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ALÉM DA NOITE

(Cruz e Souza - Pássaros Humanos)

Além da noite do sepulcro aberto,


O horizonte mais fúlgido cintila...
Revelando outra luz, doce e tranqüila,
Qual sublime alvorada que vem perto!

Extasiado, o espírito liberto,


Abandonando o ergástulo de argila,
Corta o céu pleno e claro em que se asila,
Longe das sombras do carreiro incerto.

Vós que subis por ásperos caminhos,


Sob cruzes de lágrimas e espinhos,
Acalentai-as para compreendê-las!...

Atravessai a dor ríspida e santa,


Que outra vida mais alta se levanta
No luminoso império das estrelas

AJUDA SEM DESCANSAR


(Casimiro Cunha - Pássaros Humanos)

Indaga, estuda, observa...


Mas, se queres avançar
Para a frente e para os cimos,
Ajuda sem descansar.

Se alguém te feriu, esquece...


Foge à revolta e ao pesar;
Vencendo as trevas da senda,
Ajuda sem descansar.

Problemas dilacerantes
Se intentas solucionar,
Não percas tempo em conflito,
Ajuda sem descansar.

Amarguras, labirintos,
Provações por destrinçar?
Não discutas, nem te irrites,
Ajuda sem descansar.

Se a calúnia te visita,
Não vale desesperar,
Para esquecer-lhe os detritos,
Ajuda sem descansar.
Não te queixes de ninguém,
Não desdenhes suportar...
Hoje, aqui, agora e sempre,
Ajuda sem descansar.

Labéus e chagas alheias,


Não busques enumerar,
Se a paz te inspira o roteiro,
Ajuda sem descansar.

Se aspiras à Grande Luz


Nas bênçãos do Eterno Lar,
Não te detenhas na sombra...
Ajuda sem descansar.

Se o mal te golpeia, olvida...


Faze o bem, mesmo a chorar.
Quem semeia com Jesus
Ajuda sem descansar.

Na alegria ou na tristeza,
Não deixes de recordar
Que tudo pertence a Deus,
E ajuda sem descansar.

RUMO CERTO
(Casimiro Cunha - Pássaros Humanos)

Pretendes entrar na posse


Da Vida Superior!...
O caminho mais seguro:
Mais serviço, mais amor.

Queres alívio, sossego,


No coração sofredor...
A providência primeira:
Mais serviço, mais amor.

Desejas libertação
De mágoa, pena, temor...
O recurso que não falha:
Mais serviço, mais amor.

Desejas felicidade,
Resposta a sonhos em flor...
A receita da alegria:
Mais serviço, mais amor.

Sonhas a paz restaurada


De afetos a recompor!...
A base do entendimento:
Mais serviço, mais amor.

Solicitas do destino,
Saúde, amparo, vigor...
O programa necessário:
Mais serviço, mais amor.

Rogas roteiro adequado


Para encontrar o Senhor...
O ensino claro da vida:
Mais serviço, mais amor.

PERDÃO
(Casimiro Cunha - Pássaros Humanos)

Se o mundo agrava os problemas


Da prova que te retém,
Vencendo sombras e entraves,
Perdoa, fazendo o bem.

Caminhas de peito em chagas,


Sem mão amiga de alguém;
Todavia, embora a angústia,
Perdoa, fazendo o bem.

Pelo auxílio que estendeste,


Recebes a dor; porém,
Sublimando a própria vida,
Perdoa, fazendo o bem.

Suplicas de toda a parte


O apoio que nunca vem;
No entanto, não desesperes,
Perdoa, fazendo o bem.

Recolhes, por onde vais,


Derrotas, mágoas, desdém...
Mas, se esperas por vitórias,
Perdoa, fazendo o bem.

Oferta o melhor que possas,


Sem mesmo saber a quem.
Se a maldade surge em torno,
Perdoa, fazendo o bem.

Ponderando ou comentando,
Foge ao fel que o mal contém.
E ainda que o mal te fira,
Perdoa, fazendo o bem.
Padeces ingratidões,
No sonho que te sustém;
Contudo, segue adiante...
Perdoa, fazendo o bem.

