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DOI: 10.1590/1413-81232017228.

08622017 2571

Uso racional de medicamentos, farmaceuticalização

ARTIGO ARTICLE
e usos do metilfenidato

Rational use of medicines, pharmaceuticalization


and uses of methylphenidate

Angela Esher 1
Tiago Coutinho 1

Abstract The rational use of medicines (URM) Resumo O uso racional de medicamentos
is considered one of the key elements recommend- (URM) é considerado um dos elementos-cha-
ed by the World Health Organization (WHO) for ve recomendados pela Organização Mundial de
pharmaceutical policies. The excessive increase in Saúde (OMS) para as políticas de medicamentos.
the use of medicines in many countries has been O crescimento excessivo no uso de medicamentos
identified as a major barrier to the achievement em muitos países tem sido apontado como uma
of URM and is part of a phenomenon called the importante barreira para o alcance do URM e faz
‘pharmaceuticalization’ of the society. This paper parte de um fenômeno denominado ´farmaceuti-
aims to present innitiatives to rationalize the use calização´ da sociedade. Desta forma, o presente
of methylphenidate and its limits in Brazil, con- artigo objetiva apresentar movimentos para racio-
sidering the concept of pharmaceuticalization nalizar o uso do metilfenidato no Brasil e discutir
of the society. It is an exploratory study, based os limites impostos tendo como referência o con-
on a narrative review of the scientific literature. ceito de farmaceuticalização da sociedade. Trata-
Controversies about the uses of methylphenidate se de estudo exploratório, realizado por meio de
make it a good example of this phenomenon and narrativa da literatura científica. As controvérsias
may help in the reflection and construction of new acerca dos usos do metilfenidato o torna um bom
paths to the limits found by the concept of rational exemplo deste fenômeno podendo auxiliar na re-
use of medicines. flexão e na construção de novos caminhos para os
Key words Rational use of medicines, Pharma- limites encontrados pelo conceito de uso racional
ceuticalization, Methylphenidate, Attention defi- de medicamentos.
cit disorder and hyperactivity Palavras-chave Uso racional de medicamentos,
Farmaceuticalização, Metilfenidato, Transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade

1
Departamento de Política
de Medicamentos e
Assistência Farmacêutica,
Escola Nacional de Saúde
Pública, Fiocruz. R.
Leopoldo Bulhões 1480,
Manguinhos. 21041-210 Rio
de Janeiro RJ Brasil.
aesher@ensp.fiocruz.br
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Esher A, Coutinho T

Introdução outros usos, não médicos para estilo de vida, me-


lhoramento cognitivo ou de performance sexual
O uso racional de medicamentos (URM) é con- entre pessoas ‘saudáveis’.
siderado um dos elementos-chave recomenda- Ainda segundo Busfield4, se antes a preocu-
dos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) pação era com a utilização indiscriminada de an-
para as políticas de medicamentos1. Na Política timicrobianos, atualmente os psicofármacos, em
Nacional de Medicamentos (PNM) do Brasil, especial o metilfenidato, têm se tornado objeto
ele é definido como o processo que compreende a de atenção de teóricos do tema. Considerado pela
prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna Organização Mundial da Saúde como o psicoes-
e a preços acessíveis; a dispensação em condições timulante sintético mais vendido no mundo, o
adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos medicamento com o princípio ativo metilfenida-
intervalos definidos e no período de tempo indicado to chegou ao Brasil apenas em 19986.
de medicamentos eficazes, seguros e de qualidade2 Segundo o International Narcotics Control
e sua promoção faz parte de uma das diretrizes Board (2013), em 2012, a produção global de me-
prioritárias. tilfenidato registrou um recorde de mais 63 tone-
Para a implementação do URM é necessá- ladas. Embora haja um aumento no número de
rio desenvolver estratégias como a seleção de países fabricando a substância nos últimos anos,
medicamentos, construção de formulários tera- os Estados Unidos da América (EUA) permanece
pêuticos, gerenciamento adequado dos serviços como fabricante de quase 97% da produção total.
