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ESTADO NOVO

A Revolução de 28 de Maio de 1926 e o Estado Novo, que se lhe seguiu e dela foi decorrente, constituíram
uma indispensabilidade nacional resultante da situação caótica e de ruptura a que a Primeira República
havia conduzido o País, em todos ou quase todos os sectores e particularmente no das finanças públicas.
Foram chefes militares que sentiram aquela indispensabilidade e souberam, primeiro, estabelecer uma
ditadura de sentido construtivo e redentor e, depois, admitir e conseguir, acabando por se lhe entregar
plenamente, que um homem de génio, surgido em Coimbra - o Professor Doutor António Oliveira Salazar -,
dirigisse o País. Este criou, com a Constituição de 1933, o Estado Novo que chefiou até 1968, ano em que
por doença, motivada ou acelerada por uma queda, teve de abandonar o poder.

Nestes trinta e cinco anos, o Estado Novo, além de continuar e terminar a Obra, iniciada pela ditadura, de
reorganização geral do País, e particularmente de sua reconstrução financeira, teve de Enfrentar e Resolver
quatro conjuntos de Grandes Problemas, que principalmente o Estrangeiro fez incidir sobre Portugal.
Foram eles: os problemas decorrentes da Guerra de Espanha, ocorrida de 1936 a 1939; os problemas
consequentes da Segunda Grande Guerra, que teve lugar de 1939 a 1945; os problemas devidos à expansão
dos regimes democráticos pluralistas, após a referida Segunda Grande Guerra; os problemas relativos ao
Ultramar Português, intensificados na década de 50 e, sobretudo, na década de 60.

São aquela Obra e o enfrentamento e resolução destes conjuntos de Grandes Problemas que, em termos de
história, caracterizam o Estado Novo e facultam a formulação de um seu juízo. Assim:

1. A obra de reorganização geral do País, e particularmente de sua reconstrução financeira, foi realização
notabilíssima que, só por si. justificou e elevou o Estado Novo e Salazar.
Mas, não posso deixar de referir, como ponto bem negativo, o facto de certos princípios de estrita
economia continuarem, mesmo depois de desnecessários, a aplicar-se com prejuízo, por vezes acentuado
ou mesmo grave, de realizações importantes.

2. Na Guerra de Espanha, estava fundamentalmente em causa a comunização ou não do país e, por


arrastamento, a de Portugal, isto é, a de toda a Península Ibérica, com severas consequências para a
Europa e para o Ocidente em geral. A posição e acção de Salazar e dos Portugueses sobre o próprio conflito
espanhol e, relativamente a ele, em âmbito internacional, contribuíram muito significativamente, mesmo
quase decisivamente, para que a boa causa, a causa não-comunista, vencesse em Espanha. Foi outro
serviço notabilíssimo prestado pelo Estado Novo, mas agora, não só a Portugal, como à Espanha e a toda a
Comunidade Internacional Civilizada.

3. Relativamente à Segunda Grande Guerra, a atitude e a actuação de Salazar e dos seus Governos podem
sintetizar-se nos três aspectos dominantes seguintes: o de preservar os Portugueses dos efeitos mais
dolorosos da guerra; a contribuição muito significativa, igualmente quase decisiva, para a manutenção da
neutralidade da Espanha; e o apoio oportuno dado à Causa Aliada, com a concessão de facilidades, nos
Açores, às respectivas forças armadas.
A grande vantagem em preservar os Portugueses dos efeitos mais dolorosos da guerra é evidente, até
porque foi conseguida com satisfação, pelo menos final, dos próprios Aliados.
A contribuição para a manutenção da neutralidade de Espanha, neutralidade essencial para a Causa
Aliada, foi serviço maior prestado a esta Causa. O alinhamento espanhol com a Alemanha de Hitler teria
tido projecção negativa de dimensão imprevisível no decurso e resultado da guerra. Salazar, que já tinha
contribuído para evitar a comunização de Espanha, como recordei, contribuiu, agora, para evitar a sua
nazificação.
Igualmente, a concessão de facilidades, nos Açores, às forças aliadas, muito importante para estas forças,
efectivou-se oportunamente e sem qualquer afectação da soberania nacional, constituindo acto de grande
relevância. Tal, não só por mostrar explicitamente a posição de Portugal na guerra, como por permitir
reforço considerável do controlo pelas forças aliadas - controlo que lhes era indispensável - das
comunicações marítimas e aéreas no Atlântico Norte.
Assim e relativamente à Segunda Grande Guerra, o Estado Novo houve-se por forma superiormente
meritória, no referente a Portugal, no referente aos Aliados e, em consequência, no referente ao Mundo em
geral

4. A ditadura estabelecida em 1926 era, por natureza, autoritária e o Estado Novo, que a substituiu,
manteve certo autoritarismo - embora limitado pelo Direito e pela Moral cristã, e, assim, muito afastado do
dos sistemas, que pelo menos em parte lhe foram contemporâneos, de Franco, de Mussolini, de Hitler e de
Estaline - e fez vigorar um regime de partido único.
Com a vitória, em 1945, na Segunda Grande Guerra, das democracias ocidentais sobre as potências
totalitárias - embora a URSS super-totalitária tivesse continuado a crescer em poder e agressividade -,
verificou-se no Ocidente uma expansão dos regimes democráticos pluralistas. De tal resultaram pressões
intensas sobre Portugal, considerando-se que, após já mais de vinte anos de regime autoritário - embora
autoritarismo limitado pelo Direito e pela Moral cristã, e não totalitário -, seria o momento de o Estado
Novo dar lugar a uma democracia pluralista. Mas havia pelo menos uma razão decisiva - repete-se decisiva
- que impedia o estabelecimento, na época, em Portugal, dessa democracia pluralista. É que a influência
que, em semelhante democracia, poderia surgir e decerto surgiria da parte de movimentos esquerdistas,
inclusivamente socialistas-democráticos e socialistas-comunistas, conduziria à impossibilidade de manter
a integridade do Conjunto Português - Metrópole e Ultramar - , mesmo dentro da Solução Portuguesa e da
Política Ultramarina Portuguesa que adiante se referirão. Insiste-se: o estabelecimento, então, de uma
democracia pluralista em Portugal teria como consequência, imediata ou a curto prazo, a perda do seu
Ultramar.
Assim, o Presidente Salazar teve que lutar, a nível externo, contra as pressões em causa, procurando fazer
aceitar internacionalmente a continuação do Estado Novo com as características que tinha e sempre tivera.
Foi luta árdua, mas que se saldou por um sucesso, concretizado com o ingresso de Portugal na NATO, em
1949, onde ficou a par precisamente das democracias ocidentais vencedoras da Segunda Grande Guerra, e
com o seu ingresso na EFTA, em 1959, onde ficou em paralelo com as democratíssimas Inglaterra e Suécia.
Foi o reconhecimento, pela Comunidade Internacional Civilizada, do regime português e foi um grande
triunfo do Estado Novo.

5. Salazar emergiu como político financeiro que depressa se revelou de excepção, prioritariamente
empenhado na reconstrução financeira do País, e apenas como eventual estadista. Desta circunstancia
resultou o facto de, desde início, não ter encarado o Ultramar Português na plenitude da sua essência
específica e única no Mundo. É disso consequência o Acto Colonial de 1933, que, alinhando de algum modo
com outros países europeus possuidores de territórios no Ultramar, estava imbuído de certo e anacrónico
espírito de império.
Porém, com a sua enorme capacidade, Salazar assumiu, progressiva e firmemente, a qualidade de estadista
pleno, que, no seu zénite, foi mesmo um dos melhores de todos os tempos em Portugal. E logo teve lugar a
evolução do Conceito Ultramarino Português, considerando entre outros, embora com algum atraso face à
essência da fórmula portuguesa, os princípios actuais decorrentes dos direitos dos homens e dos povos, e
terminando por se definirem uma Solução Portuguesa e uma Política Ultramarina Portuguesa, correctas no
acerto, realismo e modernidade. Podem enunciar-se, como segue, as bases dessa solução e dessa política:

Bases então já explicitadas

a) Manutenção firme do conjunto unido dos territórios portugueses, europeus e ultramarinos.


