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artigo  gerenciamento de produção

ESTUDO DE CASO EM GERENCIAMENTO


DE PRODUÇÃO: EFICIÊNCIA/OEE.

Luis Phillipe F. Machado (luis.machado@techplus.com.br), Coordenador de Projetos; e


Samarone Guimarães Ruas (samarone@techplus.com.br), Diretor de Aplicações,
ambos da iTech, Divisão da Techplus Automação.

INTRODUÇÃO A medição da eficácia global dos equipamentos pode ser


O alicerce para o bom andamento de uma empresa se aplicada de diferentes formas e objetivos. Segundo Jonsson
fundamenta na eficiente e correta utilização de recursos e Lesshmmar [3], o OEE permite indicar áreas onde devem
disponíveis, sejam eles materiais, operacionais ou humanos. ser desenvolvidas melhorias bem como pode ser utilizado
Nos dias atuais, com a economia globalizada e com a grande como benchmark, permitindo quantificar as melhorias
competitividade do mercado, as empresas de manufatura desenvolvidas nos equipamentos, células ou linhas de
vêm procurando se adequar cada vez mais às exigências dos produção ao longo do tempo. A análise do OEE e output
clientes. Produzir cada vez mais, com menos recursos e mais de um grupo de máquinas de uma linha de produção ou
rapidamente se tornou um desafio comum para as indústrias de uma célula de manufatura permite identificar o recurso
que pretendem permanecer no mercado. Por esse motivo, a com menor eficiência, possibilitando, desta forma, focalizar
medição do sistema de manufatura vem se tornando cada vez esforços nesses recursos.
mais essencial para a resolução de problemas e para a própria A análise desse indicador [4] mostra uma imediata ideia
melhoria contínua destes sistemas. da capacidade da linha como um todo, conhecendo-
A eficácia global dos equipamentos [1] é utilizada na se a capacidade bruta de produção das máquinas, sendo
metodologia TPM (Total Productive Maintenance), onde é extremamente útil na detecção de gargalos na linha.
proposto um indicador conhecido na literatura internacional A importância de se aperfeiçoar os equipamentos e atuar nas
como OEE (Overall Equipment Effectiveness). maiores perdas (obtidas através do OEE) se concretiza quando
Overall Equipment Effectiveness (OEE) é uma ferramenta há aumento de produção: a melhoria da eficácia descarta a
utilizada para medir as melhorias implementadas pela necessidade de novos investimentos.
metodologia TPM. A utilização do indicador OEE, conforme Este artigo descreve um estudo de caso referente a
proposto por esta metodologia, permite que as empresas uma Fábrica do Setor Alimentício, mais precisamente
analisem as reais condições da utilização de seus ativos. Estas Refrigerantes, em Maceió, AL, que percebeu a necessidade
análises das condições ocorrem a partir da identificação das de se medir com mais precisão, segurança e de modo
perdas existentes em ambiente fabril, envolvendo índices de mais ágil, o que realmente ocorre em seus processos
disponibilidade de equipamentos, desempenho e qualidade. produtivos, como a medição de perdas, paradas, quedas de
Há um órgão chamado OEE Industry Standard [2], desempenho, produção.
administrado pelo OEE Foundation, criado em 2000, que dita A fábrica optou então pela aquisição de uma ferramenta
todos os seus conceitos e cálculos. Define todos os princípios que pudesse disponibilizar tais informações, podendo
da ferramenta, estabelecendo os critérios para se medir a assim analisar melhor as condições reais de utilização de
disponibilidade, desempenho e qualidade de equipamentos e seus recursos, ter uma maior embasamento para tomadas
linhas de produção. É uma iniciativa para se tentar padronizar de decisões, otimizando a estratégia para investimentos e
os conceitos relacionados ao OEE. melhorando a produtividade econômica.

