexual?
Haveria crime mesmo que a vítima já tivesse tido outras relações sexuais com outros parceiros
anteriormente? Essa presunção de violência era absoluta?
SIM. A presunção de violência nos crimes contra os costumes cometidos contra menores de 14 anos, prevista
na antiga redação do art. 224, alínea “a”, do CP (antes da Lei nº 12.015/2009), possuía caráter absoluto, pois
constituía critério objetivo para se verificar a ausência de condições de anuir com o ato sexual.
Assim, essa presunção absoluta não podia ser afastada (relativizada) mesmo que a vítima tivesse dado seu
“consentimento” porque nesta idade este consentimento seria viciado (inválido). Logo, mesmo que a
vítima tivesse experiência sexual anterior, mesmo que fosse namorado do autor do fato, ainda assim
haveria o crime.
A presunção de violência era absoluta nos casos de estupro/atentado violento ao pudor contra menor de
14 anos. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. EREsp 1152864/SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26/02/2014.

E, atualmente, ou seja, após a Lei n. 12.015/2009?


Continua sendo crime praticar conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso contra menor de 14 anos.
Isso está expresso no art. 217-A do CP e não interessa se a vítima deu consentimento, se namorava o autor
do fato etc. A discussão sobre presunção de violência perdeu sentido porque agora a lei incluiu a idade
(menor de 14 anos) no próprio tipo penal. Manteve relação sexual com menor de 14 anos: estupro de
vulnerável.
A Lei nº 12.015/2009 acrescentou o art. 217-A ao Código Penal, criando um novo delito, chamado de
“estupro de vulnerável”:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

A fim de que não houvesse mais dúvidas sobre o tema, o STJ pacificou a questão editando a Súmula 593.
O Congresso Nacional decidiu incorporar na legislação esse entendimento e acrescentou o § 5º ao art.
217-A do CP repetindo, em parte, a conclusão da súmula e estendendo o mesmo raciocínio para outras
espécies de pessoa vulnerável. Veja:
Art. 217-A. (...)
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se independentemente
do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais anteriormente ao
crime. (Inserido pela Lei nº 13.718/2018)

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Em algumas localidades do país (ex: determinadas comunidades do interior), seria possível dizer que
não há crime, considerando que é costume a prática de atos sexuais com crianças? É possível excluir o
crime de estupro de vulnerável com base no princípio da adequação social?
NÃO. Segundo afirmou o Min. Rogério Schietti, a prática sexual envolvendo menores de 14 anos não pode
ser considerada como algo dentro da "normalidade social". Não é correto imaginar que o Direito Penal
deva se adaptar a todos os inúmeros costumes de cada uma das microrregiões do país, sob pena de se
criar um verdadeiro caos normativo, com reflexos danosos à ordem e à paz públicas.
Ademais, o afastamento do princípio da adequação social aos casos de estupro de vulnerável busca evitar a
carga de subjetivismo que acabaria marcando a atuação do julgador nesses casos, com danos relevantes ao
bem jurídico tutelado, que é o saudável crescimento físico, psíquico e emocional de crianças e adolescentes.
Esse bem jurídico goza de proteção constitucional e legal, não estando sujeito a relativizações.

Na sentença, durante a dosimetria, o juiz pode reduzir a pena-base do réu alegando que a vítima (menor
de 14 anos) já tinha experiência sexual anterior ou argumentando que a vítima era homossexual?
Claro que NÃO.
Em se tratando de crime sexual praticado contra menor de 14 anos, a experiência sexual anterior e a
eventual homossexualidade do ofendido não servem para justificar a diminuição da pena-base a título de
comportamento da vítima.
A experiência sexual anterior e a eventual homossexualidade do ofendido, assim como não desnaturam
(descaracterizam) o crime sexual praticado contra menor de 14 anos, não servem também para justificar
a diminuição da pena-base, a título de comportamento da vítima.
STJ. 6ª Turma. REsp 897.734-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

As conclusões acima expostas foram consolidadas pelo STJ no julgamento do Recurso Especial n.
1.480.881/PI (Tema 918) e na Súmula 593:
Súmula 593-STJ: O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato
libidinoso com menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do
ato, sua experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.

O que acontece se um garoto de 13 anos praticar sexo consensual com a sua namorada de 12 anos?
Haverá o que a doutrina denomina de estupro bilateral. Assim, ocorre o “estupro bilateral” quando dois
menores de 14 anos praticam conjunção carnal ou outro ato libidinoso entre si. Em outras palavras, tanto
o garoto como a garota, neste exemplo, serão autores e vítimas, ao mesmo tempo, de ato infracional
análogo ao crime de estupro de vulnerável.

Em que consiste a chamada “exceção de Romeu e Julieta”?


Trata-se de uma tese defensiva segundo a qual se o agente praticasse sexo consensual (conjunção carnal
ou ato libidinoso) com uma pessoa menor de 14 anos, não deveria ser condenado se a diferença entre o
agente e a vítima não fosse superior a 5 anos. Ex: Lucas, 18 anos e 1 dia, pratica sexo com sua namorada
de 13 anos e 8 meses. Pela “exceção de Romeu e Julieta” Lucas não deveria ser condenado por estupro de
vulnerável (art. 217-A do CP).
A teoria recebe esse nome por inspiração da peça de Willian Shakespeare na qual Julieta, com 13 anos,
mantém relação sexual com Romeu. Assim, Romeu, em tese, teria praticado estupro de vulnerável.
A “exceção de Romeu e Julieta”, em regra, não é aceita pela jurisprudência, ou seja, mesmo que a
diferença entre autor e vítima seja menor que 5 anos, mesmo que o sexo seja consensual e mesmo que
eles sejam namorados, em regra, há crime.

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ NO RESP 2.015.310/MG (RELATIVIZAÇÃO DO QUE FOI EXPLICADO)
Imagine a seguinte situação hipotética:

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Um rapaz, na época com 19 anos de idade, começou a namorar uma adolescente de 12 anos de idade.
Os pais da adolescente sabiam da relação e deram permissão para o namoro.
Do relacionamento amoroso, resultou o nascimento de uma filha, devidamente reconhecida pelo genitor
da criança.
Quando a filha do casal nasceu, o relacionamento se tornou mais conhecido na cidade considerando que
eles passaram a morar juntos e a situação chegou até o Ministério Público que ofereceu denúncia contra
o rapaz pela prática de estupro de vulnerável.
A defesa do réu levou o caso até o STJ.

Para o STJ, neste caso concreto, houve estupro de vulnerável?


NÃO.
Conforme vimos acima, como regra geral, o STJ entende que:
O crime de estupro de vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com
menor de 14 anos, sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua
experiência sexual anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente.
(Resp 1.480.881/PI Tema 918 e Súmula 593-STJ)

Contudo, a presente hipótese enseja distinguishing quanto ao acórdão paradigma da nova orientação
jurisprudencial, diante das peculiaridades circunstanciais do caso.
Na situação que deu origem ao Tema 918, a vítima era uma criança de 8 anos de idade e o réu tinha idade
superior a 21 anos.
No caso concreto, o réu possuía, ao tempo do fato, 19 anos de idade e a vítima, adolescente, contava com
12 anos de idade.

A necessidade de realização da distinção feita no REsp Repetitivo 1.480.881/PI se deve em razão de que,
no presente caso, a diferença de idade entre o acusado e a vítima não se mostrou tão distante quanto do
acórdão paradigma, bem como porque houve o nascimento da filha do casal, devidamente registrada, fato
social superveniente e relevante que deve ser considerado no contexto do crime.
Considerando as particularidades do presente feito, em especial o fato de a vítima viver maritalmente com
o acusado desde o nascimento da filha do casal, denota que não houve afetação relevante do bem jurídico
a resultar na atuação punitiva estatal. Não se evidencia a necessidade de pena, consoante os princípios da
fragmentariedade, subsidiariedade e proporcionalidade.
Não se registra proveito social com a condenação do denunciado. Diversamente, o encarceramento se
mostra mais lesivo aos valores protegidos, em especial, à família e à proteção integral da criança do que a
resposta estatal para a conduta praticada, o que não pode ocasionar punição na esfera penal.
Assim, a eventual condenação de um jovem pelo delito de estupro de vulnerável acarretaria uma sanção
severa, a ponto de destruir uma entidade familiar, colocando em grave risco a própria vítima e a filha, que
não terá o suporte material e emocional do pai, cujo genitor terá que sofrer a estigmatização pela
sociedade, diante da etiqueta de estuprador.

Em suma:
Admite-se o distinguishing quanto ao Tema 918/STJ (REsp 1.480.881/PI), na hipótese em que a
diferença de idade entre o acusado e a vítima não se mostrou tão distante quanto do acórdão paradigma
(o réu possuía 19 anos de idade, ao passo que a vítima contava com 12 anos de idade), bem como há
concordância dos pais da menor somado a vontade da vítima de conviver com o réu e o nascimento do
filho do casal, o qual foi registrado pelo genitor.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.977.165/MS, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF1), Rel.
para acórdão Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/5/2023 (Info 777).

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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA


É possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do concurso
formal, quando, em delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante uma conduta, sonega diversos
tributos, reiterando a conduta ao longo de certo período
ODS 16

Ex: nos anos de 2000 a 2003, a empresa Beta prestou declaração falsa às autoridades
fazendárias fazendo com que pagasse menos do que era devido a título de IRPJ, PIS, COFINS,
CSLL e contribuição previdenciária.
Neste caso, o sócio dirigente da empresa pode ser condenado pelos seguintes delitos:
• art. 1º, I, da Lei 8.137/90: praticado quatro vezes a cada exercício por conta da sonegação de
quatro tributos federais distintos (IRPJ, PIS, COFINS e CSLL); e
• art. 337-A, III, do Código Penal: praticado uma só vez a cada exercício por conta da redução
da contribuição previdenciária.
Será possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do
concurso formal.
É possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do concurso
formal, quando em delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante uma única ação ou omissão, sonega
o pagamento de diversos tributos, reiterando a conduta por determinado período, além de
concorrer para a prática do delito previsto no art. 337-A, do CP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.018.231-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 30/10/2023
(Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


No ano de 1999, a empresa Alfa apresentou declarações fiscais que indicavam rendimentos muito
inferiores aos efetivamente movimentados em suas contas bancárias.
Mediante um complexo esquema de movimentações financeiras que não eram registradas nos livros
contábeis, os sócios conseguiram ocultar os rendimentos reais da empresa, evitando assim o pagamento
de impostos e contribuições sociais devidas.
A Receita Federal descobriu a sonegação fiscal e autuou a empresa, fazendo a constituição definitiva do
crédito tributário.
O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra João, sócio dirigente da empresa, imputando-lhes
os seguintes delitos tipificados no art. 1º, I da Lei nº 8.137/90 e art. 337-A, III, do Código Penal:
Lei nº 8.137/90
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social
e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
(...)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
(...)

Sonegação de contribuição previdenciária


Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante
as seguintes condutas:
(...)
III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas
e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9


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O juiz condenou o réu da seguinte maneira:


• crime do art. 1º, I, da Lei 8.137/90: praticado quatro vezes por conta da sonegação de quatro tributos
federais distintos (IRPJ, PIS, COFINS e CSLL); e
• delito do art. 337-A, III, do Código Penal: praticado uma vez (contribuição previdenciária).

O magistrado reconheceu a existência de concurso formal (art. 70 do CP) argumentando que o réu,
mediante uma só conduta, praticou um total de cinco crimes, quatro do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 (IRPJ,
PIS, COFINS e CSLL) e um do art. 337-A, III, do Código Penal.
Relembre a regra do concurso formal:
Concurso formal
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas,
mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto,
cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior.
Parágrafo único. Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código.

Como a pena do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 é igual à do art. 337-A do CP, o juiz utilizou somente uma
delas para a dosimetria.
Considerando que as circunstâncias judiciais eram desfavoráveis, o magistrado fixou a pena-base em 4
anos de reclusão.
Em seguida, ele aplicou a fração de aumento de 1/3 em razão do concurso formal (art. 70 do CP).
Diante disso, chegou à pena de 5 anos e 4 meses.

Agiu corretamente o magistrado?


SIM.
É possível reconhecer o concurso formal quando o sujeito ativo, mediante uma única ação ou omissão,
sonega o pagamento de diversos tributos além de concorrer para a prática do delito previsto no art. 337-
A do CP. Neste caso, haverá concurso formal entre os crimes do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90 com o delito
do art. 337-A do CP.
Conforme entendimento do STJ, os delitos previstos no art. 337-A do CP e no art. 1º da Lei nº 8.137/90
são autônomos, pois tutelam bens jurídicos diversos, sendo o previsto no art. 1º da Lei nº 8.137/90
atinente à sonegação de contribuições sociais lato sensu, e o previsto no art. 337-A do CP atinente às
contribuições sociais especificamente destinadas à previdência social. Assim, é possível reconhecer
concurso formal sem se falar em bis in idem (STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.940.937/PE, Rel. Min. Joel Ilan
Paciornik, julgado em 17/10/2022).
No caso, tendo o réu suprimido e reduzido o IRPJ, a CSSL, PIS e COFINS nos exercícios de 1999, não há
ilegalidade na aplicação do concurso formal de delitos, reconhecendo a existência de quatro crimes do
art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, além do delito do art. 337-A, III, do CP, totalizando cinco crimes em concurso
formal.

Se a empresa tivesse praticado os crimes em mais de um exercício (ex: de 2000 a 2003), seria possível
reconhecer a continuidade delitiva pelos três anos (art. 71 do CP) e mais o crime formal?
SIM.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem admitido a cumulação das causas de aumento de
pena da continuidade delitiva e do concurso formal, quando, em delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante
uma única ação ou omissão, sonega o pagamento de diversos tributos, reiterando a referida conduta ao
longo de determinado período, na hipótese, de 01/2000 a 12/2003.
STJ. 5ª Turma. HC 340.877/PE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/5/2016.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10


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Em suma:
É possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do concurso formal,
quando em delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante uma única ação ou omissão, sonega o pagamento
de diversos tributos, reiterando a conduta por determinado período, além de concorrer para a prática
do delito previsto no art. 337-A, do CP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.018.231-MG, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 30/10/2023 (Info 16
– Edição Extraordinária).

LEI DE DROGAS
O simples fato de o indivíduo ter sido preso levando uma grande quantidade de droga para
terceiros não é motivo para se afastar o tráfico privilegiado; isso porque a condição de mula não
é argumento, por si só, para afastar o privilégio
ODS 16

A quantidade e a natureza da droga apreendida podem servir de fundamento para a


majoração da pena-base ou para a modulação da fração da causa de diminuição prevista no
art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, desde que não tenham sido utilizadas na primeira fase da
dosimetria.
O fundamento de que o agente transportava grande quantidade de droga a serviço de terceiros
não se presta a sustentar o afastamento do tráfico privilegiado, uma vez que evidencia apenas
a condição de “mula” e não de dedicação a atividades criminosas.
A condição de “mula”, por si só, não tem o condão de impedir o reconhecimento do tráfico
privilegiado (art. 33, § 4º, da LD).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 842.630-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 18/12/2023
(Info 16 – Edição Extraordinária).

A QUANTIDADE E A NATUREZA DA DROGA PODEM SERVIR PARA A MAJORAÇÃO DA PENA-BASE OU PARA


A FRAÇÃO DE DIMINUIÇÃO DO TRÁFICO PRIVILEGIADO (UM OU OUTRO)
Situação 1. Imagine a seguinte situação hipotética:
João foi condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) por ter sido flagrado
transportando cerca de 5kg de cocaína.
Na primeira fase da dosimetria da pena (circunstâncias judiciais do art. 59 do CP), o juiz aumentou a pena,
alegando que as circunstâncias do crime eram desfavoráveis, já que o réu foi preso transportando uma
grande quantidade de droga que, pela sua natureza (cocaína), apresenta alto grau de periculosidade.