Nos teus brados por socorro,


Toda resposta é: ninguém.
Mesmo assim, onde estiveres,
Perdoa, fazendo o bem.

Desafio ao coração:
É luta que não convém;
No exemplo da fonte humilde,
Perdoa, fazendo o bem.

Ante a divina ascensão,


Hoje e agora, aqui e além,
Quem segue com Jesus Cristo
Perdoa, fazendo o bem.

TRILOGIA TERRESTRE
(Casimiro Cunha - Pássaros Humanos)

Se desejas respirar
A Vida Superior,
Não desdenhes estender
Serviço, perdão e amor.

Muitos transportam consigo


Tédio e luta, sombra e dor,
Por lhes faltarem à vida
Serviço, perdão e amor.

Repara o mundo em que vives


E, atento, seja onde for,
Colherás, em toda a parte,
Serviço, perdão e amor.

O sol, o mar, a montanha,


O caminho, a fonte e a flor
Espalham alegremente
Serviço, perdão e amor.

Em tudo perceberás
A essência do Criador,
Luzindo e frutificando
Serviço, perdão e amor.

Assim, pois, estrada afora,


Por trio renovador,
Guarda sempre, onde estiveres,
Serviço, perdão e amor.

Não carregues, por algemas,


Tristeza, mágoa e rancor;
Liberta-te, semeando
Serviço, perdão e amor.

Injúrias, pedras, ofensas?


Injustiça, desprimor?
Oferece a cada golpe
Serviço, perdão e amor.

Onde surja o sofrimento,


Gritando, escarnecedor,
Silencia, cultivando
Serviço, perdão e amor.

Todo o Evangelho do Cristo


Refulge consolador,
Na trilogia celeste:
Serviço, perdão e amor.

Quem procura caminhar


Na inspiração do Senhor,
Trabalha, distribuindo
Serviço, perdão e amor.

CAMINHO CRISTÃO
(João de Deus - Moradias de Luz)

Eis a estrada do espírito cristão:


- Amar a Deus e o mundo que O reflete,
Perdoando setenta vezes sete
Toda ofensa que fere o coração;

Guardar consigo o título de irmão


Que mil gestos de amor faz e repete;
Ser paz onde a discórdia se intromete,
Ser sacrifício pela redenção;

Bendizer as pedradas dos caminhos,


Amparar inimigos escarninhos
E combater em si a terá e o mal!

Eis o roteiro iluminado e vivo,


Que transforma os grilhões do homem cativo
Em tesouros da Pátria Universal.
CRÊ
(Antero de Quental - Assembleia de Luz)

Há na crença uma luz radiosa e pura,


Que transfigura os prantos em prazeres,
Que transforma os amargos padeceres
Em momentos de mística ventura.

Confia, espera e crê. Quando sofreres,


Sob os guantes da ríspida amargura,
Nas tormentas acerbas dos deveres
Esquecerás a dor e a desventura.

É que, em meio das mágoas mais atrozes,


Sentirás dentro em ti estranhas vozes
Repletas de doçura indefinida:

São os seres ditosos, superiores,


Que nos impelem a nós, os sofredores,
Aos luminosos planos da outra vida.

QUEM?! ...
(Tobias Barreto - Assembleia de Luz)

Estrelas, quem vos fez por deslumbrante frota


De excelsos bergantins em chamas de ouro e prata?
Céus, quem nos desdobrou, por milênios sem data,
Nos distritos sem fim da vastidão remota?!...

Luzes da imensidão, quem vos alenta e dota


De celeste esplendor e força intimorata?
Mares, quem vos mantém?... Fontes, quem vos desata?
Aves, quem vos compôs a cantiga devota?

Flores, quem vos desvela a doce maravilha?


Troncos, quem vos criou?... Pedras, quem vos empilha
Dando ao mundo, no espaço, apoio incontroverso?!

...E eis que serena voz, sem que se saiba de onde,


Do sol ao verme canta, estremece e responde, - Deus!...
Tudo vem de Deus, na pompa do Universo!...

