Você está na página 1de 138
Copyint © 2007 by Felt Blea taalcae teotogica detesda ‘Moldando vocecionados Provientes svar Cavlcanie Diretor Telia: Fae Line Dirotor Pedanigics: Vonessa Cavtcaate Secretaria Exec: Dotanne Pret Corpo docente SSEZAR CAVALCANTE Th 3 Em Teolola FABIO LIM Ths Ei Toxlogia, Espociaisia er NT MARCIO FALCAO Th. em Teeoela« Bacal om Greta ZEEV HASHALOM Mastrado Em Letas, Greg & Hebraic FICARDO MAVOLNI TS Em Teolgi, Especialsta am Mies Cts FRANCISCA DA SNA Th Em Tekan ADRIANO LIMA 1h. em Teolaia IZAIBS COUTINHO Tr. er Talos ALESSANDRO VIEIRA Th Bam Tesogia Prafessres comes: LUIZ WESLEY, PhD em Estudos Inercutires Pés-dculst em TeclogiaPrlicao Prats Relig ‘GABRIELE GREGGERSEN, Ph.D on Foca © Pos-daitra em Histra tes aralgadee ARIA LEONARDO, Ph am Tokaia# Antropol Cara) BARBARA BURNS, Douloraem Misioiogs CESAR MARQUES, Mestre er: TeiogiaPietioa@ Ph om Eclestloats, 'MARCIG REDOWON, Pr Oem Hialaa # COMtot em Teg “oda a wectncies Eibicas fram oxtalas da Varoto Alraa Rovisla e Atualzad, Eaigdo de 1985 da Sociadade Bloica do Bras rsbide a eproduedo par Gualewer meres, salo.em brevesctacees, com iraieagso da ei, Coordonagse ects tio Lin Pjet griico de capa iolo Valine Gomes essa Fabio Lin “cn dn dea see nga poi eee Rua Ast Arlono Salto, 92~e. So Paulo ~ So PouloSP ‘CEP; 02046010 Fone: (11) 2976 0898 + yw aculsadebetesccom.bratendimento@teculcecebetesda.com br APRESENTACAO E INSTRUCOES Manual simplificade de uso do material didatico FTB “Conhecamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oseias 6.3). O conhecimento sobre Deus nao ¢ apenas uma possibilidade, mas também um direito de todos os homens, A Biblia Sagrada nos ensina que Dous, graciosamente, révela-se ao homem, convidando a todos para experimenta- rem sua bendita graga. E com essa visio, ¢ sob o lema “Moldando vocacionados”, que a FTB — FACULDADE TEOLOGICA BETESDA, uma instituicdo interéenorinacional filiada as principais entidades da classe, oferece todos 0s seus cursos. Para que o seu aproveitamento como estudanite FTR seja 0 melhor possivel, e para que nis consigamos dar a voce o suporte e apoio em sua jornada de estudos, é necessério que vocé SIGA EXATAMENTE as orientagies que daremos a seguir, pois desta maneira vos tera uma maior fixagao do contetido € nos ajudaré a atendé-lo sempre da melhor mancira possivel. MODALIDADES DE ENSINO Ensino & Distancia: Frequentados par mais de 12 mil alunos, nossos cursos EAD tém sida recomendaos por diversas liderangas e denominagies evangélicas. Quando se trata de ensino & distancia, a FTB € a mais completa do Brasil, oferecendo um suporte académico inigualavel. Além disso, todo o material didético necessario & pro prio e jd se encontta ineluido no prego final Ensino Preseueial: A PTB maniém varias UNIDADES na Capital ena Grande SBo Paulo ministrando teologia do nivel Basico até a Pés-graduapo, com aulas semanais or sala de aula, inclusive aos sibados, ¢ com profes- sores allamente qualificados, todos com formagdo superior e/ou pos-graduagoes, Ensiuo Semipresencial: Completando nossa atuagio educacional, sinda oferecemos essa modalidade que cha- ramos de NUCLEOS CREDENCTADOS. Numa parceria coma igreja ocal,instalamos uma sala de aula nas suas proprias dependéncias, onde uma nova turma de alunos estudara com a ajuda da FTB e do ministéio loca Encontros presenciais: Com o objetivo de eriar uma interagao entre alunos de todas as modalidades, profes- sores € a diretoria, a TB promove uma aula especial (INTENSIV AO TEOLOGICO) por més, com renomados tedlogos brasileiros e intemacionais. Acesse nosso portal www.feculdadebetesda.com.br e/ou ouga 6 programa “Crescendo na Fé” (Riidio Musical FM 108,7) para conhecer a agenda ¢ 0 local dessas aula. REGRAS GERAIS Material didético: Ao receber seu material, confira-o. Se tiver alguma davida, entre em contato com 0 nosso SAA: (11) 2976 0899) + Prazo de estudo: O aluno deve estudar cada médulo por um tempo minimo de 2 MESES e no méxi« mo de 4 MESES, por isso planeje seus estudos dentro desse prazo, evitando transtornos administra- tivos com a escola. + Planido tcoléico: Alunos devidamente matriculados ¢ em dia com seus pagamentos tém direto av PLANTAO TEOLOGICO, que funciona de segunda a sexta-fera no horério comercial. Ligue: (11) 2976-0899. + Diplomago: Em todos os seus eutsos a FTB fomece gratuitamente aos alunos aprovados Diploma e/ou Centificado, em ceriménias de formaturas programades ao longo do ano itive, + Portal do Aluno: Por meio de nosso site www.faculdadebetesda.com.br 0 aluno dispde de rico material académico ¢ servigos exclusivos, tais como: rédio on-line; bate-pape com convidados; estudos biblicos; reportagens, ete. Visite-o ainda hoje! SOBRE OS MODULOS 0 Curse Basico possvi 05 MODULOS, 0 Curso Médio 09 MODULOS ¢ © Curso Bacharel 13 MODULOS. + Cada médulo corresponde a um liveo de slta qualidade grifica e de contetido, com OS matérias cada um, sendo quatro tradivionais e uma especial, voltada & pritica da teologia e da vide cris totalizando 65 ma- 1érias (ver grade na p. 6 ¢ 7). + Ao longo de cada uma das matérias, em todos os médulos, ha vétios