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DOSSIÊ
Hannah Arendt, 60 anos depois de A condição humana
Renata Nagamine*
Denise Vitale**
Este ensaio reflete sobre a ideia de espaço público no pensamento de Hannah Arendt, tal como apresentada
em A condição humana, elaborando sobre a pandemia de Covid-19, ocorrida no ano de 2020. O artigo a
toma como uma experiência que nos convida a pensar as reconfigurações do espaço (e do tempo) olhando
para o esvaziamento das cidades, a paralisação da economia, a circulação de notícias falsas e o revigora-
mento de certas formas de interação. Entendemos que Arendt nos fornece elementos para pensar os desa-
fios postos pela pandemia.
Palavras-chave: Vida Ativa. Espaço Público. Pluralidade. Pandemia. Teoria Política.
http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v33i0.37905 1
REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
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Renata Nagamine, Denise Vitale
te ao mundo em seu aspecto objetivo, a ação truição do mundo natural e daquele fabricado
remete a seu aspecto intersubjetivo. por mãos humanas. Dessas características da
Tais distinções, apenas esboçadas acima, modernidade resultariam um avanço da eco-
requerem alguns esclarecimentos. O primeiro é nomia, isto é, das atividades originariamente
que Arendt fala em condição humana, e não em ligadas à casa sobre o espaço público, a ponto
natureza humana. Esse deslocamento lhe possi- de transformar a política, de uma experiência
bilita tomar o indivíduo no mundo, entenden- de liberdade, em administração da vida, com
do-se por mundo um conjunto de artefatos ma- seu consequente rebaixamento, para Arendt. É
teriais, institucionais, simbólicos, e uma gran- nesse processo de expansão da economia em
de teia de histórias entrelaçadas que abriga as relação ao público que se constitui, enfim, o
interações individuais, nas quais uns e outros social, um espaço híbrido, no qual interesses
se afetam mutuamente e pelas quais suas histó- privados adquirem importância pública e as-
rias, tanto atravessam as de outros, quanto são sumem crescente protagonismo em relação à
atravessadas pelas deles. Se natureza humana vida privada e à política.
remete a uma espécie de substrato comum des- Quatro anos após a publicação de A con-
colado do espaço e retirado do tempo, condição dição humana, um livro de peso foi dedicado à
humana aponta para indivíduos situados, igual- análise da esfera pública. Em Mudança estru-
mente subjugados pelas necessidades do corpo, tural da esfera pública, de 1962, Habermas de-
mas também singulares. No limite, Arendt vai lineia o conceito a partir de uma reconstrução
encontrando assim um lugar para o que nos histórica e social que remete ao ponto em que
une, o que nos separa e, como veremos, o que Arendt teria parado em 1958, a saber, o final do
nos põe em relação. Um segundo esclarecimen- século XVIII, das revoluções francesa e ameri-
to é que a vida humana tem, para Arendt, tan- cana. Em seu livro, Habermas argumenta que,
to uma dimensão biológica, relacionada, como naquele momento, a esfera pública torna-se um
dissemos acima, ao corpo e à espécie, quanto elemento funcional da ordem burguesa, pois
uma dimensão biográfica, que se estende do lhe foi conferido um status normativo, por meio
nascimento à morte, e é urdida nas interações do direito e das instituições, que articulavam
e cuja autoridade repousa, estranhamente, nos a sociedade civil com uma autoridade estatal
outros. O ator arendtiano não é propriamente correspondente às suas necessidades. De outra
autor de sua história: ele precisa contá-la para parte, os princípios republicanos e liberais fo-
dar sentido à própria vida, mas só aqueles que mentaram o surgimento de uma esfera pública
o assistem ou o ouvem sabem quem ele é. E é informal, nos cafés, salões e associações lite-
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REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
Nos dois séculos seguintes, em diagnós- relações sociais, culturais e políticas, e coloni-
tico compartilhado por Arendt e Habermas, o zando o mundo da vida, uma espécie de pano