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CONCEITOS DE OEE • Índice de Disponibilidade: fator que indica o quanto


O OEE é uma maneira simples e prática de monitorar e funcionou o equipamento, sendo que o mesmo pode
melhorar a eficácia de um processo de manufatura e é não funcionar por uma série de fatores, como paradas
frequentemente usada pela metodologia TPM como uma programadas (almoço, CIP), ou paradas não programadas
ferramenta para se fazer tal medição. Expressa o percentual de (falha do equipamento, queda de energia), etc.
utilização de um equipamento em sua plenitude, considerando Tempo de Carga (TC) = Tempo Teórico Disponível – Paradas
uma situação ideal de velocidade máxima, sem paradas e com Programadas (Horas)
total qualidade, ou seja, possibilita a medição da diferença Tempo Real Disponível (TRD) = TC – Paradas Não
entre o ideal e o que realmente ocorre na fábrica. Programadas (Horas)
Inicialmente, foi criado para aplicação em processos de
Manufaturas Discretas, porém, através de adaptações no
modelo tradicional do OEE [5], atualmente ele também é
• Índice de Desempenho: fator que indica em qual taxa de
usado em Processos Contínuos [6], ou seja, tem auxiliado
produção o equipamento rodou. O equipamento possui
ambos os tipos de processos, tornando o ambiente industrial e
uma velocidade ótima. Durante o Tempo Real Disponível, a
operacional mais produtivo, eficiente e rentável.
velocidade real da máquina é comparada com a nominal.
TPM é um sistema desenvolvido inicialmente no Japão com
o intuito de se reduzir paradas, eliminar perdas, garantir
maior qualidade e reduzir custos num processo produtivo. É
um dos principais elementos da disseminação da cultura de • Índice de Qualidade: fator que indica a relação entre as
melhoria contínua [7]. peças boas produzidas e as perdas.
O TPM apresenta seis pontos chave: estabelecimento de um
completo sistema de manutenção preventiva dos equipamentos
durante todo o seu ciclo produtivo; uma otimização na eficácia
global do equipamento; implementação conjunta pela ESTUDO DE CASO
Direção, Produção, Manutenção e Engenharia; participação
O estudo de caso foi realizado numa fábrica de produção
de todos os empregados, desde gestão até chão de fábrica;
de refrigerantes e águas saborizadas, localizada em Maceió,
implementação baseada em atividades de pequenos grupos.
AL. Basicamente, o sistema aqui estudado trata-se de duas
Os dados necessários para o cálculo do OEE devem ser coletados linhas de produção, uma de embalagens PET e outra de
em tempo real por algum sistema que se comunique com o garrafas retornáveis.
chão de fábrica, e tal sistema deve ser capaz de publicar as
A implantação ocorreu devido à necessidade de melhorias
informações, em forma de gráficos, relógios, termômetros, etc.
contínuas no processo de fabricação, aliada a uma ferramenta
Basicamente, o OEE é usado para atacar as chamadas “6 de alto desempenho que auxilia a tomada de decisões, através
Grandes Perdas”, ou seja, as causas mais comuns de perda de da visualização de dados provenientes do chão de fábrica em
eficiência numa manufatura: tempo real e da possibilidade de se gerar diversos gráficos
• Quebras; com indicadores de OEE, detalhes de paradas, total produzido,
• Set-ups e ajustes; total de perdas, ou seja, informações valiosas para se adquirir
• Microparadas; um desempenho ótimo dos equipamentos, facilitando o
• Velocidade do equipamento reduzida; gerenciamento da produção.
• Rejeitos de início de processo;
O módulo OEE da ferramenta implantada possibilita identificar
• Rejeitos na produção.
detalhes de paradas, detalhes e quantidade de perdas,
O cálculo do OEE é feito do seguinte modo: quantidades produzidas, sequência de eventos, cálculos de
índice de qualidade, desempenho, disponibilidade e OEE, por
turno, por turma, por produto, por linha.
Em suma, esta solução possibilitou aos gerentes de linhas:
• Identificar e otimizar áreas com ineficiências operacionais;
• Melhorar a qualidade e a consistência dos produtos
e processos;

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• Melhorar a eficiência operacional pelo ganho do


conhecimento e controle sobre as operações de produção
em tempo real;
• Gerenciar operações de produção em tempo real através
da geração de relatórios.