exereicios que chamamos de Verifi- cago de Aprendizagem, que sfo questdes que o ajucario a fixar melhor 0 capitulo estudado, Voce deve copiar ¢ responder essas questdes em um cadero a parte e depois conferir no capitulo para certifcar se estilo corretas ou nfo. + No final de cada matéria ha uma Avaliagao com 10 questées. Voc® s6 deve fazer essa avaliagdo depois que terminar de estudar todos os capitulas da matéria. A tltinta matéria, identticada como Matéria Suplemen- tar, contém apenas 5 questbes. + Importante: o aluno deve enviar para a FTB apenas as avaliagdes. Nao € necessirio enviar as respostas da Verificagao de Aprendizegem +A partirdo dia em que a FTB receber as 5 Avaliagées, la terd 15 dias corridos para revisi-ls. Se 0 aluno for aprovado com a NOTA MINIMA (7.0), cnviard o médulo seguinte automaticamente, Caso niio aleance a nota minima, o aluno teré de refazé-to. + Oaluno deve enviar as § Avaliagdes juntas para a FTB. Escolha uma das seguintes formas: 1. Pessoalmente: Rua Azir Antonio Salto, 92- Jd. So Paulo ou diretamente nos Intensives no estande do SAA~ Servigo de Atendimento ao Aluno, 2. Pelo comteio: Caixa Postal 12025 — CEP 02046-010 — Sao Peulo’SP. 3. Por e-mail: plantaotcologico@faculdadebetesda.com.br PREENCHIMENTO DAS AVALIACOES + Aavaliagfo ¢ individual, portanto cada aluno deve fazer & sua prépria e nfo copiar de outro aluno ou enviar eépias com respostas idénticas, mesmo que haja parentesco ou estudo em grupo (somos cristaos & devemos sempre agir com honestidade). Caso sejam detectadas provas idénticas, clas serio automatica- mente canceladas, + Cologue no cabegatho (inicio da folha) as seguintes informagdes: nome completo, telefone atualizado, nimero da matrieula ou contrato, que é o seu RA (Registro do Aluno), € nimero de médulo, Exemplo: Folano de tal — Fone: (xx) 0000-0000 — R.A. 00,000 —_Médulo 3 — Espiritualidade + Seaavaliagio for manuscrite, escreva com letra legivel, em um papel pautado (com linhas); se for digita- dda, utilize papel branco, “de preferéncia” nfo reutilizaco. + Se preferis enviar suas avaliagdies vie e-mail, vocé deve digité-las em Word, sempre seguindo 4s orientagoes desoritas neste manual, ¢ anexé-las uma a uma (um documento para cada avaliayao). Nao coloque todas as avaliagdes num émnieo documento. Depois envie para: plantaoteologico@faculdadebetesda.com br + Numere as avaliagdes na inesma ordem em gue se encontram ao médulo, + Nao esereva no verso da folha; faga somente uma avaliagao por folha; nunca coloque duas avali es na mesma folha para aproveitar papel; nunca use pedacos de papel pera completar respost seju ordeiro ¢ eaprichoso ao fazer suas avaliagdes. J recebemos avaliagdes totalmente mutiladas, sujas, amassadas, ¢ isso pode gerar o cancelamento da sua prova e consequentemente a reprovagio do aluno na matéria cottespondente. Nunea envie somente as respostas. Sempre digite ou esereva a perguata ¢ depois @ sua respectiva resposta, tums a uma, Fazendo assim vocé acelera © process de correcao das suas provas. AS respostas devem expressar exatamente 0 conceito apresentado no médulo, exceto aquelas que sejam dissertativas. CURSOS! OFERECIDOS BASICO EM TEOLOGTA (1 ano em média) MEDIO EM TEOLOGIA (2 anos em média) BACHAREL EM TEOLOGIA G anos em média) POS-GRADUACAO (1 ano em média) GREGO E HEBRAICO (6 meses) ARQUEOLOGIA BIBLICA (6 meses) MISSQES TRANSCULTURAIS (6 meses) APOLOGETICA CRISTA (1 ano) VOCACAO MINISTERIAL (3 meses em media) TEOLOGIA TEEN (8 meses em média) CONFISSAO DOUTRINARIA. APTB professa fé cristd como exemplificado pelos cinco lemas da Reforma Protestant : Sola Fide (Somente a f€); Sola Scriptura (Somente as Escrifuras); Solus Christus (Somente Cristo): Sola Gratia (Somente a Graga); Soli Deo Gloria (A Deus toda gloria): Cremos que a Biblia é@ Palavra de Deus, divinamente inspirada e sem erro quando escrita om sua forma original, sendo a dnica regra de f& e de pratica do cristo (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Cremos em um #6 Deus Ererno que subsiste em uma Trindade de Pessoas: Pai, Filho e Espirito Santo (Jo 15, 26), as quais so coetemas ¢ de igual dignidade ¢ poder (Mt 3.16-17), Cremos na divindade do Filho de Deus, na sua eneamayao, no sew nascimento virginal (Le 1.35), na sua morte expiatiria (Ef 1.7), na sua ressurreigao, bern como em sua ascensia ¢ intercesstio como nosso tnico mediador (Hb 7.25), Cremos na justificagio somente pela fé (At 10.43: Rin 3.24, 10.13). Cremos na obra do Espirito Santo para a regeneragto ¢ para a santificagdo (Hb 9,14), ‘Cremos que a verdadeira Jgreja —o0 corpo de Cristo (Ef 1.23) ~ € formada por todos aqucles que confiam em Cristo como seu Salvador, somente pela 48 (EF2.8-9; 1 Co 12.13), cuja responsubilidade e privilégio & proclamar o Evangelho até os confins da Terra (Mt 28.19-20). Cremos na imortalidade da alma, na segunda vinda do Senhor (Tt 2.13), na ressurreigdo do eor- po, no julgamento do mundo por Jesus Cristo, na bem-aventuranga dos justos e na puni¢ao dos impios (1 Co 15.25-27). SUMARIO INTRODUGAO.. a a 1, RESUMO DA HISTORIA DA FILOSOFIA. a4 1.