advento do Estado de Bem-Estar Social diluiu de fundo cultural comum a uma dada socie-
as fronteiras entre o público e o privado. O cres- dade. Nesse sentido, a esfera pública assume
cente intervencionismo estatal e a ampliação um papel central, não se resumindo às insti-
de suas funções de implementação de direitos, tuições políticas estatais, mas a um conjunto
num contexto de sociedade e de meios de co- de associações e organizações que povoam as
municação de massa, ressignificaram a função relações humanas. Funcionando como uma
da esfera pública, que se tornou mais um es- “rede adequada para a comunicação de conte-
paço burocrático-administrativo de regulação údos, tomadas de posição e opiniões na qual
social e, portanto, de reprodução da ordem e os fluxos comunicacionais são filtrados e sin-
objeto de manipulações ao invés de um espaço tetizados a ponto de se condensarem em opini-
de crítica, emancipação e transformação. Em A ões públicas enfeixadas em temas específicos”
condição humana, esse processo é identificado (Habermas, 1997, v. II, p. 92), a “esfera pública
como a ascensão do social, descrito por Arendt constitui principalmente uma estrutura comu-
como a crescente dedicação do tempo a ativi- nicacional do agir orientado pelo entendimen-
dades relacionadas com os processos vitais e to” (Habermas, 1997, v. II, p. 92). Se, em sua
a vida social, uma vida de associação por se- origem moderna, a esfera pública era apenas a
melhanças que contribui para a normalização reunião das esferas privadas que compunham
de comportamentos. No pensamento de Aren- um público, na construção habermasiana, com
dt, a crítica do social lança luz sobre a busca o passar do tempo e a complexificação social,
pela distinção – um processo potencialmente suas estruturas comunicacionais conhecem
agonístico – e a espontaneidade, que tornam uma generalização cada vez maior. Nesse pro-
a ação imprevisível e, portanto, não contro- cesso, há um desacoplamento entre os conteú-
lável, o que é importante, se pensarmos que dos e tomadas de posição e os contextos densos
elementos totalitários podem estar presentes das interações simples de pessoas ou grupos,
em sociedades democráticas (Arendt, 1973) e bem como a necessidade de maior explicação
é preciso cogitar formas de resistência. e tradução desses conteúdos ao público geral.
Seja como for, dois efeitos da ascensão Quanto mais as esferas públicas se desligam
do social são, para Arendt, a diluição da sepa- de suas presenças físicas, integrando o espaço
ração entre público e privado e o comprome- virtual, mais abstrata se torna essa passagem
timento das condições da ação, entre as quais (Habermas, 1997, v. II, p. 93).1
a possibilidade de retirada do espaço público Uma crítica pertinente à forma como
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para o diálogo de si consigo mesmo e o trabalho Arendt pensa o espaço público é a de que ela
de conciliação com o mundo (Arendt, 1994b). não olha para sua complexificação com a as-
Em Habermas (1989, 2013), essas mudanças censão do social, mas insiste em uma separa-
evidenciam a complexificação da esfera públi- ção rígida entre os espaços da vida ativa e sua
ca contemporânea e a necessidade de manter o associação a atividades específicas (Benhabib,
que ele chama de ação comunicativa blindada 2003). Privilegiando as interações face-a-face
da ação instrumental típica da administração ou mediadas por instituições, Arendt se furta
pública e do mercado. 1
Vale ressaltar, porém, que, ao fazer essa reflexão, nos
Segundo o diagnóstico habermasiano, anos 1990, Habermas tinha em mente um conjunto pas-
sivo de leitores, espectadores e ouvintes que recebiam
apenas o fortalecimento da esfera pública e de conteúdos midiáticos, sendo a comunicação, pois, media-
uma razão discursiva poderia deter o avanço da pelos canais de comunicação de massa. Em tempos de
internet e redes sociais, esse conjunto pode ser tanto mais
da racionalidade sistêmica, que tende a ex- ativo quanto mais passivo e atuar com forte influência
nessa esfera pública, tornando esse ambiente ainda mais
trapolar seu campo de ação, contaminando as complexo.
