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JUAZEIRO DO NORTE-CE
2018
VICTOR HUGO ALMEIDA GOMES
CDD 780.7
Agradeço a Deus por ter criado a música e pela bênção de poder estudá-la. Vem
dele e é para Ele todo som.
Agradeço à minha família por todo o amparo desde sempre. O sustento, a
educação, a personalidade, a força para lutar. Aprendi tudo vendo cada exemplo de cada
uma daquelas pessoas as quais eu não seria quem sou sem suas individuais existências.
À Igreja Batista Regular Canaã que foi minha família de alma pelo vínculo
sanguíneo que temos em Cristo Jesus. Estiveram comigo em momentos de festa e de luta.
Cada servo que passou por aquela igreja deixou sua marca em minha vida e muitos deles
tenho carinho e respeito semelhante a mães e pais.
Aos meus amigos que se fizeram presente sorrindo, chorando e cantando em
nossos melhores momentos. Obrigado por fazer música comigo. Encaixo neste parágrafo
todos os amigos músicos que encararam os desafios musicais mais improváveis e que
fizeram esta pesquisa possível.
Ao meu orientador Prof. Dr. Ricardo Nogueira de Castro Monteiro que foi um
guia intelectual mostrou livros, teorias, possibilidades. Também foi incentivo para a área
da análise e da regência sendo o maior facilitador de oportunidades de aprendizado. A
principal delas foi o intercâmbio para a Academia de Música Gheorghe Dima, Cluj-
Napoca, Romênia.
É igualmente válido lembrar de agradecer à Universidade Federal do Cariri como
quase metonímia para tantos professores e servidores que estiveram fazendo seu bom
trabalho e que, sem eles, não só o meu, mas nenhum trabalho seria realizado com a devida
competência. Neste grupo enfatizo o Prof. Dr. Marco Antonio Silva, coordenador do
projeto Orquestra UFCA, e os professores Me. Carlos Renato de Lima Brito e Dr. Márcio
Mattos Aragão Madeira, Coordenadores do Coral da UFCA, que me deram apoio e espaço
para praticar a regência, ainda que não seja essa a área de maior foco do nosso curso.
Agradeço especialmente aos meus irmãos de outras mães Danilo e Quemuel. O
primeiro com o seu exemplo, carinho, companheirismo por tantos anos sem nunca negar
ajuda, orações, risadas, abraços, família. Ao segundo, rememoro o compartilhamento de
nossas dificuldades em experiências tensas e felizes, aprendizados, surpresas, estresses e
comida. Pela vida de ambos, agradeço a Deus por ter tido o prazer de ser parte da vida de
vocês.
A meu colega e amigo Cícero Emanuel que me ajudou com questões acadêmicas
as quais eu não era familiarizado.
Por fim, a Millena que foi, além de melhor namorada que Deus poderia me
dar em termos de apoio, carinho e ouvidos, foi a principal incentivadora para que eu me
aprofundasse na regência. Foi minha professora de inglês e conselheira, tradutora e
cozinheira. Doou suas energias para que meu processo de formação acadêmica fosse o
mais intenso e melhor aproveitado possível.
A terra tinha muitas cores – cores novas,
quentes e brilhantes, que faziam a gente
exaltar… Até que se visse o próprio Cantor.
Então, todo o resto seria esquecido.
INTRODUÇÃO
........................................................................................................................................ 10
CAPÍTULO I: A
Análise………………………………………………….................................................14
1.1: O Regente e a Análise…………………………………………………………......14
1.2: Análise do Texto………………………..……………………………………..……16
1.3 Análise da Música para o Texto……………….……………………..……………..18
CAPÍTULO II: O
Ensaio............................................................................................................................. 29
CONCLUSÃO...............................................................................................................44
REFERÊNCIAS............................................................................................................46
ANEXOS........................................................................................................................48
10
Introdução
representatividade acadêmica que funções com mais numerosas. Além disso, podemos também
enxergar a importância de se divulgar as várias teorias da análise semiótica como a de Hatten.
Unir a teoria de análise estilística à performance musical e dar movimento à ambas as áreas.
Nesse mesmo sentido, existe a preocupação com a bibliografia da Universidade Federal do
Cariri (UFCA). Faz-se extremamente necessário a leitura de temáticas como essa para que o
assunto gere questões e as mesmas sejam motor para o crescimento em número da biblioteca
no curso de Licenciatura em Música da UFCA. Há também uma motivação pessoal. Como
amante da área e futuro profissional, ter hoje um direcionamento analítico, pedagógico e
performático, ainda que inicial, é de suma importância para quem decide entrar no mercado da
música erudita, ainda mais em um campo tão limitado em vagas, mas de ampla concorrência.
O primeiro tópico se deterá, por motivos metodológicos, ao trabalho analítico
puramente. É nesse que trataremos da partitura e os significados colocados nos signos na pauta.
Verificaremos questões melódicas presentes na relação entre as vozes, a parte harmônica,
levando em conta as diferenças presentes em cada trecho e seus significados, as diferentes
texturas e tudo isso aplicado ao texto usado por Lounsbrough. Lembrando da análise da poesia
que possui idiossincrasias por ser retirada de uma tradução do livro bíblico Epístola aos
Romanos.
Entendendo que o texto e a música demandam estudos separados, o primeiro capítulo
é o maior dos capítulos. Essa leve diferença no que diz respeito ao volume simboliza também
o tempo que o regente naturalmente dedica em cada parte.