{ FILOSOFIA PRE-SOCRATICA.. wuld 1. FILOSOFIA CLASSICA 0. old 1,3 FILOSOPIA POS-SOCRATICA.. $5 1.4 FILOSOFIA MEDIEVAL. = AS 1.5 FILOSOFIA MODERNA...... - ten 16 1.6 FILOSOFIA COMTEMPORANEA. - a 17 2. METAFISICA.... ws as siucrrs entre iencasrecccacniicel Bi 2.1 PRIMETROS PRINCTPIOS METAFISICOS DA DOUTRINADODIREITODEIMMANUELKANT. 3. CARTESIANISMO......0-0-- . 20 4. CETICISMO.,. iB) 5. LOGICA. = 2 6 DIALETICA. enreaererst ces crac: = 23 Fy MIP AISMO. nse nsc sapere nin coarse 2 sod Be BTICAs onrennnin nnn 81 BTICA CRISTA.. 8.2 ETICA CONTEMPORANEA. 9, FENOMENOLOGIA. 10. IDEALISMO........ Li. MARXISMO.. 12, MATERIALISMO. 13. PLATONTSMO. ae 13.1 A REPUBLICA DE PLATAO. 14, POSITEVISMO.....00cconnrenninninn innesninnnnininninnnnaniinnnnnninnnnnninmnnnnane 34 15. RACIONALISMO, - a 35 16. ESCOLA DE FRANKFURT... 0 36 ON REFERENCIAS... 39 MODULO 10| FILOSOFIA GERAL INTRODUCAO De otigem grega, a palavra flosofia significa amigo da sabedoria (fhilas = amigo + Sofia = sabedoria). Desde a Antiguidade, a surpresa e o espanto perante © mundo levam o homem a formular questoes sobre a origem 4 razio do universo ¢ buscar o sentido da prépria existéncia. Todos os aspeetos da cultura humana podem ser objetos de reflexdo. A questo central de cade corrente filoséfica esti inserida na estrutura econdmiea, social politiea de determninago momento histérico, ‘A palavea filosofia € uliizada pela primeira vez por Pitigoras, por volta do século V1 a.C, ao responder a um de seus discipulos que ele niio era um “SAbio", mas, apenas um amigo da sabedoria, Nesta época, surgem os primeiros sibios (sophos, em grego), principalmente nas cidades jonicas que estabeleceram relagdes comerciais com o Oriente, Se tratando do cristianismo, no século Il d.C surgiu uma classe de mestres eristos conhecidos como “apolo- gistas” que sc incumbiam, entre outras tarefas, de responder aos flasofos que, diante da visibilidade do Cristia- nismo, comegaram a polemizar vom a fe propagada pelos apdstolos de Cristo. O mais conhecido des apolouistes foi Justino, nascido em Naplusa, na Palestina, uma familia de Hingua grega. Ble se converte em 130 d.C, Os apologistas nio cram antifilésofos. Pelo contrario, Justino sempre se viu como um fildsof, o que se pode perce- ber pela seguinte frase que proferiu: “Reconheci que [o Cristianismo] era a tinica filosofia segura e proveitoss.” Justino morreu martirizado em Efeso, no ano 165 d.C. ‘Oniro aspecto histérico importante ¢ que nem sempre os cristdos encaracam os filésofos como adversarios. Pascal, por exemplo, chegow a declarar: “Plato prepara o advento do cristianismo”. Vale apenas ressaliar outro aspecto interessante: sobre as téenicas utilizadas pelos primeiros cristios para pregario da palavra, tanto no discurso, quanto na preparasao — hermenéutica. A hermenéutiea surge na mitologia Grega com Hermes deus da comunicaydo, e adaptada nu filosofia por Platdo e Aristételes, que svré utilizada até nos dias atuais para eleboragiio de sermoes. Muitas vezes hi certo tio de critica concernente a filosofia por parte de alguns cristdos, julgando de forma precipitada como atefstica ¢ eriadora de anticristos. Infelizmente essa maneira de enxergar acaba por prejudicar 0 ensamento eristio, afinal, existiram sim filésofos ateus que por virios motivos tentaram até mesmo acabar com todo tipo de religiao, porém, a flosofia é algo presente na vida de todos os seres humanos, sociedades e religides, portanio, nko € diferente no eristianismo, ‘Todas as vezes que paramos para refletir acerea dos problemas que cercam nossas vidas, casas, igrejas, bairros, cidades ¢ nosso mundo, ¢ dentro dessa reflexao tentamos elaborar algum meio de ajudar, sem perceber estamos filosofando. de suma importincia que deixemos o preconceito de lado, para aprendermos com grandes pensadores que houve nesse mundo, a refletirmos sobre valores e propostas para vida; de certo, haverd muitos pensamentos a serem descartados, em contra pactida, haverd alguns que valero ser observados mais de perto, ‘Nessa matéria veremos até mesmo de forma resumida algumas das principais correntes filoséiicas. CURSO DETEOLOG'A 2 MODULO 10| FILOSOFIA GERAL 1 | RESUMO DA HISTORIA DA FILOSOFIA 1.1 FILOSOFIA PRE-SOCRATICA Podemos afirmar que foi a primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia Antiga por velta do século Vac. Pré-socraticos so os fildsofos anteriores a Séerales se preecupavam muito com o universo ¢ com os fenémenos da natureza, Buscavam explicar tudo através da razdo & do conhecimento ciet ». Podemos citar neste contento, 08 fisieos Tales de Mileto, Anaximandro e Heréclito. Pitigoras desenvolve seus pensamentos & defende a idia de que tudo precxiste & alma, jf que esta é imortal. Demécrito ¢ Leupido defendem a formagao de todas as coisas 2 partir da existéncia dos dtomos. A era pré-socratica inaugura uma nova mentalidade, bascada 1a raz20, ¢ no conhecimento e nao mais no sobrenatural ¢ na tradigao mistica dos deuses. Infelizmente muito pouco de suas obras esto disponiveis restando apenas pequenas fragmentos. 