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a pensar o papel da mídia na política, o que eles pode ser interpretado como uma forma de
é interessante porque, contrariando a tradi- nostalgia. Mas também podemos entender que
ção da filosofia, ela pensou as opiniões em Arendt não almeja com esse recuo uma repro-
sua positividade, caracterizou-as como sendo dução da democracia ateniense, e sim pensar
próprias ao domínio da política e contribuiu criticamente o espaço público moderno, a rela-
ela mesma com veículos de imprensa, como ção da política com o social e o privado, tendo
a revista New Yorker. Inspirado no modelo da em vista a possibilidade da política em sua ple-
democracia grega, o espaço público arendtia- na dignidade, ou seja, aberta à espontaneidade
no constitui-se com a igualdade perante a lei, e à distinção, podendo esta ser entendida como
tendo por característica interações mediadas uma forma de apreciação da singularidade. O
por objetos fabricados por mãos humanas e retorno de Arendt aos antigos se dá por seu in-
pelas instituições. Nesse sentido, Arendt esta- teresse presente, informado pela experiência
ria mais próxima de uma visão republicana da do totalitarismo, para encontrar parâmetros a
política, oposta a uma visão liberal e distinta uma crítica da modernidade, da possibilidade
da via procedimental aberta pela teoria do dis- da política em resposta a uma vida adminis-
curso habermasiana.2 trada, do deslocamento da ação pelo compor-
A via comunicativa e intersubjetiva é tamento, da espontaneidade pela normalidade.
defendida tanto por Arendt como por Haber- Retornando à experiência singular da
mas, que guardam similaridades e diferenças democracia ateniense, Arendt (1998) enten-
importantes. Enquanto para Habermas a ênfa- de que o público se constitui originariamente
se da ação está no seu processo discursivo, na pela reunião de indivíduos em torno de assun-
formação de consensos pela ação racional co- tos ou problemas específicos, os quais assim
municativa, e incorpora a dimensão estratégica se tornam assuntos comuns. Mas, se o público
(Habermas, 1980), para Arendt, influenciada se constitui pela reunião, o que Arendt ilustra
pelos antigos, o cerne da política está na pró- remontando a Homero, a pólis lhe teria confe-
pria ação em concerto, marcada pelo fato ine- rido estabilidade através da lei, que o demarca
xorável da pluralidade. Esta condição humana tal como o muro que circunscrevia fisicamente
na terra torna a ação potencialmente tão con- o espaço da política. Este é o espaço da isono-
sensual quanto agonística, tão necessária quan- mia, da isegoria e da isocracia, ou seja, da pari-
to contingente (Canovan, 1983). dade no falar, ser ouvido e decidir. Trata-se de
Na concepção de espaço público, Arendt um espaço em que se age pela palavra, a troca
é tributária dos gregos antigos, e seu retorno a de opiniões voltada para a persuasão, estan-
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dos assuntos comuns (Arendt, 2018b), ou seja, dos espaços da vida ativa. No limite, ela esva-
a que os cidadãos não decidissem os assuntos ziaria a política do debate acerca de questões
da cidade sob seu jugo. Para dar conta concei- de justiça material, o que faz repensar como
tualmente dessa condição de ingresso no an- Arendt pensa o problema da assimetria de po-
tigo espaço da política, Arendt (1990, 2016, der. Por fim, a política para Arendt só é possível
2018a) distingue liberação de liberdade, uma porque somos, ao mesmo tempo, diferentes uns
distinção que ela aprofundará em Sobre a re- dos outros e semelhantes uns aos outros, o que
volução, de 1963. A liberdade é o sentido da significa que precisamos e conseguimos nos
ação (Arendt, 2005) e a ação é não violenta por comunicar, ainda que não necessariamente, ou
definição, ao passo que a liberação, a disposi- mesmo dificilmente, concordemos uns com os
ção de recursos materiais para a satisfação das outros. Há possibilidade de entendimento mú-
necessidades vitais como uma condição para tuo, entendimento das opiniões uns dos outros,
estar, entre pares, é pré-política e pode com- sem consenso.