farmacêuticos, dispensação e uso apropriado de Ainda em 2012, EUA, Canadá, Alemanha, Espa-
medicamentos, farmacovigilância, educação dos nha, Suíça, Países Baixos, Brasil, Suécia, Israel,
usuários quanto aos riscos da automedicação, da África do Sul e Austrália7 estavam entre os prin-
interrupção e da troca de medicamentos prescri- cipais consumidores do medicamento. Pesquisa
tos. Estratégias de regulação são também essen- Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do
ciais porque vão pautar as relações na produção, Uso Racional de Medicamentos (PNAUM), um
na comercialização e na prescrição. Sem dúvida, estudo transversal realizado no Brasil entre os
os aspectos mais sujeitos a influências pernicio- anos de 2013 e 2014 encontrou o metilfenidato
sas de indução ao uso não racional dos medica- entre os medicamentos mais usados em doenças
mentos. crônicas entre crianças de 6 a 12 anos8.
Há, ainda, uma série de hábitos e práticas que O metilfenidato, medicamento que na déca-
impedem sua efetivação, tais como: multiplicida- da de 50 não tinha destinação certa e era usado
de de produtos farmacêuticos registrados como para cansaço em idosos, tem sido a primeira op-
novidades que não se diferem dos já existentes, ção terapêutica para o Transtorno de Déficit de
difusão do uso sem uma avaliação dos impac- Atenção, com ou sem Hiperatividade (TDA/H)
tos da adoção do produto, julgamento negativo em crianças e adultos. Segundo Ortega et al.6,
sobre as práticas que direcionam o uso racio- nos dias atuais o uso frequente e a confiabilidade
nal, muitas vezes entendida como elemento que atribuída aos seus efeitos servem como referência
cerceia a liberdade do prescritor e influência da para legitimar o diagnóstico. É um medicamento
indústria farmacêutica. Além disso, intervenções controlado pela portaria SVS 344/98 e só pode
promotoras de URM geram desconfiança nos ser dispensado com Notificação de Receita tipo
pacientes que têm suas crenças reforçadas pelas “A” de cor amarela para medicamentos relaciona-
propagandas que estimulam o consumo no lugar dos na lista A3 onde se inserem os Psicotrópicos.
de o educar3. Seu uso é objeto de uma série de controvérsias
O crescimento excessivo no uso de medica- principalmente porque é também utilizado para
mentos em muitos países tem sido apontado melhoramento do desempenho cognitivo de in-
como uma importante barreira para o alcance do divíduos saudáveis.
URM. Segundo Busfield4, esse crescimento é bem
reconhecido e pode ser visto como uma clara evi- Uso Racional de Medicamentos
dência de um fenômeno denominado ‘farmaceu- e o Metilfenidato
ticalização’. Farmaceuticalização (Pharmaceutica-
lization) pode ser definido como a tradução ou Desenvolvido pela OMS no final dos anos
a transformação das condições humanas, recursos de 1970, quando o mundo vivia um boom da in-
e capacidades em oportunidades de intervenção dústria farmacêutica, o conceito de URM se ma-
farmacêutica5. Estes processos vão além dos do- terializa como política pública nos dias de hoje
mínios médicos ou medicalizados para abranger através de uma estratégia estruturante para sua
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promoção: a implementação da lista de Medica- nologias em Saúde (BRATS) publicou, em março
mentos Essenciais (ME). Entendidos como me- de 2014, um estudo que indica que este é um me-
dicamentos que satisfazem as necessidades prio- dicamento com “alto potencial de abuso e depen-
ritárias da saúde da população, estes fármacos dência” e que a “avaliação do efeito do metilfeni-
devem ser utilizados seguindo uma determinada dato para o TDAH deve ser cautelosa”14. Segundo
racionalidade, sendo selecionados por critérios os autores, foi encontrada baixa qualidade meto-
de eficácia, segurança, conveniência, qualidade e dológica, curto período de seguimento e pouca
comparação de custo favorável. capacidade de generalização na maior parte dos
Recentemente, conselhos de classes, Ministé- estudos sobre eficácia e segurança do uso do
rio da Saúde e Conselho Nacional de Saúde ini- metilfenidato em crianças e adolescentes. Ainda
ciaram um movimento que defende a necessida- assim, o documento conclui que há evidências
de de empreender esforços para a construção de de que crianças que não possuem TDAH estariam
diretrizes que subsidiem políticas públicas para sendo medicadas e casos da doença sendo tratados
racionalização dos usos do metilfenidato e en- sem necessidade. O diagnóstico deste transtorno é
frentamento das situações de abuso9. No Brasil, o dimensional, pois envolve padrões típicos de com-
metilfenidato não integra a Relação Nacional de portamento da faixa etária e os apresentados pelos
Medicamentos Essenciais (Rename) estabelecida indivíduos. Ademais, os sintomas do transtorno
pelo Ministério da Saúde. No entanto, como es- podem ser encontrados no comportamento dos in-
tados e municípios tem relativa autonomia para divíduos com desenvolvimento típico. Machado et
incluir produtos que atendam as especificidades al.15 apresentam duras críticas ao boletim e afir-
locais, já é possível perceber um movimento de mam que esta conclusão não está nos artigos in-
inclusão deste medicamento nas listas seleciona- cluídos no estudo.