1.2 FILOSOFIA CLASSICA ‘A Filosofia clissica foi o berco de todas as ciéncias, onde o ser humano comegou a eoriar 0 lago com a mi- tologia comum, ea busear respostas para as grandes questdes da vida, Explicagdes “divinas” jé nao satisfaziam completamente as pessoas que buscavarn conhecimento principalmente através da razio, Os séculos V e TV, Na Grécia Antiga foram de grande desenvolvimento cultural ¢ cientifico. O esplendor de cidades como Atenas ¢ seus sistemas politico democratico, proporcionou o terreno propicio para o desenvolvi- mento do pensamento. A Filosofia da Grécia Antiga teve nos sofistas © em Séerates seus principais expoentes, Eles se distinguem pela preocupacio metafisica, ou procura do ser, e pelo interesse politico em ctiar a cidade harmoniosa e justa, que tomasse possivel a formacao do homem ¢ da vida de acordo com a sabedoria. Este periado corresponde a0 apogeu da democracia e é mareado pela hegemonia politica de Atenas. Os sofistas, filésofos contemporaneos de Socrates, como Protigoras de Abdera (485 a.C.-410 a.C.) ¢ Gérgins de Leontinos (485 a.C.-380 a.C.), acumulam conhecimento enciclopédice ¢ s4o educadores pagos pelos alunos. Pretendem substituir a educagao tradicional, destinada a formar guerreiros ¢ atletas, por uma nova pedagogia, preocupada em formar o cidadao pleno, preparado para atuar politicamente para o crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagégica, os jovens deveriam scr preparados para falar bem (retorica), pensar e manifestar suas qualidades antisticas. Conhecido somente pelo testemunho de Platao, j4 que nao deixou nenhum documento escrito, Socrates (470 aC. -399 aC) desloca a reflextio filoséfica da nalureza para o homem, ¢ define pela primeira vez, 0 universo como objeto da Ciéncia. Dedica-se a procura metidica da verdade identificada com o bem moral. Seu método: se divide em duas partes: Pela ironia (eironéia, do grego: disfarce ou interrogago), ele forga seu interlocutor 2 ignorar 0 que pensava saber. Descoberta a ignorancia, Sdcrates tenta extrair do interlocutor a verdade contida em sua conseiéncia (métode denominado de maigutica), Discipulo de Sdcrates, Platio (427 a.C. -347 a.C,?) afirma que as idéias so o proprio objeto de conhecimenta intelectual, a realidade metafisica (ver Platonismo). Para melhor expor sua teoria, utiliza-se de uma alegoria, 0 mito da caverna, no qual a caverna simboliza 9 mundo das aparéncias intcriores ¢ da sensibilidade onde sé se percebem as sombras das coisas. O exterior ¢ 0 mundo das idéias, do conheeimento racional ou cientifico. Feito de corpo e alma, o homnem pertenceria sirmultaneamente a esses dois mundos. A tarefi da Filosofia seria a de 1" CURSO DE TECLOGIA MODULO 10| FILOSOFIA GERAL libertar o homem da caverna, do mundo das aparéncias, para 6 mundo real, das esséncias, Plato & considerado 6 iniciador do idealismo. Segnidor de Platio, Aristételes (384 a.C.-322 a.C.) aperfeigoa e sistematiza as descobertas de Platio e Sécra- tes. Desenvolve a légica dedutiva cléssica, como forma de chegar 20 conhecimento cientifico, A sistematizagio e os métodos devem scr descnvolvidos para se chegar a0 conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos eras para os especificos, 1.3 FILOSOFIA POS-SOCRATICA Esta Gpoca vai do final do periodo clissico 320 a.C. até 0 inicio da Era Crist trta-se do ultimo period da filosofia antiga, quando a “polis” grega desapareceu como centro politico, deixando de ser referencia principal dos filésofos, umma vez que a Grécia encontra-se primeira sob o dominio da Macedénia e depois do poderio do império Romano. Os fildsofos dizem, agora, que o mundo é sua cidade ¢ que so cidadios do mundo. As corren- tes filoséficas do ceticismo, epicurismo e estoicismo traduzem a decadéneia politica e militar da Grécia. Ceticismo: primeira grande corrente Giloséfica apés o aristotelismo, de acordo com os pensadores eéticos (Pirro 365 a.C? 275 a.C),a duvida deve estar sempre presente, pois o ser humano nao consepue conhecer nada de forma exata e segura. Assim, conclui pela suspensio do julgamento e permanéncia da divida, Ao recusar toda afirmagao dogmatica (ver Dogmatismo), prega que 0 ideal do sabio & 0 total despojamento, o perfeito equilibrio dda alma, que nada pode perturba. Epicurismo: Epicuro (341 a.C.-270 a.C.) ¢ seus seguidores, os epicuristas, defendiam que o bem era originé- rio da pratica da virude. O corpo e a alma ndo deveriam softer, para desta forma, chegar-se ao prazer. Estoicismo: seu fundador ¢ Zenito de Citium (334 2.C-262 a.C). Os esidicos, como Séneca (4a.C.- 65:C.) € Marco Aurélio (121-180), que se opdem ao epicurismo, pregam que o homem deve permanecer indiferente as circunstancias exteriores, como dor, prazer € ernogdes, Procuram submeter sua conduta 2 razo, mesma que isso ‘raga dor e sofrimento, ¢ pio prazer. ‘No século If da Era Crista, Plotino (205-270) pensa o platonismo na perspectiva histérica do Império Roma- 10, As doutrinas neoplaténicas tém grande influéneia sobre os pensadores cristios. 