CRIANÇA NOSSO AMOR


(Irene de Souza Pinto - Assembleia de Luz)

Ei-la Alvorada nascente


Em meio do céu escuro,
Anunciando o futuro,
Entre nuvens, ao surgir!...
É a criança que aparece
Por lírio na tempestade
-Deus buscando a humanidade,
Na construção do porvir.

Aspiração torturada
Nas urzes do sofrimento,
Flor lançada à noite e ao vento,
Ternura em tempo de dor...
Uma criança que chora,
Sozinha e desprotegida,
Com toda a força da vida
É o mundo pedindo amor.

Coração ao desamparo,
Na mágoa em que se consome,
Ave sem ninho e sem nome
É um anjo em penúria atroz;
Um anjo que roga apenas
Proteção em que se guarde,
Para que possa, mais tarde,
Amar e servir por nós.

Companheiros da Bondade,
Ante essa flor que mendiga
Carinho de voz amiga,
Entendei e auxiliai!
Tendes em cada criança
Que em vosso apoio se arrime
Uma esperança sublime
Nascida de nosso Pai.

Bendita a mão que levanta


O socorro, o lar, a escola;
Que afaga, serve e consola
Os filhos da provação;
Quem abraça os pequeninos,
No amparo que lhes descerra,
Está lavando na Terra
O campo da redenção.

TRILOGIA DA PAZ
(Casimiro Cunha - Excursão de Paz)

Enquanto o mundo se agita,


Clamando na inquietação,
Guardemos a trilogia:
Amor-serviço-oração.

Se padeces duras provas,


Conserva, contigo, à mão,
Três remédios infalíveis:
Amor-serviço-oração.

Calúnias e desafios,
Insultos do orgulho vão,
Fogem da estrada se encontram
Amor-serviço-oração.

Para as tristezas que nasçam


Do pensamento malsão,
Três recursos nunca falham:
Amor-serviço-oração.

Sofres o peso da angústia...


Se queres libertação,
Usa com todos e em tudo
Amor-serviço-oração.

Conflitos, dificuldades,
Problemas de indecisão,
Terminam quando recebem
Amor-serviço-oração.

Quaisquer sombras, como sejam,


Desventura ou tentação,
Dissiparás, aplicando
Amor-serviço-oração.

Se pedirmos paz ao Cristo,


Ele dirá com razão:
Cultiva, em qualquer caminho,
Amor-serviço-oração.

ALÉM
(Augusto dos Anjos - Veredas de Luz)

Não te engane o pavor do campo escuro,


-Gênios da morte entoando horrendas árias,
Urnas de pedra e lousas solitárias,
Cheias de vocação para o monturo...

Somente esbarras no sinistro muro,


Onde os corpos dos cresos e dos parias,
Em desagregações igualitárias,
Colhem transformações para o futuro.

Além do vaso informe e descomposto,


Em que toda vaidade paga imposto
Desfazendo-se, inerme, fibra a fibra.
Eis que a Eterna Verdade se descerra:
-A vida continua além da Terra,
O espírito liberto canta e vibra...

SEMEADOR
(Recordando Allan Kardec)
Cruz e Souza

Semeador, entre os grandes semeadores,


Tua lição, teu cântico, teu grito,
Ressoam, para sempre, no Infinito,
Renovando caminhos redentores.

Abençoado sejas onde fores,


Argonauta da crença; sê bendito!...
Pela paz que trouxeste ao mundo aflito,
Redimindo misérias e amargores.

Não foi vão teu suor, preso à charrua,


A Divina Verdade continua
Trazendo o Céu para os terrestres ninhos!...

Missionário do amor do Mestre Eleito,


Desçam Glórias Supremas no teu peito,
Fuljam bênçãos de Sol nos teus caminhos.

Carta íntima
(Auta de Souza)

Escuta, meu irmão! Pelo caminho


Da miséria terrestre, há muitas dores;
Muita fel, muita sombra, muito espinho,
Entre falsos prazeres tentadores.

Há feridas que sangram ... Há pavores


De órfãos sem lar, sem pão e sem carinho:
Confortemos os pobres sofredores,
Almas saudosas do Celeste Ninho!

