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6 dezembro 2014
Crédito, Thinkstock
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Tablets ganham espaço e força nas escolas, mas eficiência da tecnologia passa necessariamente
por um bom professor
Como transformar os investimentos (muitas vezes altos) em tecnologia em ideias que de fato
melhorem o desempenho e aprendizado dos alunos?
Não há consenso sobre o assunto, e muitos estudos ainda não encontraram correlações diretas
entre uso da tecnologia e melhor aprendizado.
"Em vez de pensar 'temos esta tecnologia e este aplicativo, como podemos usá-lo para a
educação', o ideal é refletir ao contrário: perguntar aos docentes que tipo de problemas e
dificuldades eles enfrentam e pensar em como a tecnologia pode ajudá-los", diz Francesc
Pedró, representante da Unesco para educação, à BBC Brasil.
Leia mais: Educação alavanca IDH nas grandes cidades, mas qualidade é questionada
Nesse contexto, o professor deixa de ser apenas transmissor de conhecimento, mas sim um
mediador – orientando alunos com instruções, feedback, contexto, exemplos e perguntas-chave
dentro de cada projeto e identificando qual o dispositivo tecnológico é melhor para cada
momento (mesmo que sejam papel e lápis).
Estudos indicam, também, que não adianta muito usar a tecnologia apenas por usar: projetos
que não tenham objetivos claros e integração com o currículo escolar vão agregar pouco ao
aprendizado.
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Um estudo com 125 estudantes das 7ª e 8ª séries na Colômbia concluiu que recursos
tecnológicos nesse tipo de atividade aumentou em 81% a capacidade dos estudantes em
interpretar e utilizar gráficos.
O documento da Unesco vê o tablet individual – seja comprado pelos pais ou emprestado pelo
poder público – como uma tendência de médio prazo na educação.
Pedró, da Unesco, afirma que desktops e laptops continuarão sendo úteis para trabalhos escritos
e para equipar alunos carentes que não tenham acesso à tecnologia.
Mas existe uma tendência de governos aproveitarem mais os equipamentos móveis que já são
possuídos pelos próprios estudantes (smartphones e tablets) e focarem seus investimentos em
aplicativos e redes potentes.
"Tudo indica que de nada adianta continuar promovendo um uso da internet sem estrutura e
orientação adequadas, que não evita que a maioria dos estudantes confie na primeira
informação que encontre para sua tarefa, assim como não os ajuda a evitar as distrações da
própria rede", diz o documento da Unesco.
Mas a internet tem muito mais potencial além dos sites de buscas e redes sociais.
Um projeto chamado GLOBE (www.globe.gov), por exemplo, conecta mais de 4 mil escolas
do mundo com cientistas. Nele, os alunos coletam dados ambientais de suas regiões e os enviam
aos especialistas, que ajudam a analisá-los e a sugerir soluções para problemas do meio
ambiente local.
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E, no que diz respeito às buscas tradicionais, cabe às escolas ensinar os alunos a pesquisar com
mais eficiência, filtrar e comparar dados, em meio à crescente imensidão de informações na
internet.
Nos EUA, estudantes dos anos finais do ensino fundamental criaram seu próprio anuário
escolar digital e um tour virtual de um museu local, para mostrá-lo aos estudantes mais novos
da mesma escola. O resultado foram alunos mais comprometidos com os estudos.
Em uma escola da área rural da Colômbia, no ano passado, alunos receberam tablets para
desenvolver um projeto de proteção da bacia hídrica local e analisar amostras de solo. Com a
ajuda de apps educacionais, usaram a oportunidade para aprender os elementos da tabela
periódica.
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Segundo o documento da Unesco, iniciativas assim proporcionam "oportunidades práticas para
exercitar e aplicar competências", nas quais os estudantes "ganham motivação e se envolvem
muito mais no processo de aprendizado".
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Games (acima, do da Clickideia) podem ajudar alunos ao dialogar com a realidade e a história
locais
Ante novas formas de oferecer e produzir conteúdo, é preciso pensar também em novas formas
de avaliar sua produção, dizem especialistas.
"O melhor é buscar tarefas que estimulem a relação com o conteúdo e a reflexão – dar desafios
maiores a alunos que estão armados de mais tecnologia", diz Pedró.
Ele diz ainda que as escolas não podem esquecer de sua responsabilidade de desenvolver e
avaliar as habilidades digitais dos alunos. "Apesar de usarem seus celulares o dia inteiro, eles
usam para as tarefas que lhes interessam, não necessariamente para o seu desenvolvimento
intelectual. Países como o Chile já fazem avaliações do grau de competência digital dos
estudantes."
"Jogos são importantes ao dialogar com a realidade e a história locais", diz à BBC Brasil
Manoel Dantas, diretor-geral da Clickideia, provedora de conteúdo educacional para escolas
públicas e privadas, com sede em Campinas (SP).
A empresa desenvolveu, focando em alunos do Rio Grande do Norte, um jogo interativo que
aborda um massacre ocorrido durante a invasão holandesa no Estado, em 1645.
Customização e personalização
Algumas plataformas online permitem que o conteúdo seja personalizado pela região
(atividades ligadas à história e ao costume locais, por exemplo) e até mesmo a cada aluno, de
acordo com seus pontos fortes e fracos.
É o ensino adaptativo, "que desenha um perfil do aluno e identifica a forma como ele melhor
aprende", explica Dantas, do Clickideia.
Outra plataforma que usa o método é o software brasileiro Geekie, que ao interagir com o
estudante, percebe suas aptidões e dificuldades e traça um plano de estudos adaptado a elas.
Planejamento é chave
O uso da tecnologia será mais eficaz se for não aleatório, mas planejado, com objetivos claros
de qual impacto pode ter no ensino.