1.4 FILOSOFIA MEDIEVAL ‘Ao retomar as idéias de Platio, Santo Agostino (354 d.C-430 d.C) identifica o mundo das idéias com o mundo das idéias divinas. Através da iluminagao, o homem recebe de Deus © conhecimento das verdades eternas. Esta corrente da Filosofia e seus desenvolvimentos & conhecida como patristica, por ser elaborada pelos padres da Ilyreja Catolica. Entre os séculos V ¢ XTHT predomina a escolastica, o conjunto das doutrinas oficiais da Igreja, fortemente influenciadas pelos pensamentos de Plato e Aristiteles. Os representantes da es- coldstica estio preocupados em conciliar razao e fé ¢ desenvolver a discussto, a argumentagto c 0 pensamento discursive, Uma das principais correntes filoséficas da época ¢ 0 tomismo, doutrina escoléstica do teéfogo italiano Santo Tomés de Aquino (1225-1274), que encontra correspondéncia na estrutura socioecondiniea do feudalism, rigidamente estratificada, CURSO DE TEOLOGIA 7 MODULO 10 | FILOSOFIA GERAL 1.5 FILOSOFIA MODERNA ‘A dosinegragto das estruturas feudais, as primeiras grandes descobertas da Ciéncia convo o heliocentrismo de Gatileu Galilei eas leis das érbitas planctivias de Kepler — ea ascensto da burguesie assinalam a crise do pen- samento medieval e @ emergéncia do Renaseimento. Em contraste com a filosofia medieval, religiosa, dogmtica «¢ subnissa 8 autoridade da Igreja, a filosofia modema é profana e critica, Representada por leigos que procuram pensar de acordo cam as leis da razao e do conhecimento cientitico, caracteriza-se pelo antropocentrismy ~ at tude que consiste cm considerar o homem 0 centro do univers — e humanismo. O tinico método aceitével de investigagao filosdfica € o que recorre rao, René Descaries (1596-1650), eriador do cartesianismo, & consi- derado o fundador da filosofia moderna Descartes inaugurs 0 raeionalismo, doutrina que privilegia a razao, considlerads fundamento de todo 0 co- ihecimento possivel. Dentro desta corrente dostacam-se também Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716). Ao contrario dos antigos pensadores que partiam da certeza, Descartes parte da divida metédica, gue poe om questo todas as supostas certezas. Ocorre a descoberta da subjetividade, ou seja, o conhecimento do mundo nao se faz sem 0 sujeito que conhece. O foco ¢ desloca do do objeto pars o sujcito, da realidade para e razio. © percurso da divida cartesiana, ao colocar em quesiao a existéncia do mundo, descobre o ser pensante (/Penso, logo existo”), Além do racionatismo, as duas principais correntes da filosolia moderna sto 0 em- pirismo ¢ o idealismo, movimentos que tm relagdo com a ascensio econdmica e social da burguesia ¢ com a Revolugio Industrial, ‘No século XVI, o inglés Francis Bacon (1561-1626) critica o método dedutivo da tradigao escolistica, que parte de prineipios considerados camo verdadeiros c indiseutiveis, e esboga as bases do método experimental, © empirismo, que considera o conhecimento como resultado da experigneia sensivel, Na mesma linha, estio os pensamentos de Thomas Hobbes (1588-1679), John Locke (1632-1704) e David Hume (1711-1776). © empirismo pode ser considerado precursor do positivismo, Século XVITT— 0 racionalismo eartesiano e 0 empisismo inglés preparar o surgimenio do iluminismo, no século XVII, caracterizado pela defesa da Cigncia € da racionatidade critica, contra a (é, a superstigao e 0 dogma religioso. Contemporineo da Revolueso Indus- trial representa os interesses da burguesia intelectual da época e influencia a Revolugao Francesa. Os principais rnomes do movimento sao Voltaire (1694-1778) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Immanvel Kant (1724-1804) deseja fazer a sintese do racionatisino e do empirismo, a partie de uma andlise critica da razo. Supera esses dois movimentos ao afirmar que o conhecimento s6 existe a partir dos conceitos de rmatéria e forma; a matéria ver da experiéncia sensivel ea forma é dada pelo sujeito que coniece. O idealismo, a terceira grande corrente da filosofia modetna, consiste na intexpretagSo da reatidade exterior e material a parti do mundo interior, subjetivo e espiritul. Isso implica na redusdo do objeto do conhecimento ao sujcito conhecedor, (Qu seja, 0 que se conhece sobre 0 homem ¢ o mundo & produto de idéias, representagdes € conceitos elaborados pela consciéncia humana, Um dos principais expoentes ¢ Friedrich Hegel (1770-1831). Pasa explicar a realidade em constante processo, Hegel estabelece uma nova logica, a dialética, Defende que todas as coisas e iddias mor- em, Essa forga destruidora é também a forga motriz da processo historico, Século XIX — 0 positivismo de Auguste Comte (1798-1857) considera apenas o fato positive (aquele que pode ser medido ¢ controlado pela experigncia) como adequado para estudo. E uma reagiia contra idealismo as teorias metafisieas do pensamento alemnao. método € retomado no século XX. no neopositivisme, eujo principal representante € Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Ainda no séeulo XIX, Karl Mars (1818-1883) utiliza ométodo ‘mo historico, que considera o modo de produgao da vida material como condicionante da Historia. O marxismo critica a filosofia hegeliana (“nao ¢ a consciéncia dos homens que determina seu set, mas, ao conuzirio, € seu ser social que determina sua conseiéneia”) e propée ndo sé pensar o mundo, mas