Jesus há de sorrir com teu sorriso,


Quando faças no mundo o bem preciso
Pelo que sofre em desesperação.

Todo bem que plantares em vida,


Há de esperar tua alma redimida
Nos caminhos de luz e redenção!

SOU EU
(Augusto dos Anjos)
Hora noturna sobre Leopoldina,
A terra amiga que me acolhe os restos.
E no templo de júbilos honestos
Procuro a paz da inspiração divina.

Ante os irmãos do Mestre na Doutrina


Que ama e perdoa nos menores gestos,
Trago comigo os traços manifestos
Da desventura que desilumina.

Sou eu, na velha angústia em que me perco,


Voltando, triste, ao túmulo de esterco,
De outras faixas vitais que o mundo encerra...

Sou eu gritando à vossa luz bastarda


Que sem Cristo brilhando na vanguarda,
Tudo é vaidade e cinza sobre a Terra.

(Soneto recebido pelo médium Francisco Cândido Xavier, em sessão pública do Centro
Espírita “Amor ao Próximo”, em Leopoldina, MG, na noite de 28-6-50.)

MENSAGEIROS DO BEM
(Leôncio Correia)

Mensageiros do Bem, ante o campo lá fora


Onde se espalha a dor da vida descontente,
O próprio sonho erguei por facho resplendente,
Dando paz a quem luta e conforto a quem chora...

Ao coração sem fé que a lágrima devora,


E ao cérebro sem luz torturado e descrente,
Acendei o clarão da Vida Renascente
Do futuro que surja e brilhe desde agora.

Obreiros do porvir, revelai a Era Nova,


Caridade e união, entendimento e prova,
São traços da missão que o vosso encargo encerra!

Do suor que verteis no trabalho fecundo,


Semeando a bondade e renovando o mundo,
Cristo fará do amor a redenção da Terra.
(Soneto recebido pelo médium Francisco Candido Xavier)

ABENÇOA SENHOR
(Auta de Souza - Soneto recebido pelo médium Carlos A. Baccelli)

Abençoa, Senhor, esta Casa singela,


Onde a luz do Evangelho esplende, soberana,
E onde encontra guarida a imensa caravana
Dos tristes corações que a prova desmantela.
Neste pouso de paz onde a fé nos irmana,
Em torno do Ideal que ao mundo se revela,
A Caridade é sempre atenta sentinela,
Estendendo os seus braços à penúria humana.

Neste recanto amigo, à margem do caminho,


Ninguém procura em vão o conforto e o carinho,
Cansado de bater, chorando, porta em porta...

Porquanto a Tua voz na voz de quem ensina,


A mensagem de amor da Celeste Doutrina,
A renovar no bem a vida nos exorta!...

PENSA E PERGUNTA
Manoel Monteiro
(Livro seguindo juntos)

Se ouviste acusações
Sobre a falta de alguém
E queres comentá-la
De maneira contrária à lei do bem,
Pensa nisto, primeiro,
Em torno ao que se fala:

- Será que o companheiro


Praticou a maldade que se diz
Ou tudo se resume simplesmente
Num boato infeliz?

Depois, reflete assim:

- Estou eu sobre a Terra


Com tanta perfeição,
Que posso erguer a mão
E censurar quem erra?

Em seguida, pergunta claramente,


Sempre sem dizer nada:
- Como agiria eu se estivesse na prova
Da pessoa acusada?

Logo após, dize à própria consciência,


Longe de todo alheio reboliço:
-Se propalar a imperfeição dos outros,
Que vantagem há nisso?

Por fim, depois de orar, busca saber


Na luz viva da fé que nos conduz:
- Se estivesse visível no meu passo,
Que faria Jesus?

Além destas perguntas formuladas,


Nada dirás do mal, seja a quem for,
Porque estarás com Deus e Deus contigo
Para a benção do amor.

RESPOSTA
(Tobias Barreto)

Céus, quem vos desdobrou no tempo sem memória?


Flâmeas constelações, quem vos lança e aglutina?
Astros, quem vos dirige a excelsa disciplina?
Luzes, quem vos acende a beleza incorpórea?

Terra, quem vos gerou? Mares, quem vos domina?