das de algumas cidades. Com critérios pré-estabe- As incertezas no diagnóstico, comorbidades
lecidos, usuários do SUS recebem o metilfenidato frequentes relatadas no TDAH e a relação do in-
como padronizado no âmbito da política farma- divíduo com a escola ou o trabalho são fatores
cêutica de São Paulo, Campinas e Espírito Santo. que desafiam a adesão aos protocolos de trata-
O Espírito Santo foi o primeiro estado no mento. Wannmacher16 afirma que a tomada de
país a criar uma portaria para regular dispensa- decisão terapêutica, incluindo a prescrição de
ção pública deste medicamento, em setembro de medicamentos deve ser permeada pela ética. Se
201010, seguido pelo Município de São Paulo em por um lado, o profissional deve estar sempre
junho de 201411 e, finalmente, por Campinas em atualizado, ciente de que a “ciência é mutável e
outubro de 201412. As três regulamentações apre- permanentemente alimentada por novas evidên-
sentam diferenças interessantes. Critérios como a cias”, é necessário também que estas evidências
idade e os sintomas para inclusão no protocolo, estejam consolidadas com metodologia científica
concentração do medicamento dispensado, espe- que gere graus de recomendação, isentas de con-
cialização do prescritor e local para dispensação flito de interesses e que considere os princípios
são os principais itens que as diferenciam. da autonomia, justiça, não maleficiência e bene-
No Rio de Janeiro, a aprovação de uma lei ficência.
municipal não foi suficiente para que fosse estru- Desta forma, a partir da decisão de construir
turado um programa de dispensação pública13. protocolos de utilização do metilfenidato como
No ano de 2012, o prefeito Eduardo Paes sancio- forma de racionalizar o uso e mediante relatos
nou o projeto de lei de nº 710/2010 de autoria da literatura, o presente artigo objetiva discutir,
do vereador Tio Carlos que garante direitos aos os limites e os desafios impostos pelas diferentes
alunos com TDAH do Município do Estado do formas de uso do medicamento.
Rio de Janeiro. A lei que dispõe sobre as diretrizes
a serem adotadas pelo Município do Estado do
Rio de Janeiro para realizar a orientação a pais e Método
professores sobre as características do Transtorno
do Déficit de Atenção – TDAH, determina tam- Trata-se de estudo exploratório realizado por
bém a disponibilização de remédios associados meio de revisão narrativa da literatura científi-
ao tratamento do transtorno nos equipamentos ca sobre o fenômeno da farmaceuticalização, uso
de saúde pública municipais. racional de medicamentos e os usos do metilfe-
Em meio a tantas controvérsias sobre a efe- nidato.
tividade do medicamento para o tratamento do A proposta inicial para a busca bibliográfica
TDAH, o Boletim Brasileiro de Avaliação de Tec- incluía a combinação entre si dos seguintes des-
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critores: “farmaceuticalização”, “uso racional de lise teve como referência as seguintes categorias:
medicamentos” e “metilfenidato”. Tendo em vista uso off label do metilfenidato, uso racional de
a originalidade do tema e a oposição implícita medicamentos e farmaceuticalização.
entre as práticas do uso racional de medicamen- A categorização permitiu detalhar e integrar
tos e os efeitos da farmaceuticalização só foram os diferentes temas abordados nos artigos e com
encontrados três artigos, dois para a combinação isso relacionar de forma mais abrangente a far-
“pharmaceuticalization” OR “pharmaceuticalisa- maceuticalização e as diferentes formas de uso do
tion” AND “rational use of medicines” na Biblio- metilfenidato.