O juiz poderia ter feito isso?


SIM. A natureza e quantidade da droga são fatores preponderantes no momento da dosimetria da pena,
conforme previsto no art. 42 da Lei nº 11.343/2006:
Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do
Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta
social do agente.

Privilégio do art. 33, § 4º


A defesa havia pedido que fosse reconhecido o privilégio do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006:
Art. 33 (...)

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11


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§ 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto
a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário,
de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

O juiz concedeu o benefício. No entanto, ao calcular o percentual de redução da pena, fixou a redução em
1/6 (menor percentual) sob o argumento de que a natureza e a quantidade da droga pesavam contra ele.

Agiu corretamente o juiz neste caso concreto? O juiz, ao aplicar o benefício do § 4º do art. 33 pode
reduzir a pena no mínimo previsto (1/6) utilizando como argumento o fato de que o réu foi preso com
uma grande quantidade de droga mesmo já tendo utilizado essa mesma alegação para aumentar a
pena base?
NÃO. Em nosso exemplo, a “quantidade de droga” já havia sido utilizada pelo juiz para agravar a pena na
primeira fase da dosimetria da pena. Assim, se essa circunstância for novamente considerada agora na
terceira fase (fixação do percentual de diminuição do § 4º do art. 33 da LD) haverá aí um bis in idem, ou
seja, uma dupla punição por conta de um mesmo fato (quantidade da droga).
Dessa forma, a natureza e a quantidade da droga não podem ser utilizadas para aumentar a pena no art.
42 (primeira fase da dosimetria) e também para escolher a fração de diminuição do § 4º do art. 33 da LD
(terceira fase da dosimetria).
O juiz deverá escolher: ou utiliza essa circunstância para aumentar a pena base ou para valorar a causa de
diminuição do traficante privilegiado. Se o mesmo fato for utilizado nas duas fases, haverá bis in dem.

Situação 2. Imagine agora uma situação diferente:


Pedro foi condenado pela prática de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006) por ter sido flagrado
transportando cerca de 5kg de cocaína.
Na primeira fase da dosimetria da pena (circunstâncias judiciais do art. 59 do CP), o juiz não mencionou
nada a respeito da natureza ou da quantidade da droga. Tais elementos não foram utilizados.

Privilégio do art. 33, § 4º


A defesa havia pedido que fosse reconhecido o privilégio do § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006.
O juiz concedeu o benefício. No entanto, ao calcular o percentual de redução da pena, fixou a redução em
1/6 (menor percentual) sob o argumento de que a natureza e a quantidade da droga pesavam contra o
réu.

Agiu corretamente o juiz neste caso concreto? O juiz, ao aplicar o benefício do § 4º do art. 33 pode
reduzir a pena no mínimo previsto (1/6) utilizando como argumento o fato de que o réu foi preso com
uma grande quantidade de droga sendo que ele não utilizou essa fundamentação para aumentar a pena
base?
SIM. Neste segundo exemplo, a “quantidade de droga” não foi utilizada pelo juiz para agravar a pena na
primeira fase da dosimetria da pena. Assim, não há qualquer óbice para que o magistrado utilize essa
circunstância na terceira fase (fixação do percentual de diminuição do § 4º do art. 33 da LD).
O juiz escolheu utilizar essa circunstância para valorar a causa de diminuição do traficante privilegiado.
Como o mesmo fato não foi utilizado nas duas fases, não houve bis in dem.

Em suma:
A quantidade e a natureza da droga apreendida podem servir de fundamento para a majoração da pena-
base ou para a modulação da fração da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/2006, desde que não tenham sido utilizadas na primeira fase da dosimetria.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 842.630-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 18/12/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12


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No mesmo sentido:
É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a fixação da pena-base
quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, neste
último caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não tenham sidos considerados na
primeira fase do cálculo da pena.
STJ. 3ª Seção. HC 725.534-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/04/2022 (Info 734).

Tema 712
A posição acima explicada foi fixada pelo STF no Tema 712 de repercussão geral:
As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida devem ser levadas em consideração
apenas em uma das fases do cálculo da pena, sob pena de bis in idem.
STF. Plenário. ARE 666334 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/04/2014 (Repercussão Geral –
Tema 712).

A CONDIÇÃO DE MULA, POR SI SÓ, NÃO TEM O CONDÃO DE IMPEDIR O RECONHECIMENTO DO TRÁFICO
PRIVILEGIADO
Imagine a seguinte situação hipotética:
Ricardo conduzia um veículo quando foi abordado por policiais. Em busca veicular, os policiais
encontraram 25kg de cocaína escondidos nos forros do carro.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra Ricardo pela prática do crime de tráfico de drogas, previsto
no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006.
Durante o interrogatório, o acusado confessou os fatos e disse que foi contratado para ser “mula” levando
o carro até determinado endereço.
Em alegações finais, o réu pediu apenas a aplicação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da LD
(“tráfico privilegiado”) sob o argumento de que ele era uma simples “mula”.

“Mula” é o termo utilizado para descrever uma pessoa, geralmente primária e de bons
antecedentes (para não despertar suspeitas), que é cooptada por organizações criminosas de
tráfico de drogas para realizar o transporte do entorpecente. A droga é transportada de forma
dissimulada, escondida em fundos falsos, junto ao corpo ou até mesmo em cápsulas dentro do
estômago da pessoa. A “mula” também é conhecida como “avião” ou “transportador”.

O juiz rejeitou o pedido da defesa para aplicação da minorante do § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006, com
base na seguinte fundamentação:
“(...) é inaplicável a minorante prevista no §4º do art. 33 da Lei 11.343/06, pois, embora primário
e de bons antecedentes, a expressiva quantidade de cocaína apreendida, cujo valor comercial
aproxima-se de 1 milhão de reais, é um sólido indicativo de que o acusado se dedica às atividades
criminosas. Neste ponto, mister ressaltar que o réu integrou a logística do planejamento de
transporte interestadual de grande quantidade de cocaína, sendo que boa parte das substâncias
ilícitas estava escondida dentro da carenagem do automóvel. No caso dos autos, o tráfico
privilegiado é incompatível com a traficância eventual, diante da importância da atuação do
acusado no esquema, o qual exige sistemática estrutura organizacional.”

A fundamentação utilizada pelo magistrado está em harmonia com a jurisprudência do STJ?


NÃO.
Inicialmente, é importante esclarecer que o STF já decidiu que a expressiva quantidade de droga
apreendida, por si só, não tem o condão de descaracterizar a condição de “mula” do tráfico, e, via de
consequência, afastar a aplicação da minorante prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006:

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13


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A quantidade de droga apreendida não é, por si só, fundamento idôneo para afastamento da minorante
do art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006.
STF. 1ª Turma. RHC 138117 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/12/2020.

Assim, se fosse apenas a grande quantidade de droga, isso não seria suficiente para afastar o benefício.
Deve-se esclarecer também que o simples fato de o indivíduo ser considerado como “mula” no tráfico
(agente transportador de entorpecentes) não pode ser causa determinante ao redutor de pena previsto
no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006. Mesmo que fique demonstrado que o indivíduo era “mula”, o
julgador deverá analisar, de forma fundamentada, as atividades delitivas praticadas e o seu envolvimento
com a organização criminosa, com base nas peculiaridades do caso concreto. Nesse sentido:
A simples condição de “mula” não induz automaticamente à conclusão de que o agente integre
organização criminosa, sendo imprescindível, para tanto, prova inequívoca do seu envolvimento estável e
permanente com o grupo criminoso.
Portanto, a exclusão da causa de diminuição de pena prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006
somente se justifica quando indicados expressamente os fatos concretos que comprovem que a “mula”
integra a organização criminosa.
STF. 1ª Turma. HC 124107, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 04/11/2014.
STF. 2ª Turma. HC 131795, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 03/05/2016.
STJ. 5ª Turma. HC 387.077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 6/4/2017 (Info 602).
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1052075/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 27/06/2017.

Em suma:
O fundamento de que o agente transportava grande quantidade de droga a serviço de terceiros não se
presta a sustentar o afastamento do tráfico privilegiado, uma vez que evidencia apenas a condição de
“mula” e não de dedicação a atividades criminosas.
Assim, a condição de “mula”, por si só, não tem o condão de impedir o reconhecimento do tráfico
privilegiado (art. 33, § 4º, da LD).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 842.630-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 18/12/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
MP ofereceu denúncia por estelionato e organização criminosa; houve extinção da punibilidade
no que tange ao estelionato; é possível a continuidade do processo quanto à organização
criminosa
ODS 16

A extinção da punibilidade do crime antecedente não implica na atipicidade do delito de


organização criminosa, visto que este é considerado um delito autônomo, independente de
persecução criminal ou condenação relacionada às infrações penais a ele vinculadas.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 865.042-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
21/11/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público ofereceu denúncia contra João e outros três indivíduos, imputando-lhes o
cometimento dos crimes de estelionato (art. 171 do CP) e de organização criminosa (art. 2º da Lei nº
12.850/2013).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14


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Segundo o Parquet, os acusados teriam criado uma ONG, denominada Mais Saúde, para adquirir
medicamentos diretamente de indústrias farmacêuticas e depois revendê-los a distribuidoras de
medicamentos.
Os acusados solicitavam aos laboratórios os medicamentos como doação, com a justificativa de que
seriam destinados aos beneficiários da ONG, mas na verdade os medicamentos eram vendidos.
As vítimas dos estelionatos eram os laboratórios – empresas privadas – que, após serem induzidos em
erro, doavam os medicamentos acreditando que era uma ONG idônea.
Desde a Lei nº 13.964/2019, o estelionato passou a ser, em regra, crime de ação penal pública
condicionada a representação, na forma do § 5º do art. 171 do CP:
Art. 171 (...)
§ 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a vítima for:
I - a Administração Pública, direta ou indireta;
II - criança ou adolescente;
III - pessoa com deficiência mental; ou
IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.

Os laboratórios não tiveram interesse em fazer a representação criminal porque não queriam exposição
das empresas.
A denúncia foi oferecida mesmo assim.
O juiz rejeitou a denúncia no que tange aos crimes de estelionato reconhecendo a extinção da punibilidade
já que não houve a representação no prazo legal de 6 meses, tendo ocorrido a decadência (art. 103 do
CP).
O magistrado recebeu, contudo, a denúncia pela prática do crime de organização criminosa.
A defesa impetrou habeas corpus alegando que, uma vez reconhecida a extinção da punibilidade do crime
antecedente, qual seja, o estelionato, não pode subsistir a acusação relativa ao delito da organização
criminosa, que dependeria necessariamente da ação penal antecedente. Pugnou, portanto, pelo
trancamento da ação penal.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


NÃO.
Ao tratar desse tema no que tange à lavagem de dinheiro, o STJ é firme no sentido de que:
O reconhecimento da extinção da punibilidade pela superveniência da prescrição da pretensão punitiva
do Estado, relativamente ao crime funcional antecedente, não implica atipia ao delito de lavagem de
dinheiro (art. 1º da Lei n. 9.613/1998), que, como delito autônomo, independe de persecução criminal ou
condenação pelo crime antecedente.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.170.545/RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/12/2014.

Esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a organização criminosa.


O delito de organização criminosa (art. 2º da Lei nº 12.850/2013) goza de autonomia em relação aos
demais delitos cometidos no âmbito do grupo criminoso. No entender do STJ:
A redação do art. 1º, § 1º, da Lei n. 12.850/2013 evidencia, com clareza, que o tipo penal de organização
criminosa não se confunde com as infrações penais para cuja prática constitui-se, formal ou
informalmente, a organização criminosa. Depreende-se disso a autonomia do crime de organização
criminosa em relação às infrações penais às quais se vincula.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 146.530/RS, Rel. Min. Jesuíno Rissato Desembargador convocado do TJDFT,
julgado em 28/9/2021.

O ordenamento jurídico vigente admite a imputação tanto dos crimes de lavagem de dinheiro quanto do
crime de participação em organização criminosa ainda que desconhecido ou isento de pena o autor, ou

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 15


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extinta a punibilidade do crime antecedente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 9.613/98). Na mesma linha, a extinção
da punibilidade de crime que é pressuposto, elemento constitutivo ou circunstância agravante de outro
não se estende a este. Nos crimes conexos, a extinção da punibilidade de um deles não impede, quanto
aos outros, a agravação da pena resultante da conexão (art. 108 do Código Penal).

DIREITO PROCESSUAL PENAL

ANPP
Se o membro do MP constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele não é obrigado a notificar
extrajudicialmente o investigado informando que não irá propor o acordo; basta que faça uma
cota na denúncia informando os motivos pelos quais não ofereceu proposta

Importante!!!

Assunto já apreciado no Info 766-STJ


ODS 16

Não é obrigatório que o Ministério Público faça a notificação do investigado acerca da


proposta do acordo de não persecução penal.
A ciência da recusa do Ministério Público deve ocorrer por ocasião da citação, podendo o
acusado, na primeira oportunidade de se manifestar nos autos, requerer a remessa dos autos
ao órgão de revisão ministerial, na forma do art. 28-A, § 14, do CPP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.039.021-TO, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 8/8/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi denunciado pelo Ministério Público, acusado do crime do art. 306, § 1º, II, do Código de Trânsito
Brasileiro (embriaguez ao volante).
Na oportunidade, o MP anexou petição justificando as razões pelas quais não ofereceu acordo de não
persecução penal (ANPP). O Promotor afirmou que o indiciado não procurou voluntariamente o Parquet
para negociar o acordo e confessar o fato. Logo, não preencheu as condições impostas pelo art. 28-A do CPP.
O juiz rejeitou a denúncia com fundamento no art. 395, II, do CPP, sob a alegação de que o MP deveria ter
oportunizado a João o oferecimento do ANPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
(...)
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal; ou

De acordo com o magistrado, o MP deveria ter expedido notificação específica endereçada a João a fim
de iniciar as tratativas do acordo, ocasião em que poderia obter a confissão formal e detalhada do fato
criminoso, o que não se confunde com a intimação judicial.
Inconformado, o MP interpôs recurso em sentido estrito (art. 581, I, do CPP) argumentando que:
- o ANPP tem natureza de instrumento de política criminal, cuja avaliação é discricionária do Ministério
Público, desde que entenda necessário e suficiente para a reprovação do crime. Trata-se, portanto, de
uma prerrogativa institucional do Ministério Público e não um direito subjetivo do investigado;
- o acusado não confessou os fatos e não indicou que o faria, o que obstou a formulação da proposta, nos
termos do art. 28-A do CPP;
- o não oferecimento do acordo não pode ser causa de rejeição da denúncia, por falta de previsão legal e
ofensa ao sistema acusatório.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 16


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O Tribunal de Justiça manteve a decisão, razão pela qual o MP interpôs recurso especial insistindo nas
razões acima expostas.

O STJ concordou com os argumentos do Ministério Público?


SIM.

ANPP não é direito subjetivo do investigado


O acordo de não persecução penal não constitui direito subjetivo do investigado, podendo ser proposto
pelo Ministério Público conforme as peculiaridades do caso concreto e quando considerado necessário e
suficiente para a reprovação e a prevenção da infração penal.
Assim, não pode prevalecer a interpretação dada a outras benesses legais que, satisfeitas as exigências
legais, constitui direito subjetivo do réu, tanto que a redação do art. 28-A do CPP preceitua que o
Ministério Público poderá e não deverá propor ou não o referido acordo, na medida em que é o titular
absoluto da ação penal pública (art. 129, I, da CF/88).