preender a violência (Arendt, 1990; 1998). Mas por que precisamos falar uns com os
Nessa construção, a política é aquilo que outros? Para Arendt, uma resposta a essa per-
se passa entre indivíduos quando eles agem gunta passa, entre outras coisas, pelo fato de
em conjunto. Na ação os indivíduos se tornam que cada um tem uma perspectiva singular e in-
atores, comunicam-se uns com os outros e co- substituível do mundo: recuperando o sentido
municam aos outros quem são. Pensando com do verbo grego antigo dokein, Arendt dirá que
Santo Agostinho, Arendt parte do pressuposto o mundo se abre diferentemente para cada um
de que todos os indivíduos são novos começos de nós (Arendt, 1994c). Essa abertura informa
por si sós, pois ingressam pelo nascimento em as nossas opiniões, que são aquilo que nos pa-
um mundo que os precede e que será transfor- rece, ao passo que é parte fundamental na cons-
mado por eles; por isso, também lhes é facul- trução de tudo aquilo que é factual, dos fatos
tado introduzir pela ação algo novo no mundo. como algo compartilhado, ou, se preferirmos,
Concebida nesses termos, a política é necessa- da verdade factual (Arendt, 1972; 2016), pelo
riamente intersubjetiva, isto é, passa-se entre que Arendt entende aquilo que é visto por mui-
indivíduos, não podendo se dar em isolamento tos de ângulos diferentes e por isso só pode ser
e sendo dependente da manutenção do espa- frágil.3 Para ela, a despeito dessa fragilidade, a
ço-entre, que separa e relaciona, e é, na práti- possibilidade de opinar depende dessa verdade
ca, assegurado por artefatos e instituições. e o estatuto das opiniões na política requer certa
Como se pode notar a esta altura, Arendt distância da verdade lógica e filosófica, a verda-
não pensa a política com centro no Estado, nem de absoluta, eterna, e, por conseguinte, tirâni-
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o poder como dominação, e sua possibilidade, ca (Arendt, 1994c). Com isso, Arendt, por um
para ela, assenta-se em uma série de condições. lado, afasta a prática da negação dos fatos, da
A primeira, como antecipamos, é a igualdade organização da mentira e da falsificação da rea-
perante a lei, que possibilita aos atores se dis- lidade e, por outro, aponta para o problema dos
tinguirem uns dos outros sem temerem que sua especialistas na democracia, ou na República.
distinção resulte em desigualdade. A igualda- Para resumir o que dissemos até aqui,
de consistiria, assim, em uma forma de lidar na topologia da vida ativa, o espaço público é
com as diferenças. Outra condição, também já 3
Uma crítica posterior e pertinente do feminismo acadê-
mencionada, é a liberação em relação às neces- mico (Benhabib, 1993; Young, 1990) a Arendt nesse ponto
é que ela não contempla, em sua reflexão, identidades com
sidades vitais. Esse é um ponto muito contro- as quais estamos habituados a pensar a política nos nossos
vertido de seu pensamento, que inclusive leva dias, como raça, gênero, orientação sexual, e que já eram
mobilizadas na ação social em demandas por justiça. Em
estudiosos de Arendt, como Richard Bernstein parte a dificuldade ou recusa de Arendt a pensá-las pode
estar associada a seu entendimento do lugar do público e
(1986), a contestar a utilidade de sua distinção do privado no mundo moderno.