b) Promoção, o mais acelerada possível, do seu progresso económico, social e político, em particular
educacional, de saúde e cívico.
c) Intensificação da implantação, nos mesmos territórios, da paridade, harmonia e dignificação étnicas, da
coexistência de religiões e crenças, e da conciliação de culturas e tradições - proposições fulcro da Solução
Portuguesa. E proposições implicando objectivos, a prazo e de começo necessariamente tendenciais, de
plenitude de cidadanias, de equivalentes posições iniciais e iguais oportunidades, de vigência dos mesmos
direitos e deveres, e de acesso a situações económicas, sociais e políticas conseguido em face do valor real,
da iniciativa havida e da actividade desenvolvida.
d) Tudo com a finalidade da consecução de um elevado grau de desenvolvimento global.
Bases então a explicitar oportunamente

e) Conseguido esse grau de desenvolvimento permissor de autodeterminações autênticas - proposição


fulcro da Política Ultramarina Portuguesa -, informação por forma exaustiva e isenta das populações dos
territórios sobre as características e modus faciendi dos diversos arranjos políticos possíveis - unidade,
federação, confederação, comunidade ou separação total -, e sobre a natureza e positividade, no momento,
e projecção eminentemente válida, no futuro, da Solução Portuguesa.
f) Em seguida, consulta geral e igualmente isenta das mesmas populações sobre os arranjos políticos em
verdade desejados.
g) Por fim, adopção efectiva e rigorosa das opções verificadas na consulta.
h) Tudo prevenindo interferências estrangeiras ou de terceiros.
Contudo, o Presidente Salazar estava convicto, em face de boas razões, de que a explicitação, na época, das
quatro últimas bases, mesmo em círculos fechados e em termos confidenciais, desencadearia uma
imparável corrida às autodeterminações, que anularia por completo a política de autodeterminações
autênticas. Tal explicitação só deveria ter lugar mais tarde e em tempo oportuno.
Deste modo ficou estabelecido, embora com uma parte ainda não explicitada, o novo e correcto Conceito
Ultramarino Português, abrangendo a Solução e a Política Ultramarina Portuguesas. E foi com fundamento
neste conceito que o Estado Novo teve a grandeza de manter a decisão de defender, a todo o custo, a
integridade do Conjunto Português, facultando simultaneamente ao Mundo exemplo maior no plano
étnico-social. Exemplo que, de resto, este Mundo mal aproveitou, como mostra a multiplicação dos
conflitos raciais, religiosos e culturais que se vêm verificando.
Mas, à correcção do novo Conceito Ultramarino Português e à grandeza da decisão de defender a todo o
custo o Conjunto Português, não correspondeu totalmente a respectiva Execução. Esta processou-se com
erros vários, não poucos denunciados oportunamente mas nem por isso corrigidos e alguns até acentuados
após os fins da década de 50, dada a idade já avançada de Salazar e, depois, dada a personalidade de
Marcello Caetano. Entre eles, contam-se os seguintes: o limitado impulso e mesmo condicionamentos bem
negativos postos no povoamento branco do Ultramar Português, erro que prejudicou o desenvolvimento da
sociedade multirracial; a não integração económica do Conjunto Português, integração que teria
consolidado fortemente a unidade política; a falta de preparação contra-subversiva, em tempo plenamente
útil, das forças nacionais, incluindo o não estabelecimento de uma estratégia a nível, pelo menos, dos
territórios metropolitanos e africanos portugueses, o que teria permitido o emprego, na guerra ultramarina
de 1961-74, de menor volume de meios e um sucesso, nessa guerra, muito mais rápido.

De qualquer modo e mesmo com tais erros, se não tivessem tido lugar equívocos imensos de alguns
Portugueses e, mais gravemente, apostasias e traições inconcebíveis de outros, o Conjunto Português ter-
se-ia mantido e seria hoje, no Mundo, um dos espaços de grande justiça e de grande prosperidade. Bem em
contraste com as dificuldades com que se tem debatido o que, após a descolonização, restou de Portugal, e
com a opressão, a miséria e o sofrimento que se abateram inexoravelmente sobre quase todo o antigo
Ultramar Português.

6. E parece exacta a seguinte síntese. Para além da notabilíssima reorganização geral do País,
particularmente da sua reconstrução financeira; para além das atitudes, posições e acções, também
notabilíssimas e superiormente meritórias, relativas à Guerra de Espanha e à Segunda Grande Guerra, e
para além do triunfo do reconhecimento do regime português pela Comunidade Internacional Civilizada;
seria o Conjunto Português, pluricontinental e multirracial, de grande justiça e de grande prosperidade, a
Obra maior do Estado Novo. Contudo, embora com algumas responsabilidades deste, mas
fundamentalmente como consequência dos equívocos, apostasias e traições citados, uns e outras
impensáveis, verificou-se a queda do Estado Novo e com ela o desmoronamento do Conjunto Português,
com prejuízo total daquela Obra.

7. Em consequência de tudo o exposto, o juízo ponderado, em vermos da História, do Estado Novo de


Salazar é altamente positivo.

DECÁLOGO DO ESTADO NOVO

Datado de 1934, este documento, sintetiza os princípios basilares do regime.

Grafia, sublinhados e destacados de acordo com o documento o documento original:

1. "O ESTADO NOVO representa o acôrdo e a síntese de tudo o que é permanente e de tudo o que é novo,
das tradições vivas da Pátria e dos seus impulsos mais avançados. Representa, numa palavra, a
VANGUARDA moral, social política.

2. O ESTADO NOVO é a garantia da independência e unidade da Nação, do equilíbrio de todos os seus


valores orgânicos, da fecunda aliança de tôdas as suas energias criadoras.

3. O ESTADO NOVO não se subordina a nenhuma classe. Subordina, porém, tôdas as classes á suprema
harmonia do interêsse Nacional.

4. O ESTADO NOVO repudia as velhas fórmulas: Autoridade sem liberdade, Liberdade sem Autoridade e
substitui-as por esta: Autoridade e liberdades.

5. No ESTADO NOVO o indivíduo existe, socialmente, como fazendo parte dos grupos naturais (famílias),
profissionais (corporações), territoriais (municípios ) e é nessa qualidade que lhe são reconhecidos todos
os necessários direitos. Para o ESTADO NOVO, não há direitos abstractos do Homem, há direitos
concretos dos homens.

6. "Não há Estado Forte onde o Poder Executivo o não é". O Parlamentarismo subordinava o Govêrno à
tirania da assembleia política, através da ditadura irresponsável e tumultuária dos partidos. O ESTADO
NOVO garante a existência do Estado Forte, pela segurança, independência e continuidade da chefia do
Estado e do Govêrno.

7. Dentro do ESTADO NOVO, a representação nacional não é de ficções ou de grupos efémeros. É dos
elementos reais e permanentes da vida nacional: famílias, municípios, associações, corporações, etc.
8.Todos os portugueses, têm direito a uma vida livre e digna - mas deve ser atendida, antes de mais nada,
em conjunto, o direito de Portugal à mesma vida livre e digna. O bem geral suplanta - e contém - o bem
individual. Salazar disse: Temos obrigação de sacrificar tudo por todos: não devemos sacrificar-nos todos
por alguns.

9. O ESTADO NOVO quere reintegrar Portugal na sua grandeza histórica, na plenitude da sua civilização
universalista de vasto império. Quere voltar a fazer de Portugal uma das maiores potências espirituais do
mundo..

10. Os inimigos do ESTADO NOVO são inimigos da Nação. Ao serviço da Nação - isto é: da ordem, do
interêsse comum e da justiça para todos - pode e deve ser usada a fôrça, que realiza, neste caso, a legítima
defesa da Pátria.".

Opiniões da Imprensa e da Literatura sobre o "Estado Novo"

Die Weltwoche, 18 de Abril de 1952:

"...anos atrás, quando Tito ainda era um admirador de Estaline e Franco escondia a sua simpatia pelo
fascismo e pelo nacional-socialismo, Salazar mantinha-se como adepto da ordem autoritária mas também
como inimigo de toda a arbitrariedade ditatorial, tal como ela existia na Itália e na Alemanha e talvez ainda
na Rússia. Salazar não é adepto da arbitrariedade, é amigo da ordem quase monástico-cristã, que aceite
para si pessoalmente, e nunca sobre ele poderá recair o que se disse sobre Mussolini e Hitler. Hoje em dia
há homens que não ocultam dever muito ao pensamento de Salazar e a alguns aspectos da sua imagem
pessoal. Pinay, Primeiro Ministro da França, vindo de áreas muito diferentes, que colocou em primeiro
lugar no seu programa o reordenamento das Finanças; na Itália, De Gasperi e Gedda; na Alemanha, de
certo modo, Adenauer, o lutador contra o comunismo russo. Porque Salazar, na realidade, parece tu
seguido o caminho que, para muitas democracias do Ocidente, ainda pouco consolidadas, poderá servir de
exemplo para alcançarem um desenvolvimento positivo."

Neue Zurcher, 14 de Outubro de 1960:

"O Regime paternalista, que o velho homem de Estado chefia com simplicidade espartana e isolamento de
vida, assegurou indubitavelmente a Portugal, nestes últimos 30 anos, uma estabilidade e uma continuidade
notáveis, do ponto de vista e económico".

Note-se a expressão "paterna1ista"!

