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Pentatônicas, diatônicas e seus modos

Article · April 2019

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Jose Fornari
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Pentatônicas, diatônicas e seus modos - Musicologia na Mídia 5/2/20 16:03

in musicologia, teoria musical

Pentatônicas, diatônicas
e seus modos
José Fornari (Tuti) – 24 de abril de 2019

fornari @ unicamp . br

No artigo anterior vimos o processo de formação, a partir da série har-


mônica, da escala diatônica (de 7 notas por oitava, formada por 2 tetra-
cordes). Já havíamos visto anteriormente o processo de geração da escala
cromática (de 12 notas por oitava). Falaremos agora sobre de uma escala
mais simples, porém fundamental, formada por 5 notas por oitava. Esta é
a escala pentatônica (ou seja, com 5 notas). Como nas outras escalas, esta
também pode ser gerada pelo ciclo de quintas que vem da série harmôni-
ca. Iniciando, por exemplo, em C, a sua quinta é G, cuja quinta é D. Por
sua vez, a quinta de D é A e a quinta de A é E. Interrompendo aqui a se-
quência de quintas, tem-se a seguinte sequência de 5 notas: C, G, D, A, E.
Rearranjando as notas dentro de uma mesma oitava, temos: C, D, E, G,A.
Esta é a escala pentatônica de C. A razão da interrupção do ciclo de quin-
tas em E é porque a próxima quinta desta sequência seria um B, o que
viria a se aproximar da fundamental (C) de apenas um semitom. Este é
um intervalo muito próximo em termos de diferença de frequência. No
sistema temperado, quando duas notas com frequência fundamental sep-
aradas de 1 semitom (como, por exemplo, B1 e C2) são tocado simultane-
amente, tem-se a formação de batimentos perceptíveis entre ambas, o
que gera a sensação de uma nova frequência. Por razões que serão expli-

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cadas em detalhes em futuros artigos, isto gera o que é conhecido em


música como “dissonância”; um tipo de incongruência cognitiva no re-
conhecimento de ambas as notas, o que é normalmente relacionado à
uma sensação de desconforto (mas obviamente, nem sempre, como será
oportunamente tratado). Deste modo, a escala pentatônica original, não
possui esse tipo de dissonância, pois nenhuma combinação de suas notas
estará distanciada por intervalo menor que um tom. Interessante notar
que se removermos as 2 notas que formam o trítono na escala diatônica
(no caso de C, o F e o B) teremos uma escala pentatônica de C.

Escala pentatônica de C. Fonte: https://www.musical-u.-


com/learn/five-notes-will-change-your-life-pentatonic-scales/

Existem variações da escala pentatônica original, formada diretamente


pela série harmônica, como é o caso da pentatônica japonesa, ou Hira-
jōshi, onde intervalos de semitons são inseridos entre as notas,

Escala hirajoshi. Fonte:


https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hira-
joshi_scale_on_C_Kostka-
Payne_%26_Speed.png

Porém estas (intencionalmente) não desfrutam da ausência de dissonân-


cias que a pentatônica original possui. Percebe-se que a inclusão de semi-
tons nessa escala como que remete a um clima de solenidade, tristeza e

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tensão.

Piano improvisation with Hirajōshi scale

É interessante perceber que a subtração das notas da escala diatônica da


escala cromática naturalmente forma uma escala pentatônica. O teclado
do piano é engenhosamente organizado de modo a representar as 3 es-
calas fundamentais: a cromática, a diatônica e a pentatônica. Dentro de
um intervalo de oitava, tocando todas as notas em sequência, sem pular
nenhuma, tem-se a escala cromática, formada por 12 notas por oitava,
igualmente espaçadas de 1 semitom para cada par contíguo de notas. Já
entre duas notas brancas separadas por uma oitava, tem-se as 7 notas que
descrevem a escala diatônica (em um dos 7 modos gregos, que serão aqui
vistos). Já as notas superiores, pretas, estas formam o conhecido padrão
de 5 notas por oitava, organizadas em grupos alternados de 3 e 2 notas.
Tocadas em sequência, estas descrevem uma escala pentatônica. O
famoso livro “Syntagma Musicum” do musicólogo alemão Michael Prae-
torius, do século 17 DC, traz a ilustração de um teclado de órgão do século
14 DC, que já apresentava a organização similar à dos teclados atuais,
com notas superiores, em grupos intercalados de 2 e 3 notas que formam
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a escala pentatônica, e as notas inferiores formando a escala diatônica.