Se o investigado não concorda com a recusa do MP, deve requerer a remessa dos autos ao órgão
superior
O art. 28-A, § 14, do CPP garantiu a possibilidade de o investigado requerer a remessa dos autos ao órgão
superior do Ministério Público nas hipóteses em que a acusação tenha se recusado a oferecer a proposta
de acordo de não persecução penal:
Art. 28-A (...)
§ 14. No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução
penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
deste Código.

Não existe obrigatoriedade de o MP notificar o investigado da recusa


A decisão do juiz e do TJ, no caso concreto, está em desacordo com a jurisprudência do STJ que entende
que não existe a obrigatoriedade do Ministério Público notificar o investigado em caso de recusa em se
propor o acordo de não persecução penal:
O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado para que ele compareça à instituição para
iniciar as tratativas de ANPP. Se o investigado tiver interesse, deverá procurar o Parquet.
Se o membro do Parquet constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele não é obrigado a notificar
extrajudicialmente o investigado informando que não irá propor o acordo. Neste caso, basta que o
membro do MP faça uma cota na denúncia informando os motivos pelos quais não ofereceu proposta de
acordo.
Assim, o Ministério Público pode, no próprio ato do oferecimento da denúncia, expor os motivos pelos
quais optou pela não propositura do acordo. O juiz, recebendo a denúncia, irá determinar a citação do
denunciado e, neste momento, o réu terá ciência da recusa quanto à propositura do ANPP e poderá, se
assim desejar, requerer a remessa ao órgão superior do MP, nos termos do § 14 do art. 28-A do CPP.
Em resumo, por ausência de previsão legal, o Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado
acerca da proposta do acordo de não persecução penal, sendo que, ao se interpretar conjuntamente os
arts. 28-A, § 14, e 28, caput, do CPP, a ciência da recusa ministerial deve ocorrer por ocasião da citação,
podendo o acusado, na primeira oportunidade dada para manifestação nos autos, requerer a remessa dos
autos ao órgão de revisão ministerial.
STJ. 6ª Turma. REsp 2024381-TO, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado
em 7/3/2023 (Info 766).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17


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Dessa forma, não poderia o Juízo de primeira instância rejeitar a denúncia somente em razão da ausência
de intimação do investigado pelo Ministério Público Federal para informar acerca do não oferecimento do
ANPP, até porque não existe condição de procedibilidade não prevista em lei.

O que deveria ter acontecido então?


O juiz receberia a denúncia e determinaria a citação do denunciado. Ao ser citado, o denunciado teria
ciência da recusa quanto à propositura do ANPP e poderia, se assim desejasse, requerer a remessa ao
órgão superior do MP, nos termos do § 14 do art. 28-A do CPP.
Esse requerimento é formulado na primeira oportunidade dada ao réu para se manifestar.

Em suma:
Não é obrigatório notificar o investigado acerca da proposta do acordo de não persecução penal, sendo
que a ciência da recusa do Ministério Público deve ocorrer por ocasião da citação, podendo o acusado,
na primeira oportunidade de se manifestar nos autos, requerer a remessa dos autos ao órgão de revisão
ministerial.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.039.021-TO, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 8/8/2023 (Info 16
– Edição Extraordinária).

ANPP
A habitualidade delitiva impede a celebração do ANPP, nos termos do art. 28-A, §2º, II, do CPP
ODS 16

Reconhecida a habitualidade delitiva, fica descaracterizado o crime continuado, impedindo a


celebração de acordo de não persecução penal.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 788.419-PB, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do
TJDFT), julgado em 11/9/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A empresa Alfa Ltda deixou de recolher o ICMS no período de 01/11/2018 a 01/08/2019.
O Fisco estadual descobriu a sonegação e autuou a empresa. Houve a constituição definitiva do crédito
tributário.
Durante o procedimento tributário, ficou devidamente demonstrado que o responsável pela omissão do
recolhimento dos tributos era João, sócio-administrador da empresa.
Em seguida, o Fisco apresentou ao Ministério Público representação fiscal para fins penais.
O Ministério Público recusou-se a oferecer o acordo de não persecução penal (ANPP) sob o argumento de
que, no caso, restou demonstrada a habitualidade delitiva de João, que deixou de recolher o tributo por
15 vezes.
João impetrou habeas corpus contra a recusa do Promotor.
O Tribunal de Justiça não conheceu do habeas corpus, por entender que não cabe ao Poder Judiciário
impor ao Ministério Público a celebração do acordo.
Ainda inconformada, a defesa impetrou habeas corpus no STJ, reiterando os argumentos anteriormente
expostos e pedindo que o ANPP fosse proposto.

O STJ concordou com os argumentos da defesa e concedeu a ordem?


NÃO.
As instâncias de origem foram claras ao afirmar que “o requerente praticou condutas consideradas
criminosas, de forma habitual e reiterada, por 15 (quinze vezes)”, o que impede a celebração do acordo
de não persecução penal, nos termos do art. 28-A, § 2º, II, do Código de Processo Penal:

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 18


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Art. 28-A. (...)


§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes hipóteses:
(...)
II - se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem conduta
criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais pretéritas;

Ressalte-se que a proposta é uma prerrogativa do Ministério Público, e, portanto:


Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara
investigatória, impor ao MP a celebração de acordos.
STF. 2ª Turma. HC 194.677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017)

O STJ também afastou o argumento da defesa de que teria havido crime continuado. Isso porque uma vez
reconhecida a habitualidade delitiva, fica descaracterizado o crime continuado.

Em suma:
Reconhecida a habitualidade delitiva, fica descaracterizado o crime continuado, impedindo a celebração
de acordo de não persecução penal.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 788.419-PB, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT),
julgado em 11/9/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

COMPETÊNCIA
Juiz Federal não pode determinar a suspensão de inquérito penal militar
ODS 16

Caso hipotético: Regina, militar da Aeronáutica, foi submetida à inspeção de saúde e declarou
que não havia passado por problemas graves de saúde nos últimos anos. A Junta Médica,
contudo, descobriu que a informação prestada por Regina foi falsa. Isso porque ela tinha um
histórico psiquiátrico vasto, incluindo depressão grave e transtorno de pânico. A Junta
descobriu isso acessando os prontuários médicos de Regina que estavam arquivados no
Hospital da Aeronáutica. Diante desse cenário, o Comando da Aeronáutica instaurou
sindicância administrativa para apurar o fato sob o aspecto disciplinar e também um
inquérito policial militar para investigar suposto crime de falsidade ideológica previsto no art.
312 do Código Penal Militar.
Regina ingressou com ação cível, na Justiça Federal, requerendo a suspensão da sindicância e
do inquérito, com a retirada de seus prontuários médicos, considerando o caráter sigiloso e
íntimo dos documentos.
O Juízo Federal acolheu o pedido e determinou a suspensão da sindicância e do inquérito.
O STJ decidiu que o Juízo Federal não tinha competência para suspender o inquérito.
Sendo o crime investigado da competência do Juízo Militar para processo e julgamento, cabe
a ele decidir sobre a suspensão do inquérito penal militar, cabendo à Justiça Federal tão
somente o controle da legalidade da sindicância administrativa no âmbito disciplinar.
STJ. 3ª Seção. CC 200.708-PE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 13/12/2023 (Info 16
– Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


Regina, militar da Aeronáutica, foi submetida à inspeção de saúde. Na ocasião, ela declarou que não havia
passado por problemas graves de saúde nos últimos anos.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 19


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A Junta Médica, contudo, descobriu que a informação prestada por Regina foi falsa. Isso porque ela tinha
um histórico psiquiátrico vasto, incluindo depressão grave e transtorno de pânico.
A Junta descobriu isso acessando os prontuários médicos de Regina que estavam arquivados no Hospital
da Aeronáutica.
Diante desse cenário, o Comando da Aeronáutica instaurou sindicância administrativa para apurar o fato
sob o aspecto disciplinar e também um inquérito policial militar para investigar suposto crime de falsidade
ideológica previsto no art. 312 do Código Penal Militar que teria sido cometido por Regina:
Falsidade ideológica
Art. 312. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante, desde que o fato
atente contra a administração ou o serviço militar:
Pena - reclusão, até cinco anos, se o documento é público; reclusão, até três anos, se o documento
é particular.

Regina ingressou com ação cível, na Justiça Federal, requerendo a suspensão da sindicância e do inquérito,
com a retirada de seus prontuários médicos, considerando o caráter sigiloso e íntimo dos documentos.
O Juízo Federal acolheu o pedido e determinou a suspensão dos procedimentos por entender que a
Administração Militar não estaria autorizada, em âmbito de Sindicância e de Inquérito Penal Militar, a
acessar o prontuário médico e demais documentos pessoais e sigilosos arquivados no Hospital da
Aeronáutica, com base nas Leis nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) e 13.709/2018 (Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais).
Comunicado da decisão, o Juízo Militar não concordou com a suspensão, por entender que não caberia ao
Juízo Federal suspender o inquérito penal militar, que não é de sua competência, retirando do Ministério
Público Militar a possibilidade de prosseguir nas investigações ou até mesmo de se manifestar pelo
arquivamento.
Sendo assim, suscitou no STJ conflito de competência.

O que decidiu o STJ? O Juízo Federal poderia ter suspendido o inquérito policial militar?
NÃO.
Se o crime investigado é da competência do Juízo Militar, cabe a ele decidir sobre a suspensão do inquérito
penal militar. Assim, a persecução penal não pode ser suspensa por determinação da Justiça Federal, a
quem compete tão somente o controle da legalidade da sindicância administrativa, no âmbito disciplinar.
A legalidade da persecução penal militar deve ser analisada pelo juízo militar.
O juízo federal possui competência apenas para decidir sobre a suspensão de inquérito penal instaurado
naquela instância.

Em suma:
Sendo o crime investigado da competência do Juízo Militar para processo e julgamento, cabe a ele
decidir sobre a suspensão do inquérito penal militar, cabendo à Justiça Federal tão somente o controle
da legalidade da sindicância administrativa no âmbito disciplinar.
STJ. 3ª Seção. CC 200.708-PE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 13/12/2023 (Info 16 –
Edição Extraordinária).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20


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PROVAS
STJ considerou lícita a gravação feita, pela equipe de enfermagem, do anestesista
que abusava das pacientes grávidas durante o trabalho de parto

Importante!!!
ODS 16

Na colisão de interesses, é válida a captação ambiental clandestina sempre que o direito a ser
protegido tiver valor superior à privacidade e a imagem do autor do crime, utilizando-se da
legítima defesa probatória, a fim de se garantir a licitude da prova.
A gravação clandestina produzida pelas vítimas de crime pode ser utilizada como meio de
prova em determinadas situações nas quais ela se mostra necessária para a defesa dos direitos
fundamentais da vítima.
A proporcionalidade em sentido estrito se aplica como verdadeira causa excludente de
ilicitude da prova toda vez que o direito à integridade e à dignidade da vítima prevalece sobre
o direito de imagem e privacidade do ofensor. É imprescindível que os bens jurídicos em
confronto sejam sopesados, dando-se preferência àqueles de maior relevância.
Ao sopesar os interesses das partes envolvidas na captação ambiental, obviamente que os
direitos fundamentais da parturiente se sobrepõem às eventuais garantias fundamentais do
ofensor que agora tenta delas se valer para buscar impedir a utilização do único meio de prova
possível para a elucidação do crime por ele perpetrado, praticado às escondidas em ambiente
hospitalar e em proveito à situação de extrema vulnerabilidade que ele mesmo impôs à
parturiente com a utilização excessiva de sedação e de anestésicos, impedindo qualquer tipo
de reação.
STJ. 5ª Turma. HC 812.310/RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/11/2023 (Info 16 – Edição
Extraordinária).

Imagine a seguinte situação adaptada:


João, médico anestesiologista, foi participar do trabalho de parto de uma paciente.
Ele seria responsável por aplicar a anestesia necessária para a cesárea e acompanhar na sala de parto para
o caso de uma eventual intercorrência.
Ocorre que João aplicou uma dose de sedativo maior do que a necessária – a fim de deixar a paciente
quase que inconsciente – e, aproveitando-se dessa situação, praticou estupro de vulnerável, dentro da
própria sala de parto, ao introduzir seu pênis na boca da grávida que estava em trabalho de parto.
Uma das técnicas de enfermagem que também acompanhava o parto suspeitou de movimentos estranhos
do médico nas cirurgias anteriores e, por isso, posicionou um celular no armário com porta de vidros
escuros, a fim de tentar registrar a ação criminosa do denunciado.
Após a realização da cesárea, os funcionários tiveram acesso aos vídeos e confirmaram a prática de atos
libidinosos pelo médico enquanto a vítima estava desacordada, em decorrência da forte sedação que lhe
fora ministrada.
A Polícia Civil foi acionada e o médico preso em flagrante.
Ao final do inquérito, o Ministério Público ofereceu denúncia contra João pela prática de estupro de
vulnerável, delito tipificado no art. 217-A, § 1º c/c o art. 61, II, alíneas “g” e “h”, do Código Penal:
Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou
que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21


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(...)

Circunstâncias agravantes
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:
(...)
II - ter o agente cometido o crime:
(...)
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;

A denúncia foi recebida.


A defesa impetrou habeas corpus pedindo o trancamento da ação penal, em razão da nulidade da prova
obtida e das que dela decorreram, em observância à Teoria da Árvore Envenenada. Sustentou que a sala
de cirurgia não é local público hábil a captação ambiental e que as gravações vulneram a intimidade dos
envolvidos.
Alegou, portanto, que a gravação ambiental obtida seria ilícita, uma vez que foi produzida sem o conhecido
dos envolvidos e sem a prévia autorização da autoridade policial e do Ministério Público, em violação à Lei
nº 9.296/96, considerando que a gravação foi realizada em local privado com captação das imagens por
dispositivo particular.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


NÃO.

Captação ambiental
Ocorre quando são registrados sons ou imagens envolvendo a conversa ou o comportamento de duas ou
mais pessoas em um determinado ambiente, como um escritório, um restaurante, a entrada de um prédio
etc.

Captação em sentido amplo


Apesar de haver posições em sentido contrário, a expressão “captação” ambiental deve ser tomada como
um gênero, do qual são espécies a interceptação, a escuta e a gravação ambiental. Vejamos:

INTERCEPTAÇÃO ambiental ESCUTA ambiental GRAVAÇÃO ambiental


Ocorre quando um terceiro Ocorre quando um terceiro Ocorre quando o diálogo ou as
capta o diálogo ou as imagens capta o diálogo ou as imagens imagens envolvendo duas ou
envolvendo duas ou mais envolvendo duas ou mais mais pessoas é captado, sendo
pessoas, sem que nenhum dos pessoas, sendo que um dos que um dos alvos é o autor dos
alvos saiba. alvos sabe que está sendo registros.
realizada a escuta. Também é chamada de gravação
ambiental clandestina (obs: a
palavra “clandestina” está
empregada não na acepção de
“ilícito”, mas sim no sentido de
“feito às ocultas”).
Ex: polícia, com autorização Ex: polícia filma o momento em Ex: mulher instala uma câmera
judicial, instala um microfone e que determinado empresário na casa e filma o momento em
um gravador escondidos no (ciente da filmagem) entrega que o ex-marido ameaça matá-
gabinete de um servidor público quantia em dinheiro exigida por la.
investigado por corrupção. fiscal corrupto.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22


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Antes da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), para que houvesse a interceptação ou escuta ambiental
era necessária autorização judicial?
Depende:
• Se as pessoas investigadas estivessem em um ambiente público ou de acesso público: prevalecia o
entendimento de que não havia necessidade de autorização judicial, considerando que não havia violação
à privacidade e muito menos à intimidade. É o caso, por exemplo, da filmagem de um crime que ocorre
em plena rua;
• Se a captação ocorresse um local de acesso restrito: era necessária a autorização judicial. É o caso da
captação ambiental realizada em um escritório ou em uma residência.