ARQUITETURA
A arquitetura implantada na fábrica para que o módulo de
Eficiência fosse introduzido consistiu na inserção de uma nova
camada de software na arquitetura já existente, basicamente entre
os controladores do chão de fábrica e o sistema ERP - Enterprise
Resource Planning. Essa nova camada se configura como o sistema
MES - Manufacturing Execution System e permitiu a criação
de um canal transparente e confiável quanto ao fluxo de
informações entre todas as etapas dos processos produtivos.
Foram usados dois servidores, um contendo a aplicação, o
banco de dados e o portal para acesso aos relatórios; e outro
Figura 2 – Camadas que Compõem o Sistema.
contendo o Servidor Web e o Historiador (Figura 1), ambos
ligados a estações clientes. GERENCIAMENTO DO OEE
O Módulo de OEE implantado permite monitorar e controlar os
índices de OEE, possibilitando aos usuários uma visão completa
de fatores como tempo de inatividade de equipamentos,
perdas da produção, eventos de parada, ações tomadas, tipos
de falhas, quantidades produzidas, sequência de eventos,
mudanças de produto, MTTR (Mean Time To Recovery), MTBF
(Mean Time Between Fails).
Foi feito um modelamento tomando como base os
Figura 1 – Arquitetura do Sistema para Medição do OEE. equipamentos que formam as duas linhas em questão, Linha
de Vidro e Linha de PET, conforme figura a seguir.
Como pode ser visto na Figura 2 a seguir, há quatro camadas
básicas que compõem a estrutura de funcionamento do
sistema. A primeira delas é representada pelo servidor OPC, que
opera como um servidor de dados, se comunicando diretamente
com o chão de fábrica, ou seja, com os CLPs das linhas conforme
padronização OPC Foundation. Estes dados são passados à
segunda camada, onde se encontra o Historiador. Este possui
duas finalidades: coletar e arquivar os dados adquiridos dos
CLPs das linhas; e transferir estas informações ao servidor de
aplicação, a terceira camada. Esta é composta da Aplicação,
um Servidor Web e do Cliente. O Servidor de Aplicação é
responsável pelo gerenciamento do módulo de OEE, serviços e
cálculos. O Servidor Web serve para gerar os relatórios e gráficos
que serão visualizados pelos usuários. E através do Cliente, os
usuários poderão visualizar eventos em tempo real, relatórios e Figura 3 – Modelamento Detalhado dos Equipamentos das Linhas.
fazer registros de variáveis de entrada manual. A quarta camada
inclui o Servidor SQL. Armazena toda a estrutura da aplicação. E Outros pontos que tiveram que ser configurados foram as
quando instalado, a aplicação cria automaticamente o banco de variáveis, todas linkadas em tags vindos do Historiador, para
dados e as tabelas e procedimentos necessários. que os cálculos fossem possíveis. São elas:

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Tabela 1 – Variáveis do Sistema.

Foram inseridas também na aplicação as árvores de falhas dos


Figura 5 – Dados em Tempo Real da Linha.
equipamentos a serem monitorados. Estas árvores fornecem
uma metodologia de detalhamento hierárquica para o
Na Figura 6, o usuário pode ter acesso a um relatório que
operador investigar as razões, levando-se em conta também as
indica todos os índices de OEE, bem como quantidades
categorias em que uma falha se enquadra. Conforme elas foram
produzidas e perdas para cada equipamento da linha.
configuradas, as paradas que possuem um alarme equivalente
proveniente do CLP são coletadas automaticamente pela
aplicação, a qual registra Horário Inicial, Horário Final, motivo
da parada na interface Cliente (Figura 4). Para eventos que não
podem ser coletados automaticamente, o operador pode inserir
manualmente uma falha nesta interface.

Figura 6 – Relatório com Índices de OEE.

A seguir, tem-se uma tela que publica a produção das três


principais máquinas da linha nas últimas 8 horas, bem como
seus status e os produtos envasados.

Figura 4 – Interface Cliente.

PORTAL E RELATÓRIOS WEB


Os relatórios disponíveis na aplicação podem ser visualizados
via Web Report por um browser de navegação a internet, na
Figura 7 – Contagens de Produção das Últimas 8 Horas.
fábrica ou remotamente, por qualquer estação que tenha
acesso à rede da empresa. A figura a seguir mostra a tela onde o usuário pode
Foi criado um portal customizado contendo os relatórios mais acompanhar também em tempo real as paradas de um
pertinentes e telas de acompanhamento em tempo real. determinado equipamento.
O usuário acessa o portal, efetua o login e através de um
menu lateral intuitivo, pode ter acesso a informações de chão
de fábrica em tempo real, como paradas de equipamentos,
taxas de produção, status de máquinas, níveis de tanques,
bem como gerar relatórios com dados de OEE, índices de
produtividade, MTBF, MTTR.
Por exemplo, a seguir pode ser visto uma tela que mostra
dados da linha de PET em tempo real, como os status dos
equipamentos, e as taxas de produção. Figura 8 – Paradas de uma Máquina da Linha.