O ensaio (segundo capítulo) , é uma parte muito volumosa do trabalho do regente. Por
certo não demanda a mesma quantidade de páginas do passo analítico, mas com certeza, na
prática, é onde estão a maioria das memórias de qualquer maestro. É no ensaio onde acontecem
as trocas de experiências entre diretor e coralistas e entre coralistas e coralistas. É também
nesse ponto onde o lado pedagógico da função de líder do coro se confunde com o aspecto
performático e chega à sua plena forma deixando claro o motivo para a existência desse serviço.
Como objetivo dos dois primeiros capítulos, a performance (terceiro tópico), será
tratada como objeto analisado tanto como coisa em si, quanto a específica preparação da obra
objeto deste trabalho. Neste, abordaremos a função do regente enquanto intérprete dialogando
com a tese de Angelo Palma da Fonseca “Uma concepção musical para as ‘Impressões
Sinfônicas’ Festas das Igrejas, do compositor Francisco Mignone: O uso da Hermenêutica do
ponto de vista da Regência”. Apesar do autor se aprofundar em outra filosofia interpretativa, a
percepção dele sobre o trabalho do regente nos servirá de paralelo para este trabalho. Sem
13
esquecer da presença da tese de Fonseca (2008) na formação do autor deste trabalho enquanto
regente.
14
1 A Análise
Para Fonseca (2008), existem exigências extras sobre a batuta. Ele explica, que em
outras artes, como pintura, escultura, artesanato, o autor produz a obra diretamente para o
público. Não há um executante como intermediário. O compositor necessita de um intérprete,
ainda que ele mesmo o seja. A presença do maestro é uma dupla intermediação e aí está a
explicação do surgimento da regência estar entre compositores que dirigiam grupos musicais.
O autor nos leva a entender que a função do condutor exige conhecimento consistente sobre
diversas áreas da música como composição, teoria musical e história da música. Sem
mencionar prática instrumental, que inclui canto para regentes de coro, e aspectos humanos de
liderança; os quais trataremos no capítulo posterior.
É válido lembrar que peças corais têm algo além de simplesmente poesia banhada em
música. A textura uníssono, a duas, quatro, seis ou oito vozes, os contrastes entre composição
tonal, modal ou mesmo atonal de um ponto de vista do século XX e XXI, a condução das vozes
nas progressões harmônicas até as cadências, caso estejam sendo levadas em conta os tratados
tonais ou mesma progressão que indique o comportamento modal com paralelismos sem
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priorizar os chamados acordes e sua gravitação em torno da tônica, sem esquecer de como soa
uma mesma nota cantada com fonemas diferentes.Todas essas questões permitem, a uma
mesma peça, possibilidades em reforçar o que está escrito no texto o qual será cantado por um
grupo dividido em pelo menos quatro timbres genéricos com alternativas diferentes para a
expressão musical da poesia cantada.
É embasando-se nessa carga que Fonseca (2008) explora o exercício analítico do
maestro. Ele aborda o processo analítico da hermenêutica da música, diferente do que faremos
neste trabalho. A Análise Estilística de Hatten será nosso direcionamento analítico.
A análise estilística consiste em balancear significados musicais idiossincráticos ao
estilo da obra e questões dependentes do contexto, poesia, caso haja, e aspectos culturais. Sobre
esse método, Robert Hatten expõe em seu artigo “Four semiotic approaches”:
O que Hatten diz acima é para explicar sua decisão por analisar com esse viés. Segundo
o próprio Hatten, seu método é um tanto diferente, atípico em suas palavras. Mas não é
estranho. Leva em conta aspectos claros dos estilos composicionais e sua presença no repertório
mais usual. Será nossa preocupação a olhar para a obra “Oh, the Depth of the Riches” de
Stephen Mark Lounsbrough.
Junto à análise de Hatten, utilizaremos diretrizes da hermenêutica bíblica para a
compreensão do texto presente na obra, meramente para demonstrar como o produto de análise
contribui para o trabalho de regência. A poesia foi recolhida da Epístola de Paulo aos Romanos,
capítulo XI, versos trinta e três ao trinta e seis. É interessante começarmos por esse
entendimento para que, ao olhar para a partitura analiticamente, tenhamos pressupostos
interpretativos. Estes pressupostos servirão para comparar o significado do texto original à
musicalização feita por Stephen.
1
É importante reconhecer uma abordagem para a reconstrução de estilos com o competências,
semelhantemente a competência de uma gramática, mas incluindo poética, de mesmo modo. Meu
modelo mais flexível de estilo, exemplificado até certo ponto por Charles Rosen, permitiria o teórico
explicar um evento único como talvez atípico, mas não necessariamente como anomalia, já que isso
pode ser entendido como uma concretização de um princípio estilístico compartilhado. (Tradução
nossa).
16
uma determinada localidade, além prestarem relatórios dos trabalhos de pregação pois
recebiam auxílio financeiro dessas igrejas.
Paulo se dirige à igreja de Roma por meio de Epístola e, segundo o próprio apóstolo na
carta, tem o propósito de relembrar o evangelho aos romanos. Fazia parte do intuito paulino
relembrá-los de verdades ditas por Cristo e aprofundar teologicamente em dois conceitos: à
salvação e diretrizes para a vida prática em igreja e em sociedade. A poesia que temos em mãos
é o fim poético da primeira parte, a soteriologia, e introdução da segunda parte, a eclesiologia
e a sociologia. Os teólogos do novo testamento costuma chamar o trecho de “a doxologia de
Romanos onze”. O termo é uma palavra que, em grego koiné (idioma em que o Novo
Testamento foi escrito originalmente), significa literalmente “palavras de glória” ou “estudo
sobre a glória”.