teca Virtual em Saúde (BVS)4 e SciELO17 e outro
para “pharmaceuticalization” OR “pharmaceuti-
calisation” AND “methylfenidate” no PubMed- Resultados e discussão
Medline e no Scopus18. Um nova tentativa nas
mesmas bases com os termos “pharmaceuticali- As iniciativas de construção de protocolos para
zation” OR “pharmaceuticalisation” AND “cog- dispensação pública de metilfenidato fazem par-
nitive enhancement” também retornou em ape- te de um movimento inicial para tentar raciona-
nas um artigo19. lizar os usos e minimizar empregos inadequados
Esta limitação obrigou a inclusão de mais do medicamento23-26. No entanto, as incertezas
duas combinações, quais sejam: (Pharmaceutica- sobre quem se beneficia com o tratamento e di-
lization OR Pharmaceuticalisation) AND “Label” ficuldades ainda existentes para estabelecer um
(offlabel)20,21, (Pharmaceuticalization OR Phar- diagnóstico desafiam a construção de diretrizes
maceuticalisation) AND “Mental Illness”22,23. sólidas para o uso racional deste medicamento.
Vale ressaltar que por ser um neologismo o ter- Os artigos encontrados na revisão são apresen-
mo Pharmaceuticalization em inglês pode ser tados no Quadro 1. Os conteúdos detalham as-
escrito com a letra S ou Z. Isso foi controlado pectos importantes que envolvem o fenômeno
na busca por meio do operador booleano “OR”. da farmaceuticalização como uma importante
Foram consultadas as bases de dados científicas barreira para as práticas do uso racional de me-
PubMed-Medline, Scopus e BVS e SciELO, sem dicamentos.
delimitação de tempo. No caso das características e comportamen-
Os critérios de inclusão determinados foram tos semelhantes ao TDAH, assim como em ou-
artigos publicados em revistas indexadas e dis- tros transtornos mentais, muitos indivíduos per-
poníveis de forma completa para acesso aberto. correm diferentes especialistas em busca de uma
Como somente oito artigos retornaram nas bus- solução para suas dificuldades, incômodos, sofri-
cas realizadas com as combinações de palavras- mentos e fracassos gerados por situações relacio-
chaves utilizadas, não foram aplicados critérios de nadas à falta ou pouca atenção22. A partir do que
exclusão. A opção por não incluir o termo “medi- é divulgado na mídia, buscam médicos que pres-
calização” evidentemente limitou os achados so- crevam o tratamento. Há também aqueles que
bre o tema, no entanto, permitiu uma melhor re- buscam ampliar sua capacidade cognitiva para
flexão sobre a produção dos argumentos presen- prestar concursos, produzir trabalhos que exijam
tes no desenvolvimento dos muitos sentidos da muita concentração, aumentar sua produtivida-
farmaceuticalização. Para a gestão bibliográfica de ou até mesmo diminuir a procrastinação19 e
foi utilizado o programa Zotero versão 4.0.21.2. ainda, crianças e adolescentes que cumprem as
Todos os artigos foram lidos na íntegra e para características determinadas nos protocolos para
a análise foi utilizada uma ficha de extração de diagnóstico.
dados composta das variáveis: título, ano de pu- Muitos são usos off label, isto é, distintos dos
blicação, objetivo, formas de utilização do medi- aprovados em bula que inclui indicação, poso-
camento, formas de obtenção do medicamento, logia, formas de administração e faixas etárias
elementos contidos do conceito de URM. distintas das testadas e aprovadas24. Para o termo
Inicialmente, as categorias elaboradas para em inglês não há tradução oficial no Brasil24. Bus-
análise dos trabalhos selecionados seriam os dois field4 aponta a prescrição off-label amplamente
conceitos centrais do artigo, isto é, “farmaceuti- utilizada por médicos, a não conformidade de al-
calização” e “uso racional de medicamentos”. No guns esquemas terapêuticos considerados como
entanto, após a leitura exaustiva dos artigos foi “irracionais” ou “não racionais” e a definição de
possível perceber que o uso off label ocupa um comportamentos de alguns pacientes como “ra-
papel central no processo de farmaceuticalização cional” como aspectos importantes da discussão
que envolve o metilfenidato. Desta forma, a aná- do uso excessivo de medicamentos.
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Quadro 1. Número e referência dos artigos encontrados segundo a base de dados.