Neste sentido, confira-se os seguintes precedentes:


Conforme destacou o Ilustre Ministro Sepúlveda Pertence, ao proferir seu voto no julgamento do habeas
corpus n. 87.341-3/PR, "[...] não há nenhuma ilicitude na documentação cinematográfica da prática de um
crime, a salvo, é claro, se o agente se encontra numa situação de intimidade. Obviamente não é o caso de
uma corrupção passiva praticada em repartição pública. (STF, HC 87.341/PR, 1.ª Turma, Rel Min. EROS
GRAU, DJ de 03/03/2006.) (...)
STJ. 5ª Turma. HC 118860/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 02/12/2010.

(...) Não configura prova ilícita gravação feita em espaço público, no caso, rodovia federal, tendo em vista
a inexistência de "situação de intimidade" (HC n. 87341-3, Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento:
07.02.2006) (...)
STJ. 3ª Seção. MS 12429/DF, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 23/05/2007.

E a gravação ambiental?
Prevalecia o seguinte entendimento: em regra, a gravação ambiental, realizada por um dos interlocutores,
prescinde de autorização judicial:
É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento
do outro.
STF. Plenário. RE 583937 QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009 (Repercussão Geral –
Tema 237).

É válida a utilização da gravação ambiental realizada por um dos interlocutores do diálogo como meio de
prova no processo penal, independentemente de prévia autorização judicial.
STJ. 5ª Turma. RHC 102.808/RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 06/08/2019.
STJ. 6ª Turma. RHC 59.542/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, DJe 14/11/2016.

Assim, se “A” e “B” estão conversando, “A” pode gravar essa conversa mesmo que “B” não saiba. Para a
jurisprudência, a gravação de conversa feita por um dos interlocutores sem o conhecimento dos demais é
considerada lícita. A única exceção em que haveria ilicitude se dá no caso em que a conversa era amparada
por sigilo (ex: advogados e clientes, padres e fiéis).

E depois da Lei nº 13.964/2019?


A Lei nº 13.964/2019 inseriu o art. 8º-A na Lei nº 9.296/96 exigindo, de forma genérica, a prévia
autorização judicial para a captação ambiental.
Art. 8º-A. Para investigação ou instrução criminal, poderá ser autorizada pelo juiz, a requerimento
da autoridade policial ou do Ministério Público, a captação ambiental de sinais eletromagnéticos,
ópticos ou acústicos, quando:
I - a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis e igualmente eficazes; e

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23


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II - houver elementos probatórios razoáveis de autoria e participação em infrações criminais cujas


penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos ou em infrações penais conexas.
§ 1º O requerimento deverá descrever circunstanciadamente o local e a forma de instalação do
dispositivo de captação ambiental.
(...)

A captação ambiental autorizada pela Justiça tem prazo de duração de 15 dias, podendo ser renovada, tal
como na interceptação telefônica:
Art. 8º-A (...)
§ 2º A instalação do dispositivo de captação ambiental poderá ser realizada, quando necessária,
por meio de operação policial disfarçada ou no período noturno, exceto na casa, nos termos do
inciso XI do caput do art. 5º da Constituição Federal.
§ 3º A captação ambiental não poderá exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por decisão
judicial por iguais períodos, se comprovada a indispensabilidade do meio de prova e quando
presente atividade criminal permanente, habitual ou continuada.
(...)
§ 5º Aplicam-se subsidiariamente à captação ambiental as regras previstas na legislação específica
para a interceptação telefônica e telemática.

O art. 8-A, da Lei nº 9.296/96 garante, em seu § 4º, a utilização, em matéria de defesa, da prova obtida
por meio da captação ambiental realizada por um dos interlocutores, quando demonstrada a integridade
da gravação:
Art. 8º-A (...)
§ 4º A captação ambiental feita por um dos interlocutores sem o prévio conhecimento da
autoridade policial ou do Ministério Público poderá ser utilizada, em matéria de defesa, quando
demonstrada a integridade da gravação.

Não obstante a redação do referido art. 8-A, § 4º, a doutrina majoritária se posiciona no sentido da licitude
da referida prova tanto para a acusação quanto para a defesa, sob pena de ofensa ao princípio da paridade
das armas, da lealdade, da boa-fé objetiva e da cooperação entre os sujeitos processuais. Assim, a
captação ambiental feita por um dos interlocutores não seria permitida apenas para o direito de defesa,
mas também para resguardar as vítimas de crimes.
Com efeito, “a exegese do novo art. 8º-A, § 4º, da Lei n. 9.296/1996, exige uma interpretação conforme à
Constituição, para se entender que a locução 'em matéria de defesa' deve ser interpretada como 'em
matéria de defesa de direitos fundamentais'. Ou seja, abrange tanto a defesa daquele que é injustamente
acusado da prática de um crime, da mesma forma que permite a legítima defesa probatória da vítima de
investidas criminosas. Isso porque a eventual interpretação que viesse a excluir a possibilidade de a vítima
de crime se defender seria claramente inconstitucional, por determinar de antemão o sacrifício dos
direitos fundamentais do inocente, e criminógena, por proteger e incentivar quem se esconde atrás das
garantias fundamentais para abusivamente praticar crime.” (MARTINS, Charles e ÁVILA, Thiago Pierobom
de. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Volume 8 - n. 2 - maio/ago. 2022, p. 995-996).
O art. 10-A, da Lei nº 9.296/96, também incluído pela Lei nº 13.964/2019, previu a figura típica da captação
ambiental sem autorização judicial, mas ressalvou, em seu § 1º, os casos em que esta é realizada por um
dos interlocutores, situação que pode ser equiparada à atuação de terceiro quando o agente reduzir
totalmente a possibilidade de agir da vítima.
Art. 10-A. Realizar captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos para
investigação ou instrução criminal sem autorização judicial, quando esta for exigida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24


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§ 1º Não há crime se a captação é realizada por um dos interlocutores.


(...)

Os precedentes mais recentes do STJ e do STF têm validado o uso das gravações clandestinas como meio
de prova, excluindo da incidência típica as captações feitas por um dos interlocutores.
A questão não é nova, uma vez que o Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do RE 583.937,
em 19 de novembro de 2009, em rito de repercussão geral, já havia decidido pela validade probatória da
gravação de áudio ou vídeo realizada de forma oculta, por particular, sem conhecimento do outro
interlocutor:
É lícita a prova consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento
do outro.
STF. Plenário. RE 583937 QO-RG, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 19/11/2009 (Repercussão Geral –
Tema 237).

Não obstante alguns posicionamentos contrários à utilização da gravação clandestina produzida pelas
vítimas de crime como meio de prova, há situações em que é forçoso se concluir pela sua licitude,
considerando justamente a necessidade de defesa dos direitos fundamentais da vítima.
Especificamente com relação à sua utilização como forma de proteção aos direitos fundamentais da vítima
de ações criminosas, a proporcionalidade em sentido estrito se aplica como verdadeira causa excludente
de ilicitude da prova toda vez que o direito à integridade e à dignidade da vítima prevalece sobre o direito
de imagem e privacidade do ofensor. Em outras palavras, é imprescindível que os bens jurídicos em
confronto sejam sopesados, dando-se preferência àqueles de maior relevância.
Na colisão de interesses, o uso de captações clandestinas se justifica sempre que o direito a ser protegido
tiver valor superior à privacidade e à imagem do autor de crime, utilizando-se da legítima defesa
probatória, a fim de se garantir a licitude da prova. É exatamente nesse contexto que se insere a conduta
daquele que realiza uma gravação ambiental clandestina, inicialmente praticando a conduta típica descrita
no art. 10-A da Lei nº 9.296/96, amparado, no entanto, pela excludente de antijuridicidade, pois sua
conduta, embora cause lesão a um bem jurídico protegido, no caso a privacidade ou a intimidade da
pessoa alvo da gravação, é utilizada para a defesa de direito próprio ou de terceiro contra agressão injusta,
atual e iminente.
No presente caso, conforme já relatado, os funcionários da equipe de enfermagem do hospital
suspeitaram do comportamento incomum apresentado pelo denunciado no centro cirúrgico e registraram
em vídeo a ação criminosa, considerando a vulnerabilidade da vítima que estava sedada sem qualquer
possibilidade de reação ou mesmo de prestar depoimento sobre os fatos.
Ao sopesar os interesses das partes envolvidas na captação ambiental, obviamente que os direitos
fundamentais da parturiente se sobrepõem às eventuais garantias fundamentais do ofensor que agora
tenta delas se valer para buscar impedir a utilização do único meio de prova possível para a elucidação do
crime por ele perpetrado, praticado às escondidas em ambiente hospitalar e em proveito à situação de
extrema vulnerabilidade que ele mesmo impôs à parturiente com a utilização excessiva de sedação e de
anestésicos, impedindo qualquer tipo de reação. Sendo assim, não há ilicitude a ser reconhecida.

Em suma:
Na colisão de interesses, é válida a captação ambiental clandestina sempre que o direito a ser protegido
tiver valor superior à privacidade e a imagem do autor do crime, utilizando-se da legítima defesa
probatória, a fim de se garantir a licitude da prova.
STJ. 5ª Turma. HC 812.310/RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 21/11/2023 (Info 16 – Edição
Extraordinária).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 25


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PROVAS
A Receita Federal não pode, a pretexto de examinar incidentes tributários e aduaneiros,
investigar delitos sem repercussão direta na relação jurídica tributária - que se afastem de sua
atribuição de órgão fiscal -, sendo nulos os elementos de prova por ela produzidos
ODS 16

A Receita Federal do Brasil possui atribuição e poderes administrativos para, em caráter


suplementar, apurar condutas de repercussão penal, desde que insertas no espectro de suas
atribuições e em atenção à finalidade fiscal. Existem, contudo, duas limitações:
i) pertinência temática: a atuação deve estar associada à relação jurídica tributária ou
aduaneira; e
ii) finalidade fiscal: a atividade deve perseguir a tutela fiscal, de modo que, ainda que apure
ilícitos de natureza tributária, não se admite desvirtuamento de finalidade para que sejam
atingidos outros fins.
Muito embora existam pontos de contato, o desenvolvimento da atividade da Receita Federal
não pode invadir a esfera de atribuição da polícia judiciária ou, ainda que na apuração
tematicamente adequada, atuar em desvio da finalidade fiscal. Os respectivos procedimentos
fiscais averiguatórios não podem, dessa forma, ter por objeto a persecução de condutas
delituosas desconectadas da relação jurídica tributária.
No caso concreto, o STJ entendeu que a Receita Federal desbordou dos limites de sua
atribuição ao perseguir elementos estranhos à relação jurídica tributária, portanto, fora da
limitação temática que dá contorno à sua atuação e em desvio da finalidade fiscal. E, assim, o
descumprimento das regras e princípios, na elaboração do relatório fiscal produto da
operação, deu causa à ilicitude dos elementos de prova constituídos e derivados, em aplicação
analógica do art. 157, §1º, do CPP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 167.539/SP, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 12/12/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


A Receita Federal realizou uma operação para investigar uma suposta organização criminosa que estaria
realizando movimentações financeiras fraudulentas.
Ao concluir o procedimento, a Receita identificou que João teria, em tese, praticado os delitos de previstos
no art. 1º, I da Lei nº 8.137/90; no art. 19 da Lei nº 7.492/86; no art. 171, § 3º e no art. 304 c/c o art. 299,
do Código Penal:
Lei nº 8.137/90
Art. 1º Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social
e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias;
(...)
Pena - reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
(...)

Lei nº 7.492/86
Art. 19. Obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é cometido em detrimento de
instituição financeira oficial ou por ela credenciada para o repasse de financiamento.

Código Penal

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 26


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Art. 171. Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
(...)
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.

Uso de documento falso


Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297
a 302:
Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
(...)
Falsidade ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele
inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar
direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três
anos, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo,
ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta
parte.

Com base nessas investigações, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia em face de João.
O denunciado impetrou habeas corpus perante o TRF da 3ª Região.
Alegou, em síntese, que as provas produzidas no âmbito dessa operação seriam nulas. Isso porque a
Receita Federal “tomou para si o papel de investigar crimes” e que uma simples denúncia anônima “serviu
para permitir o acesso a informações fiscais e bancárias sigilosas que, então, pautaram mais de um ano de
investigação sem qualquer conhecimento do Judiciário”.
Prosseguiu afirmando que “à Receita Federal cabe apurar a existência de débitos fiscais e, nessa função,
pode reunir eventuais indícios de ilícitos tributários. Contudo, não cabe – e mostra-se absolutamente
temerário – ampliar o seu papel e competência para que possa substituir o Ministério Público e a Polícia
Federal no comando e execução de investigação de suspeitas de crimes desconectados ao cerne de sua
atuação”.
O TRF3 denegou a ordem.
Irresignado, João interpôs recurso ordinário em habeas corpus (art. 105, II, “a”, da CF/88), reiterando suas
teses defensivas.

O STJ concordou com os argumentos da defesa? O recurso ordinário do réu foi provido?
SIM.

A Receita Federal e o poder de investigação de natureza penal


O poder de investigação de natureza penal, ou seja, a atribuição de investigar crimes é uma função típica
das polícias judiciárias, nos termos do art. 144, §1º, IV, e §4º, da Constituição:
Art. 144 (...)
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União
e estruturado em carreira, destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão
uniforme, segundo se dispuser em lei;
Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 27
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(...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares.

O parágrafo único do art. 4º do CPP, por sua vez, afirma que, além das polícias judiciárias, outras
autoridades administrativas também podem fazer a apuração de infrações penais, desde que isso tenha
sido atribuído pela lei:
Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas
circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

Especificamente em relação à Receita Federal, o art. 194, do Código Tributário Nacional estabelece
atribuição e poderes administrativos em matéria de fiscalização e investigação para a aplicação da
legislação tributária:
Art. 194. A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei, regulará, em caráter geral, ou
especificamente em função da natureza do tributo de que se tratar, a competência e os poderes
das autoridades administrativas em matéria de fiscalização da sua aplicação.

Limites para investigação conduzida pela Receita Federal


A partir dessas premissas normativas, é certo que a Receita Federal do Brasil possui atribuição e poderes
administrativos para, em caráter suplementar, apurar condutas de repercussão penal, desde que insertas
no espectro de suas atribuições e em atenção à finalidade fiscal.
Vale ressaltar, contudo, que essa investigação feita pela Receita Federal possui duas limitações:
i) pertinência temática: a atuação deve estar associada à relação jurídica tributária ou aduaneira; e
ii) finalidade fiscal: a atividade deve perseguir a tutela fiscal, de modo que, ainda que apure ilícitos de
natureza tributária, não se admite desvirtuamento de finalidade para que sejam atingidos outros fins.