Esta poesia faz contraponto a outra poesia dentro do mesmo livro que não é composta
por Paulo, mas compilada por ele no capítulo III da epístola. Trata-se de uma irônica junção de
trechos dos Salmos judaicos expondo os males de povos inimigos em contexto de guerra. Paulo
os lança para ironizar as más práticas dos judeus e gregos na igreja romana do primeiro século.
Após isso, o autor explana questões teológicas/filosóficas profundas e termina com a poesia
que aqui analisamos. Esta, por sua vez, tem o intuito de falar do próprio Deus contrastando-o
com o homem que foi descrito na primeira poesia.
Oh, the depth of the riches, both of the wisdom and knowledge of God!
How unsearchable are His judgments, and His ways past finding out.
For who hath known the mind of the Lord? Who hath been his counselor? Or
who hath first given to Him that it might be recompensed unto Him again?
For of Him, and through Him and for Him are all things.
To Him be glory for ever and ever. Amen! (Romanos 11:33-36)
[...]are larger style types with stable correlations and flexible interpretive
ranges. They consist of not just one but typically a bundle of oppositional
distinctions. Manifestations of topics -- their compositional tokens -- need not
include all the characteristic features defined by the type, but they must at
least contain features that are sufficiently distinctive to cue recognition of the
type. (HATTEN, 2005. p 13)
O autor define tópico como uma tipificação fixa. Para ele, cada estilo possui um campo
semântico específico determinado pelo próprio estilo. Assim, os tipos de música carregam
estilisticamente possibilidades interpretativas. O autor coloca tópico em oposição ao tropos,
que é por ele definido como:
Eu estava preocupado em explicar uma forma nativa de metáfora, atingida
por meios musicais, que depois poderiam ser opostos para correlações mais
literais entre som e significado. Conexões entre som e significado cultural têm
sido consideradas por teóricos cognitivos como metáforas desde que
implicaram em um mapeamento entre dois domínios. Em comum uso
linguístico, porém, o termo metáfora é geralmente reservado para os usos
figurativos da linguagem que tem poder criativo, que criam uma nova fusão
de significado, e que requerem desdobramento interpretativo, não meramente
o reconhecimento, como no caso de tópicos familiares e suas correlações.
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No entanto, na repetição o compositor nos traz, além das sopranos com maior salto,
dinâmica diferente. Saindo do original piano, um crescendo para forte e uma sustentação com
fermata. Assim, a frase “Oh, the depth of the riches” ganha ênfase. Não é contraste harmônico,
porém a dinâmica já seria suficiente para demonstrar que aquele trecho da poesia é importante
para a obra. O autor torna ainda mais clara a importância dessa parte do texto ao repetir a
primeira estrutura mais uma vez antes de prosseguir desenvolvendo sobre a poesia inteira. Na
continuação da parte verbal, ele trabalha com diferente estrutura harmônica mudando, com
propósito, o sentido do que estava sendo dito com cluster:
resolução em cadência plagal. Textura homofônica até a parte final do trecho onde o soprano
colabora para sutil polifonia com a sustentação de uma nota, provocando movimento oblíquo
com as outras vozes e no último acorde, as contraltos possuem a suspensão “2-3” para finalizar
o período com cadência plagal, mas com o acorde de tônica suspenso que atrasa a resolução.
Agora, saltaremos para o fim da obra para comparar a estética utilizada para o mesmo
texto.
Na parte final da peça, a fórmula de compasso é alterada de 4/4 para 2/2, o que significa
que as figuras rítmicas valem o dobro que valiam na primeira parte. Assim, a rítmica permanece
quase completamente idêntica à introdução da obra, com exceção apenas a duração da
penúltima nota, mostrando reforço à estrutura primária. Porém, nesta construção, pode-se
constatar que, não mais partindo de uníssono para um cluster, mas já inicia com o acorde da
relativa em posição aberta seguido pela tétrade com mesma função na terceira inversão. Os
próximos dois acordes, referentes às sílabas da palavra riches, são de função subdominante e
dominante respectivamente, porém com adição de tensões como nona e décima primeira não
perdendo o caráter que remete a mistério das versões em cluster sobre a mesma palavra.
Stephen, conhecendo o texto de Romanos, percebe que o primeiro dizer sobre a
profundidade da riqueza é o guia para o restante da poesia. O restante do trecho que exalta
faculdades intelectuais de Deus, explicando o que há de profundo e a que se refere o apóstolo
quando escreve “riqueza”, funciona como resolução dos mistérios causados pela “profundidade
da riqueza”. O compositor entende e traduz em sons que tal profundidade soa misteriosa como
um cluster propõe, mas o constrói em uma palavra que costuma aparecer radiante e bem
resoluta. “Riqueza” em um cluster é contra senso em primeira vista. No entanto, ao se tratar de
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uma riqueza impossível de ser alcançada pelos leitores, e ouvintes, Lounsbrough faz questão
de manter as tensões ainda na repetição tonal dentro da construção do sentido na música.
Essas informações são o material de trabalho do regente. Prosseguindo com a fixa idéia
de Fonseca (2008) de que é responsabilidade de quem conduz interpretar, o maestro irá chegar
ao ensaio com informações sobre a obra com o objetivo de que elas guiem a produção sonora.
O maestro é, como trataremos no segundo capítulo, o professor do grupo que, neste
caso, é um coral. Trará explicações sobre os aspectos estilísticos do cluster enquanto
significado e o que isso molda o dizer “Oh, the depth of the riches”, por exemplo. Com esse
exemplo, o coro também entenderá, pela análise do regente, qual a relação entre a frase saindo
de uníssono para cluster e a mesma frase escrita de maneira tonal como na última vez que ela
é cantada na música. Com isso, as nuanças de fraseado, dinâmica, ponto culminante, etc,
precisarão ter conexão como os trecho da obra já o tem.