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Finalmente, a Figura 9 mostra um relatório que detalha todas da eficiência dos equipamentos, e consequentemente das
as paradas de um ou mais equipamentos, explicitando tais linhas de produção, sendo um importante mecanismo de
falhas por turno, turma, categoria, equipamento, produto. Há auxílio aos gerentes de produção, para que a planta atinja
também indicadores de MTTR e MTBF. números ótimos de produtividade, com menos perdas,
menos retrabalhos, e máquinas trabalhando bem próximo de
suas velocidades nominais.
Por fim, a análise do OEE oferece a possibilidade do envolvimento
de todas as áreas, direta ou indiretamente ligadas à produção,
auxiliando nas tomadas de decisões e sendo um poderoso
auxílio na busca pelo aumento da eficácia global da empresa.
Na fábrica citada neste artigo, com a implantação do sistema
MES, todos os envolvidos passaram a ter um importante aliado
Figura 9 – Relatório de Paradas. na tomada de decisões, com o acompanhamento em tempo
real de paradas, perdas, taxas de produção, eficiência.
E como citado anteriormente, há também uma interface Foram identificados pontos de falhas na linha onde anteriormente,
web disponível, chamada Report Server, onde os usuários com os apontamentos manuais, não se tinha conhecimento. As
tem acesso a uma série de relatórios, como por exemplo, o contagens de produção e perdas também passaram a gerar
da figura a seguir, que mostra uma sequência de eventos dados mais confiáveis e precisos, o que possibilitou um
ocorridos num determinado período de tempo. melhor planejamento de produção, gastos, consumos.
Atualmente, o sistema está presente em duas linhas e a
fábrica em questão está em processo de expansão, e já prevê
a utilização do módulo de eficiência nas demais linhas. Por ser
uma fábrica nova, ainda não foi feito um estudo concreto dos
ganhos obtidos com a implantação deste novo sistema, mas
segundo os responsáveis, está havendo avanços significativos
nas análises dos dados gerados.

Figura 10 – Exemplo de Relatório do Report Server.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONCLUSÃO 1) SANTOS, A. C. & SANTOS, M. J. Utilização do Indicador de Eficácia


Global de Equipamentos (OEE) na Gestão de Melhoria Contínua
Há certos detalhes que o ser humano simplesmente não do Sistema de Manufatura: Um estudo de Caso. XXVII Encontro
consegue perceber ou acompanhar. Numa linha de produção, Nacional de Engenharia de Produção. Foz do Iguaçu, PR,
há as chamadas microparadas, que um operador não consegue 09 a 11 de Outubro de 2007.

anotar em suas planilhas de papel, e várias microparadas, 2) OEE INDUSTRY STANDARD


http://www.oeeindustrystandard.org/.
somadas, ao final de um determinado tempo, acabam se
tornando uma grande falha, que poderia ser corrigida caso 3) JONSSON, P. & LESSHAMMAR, M. Evaluation and Improvement of
Manufacturing Performance Measurement Systems – The Role of
houvesse um sistema que fosse capaz de detectá-la.
OEE. International Journal of Operation & Production Management.
Este trabalho mostra que através de um sistema que se
4) MOELLMANN, A. H. & ALBUQUERQUE, A. S. & CONTADOR, J. L. &
comunica com o chão de fábrica, trata as informações, fornece MARINS, A. S. Aplicação da Teoria das Restrições e do Indicador de
dados da linha em tempo real, e disponibiliza tais informações Eficiência Global do Equipamento para Melhoria de Produtividade
numa série de relatórios, os usuários são capazes de mensurar em uma Linha de Fabricação. Revista Gestão Industrial, 2006.

perdas e paradas até então não quantificadas. Com índices 5) JANARDHAN, P. B. Enhancing Operational Efficiency.
de OEE sendo calculados para qualquer equipamento 6) CASTRO, F. P. & ARAUJO F. O. Medição da Eficiência Operacional
ou período desejado, é possível identificar, por exemplo, Através do Indicador OEE: Uma Proposta de Implantação no
Segmento de Bebidas. VI Congresso Nacional de Excelência em
qual o equipamento que apresenta pior desempenho, e
Gestão, 2010.
consequentemente, onde focalizar os recursos.
7) MORAES, P. H. A. Manutenção Produtiva Total: Estudo de Caso
As estatísticas de eficiência combinadas com a análise de em uma Empresa Automobilística. Dissertação – Universidade
paradas constitui uma ferramenta poderosa para o aumento de Taubaté, 2004.

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