O poder de polícia administrativa da Receita Federal, portanto, possui contornos e não pode ser exercido
de forma ampla e irrestrita, sob pena da potencialidade de violação a direitos fundamentais e indevida
invasão da esfera de atribuição dos órgãos de persecução penal.
A atividade de administração e repressão fiscal pressupõe, assim, limites inerentes e a respectiva sujeição
ao controle judicial.
Assim, apesar de existir uma atuação suplementar da Receita Federal para apuração de ilícitos de natureza
criminal, não se pode admitir que ocorra a usurpação das atribuições dos órgãos de persecução
tipicamente penal.
Muito embora existam pontos de contato, o desenvolvimento da atividade da Receita Federal não pode
invadir a esfera de atribuição da polícia judiciária ou, ainda que na apuração tematicamente adequada,
atuar em desvio da finalidade fiscal. Os respectivos procedimentos fiscais averiguatórios não podem, dessa
forma, ter por objeto a persecução de condutas delituosas desconectadas da relação jurídica tributária.
Obviamente, nada obstante o poder para investigar ilícitos tributários e aduaneiros – que, eventualmente,
podem caracterizar crimes de natureza tributária –, é possível que a apuração identifique, em decorrência
da atuação, indícios de prática de delitos estranhos à atribuição do órgão fiscal. Nessa hipótese, a Receita
Federal persistirá nas averiguações do fato, porquanto inserido na esfera de sua atividade finalística. E,
encerrada a investigação e considerando a existência de indícios de possível ocorrência de infração
tributária de natureza criminal, fará comunicação aos órgãos de repressão penal, pois configurado o dever
de representação fiscal para fins penais.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 28


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Por outro lado, como dito, a Receita Federal não pode, a pretexto de examinar incidentes tributários e
aduaneiros, investigar delitos sem repercussão direta na relação jurídica tributária. Nessa hipótese, a
pertinência temática e finalística denota limitação na atuação e o consequente dever de comunicar os
órgãos de persecução tipicamente penal, uma vez que constituído o dever de representação para fins
penais.
São, portanto, hipóteses distintas que pressupõem posturas, igualmente, diversas.
Não é por outro motivo que a Portaria RFB nº 1750, de 12 de novembro de 2018, conferiu tratamento
distinto a três espécies de representação da Receita:
1) representação fiscal para fins penais: refere-se a fatos que configuram, em tese, crimes contra a ordem
tributária, contra a Previdência Social, e de contrabando ou descaminho (art. 1º, I); e
2) representação para fins penais: refere-se a fatos que configuram, em tese, crimes contra a
Administração Pública Federal, em detrimento da Fazenda Nacional ou contra administração pública
estrangeira, de falsidade de títulos, papéis e documentos públicos e de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores (art. 1º, II);
3) representação referente a ilícitos que configuram, em tese, atos de improbidade administrativa,
relacionados às atividades e competências da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB).

A representação para fins penais exige imediatidade, uma vez que impõe que o servidor da Receita Federal
formalize e protocole a comunicação no prazo de 10 (dez) dias, contados da data em que tiver ciência do
fato. Em seguida, o titular da unidade responsável deverá fazer a representação ao Ministério Público
Federal também no prazo de 10 (dez) dias, contados da data de sua protocolização (art. 17, caput, e 1º,
da Portaria RFB n. 1750/18).

Voltando ao caso concreto:


Segundo a defesa, em abril de 2016, a Receita Federal teria recebido denúncia anônima que apontava
crimes de natureza tributária e não tributária supostamente envolvendo João. Todavia, a Receita Federal
não teria encaminhado a notícia aos órgãos de persecução penal e teria tomado para si a tarefa de
investigar as suspeitas.
Isso porque, após analisar informações fiscais e movimentações bancárias das pessoas envolvidas, a
Receita deu início a dois procedimentos fiscais com requisições, em paralelo, de informações sobre
movimentações financeiras e expedições de ofícios que, ao juízo da defesa, teriam o objetivo de investigar
crimes financeiros, de falsidade e de lavagem de capitais. Anos depois da denúncia anônima, foi redigido
o relatório fiscal objeto da controvérsia.
De acordo com os autos, no momento do recebimento da denúncia anônima, os auditores responsáveis
tiveram conhecimento, a priori, de fatos que, em tese, configuravam crimes de natureza estranha à
relação jurídica tributária aduaneira.
Durante a investigação, a Receita Federal realizou diligências que não tinham relação com ilícitos
tributários investigados e que exorbitaram suas atribuições. Ex: o órgão fiscal realizou diligências pessoais
no condomínio em que residia a esposa do paciente para obtenção de informações sobre veículos de
moradores específicos e pessoas que os visitavam; buscou e coletou fotos aéreas de imóveis relacionados
a determinadas linhas telefônicas; acessou e coletou trechos de conversas de WhatsApp; expediu ofícios
ao TRE e aos cartórios para a coleta de informações de pessoas não investigadas.
Nesse cenário, o relator constatou que relatório da Operação Caeiro não se limitava ao procedimento
fiscal ordinário, inserto na temática tributária e com finalidade de apuração de ilícitos dessa natureza.
Por fim, o Ministro Relator explicou que não se está a infirmar as atribuições de natureza fiscal da Receita
Federal, mas, apenas, a constatar que, no caso concreto, o órgão desbordou dos limites de sua atribuição
ao perseguir elementos estranhos à relação jurídica tributária, portanto, fora da limitação temática que
dá contorno à sua atuação e em desvio da finalidade fiscal.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 29


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Assim, ante o descumprimento das regras e princípios na elaboração do relatório fiscal produto da
operação, o STJ concluiu pela ilicitude dos elementos de prova constituídos e, igualmente, inadmissíveis
aqueles derivados, em aplicação analógica do art. 157, §1º, do CPP:
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim
entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o
nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma
fonte independente das primeiras.
(...)

O caso concreto não poderia configurar descoberta fortuita de provas?


NÃO.
A serendipidade pressupõe o encontro acidental de prova relacionado a fato diverso daquele que está
sendo investigado.
Na espécie, os fatos dos quais se constituíram os elementos de prova eram objeto da investigação, de
modo que inviável a tese de que teria surgido no curso de procedimento fiscal de forma casual.

Em suma:
A Receita Federal não pode, a pretexto de examinar incidentes tributários e aduaneiros, investigar
delitos sem repercussão direta na relação jurídica tributária - que se afastem de sua atribuição de órgão
fiscal -, sendo nulos os elementos de prova por ela produzidos.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 167.539/SP, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 12/12/2023 (Info 16 –
Edição Extraordinária).

CAUSAS DE IMPEDIMENTO (ART. 252 DO CPP)


Magistrado que apenas recebeu a denúncia pode, no futuro, julgar, como Desembargador, a
apelação interposta pelo réu contra a sentença condenatória
ODS 16

Não configura causa de impedimento a hipótese em que a desembargadora revisora se limitou


a, em cognição sumária e com fundamentação sucinta, receber a denúncia contra o réu quando
atuava em primeiro grau e depois, sentenciado o feito por magistrado totalmente diverso,
apreciou, passados mais de 10 anos, em cognição exauriente, o mérito da causa na apelação
interposta contra a sentença.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 852.949-CE, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti
Cruz, julgado em 30/11/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público ofereceu denúncia contra João pela prática de tráfico de drogas.
Em decisão sucinta, a Juíza Regina Magalhães recebeu a denúncia e manteve a prisão preventiva do réu.
Isso foi no ano de 2012.
Logo depois dessa decisão, Regina Magalhães foi promovida a Desembargadora e não mais atuou em
primeira instância.
Desse modo, o processo foi conduzido por outro juiz, que assumiu a vara.
O feito demorou muito tempo para ser concluído e, somente em 2020, o magistrado prolatou sentença
condenando João.
O réu interpôs apelação.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 30


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O recurso foi distribuído para a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, sendo sorteado como relator o
Desembargador Paulo e, como relatora, a Desembargadora Regina Magalhães.
O processo foi submetido a julgamento e a 1ª Câmara, por unanimidade, negou provimento à apelação,
mantendo a sentença, nos termos do voto do relator.
Participaram do julgamento os Desembargadores Paulo Silva (relator), Regina Magalhães (revisora) e
Pedro Souza (vogal).
Houve o trânsito em julgado.
Em seguida, o advogado do condenado impetrou habeas corpus no STJ requerendo a nulidade do acórdão
do Tribunal de Justiça por suposta violação ao disposto no art. 252, III, do CPP:
Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que:
(...)
III - tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão;

O STJ concordou com o pedido da defesa?


NÃO.

Da causa de impedimento prevista no art. 252, III, do CPP


O art. 252, III, do CPC dispõe que “o juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que tiver funcionado
como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão.”
O objetivo dessa norma é impedir que o duplo grau de jurisdição seja mitigado em razão da participação,
em ambos os julgamentos, de magistrado que já possui convicção formada sobre os fatos e sobre suas
repercussões criminais.
Vale ressaltar que, embora de grande importância para a concretização do devido processo legal, o duplo
grau de jurisdição não encontra previsão explícita na Constituição Federal. O chamado princípio do duplo
grau de jurisdição somente pode ser extraído implicitamente do texto constitucional, como decorrência
da estruturação hierárquica do Poder Judiciário e do sistema recursal.
Contudo, no âmbito do direito internacional dos direitos humanos, há previsão expressa a respeito desse
princípio tanto na Convenção Americana de Direitos Humanos (“direito de recorrer da sentença a juiz ou
tribunal superior” – art. 8.2, h) quanto no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (“toda pessoa
declarada culpada por um delito terá direito de recorrer da sentença condenatória e da pena a uma
instância superior, em conformidade com a lei” – art. 14.5), ambos internalizados, respectivamente, pelos
Decretos 678/92 e 592/92 com status supralegal, conforme entendimento do STF no Tema 60 de
Repercussão Geral.

Aplicação prática da regra prevista no art. 252, III, do CPP


O art. 252, III, do CPP busca evitar que o direito ao recurso seja exercido de maneira meramente formal,
como verdadeiro simulacro.
É o que ocorreria, por exemplo, na hipótese de o juiz sentenciante se promover a desembargador e
participar do julgamento da apelação interposta contra a sentença por ele proferida. Em tal situação, não
haveria propriamente duplo grau de jurisdição, pois o mesmo magistrado decidiria duas vezes sobre a
responsabilidade penal do réu.
Igualmente, o impedimento configurar-se-ia caso o juiz decretasse a prisão preventiva em primeiro grau
ou recebesse a denúncia e fosse posteriormente instado, como desembargador, em grau recursal ou
habeas corpus, a apreciar novamente a idoneidade da custódia por ele mesmo decretada ou da decisão
de recebimento da inicial acusatória. É que, nessa hipótese, já se haveria pronunciado “de fato e de direito
sobre a questão” (leia-se, a idoneidade da prisão cautelar ou da decisão de recebimento que ele mesmo
proferira).
Essas situações, porém, são bastante distintas da que ocorre no caso dos autos, em que a desembargadora
revisora se limitou a, em cognição sumária e com fundamentação sucinta, receber a denúncia contra o

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 31


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réu quando atuava em primeiro grau e depois, sentenciado o feito por magistrado totalmente diverso,
apreciou, passados mais de 10 anos, em cognição exauriente, o mérito da causa na apelação interposta
contra a sentença.

Voltando ao caso concreto


Na hipótese dos autos, a desembargadora revisora da apelação atuou, em primeiro grau, na fase de
recebimento e ratificação do recebimento da denúncia contra os acusados.
Posteriormente, a Magistrada promoveu-se ao segundo grau de jurisdição e, cerca de 10 anos depois,
compôs a turma julgadora do recurso interposto pela defesa contra a sentença condenatória.
Esse cenário não se enquadra na hipótese prevista no art. 252, III, do CPP porque o exame dos
pressupostos e dos requisitos necessários ao recebimento da denúncia é feito em cognição sumária dos
fatos, com base nos elementos informativos colhidos no inquérito policial, sem apreciação exauriente da
causa e da efetiva responsabilidade penal do indivíduo.
A manifestação do magistrado, nesse momento, está fundada em mero fumus commissi delicti (fumaça
do cometimento de um delito), consistente na existência de prova da materialidade e indícios de autoria
delitiva.
Ao simplesmente receber a denúncia contra o acusado, o julgador não está, necessariamente,
“pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão”, no caso, a responsabilidade penal do réu. Está
apenas, em juízo prelibatório, sem incursão definitiva na culpa do acusado, analisando a presença de justa
causa para o início da ação penal, sem prejuízo de que venha a absolvê-lo no final do processo, depois de
instruído o feito, como diuturnamente ocorre na praxe forense.
Entender de forma diversa implicaria a necessidade, por exemplo, de reconhecer o impedimento do órgão
recursal para julgar a apelação toda vez que houvesse apreciado anteriormente algum recurso ou remédio
constitucional interposto pela defesa ao longo do processo contra alguma decisão
interlocutória, o que também contrariaria, além do art. 71 do RISTJ, o art. 930, parágrafo único, do CPC,
in verbis: “O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso
subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo”.
A título de exemplo, na corriqueira hipótese de impetração de habeas corpus contra o decreto de prisão
preventiva do Juízo de primeiro grau ou contra a decisão de recebimento da denúncia, a câmara ou turma
do Tribunal que apreciasse o writ e, ao analisar o fumus commissi delicti, concluísse pela idoneidade do
decisum impugnado em virtude da presença de tal requisito, ficaria impedida de julgar a apelação,
porquanto, de acordo com o raciocínio pretendido pela defesa, já haveria prejulgado a causa e estaria com
a sua imparcialidade comprometida.

Em suma:
Não configura causa de impedimento a hipótese em que a desembargadora revisora se limitou a, em
cognição sumária e com fundamentação sucinta, receber a denúncia contra o réu quando atuava em
primeiro grau e depois, sentenciado o feito por magistrado totalmente diverso, apreciou, passados mais
de 10 anos, em cognição exauriente, o mérito da causa na apelação interposta contra a sentença.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 852.949-CE, Rel. Min. Laurita Vaz, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
julgado em 30/11/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 32


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PRISÃO
O fato de o réu não ter sido localizado não é motivo, por si só,
para a decretação da prisão preventiva
ODS 16

Não cabe a decretação de prisão preventiva amparada apenas na ausência de localização do


réu, sem a demonstração de outros elementos que justifiquem a necessidade da segregação
cautelar.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 170.036-MG, Rel. Min. João Batista Moreira (Desembargador convocado
do TRF da 1ª Região), julgado em 21/11/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público apresentou denúncia contra João pelo crime de tráfico de drogas.
Tentou-se a notificação pessoal do acusado no endereço que ele forneceu no interrogatório realizado no
inquérito policial, mas ele não foi encontrado no local.
Na sequência, o juiz expediu notificação por edital, mas o denunciado não compareceu nem constituiu
advogado.
Como passo seguinte, o juiz determinou a suspensão do processo e do prazo prescricional, nos termos do
art. 366 do CPP e decretou a prisão preventiva do acusado para assegurar a aplicação da lei penal:
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão
suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção
antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos
termos do disposto no art. 312.

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem
econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e de perigo gerado pelo
estado de liberdade do imputado.

A Defensoria Pública impetrou habeas corpus contra a decisão alegando, entre outros fundamentos, que
a decisão que decretou a prisão preventiva teria sido fundamentada na necessidade de aplicação da lei
penal de forma genérica, sem a demonstração da ocorrência de um ou mais pressupostos do art. 312 do
CPP.
Afirmou que é preciso diferenciar fuga de não localização. No caso em análise, embora o paciente não
tenha sido localizado para ser notificado, não há provas de que ele esteja foragido.
Concluiu, portanto, que, considerando que a acusação não demonstrou indícios de fuga e que o paciente
é primário e de bons antecedentes e sua conduta não possui gravidade concreta, estaria evidenciada a
violação ao princípio do estado de inocência e a ausência dos requisitos da prisão preventiva.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


SIM.
No caso analisado, após citação editalícia frustrada, a prisão preventiva foi decretada para garantir a
aplicação da lei penal, em razão de o agravante estar em local incerto e não sabido.
Sobre o tema, a doutrina orienta que:
“Não se pode extrair da ressalva constante do art. 366, relativamente à possibilidade de
decretação da prisão preventiva, qualquer conclusão acerca de suposta autorização para a
decretação automática da prisão preventiva, como mera decorrência da citação por edital. É dizer:
não ter sido encontrado o réu não significa, necessariamente, que ele ofereça risco à aplicação da
Lei penal (art. 312 do CPP)” (OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de; FISCHER, Douglas. Comentários ao

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 33


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Código de Processo Penal e sua jurisprudência – 15.ed., rev., atual. e ampl. – Salvador: Editora
JusPodivm, 2023, p. 1087).