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aquele estabelecido entre indivíduos iguais pe- desfecho. Mesmo os espectadores, que podem
rante a lei que se ocupam das coisas do mundo contemplá-la e teriam o que Immanuel Kant
falando dele, trocando ideias e buscando per- chamou de um olhar desinteressado sobre ela,
suadir uns aos outros. É um domínio em que só têm uma ideia clara a seu respeito ao final
o absoluto não cabe e que abriga o relativo, as dos acontecimentos.
opiniões (Arendt, 1994c): ele pode abrigá-las Por esses dois aspectos, a incontrolabi-
em sua positividade porque tem, na verdade lidade e imprevisibilidade, a ação encerra, ela
factual, um elemento pré-político. Esse espa- mesma, dois remédios, segundo Arendt: o per-
ço é, ademais, constituído pela e para a ação dão e a promessa. O perdão, uma faculdade in-
tanto quanto por e para atores. Como dissemos dividual, abre caminho para novos começos; a
parágrafos atrás, trata-se de um espaço de apa- promessa pretende vincular os atores a princí-
recimento, em que por atos e falas os atores pios da ação e se consubstancia em instituições.
revelam quem são, para além dos atributos que Em A condição humana essas instituições, que
compartilham com outros, e podem buscar a são um aspecto objetivo do público, importam
distinção, mostrar sua singularidade, inscre- por conferirem estabilidade à política. Elas são,
ver seu nome e sua biografia na grande e frágil nesse sentido, uma condição de possibilidade
teia dos assuntos humanos que é a história. do novo sem ruptura, sem a deflagração inces-
Para isso, a pluralidade é uma condição não sante de revoluções. Outro modo de olhar para
só porque a ação é conjunta por definição e é o que estamos chamando de dimensão objetiva
nela que o ator se revela, mas também porque do público é como suporte físico da ação, sem
o testemunho e o reconhecimento dos outros o qual público não chegaria a se formar. Judith
é a garantia da memória do ator e de que seus Butler (2015) explora esse caminho enfocando
feitos serão contados. como o público se forma por assembleias, ou
Esse espaço, inequivocamente intersub- seja, pela reunião espontânea de multidões que
jetivo, tem uma dimensão que podemos consi- transformam espaços físicos e objetos. Essa reu-
derar equivocamente objetiva. Ela é equívoca, nião, no entender de Butler (2015), institui o
primeiro, porque ora compõe o espaço público, público pela formação intersubjetiva e transfor-
ora é uma condição para que ele se estabeleça, madora do material; mas a ação também é mais
e depois porque, como Arendt (1978) dirá mui- dependente das condições materiais do que
to mais tarde, todo subjetivo é objetivo a outro Arendt supõe: não por acaso, as assembleias
alguém. Com frequência, a dimensão objetiva com frequência contestam e demandam acesso
do espaço público aparece como uma condi- a condições para agir.
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em 15 de julho de 2020).
carregava os serviços de saúde e acabava resul- 6
OMS eleva a ameaça internacional do coronavírus para
tando em elevado número de mortos. muito alta. Folha de S. Paulo, 28 de fevereiro de 2020.
Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/equili-
Também se sabia que o vírus era muito brioesaude/2020/02/oms-eleva-a-ameaca-internacional-
-do-coronavirus-para-muito-alta.shtml> (acessado em 15
contagioso e transmitido pelo ar. Para conter de julho de 2020).
sua transmissão, a China adotou medidas se- 7
WHO. WHO Director-General’s opening remarks at the
media briefing on COVID-19 - 11 March 2020. Disponível
em <https://www.who.int/dg/speeches/detail/who-direc-
tor-general-s-opening-remarks-at-the-media-briefing-on-
4
World Health Organization. Novel Coronavirus Report -covid-19---11-march-2020> (acessado em 15 de julho
(2019-NCoV). Situation Report 1. 21 January 2020. de 2020); Watanabe, Phillippe. OMS declara pandemia
Disponível em <https://www.who.int/docs/default-source/ de novo coronavírus Sars-CoV-2. Folha de S. Paulo, 11 de
coronaviruse/situation-reports/20200121-sitrep-1-2019-n- março de 2020. <https://www1.folha.uol.com.br/equili-
cov.pdf?sfvrsn=20a99c10_4> (acessado em 14 de julho brioesaude/2020/03/oms-declara-pandemia-do-novo-coro-
de 2020); Watanabe, Phillipe e outros. Tudo o que você navirus.shtml> (acessado em 15 de julho de 2020).