Tages-Annzeiger, 4 de Fevereiro de 1961:

"O Regime é denominado em Portugal como "a Situação utiliza métodos autoritários, mas nunca
totalitários".

Je suis partout, 8 de Maio de 1937:

"O regime de Salazar é aquele pe1o qual sinto maior simpatia: é um regime que procura elevar a pessoa
humana. É o oposto do regime totalitário. É um regime de autoridade. É o tipo de Estado Cristão".

Não é só na Suíça e na França que se publicam provas inequívocas do carácter não fascista do "Estado
Novo". Também em Portugal, um jornal importante escrevia de forma positiva:

O Dia, 12 de Dezembro de 1998:

"A obra de reorganização geral do País, e particularmente de sua reconstrução financeira, foi realização
notabilíssima que, só por si, justificou e elevou o Estado Novo e Salazar".

...

"Em consequência de tudo o exposto, o juízo ponderado; em termos da História, do Estado Novo de
Salazar é altamente positivo."
Os três grandes jornais de Zurique são unânimes na sua opinião sobre Salazar: autoritarismo e
paternalismo sim, fascismo e totalitarismo não. Porém, não são só os jornais. Há também livros que
afirmam claramente o mesmo:

«Entre a democracia e a ditadura totalitária" de Aram Mattioli, Editora Orel Fussli, Zurique, 1944:

"Embora o "Estado Novo" fosse uma ditadura autoritária, gozava na Suíça de certo prestígio".

"O regime autoritário de António de Oliveira Salazar que correspondeu a uma alternativa genuinamente
católica entre a democracia e o governo totalitário...".

"Pelo seu carácter tradicionalista ou mesmo pós-moderno, o regime português distinguiu-se claramente do
regime nacional-socialista..."

"Fascismo, por Walter Laquer, Editora Propylaen, Berlim, 1997:

"Os regimes autoritários continuam em Espanha e em Portugal após 1945. Mas nem o "Estado Novo" de
Salazar nem o Nacional-Catolicismo de Franco eram fascistas".

Estas opiniões também são partilhadas pela investigação internacional de hoje. Referimos as seguintes
fontes:

"A History of Spain and Portugal" de St. G. Payne, Wisconsin, 1973

" Die faschistischen Bewegunggen. Die Krisis der liberalen Systems und die Entwicklung der Faschismen",
de E. Nolte, Munique, 1979

"Europa in der Krise", de K. D. Bracher, Frankfurt am Main / Berlin /Wien, 1979

"Le Salazarisme. Histoire et Bilan", de J. Georgel, Paris, 1981.

"Les Fascismes", de R. Rémond / P. Milza, Paris, 1985

"Europaischer Faschismus im Vergleich 1922-1982», de W. Wippermann, Frankfurt am Main, 1993.

Discurso de tomada de posse como Ministro das Finanças

SR. PRESIDENTE DO MINISTÉRIO :

Duas palavras apenas, neste momento que V. Exa., os meus ilustres colegas e tantas pessoas amigas
quiseram tornar excepcionalmente solene.

Agradeço a V. Exa. o convite que me fez para sobraçar a pasta das Finanças, firmado no voto unânime do
Conselho de Ministros, e as palavras amáveis que me dirigiu. Não tem que agradecer-me ter aceitado o
encargo, porque representa para mim tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não faria a
ninguém. Faço-o ao meu País como dever de consciência, friamente, serenamente cumprido.

Não tomaria, apesar de tudo, sobre mim esta pesada tarefa, se não tivesse a certeza de que ao menos
poderia ser útil a minha acção, e de que estavam asseguradas as condições dum trabalho eficiente. V. Exa.
dá aqui testemunho de que o Conselho de Ministros teve perfeita unanimidade de vistas a este respeito e
assentou numa forma de íntima colaboração com o Ministério das Finanças, sacrificando mesmo nalguns
casos outros problemas à resolução do problema financeiro, dominante no actual momento. Esse método
de trabalho reduziu-se aos quatro pontos seguintes:

a)que cada Ministério se compromete a limitar e a organizar os seus serviços dentro da verba global que
lhes seja atribuída pelo Ministério das Finanças;
b) que as medidas tomadas pelos vários Ministérios, com repercussão directa nas receitas ou despesas do
Estado, serão previamente discutidas e ajustadas com o Ministério das Finanças;

c) que o Ministério das Finanças pode opor o seu «veto» a todos os aumentos de despesa corrente ou
ordinária, e ás despesas de fomento para que se não realizem as operações de crédito indispensáveis;

d) que o Ministério das Finanças se compromete a colaborar com os diferentes Ministérios nas medidas
relativas a reduções de despesas ou arrecadação de receitas, para que se possam organizar, tanto quanto
possível, segundo critérios uniformes.

Estes princípios rígidos, que vão orientar o trabalho comum, mostram a vontade decidida de regularizar
por uma vez a nossa vida financeira e com ela a vida económica nacional.

Debalde porém se esperaria que milagrosamente, por efeito de varinha mágica, mudassem as
circunstâncias da vida portuguesa. Pouco mesmo se conseguiria se o País não estivesse disposto a todos os
sacrifícios necessários e a acompanhar-me com confiança na minha inteligência e na minha honestidade –
confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. Eu o
elucidarei sobre o caminho que penso trilhar, sobre os motivos e a significação de tudo que não seja claro
de si próprio; ele terá sempre ao seu dispor todos os elementos necessários ao juízo da situação.

Sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No
mais, que o País estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de
mandar.

A acção do Ministério das Finanças será nestes primeiros tempos quási exclusivamente administrativa, não
devendo prestar larga, colaboração ao Diário do Governo. Não se julgue porém que estar calado é o mesmo
que estar inactivo.

Agradeço a todas as pessoas que quiseram ter a gentileza de assistir à minha posse a sua amabilidade.
Asseguro-lhes que não tiro desse acto vaidade ou glória, mas aprecio a simpatia com que me acompanham
e tomo-a como um incentivo mais para a obra que se vai iniciar.

Estado Novo (Portugal)


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Para o regime político brasileiro, ver Estado Novo (Brasil).

António de Oliveira Salazar, fundador e líder do Estado Novo visita obras da Ponte de Santa Clara em
Coimbra.

Estado Novo é o nome do regime político autoritário e corporativista de Estado que vigorou em Portugal
durante 41 anos sem interrupção, desde 1933, com a aprovação de uma nova Constituição, até 1974,
quando foi derrubado pela Revolução do 25 de Abril. Ao Estado Novo alguns historiadores também
chamam "II República" [1], embora tal designação jamais tenha sido assumida pelo próprio regime. [2]

A designação oficiosa "Estado Novo", criada sobretudo por razões ideológicas e propagandísticas, quis
assinalar a entrada numa nova era, aberta pela Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, marcada por
uma concepção antiparlamentar e antiliberal do Estado. Neste sentido, o Estado Novo encerrou o período
do liberalismo em Portugal, abrangendo nele não só a Primeira República, como também o
Constitucionalismo monárquico.

Como regime político, o Estado Novo foi também chamado salazarismo, em referência a António de
Oliveira Salazar, o seu fundador e líder. Salazar assumiu o cargo de Ministro das Finanças em 1928,
tornou-se, nessa pasta, figura preponderante no governo da Ditadura Militar já em 1930 (o que lhe valeu o
epíteto de "Ditador das Finanças") e ascendeu a Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro)
em Julho de 1932, posto que manteve até ao seu afastamento por doença em 1968. A designação
salazarismo reflecte a circunstância de o Estado Novo se ter centrado na figura do "Chefe" Salazar e ter sido
muito marcado pelo seu estilo pessoal de governação. O Estado Novo, todavia, abrange igualmente o
período em que o sucessor de Salazar, Marcello Caetano, chefiou o governo (1968-1974). Caetano assumiu-
se como "continuador" de Salazar [3], mas vários autores preferem autonomizar este período do Estado
Novo e falar de Marcelismo.[4] Marcello Caetano ainda pretendeu rebaptizar publicitariamente o regime ao
designá-lo por Estado Social, "mobilizando uma retórica política adequada aos parâmetros
desenvolvimentistas e simulando o resultado de um pacto social que, nos seus termos liberais, nunca
existiu", mas a designação não se enraizou.[5]

Ao Estado Novo têm sido atribuídas as influências do maurrasianismo[6], do Integralismo Lusitano[7], da


doutrina social da Igreja, bem como de alguns aspectos da doutrina e prática do Fascismo italiano, regime
do qual adoptou o modelo do Partido Único e, até certo ponto, do Corporativismo de Estado.

A Ditadura Nacional (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram,
conjuntamente, o mais longo regime autoritário na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por
48 anos.

