Você está na página 1de 1

Gravação: Referência ou interferência?

André Albiergio de Lima Couto

Depois da padronização da escrita musical, do surgimento da impressão de música em


massa e a invenção da gravação de áudio foi uma das mudanças que causaram maior impacto
na forma como fazemos e ouvimos música, pois trouxe para sociedade a “materialização” das
performances musicais, que antes só eram acessíveis nos concertos ao vivo.
A possibilidade de deixar para posteridade a gravação de obras musicais nos dá, não
só a gravação para o entretenimento, mas também permite que os compositores e intérpretes
eternizem sua interpretação dessas obras. Por sua vez, a ampliação do acesso às gravações
provocou uma uniformização dessas execuções à medida em que esse recurso foi se tornando
mais acessível, tornando as execuções muitas vezes parecidas uma com as outras.
Um outro aspecto onde as gravações podem interferir negativamente no fazer musical,
é que a possibilidade de edição do som com a correção desafinações, erros de articulação,
dinâmica entre outros elementos que inevitavelmente podem acontecer na performance ao
vivo, criam um padrão de execução inalcançável, muitas vezes gerando frustrações para os
intérpretes.
Apesar de haverem os aspectos onde as gravações podem se tornar uma interferência,
os benefícios que esse recurso trouxe para a sociedade superam qualquer um desses efeitos
colaterais. Principalmente nos dias atuais, em que temos acesso gratuito à uma infinidade de
obras gravadas que nos servem não só de entretenimento, mas também como base na
construção de nossa própria interpretação como músicos.

Você também pode gostar