Flores, quem vos estende a gentileza e a glória?
Aves, quem vos inspira a marcha migratória?
Fontes, quem vos impele a cantar em surdina?

Desertos, quem vos fez na imensidão de areia?


Vales, quem vos mantém'? Rochas, quem vos alteia?
Vermes, quem vos criou no abismo estranho e mudo?!...

De esfera a esfera, ser a ser e vida em vida,


Surge por toda a parte a resposta incontida:
- "Deus! ... Tudo vem de Deus na grandeza de tudo! ..."

PEREGRINAÇÃO NA TERRA
(Cruz e Souza)

Suporta a noite tormentosa e escura,


Angústia, solidão, vento, escarninho,
Frio, aguaceiro, lama, pedra, espinho,
Sangrem-te embora os sonhos de ventura!

Chora, mas segue impávido, à procura


Do limitado e Fulgido caminho!...
Ave no visco do terrestre ninho,
Ouve os hinos angélicos da Altura...

Conquanto a dor do peito ermo e convulso,


Rompe a cadeia que te prende o pulso,
Arrasta-te na sombra atormentada!...

Vara os últimos pélagos das trevas,


Acima do calvário em que te elevas
Rebrilha o sol de nova madrugada!...

VISÃO DOS ESPAÇOS


(Augusto dos Anjos - Lira Imortal)

Vastidões de beleza intraduzível,


Fulgurações entre cósmicos flagelos,
Ideações de fúlgidos castelos
Onde mora a beleza indefinível.

Ansiedades trágicas, supremas,


Na formação das grandes nebulosas...
Transubstanciações misteriosas
Gerando os organismos dos sistemas.

Focos de potentíssima atração


As moléculas e átomos dispersos,
Nos elementos de elaboração
De grandiosos e lindos universos.

Luminosas esteiras de cometas,


Formosos em elipses prolongadas,
Graciosas figuras de planetas
Emergindo das cósmicas camadas.

Meteoros celestes, deslumbrantes,


Nas excelsas alturas transcendentes,
Onde vibram os sóis incandescentes,
Asteróides e estrelas fulgurantes.

Intensidade bela de harmonia


Que agora sinto, vejo e que percebo,
Grandiosidades do que não concebo
Nos apogeus das hiperestesias.

E, sobretudo, emanam das esferas


Os equilíbrios das imensidades,
O eterno canto de sublimidades,
Clarões de luzes nas atmosferas...

Sobre todas as coisas assombrosas,


Fluídos e criações de pensamentos,
Todas as maravilhas e portentos,
Há uma luz entre as luzes mais radiosas.

É o clarão poderoso, indestrutível,


Que vem das profundezas do passado
A luz de Deus, à força do incriado
Na exteriorização indescritível.

LUZ GLORIOSA
(Augusto dos Anjos)
Houve tempo em que a ciência positiva,
Na aridez de seu método ilusório,
Construía o castelo transitório
Da grande negação definitiva.

Tudo era a matéria primitiva


No centro do seu modus vibratório,
Impressionando o mundo do sensório
Na eterna vibração da força viva.

Mas Kardec abre as últimas cortinas


E sobre o mundo de cadaverinas,
Apresenta luz gloriosa e forte.

Cai a muralha do materialismo,


E a fé raciocinada vence o abismo,
Transpondo a escuridão da própria morte.

LUZ REDENTORA
(Casimiro Cunha)

Sobre a Terra de sombra e de amargura,


A treva espessa e triste se fizera...
A ciência e a fé, nas asas da quimera,
Mais se afundavam pela noite escura.

A alma humana de então se desespera.


É eis que das luzes místicas da altura
Desce outra luz, confortadora e pura
De que o mundo infeliz se achava à espera;

E Kardec recebe-a sobre o abismo,


Espalhando as lições do Espiritismo,
Em claridades de consolação.

Emissário da luz e da verdade,


Entrega ao coração da humanidade
A doutrina de amor e redenção.

MATÉRIA
(Augusto dos Anjos)

Nos sublimes impérios deslumbrantes.