Índice
[esconder]

 1 Nascimento do Estado Novo


 2 Caracterização geral e concisa do Estado Novo
 3 Um regime fascista?
 4 Características principais do Estado Novo
o 4.1 Corporativismo
o 4.2 Antiparlamentarismo e antipartidário
o 4.3 Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros
o 4.4 Outras características do regime
 5 Presidentes da República durante o Estado Novo
 6 Presidentes do Conselho de Ministros durante o Estado Novo
 7 Lemas
 8 Reorganização geral de Portugal levado a cabo pelo Regime
o 8.1 Economia e Finanças
o 8.2 A Questão do Ultramar
o 8.3 Ordem e estabilidade
 9 O Estado Novo e a Guerra Civil Espanhola
 10 O Regime e a Segunda Guerra Mundial
 11 Principais abalos internos sofridos pelo Estado Novo
 12 Queda do Estado Novo
 13 Notas
 14 Bibliografia
 15 Ver também
 16 Ligações externas

[editar] Nascimento do Estado Novo

A Ditadura Nacional (1926-1933)[8], regime de excepção dirigido por militares, com uma estrutura
constitucional provisória e suspensão das garantias consignadas na Constituição Portuguesa de 1911,
precedeu a instauração formal do Estado Novo (1933). Após a eleição por sufrágio directo, mas em lista
única, do General Óscar Carmona para Presidente da República em 1928, este, tendo em atenção a
incapacidade dos anteriores governantes, nomeadamente o General Sinel de Cordes, para resolver a crise
financeira, chamou António de Oliveira Salazar, especialista de Finanças públicas da Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra, para assumir o cargo de ministro das Finanças. Salazar aceitou o encargo
com a condição, que lhe foi garantida, de poder supervisionar os orçamentos de todos os ministérios e de
ter direito de veto sobre os respectivos aumentos de despesas. Impôs então uma forte austeridade e um
rigoroso controlo de contas, principalmente aumentando os impostos e reduzindo as despesas públicas,
conseguindo assim um saldo orçamental positivo logo no primeiro ano de exercício (1928-29).

Aconselhado e apoiado por António Ferro, que viria a chefiar o aparelho de propaganda do Estado Novo, o
SPN, Salazar soube servir-se da imprensa (que lhe era maioritariamente favorável, mantendo a restante
sob apertada censura), assim como das recém-criadas emissoras de rádiodifusão — o Rádio Clube
Português, a católica Rádio Renascença e a Emissora Nacional estatal, todas suas apoiantes. Soube
também aproveitar as lutas entre as diferentes facções da Ditadura, especialmente entre Monárquicos e
Republicanos, para consolidar o seu poder e ganhar mais prestígio. Tendo-se tornado indispensável à
Ditadura, o Presidente da República consultava-o em cada remodelação ministerial.

Salazar procurou então, com o apoio do General Carmona, dar um rumo estável à Revolução Nacional que
impedisse um "regresso à normalidade constitucional" da Primeira República, para que alguns generais da
Ditadura se inclinavam. Por isso, em 1930, depois de vencida por Carmona a resistência do General Ivens
Ferraz, Salazar criou, a partir do governo e com fundos provenientes do Orçamento de Estado, a União
Nacional, espécie de "frente nacional", como lhe chamou, a qual devia proporcionar o apoio necessário à
construção de um novo regime, o Estado Novo, concebido e integralmente desenhado por Salazar.

A União Nacional era uma organização em parte idêntica aos partidos únicos dos regimes autoritários
surgidos na Europa entre as duas guerras mundiais, se bem que, ao contrário desses, tivesse sido
integralmente construída de cima para baixo e não se apoiasse num pujante movimento de massas pré-
existente. A União Nacional, cujo papel foi sempre muito pouco determinante na prática política do Estado
Novo, simbolizava acima de tudo o carácter nacionalista, antidemocrático e antipluralista do regime.

Nenhuma lei proibia expressamente os partidos políticos enquanto tais, mas Salazar considerava que,
existindo a União Nacional, os antigos partidos tinham sido colocados fora da lógica do novo regime,
acabando todas as organizações e movimentos políticos existentes por ser obrigados a coibir-se de
qualquer actuação pública. Alguns, como o Partido Comunista (PCP) ou o movimento Anarcossindicalista
da Confederação Geral do Trabalho passaram a actuar na clandestinidade ou no exílio, outros, como o
Partido Socialista Português e o Integralismo Lusitano, foram levados a extinguir-se em 1932-1933. O
Movimento Nacional-Sindicalista, de Francisco Rolão Preto foi proibido após a tentativa de revolução
levada a cabo por elementos seus a partir do quartel da Penha de França, acrescentando a nota oficiosa de
29 de Julho de 1934, que decretava a sua extinção, que se tratava de um movimento inspirado em "certos
modelos estrangeiros".

Em 1932 foi publicado o projecto de uma nova Constituição, que seria aprovada por referendo popular em
1933 (embora o texto da constituição mencionasse plebiscito, na realidade o que houve foi tecnicamente
um referendo). Nesse referendo as abstenções foram contadas como votos favoráveis, falseando o
resultado. Com esta constituição, Salazar criou finalmente o seu modelo político, o Estado Novo, e tornou-
se o "Chefe" da Nação portuguesa. Não deixa contudo de ser curioso que tenha sido essa a primeira
constituição da História portuguesa a dar o direito de voto às mulheres e a assegurar determinadas regalias
para as chamadas classes operárias.

[editar] Caracterização geral e concisa do Estado Novo

O Estado Novo (1933-1974) foi um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista de Estado
de inspiração fascista, parcialmente católica e tradicionalista, de cariz antiliberal, antiparlamentarista,
anticomunista, e colonialista, que vigorou em Portugal sob a Segunda República. O regime criou a sua
própria estrutura de Estado e um aparelho repressivo (PIDE, colónias penais para presos políticos, etc.)
característico dos chamados Estados policiais, apoiando-se na censura, na propaganda, nas organizações
paramilitares (Legião Portuguesa), nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa), no culto do líder e na
Igreja Católica.

[editar] Um regime fascista?

O Estado Novo apresenta aspectos semelhantes aos regimes autoritários instituídos por Benito Mussolini
na Itália, Francisco Franco na Espanha, Engelbert Dollfuss na Áustria, Miklós Horthy na Hungria, Metaxas
na Grécia, Juan Perón na Argentina, Getúlio Vargas no Brasil e, em muito maior grau, por Adolf Hitler na
Alemanha.

É, todavia, assunto de debate entre os estudiosos se o Estado Novo constitui verdadeiramente, ou não, um
regime fascista, visto apresentar algumas diferenças em relação ao regime italiano, que serve naturalmente
de "padrão" do fascismo, e ainda maiores relativamente ao nazismo. Salazar (que manteve durante algum
tempo a fotografia emoldurada de Mussolini em cima da sua secretária de trabalho, mas que acabaria por
afirmar que o ditador italiano era demasiado vaidoso e defensor de uma intervenção excessiva do Estado
na vida da nação), nunca reivindicou para o seu regime o qualificativo de fascista, recusando igualmente o
seu carácter totalitário, reflexo de quem pretendia ser associado à recusa da "estatolatria" e do
totalitarismo pela Igreja Católica e pelo Papa Pio XI.

Independentemente do modo como o regime de Salazar se via a si próprio, a questão gira em torno de
saber em que características, essenciais ou secundárias, o Estado Novo diferiu do padrão fascista:
existência ou não de movimento de massas, papel do partido único, estrutura, lugar e papel dos sindicatos
e corporações no Estado, características e estilo de governação do chefe carismático, grau de autonomia do
poder judicial, liberdades públicas, nível de repressão das oposições políticas, independência da Igreja
Católica. Nos pontos citados, com efeito, há diferenças e semelhanças entre o Estado Novo e o fascismo: há
diferenças flagrantes no papel atribuído ao "movimento de massas" e no estilo de governação do chefe; há
semelhanças muito vincadas no papel do partido único e no lugar dos sindicatos e das corporações na
estrutura do Estado, assim como no cercear das liberdades públicas e no nível de repressão das oposições
políticas.

Para muitos, parece não haver dúvida que se trata de um regime fascista, quase fascista ou, até, segundo o
politólogo Manuel de Lucena, de um "fascismo sem movimento fascista" [9]. Para outros, tratar-se-ia de um
regime autoritário e conservador de inspiração simultaneamente católica e fascizante (especialmente
durante a sua primeira fase, até ao final da Segunda Guerra Mundial) — o que, por sua vez, tem levado
certos autores a apontar a influência doutrinária do denominado clero-fascismo (clerico-fascismo em
italiano, clerical-fascism em inglês), que aproximaria o Estado Novo do regime austríaco de Dollfuss
(também dito Austro-fascismo) e, em parte, do Franquismo. O Estado Novo, materialização do
pensamento político de Salazar, foi certamente um regime político com algumas características singulares
no panorama dos regimes autoritários do seu tempo — como o foram, aliás, todos os outros movimentos e
regimes autoritários nascidos na Europa da primeira metade do século XX.