Há também contrastes que precisam ser lembrados para que o côro transmita as
sensações que competem aos trechos os quais exemplificaremos agora. Duas partes com letras
diferentes e opostas no que diz respeito ao tipo de frase, mas que utilizam a mesma forma
composicional: o fugato
Fugato, segundo o dicionário Grove acessado pelo website Oxford Index, é:
Um termo que geralmente se refere hoje a uma parte da música que lembre
uma fuga em alguns aspectos, mas não possui algumas características
necessárias de uma fuga verdadeira, ou a uma passagem fugática livre dentro
de um movimento predominantemente não-fugal.
A term that generally refers today either to a piece of music that resembles
fugue in some ways but lacks certain necessary characteristics of a true fugue,
or to a loosely fugal passage within a predominantly non-fugal movement.
Acima pode-se observar o tema de cada uma das partes as quais nos referimos como
opostas (complementares) em significado dentro do texto, porém utilizando-se do mesmo estilo
composicional.
Os gêneros imitativos trazem em sua forma a ênfase insistente em um tema apresentado.
O primeiro tema possui uma pergunta retórica como letra. Indagações dessa natureza possuem
fim em si mesma. Não há necessidade de resposta, tampouco meditação profunda. O
questionamento “For who hath known the mind of the Lord?” representa uma pergunta
meramente retórica, respondida negativamente pelo imaginário religioso. A resposta está clara
e a repetição a tornaria redundante. Porém, o compositor faz questão, não somente de repetir a
pergunta, como de envolvê-la em um gênero repetitivo por natureza. A indagação retórica é
repetida em fugato buscando aprofundamento em um questionamento já respondido. Podemos
verificar na partitura abaixo:
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Stephen, com seu fugato, nos força a meditar se realmente alguém poderia ter conhecido
a mente de Deus. Essa insistência é idiossincrática também ao segundo tema que, em seu texto,
possui uma sequência de informações em resposta a indagações feitas anteriormente na mesma
poesia. “For of Him, and through Him, and for Him…” configura-se um tipo de rima em torno
do som do vocábulo “Him”. Dessa forma, a estética musical escolhida reforça a repetição do
fonema. Vejamos a construção do fugato em torno da letra que, em si, possui repetição de
ideias:
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2 O Ensaio
O Ensaio é o momento em que o regente ensina o que foi apreendido na fase anterior.
O título internacional dado ao condutor tem ligação direta com o serviço de ensinar. O maestro
é reconhecido por sua função pedagógica. Além de que, como já exposto baseado em Fonseca
(2008), a conexão entre regente e grupo é um fenômeno que não se limita ao musical, mas ao
aspecto humano junto a isso. Ambas as categorias de vínculo estarem presentes é
imprescindível para que o ensaio funcione e, por conseguinte, o resultado final seja o desejado.
Acerca da atividade regência, Angelo Rafael Palma da Fonseca (2008) expõe:
Regência, do latim regentia, implica na ação de dirigir, comandar, guiar,
conduzir. Um grupo quando se reúne para desenvolver qualquer atividade
específica necessita de um direcionamento para alcançar suas metas, e esse
direcionamento, na esfera do ato interpretativo em música, fica a cargo da
regência, que consiste em conduzir cantores e/ou instrumentistas durante a
preparação e a realização do momento musical. (FONSECA, 2008. p. 6)
possível, tarefa de buscar sonoridades próximas de épocas onde não eram possíveis registros
de áudio:
Provar com absoluta certeza qualquer coisa sobre sonoridades e práticas
interpretativas, antes da invenção das gravações, é algo evidentemente difícil.
Há, entretanto, grande quantidade de indicações e evidências que podem
orientar o regente a respeito da prática vocal em séculos passados.
(FERNANDES, 2006. p. 52)
O que nos é válido para continuar abordando sobre o ensaio como parte crucial da
performance coral especificamente, mas não exclusivamente. O que se pode entender unindo
Fernandes aos teóricos citados anteriormente é a complexidade que o ensaio agrega,
principalmente concentrando-se no serviço do regente. O ensaio não é a parte da performance
que demanda mais tempo, mas a que conjuga a maior parte das informações de cunho teórico
e prático.
Até aqui, tratamos da responsabilidade do regente no que diz respeito à parte musical.
A liderança interpretativa exposta por Fonseca (2008) diz respeito ao ato de interpretar em si,
demonstrando que a concepção a ser seguida a priori deve ser a do condutor e as decisões
devem ser tomadas por ele para fins de homogeneidade e objetividade performática. Essa ideia
corrobora com o argumentado por Prueter (2010) que enfatiza a função pedagógica do maestro,
demonstrando que esse ofício exerce a liderança através do ensino do conteúdo musical.
Figueiredo (1990) continua exprimindo a importância da preparação técnica do regente para
exercer o sugerido pelos dois teóricos anteriores e é complementado em nossa argumentação
por Fernandes (2006) abordando as questões sonoras estilísticas da interpretação que, segundo
os quatro autores, é responsabilidade da liderança; do maestro.
