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precisio. Verificou ele que o calor de neutralizagto entre tum fcido © uma base, ambos em sohig#o aquosa, era o ‘mesmo, quer se adiciona a Scido concentrado & 4gua e depois base, ou se fizesse 0 contrério, primeiro a base em égua e depois 0 Acido. A soma dos calores obtidos a vérias concen- ‘tragies do Acido ou da base (fixando-se um deles) era constante dentro de um erro de 1% (!) Estes estudos levaram-no, em 1840, a enunciar a lei hoje conhecida como “lei de Hess”, ou seja:” a quantidade de calor envolvida durante a formaglo de um dado composto € constante, independentemente se o composto & formado direta ow indiretamente em uma série de etepas”. A lei de Hess ¢ considerada, hoje, um aspecto de uma lei mais geral, ‘ou melhor, de um conjunto de leis, que tem o nome da “18 lei da Termodinémica”, também conhecida com o ‘nome da “Princfpio de conservarfo da energia”. Hess, como Lavoisier, esteve sempre envolvido com pro- blemas priticos, assim, logo que percebeu o alcance de sua lei reoém-descoberta, no hesitéu em aplicé-la. Em seu tempo, o poder calorifico de um carvéo era determinado pela quantidade de oxigénio necessiria a sua combustdo. 0 quimico inglés Ure observou que em carves com maior teor de hidrogénio, menos calor ele fornecia, atribuindo isto a formagio de vapores que absorviam uma “parte do cal6- rico”. Hess chama a atengfo para este engano © escreve: “A soma do calor comrespondente a uma certa quantida- de de agua e de fcido carbénico, que supomos provir da combustdo, estando constante, & evidente que s© 0 hidro- génio encontrando-se previamente combinado ao carbono, esta combinagdo ndo poderia terse formado sem desprend- mento de calor, esta quantidade jé eliminada, nfo pode mais ser recuperada na quantidade desprendida na combus- ‘io definitiva Isto resulta na pritica na simples regra: um combustivel compacto desprende sempre menos calor que seus elementos tomados separadamente. .. Quando conhe- cemos melhor as quantidades de calor desprendidas pela ASSUNTO GERAL combinagZo de vérios elementos, a quantidade de calor desprendida pela combusto de uma substincia orginica revelar-sesé um dado importante, e que nos conduziré a um conhecimento mais intimo de sua constituigto. Tenho pena convicso que teremos uma idéia precisa dos fendme- ‘nos quimicos, quando pudermos indicar nas formulas as relagdes de cal6rico, como indicamos hoje a8 proporgdes relativas dos Stomos ponderdveis. Pelo menos a termoqu{- mica nos promete revelar as leis entfo secretas da afinidade qu{mica”. (os grifos encontram-se no original). Este trecho faz parte de uma carta que Hess enviou a ‘Arago em 1840 e publicada no “Comptes Rendus de I'Aca- demie de Sciences, 10(19), 759(1840)" ¢ ilustra bem, inclusive, sua visio quase profética do futuro de suas det cobertas, © que de comum hé na vida desses dois homens & de tum lado, a dedicagio 20 estudo visando esclarecer com- preender os fendmenos observados, de outro, o envolvi- ‘mento sempre constante com problemas de ordem prética, seja por propria iniciativa, seja a convite de outros interes sados, principalmente 0 poder pablico. ‘George T. Armstrong. “The calorimeter and its influence on the evelopment of Chemistry". Chem. Ed. 41, 297 (1964). Denis 1. Duveen. “Lavoisier” in “Cintistas Famoss (Scientific American)”, tad. José Reis, Ibrasa, Sd0 Paulo (1961), p. 101-11. 3G. H.Hess. “Recherces sur les quanttés de chaleur degigtis dans Jes combinaisons chimiques”. Comptes rend. 10, 759-63 (1840). “Antoine Laurent Lavoisier. (1743-1794), “Ocuvres de Lavoisier”, publics par les sois de Son Excellence le Ministre de MInstruction Publique et des Cultes, Pars, Imprimerie Imperiale, (1862-1868), a. SH. M. Lekcester. “Germain Henry Hest and The Foundations of “Thermochemistry”, J. Chem. E4, 28, $81 (1951). Viggnia M. Schela. “Thermochemistry and Animal Metabolism”. 