Desenho do teclado do órgão de Nicholas Faber, do século 14 DC (acima)


e figura do teclado musical moderno (abaixo). Fonte:
https://en.wikipedia.org/wiki/Musical_keyboard

Um efeito interessante que se pode explorar, especialmente para quem


não é tecladista, é tocar ao acaso apenas as notas pretas do teclado. Será
possível perceber que não ocorrerão dissonâncias, não importa a ordem
ou quantidade de notas tocadas simultaneamente, dando a impressão aos
menos avisados que este indivíduo sabe tocar um pouco de teclado.

Na escala diatônica, tem-se dissonâncias, tanto entre notas contíguas,


como terceiro e o quarto grau, como entre o sétimo e a repetição do
primeiro grau, na oitava. Também existem tensões importantes, como
entre o quarto e o sétimo grau, que formam juntos o intervalo de trítono.
Conforme mencionado anteriormente, este intervalo na idade média era
considerado o “intervalo do diabo”, devido à sua grande tensão, e assim
costumava ser evitado no canto gregoriano. Este fato provavelmente lev-

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ou Guido D’Arezzo a criar um pentagrama inicial que descrevia não as 7


notas da escala diatônica, mas um hexacorde, constituídos pelas 6
primeiras notas da escala diatônica, excluindo o sétimo grau. A escala di-
atônica maior é facilmente gerada no teclado do piano. Basta tocar a se-
quência de notas entre dois C separados por uma oitava (conforme vista
na figura acima). No entanto, este é apenas um dos 7 modos diatônicos
possíveis de serem representados pelas teclas brancas do piano. Apesar
de seus nomes gregos, estes modos não tem grande correlação com os
modos gregos antigos (que foram brevemente mencionados anterior-
mente). A tabela abaixo mostra os 7 modos modernos.

Modo Posição Terça Sequência de intervalos Sequência de notas


da tônica
T=tom / S=semitom

Jônico I Maior T-T-S-T-T-T-S C-D-E-F-G-A-B

Dórico II menor T-S-T-T-T-S-T D-E-F-G-A-B-C

Frígio III menor S-T-T-T-S-T-T E-F-G-A-B-C-D

Lídio IV Maior T-T-T-S-T-T-S F-G-A-B-C-D-E

Mixolídio V Maior T-T-S-T-T-S-T G-A-B-C-D-E-F

Eólio VI menor T-S-T-T-S-T-T A-B-C-D-E-F-G

Lócrio VII menor S-T-T-S-T-T-T B-C-D-E-F-G-A

Do mesmo modo, a escala pentatônica também permite criar seus modos.


Estes são descritos na tabela abaixo:

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Modo Posição Terça Sequência de intervalos Sequência de notas


da tônica
T=tom / M=terça menor

Jônico I Maior T-T-M-T C-D-E-G-A

Dórico II – T-M-T-T D-E-G-A-C

Frígio III menor M-T-T-T E-G-A-C-D

Mixolídio V – T-T-T-M G-A-C-D-E

Eólio VI menor T-T-M-T A-C-D-E-G

Já a escala cromática, pelo fato de ser uniforme, onde todas as suas notas
contíguas são igualmente espaçadas por intervalos de semitom, apresenta
apenas um modo.

Referências:

[1] Greek modes.http://www.simplifyingtheory.com/modes-ionian-dori-


an-phrygian-lydian-mixolydian-aeolian-locrian/

[2] Musical keyboard. https://en.wikipedia.org/wiki/Musical_keyboard

[3] Michael Praetorius. Syntagma Musicum. https://archive.org/de-


tails/imslp-musicum-praetorius-michael

Como citar este artigo:

José Fornari. “Pentatônicas, diatônicas e seus modos”. Blogs de Ciência


da Universidade Estadual de Campinas. ISSN 2526-6187. Data da publi-

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cação: 24 de abril de 2019. Link:


https://www.blogs.unicamp.br/musicologia/2019/04/24/17/

José Fornari (Tuti)


fornari@unicamp.br | Website

Pesquisador, carreira Pq-B do NICS / UNICAMP. Professor pleno


da Coordenadoria de Pós-graduação do Instituto de Artes da
UNICAMP. Pós-doc em Cognição Musical na Universidade Jy-
vaskyla, Finlândia. Visitante escolar no CCRMA / Stanford Uni-
versity. Doutorado e Mestrado na FEEC / UNICAMP. Formado
em Música popular (piano) e Engenharia elétrica na UNICAMP.

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