Com todas essas informações sobre a parte musical, ainda nos falta compreender
aspectos humanos presentes no ensaio. Acerca disso, próprio Fonseca (2008), apesar de sua
ênfase na interpretação musical, manifesta:
Porém, é importante ressaltar que o regente sempre expressará o seu discurso
artístico juntamente com outros indivíduos, dirigindo grupos de música,
sejam eles bandas sinfônicas, grupos de câmara, coros e/ou orquestras. Esse
fato acrescenta às áreas musicais supracitadas (teórica, prática e teórico-
prática), um quarto campo do conhecimento ao qual identificamos como o
das relações humanas. A intimidade com essa área e suas ramificações, tais
como psicologia, antropologia, sociologia e filosofia, é de suma importância
para um bom andamento dos trabalhos do maestro frente aos conjuntos
musicais. (FONSECA, 2008. p. 6)
compreensão de questões históricas gerais, contexto atual mundial, concepção de senso comum
do lugar onde está atuando, são indispensáveis para o lidar com um grupo que, por ser humano,
é heterogêneo por essência.
As questões humanas juntas formam o fator que diferencia o instrumento do regente
dos demais instrumentos musicais. Para o exercício da prática instrumental puramente, não se
faz necessário o contato humano no que diz respeito aos aspectos imprescindíveis para o
sucesso de seu trabalho e alcance de seus objetivos performáticos. Diferente do regente que é
completamente vinculado à sua relação com os músicos para a conquistas de seus alvos
enquanto intérprete. Embora óbvio, há que se ressaltar a existência de grupos sem um regente
que exerça exclusivamente por gestual de condução, mas não é verdadeira a proposição oposta.
Regentes são inteiramente dependentes da existência de um grupo.
Em entrevista para esta pesquisa um dos coralistas deu um depoimento acerca da
convivência no ensaio. Suas palavras espontâneas foram a motivação para destacar o contato
afetivo que é extremamente visível durante os ensaios. Disse:
Esse depoimento foi dado por um jovem que tem ainda hoje crescido muito e,
pessoalmente, me orgulha muito. Um breve relato sobre algo que toca as emoções de músicos
e educadores e que expõe com clareza esta face do trabalho do regente.
Sabendo de tais inculbências que recaem ao maestro no que diz respeito ao ensaio,
podemos narrar sobre o processo de ensaios da música Oh, the Depth of the Riches enxergando
o ensaio como parte indiscutivelmente indispensável para a performance musical.
A ideia inicial de realizar a música em questão partiu do gosto pessoal do regente e da
sua amizade com o compositor. Um ano antes do surgimento desse interesse, eu havia
executado como regente outra obra de Stephen ao mesmo tempo que lembrava com muita
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saudade de quando toquei “Oh, the depth of the riches” na Semana de Música Sacra do
Seminário Batista do Cariri, Crato-CE.
Nosso primeiro projeto que foi realizado da forma mais privada e informal possível. A
minha ideia conquistou quatro amigos mais próximos (todos alunos da Universidade Federal
do Cariri) e logo convidamos outros músicos. À semelhança do primeiro, Oh, the depth of the
riches foi um acordo entre amigos que aceitaram o desafio de realizar uma obra coral juntos.
Sem fins lucrativos ou acadêmicos a priori, iniciamos os ensaios no Complexo Cultural
Schoenberg (onde estava servindo como coordenador do departamento de música no ano do
concerto) e os encontros eram ensaios de coral regulares. No entanto, fazia parte da nossa
experiência que não ensinássemos as melodias em ensaio. Elas seriam aprendidas
separadamente e em ensaios de naipe não liderados por mim como maestro. Dessa forma,
usaríamos o ensaio para questões de interpretação apenas. Entrevistamos alguns coralistas que
participaram do concerto e um deles, a quem intitulamos “corista A”, deu a seguinte declaração:
Além da alegria de fazer parte de um projeto assim (pois amo coral), deu pra
sentir um ar diferente. Não era obrigatório e ao mesmo tempo demandava
muita responsabilidade. Chegar nos ensaios sabendo a minha parte fez o
ensaio serem totalmente diferente dos que eu já havia participado.
O corista A trouxe-nos a perspectiva de alguém que não era novato na prática coral,
mas participava de corais com fins educativos como objetivo. Vale lembrar que nosso objetivo
era performático e as questões pedagógicas estão envolvidas pela natureza da função do regente
e do ensaio de coral como aspectos idiossincráticos a ambas, como já dissertamos embasados
por autores na primeira parte deste capítulo.
Pensamos em um coro grande com ao menos doze integrantes por naipe. Obviamente
esse número não durou por todo o processo. Por muitos motivos, os coristas precisavam desistir
da participação no projeto. Porém o aspecto que foi a força motriz para o encabeçamento da
ideia foi também o que impulsionou a maior parte a permanecer. A obra tinha um ar de
novidade para os coristas. O “corista B”, segundo entrevistado, destacou a beleza da obra e o
fato de não ter tido contato com algo do tipo na prática. O mesmo declarou ser um corista
iniciante e que o repertório o qual estava acostumado era baseado no gênero de sua igreja local
onde costumava cantar. Declarações como a do corista B nos fazem entender a empolgação de
muitos entusiastas de composições modernas para coral. A presença dos cluster e a variação
entre as texturas possíveis em uma obra coral causam estranheza (no melhor dos significados)
em que não está habituado a este estilo. Assim, muitos resistiram às dificuldades por
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curiosidade e empolgação. O mesmo corista é enfático ao dizer “nunca havia feito nada
parecido”.
Sobre a formação do grupo e processos de preparação dos cantores podemos reafirmar
a independência desde o primeiro contato. Foi criada uma lista com quatro líderes (um
responsável por seu respectivo naipe) e esses ficaram responsáveis por unir mais cantores até
o número doze. No entanto, tiveram a liberdade de marcar ensaios sem a presença do maestro.