Em matéria de política externa, sobretudo, o Estado Novo marcou uma sensível diferença relativamente
aos regimes do Eixo, embora já não tanto em relação a Espanha, tendo os dois países signatários do Pacto
Ibérico[10], de 1939, mantido uma difícil neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial e adoptado,
depois desta, uma semelhante política de aliança com a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América
no quadro formal da NATO (Portugal) ou à margem desta (Espanha).

[editar] Características principais do Estado Novo

[editar] Corporativismo

O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo", definindo-se
oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de governo e à vertente
doutrinária e normativa corporativista, reflectida no edifício das leis (Constituição política, Estatuto do
Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na configuração do próprio Estado (Câmara
Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações, Instituto Nacional do Trabalho e Previdência,
Sindicatos Nacionais de direito público, Grémios Nacionais, Casas do Povo, Casas dos Pescadores,
Comissões Reguladoras, etc.).

Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores potencialidades futuras,
mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a um padrão de "corporativismo
de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação", que poderia ter conferido um maior
papel à iniciativa privada e à autorregulação da sociedade civil.

Várias personalidades apoiantes do Estado Novo apresentaram aquele regime político como tendo sido
inspirado nas doutrinas corporativas do Integralismo Lusitano[11]. Os integralistas lusitanos, no entanto,
cedo se demarcaram daquele regime [12], considerando-o como um corporativismo de Estado de inspiração
fascista e, como tal, uma falsificação grosseira das suas doutrinas corporativas de associação [13] . O
integralista Hipólito Raposo, ao classificar em 1940 o Estado Novo como um regime autocrático - a
"Salazarquia" [14] - foi preso, e deportado para os Açores.

[editar] Antiparlamentarismo e antipartidário

O regime político-constitucional que vigorou durante o Estado Novo é considerado antiparlamentar e


antipartidário, uma vez que o único partido político aceite pela força política, que na altura era responsável
pela apresentação de candidaturas aos órgãos electivos de poder, foi a União Nacional, sendo que os
restantes foram ilegalizados, o mesmo aconteceu mais tarde com as associações políticas. Eram permitidos
em alguns actos eleitorais a apresentação de listas não afectas à União Nacional, mas a sua existência era
apenas consentida momentaneamente e era impossível a eleição de qualquer candidato destas listas, pois a
fraude eleitoral ou a repressão provocada pela poderosa polícia política (PIDE) provocava o esvaziamento
de candidatos afectos a estas ou porque se encontravam presos ou porque desistiam por falta de condições.

[editar] Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros

Neste regime autoritário, o Governo tem simultaneamente o poder executivo e legislativo (o Governo pode
decretar decretos-leis que sobrepõe as leis aprovadas pela Assembleia Nacional), e por sua vez os poderes
do Governo estão fortemente centralizados e reforçados nas mãos do Presidente do Conselho de Ministros
(Chefe do Governo). O Presidente da República tinha somente funções meramente cerimoniais, embora
tivesse o poder de escolher e demitir o Presidente do Conselho de Ministros. Mas este poder nunca foi
utilizado visto que o cargo de Presidente da República era sempre ocupado por um partidário da União
Nacional e apoiante do Presidente do Conselho de Ministros.

António de Oliveira Salazar, no sentido de inviabilizar a vitória do General Humberto Delgado à


Presidência da República em 1958, por este ser contra a ideologia do regime, propôs a revisão
constitucional onde a eleição que até naquela altura era feita por sufrágio directo passou a ser feita por
sufrágio indirecto, através de um colégio eleitoral.

Esta medida, a par com a inviabilização dos partidos políticos que já tinham sido ilegalizados na
constituição original, sendo permitidos no entanto candidaturas de movimentos independentes, levou a
um aumento e a uma concentração dos poderes no Presidente do Conselho de Ministros, que era já visto
como o real detentor dos destinos de Portugal.

[editar] Outras características do regime

 Tal como outros regimes autoritários da época, o Estado Novo possuia lemas para mostrar
resumidamente a sua ideologia e doutrina: "Tudo pela Nação, nada contra a Nação" e "Deus,
Pátria, Família" são os mais conhecidos e utilizados;

 O Estado Novo autoritário declarava-se limitado pelo Direito e pela Moral cristã, considerando,
por isso, não ser classificável como um regime totalitário, considerando-se sempre um Estado de
direito e uma democracia orgânica;

 Era contra o liberalismo político, apesar da existência de uma Assembleia Nacional (função
legislativa) e de uma Câmara Corporativa (função meramente consultiva) com alguma liberdade
de palavra, mas representando apenas os sectores apoiantes do regime, organizados na União
Nacional (que Caetano mudará para Acção Nacional Popular), a unanimidade era a tónica destes
órgãos visto serem compostos exclusivamente por apoiantes do regime;

 O culto do Chefe, Salazar (e depois, sem grande êxito, Marcello Caetano), é representado como
um chefe paternal, mas austero, eremita "casado com a Nação", sem as poses bombásticas e
militaristas dos seus congéneres Francisco Franco, Mussolini ou Hitler; Salazar era muitas vezes
mencionado como um "ungido de Deus", o "salvador da Pátria", ou o "redentor da Nação";

 Uma ideologia com forte componente católica, associando-se o regime à Igreja Católica através da
Concordata entre a Santa Sé e Portugal, em 1940; esta concordata concede vastos privilégios à
Igreja, bem diferente do paganismo hitleriano;

 Um serviço de censura prévia às publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão, e de


fiscalização de publicações não periódicas nacionais e estrangeiras, protegendo permanentemente
a doutrina e ideologia do Estado Novo e defendendo "a moral e os bons costumes";

 O regime apoia-se na propaganda política (fundando o Secretariado de Propaganda Nacional, a


SPN) para difundir "os bons costumes", a doutrina e a ideologia defendida pelo Estado Novo;

 Apoia-se nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa) para ensinar aos jovens a ideologia
defendida pelo regime e ensiná-los a obedecer e a respeitar o líder;
 Uma polícia política repressiva (conhecida por PIDE), omnipresente e detentora de grande poder,
que reprime apenas qualquer oposição política expressa ao regime, de acordo com critérios de
selectividade pontual, nunca se responsabilizando por crimes de massas, ao contrário das suas
congéneres italiana e especialmente alemã, a PIDE semeia o terror, o medo e o silêncio nos
sectores oposicionistas que fossem activos na sociedade portuguesa, protegendo o regime de
qualquer Oposição organizada, e com visibilidade pública; os opositores políticos mais activistas
eram interrogados e, aqueles que apoiavam ou pertenciam a organizações que defendiam a luta
armada contra o Regime ou que tinham ligações às potências inimigas de Portugal eram por vezes
torturados e detidos em prisões (ex: Prisão de Peniche e Prisão de Caxias) e campos de
concentração (ex: Tarrafal);

 Além da PIDE, o regime apoia-se também nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa)
para proteger o regime das ideologias oposicionistas, principalmente o comunismo.

 Um discurso e uma prática anticomunistas, tanto na ordem interna como na externa, que leva o
regime a combater o Comunismo e a aliar-se ao lado dos E.U.A, durante a Guerra Fria, juntando-
se à NATO, em 1949;

 O sistema educacional é controlado pelo regime (uma educação nacionalista e ideológica) e


centra-se na exaltação dos valores nacionais (ex: o passado histórico, o grande Império Colonial
Português, a religião, a tradição, os costumes, o serviço à comunidade e à Pátria, a solidariedade
humana numa perspectiva cristã, o apego à terra...), no ensinamento e difusão da ideologia estatal
aos jovens; teme as pessoas de correntes políticas diferentes que têm um nível educacional alto e
que defendem ou o Capitalismo ou o Comunismo, com os quais Salazar mantinha uma relação de
desconfiança (no primeiro caso) ou até mesmo de rejeição (no segundo caso), visto que ele se
orientava pela Doutrina Social da Igreja, que defendia uma solução económica de pequena
iniciativa privada (para maior distribuição de riqueza) e de maior protecção dos
assalariados/trabalhadores do que aquela que existia normalmente nos sistemas capitalistas de
então;

 Um projecto nacionalista e colonial que pretende manter à sombra da bandeira portuguesa vastos
territórios dispersos por vários continentes, "do Minho a Timor", mas rejeitando a ideia da
conquista de novos territórios (ao contrário do expansionismo do Eixo) e que é mesmo vítima da
política de conquista alheia (caso da Índia Portuguesa) e no qual radica a manutenção de uma
longa guerra colonial começada em 1961, uma das causas do desgaste e queda do regime, para
proteger os seus territórios ultramarinos;