A jurisprudência do STJ é no sentido de que não é possível a decretação de prisão preventiva amparada
apenas na ausência de localização do réu, sem a demonstração de outros elementos que justifiquem a
necessidade da segregação cautelar (STJ. 6ª Turma. AgRg no RHC 167.473/SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato
(Desembargador convocado do TJDFT), julgado em 6/3/2023).

Em suma:
Não cabe a decretação de prisão preventiva amparada apenas na ausência de localização do réu, sem a
demonstração de outros elementos que justifiquem a necessidade da segregação cautelar.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 170.036-MG, Rel. Min. João Batista Moreira (Desembargador convocado do
TRF da 1ª Região), julgado em 21/11/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

SENTENÇA
Não é necessária instrução específica para fixar o valor mínimo de reparação dos danos (art.
387, IV, do CPP) quando se trata de dano moral presumido (in re ipsa); por outro lado, é
indispensável que a acusação indique, na denúncia ou queixa, qual é o valor pretendido

Importante!!!

Mudança de entendimento
ODS 16

Em situações envolvendo dano moral presumido (in re ipsa), a definição de um valor mínimo
para a reparação dos danos:
(i) não exige instrução probatória específica,
(ii) mas requer um pedido expresso e
(iii) a indicação do valor pretendido pela acusação na denúncia.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.986.672-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 8/11/2023 (Info 16 – Edição
Extraordinária).

NOÇÕES GERAIS SOBRE O ART. 387, IV, DO CPP


(Se estiver sem tempo, pode passar diretamente para a explicação do julgado)
A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.
Um dos efeitos é que a condenação gera a obrigação do réu de reparar o dano causado:
Código Penal
Art. 91. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

A sentença condenatória, inclusive, constitui-se em título executivo judicial:


Código de Processo Civil
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos
previstos neste Título:
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 34


Informativo
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Assim, a vítima (ou seus sucessores), de posse da sentença que condenou o réu, após o seu trânsito em
julgado, dispõe de um título que poderá ser executado no juízo cível para cobrar o ressarcimento pelos
prejuízos sofridos em decorrência do crime.
O art. 387, IV, do CPP, prevê que o juiz, ao condenar o réu, já estabeleça na sentença um valor mínimo
que o condenado estará obrigado a pagar a título de reparação dos danos causados. Veja:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
IV - fixará valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os
prejuízos sofridos pelo ofendido; (Redação dada pela Lei nº 11.719/2008)

Desse modo, se o juiz, na própria sentença, já fixar um valor certo para a reparação dos danos, não será
necessário que a vítima ainda faça a liquidação, bastando que execute este valor caso não seja pago
voluntariamente pelo condenado.
Veja o parágrafo único do art. 63 do CPP, que explicita essa possibilidade:
Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a execução, no
juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu representante legal ou seus
herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada
pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido. (Incluído pela Lei nº 11.719/2008).

Algumas observações sobre o art. 387, IV do CPP:

1) Qual é a natureza jurídica dessa fixação do valor mínimo de reparação?


Trata-se de um efeito extrapenal genérico da condenação.

2) A vítima poderá pleitear indenização maior no juízo cível?


SIM. Na sentença penal, o juiz fixará um valor mínimo. Assim, a vítima poderá executar desde logo este
valor mínimo e pleitear um valor maior que o fixado na sentença, bastando, para isso, que prove que os
danos que sofreu foram maiores que a quantia estabelecida na sentença. Essa prova é feita em
procedimento de liquidação por artigos (procedimento cível regulado pelos arts. 475-E e 475-F do CPC).

3) Requisitos
A liquidação parcial do dano (material ou moral) na sentença condenatória, referida pelo art. 387, IV, do
CPP, exige o atendimento a três requisitos cumulativos:
I) o pedido expresso na inicial;
II) a indicação do montante pretendido; e
III) a realização de instrução específica a fim de viabilizar ao réu o exercício da ampla defesa e do
contraditório (obs: no caso de dano moral in re ipsa não é necessária a instrução).

4) Deverá haver provas dos prejuízos sofridos


O STJ já decidiu que o juiz somente poderá fixar este valor se existirem provas nos autos que demonstrem
os prejuízos sofridos pela vítima em decorrência do crime. Dessa feita, é importante que o Ministério
Público ou eventual assistente de acusação junte comprovantes dos danos causados pela infração para
que o magistrado disponha de elementos para a fixação de que trata o art. 387, IV do CPP. Vale ressaltar,
ainda, que o réu tem direito de se manifestar sobre esses documentos juntados e contraditar o valor
pleiteado como indenização. Nesse sentido:
A fixação da reparação civil mínima também não dispensa a participação do réu, sob pena de frontal
violação ao seu direito de contraditório e ampla defesa, na medida em que o autor da infração faz jus à
manifestação sobre a pretensão indenizatória, que, se procedente, pesará em seu desfavor. (...)

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 35


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STJ. 5ª Turma. REsp 1236070/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/03/2012.

Obs: essa comprovação dos prejuízos sofridos refere-se mais propriamente aos danos materiais. No caso
dos danos morais, existem certas circunstâncias que geram uma presunção de dano moral. Ex:
permanecer horas feito refém do agente. Nesta hipótese, não se exigirá prova de que a vítima sofreu um
abalo moral decorrente dessa situação porque é algo intuitivo. Basta provar o fato em si. Nesse sentido:
A aferição do dano moral, na maior parte das situações, não ensejará nenhum alargamento da instrução
criminal, porquanto tal modalidade de dano, de modo geral, dispensa a produção de prova específica
acerca da sua existência, encontrando-se in re ipsa. Isto é, não há necessidade de produção de prova
específica para apuração do grau de sofrimento, de dor e de constrangimento suportados pelo ofendido;
o que se deve provar é uma situação de fato de que seja possível extrair, a partir de um juízo baseado na
experiência comum, a ofensa à esfera anímica do indivíduo.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp n. 1.626.962/MS, Min. Sebastião Reis Junior, DJe 16/12/2016.

5) É necessário que o MP ou o ofendido, ao fazer o pedido, apontem o valor líquido e certo pretendido?
Como regra geral: SIM
A possibilidade de presunção do dano moral in re ipsa, à luz das específicas circunstâncias do caso
concreto, dispensa a obrigatoriedade de instrução específica sobre o dano. No entanto, não afasta a
exigência de formulação do pedido na denúncia, com indicação do montante pretendido.
A falta de uma indicação clara do valor mínimo necessário para a reparação do dano almejado viola o
princípio do contraditório e o próprio sistema acusatório, por na prática exigir que o juiz defina ele próprio
um valor, sem indicação das partes. Uma medida simples e eficaz consiste na inclusão do pedido na petição
inicial acusatória, juntamente com a exigência de especificar o valor pretendido desde o momento da
apresentação da denúncia ou queixa-crime. Essa abordagem reflete a tendência de aprimoramento do
contraditório, tornando imperativa a sua inclusão no âmbito da denúncia.
Assim, a fixação de valor indenizatório mínimo por danos morais, nos termos do art. 387, IV, do CPP, exige
que haja pedido expresso da acusação ou da parte ofendida, com a indicação do valor pretendido, nos
termos do art. 3º do CPP c/c o art. 292, V, do CPC/2015.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.986.672/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 8/11/2023.

Nos casos de violência doméstica: NÃO


O entendimento acima exposto não se aplica aos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher,
que continuam regidos pela tese fixada no julgamento do tema repetitivo 983/STJ:
Nos casos de violência contra a mulher praticados no âmbito doméstico e familiar, é possível a fixação de
valor mínimo indenizatório a título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou da
parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente de instrução probatória.
STJ. 3ª Seção. REsp 1643051-MS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 28/02/2018 (Recurso
Repetitivo - Tema 983) (Info 621).

Assim, nos casos de violência doméstica, basta que o MP diga: juiz, fixe a quantia mínima de que trata o
art. 387, IV, do CPP. Não é necessário que diga: Excelência, fixe R$ 20 mil a título de valor mínimo para
reparação dos danos causados pela infração.

6) O julgador penal é obrigado a sempre fixar esse valor mínimo?


NÃO. O juiz pode deixar de fixar o valor mínimo em algumas situações, como, por exemplo:
a) quando não houver prova do prejuízo;
b) se os fatos forem complexos e a apuração da indenização demandar dilação probatória, o juízo criminal
poderá deixar de fixar o valor mínimo, que deverá ser apurado em ação civil;
c) quando a vítima já tiver sido indenizada no juízo cível.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 36


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O exemplo citado nesta letra “b” foi justamente o que ocorreu no julgamento do “Mensalão”. O STF
rejeitou o pedido formulado pelo MPF, em sede de alegações finais, no sentido de que fosse fixado valor
mínimo para reparação dos danos causados pelas infrações penais, sob o argumento de que a
complexidade dos fatos e a imbricação de condutas tornaria inviável assentar o montante mínimo. Assim,
não haveria como identificar com precisão qual a quantia devida por cada réu, o que só seria possível por
meio de ação civil, com dilação probatória para esclarecimento desse ponto (Plenário. AP 470/MG, rel.
Min. Joaquim Barbosa, 17/12/2012).

7) Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por danos
morais?
SIM.

8) O art. 387, IV, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 11.719/2008, fez com que o Brasil passasse a
adotar a chamada “cumulação de instâncias” em matéria de indenização pela prática de crimes?
NÃO. A cumulação de instâncias (ou união de instâncias) em matéria de indenização pela prática de crimes
ocorre quando um mesmo juízo resolve a lide penal (julga o crime) e também já decide, de forma
exauriente, a indenização devida à vítima do delito. Conforme explicam Pacelli e Fischer, “por esse
sistema, o ajuizamento da demanda penal determina a unidade de juízo para a apreciação da matéria
cível” (Comentários ao Código de Processo Penal e Sua Jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2012, p. 769). No
Brasil, não há unidade de instâncias porque o juízo criminal irá apenas, quando for possível, definir um
valor mínimo de indenização pelos danos sofridos sem, contudo, esgotar a apreciação do tema, que ainda
poderá ser examinado pelo juízo cível para aumentar esse valor.
Assim, continuamos adotando o modelo da separação mitigada de instâncias.

9) O condenado poderá impugnar o valor fixado na forma do art. 387, IV do CPP por meio de um habeas
corpus?
NÃO. A via processual do habeas corpus não é adequada para impugnar a reparação civil fixada na
sentença penal condenatória, com base no art. 387, IV do CPP, tendo em vista que a sua imposição não
acarreta ameaça, sequer indireta ou reflexa, à liberdade de locomoção (HC 191.724/RJ, Rel. Min. Laurita
Vaz, Quinta Turma, julgado em 15/10/2013).

10) Se a punibilidade do condenado for extinta pela prescrição da pretensão punitiva, haverá extinção
também do valor de reparação imposto na sentença?
SIM. Extinta a condenação pela prescrição, extingue-se também a condenação pecuniária fixada como
reparação dos danos causados à vítima, nos termos do art. 387, IV do CPP, pois dela decorrente, ficando
ressalvada a utilização de ação cível, caso a vítima entenda que haja prejuízos a serem reparados (EDcl no
AgRg no REsp 1260305/ES, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 12/03/2013).

EXPLICAÇÃO DO JULGADO
Imagine a seguinte situação hipotética:
João praticou o crime de estelionato contra Regina.
Em razão do crime, a vítima teve seu nome incluído no SPC/SERASA por conta de uma dívida que não foi
ela que contraiu.
O Ministério Publico ofereceu denúncia contra João.
Na inicial acusatória, o Promotor de Justiça pediu para que o réu fosse condenado a pagar indenização
pelos danos morais e materiais que a vítima sofreu. Ficou consignado na denúncia:
“Requer, ainda, a fixação de valor mínimo para a reparação dos danos materiais e morais sofridos
pela vítima, na forma do art. 387, IV, do Código Penal.”

O réu foi condenado pelo crime do art. 171 do CP.


Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37
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Além disso, o magistrado fixou indenização por danos morais e materiais a ser paga pelo réu. Veja:
“Condeno João a pagar R$ 2 mil, a título de indenização por danos materiais pelos prejuízos que
ficaram comprovados nos autos.
Verifico, ainda, que a vítima, em razão da conduta do réu, teve seu nome incluído nos cadastros
restritivos de crédito, o que, segundo a jurisprudência do STJ, configura dano moral in re ipsa.
Desse modo, fixo a reparação por danos morais em R$ 5 mil.”

O réu interpôs recurso argumentando que seria indispensável:


• a realização de instrução específica para tratar sobre a quantificação do dano moral; e
• a indicação explícita do valor de indenização pleiteado pela acusação na denúncia.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


Em parte.
Em situações envolvendo dano moral presumido (in re ipsa), a definição de um valor mínimo para a
reparação dos danos (art. 387, IV, do CPP) não exige instrução probatória específica, mas, por outro lado,
é indispensável que a acusação faça:
• um pedido expresso de condenação nesse sentido; e que
• indique o valor pretendido na denúncia ou queixa-crime.

Não é necessária instrução específica porque se trata de dano moral presumido


A presunção do dano moral in re ipsa, à luz das específicas circunstâncias do caso concreto, faz com que
seja dispensada a obrigatoriedade de instrução específica sobre essa espécie de dano.

Por outro lado, mesmo sendo uma situação que envolve dano moral presumido (in re ipsa), é
indispensável que o MP, na denúncia, indique qual é o valor pretendido
O sistema legal brasileiro voltado ao processo tem recentemente buscado aprimorar a garantia
fundamental do contraditório, impondo requisitos mais rigorosos tanto aos tribunais quanto às partes
envolvidas, visando a promover um debate profissional.
Nesse contexto, mesmo nos cenários em que se presume o dano moral, a petição inicial é obrigada a
apresentar o valor pretendido.
Assim, o fato de se tratar de dano moral presumido não elimina a necessidade de o MP explicitar na
denúncia a quantia pretendida a título de indenização.
Nessa perspectiva, o dano moral in re ipsa dispensa instrução específica, mas não exclui a necessidade de
apresentação do montante pretendido na denúncia ou queixa-crime, assim como é exigido no contexto
do processo civil atual.
No contexto de litígios envolvendo danos morais decorrentes de inclusão indevida em registros de
inadimplentes, aquele que sofre o dano, ao ingressar com um pedido de reparação na esfera cível, precisa
indicar na petição inicial o montante almejado pela parte autora da ação de responsabilidade civil. Isso é
exigência do presente no texto do art. 292, V, do CPC/2015:
Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será:
(...)
V - na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, o valor pretendido;

REsp 1.837.386/SP
O art. 292, V, do CPC foi amplamente debatido, em uma causa cível, no REsp 1.837.386/SP.
Discutiu-se se, depois do art. 292, V, do CPC/2015, a Súmula 326 do STJ estaria superado. Vamos
relembrar o que diz esse enunciado que é do ano de 2006:
Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior ao
postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 38


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Aprovada em 22/05/2006, DJ 07/06/2006.