Do mistério das zonas subjetivas,
Em transubstanciações definitivas,
Vive a matéria em células radiantes.

Expressões fenomênicas, constantes,


Nas eternas ações das forças vivas,
Desde a treva das noites primitivas
Dos eternos princípios inquietantes.

Em todos os fenômenos profundos


Dos mecanismos físicos dos mundos
A matéria é a expressão primordial,

Dentro do seu aspecto transitório,


Sob a função passiva de envoltório
Das essências do espírito imortal.

MORTOS? NÃO
(ANTERO DE QUENTAL)

Nós não somos os mortos condenados


Aos sepulcros de treva e cinzas frias,
Tristes evocações das agonias,
Sob os dobres dos sinos de finados...

Não estamos nas lápides sombrias


Dos cemitérios ermos e isolados,
Somos somente amigos apartados
Pelo... espaço das horas fugidias.

Crede que a luta é a nossa eterna herança,


Com a qual marchamos plenos da esperança
Que une os mundos e os seres nos seus laços.

Depois da morte, a luz de um novo dia


Resplende, transbordante de harmonia
Pela serenidade dos espaços.

SONHA!
(Olavo Bilac)

Vive, como quem sonha a vida inteira,


Uma paisagem primorosa e bela,
Como um céu safirino que se estrela
De luz e que essa luz toda te queira.

Vive como quem sonha, rindo à beira


De um lago azul, mirando a caravela
Da esperança, suavíssima e singela,
Nosso amparo na mágoa derradeira.

Converte em canto as tuas agonias,


Pois que outra vida além da morte espera
Todos os seres, todas as criaturas!

A fé clareia as noites mais sombrias,


Fazendo-te entrever a primavera
Que despetala flores nas alturas.

VERSOS AOS SOFREDORES


(Casimiro de Abreu)

Pudesse agora arrancar-vos


Do terreno sorvedouro,
E abrir-vos os salões de ouro
Dos cimos da criação...
Conduzindo-vos aos prados
De flores da imensidade,
Onde eterna claridade
Nos conduz à perfeição;
Ó rutilâncias sublimes
Da vida risonha e pura,
Altar de doce ventura,
Luminoso rosicler,
No qual a paz e o amor
Fazem eterna aliança,
Onde um halo de esperança
É a vida de todo o ser;
Ó madrugadas brilhantes,
Luares opalescentes,
Sobre estradas resplandecentes
Nos jaspes da imensidão;
Ó panoramas divinos,
Lindos quadros luminosos,
Manhãs de riso e de gozos
Da Terra da promissão;
Que luzes maravilhosas
Sobre etéreos alabastros,
Sóis, estrelas, mundos, astros
Na vida superior.
Toda a música da Terra
Não se iguala à melodia
Da sacrossanta harmonia
Que se desprende do amor;
Quisera, pois, arrancar-vos
De tanta noite obscura,
Mas agora na amargura
Faz-se mister que sofrais;
Depois, porém dessas dores,
Sentir-vos-eis nos espaços,
Acalentados nos braços
Do mais sublime dos pais.

...
(João de Deus)

Deus fez da vida um jardim,


Fez do mundo o nosso lar,
Onde aprendemos a amar
Sua grandeza sem fim.

Em todas as direções,
Nas cidades, nos caminhos,
No campo, no mar, nos ninhos,
Há sempre grandes lições.

No prazer, no sofrimento,
Na noite longa e sombria,
Na claridade do dia,
Tudo é flor de ensinamento.

Colhamos bênçãos de luz


Nas lutas que a vida encerra...
O jardim é toda a Terra,
O jardineiro é Jesus.

PRIMAVERA
(João de Deus)

A primavera no prado
Toda vestida de flores
Trouxe lençóis multicores
Que brilham ao sol dourado.

Parece a festa das cores


No caminho perfumado,
Para a alegria do arado
E paz dos trabalhadores.

Minúsculos passarinhos
Entoam, nos altos ninhos,
Cantos de amor e inocência…

A Natureza revela,
Sublime, ditosa e bela,
As luzes da Providência!