Essa ideia surgiu de um dos líderes e seu argumento foi que “o tempo usado para ensinar as
melodias às quatro vozes já seria adiantado nesses ensaios de naipes”. Assim teríamos ainda
mais tempo para trabalhar os aspectos estilísticos, nuanças, dinâmica, afinação entre os naipes,
equalização do coro, etc. Como é possível notar, ainda restariam muitas coisas a serem
organizadas em um planejamento de ensaio.
Figueiredo (1990), autor que já dialogamos neste capítulo, contribui em sua dissertação
“O ensaio coral como momento de aprendizagem: a prática coral numa perspectiva de educação
musical” para a solução dos problemas relacionados à organização do ensaio. Seu argumento
principal é que o ensaio do coral é um espaço de educação musical. Assim, o problema de
planejamento não é exclusividade da música, mas uma dificuldade da educação musical de
forma geral. Afirma:
3 A Performance Musical
Neste capítulo abordaremos a performance da música Oh the Depth of the Riches. Estão
envolvidos nessa abordagem a aplicação da análise do primeiro capítulo na performance e a
eficácia do ensaio tratado no capítulo dois. Para aferir ambos os pontos, trataremos sobre a
performance propriamente dita, o regente como intérprete e teremos mais uma vez declarações
de participantes do coro entrevistados.
Ângelo Palma da Fonseca (2008) apresenta que, como citado no capítulo anterior, em
um grupo musical, o regente é o responsável pela execução interpretativa, sem esquecer que
tal execução é dependente da análise e do ensino dessa análise para os músicos envolvidos. Há
aqui, pensando sobre performance, levando em consideração que a mesma é um fim de um
processo se partido do ponto de vista da regência, um olhar sobre o maestro músico; primeiro
analista, professor, mas ambos com o objetivo musical.
Fonseca (2008) escreve que o princípio da prática da regência se deu entre compositores
que dirigiam grupos para executarem suas obras, mas houveram necessidades de um condutor
que fosse exclusivamente intérprete:
A necessidade de existir um profissional que se ocupe, unicamente, do ofício
da regência decorre da significativa complexidade das composições a partir
do século XIX, pois, o desenvolvimento dos gêneros e das formas musicais,
das linguagens composicionais, das técnicas de orquestração, como também
o aumento expressivo do número de músicos no coro e na orquestra, fizeram
com que este novo profissional da música emergisse e se dedicasse ao
aprimoramento da arte de dirigir conjuntos musicais. Essa direção não
contempla apenas questões relativas à música, ela requisita um profissional
que possua características que vão além da arte, além do estético, além do
“belo”. (FONSECA, 2008. p. 10)
Music performance provides a rich domain for study of both cognitive and
motor skills. Performers dominate many aspects of our musical culture today.
Concert attendance and recording sales, for example, often reflect listeners’
preferences for performers and abilities to distinguish among performances.
Although public consumption of music tends to highlight performance
differences, there are also strong commonalities across performances that
reflect cognitive functions of grouping, unit identification, thematic
abstraction, elaboration, and hierarchical nesting. Thus, music performance is
based on both individualistic aspects that differentiate performers and
normative aspects shared by performers. Both the commonalities and
differences among music performances can be modeled theoretically in terms
of general cognitive abilities. (PALMER. 1997. p. 116)
autor deste trabalho e é válido salientar a sua importância como referência para produção da
presente pesquisa e para a construção profissional de quem a escreve.
A condução de Sbarcea parte de cinco pilares básicos: o primeiro tempo sempre para
baixo, as batidas devem respeitar o plano de inflexão, os padrões são “alla breve”, triângulo e
cruz, todas as batidas têm o rebote para a direção oposta da próxima batida e, por fim, o rebote
tem maior duração que a batida. Todas as outras informações serão erguidas partindo desses
pontos. Questões como dinâmica e fraseado devem ser submetidas aos pilares para que as tais
sejam claras. O maestro leva em consideração o biotipo dos alunos que altera a estética do
movimento, mas leva muito a sério o quesito precisão e beleza do gestual. O crivo estético é
completamente relacionado ao seu julgamento e visibilidade é baseada em sua experiência em
frente orquestras.
Entre esses cinco pontos, o padrão de compassos é o mais famoso. O maestro canadense
Mathieu Rivest possui uma tabela que resume as matrizes de condução:
Na tabela, Rivest propõe figuras que lembrem as direções do gesto mas não guiam o
regente com o movimento exato. Vê-se uma similaridade entre a proposta de Rivest e Sbarcea
no tocante às diferenças anatômicas entre os condutores. No entanto, o romeno trata com muito
mais precisão os movimentos que, para ele, são necessários para a compreensão por parte da
orquestra. O condutor canadense entende que ao ver sua tabela, o regente terá um padrão de
contagem a cada marcação. Isso não indica que Rivest é impreciso. A questão é a forma como
ele entende ser a mais eficaz para relembrar a lógica em cada tipo de compasso, diferindo de
Sbarcea que não tem outra preocupação senão com seus discípulos presenciais.
38
A soprano compara o tipo de gestual utilizado no Oh, the depth of the riches com suas
experiências cantando arranjos mais simples de músicas populares. Ao entrevistá-la, insisti
sobre o termo “mais precisa” e ela deixou claro que não era menosprezando os regentes
anteriores, mas ressaltando a necessidade de um gesto mais metronômico e com expressividade
calculada para a compreensão da peça em questão.
É nítido que a parte gestual é o aspecto mais externo e conhecido do serviço regencial.