Base de Dados / Pubmed Bireme
Scopus Scielo
Palavras-chaves Medline Lilacs
(Pharmaceuticalization Busfield J. Assessing the overuse of 1* 0 Biehl J. Patient-
OR medicines. Soc Sci Med 2015; 131:199- *Mesmo Citizen-Consumers:
Pharmaceuticalisation) 206. do Scopus Judicialization
AND (Rational Use of of health and
Medicines) metamorphosis
of biopolitics. Lua
Nova Rev. Cult. e
Política 2016; 98:77-
105.
(Pharmaceuticalization Vrecko S. Everyday drug diversions: A 1* 0 0
OR qualitative study of the illicit exchange *Mesmo
Pharmaceuticalisation) and non-medical use of prescription do Scopus
AND (Methylphenidate) stimulants on a university campus. Soc
Sci Med 2015; 131:297-304.
(Pharmaceuticalization Coveney C, Williams S, Gabe J. The 0 0 0
OR Sociology of Cognitive Enhancemente:
Pharmaceuticalisation) Medicalisation and Beyond. Health
AND (Cognitive Sociology Review 2011; 20(4):381-393.
Enhancement)
(Pharmaceuticalization Towghi F. Normalizing Off- 0 0 0
OR Label Experiments and the
Pharmaceuticalisation) Pharmaceuticalization of Homebirths
AND Label (off label) in Pakistan. Ethnos 2014; 79(1):108-
137.
Bell SE, Figert AE. Medicalization
and pharmaceuticalization at the
intersections: Looking backward,
sideways and forward. Soc Sci Med
2012; 75(5):775-783.
(Pharmaceuticalization Kokanovic R, Bendelow G, Philip 2* 0 0
OR B. Depression: the ambivalence of *Mesmos
Pharmaceuticalisation) diagnosis. Sociol Health Illn 2013; do Scopus
AND Mental Illness 35(3):377-390.
Fisher JA, Cottingham MD, Kalbaugh
CA. Peering into the pharmaceutical
“pipeline”: Investigational drugs,
clinical trials, and industry priorities.
Soc Sci Med 2015; 131:322-330.

Dentre as muitas atribuições da Anvisa, regu- e pode estar influenciado pelos usos off label da
lar a prática médica não está sob seu escopo. Des- substância. O fato de ter efeitos colaterais leves
ta forma, não há como estabelecer controle para para muitos pode encorajar o aumento de doses
as prescrições resultantes dessa prática profissio- efeitos ou o uso de substâncias mais potentes.
nal, o que possibilita que um medicamento seja Osorio-de-Castro et al.25 afirmam, no entanto,
aprovado para uma finalidade e prescrita para que o uso de medicamentos não é motivado ape-
outra, bem diferente dos ensaios clínicos23,24. No nas por necessidades de saúde. Ao contrário do
caso do metilfenidato, a bula registrada na Anvisa uso racional (URM), desenvolve-se, paralelamen-
remete ao prescritor a responsabilidade de deter- te, “práticas e desejos” não racionais de utilização
minar a dose e o esquema de uso. Dados de con- de fármacos por indivíduos e populações”25,26. O
sumo apontam um uso mais frequente em perí- alcance e a popularidade de um fármaco não se
odos letivos, especialmente no segundo semestre baseiam apenas na sua capacidade para conseguir
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um efeito, mas a sua interação com pressões cul- tal na conformação desta postura ativa do indiví-
turais e sociais que definem uma condição como duo que decide utilizar um psicofármaco como o
merecedoras de resolução farmacêutica20,23. metilfenidato. Os novos espaços virtuais de com-
Busfield4 propõe uma tipologia de cinco ti- partilhamento de informações modificam ou in-
pos de uso inadequado. São eles: a) Não recebi- terferem na relação com médicos que deixam de
mento de um medicamento que é clinicamente ser detentores supremos do saber e passam a ser
necessário (benefícios compensariam os riscos); questionados por pacientes cada vez mais infor-
b) Recebimento/uso de um medicamento que mados29.