 O regime era extremamente cauteloso nas relações diplomáticas, principalmente durante a


década 30 e 40, que leva Salazar, por um lado, a assinar um pacto com a vizinha Espanha
franquista e anticomunista e, por outro, a hesitar longamente entre o Eixo (compostos por
ditaduras) e os Aliados (compostos por democracias e pela União Soviética, um regime
comunista) durante a Segunda Guerra Mundial;

 Uma economia capitalista controlada e regulada por cartéis constituídos e supervisionados pelo
Governo, detentores de grandes privilégios, conservadores, receosa da inovação e do
desenvolvimento, que só admitirá a abertura da economia e a entrada regulada de capitais
estrangeiros numa fase tardia da história do regime, na década de 50;

 O regime era muito conservador, tentando controlar o processo de modernização do País, pois
Salazar temia que se esta não fosse controlada, iria destruir os valores religiosos, culturais e rurais
da Nação[carece  de fontes?]. Este medo de uma modernização segundo os modelos capitalistas puros que
imperavam no Mundo Ocidental contribuiu, depois da Segunda Guerra Mundial, para o
distanciameto progressivo de Portugal em relação a outros países ocidentais, principalmente nas
áreas das ciências, da tecnologia e da cultura;

 O regime, devido sobretudo ao carácter conservador e algumas vezes arrogante de Salazar [parcial?],
teimava e prevenia a sua evolução a par das tendências políticas mundiais, optando por se isolar
quando sujeito a pressões externas que exigiam a sua mudança, e somente nos seus últimos anos,
durante o período de Marcello Caetano, experimentou uma renovação "liberal" tentativa, logo
fracassada pelo bloqueio da extrema-direita;

 Uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos, exceptuando aqueles
controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais), e procurando organizar os operários e os
patrões de cada profissão em corporações, organizações controladas pelo Estado que pretendiam
conciliar harmoniosamente os interesses do operariado e do patronato, prevenindo assim a luta
de classes e a agitação social e protegendo os interesses/unidade da Nação (objectivo principal do
regime).

 A ilegalização da Maçonaria em Portugal, através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935[15]. Todos
os funcionários públicos eram obrigados a assinar uma declaração rejeitando a Maçonaria e
garantindo não serem membros dela, antes de poderem tomar posse nos seus cargos. A sede do
Grande Oriente Lusitano (o Grémio Lusitano), foi confiscada e encerrada sendo entregue à Legião
Portuguesa que nela instalou a sua sede. Dentro do regime, no entanto, havia várias
personalidades destacadas com um passado de filiação ou afinidades maçónicas, caso do
Presidente da República, Óscar Carmona (sendo esta informação não confirmada), e do primeiro
presidente da Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, mas que, todavia, não opuseram
qualquer resistência à ilegalização das chamadas «associações secretas»,e que, pelo contrário, a
apoiaram.

[editar] Presidentes da República durante o Estado Novo


Ver artigo principal: Lista de presidentes da República Portuguesa

 António Óscar de Fragoso Carmona (1933-1951)


 António de Oliveira Salazar (1951) (Presidente interino, desde a morte de Carmona até à eleição
de Lopes)
 Francisco Higino Craveiro Lopes (1951-1958)
 Américo de Deus Rodrigues Tomás (1958-1974)

[editar] Presidentes do Conselho de Ministros durante o Estado Novo


Ver artigo principal: Lista de primeiros-ministros de Portugal

 António de Oliveira Salazar (1932-1968)


 Marcello das Neves Alves Caetano (1968-1974)

[editar] Lemas

 "Deus, Pátria, Família."


 "Tudo pela Nação, nada contra a Nação."
 "Persistentemente, Teimosamente, não somos demais para continuar Portugal"
 "Enquanto houver um Português sem trabalho e sem pão a Revolução continua"
 "Temos uma Doutrina. Somos uma Força"
 "Orgulhosamente sós" [16]

[editar] Reorganização geral de Portugal levado a cabo pelo Regime

Nos primeiros anos do Estado Novo, Salazar, o seu "Chefe", teve o difícil trabalho de efectuar uma
reorganização geral de Portugal, particularmente nas áreas política, económico-financeira, social e cultural.
O seu principal objectivo era restabelecer a ordem e a estabilidade nacional. Mas, mesmo que estas já
estivessem restauradas em Portugal, Salazar defendia que ele iria continuar a Revolução Nacional
enquanto que no País ainda continuasse a haver uma única pessoa sem condições de vida aceitáveis. Com
esta afirmação, ele revelou que não iria abandonar o poder.

[editar] Economia e Finanças

Quando Salazar chegou ao poder, ele efectuou muitas reformas económico-financeiras, como a diminuição
substancial das despesas do País e a instituição de inúmeras taxas, conseguindo assim equilibrar as
Finanças (naquele tempo e mesmo agora, era considerado um "milagre" para muitos portugueses) e
aumentando o valor do escudo. Tentou combater a inflação, regulando simultaneamente os preços dos
produtos e os salários.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado Novo conseguiu manter Portugal neutro deste conflito
militar sangrento. Devido ao desiquilíbrio dos sistemas de produção da maioria dos países europeus,
Portugal ficou privado de importações e isto causou o aumento da produção nacional, incentivado pelo
regime. Durante boa parte do conflito, a balança comercial portuguesa manteve saldo positivo, com as
exportações a ultrapassarem as importações, facto que não se verificava desde há dezenas de anos, e que
até à actualidade ainda não voltou a verificar-se. Portugal exportava predominantemente produtos têxteis,
metais e volfrâmio para os países europeus em guerra (fossem eles apoiantes do Eixo ou dos Aliados),
acumulando assim muitas divisas e desenvolvendo de certa forma a economia portuguesa. Esta situação
económica conseguiu também atenuar os problemas provocados pela Guerra Civil Espanhola (1936-1939)
e pela própria Segunda Guerra Mundial, que trouxeram consigo o racionamento dos alimentos e um
disparo temporário da inflação.

Na década de 50, começou a abrir a economia ao estrangeiro e permitiu a entrada regulada de capitais
estrangeiros, desenvolvendo muito a economia (principalmente a indústria química e metalomêcanica, o
turismo, os transportes e o sector energético) e as infraestruturas, principalmente pontes, estradas e
barragens. É também neste período que o País entrou na Associação Europeia de Livre Comércio (1959). A
partir desta década até à morte de Salazar (1970), o PIB de Portugal teve um crescimento anual de 5.66%.

Mas, mesmo com este grande crescimento económico, a economia portuguesa, continuando a ser
predominantemente rural e a ser altamente supervisionada pelo regime, continuava a ser atrasada em
relação às grandes economias da Europa, embora menos do que durante a 1ª República. No fim da década
de 60, Portugal era um dos países com um rendimento per capita mais baixo da Europa, significando que
possuía uma mão-de-obra barata e que muita gente vivia da agricultura de subsistência, que não é
geradora de rendimentos, embora tal não signifique que existisse desemprego real, ou que não houvesse
produção abundante de alimentos. Havia contudo fortes desequilíbrios regionais em Portugal, com as
cidades (principalmente as que ficam junto ao litoral) a expandir-se e a beneficiarem do crescimento
económico, e as zonas rurais a continuarem a não se desenvolver ao mesmo ritmo, apesar do crescente
número de vias de comunicação e outras infra-estruturas (rede eléctrica, etc.) que nelas iam sendo
construídas. O atraso no desenvolvimento das zonas rurais, aliado ao súbito aumento da população a
chegar à idade adulta (provocado pela melhoria das condições de saúde e pela diminuição da mortalidade
infantil), fez com que se verificasse um excesso populacional e uma certa aversão ao atraso que se vivia nos
campos, o que levou quase 2 milhões de pessoas, na grande maioria delas oriundas das zonas rurais, a
emigrar ou para as cidades que então estavam a crescer, ou para o estrangeiro, principalmente França,
Estados Unidos da América, Canadá e Alemanha (entre os que emigraram para o estrangeiro, contavam-se
também muitos jovens que desejavam apenas fugir ao cumprimento do serviço militar em África).

Com o decorrer da Guerra Colonial Portuguesa, o desenvolvimento de Portugal a nível económico-


financeiro abrandou, devido sobretudo às enormes despesas militares efectuadas pelo regime.