O STJ decidiu que a súmula não está superada:


O entendimento exposto na Súmula 326 do STJ permanece válido mesmo depois que o art. 292, V, do
CPC/2015 passou a exigir que o autor da demanda indique o valor pretendido a título de reparação pelos
danos morais que diz haver suportado.
O valor sugerido pela parte autora para a indenização por danos morais traduz mero indicativo referencial,
apenas servindo para que o julgador pondere a informação como mais um elemento para a árdua tarefa
de arbitrar o valor da condenação, a fim de que se afigure suficiente para reparar o prejuízo imaterial
suportado pela vítima do evento danoso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1837386-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

O propósito do art. 292, V, do CPC é permitir que o juiz considere mais um elemento ao deliberar sobre o
valor da condenação, sem que essa quantia sugerida tenha caráter obrigatório.
A partir da ratio decidendi desse julgamento, infere-se que o STJ compreende a necessidade de incluir o
valor da pretensão de indenização por dano moral na petição inicial. Contudo, é importante ressaltar que
tal inclusão não implica automaticamente estrita obrigatoriedade de o juiz fixar o valor do dano com base
no montante atribuído pela parte autora, mas sim em um indicativo que ele considera como parte das
informações relevantes ao determinar o valor da condenação.

Indicação do valor pretendido é medida que permite o contraditório


Embora não seja imperativa a prova do dano, visto ser um dano in re ipsa, é inteiramente admissível
indicar o montante que a acusação busca para a reparação da vítima ou de seus familiares.
Essa medida visa a viabilizar um contraditório apropriado por parte da defesa, já que ao ser mencionada
na petição inicial, possibilita que a defesa se manifeste, por exemplo, sobre a excessividade do pleito
indenizatório.

Juiz não pode violar o princípio da congruência nem o sistema acusatório


O juiz não deve fixar o valor da indenização mesmo sem indicação expressa da quantia, sob pena de
violação ao princípio de congruência, presente no art. 492 do CPC, entre o que é pedido e o que é decidido,
contrariando a abordagem processual de não inclusão do valor pretendido na inicial:
Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a
parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional.

Isso contraria, aliás, a própria natureza do sistema acusatório (agora expressamente declarada no art. 3º-
A do CPP), pôr na prática exigir que o juiz defina ele próprio um valor, sem indicação das partes.
Tal situação poderia levar a decisões definitivas sobre questões não abordadas no processo, privando o
réu da oportunidade de se manifestar a respeito do valor da indenização.

Utilização dos dispositivos do CPC neste caso está amparada pelo art. 3º do CPP
Observe-se que a construção dessa interpretação está respaldada pelo art. 3º do CPP, o qual, claramente,
estabelece a viabilidade da utilização suplementar do CPC:
Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o
suplemento dos princípios gerais de direito.

Tal dispositivo dispõe que a lei processual penal admite interpretação extensiva e aplicação analógica,
bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 39


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Dessa forma, em situações envolvendo dano moral presumido, a definição de um valor mínimo para a
reparação dos danos, embora não exija instrução probatória específica, requer pedido expresso e
indicação do valor pretendido pela acusação na denúncia.

Em suma:
Em situações envolvendo dano moral presumido (in re ipsa), a definição de um valor mínimo para a
reparação dos danos:
(i) não exige instrução probatória específica,
(ii) mas requer um pedido expresso e
(iii) a indicação do valor pretendido pela acusação na denúncia.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.986.672-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 8/11/2023 (Info 16 – Edição
Extraordinária).

Obs: o entendimento acima firmado não se aplica aos casos de violência doméstica e familiar contra a
mulher, que continuam regidos pela tese fixada no julgamento do tema repetitivo 983/STJ.

RECURSOS
Juiz poderia ter reduzido a pena em até 2/3, mas optou por reduzir no patamar mínimo (1/3); o
réu recorre alegando falta de fundamentação para a escolha do percentual; mesmo sendo
recurso da defesa, o TJ pode manter o percentual de 1/3 acrescentando novos argumentos
ODS 16

Ainda que se trate de recurso exclusivo da defesa, o efeito devolutivo da apelação autoriza o
Tribunal de origem conhecer e rever os fundamentos contidos na sentença condenatória,
podendo valer-se de novos argumentos, desde que não agrave a situação do réu.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 829.263-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/8/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


João foi condenado pelo crime de roubo.
Na sentença, o juiz reconheceu que o réu era semi-imputável, ou seja, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, não era inteiramente capaz de entender
o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Diante disso, o magistrado condenou o réu, mas aplicando a redução da semi-imputabilidade prevista no
art. 26, parágrafo único, do CP:
Art. 26 (...)
Redução de pena
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

O magistrado, contudo, sem fundamentar de forma específica ou detalhada, aplicou o menor percentual
possível de redução, ou seja, apenas 1/3.

Apelação
Inconformado, o condenado interpôs apelação alegando que a sentença não apresentou nenhum
fundamento para ter aplicado o menor patamar de redução de 1/3.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 40


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Sustentou que a redução deveria ter sido de 2/3.


O MP, por sua vez, não recorreu.

Acórdão do Tribunal de Justiça


O Tribunal de Justiça desproveu o recurso e afirmou que a redução deveria ser realmente de 1/3.
Para fundamentar seu voto e corroborar o percentual de 1/3, o Desembargador Relator trouxe novos
argumentos que não estavam previstos na sentença.
Vale ressaltar, contudo, que a pena imposta permaneceu a mesma, não tendo sido piorada a situação do réu.

Habeas corpus
A defesa impetrou habeas corpus dirigido ao STJ alegando, em síntese, que não caberia ao Tribunal de
origem completar a fundamentação da sentença, uma vez que no recurso exclusivo da defesa, o efeito
devolutivo não poderia ser utilizado para prejudicar o réu que, na sentença, teve uma fração redutora
mínima sem fundamentação específica.

O STJ concordou com a defesa?


NÃO.
Ainda que se trate de recurso exclusivo da defesa, o efeito devolutivo da apelação autoriza sim o Tribunal
de origem (TJ ou TRF) a conhecer e rever os fundamentos contidos na sentença condenatória.
O Tribunal de origem pode, inclusive, acrescentar novos argumentos, desde que não agrave a situação do
réu. Nesse sentido:
O efeito devolutivo da apelação autoriza o Tribunal de origem conhecer e rever os fundamentos contidos na
sentença condenatória, podendo valer-se de novos argumentos, desde que não agrave a situação do réu.
Uma vez que o Tribunal a quo, conquanto tenha suplementado a fundamentação quando da fixação do
regime mais gravoso em relação à pena imposta, acabou por fixar regime mais brando do que o imposto
na sentença, não há falar em “bis in idem”.
STJ. 6ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1.846.870/SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/5/2020.

Essa é também a posição do STF:


Não viola o princípio da proibição da reformatio in pejus a reavaliação das circunstâncias judiciais em recurso
de apelação penal, no âmbito do efeito devolutivo, desde que essa não incorra em aumento de pena.
Não há falar em reformatio in pejus se os motivos expendidos pelo julgador em sede de apelação exclusiva
da defesa não representaram advento de situação mais gravosa para o réu.
STF. 1ª Turma. HC 126457/PA, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 6/11/2018 (Info 922).

A sentença deve ser lida como um todo, sendo que, para se verificar a motivação do ato jurisdicional, não
basta uma leitura da parte dispositiva, ou do fragmento referente à fixação da pena (STF. 2ª Turma. RHC
115.486/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/3/2013).
Com efeito, a dosimetria, como um elemento da construção argumentativa, calcado nos fatos imputados
ao réu, demanda que a sentença seja lida em sua integralidade, de sorte que o trecho relativo à aplicação
da pena deve ser compreendido em conjunto com as circunstâncias destacadas pelo magistrado a quo
quando da análise da configuração do delito.

Em suma:
Ainda que se trate de recurso exclusivo da defesa, o efeito devolutivo da apelação autoriza o Tribunal
de origem conhecer e rever os fundamentos contidos na sentença condenatória, podendo valer-se de
novos argumentos, desde que não agrave a situação do réu.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 829.263-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/8/2023 (Info 16 –
Edição Extraordinária).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 41


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RECURSOS
O pedido de reconsideração não interrompe nem suspende
o prazo para interposição do recurso cabível
ODS 16

O pedido de reconsideração, por não ter natureza recursal, não interrompe nem suspende o
prazo para interposição do recurso cabível.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 843.142-SP, Rel. Min. João Batista Moreira (Desembargador convocado do
TRF1), julgado em 19/10/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Tribunal de Justiça decretou a prisão preventiva de João.
A defesa impetrou, no STJ, habeas corpus contra essa decisão.
O Ministro Relator, por meio de decisão monocrática, indeferiu liminarmente o habeas corpus.
O impetrante formulou pedido de reconsideração ao Ministro.
O Relator, por meio de outra decisão monocrática, indeferiu o pedido de reconsideração.
Diante disso, o impetrante interpôs agravo regimental contra a decisão do Ministro.

Esse agravo regimental teve êxito?


NÃO. A 5ª Turma do STJ não conheceu do agravo regimental:
O pedido de reconsideração, por não ter natureza recursal, não interrompe nem suspende o prazo para
interposição do recurso cabível.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 843.142-SP, Rel. Min. João Batista Moreira (Desembargador convocado do
TRF1), julgado em 19/10/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Esse é também o entendimento do STF:


Os pedidos de reconsideração carecem de qualquer respaldo no regramento processual vigente. Eles não
constituem recursos, em sentido estrito, nem mesmo meios de impugnação atípicos. Por isso, não
suspendem prazos e tampouco impedem a preclusão.
STF. 2ª Turma. Rcl 43007 AgR/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 9/2/2021 (Info 1005).

Vale ressaltar, contudo, que existem alguns julgados do STJ recebendo o pedido de reconsideração como
agravo regimental:
Pedido de reconsideração pode ser recebido como agravo regimental em observância aos princípios da
economia processual e da fungibilidade dos recursos, desde que apresentado no prazo legal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 868.516/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/11/2023.

Atento aos princípios da fungibilidade, da instrumentalidade das formas, da ampla defesa e da efetividade
do processo, é possível receber o pedido de reconsideração como agravo regimental, tendo em vista a
apresentação da irresignação dentro do prazo legal previsto para a interposição do recurso cabível.
STJ. 6ª Turma. RCD no HC 853.883/PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/12/2023.

Inexiste previsão legal, ou no Regimento Interno desta Corte Superior, de pedido de reconsideração contra
decisão monocrática de Relator. Mas, pela aplicação do princípio da fungibilidade, é possível o seu
recebimento como agravo regimental, pois observado o prazo recursal e a forma de interposição do
recurso adequado.
STJ. 3ª Seção. RCD na Rcl 46.531/SP, Rel. Min. Teodoro Silva Santos, julgado em 13/12/2023.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 42


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HABEAS CORPUS
É inadmissível a impetração de habeas corpus no STJ para impugnar decisão monocrática do
Desembargador do TRF que deferiu a intervenção de terceiros em habeas corpus que havia sido
impetrado pela defesa no TRF
ODS 16

Situação hipotética: O Ministério Público ofereceu denúncia contra João pelo crime de
corrupção ativa. A denúncia foi recebida pelo Juiz Federal. Contra a decisão que recebe a
denúncia não cabe recurso, razão pela qual a defesa impetrou habeas corpus para o TRF. Antes
do julgamento do mérito, o Desembargador Relator, em decisão monocrática, autorizou a
habilitação de Pedro no habeas corpus, na qualidade de terceiro interessado, sob a alegação
de que ele também seria suposta vítima dos fatos narrados na denúncia. Contra a decisão que
deferiu a habilitação de terceiro interessado, a defesa de João impetrou habeas corpus ao STJ
argumentando que não é possível intervenção de terceiros em habeas corpus. O STJ admitiu
esse habeas corpus impetrado para impugnar a decisão monocrática do Desembargador
Federal? Não.
O STJ disse o seguinte: de fato, não cabe intervenção de terceiros em habeas corpus
relacionado com ação penal pública. Logo, o Desembargador não deveria ter autorizado a
habilitação de Pedro. Contudo, a decisão que defere a habilitação de terceiro em habeas
corpus, mesmo que esteja equivocada, em nada afeta a liberdade de locomoção do réu. Desse
modo, é inadmissível a impetração de um novo habeas corpus para impugná-la.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 849.502-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 19/10/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

Imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público ofereceu denúncia contra João pelo crime de corrupção ativa.
A denúncia foi recebida pelo Juiz Federal.
Contra a decisão que recebe a denúncia não cabe recurso, razão pela qual a defesa impetrou habeas
corpus para o Tribunal Regional Federal (TRF).
Antes do julgamento do mérito, o Desembargador Relator, em decisão monocrática, autorizou a
habilitação de Pedro no habeas corpus, na qualidade de terceiro interessado, sob a alegação de que ele
também seria suposta vítima dos fatos narrados na denúncia.
Contra a decisão que deferiu a habilitação de terceiro interessado, a defesa de João impetrou habeas
corpus ao STJ argumentando que não é possível intervenção de terceiros em habeas corpus.

O STJ admitiu esse habeas corpus impetrado para impugnar a decisão monocrática do Desembargador
Federal?
NÃO.
O STJ disse o seguinte:
- de fato, não cabe intervenção de terceiros em habeas corpus relacionado com ação penal pública;
- logo, o Desembargador não deveria ter autorizado a habilitação de Pedro;
- contudo, a decisão que defere a habilitação de terceiro em habeas corpus, mesmo que esteja
equivocada, em nada afeta a liberdade de locomoção do réu;
- desse modo, é inadmissível a impetração de um novo habeas corpus para impugná-la, considerando que
não está configurada a hipótese do art. 647 do CPP e art. 5º, LXVIII da CF/88:
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 43


Informativo
comentado

Art. 5º (...)
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer
violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

Vale ressaltar, ainda, um outro motivo para não se conhecer do writ. O habeas corpus foi impetrado contra
decisão monocrática do Desembargador relator no TRF, sem a prévia apresentação do tema ao colegiado
daquele Tribunal, o que implica supressão de instância e reforça a conclusão quanto à inadmissibilidade
do HC.
Em síntese, há uma dupla razão de inadmissibilidade do habeas corpus:
1) primeiramente, pela ausência de conexão mínima com a liberdade de locomoção; e
2) em segundo lugar pela supressão de instância.

Esse dado é relevante porque todas as partes no processo penal precisam pautar sua atuação na boa-fé
objetiva ― se não por exigência lógica do próprio sistema processual, pela incidência do art. 5º do CPC,
conjugado com a regra interpretativa do art. 3º do CPP. É essa boa-fé que impede o comportamento
contraditório da parte que, num primeiro momento, viola a norma jurídica para, posteriormente, exigir
seu cumprimento, sem desfazer a violação anterior.

Em suma:
É inadmissível a impetração de um novo habeas corpus para impugnar decisão monocrática que defere
a intervenção de terceiros em habeas corpus impetrado pela defesa em segunda instância.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 849.502-SP, Rel. Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 19/10/2023 (Info 16 – Edição Extraordinária).

EXECUÇÃO PENAL
É possível fixar condição especial ao regime aberto de submissão
do condenado à frequência de tratamento antidrogadição
ODS 16

A submissão do condenado semi-imputavel a tratamento antidrogadição pelo magistrado


sentenciante, como condição especial para o regime aberto, não ofende o sistema vicariante,
pois não se confunde com medida assecuratória de tratamento ambulatorial preconizado no
art. 98 do Código Penal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.026.477-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/11/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Medida de segurança
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
a) pena;
b) medida de segurança.

“Medida de segurança é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente preventiva, e de


caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-imputáveis portadores de periculosidade, com
o escopo de evitar a prática de futuras infrações penais.” (MASSON, Cleber. Direito Penal. 13ª ed., São
Paulo: Gen/Método, 2020, p. 1.285).

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 44


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Assim, a medida de segurança é aplicável para o indivíduo que praticou uma conduta típica e ilícita, mas,
no tempo do fato, ele era totalmente incapaz (inimputável) ou parcialmente capaz (semi-imputável) de
entender o caráter ilícito de sua conduta e de se autodeterminar segundo tal entendimento. Em razão
disso, em vez de receber uma pena, ele estará sujeito a receber uma medida de segurança (AVENA,
Norberto. Execução penal esquematizado. São Paulo: Método, p. 363).