não é eficaz para a condição a ser tratada (ris- Entre os anos de 2009 e 2011, Vrecko18 co-
cos superam os benefícios); c) Recebimento/uso ordenou uma investigação qualitativa que teve
de um medicamento em que não há necessidade como sujeitos usuários do medicamento Aderall
clínica adequada para ele (riscos superam quais- (mistura de sais de anfetamina, também utili-
quer benefícios); d) Recebimento/uso de um zado para TDAH e proibido no Brasil) que fa-
medicamento certo, mas nas doses ou duração zem uso para fins de melhoramento cognitivo
ou combinação com outros medicamentos erra- em ambientes universitários ingleses. No estudo
das (mudando assim a equação risco-benefício); foram constatadas as seguintes formas de aqui-
e) Recebimento/uso de um medicamento caro, sição do medicamento para utilização não tera-
quando um mais barato seria tão eficaz quanto. pêutica: amigos, membros da família, mercado
De acordo com Osório-de-Castro et al.25 exis- paralelo e médicos “enganados” por pacientes.
tiriam alguns fatores que contribuem com esta A aquisição feita por meio de amigos conta com
prática: uma grande oferta (em quantidade ou a proximidade de alguém que tem a prescrição
em variedade) de medicamentos, considerados e fornece sem expectativa de um pagamento ou
essenciais ou não; a atração proporcionada por outra troca monetária. O fornecimento consiste
novidades terapêuticas17; o marketing poderoso em apenas algumas pílulas e não é feito de for-
da indústria farmacêutica; o direito supostamen- ma regular. Não há solicitação direta por parte
te alienável do médico de prescrever; e até sincre- de quem recebe sob risco de incluir o fornecedor
tismos culturais, que expõem os medicamentos em alguma situação embaraçosa, mas são narra-
a usos jamais pensados por aqueles que o desen- das estratégias de sedução e manipulação para
volveram20. esta obtenção. Assim como entre os amigos, a
No caso do Metilfenidato, por ser um me- aquisição feita por meio de membros da família
dicamento controlado que só pode ser vendido ou parceiros íntimos não envolve troca monetá-
com retenção da prescrição, há duas resoluções ria mas é mais impositiva que a anterior. O fato
importantes que regulam a propaganda e a ven- de ser algo de um parente próximo faz com que
da. A primeira é a Resolução da Diretoria Co- este “objeto” (o medicamento) possa ser compar-
legiada (RDC) nº 96/2008 que dispõe sobre a tilhado como qualquer outro. Inclui estratégias
propaganda, publicidade, informação e outras que não são feitas com amigos. Já no mercado
práticas para divulgação comercial de medica- paralelo, as interações são impessoais e envolvem
mentos resolve que a propaganda ou publicida- dinheiro. Segundo Vrecko18, os dados coletados
de só pode ser efetuada em revistas de conteúdo nas entrevistas mostram que os fornecedores não
exclusivamente técnico, referentes a patologias e eram traficantes e sim conhecidos, “amigos de
medicamentos, dirigidas direta e unicamente a amigos” e a transação indicou a necessidade de
profissionais de saúde habilitados a prescrever mobilização de uma rede social. Ficou explícita
e/ou dispensar medicamentos27. A segunda é a a necessidade de confiar em amigos dispostos a
RDC nº 63/2008 que veda comercialização de intermediar as relações que garantirão o forneci-
medicamentos regulados pela portaria 344/98 mento. Foi possível perceber ainda, que quando
em ambientes virtuais, sendo a aquisição possível o medicamento era adquirido nesta modalidade,
apenas de forma presencial em estabelecimento em troca de dinheiro, ganhava uma conotação
farmacêutico28. Isso, no entanto, não tem sido mais próxima de ‘droga’, uso de rua, perigo e ile-
suficiente e a internet tem permitido ir além do galidade e menos percebida como um ‘remédio’,
acesso à informação, criando ambientes onde que, por comparação, foi apresentada como rela-
esse medicamento é facilmente localizado e ad- tivamente segura e socialmente aceita. A última
quirido sem a influência de médicos ou autori- forma de aquisição apresentada no estudo foi
dades sanitárias. enganando os médicos e envolvia formas frau-
O acesso à infinidade de fontes de informa- dulentas e previamente planejadas para forjar
ção disponíveis na internet tem papel fundamen- sintomas que levassem a um (falso) diagnóstico
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de TDAH e consequentemente numa prescrição tilfenidato tem sido protagonista neste processo
para o medicamento desejado. Com a obtenção para aprimoramento/melhoramento cognitivo.