1. Chem. Ha, 41, 226 (1964). HEINRICH RHEINBOLDT — (1981-1955) Emmesto Giesbrecht Instiuto de Quimice, USP — CXa, Postal 20780 ‘Universidade de Sao Paulo, S. ., Brasil (ecebido em 10/02/81) A'5 de dezembro de 1955 falocia Heinrich Rheinbolat, ‘© querido mestre, que chegou ao Brasil em 1934 para insta- lar o Departamento de Qufmica da recém fundada Faculds- de de Filosofia, Cigncias ¢ Letras da Universidade de Sto Paulo, Permaneceu como Diretor do Departamento de Qui- rica até a sua morte, dirigindo-o de maneira sabia e huma- na, ¢ propiciando condigges didéticas ¢cientfics 20s seus, disefpulos de manera a poder ser considerado o verdadeiro iniciador da pesquisa quimica no Bras 96 QUIMICA NOVA/JULHO 1981 ‘Nasceu Heinrich Rheinboldt a 11 de agosto de 1891 em Karlsruhe (Baden), Alemanha; iniciou os seus estudos uni- verstérios na Escola Técnica Superior de Karlsruhe, tendo- -0s completado em Estrasburgo. Doutorou-se a4 de dezem- bro de 1918, em seguida transferiu-se para Karsruhe onde ppermaneceu até 1922. Contraiu matrimOnio a 3 de abril de 1923 com Emmi Rheinboldt, sua companheira dedicada ¢ inwepardvel até os éltimos dias, Transferiv-se a seguir para Bonn, onde obteve 0 titulo de LivreDocente em 1924. Em 1927 tomouse AssistenteChefe ¢ em 1928 foi nome- ado Professor Extraordindrio de Quimica Inorginica e Quimica Analitica ¢ em 1934 transferiuse para o Brasil a convite do Governo do Estado de Sto Paulo. Rheinboldt simbolizou perfeitamente a comunhfo entre pesquisador e professor. Dedicava um carinho especial as suas aula, as quais ministrou até poucos dias antes de sua morte, Suas prelegdes eram um modelo de clareza, precisfo € meticulosidade ¢ sabia apresentar os assuntos mais com- plexos da maneira mais simples posivel. ‘As publicag®es de Rheinboldt somam a 181, compreen dendo 118 trabalhos cientifico-experimentais, 26 trabalhos cientificoliteréios, 22 trabalhos de carder histbrico, 10 trabalhos de carfter diatico e 5 livros. ‘Na Universidade de Sao Paulo dirgin 15 Teses de Douto- ramento. s trabahos cienificos publicados por Rheinboldt com- preendem assuntos muito diversos:neles nota-e a influén- cia de dois grandes mestres com quem trabathou: Johannes Thiele e Pau Peiffer. Os primeiros trabalhos experimentais se ocupam dos oldies e a seguir das reagdes de Grignard, quando estudou especialmente as propriedades redutoras dos compostos corgano-magnesianos. ‘Outro campo estudado por Rheinboldt & a dos haletos de nitrosilo. A reacio de Rheinboldt, baseada na formacto de tiontrtos coloridos, permite a identificagdo de mereap- tanas primdrias,secundérias tercidras, a parti de nitrito de s6dio, deido clorfdrico.e a mereaptana em diversos sol- ventes: éter,éster acético ou cloroférmio. Também prepa- rou diversos adutos de cloreto de nitrosla com haletos inorginicos, O seu interese pelo selénio comegou em 1930, quando tentou preparar 0 tribxido de selénio, conseguindo-o com uma pureza de 20 a 36%. As suas pesquisas sobre outros compostos de selénio foram continuadas mais tarde quando jf se encontrava no Brasil e com finalidades bem diferentes. Outro campo de atvidade desenvolvido por Rheinboldt referese i redugfo de grande nimero de haletosinorginicos or meio de magnésio, principalmente em solugfo etérica. Em geral a reduglo vai até 0 metal (Be, Zn, Cd, He, Al) © em outros casos a reduglo 6 parcial (THIV, selénio-1V, ferro HD, Ocupow-e da constituigio dos écidos coleicos, no teri t6rio dos compostos moleculares de importincia biologica. Estes trabalhos se referem & composigdo dos écidos coeicos ¢ também sobre a possibilidade de formaggo de compostos rmoleculares entre dcidos biliaes¢ 4cidos graxose derivados destes, bem como de hidrocarbonetos superiores. Estes trabalhos foram executados com o auxiio do mé- todo “degelo-fusfo” e foram continuados no Brasil. O mé- todo “degelo-fusio” representou uma notivel contribuigfo de Rheinboldt para a simplificagfo da andlise térmica, espe- cialmente para o estudo de sistemas bindros entre substin- cias orginicas. Els foram iniciados em 1924 e continuados quase sem interrupgio até 1951, envoWvendo: 1) formagio de compostos molecular de iodetos orginicos com enxo- fre © compostos organicos de enxofre; 2) possibilidade de substituigfo isomorfa de chalcogénios e pscudo-chalcog nios em compostos orgénicos; 3) possibilidade da substitui- ¢0 isomorfa do ciano-grupo pelos halogénios em compos- tos orginicos; 4) configuragdo dos sulféxidos, sulfonas, selendxidos, slenonas