É a forma intrinsecamente visual que o maestro conduz os outros músicos, função já explanada
neste trabalho. No entanto, o gestual assistido no concerto é a “ponta do do Iceberg” no que diz
respeito à totalidade do trabalho do regente. O ensaio, abordado sob o ponto de vista
pedagógico no capítulo dois, constitui parte majoritária do trabalho da interpretação. No
presente capítulo não estamos rememorando as questões de ensino, no entanto, o ensaio é parte
indispensável ao buscar o significado musical “entre pedras” (inter petras), expressão que é
significado de “interpretar” segundo o maestro Sérgio Magnani em Expressão e comunicação
na linguagem da música.
Assim, o ensaio, além de ter o aspecto educador, é o momento em que o regente realiza
o que já mencionamos como sendo a sua principal inculbência: unificar a interpretação. É nesse
ponto onde nota-se o grande desafio da missão de conduzir. O maestro canadense Yannick
Nezet-Seguin declara em entrevista a uma emissora portuguesa que a interpretação de um
grupo é um problema a ser resolvido em grupos musicais de qualquer nível técnico. Ele explica
que cada instrumentista/cantor possui concepção própria da obra a qual se dedica a executar.
Assim, o regente não tem o poder de substituir a ideia do músico pela sua. Não somente lhe
39
faltam condições reais, mas não é justo para com os outros músicos que darão vida à
composição. Para Yannick, a abordagem mais eficaz é equilibrar as ideias dos músicos
executantes, percebidas auditivamente no ensaio, com a concepção que construiu baseando-se
na análise. Então, é nesse ponto em que enxergamos a interdependência dos três pontos
discorridos neste trabalho (análise, ensaio e performance), além de ser possível notar um
complexo interpretativo engrenando a interpretação final. Cada músico analisa a própria
partitura, principalmente no que diz respeito à técnica de seu próprio instrumento ou voz, ao
mesmo tempo que o regente analisa as partes unidas por um ponto de vista mais estilístico e
que garanta o funcionamento do grupo. É esperado que haja conflito entre os resultados
mostrados em ensaio e o planejamento do maestro.
Após interpretada individualmente, o regente, em ensaio, ajusta as interpretações de
todos à sua análise. Nesse momento o ensino acontece, mas com delimitadores ao professor.
Os “alunos” já vêm a “classe” com informações sobre a obra. Informações que se contrapõem
à análise do maestro. Esse contraponto enriquece, em termos de complexidade, a preparação
para o resultado, que é o propósito do presente capítulo.
Toda essa dinâmica interpretativa foi vivenciada na experiência musical Oh, the depth
of the riches. Como já mencionado no capítulo sobre ensaio, fez parte da preparação ensaios
de naipes, tornando a relação regente-coralista exatamente como abordado pelo maestro Nezet-
Seguin. Os cantores já chegavam ao ensaio com perspectiva prévia da obra de Stephen
Lounsbrough causando, no tocante aos aspectos estilísticos, diálogo entre o maestro e os
músicos envolvidos.
Como já visto no capítulo acerca da análise propriamente dita, a peça pertence ao estilo
de composição amplamente divulgado por corais norte americanos do fim do século XX até os
dias atuais. A alternância entre uníssono, oitavas, clusters e acorde, tendo trechos que abusam
das quintas paralelas, o contraste entre homofonia (tonais e atonais) e polifonia. Esta última
aparece em dois trechos como uma mistura de cânone com fugatto com diferentes desenhos
melódicos e utilizando diferentes partes do texto.
Todos os detalhes citados anteriormente são absorvidos pelos coristas e são executados
individualmente com base em suas referências pessoais adicionadas à técnica vocal que mais
facilitam, instintivamente, a execução das notas e sua respectiva sílaba. Desta forma, foi
necessária uma concepção segura sobre o estilo da música por parte do regente, assim como
um ensaio bem aproveitado para que as interpretações de todos os músicos envolvidos,
incluindo o regente, fosse equilibradas sem perder o aspecto do estilo.
40
Juntamente com o estilo, há uma ponto importante o qual também há que se recorrer à
experiência do maestro e professor de regência Petru Sbarcea. Sobre a acústica, pode-se
entender fisicamente através de trabalhos que levem em conta o tamanho e a velocidade das
onda sonoras, as estruturas das salas de concerto, etc. No entanto, para contribuir com esse
trabalho, se fez mais corroborante a fala do maestro no tocante às variações possíveis de
andamento baseando-se no nível de reverberação da sala. Sbarcea costumava citar que em
igrejas católicas é comum o retorno ser lento e volumoso, ao contrário de salões em que o som
costuma ser barrado e não ter retorno. Para Sbarcea, o andamento é inversamente proporcional
ao nível de reverberação da sala onde se executa.
No caso específico da obra Oh, the depth of the riches, foi escolhida a Igreja Matriz de
Santo Antônio em Barbalha, Ceará. O processo foi feito com uma antecedência de onze meses
para se adaptar à agenda paroquial e o motivo da escolha foi justamente a acústica que comporta
quase perfeitamente o andamento sugerido pelo compositor. A liderança paroquial acolheu a
proposta com alegria, alegando que a comunidade seria grandemente alcançada com uma
experiência estética desse gênero Além do coral, o concerto contou com uma orquestra e o
órgão de tubos que a igreja em questão é a única que possui na região. Vale ressaltar que as
partes da orquestra e órgão não estão sendo analisadas neste trabalho, mas somente o coral.
O arranjo para orquestra foi feito em duas etapas. A primeira, para cordas, flauta e
clarinete, foi composta para a Semana de Música Sacra no Seminário Batista do Cariri. O
complemento, órgão de tubos e quinteto de metais foram escritos para a ocasião descrita nesta
monografia como um presente por parte do compositor Stephen M. Lounsbrough.