de suas próprias prescrições, o padrão de utili- Segundo Bostrom & Sandberg34, “cognição
zação mudou e esses indivíduos passaram a to- pode ser definida como os processos que um or-
mar o medicamento regularmente e não mais de ganismo usa para organizar a informação. Isso
forma intermitente como quando tinham acesso inclui a aquisição de informações (percepção), a
por amigos ou no mercado paralelo. seleção (atenção), a representação (entendimen-
Um dos aspectos fundamentais da farmaceu- to) e a retenção de informações (memória), e usá
ticalização da sociedade é o papel exercido pelos -lo para orientar o comportamento (raciocínio e
meios de comunicação na propagação deste fe- coordenação motora)” (trad. livre). Intervenções
nômeno. Bedor30 analisa de forma crítica o lan- farmacológicas ou tecnológicas para melhorar a
çamento publicitário de uma opção terapêutica função cognitiva podem ser dirigidas a qualquer
sem hormônios para “curar” disfunções asso- uma destas funções. Quando a intervenção obje-
ciadas aos corpos de mulheres na menopausa e tiva corrigir uma patologia específica ou defeito
pós-menopausa. A campanha publicitária, se- de um subsistema cognitivo, pode ser caracteriza-
gundo a autora explora a farmaceuticalização do do como terapêutico. A escassez nos estudos não
envelhecimento e principalmente a eterna busca permite determinar, ainda, o que são abusos nas
de uma normalização e normatização do corpo diferentes formas de usos do metilfenidato, mas é
feminino. Com o aumento na oferta de novas evidente o consumo entre pessoas saudáveis.
tecnologias que permite aos indivíduos idosos Bostrom e Sandberg34 argumentam que a so-
uma melhor qualidade de vida, o medicamen- ciedade moderna vem exigindo muito mais es-
to em questão representa o alcance da indústria tudo e concentração intelectual do que era espe-
farmacêutica num evento que estava naturaliza- rado para a espécie humana em seu ambiente de
do como parte do envelhecimento. A inovação adaptação evolutiva, desta forma não é surpreen-
apresentada pela estratégia de marketing busca dente que muitas pessoas lutem para atender as
neutralizar a ideia de que desejo e sexualidade demandas da escola ou do mercado de trabalho
são apenas pertencentes aos mais jovens. Outro com a utilização de novas tecnologias. O uso des-
exemplo é a pesquisa de Woloshin e Schwartz31 sas ferramentas para melhoria cognitiva pode ser
sobre a atual cobertura feita pela mídia da “sín- visto, segundo os autores, como uma extensão da
drome da perna inquieta”. Segundo os autores, os capacidade da espécie humana para se adaptar ao
meios de comunicação provocaram um grande seu ambiente.
alarde na opinião pública exagerando na divulga- Ainda que os dados sobre o consumo off label
ção dos sintomas e na necessidade do tratamento de medicamentos para melhora cognitiva sejam
induzindo a casos de excesso de diagnóstico. No difíceis de serem obtidos, pesquisas recentes indi-
uso não racional do metilfenidato, as matérias cam que este consumo é bastante difundido entre
jornalísticas (pagas ou não) e as interações via estudantes. Com base em alguns estudos sobre
internet têm tido papel de destaque. uso ilícito de estimulantes, 5-35% dos estudan-
A automedicação é também uma crescente tes universitários americanos usam ou já usaram
forma de consumo entre aqueles que usam este estimulantes prescritos para TDAH35. No Brasil,
meio de comunicação. O conhecimento e a tro- houve um aumento significativo na divulgação
ca de experiência constituem-se como “fontes de da doença e do número de pessoas que passam
sabedoria” e transforma interessados em “especia- a ter acesso ao tratamento de TDA/H, além dis-
listas”32. O alto grau de especialização em pacien- so, alguns dados apontam para o crescimento
tes com doenças terminais (em alguns casos agin- do consumo do metilfenidato para uso não te-
do em parceria com o médico) já era algo percebi- rapêutico36. Autoridades sanitárias alegam que
do por pesquisadores mas o processo de expansão existem indícios de abuso e desvio de utilização
da farmaceuticalização acontece sobretudo com para outras finalidades que não as terapêuticas.