transformé-fo, Assim, formule 0s principios de uma prética politica, voltada para 9 revolue3o. Ganha forea com a viggncia do sovialismo em varios paises, como a Unido Soviética, onde era a filosofia oficial. Nesta época, surgem também nomes cuja ® CURSO DE TEOLOGIA MODULO 10 | FILOSOFIA GERAL ‘obra permanece isolada, sem filiarse a uma escola determinada, como ¢ 0 caso de Friedrich Nietzsche (1844- 1900}. Ele formula uaxa ctitica aos valores tradicionais da cultura ocidental, como o cristianismo, que considera dvcadente ¢ contririo a criatividade e espontaneidade humana, A tarefa da Filosofia seria, entio, a de libertar o homem dessa tradicao, No fim do séeulo XIX, 0 pragmatismo defende o empirismo no campo da teoria do comhecimento e 0 uti tarismo (busca a obtencio da maior felicidade possivel pars o maior nimeto possivel de pessoas) no campo da moral, Valoriza a pritica mais do que a teotia e da mais importincia as conseqtiéncias ¢ efeitos da acto do que seus principios e pressupostos. 1,6 FILOSOFIA CONTEMPORANEA No século XX, varios pensadores reinterpretam o marxismo, como Georg Lukacs (1885-1971), Henri Lefe- bye (1905-1991), Antonio Gramsci (1891-1937), Louis Althusser (1918-1990), Michel Foucault (1926-1984) e ‘0s fildsofos ligados & Escola de Frankfurt. Paralclamente, Edmund Husserl (1859-1938) inicia a Fenomenologia, que tenta superar a cisfo entre racionalismo e empirismo. Consiste no estado descritivo des fenémenos, ou se, das coisas como sfio percebidas pela consciéneia, que so diferentes das coisas em si mesmas. Seus seguido- res so Martin Heidegger (1889-1976), Maurice Marleau-Ponty (1908-1961) ¢ 0s fildsofos do existencialismo, como Jean-Paul Sartre (1905-1980), que consideram a existéncia humana (identificada com a liberdade) © pri- meiro objeto da reflenito filosdfica (“a existéncia precede a esséacia”}. ‘Com os avangos da Ciéncia e da Tecnologia, ¢ 0 maior dominio do homem sobre a natureza, a Epistemo- Jogia, estudo eritico dos principios, hipéteses € resultados das Ciéncias, alcanga grande desenvolvimento. O estruturalismo surge a partir da pesquise de duas Ciéncias huimanas: a Lingtistica, com Ferdinand de Saussure (1857-1913) e Roman Jakobson (1896-1982), ¢ a Antropologia, com Claude Lévi-Strauss (1908), O estrutura- lismo opde-se 20 historicismo ¢ parte do principio de que hé estruturas profundas comuns a varias culturas, que precisam ser investigadas independentemente dos fatores histéricos, CURSO DE TEOLOGIA Pe MODULO 10| FILOSOFIA GERAL 2 | metarisica William James conceituou metafisica como sendo “apenas um esforgo extraondinariamente obstinado para pensar com clarezai”. Trata-se de uma visio simplista e equivocada de pessoas que s6 conseguem perceber a vide por meio de dimensdes praticas, Os homens em geral sentemse mais a vontade quando pensam sabre como fazer uma coisa ou outra, do que pensar no motivo pelo qual esta fazendo. E por isso que a politica, a engenharia e a indiistria so consideradas mais naturais pelos homens do que a filosofia, por excmplo. A metafisica ndo esta interessada, de maneira nenhuma, pelos “como” da vida humana, tnats sim pelos “porqués”, por aquelas questées que uma pessoa pode passar & vida inteira para formular, sem mmuilas vezes encontrar uma resposta satisfutéria, Parte central da Filosofia que constitu’ a filosofia primaria, o ponto de partida do sistema flosdfico, O termo surge por volta de 50 a.C., quando AndiOnico de Rodes, a0 organizar a colegio das obras de Aristételes, di 0 nome de “ta meta ta plysita” ao conjunto de textos que se seguiam aos da Fisica (Merd~além + physis~fisica). oricamente, a palayra passa a significar tudo © que transeende & Fisica, pois, nesses estudos Aristoteles ‘examina a natureza do ser em geral € no de suas formas particulares; postulando a idgia de Deus coma subs- ‘ancia fimdamental, As bases do pensamento de Aristétcles podem ser encontradas no platonismo, Para Platdo, 4 Filosofia & a tinica ciéncia eapaz de atingir 0 verdadeiro conhecimento; por meio da dialética, 0 flésofa pode aproximar-se das idéias puras, como a verdade, a beleza, o bem ¢ a justiga. Na Idade Média, a Metafisica confunde-se com a Teologia. O italiano Sao Tomés de Aquino diz que a Meta- fisica estuda a causa primaria, ¢ como a causa primaria é Deus, ele & 0 objeto da Metatisica, Na Idade Modema a experiéncia passa a ser extremamente valorizada e a Metatisica deixa de ser considerada a base do conhecimento filosotico. © escocés David Hume (1711-1776) diz que o homem esi completamente submetido aos sentidas, portanto ndo pode eriar idéias e nao € possivel formular nenuma teoria geral da realidade, Para ele, nenhunta cigncia é capaz de atingir a verdade, seus conhecimentos so sempre probabilidades. No século XVII, o alemko Immanuel! Kant (1724-1804) afirma que 0 dominio da raz8o ¢ o rigor cientifico podem recriar a Metafisica. No século XIX, o positivismo de Auguste Comte (1798-1857) coloca a Metafisica como uma cigneia superada, Segundo ele, a histéria da humanidade (e, por analogia, o conhecimento humano} passa por tr&s periodos: © teoligico, o metallsico e 0 positivo, No século XX, 0 filésof alemo Marlin Heidegger (1889-1976) faz. uma revisko da histéria da Metafisica e diz que ela confunde o estudo do ser, o verdadeito objeto da Filosofia, com outros temas, como a idéia, a natureza e a raz. 2.1 PRIMEIROS PRINCIPIOS METAFISICOS DA BOUTRINA DO DIREITO DE TMMANUEL KANT “A ilustragdo ¢ a saida do homem de sua menoridade, da qual ele é 0 préprio responsivel. A menoridade & a incapacidade de fazer uso do entendimento sem a condugo de outro. © homem é o priprio culpado dessa me~ noridade quando sua causa reside no na falta de entendimenta, mas na falta de resolugdo e coragem para uss-lo sem a condugdo de outro, Sapere aude! “Tenha coragem de usar seu proprio entendimento!