[editar] A Questão do Ultramar

Ver artigo principal: Guerra Colonial Portuguesa

O Estado Novo mantém a ideologia colonialista da 1ª República pelo que procurou activamente manter as
suas possessões ultramarinas, consideradas pelo regime uma das fontes do prestígio e orgulho nacional.
Por esta razão, Salazar sempre se preocupou com os problemas do Ultramar e tentou resolvê-los. Logo em
1930, promulgou-se o Acto Colonial, mas na década de 50 e 60, apareceram novos problemas e
necessidades, por isso Salazar e os seus Governos começaram a evoluir o Conceito Ultramarino Português
e terminaram por se definirem uma Solução Portuguesa e uma Política Ultramarina Portuguesa, correctas
no acerto, realismo e modernidade, para resolver tais problemas. Mas, devido aos erros efectuados por
Salazar (com uma idade já muito avançada naquela época) e ao novo panorama internacional (a
condenação do colonialismo e a descolonização em massa de muitas colónias), os povos das províncias
ultramarinas portuguesas começaram também a procurar a sua autodeterminação e isto causou a Guerra
do Ultramar (1961-1974). Esta longa guerra causou muitas mortes, arruinou Portugal e o país começou a
sentir muitas dificuldades económico-financeiras, dificuldades estas que a Nação já não sentiu durante
muito tempo, e uma forte pressão internacional (a ONU, principalmente os E.U.A., condenava o
colonialismo).

Os problemas do Ultramar foram mal resolvidos e estes problemas causaram o alargamento da oposição ao
Estado Novo, a Guerra do Ultramar (1961-1974), dificuldades económico-financeiras e sociais, e,
posteriormente, a queda do regime.

[editar] Ordem e estabilidade

Salazar, além de reorganizar as finanças e de reanimar a economia, investiu nos sectores da educação
básica (construção de milhares de escolas primárias), da saúde (construção de um número considerável de
hospitais e centros de saúde, então designados por "Casas do Povo") e das infra-estruturas (barragens,
estradas e abastecimento eléctrico a algumas vilas e aldeias portuguesas), trouxe também estabilidade e
ordem ao País, efectuando a corporativização da Nação. Contudo, esta estabilidade foi conseguida à custa
da proibição de todos os partidos políticos (à excepção da União Nacional), à repressão e por vezes
perseguição dos alegados "destabilizadores" da Nação (designação que era aplicada tanto àqueles que
defendiam uma Oposição organizada como aos bombistas ou elementos de partidos com ligações a
potências inimigas de Portugal, suspeitos de espionagem a favor das mesmas), aliados ao controlo do
ensino, à formação de organizações juvenis e paramilitares a favor do Estado, à proibição de greves e à
censura de certas publicações. Outro factor que contribuiu para a obtenção da estabilidade foi a
manutenção da neutralidade portuguesa em vários conflitos, como a Segunda Guerra Mundial, e a
reparação das relações entre Portugal e a Igreja Católica (a maioria dos portugueses são católicos, muitos
deles devotos) com uma concordata.

Mas, na década de 60, o País começou a sentir alguma instabilidade por causa da crescente acção dos
opositores democráticos que iam tornar-se cada vez mais fortes porque cada vez mais pessoas queriam a
liberdade e, principalmente, o fim da Guerra do Ultramar (1961-1974). Esta situação instável veio a
agravar-se na década de 70, com a continuição da Guerra e com a "renovação em continuidade" de
Marcello Caetano (ele, o substituto de Salazar, afirmava querer renovar e tentar "liberalizar" o Regime, mas
não teve sucesso, o que resultou num enfraquecimento ainda maior do mesmo).

[editar] O Estado Novo e a Guerra Civil Espanhola

Na Guerra Civil Espanhola, deflagrada em Julho de 1936, estava fundamentalmente em causa a


implantação de um regime republicano parlamentar ou por um fascista em Espanha, que poderia
influenciar toda a Península Ibérica e até o resto da Europa. Por esta razão, o Estado Novo, liderado pelo
antiparlamentarista Salazar, alinhou-se com o General nacionalista Francisco Franco, sendo discutido
pelos historiadores se foram ou não enviadas forças militares portuguesas para Espanha (o que nunca foi
reconhecido oficialmente).

A posição e acção (sobretudo diplomática), a nível regional e internacional, de Portugal sobre o conflito
espanhol contribuíram muito significativamente para que a causa não-parlamentar republicana vencesse
em Espanha. Esta grande ajuda do Estado Novo aos nacionalistas/fascistas espanhóis levou com que
Portugal e Espanha assinassem mutuamente, em 17 de Março de 1939, o Tratado de Amizade e Não
Agressão Luso-Espanhol, que mereceu um protocolo adicional em 29 de Julho de 1940.

[editar] O Regime e a Segunda Guerra Mundial

Relativamente à Segunda Guerra Mundial, a atitude e a actuação de Salazar e do seu Governo podem
sintetizar-se em 4 aspectos dominantes:

 o de preservar a população portuguesa dos efeitos mais dolorosos da guerra, pelo que Salazar
tentou a todo o custo e conseguiu manter a neutralidade portuguesa neste conflito. Próximo
ideologicamente do Eixo, o regime português escuda-se nisso e também na aliança com o Reino
Unido para manter a tão desejada política de neutralidade. Esta assentava num esforço de não
afrontamento a qualquer dos lados em beligerância. Mas, mesmo assim, em Portugal continuava a
sofrer de falta de produtos alimentares e de inflação.

 a contribuição muito significativa, igualmente quase decisiva, para a manutenção da neutralidade


da Espanha. O alinhamento espanhol com o Eixo iria pôr seriamente em perigo a independência
de Portugal e o controlo do Atlântico pelos Aliados. Este alinhamento iria também ter projecção
negativa de dimensão imprevisível no decurso e resultado da guerra;

 a colaboração secreta com o regime nazi, como investigado por António Louçã (por exemplo em
livros como "Conspiradores e traficantes. Portugal no tráfico de armas e de divisas nos anos do
nazismo. 1933-1945"), ao mesmo tempo que, por outro lado, Portugal era a porta de fuga de
milhares de judeus da Europa para os Estados Unidos da América, embora muitos destes o
tivessem feito ao arrepio do regime como prova o tratamento que Aristides de Sousa Mendes
levou ao passar milhares de vistos de entrada em Portugal a Judeus e outros;

 o apoio oportuno dado aos Aliados, com a concessão de facilidades, nos Açores, às forças armadas
aliadas. Este apoio, sem qualquer afectação à soberania nacional, constitui um acto de grande
relevância e contribuiu muito para a sobrevivência do Estado Novo no pós-Guerra;

Com a vitória dos Aliados, em 1945, verificou-se no Ocidente uma expansão dos regimes democráticos
pluralistas, adoptado já por inúmeros países aliados (exceptuando, claro, a União Soviética e a sua àrea de
influência da Europa de Leste em que tratou de implantar regimes semelhantes ao seu). Estes países
queriam democratizar toda a Europa Ocidental, incluindo a Península Ibérica. Esta atitude pôs seriamente
o Estado Novo em perigo.

Assim, Salazar, teve de lutar arduamente, a nível externo, contra estas pressões, procurando fazer aceitar
internacionalmente a continuação do Estado Novo com as características que tinha e sempre tivera, e que
saldou por um sucesso. Este reconhecimento deveu-se ao facto de o regime ser muito anticomunista,
promovendo-o a um parceiro não desprezível dos E.U.A.. Foi mesmo ingressado na NATO (1949), onde
ficou a par precisamente das democracias ocidentais vencedoras da Segunda Grande Guerra, na ONU
(1955) e também na Associação Europeia de Livre Comércio, em 1959.

[editar] Principais abalos internos sofridos pelo Estado Novo


Ver artigo principal: Oposição à ditadura portuguesa

O regime sofreu diversos abalos provocados:

 Pelas tentações golpistas de forças de carácter abertamente fascista, à sua direita (Nacionais-
Sindicalistas) liderados por Francisco Rolão Preto, e também pelas forças anarquistas da
esquerda, nomeadamente os Anarcossindicalistas (tentaram até assassinar Salazar em 1938);

 Pelas conspirações putschistas dos reviralhistas republicanos, repetidamente frustradas;

 Pela acção das forças políticas oposicionistas, principalmente o Partido Comunista Português e os
democráticos, que periodicamente se candidatam a eleições presidenciais manipuladas
secretamente pelo Estado (sendo a mais conhecida e flagrante as Presidenciais de 1958, em que
concorre o General Humberto Delgado);

 Pelas tentativas golpistas efectuadas pelos militares democráticos (ex: Golpe Botelho Moniz, em
1961);

 Pelas acções de luta armada realizadas por oposicionistas ao regime, nomeadamente a Acção
Revolucionária Armada (ARA), ligada ao Partido Comunista Português, e as Brigadas
Revolucionárias (BR). Entre outras acções destacam-se o assalto a bancos e a destruição de
material militar;

 Pela Operação Ducineia, realizada em 1961, comandanda pelos capitão Henrique Galvão e
apoiada pelo general Humberto Delgado, que sequestrou o transatlântico português Santa Maria
e o levou para águas brasileiras. Com esta operação, considerada o primeiro acto de pirataria dos
tempos modernos, procurava-se chamar a atenção mundial para os problemas causados pela
ditadura de Salazar. O Santa Maria foi sequestrado em 22 de janeiro de 1961. Os passageiros e a
tripulação que apoiaram a acção receberam asilo político no Brasil, em 3 de fevereiro por Jânio
Quadros. O fotógrafo Antônio Lúcio e o repórter Miguel Urbano Rodrigues, ambos do jornal O
Estado de S. Paulo, encontraram o navio em águas brasileiras, em 29 de janeiro e contribuíram
para uma ampla difusão do acto.