teluréxidos. Outro campo de atividade de Rheinboldt 6 o referente ‘QUIMICA NOVA/JULHO 196197 03 derivados de Acido sulfénicos ¢ principalmento aos 4cidos selenénicos ¢ seus derivados: sulfetos de selencnila, tiolatos de selenenila, tiocianatos e selenecianatos de sele- nenila, Muitos outros trabalhos foram por ele realizados abran- gendo assuntos muito variados,txis como: cisfo hexacloro- disiloxano com acetilacetona, preparacio de diversos ‘oxohaletos de silfcio, preparagdo da tiogicerin, ete. Sua produgio literdria é muito vaste. Fot colaborador do “Houben-Weyl”, do “Handworterbuch der Naturwis- senschaften’. Kscreveu ainda diversos artigos de divulgag0 cientifica, por exemplo, sobre colbides, compostos orgint os moleculares, dcidos bilares, nomenclatura, etc. Outro aspecto a ressltar na sua atividade didéticae cien- ‘ifiea era. a sua preocuyes io pelos assuntos historcos, © que se refletia em seus trabalhos ¢ nas suas aulas. Tinha sempre a preocupagio de conhecer © homem, a sua vida e sua obra desta maneira contribuiu de maneira eficaz na divulgs- ‘fo dos fatos e acontecimentos mais marcantes ligados aos ‘grandes vultos da cigncia quimica. Rheinbolit foi realmente um professor no verdadeiro sentido da palavra. Nunca fez, distingfo entre ensino © pes- ‘quisa, sendo igualmente brithante nos dois campos. A sua vinda ao Brasil para dirigir o Departamento de Quimica da Faculdade de Filosofia, Cigncias e Letras da Universidade de Sao Paulo, foi um acontecimento providencial, pois ele soube criar uma escola digna do seu nome, ¢ cujos discipu- los ¢ continuadores, estio sem davida continuando a sua obra para © maior progresvo ¢ divulgerdo da Quimica no Brasil ‘TESES DE DOUTORAMENTO DIRIGIDAS PELO PROFESSOR HEINRICH RHEINBOLDT NA UNIVERSIDADE DE SAO PAULO 1 SIMAO MATHIAS, Sobre mercaptanas bivalentes ¢ sulfeto-dimercaptanas — janeiro de 1942. 2 — PASCHOAL ERNESTO AMERICO SENISE, Sobre a natureza dos Scidos coléicos ~ abril de 1942. NOTA SOCIAL ‘SOCIOS EFETIVOS DA SBQ 153E, TSE. 155 156E STE N.M, Rodrigo Leygue Alba — Caxias do Sul ‘Casué Nakanishi Trindade dos Santos — Sfo Paulo ‘Marisa Fontes Soares — Itabuna Luiz Carlos Garla — Ribeitio Preto Bliana Fadanelli — Campinas 98 QUIMICA NOVAJJULHO 1881 3 — FRANCISCO BERTI, Estudo sobre sistemas bindrios orginicos novembro de 1942. 4—WALDOMIRO PREGNOLATO, Anilise térmica de sistemas bindtios de compostos orginicos — feve- relro de 1946, 5 — GIUSEPPE CILENTO, Isosterismo, Isologia e Isomor- fismo — novembro de 1946. 6 — GERMINIO NAZARIO, Estudo sobre a substituigo ‘isomorfa dos halogénios ¢ pseudo-halogénios na pposigdo beta da molécula da Naftalena — nover- ‘bro de 1946, 7 — MADELEINE PERRIER, Estudos sisteméticos sobre a substtuigso isomorfogénea dos dtomos pseudo- -&tomos halogénios ¢ de grupos pseudo-halogénios na posigio 1 da 2,4dinitrobenzena — novembro de 1947, ERNESTO GIESBRECHT, Estudo sistemitico sobre © isomorfismo de éteres, sulfetos, selenetosetelu- retos acflicos — novembro de 1947, 9—WALTER LOEWNSTEIN, Estudo sobre 0 contetido em hifnio dos minerais de zircOnio da regio de Pogos de Caldas ~ maio de 1948, 10 — ALFREDO LEVY, Estudos sobre 2 influéncia do ‘omprimento da cadela carb6nica na formacto de solugbes sidas em compostos orginicos — novern- bro de 1948, 11 — WALDEMAR SAFFIOTI, Sobre compostos de adigl0 de sulféxidos e selenenéxidos — novembro de 1948, 12 - MARCO ANTONIO GUGLIEMO CECCHINI, Contr bbruiglo a0 estudo das relapGes isomorfogéneas de enxdfie, selénio e telirio em compostos orginicos andlogos; sistemas binérios de dissulfetos, dissele- netos ¢ diteluretos orginicos — setembro de 1952. 13 — LUIZ ROBERTO MORAES PITOMBO, Estudo do cloreto e tiocianato de I-bromo-2naftaleno-sulfe- nila ~ maio de 1954. 14 — NICOLO PETRAGNANI, Contrituigto 20 conheci ‘mento dos compostos de ariltetirio — abril de 1957. 15 ~ GERALDO VICENTINI, Sobre a sintese de teturetos ‘orginicos — outubro de 1957. 758E 759-5, 760 761E TLE [Lucia Helena Seron — Campinas Luciano Gadetha de Abreu — Rio de Janeiro Luiz Taylor Silveira Siedler — Florianépolis Juergen Heinrich Maar — Floriandpolis Pedro Paulo da Silva Queiroz — Rio de Janeiro

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