*— esse é o lema da ilustrasao, Preguiga ¢ covardia sto as razdes pelas quais uma tio grande parcela da humanidade permanece nia menoridade mesmo depois que a natureza a liberou da condugdo externa (naturaliter maiorennes): e essas so também as razGes pelas quais ¢ t4o féeil para outros manterem-sc como seus guardides. E edmodo ser menor. r CURSO DE TEOLOGIA MODULO 10 | FILOSOFIA GERAL Se tenho um livro que substitu meu entendimento, um diretor espirituat que tem uma consciéneia por mim, un médico que decide sobre a minis dieta ¢ assim por diante, nflo preciso me esforear. Néo preciso pensar se puder ‘pagar: outros prontamente assumirde por mint o trabalho penoso. Que a passagem 4 maioridade seja tida como muito dificil e perigosa pela maior parte da humanidade (e por todo o belo sexo) deve-se a que os guardides de bom grado se encarregam de sua tutela, Inicialmente os guardiges domesticam o seu gado, e certifiam-se de que essas criaturas plicidas néo ousardo dar um Gnico passo sem seus cabrestos; em seguida, os guardides thes mastram o perigo que as ameaga caso elas tentem marchar sozinhas. Na verdade, esse perigo niio ¢ to grande, Apés algumas quedas, as pessoas aprendem @ andar sozinhas, “Mas cair uma vez as intimida e comumente as amedronta para as tentativas ulteriores”', (..) VERIFICACAO DE APRENDIZAGEM 1} Como William James conceituou @ metatisica? 2) Quando ¢ por quem surge 0 termo metafisica? 3) Por que na idade médias confundiu-se a metafisica com a teologia? 1 (LMant, “0 que &a lustrario”. In Régis €. Andrade, Kon liberdede. 0 individ Dp 8285) piblin In Weert (og) Os cision de alice, CURSO DE TEOLOGIA » = MODULO 10 | FILOSOFIA GERAL 3. 1 carresiAnismo Movimento filoséfico criado peto francés René Descartes (1596-1650), considerado o fundador da Fi- losofia moderna, Descarles desenvolveu um sistema de raciocinio que se baseia na diivida metddica e no pressupde certezas & verdades, como era tradigdo entre os pensadores que 0 antecederam. O método carte- siano pie em ditvide tanto o mundo das coisas sensiveis quanto o das inteligiveis, ou seja, o que pode ser aprendido por meio das sensagdes ou do contiecimento intelectual. Para Descartes, os sentidos enganam € as idias sto confusas. Nem um nem outro podem nos dar cettezas, portanto, nfo nos conduziré ao entendi- mento da realidade, © metodo cartesiano esti fundamentado ne principio de jamais acreditar em nada que no tivesse fandamento para provar a verdade. Com essa regra nunca aceitard o fils por verdadeiro ¢ chegara ao verdadeira conbecimento de tudo. A evidéncia da propria existéncia, 0 “Penso, loge existo”, traz uma primeira certeza. A razdo seria a tnica coisa verdadeira, da qual se deve partir para aleangar 0 conhecimento, “Eu sou uma coisa que pensa, ¢ 36 do meu pensamento posso ter certeza ou intuigio imediata”, diz Descartes. Para reconhecer algo como verdadeiro, ele considera necessério usar a razdo como filtro ¢ decompor esse algo em partes isoladas, em idéias claras e distintas. Para garantir que a razto nao se deixa enganar pela realidade, womando come evidéncia 0 que de fato nao passa de um erro de pensaimento ou ilustio das sentidos, Descartes formula sua segunda certeza: a cxisténcia de Deus. Entre outras provas, usa a idgia de Deus como o ser perfeito. A nopao de perfvicao nfo poderia naseer de tum ser imperfeito como o homem, mas de outro ser perfeito, argumenta Descartes. Logo, s¢ um ser é perfeito, deve tor a perfeigao da existéncia. Caso contririo, Ihe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, Deus existe. todo cartesiano revoluciona todos os campos do pensamento de sua época, possibilitando 0 desenvolvimento a ciéncia modems ¢ abrindo eaminho para o homem dominar a natureza, A realidad das idéias claras e distin- tas, que Descartes apresenta a partir do método da diivida e de evidéncia, transforma o mando em algo que pode ser quantificado, Com isso, a ciéncia, que até entdo se bascava em qualidades obscuras e duvidosas, a partir do inicio do séeulo XVI, torna-se matematica, capaz de reduzir o Universo a coisas e mecanismos mensurdvels que a geomettia pode explicar. VERIFICACAO DE APRENDIZAGEM, 1) 0 que vové entendeu sobre o cartesianismo? ae CURSO DE TEQLOGIA MODULO 10| FILOSOFIA GERAL 4 | CETICISMO Escola filosofica fundada pelo grego Pirro (365? a.C.