SUBJETIVISMO
(Augusto dos Anjos)

Existe, além das forças do sensório,


Imensurável zona subjetiva,
Fora de toda a física objetiva,
Em seu potencialismo vibratório.

Fragmento de Deus, Brama ou Siva,


No homem, em complexus transitório
De matéria e espírito incorpóreo,
Toda a expressão da substância viva.

Região de energia indefinica,


Onde toda a matéria conhecida
Nasce de estranhas e insondáveis grutas!

Fonte de eterna potencialidade


- Templo do ego e da imortalidade –
Mundo real das causas absolutas.

A ESCOLA
(Casimiro Cunha - Momentos de Ouro)

Fita o mundo em derredor


E a vida que te bendiz;
Soma as bênçãos que te cercam,
Não te digas infeliz.

Onde estiveres, anota


Ao senso que te conduz:
O sol igual para todos
É fonte jorrando luz.

Respirando, dia e noite,


Gastando ar e mais ar,
Pelas bênçãos que assimilas
Nada precisas pagar.

Toda mata é um quadro lindo


Em tela verde e formosa;
Ninguém explica na Terra
A beleza de uma rosa.

Águas claras rolam perto,


Caminha...podes colhê-las;
Tens a noite iluminada
Por lampadários de estrelas.

Atravessas mares, montes,


Primaveras encantadas;
Desfrutas árvores, frutos,
Cidades, campos estradas...

Terra!... Eis a escola bendita,


O lar tantas vezes meu!...
Não te digas infeliz
Na escola que Deus te deu.

TRIO DA ESPERANÇA
(Maria Dolores - Assembleia de Luz)

Ah! coração fatigado,


Na aflição que te vigia,
Nunca te percas da fé;
Trabalha, espera, confia.

Por mais lutes, mais avanças


Em triste, espinhosa via...
Não esmoreças, contudo;
Trabalha, espera, confia.

Cada hora te parece


Nova dor que se anuncia...
Não te afundes em revolta;
Trabalha, espera, confia.

Já não sabes o tamanho


Da prova que te assedia;
Mesmo assim, prossegue à frente;
Trabalha, espera, confia.

Encontras, a cada passo,


Desprezo, descortesia...
Desculpa, servindo mais;
Trabalha, espera, confia.

Entre os seres mais amados,


Padeces desarmonia;
Não faltes à paciência;
Trabalha, espera, confia.

Sonhaste calma ventura


E sofres em demasia...
No entanto, aguarda o futuro;
Trabalha, espera, confia.

Não temas, nem desesperes,


Toda sombra é fugidia.
O sol brilha, a nuvem passa...
Trabalha, espera, confia.

Para a cura de ansiedade,


Angústia, melancolia,
Usa a receita de sempre:
Trabalha, espera, confia.

Cada manhã, Deus te fala,


Na bênção de novo dia:
- Se queres felicidade,
Trabalha, espera, confia.

VINDE, IRMÃOS
(Abel Gomes - Bênçãos de Amor)

Frente a noite de dor à procela,


Em que o homem do mundo luta e chora.
O espiritismo acende a nova aurora
Na luz da crença promissora e bela.

Oh! Doutrina bendita que revela


A Verdade Divina que se enflora,
Da esperança vibrando mundo afora,
Desde a vida mais alta a mais singela.

Espiritismo em Cristo é a grande escola,


A generosa fonte que consola
No caminho de dor da humanidade.

Venham irmãos ao banquete da esperança,


Espiritismo é o campo da bonana
Frutificando para a eternidade.

As Filhas da Terra
(Bittencourt Sampaio - Servidores no Além)

Do Seu trono de luzes e de rosas,


A Rainha dos Anjos, meiga e pura,
Estende os braços para a desventura,
Que campeia nas sendas espinhosas.

Ela conhece as lágrimas penosas


E recebe a oração da alma insegura,
Inundando de amor e de ternura
As feridas cruéis e dolorosas.

Filhas da terra, mães, irmãs, esposas,


No turbilhão dos homens e das cousas,
Imitai-a no dor do vosso trilho!...

Não conserveis do mundo o brilho e as palmas,


E encontrareis no íntimo das almas,
A alegria do reino de Seu Filho!

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