 Pela acção dos jovens, principalmente universitários, a partir da década de 60, que queriam a
democracia, o fim da guerra colonial e a liberdade (uma das mais célebres acções foi a "Crise
académica de 1962");

 Pela forte emigração portuguesa (maioritariamente clandestina) a outros países europeus (ao
todo, emigraram cerca de 2 milhões de portugueses), especialmente França, começada a partir da
década de 60.

[editar] Queda do Estado Novo


Ver artigo principal: Revolução dos Cravos

O Estado Novo, após 41 anos de vida, é finalmente derrubado no dia 25 de Abril de 1974. O golpe que
acabou com o regime foi efectuado pelos militares do Movimento das Forças Armadas - MFA. O golpe
militar contou com a presença da população, cansada da repressão, da censura, da guerra colonial e da má
situação económico-financeira. Ficou conhecida por Revolução dos Cravos. Neste dia, diversas unidades
militares comandadas por oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos
estratégicos. As guarnições militares que supostamente eram apoiantes do regime renderam-se e
juntaram-se aos militares do MFA. O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os acontecimentos
deste dia culminaram com a rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo capitão Salgueiro Maia, no Quartel
do Carmo. Foi uma revolução considerada "não-sangrenta" e "pacífica", sendo que no dia 25 de Abril
propriamente dito houve apenas quatro mortos, vítimas de disparos da polícia política, junto à sua sede.

[editar] Notas

1. ↑ Vide, por exemplo, a História de Portugal de José Hermano Saraiva e a obra homónima de
Joaquim Veríssimo Serrão.
2. ↑ O regime fundado por Salazar conservou a forma de governo republicana, mas nunca adoptou a
designação "II República", preferindo designar-se oficiosamente, isto é, extraconstitucionalmente,
como um "Estado Novo". Dado o apoio inicial que o Estado Novo recebeu por parte de alguns
monárquicos, a questão do regime manteve-se em aberto até 1950-1951. Com a morte do
Presidente Óscar Carmona em 1951, e apesar da oposição das Forças Armadas a uma mudança de
regime, revelada pelo Ministro da Defesa Santos Costa, a restauração da Monarquia foi proposta
por Mário de Figueiredo e Cancela de Abreu, verificando-se então a decisiva oposição de Salazar,
Marcello Caetano e Albino dos Reis.
3. ↑ Marcello Caetano, Renovação na Continuidade, Verbo, Lisboa, 1971.
4. ↑ Ver, por exemplo, Manuel de Lucena, O Marcelismo (A Evolução do Sistema Corporativo
Português, volume II), Perspectivas e Realidades, Lisboa, 1976.
5. ↑ Tiago Fernandes, Nem ditadura nem revolução. A Ala Liberal e o Marcelismo (1968-1974),
Lisboa, D. Quixote, 2006.
6. ↑ Maurras foi expressamente reconhecido pelo próprio Salazar como o doutrinário com maior
influência na sua formação política pessoal.
7. ↑ Marcello Caetano, dissidente do integralismo em 1929, em A Constituição de 1933. Estudo de
Direito Político (Coimbra Editora, 1956, pp. 2-3), afirmou que o denominador comum dos
diversos elementos políticos que estiveram na origem do Estado Novo "estava no repúdio do
sistema parlamentar e no desejo de um regime com um governo estável, autoritário e
responsável", acrescentando: "Tal modo de ver era favorecido pela larga difusão das doutrinas do
Integralismo Lusitano e pelo ambiente europeu". No entanto, os integralistas lusitanos
combateram o regime. O integralista Hipólito Raposo classificou o regime como "Salazarquia". O
integralista Luís de Almeida Braga considerou-o um "ditadura administrativa manhosamente
transformada em ditadura policial", considerando que aquele "híbrido sistema político, tirânico e
vingativo", estava "a arrastar-nos para a pior catástrofe da nossa História", etc.. [1].
8. ↑ "Ditadura Militar", com referência ao período 1926-1933, é a designação adoptada por Marcello
Caetano, em A Constituição de 1933. Estudo de Direito Político (Coimbra Editora, 1956, p. 1, pelo
Dicionário de História de Portugal (vols. 7, 8 e 9), de António Barreto e Filomena Mónica (dir.),
Figueirinhas, Porto, 2002; pela entrada "Ditadura Militar" do Dicionário de História do Estado
Novo, de Fernando Rosas e José Maria Brandão de Brito (dir.), Bertrand, Lisboa, 1996; por
Douglas Wheeler, A Ditadura Militar Portuguesa (1926-1933), Europa-América, Mem Martins,
1986; por A. H. de Oliveira Marques; por enciclopédias portuguesas, como a Infopédia
(www.infopedia.pt). Numa cronologia mais fina, de natureza político-jurídica, há, no entanto,
quem distinga dois períodos: Ditadura Militar (1926-1928), que cessa na eleição do presidente da
Républica Óscar Carmona; e Ditadura Nacional (1928-1933), desde a eleição de Carmona até à
entrada em vigor da Constituição de 1933 (Cf. José Manuel Quintas, "Presidência da República";
"Eleições para a Presidência da República" in Dicionário de História do Estado Novo, de
Fernando Rosas e José Maria Brandão de Brito (dir.), Bertrand, Lisboa, 1996).
9. ↑ Manuel de Lucena, A evolução do sistema corporativo português, 2 volumes, Lisboa,
Perspectivas e Realidades, 1976; idem, “The Evolution of Portuguese Corporatism ” in Lawrence
S. Graham e Harry M. Makler, Contemporary Portugal: The Revolution and Its Antecedents,
Austin, University of Texas, 1979, 48-62
10. ↑ Também chamado de Tratado de Amizade e Não Agressão Luso-Espanhol
11. ↑ Marcello Caetano, Lições de Direito Corporativo, Lisboa, 1935; João Pinto da Costa Leite
(Lumbrales), A Doutrina Corporativa em Portugal, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1936; Fezas
Vital, Curso de Direito Corporativo, Lisboa, 1940.
12. ↑ Hipólito Raposo e Luís de Almeida Braga, “Reparos à Constituição” in Integralismo Lusitano –
Estudos Portugueses, Vol. I, Junho de 1932, pp. 137 ss; Hipólito Raposo em entrevista ao jornal
Revolução, nº 74, de 6 de Junho de 1932
13. ↑ José Manuel Quintas, "Os Monárquicos" in Iva Delgado, Carlos Pacheco e Telmo Faria (coord.),
Humberto Delgado - as eleições de 58, Lisboa, Vega, 1998, pp. 137-173
14. ↑ Hipólito Raposo, Amar e Servir, Porto, Livraria Civilização, 1940; José Manuel Quintas, Filhos
de Ramires - As origens do Integralismo Lusitano, Lisboa, 2004, pp. 17-19, 28; idem, "O
Integralismo face à institucionalização do Estado Novo: Contra a «Salazarquia»" in História, Ano
XXIV (III série), n.º 44, Abril, 2002
15. ↑ consultar o texto
16. ↑ Frase muitas vezes descontextualizada, dado que o Estado Novo nunca defendeu um Portugal
isolacionista, sendo prova disso o facto de, durante o Estado Novo, Portugal ter aderido à
Associação Europeia de Livre Comércio e à NATO. Esta frase foi proferida no contexto das
pressões da ONU no sentido de que Portugal desse sumariamente a independência às chamadas
colónias ou províncias ultramarinas sem qualquer auscultação da vontade das respectivas
populações.

[editar] Bibliografia

 António Ferro - Salazar, le Portugal et son Chef, Paris, 1934.


 Pedro Teotónio Pereira - A Batalha do Futuro, Lisboa, 1937.
 Marcello Caetano - O Sistema Corporativo, Lisboa, 1938.
 J. Teixeira Ribeiro - Princípio e Fins do Sistema Corporativo Português, Lisboa, 1938.
 A. Castro Fernandes - O Corporativismo Fascista, Lisboa, 1938.
 C. Rudel - Salazar, Paris, 1969.
 Manuel de Lucena - A evolução do sistema corporativo português, 2 volumes, Lisboa, Perspectivas
e Realidades, 1976.
 Manuel de Lucena - “The Evolution of Portuguese Corporatism ” in Lawrence S. Graham e Harry
M. Makler, Contemporary Portugal: The Revolution and Its Antecedents, Austin, University of
Texas, 1979, 48-62.

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