-275 a.C.) que questiona as bases do coahecimento me- tafisico, cientifico, moral e, especialmente, religioso. Nega a possibilidade de se conhecer com certeza qualquer verdade e recusa toda afirmago dogmitica (aqucla que é accita como verdadeira, sem provas). Otermo deriva do verbo grego “sképtamat”, que significa “olhar, observar, investigat™. Para 05 ofticos, uma afirmago para ser provada exige outra, que requet outra, até o infinito. O conhecimento, para eles, & relativo: depende da natureza do sujeito e das condigdes do objeto por ele estudado, Costumes, teis © opinides variam segundo a sociedade e 0 periodo hist6rico, tomando impossivel chegar-se a conceitos do zeal ¢ irreal, do correto e incorreto, CondigGes como javentude ou velhice, satide ou doenca, lucide7 ou embriaguez influenciam © jutgamento e, consequentemente, o conhecimento, por isso, os seguidores de Pirro defendem a suspensto do juizo, o total despojamento e uma postura neutra diante da realidad Se for impossivel conhecer a verdade, tudo sc tom indiferente ¢ eguilibrado, Para eles, 0 ideal do sabio & a indiferenga. Ainda na Antiguidade, o grego Sexto Empirico (século III?) ? ¢ os empiristas véem o ceticismo como um modo de obter conhecimento pela experiéncia. No excliem a ciéncia, mas procuram fundamenté-la sobre representages e fendmenos encontrados ge modo indiscutivel e inevitavel na experiéncia, Hsse ceticismo po: tivo tem papel fundamental no pensamento do escocés David Hume (1711-1776), um dos maiores expoentes da filosofia moderna (ver Empirismo). Derrubanda dogmas metafisicos ¢ religiosos, a filosofia modema baseiase nas relagbes terrenas ¢ coloca o homem camo dono de seu priprio destino, oi um min «Sléeafe Grego que viveu entre os séeules It ‘CURSO DE TEOLOGIA a MODULO 10| FILOSOFIA GERAL 5 | LOGICA Entendida popularmente como o estudo do raciveinio correto, a légiea surge no Ocidente com o filésofo grego Aristétcles, para mostrar que os sofistas (mestres da retérica ¢ da oratéria) podiam enganar 08 cida- dos utilizando argumentos incorretos, Aristiteles estnda a estrutnra logica da argumentagao; revela, assim, que alguns argumentos podem ser convincentes embora nfo sejam corretos. A logica, segundo Aristiteles, é ‘um instrumento para atingir o conhecimento cientifico, Sé se pode chamar de ciéncia aquilo que € metédico e sistemiitico, ou seja, logico. Na obra “Organon”, Arisioteles define a légica como método do diseurso demonstrativo, que se utiliza de trés operagies da inteligéncia: 0 conceito, 0 juizo € 0 raciocinio, O conccito € a representacao mental dos ob- {jetos. O juizo é # afinmagdo ou negagio da relagdo entre 0 sajeito (0 objeto) e o seu predicado. E 0 racivcinio & © que leva & conclustio sobre os varios juizos contidos no discurso. Os raciocinins poem set analisados como silogismos, nos quais uma conclusio se segue de duas premissas. “Todo homem & mortal. Sdcrates é home logo, Séerates é monal”, diz ele, para exemplificar. “Sdcrates”, “homem” e “mortal” sio conceitos. “Séerates & mortal” ¢ “Sécrates é home” sa juizos, O raciocinio é a progressdo do pensamento que se dé entre as premnis- sas “Todo homem é mortal”, “Sécrates é homem” e, a conciusio, “Sécrates € mortal”. O matemitico e filésofo alemiio G.W. Leibniz (1646-1716) critica a légica aristotstica por demonstrar verdades conhecidas, mas nto revelar novas verdades, Além disso, a légica tradicional sistematiza apenas juizos do tipo sujeito e predicado, como “Séerates é mortal”, 14 os modemos sentem necessidade de um método capaz de estudar também relagtes entre objetas, como “A Tetra é maior do que a Lua”. ‘No final do séeulo XIX, 0 alemio Gottlob Frege (1848-1925) cria uma légica baseada em simbolos mate~ maticos e na anélise formal do discurso, langando as bases da ligica moderna, que formaliza os taciocinios, organizando-os muma espécie de gramética, que pode ser empregada a diversas linguagens, como a proposi- ional, que estuda a relago dos juizos entre si, ¢ a de predivados, que analisa a estrutura interne das sentengas, Como # matemiética, ambas se wilizam de simbolos Iégicos (de negagdo, conjungao ¢ implicagao, por exemplo) « nio-logicos (que representa propasi¢des, fungdes, relagdes etc.) pora criar cileuios ou sistemas de dedugio, A validade de um argumento depende exclusivamente de sua formula légica e nao do contetido das afirmagies, Entio, se no exemplo aristotélico o conceito “mortal” for substituide pelo conceit “verde” (“Todo homem é verde, Sderates é homem, logo, Serales é verde”), o argumento permanece vilido, ou correto, embora niio exis- tam homens verdes. Valido, porém, nao quer dizer verdadeiro, Para que a conclusto de unt argumiento valide seja verdadcira, as premissas tem de ser verdadeitas. Ao estudar a estrulura a natureza do racioeénio humana & reproduzi-las em formulas maternéticas, tornou-se possivel, por exemplo, a eriagao de uma linguagem bindri que & 4 base de funcionamento do software para o computador. VERIFICACAO DE APRENDIZAGEM 1) Quais sao as trés operagdes da inteligéncia segundo Aristételes? 4. Orgonen 6» conjunto das obras do légien do Fésofe Groge Arista. 2 CURSO DE TECLOGIA,

Você também pode gostar