os fármacos utilizados para fins não terapêuticos Embora haja esforços em andamento, ainda é
visando a potencialização de performances, de- difícil quantificar os efeitos da prescrição de me-
nominada por Conrad33 como “aprimoramento dicamentos para melhoramento cognitivo em
biomédico”. Neste caso, “aprimoramento” repre- pessoas saudáveis29.
sentaria um bem social no interior de uma cul- Em meio aos debates sobre dilemas éticos do
tura que valoriza o “maior, mais rápido e mais uso de medicamentos para melhora cognitiva em
ainda!” e onde as diferenças competitivas entre indivíduos saudáveis estão questões sobre adic-
indivíduos constituem-se como patologia. O me- ção, formas de utilização e acesso. Não é possível
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precisar se pessoas que necessitam de estimulan- e finalmente na sociedade contemporânea. Desta


tes de venda livre como café, bebidas energéticas, forma novas contribuições surgirão para romper
nicotina para manter o nível cognitivo normal se com os limites encontrados pelo atual conceito
tornariam viciadas caso fizessem uso desse medi- de racionalidade no uso de medicamentos.
camento. Cakic37 defende a necessidade de criar
estratégias para minimizar riscos e potencializar
benefícios, pois estudantes usarão medicamentos Conclusão
para aumentar sua capacidade cognitiva (noo-
trópicos) independente da segurança ou legali- O conceito de farmaceuticalização tem possibi-
dade. E por último, como ele nunca será acessível litado explorar campos ainda pouco analisados
para todos, novas formas de desigualdades po- sobre usos de medicamentos, com destaque es-
dem surgir. pecial para as discussões sobre automedicação e
Os caminhos percorridos para o desenvol- usos de tecnologias farmacêuticas para aprimo-
vimento e a regulação de novos medicamentos ramento ou melhoramento cognitivo. Estudos
chamam a atenção para as formas em que os no campo da antropologia e da sociologia da
processos de farmaceuticalização, biomedicaliza- saúde têm apresentado novas características so-
ção e medicalização muitas vezes se sobrepõem e bre usos de fármacos, novas formas de comuni-
convergem, contribuindo para a discussão socio- cação e também o papel do prescritor nesse novo
lógica do aprimoramento19,20. No entanto, Cove- cenário.
ney et al.19 ressaltam que quando o objeto de aná- O uso abusivo e desnecessário tem se mostra-
lise é o medicamento, o conceito de farmaceuti- do crescente e dá visibilidade às inadequações das
calização permitirá compreender suas diferentes medidas de regulamentação, da comercialização,
inserções na sociedade, que podem ocorrer na publicidade, hábitos de prescrição e formação
ausência de medicalização ou de envolvimento cultural da população, entre outras. Desta for-
do profissional médico. Ressaltam que no cam- ma, pensar em uma alternativa para promover
po do aprimoramento cognitivo, este conceito só a racionalidade para o “aprimoramento” é uma
pode ser aplicado às formas farmacêuticas e que tarefa complexa, que envolve vários atores sociais
formas que incluam interfaces com computador e diferentes sistemas, incluindo aspectos sociais,
ou alimentos devem envolver conceitos como econômicos, educativos, epistemológicos e clíni-
medicalização e biomedicalização. cos. Avaliar as propostas para dispensação públi-
Coveney et al.19 sugerem agendas de estudos ca do metilfenidato como forma de racionalizar
sociológicos no campo da farmaceuticalização o uso é, também, um desafio que se coloca, uma
que incluem detalhamento do tipo e função de vez que não está claro quais elementos seriam ne-
produtos farmacêuticos em desenvolvimento, cessários para o diagnóstico de todos aqueles que
tendências econômicas, políticas, sociais e cul- se beneficiariam do medicamento.
turais presentes na condução destes desenvolvi- A capacidade governamental para produzir
mentos; modos de interação e compreensão de respostas seja por meio de regulações ou cons-
usuários com as tecnologias farmacêuticas estan- trução de protocolos é bem-vinda, mas parece
do ou não relacionados com a medicina; a legi- não estar sendo suficiente para conter avanços
timação em diferentes contextos sociais e cultu- da propaganda e do comércio que transformam
rais; e a avaliação da intervenção farmacêutica na o metilfenidato em um dos medicamentos mais
cognição e suas consequências nos corpos, seres consumidos no mundo.
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Ciência & Saúde Coletiva, 22(8):2571-2580, 2017


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