Após o trabalho analítico realizado solitariamente, o ensaio como união de ensino-
aprendizagem e preparação performática e a resolução de detalhes práticos de acústica e
logística (aspecto não abordado nesta monografia, é chegado o momento mais curto e
importante de todo o processo interpretativo: o concerto.
Seja qual o estilo, o concerto é o objetivo de todas as outras partes aqui abordadas.
Fonseca (2008), principal referência no aspecto performático deste trabalho, expõe com clareza
que o concerto é um resultado dos processos anteriores. Para ele, assim como qualquer
instrumentista, o produto final na performance do regente é dependente de seu nível técnico e
da orquestra como um organismo. Este nível é dependente de muitos fatores, porém é fato que
o processo anterior é determinante para que o concerto seja satisfatório.
O autor continua abordando o mesmo assunto quanto toca questões idiossincráticas à
regência enquanto prática interpretativa. Ele se vale de sua experiência para destacar:
41
No entanto, não há qualquer restrição para que outros métodos sejam aplicados sob quaisquer
pontos de vista do universo da interpretação musical.
43
Conclusão
A condução de um grupo musical é, como disse o maestro Ricardo Mutti, “buscar algo
infinito por não se tratar de tocar um instrumento, mas almas”. Iniciamos este trabalho
discutindo sucintamente a regência enquanto performance - o regente como intérprete de um
organismo musical que é, nesta pesquisa, um coral executando a obra Oh, the depth of the
riches de Stephen Mark Lounsbrough.
A partir de uma perspectiva performática, traçamos uma ideia, inferida da tese Uma
concepção musical para as ‘Impressões Sinfônicas’ Festas das Igrejas, do compositor
Francisco Mignone: O uso da Hermenêutica do ponto de vista da Regência de Angelo Palma
da Fonseca (FONSECA, 2008), de que a regência se assemelha às outras práticas
interpretativas e que possui três momentos para a construção da performance: analisar,
preparar, apresentar.
Apesar de ser fundamentado nos mesmos pilares, reger possui peculiaridades que
tornam a função do regente complexa em vários sentidos. Além de músico, o regente exerce a
função de liderança e isso abrange o trabalho ao aspecto humano. Também, para Fonseca
(2008), estar à frente de músicos conhecimentos de áreas diversas da música como história,
filosofia da música, harmonia, contraponto, mas também áreas afins como filosofia, sociologia,
história geral, e, dependendo da realidade do grupo musical, até mesmo política local e questões
administrativas.
Com tantas incumbências, o maestro precisa trabalhar os três fundamentos da
performance de forma sistêmica. Neste trabalho dividimos em capítulos as fases e sugerimos
que a primeira fosse a análise estilística a partir da semiótica musical de Robert Hatten, porém
acrescentamos possibilidades a serem desenvolvidas em próximos trabalhos. No segundo
capítulo tratamos sobre a preparação e comparamos o ensaio do coral a uma sala de aula.
Notamos, através de revisões bibliográficas, entrevistas e análises da própria ação do regente
enquanto objeto e agente da pesquisa, que relação maestro-coralistas é similar à de um
professor com seus alunos, guardadas as devidas proporções. Dessa forma, o regente é, como
sugere o título “maestro”, o professor do grupo, no entanto o conteúdo de sua aula são os
assuntos relacionados aos significados musicais colhidos na análise.
O último capítulo tratou da união das duas coisas, mas como um aspecto independente.
O regente enquanto performer. Neste, consideramos as potencialidades, responsabilidades e
idiossincrasias pertinentes à atividade de regência propriamente dita. Ainda no mesmo capítulo,
trouxemos informações do concerto da obra Oh, the depth of the riches enquanto ação prática
44
demonstrando todas as inculbências que o regente do caso pesquisado teve e as ações mais
relevantes relacionadas ao concerto propriamente dito.
Destarte, considera-se a regência uma prática interpretativa, porém nada usual visto a
complexidade que lhe é idiomática. Faz parte desta função amplo conhecimento musical, mas
ainda questões de liderança que fazem desta atividade ampla e rica em detalhes. O maestro é,
levando em conta o total de suas tarefas, analista, professor, e, principalmente, intérprete.
45
Referência
FIGUEIREDO, Sérgio Luiz Ferreira de. O Ensaio Coral como momento de aprendizagem:
a prática coral numa perspectiva de Educação Musical. 1990. Dissertação (Mestrado em
Música). Instituto de Artes - Departamento de Música. Universidade Federal do Rio Grande de
Sul. Porto Alegre, 1990.
FONSECA, Angelo Rafael Palma da. Uma concepção musical para as ‘Impressões
Sinfônicas’ Festas das Igrejas, do compositor Francisco Mignone: O uso da Hermenêutica
do ponto de vista da Regência. 2008. Tese (Doutorado em Música). Escola de Música,
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2008.
GIRON, Luiz Antônio. Celibidache e o Fim da História da Regência. Revista Música, São
Paulo, v.7, n.I/2: 185-197 maio/novo 1996.
MUTI, Ricardo. Muti Acceptance. depoimento. [16 de dezembro, 2009]. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=SZ-G3qNmI0U. Entrevista concedida a Musical America
World Wide.
WALKER, Paul M. Fugato. Volume Grove Music Online, issue Published in print January
2001. Disponível em:
http://oxfordindex.oup.com/view/10.1093/gmo/9781561592630.article.10352. Publicado online
Janeiro, 2001.
47
ANEXOS
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