Qual é o procedimento necessário para se constatar a necessidade ou não de aplicação da medida de


segurança?
Se houver séria dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz determina a instauração de um
incidente de insanidade mental.
O réu será submetido a um exame médico-legal que irá diagnosticar se ele, ao tempo da ação ou da
omissão criminosa, tinha capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo
com esse entendimento.

Quais as conclusões que o juiz pode chegar com o incidente de insanidade?


Após o incidente e com base nas conclusões do médico perito, o juiz poderá concluir que o réu é...
• imputável: nesse caso, ele será julgado normalmente e poderá ser condenado a uma pena;
• inimputável: se ficar provado que o agente é inimputável, ou seja, que por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado ele era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele
ficará isento de pena (art. 26 do CP) e poderá ou não receber uma medida de segurança, a depender de
existirem ou não provas de que praticou fato típico e ilícito;
• semi-imputável: se ficar provado que, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o agente não era inteiramente capaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ele poderá:
1) ser condenado, mas sua pena será reduzida de 1/3 a 2/3, nos termos do parágrafo único do art. 26 do
CP; ou
2) receber medida de segurança, se ficar comprovado que necessita de especial tratamento curativo (art.
98 do CP).

Espécies de medida de segurança


Existem duas espécies de medida de segurança (art. 96 do CP):

DETENTIVA (INTERNAÇÃO) RESTRITIVA (TRATAMENTO AMBULATORIAL)


Consiste na internação do agente em um hospital Consiste na determinação de que o agente se
de custódia e tratamento psiquiátrico. sujeite a tratamento ambulatorial.
Obs.: se não houver hospital de custódia, a
internação deverá ocorrer em outro
estabelecimento adequado.
É chamada de detentiva porque representa uma O agente permanece livre, mas tem uma restrição
forma de privação da liberdade do agente. em seu direito, qual seja, a obrigação de se
submeter a tratamento ambulatorial.

Sistemas do duplo binário e vicariante


No sistema do duplo binário, o réu, após cumprir a pena pela prática de um crime, era submetido a uma
perícia e, se ainda fosse considerado perigoso, deveria cumprir medida de segurança de internação. Por
isso, era chamado de “duplo trilho” ou “dupla via”, considerando que o réu semi-imputável perigoso
cumpria pena e mais a medida de segurança.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 45


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O sistema do duplo binário foi extinto com a Lei nº 7.209/84, que alterou a Parte Geral do Código Penal,
dando lugar ao sistema vicariante (ou unitário). Por meio desse sistema, o juiz, ao constatar que o réu é
semi-imputável perigoso irá decidir se aplica pena (com causa de diminuição) ou se determina que ele
cumpra medida de segurança. Trata-se de uma opção: ou uma ou outra. É o que está previsto no art. 98
do CP:
Substituição da pena por medida de segurança para o semi-imputável
Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação,
ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo
anterior e respectivos §§ 1º a 4º.

Feita essa revisão, imagine agora a seguinte situação hipotética:


João praticou o crime de roubo.
Na sentença, o juiz reconheceu que o réu era semi-imputável, ou seja, em virtude de perturbação de saúde
mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado, João não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Diante disso, o juiz tinha duas opções:
1) condenar o réu, mas com a redução da pena de 1/3 a 2/3, nos termos do art. 26, parágrafo único, do CP:
Inimputáveis
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto
ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Redução de pena
Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de
perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse
entendimento.

2) aplicar medida de segurança, se ficasse comprovado que ele necessitaria de especial tratamento
curativo (art. 98 do CP):
Substituição da pena por medida de segurança para o semi-imputável
Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação,
ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo
anterior e respectivos §§ 1º a 4º.

O juiz escolheu a primeira opção, ou seja, condenou o réu pelo roubo, mas reduziu a pena.
O magistrado fixou o regime aberto.
A fim de disciplinar o cumprimento da pena no regime aberto, o juiz estabeleceu uma série de condições,
dentre elas, a obrigação de João frequentar curso de drogadição pelo período de um ano, a ser fiscalizada
na execução penal.
A defesa interpôs recurso de apelação requerendo o afastamento da obrigação de o réu se submeter a
tratamento antidrogadição. Argumentou que:
1) o juízo sentenciante não teria competência para determinar que o réu frequente cursos ou se submeta
a tratamento médico, considerando que essa é uma atribuição do Juízo da execução penal;
2) essa determinação representou ofensa ao sistema vicariante, considerando que, na prática, o réu foi
condenado a duas penas, quais sejam:
• a reprimenda corporal (pena de reclusão); e

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 46


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• o tratamento contra dependência química.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


NÃO.

Juízo sentenciante pode fixar condições do regime aberto


O magistrado pode estipular como condição especial para o cumprimento de pena em regime aberto a
frequência em tratamento antidrogadição, a fim de minimizar as consequências do uso de entorpecentes,
notadamente a prática de novos crimes para financiar a aquisição de droga.
Neste ponto, deve ser realizada uma interpretação sistemática dos dispositivos da LEP e do CP.
O art. 110 da LEP prevê:
Art. 110. O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o condenado iniciará o cumprimento
da pena privativa de liberdade, observado o disposto no artigo 33 e seus parágrafos do Código
Penal.

O art. 33 do CP trata dos regimes de cumprimento de pena. No art. 36 do CP e no art. 115 da LEP estão
previstas as regras do regime aberto. Isso leva à conclusão de que o estabelecimento de condições
especiais para a concessão do regime aberto pode ser realizado também pelo juiz sentenciante.

2) Não houve ofensa ao sistema vincariante


Embora na hipótese tenha sido reconhecida a semimputabilidade com redução de pena (art. 26, parágrafo
único, do CP), a condição especial de frequência a tratamento antidrogas cumulada com a pena privativa
de liberdade não ofendeu ao sistema vicariante. Isso porque o tratamento antidrogadição não se confunde
com a medida de segurança de tratamento ambulatorial.

Em suma:
A submissão do condenado semi-imputavel a tratamento antidrogadição pelo magistrado sentenciante,
como condição especial para o regime aberto, não ofende o sistema vicariante, pois não se confunde
com medida assecuratória de tratamento ambulatorial preconizado no art. 98 do Código Penal.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.026.477-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 27/11/2023 (Info 16 –
Edição Extraordinária).

Uma última pergunta: a imposição de tratamento antidrogadição violou o entendimento previsto na


Súmula 493 do STJ?
NÃO. A Súmula 493 do STJ afirma que “é inadmissível a fixação de pena substitutiva (art. 44 do CP) como
condição especial ao regime aberto”.
O STJ entende que “a imposição de submissão do paciente, em cumprimento de pena no regime aberto,
a tratamento psiquiátrico e psicoterápico não afronta o enunciado da Súmula n. 493 do STJ, pois a Terceira
Seção desta Corte consolidou o entendimento de que é lícito ao juiz estabelecer condições especiais para
a concessão do regime aberto, em complementação àquelas previstas no art. 115 da LEP, desde que tais
condições não estejam classificadas como pena substitutiva (art. 44 do CP)” (STJ. 5ª Turma. AgRg no HC
422.783/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 27/2/2018).

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EXECUÇÃO PENAL (INDULTO)


Não é possível a utilização da soma das penas unificadas para fins de obstar
a concessão do indulto para crimes praticados em contexto diverso
ODS 16

Para fins do indulto natalino previsto no Decreto Presidencial nº 11.302/2022, apenas no caso
de crime impeditivo cometido em concurso com crime não impeditivo se exige o cumprimento
integral da reprimenda dos delitos da primeira espécie.
STJ. 3ª Seção. AgRg no HC 856.053-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 8/11/2023 (Info
16 – Edição Extraordinária).

Indulto natalino
É bastante comum o Presidente da República editar um Decreto, no final de todos os anos, concedendo
indulto. Esse Decreto é conhecido como “indulto natalino”.
No Decreto de indulto já constam todas as condições para a concessão do benefício. Caso o apenado
atenda a esses requisitos, o juiz das execuções deve reconhecer o direito, extinguindo a pena pelo indulto.

Indulto natalino de 2022


O Decreto nº 11.302, de 22 de dezembro de 2022 concedeu indulto natalino.
João estava cumprindo pena por ter sido condenado pelos seguintes crimes:
• receptação (art. 180, § 3º, do Código Penal), cuja pena máxima é de 1 ano de detenção; e
• tráfico de drogas (art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006), cuja pena máxima é de 15 anos de reclusão.

Os crimes foram cometidos em contextos diversos, ou seja, não houve concurso material ou formal.
A defesa formulou pedido de indulto relativo à pena do crime de receptação, com base no art. 5º do
Decreto nº 11.302/2022:
Art. 5º Será concedido indulto natalino às pessoas condenadas por crime cuja pena privativa de
liberdade máxima em abstrato não seja superior a cinco anos.
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, na hipótese de concurso de crimes, será
considerada, individualmente, a pena privativa de liberdade máxima em abstrato relativa a cada
infração penal.

O pedido de indulto foi indeferido, sob o argumento de que o apenado não havia cumprido integralmente
a pena do crime de tráfico de drogas (crime impeditivo). O magistrado invocou o parágrafo único do art.
11 do Decreto:
Art. 11 (...)
Parágrafo único. Não será concedido indulto natalino correspondente a crime não impeditivo
enquanto a pessoa condenada não cumprir a pena pelo crime impeditivo do benefício, na hipótese
de haver concurso com os crimes a que se refere o art. 7º, ressalvada a concessão fundamentada
no inciso III do caput do art. 1º.

A defesa recorreu sustentando o preenchimento dos requisitos para a concessão da benesse, visto que o
parágrafo único do art. 11 do mencionado decreto é claro ao fazer menção a “concurso de crimes” e não
a unificação/soma de penas. Como a receptação não foi praticada em concurso com o tráfico de drogas,
não haveria que se falar em impedimento.
O art. 5º concede indulto aos crimes cuja pena máxima (considerada individualmente para cada delito)
não ultrapasse 5 anos. Assim, o único critério para a concessão do indulto é a pena máxima abstratamente
cominada.

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 48


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A determinação de unificação e soma de penas não se aplica ao indulto do art. 5º. O indulto do art. 5º
baseia-se exclusivamente na pena abstratamente cominada separadamente para cada delito.

O STJ concordou com os argumentos da defesa?


SIM.
Não é possível utilizar a soma das penas unificadas para fins de obstar a concessão do indulto, nos termos
do art. 11 do Decreto Presidencial nº 11.302/2022, devendo, para os fins estipulados no art. 5º do referido
ato normativo, ser consideradas individualmente as penas máximas em abstrato.
No caso, o paciente possui condenação por crime impeditivo e uma por crime não impeditivo, em contexto
diverso. Logo, deve a incidência do referido indulto ser analisada para cada delito.
Apenas no caso de crime impeditivo cometido em concurso com crime não impeditivo que se exige o
cumprimento integral da reprimenda dos delitos da primeira espécie. Em se tratando de crimes cometidos
em contextos diversos, fora das hipóteses de concurso (material ou formal), não há de se exigir o
cumprimento integral da pena pelos crimes impeditivos.

Em suma:
Para fins do indulto natalino previsto no Decreto Presidencial n. 11.302/2022, apenas no caso de crime
impeditivo cometido em concurso com crime não impeditivo se exige o cumprimento integral da
reprimenda dos delitos da primeira espécie.
STJ. 3ª Seção. AgRg no HC 856.053-SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 8/11/2023 (Info 16 –
Edição Extraordinária).

EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:


1) O mero compartilhamento de postagem consistente em charge elaborada por cartunista, sem
agregar à conduta objetiva a intenção de ofender, injuriar ou vilipendiar a honra da suposta vítima
não tem o condão de qualificar a prática de infração penal. ( )
2) Em nenhuma hipótese o STJ admite o distinguishing da Súmula 593-STJ (O crime de estupro de
vulnerável se configura com a conjunção carnal ou prática de ato libidinoso com menor de 14 anos,
sendo irrelevante eventual consentimento da vítima para a prática do ato, sua experiência sexual
anterior ou existência de relacionamento amoroso com o agente). ( )
3) Não é possível a cumulação das causas de aumento de pena da continuidade delitiva e do concurso
formal, quando, em delitos fiscais, o sujeito ativo, mediante uma conduta, sonega diversos tributos,
reiterando a conduta ao longo de certo período. ( )
4) A condição de mula não é argumento, por si só, para afastar o privilégio (tráfico privilegiado). ( )
5) A extinção da punibilidade do crime antecedente não implica na atipicidade do delito de organização
criminosa, visto que este é considerado um delito autônomo, independente de persecução criminal
ou condenação relacionada às infrações penais a ele vinculadas. ( )
6) É obrigatório que o Ministério Público faça a notificação do investigado acerca da proposta do acordo
de não persecução penal. ( )
7) Reconhecida a habitualidade delitiva, fica descaracterizado o crime continuado, impedindo a
celebração de acordo de não persecução penal. ( )
8) Sendo o crime investigado da competência do Juízo Militar para processo e julgamento, cabe a ele
decidir sobre a suspensão do inquérito penal militar, cabendo à Justiça Federal tão somente o
controle da legalidade da sindicância administrativa no âmbito disciplinar. ( )

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 49


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9) Mesmo na colisão de interesses, não é válida a captação ambiental clandestina sempre que o direito
a ser protegido tiver valor superior à privacidade e a imagem do autor do crime, utilizando-se da
legítima defesa probatória, a fim de se garantir a licitude da prova. ( )
10) A Receita Federal não pode, a pretexto de examinar incidentes tributários e aduaneiros, investigar
delitos sem repercussão direta na relação jurídica tributária - que se afastem de sua atribuição de
órgão fiscal -, sendo nulos os elementos de prova por ela produzidos. ( )
11) Configura causa de impedimento a hipótese em que a desembargadora revisora se limitou a, em
cognição sumária e com fundamentação sucinta, receber a denúncia contra o réu quando atuava em
primeiro grau e depois, sentenciado o feito por magistrado totalmente diverso, apreciou, mesmo
passados mais de 10 anos, em cognição exauriente, o mérito da causa na apelação interposta contra
a sentença. ( )
12) O fato de o réu não ter sido localizado é motivo, por si só, para a decretação da prisão preventiva. ( )
13) Não é necessária instrução específica para fixar o valor mínimo de reparação dos danos quando se
trata de dano moral presumido (in re ipsa). Porém, é indispensável que a acusação indique, na
denúncia ou queixa, qual é o valor pretendido. ( )
14) Ainda que se trate de recurso exclusivo da defesa, o efeito devolutivo da apelação autoriza o Tribunal
de origem conhecer e rever os fundamentos contidos na sentença condenatória, podendo valer-se
de novos argumentos, desde que não agrave a situação do réu. ( )
15) O pedido de reconsideração interrompe nem suspende o prazo para interposição do recurso cabível. ( )
16) É inadmissível a impetração de habeas corpus no STJ para impugnar decisão monocrática do
Desembargador do TRF que deferiu a intervenção de terceiros em habeas corpus que havia sido
impetrado pela defesa no TRF. ( )
17) É possível fixar condição especial ao regime aberto de submissão do condenado à frequência de
tratamento antidrogadição. ( )
18) É possível a utilização da soma das penas unificadas para fins de obstar a concessão do indulto para
crimes praticados em contexto diverso. ( )
Gabarito:
1. C 2. E 3. E 4. C 5. C 6. E 7. C 8. C 9. E 10. C
11. E 12. E 13. C 14. C 15. E 16. C 17. C 18. E

Informativo 16-STJ (30/01/2024) – Márcio André Lopes Cavalcante | 50

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