precisa saber sobre o novo coronavírus Sars-CoV-2. Folha
de S. Paulo, 22 de janeiro de 2020. Disponível em <ht- 8
BBC. Coronavirus: South Korea ‘emergency’ measures
tps://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/01/ as infections increase. BBC, 21 February 2020. Disponível
veja-o-que-se-sabe-ate-agora-sobre-o-coronavirus-chines. em <https://www.bbc.com/news/world-asia-51582186>
shtml> (acessado em 14 de julho de 2020). (acessado em 14 de julho de 2020).
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tremas. A postura traduziu-se em uma demora outras coisas, a assegurar condições materiais
fatal9 na adoção de medidas para conter o con- mínimas para que todos pudessem se manter
tágio em massa da população. isolados. Rendeu, ademais, uma vasta produ-
Outros elementos para a compreensão ção de imagens registradas em fotos13 e vídeos,
dessa demorada resposta seriam o caráter sem às quais não muito tempo depois se somariam
precedente da paralisação da economia que a aquelas procedentes de grandes cidades ingle-
questão sanitária impunha e a relação entre sas e americanas.
as penosas medidas para o enfrentamento da Um conjunto dessas imagens mostra
pandemia, a invisibilidade do vírus e a evolu- efeitos da paralisação da vida citadina e a re-
ção exponencial do contágio. Estes últimos ele- dução das atividades econômicas sobre o meio
mentos podem ter cumprido um papel impor- ambiente. A melhoria da qualidade do ar na
tante porque, como Arendt (1973) argumenta, China14 já havia sido registrada e, quando a
as pessoas tendem a insistir na continuidade Europa foi atingida, rapidamente circularam
da vida habitual, na ‘normalidade’, diante de registros dos canais de Veneza limpos.15 Ou-
situações disruptivas. Não custa imaginar que tro conjunto de fotografias capturava grandes
a visibilidade apenas microscópica do vírus e vias, pontos turísticos, prédios históricos co-
o desafio que o entendimento de dados cientí- mumente disputados centímetro a centímetro
ficos, como a dispersão exponencial da doen- esvaziados. A Champs Elysées, a Torre Eiffel e
ça, representava podem ter tornado o sacrifício as margens do Sena em Paris, a Praça São Mar-
da continuidade da vida em nome de algo por co em plena quaresma16 e o Duomo na Itália, a
vir difícil de compreender e aceitar. Trafalgar Square na Inglaterra, a Times Squa-
Quando enfim foi adotado, a partir de re nos Estados Unidos, símbolos da moderni-
março de 2020, o isolamento social forçado na dade ocidental e de certa vida cosmopolita,
Itália,10 Espanha11 e França12 rendeu uma série aparecem desertos em imagens veiculadas em
de medidas de ordem prática, destinadas, entre jornais impressos, televisivos e em sites. Esse
material também circulou em mídias sociais,
9
Sandford, Alasdair. Coronavirus: Italy’s prosecutors
question PM Giuseppe Conte over lockdown ‘delay’. Eu- sendo acessado por pessoas em diferentes con-
ronews, 12 June 2020. Disponível em <https://www.euro-
news.com/2020/06/12/coronavirus-italy-prosecutors-ques- textos locais, em geral por dispositivos de uso
tion-pm-giuseppe-conte-over-lockdown-delay> (acessado
em 14 de julho de 2020). pessoal, como celulares. Sua circulação con-
10
AFP. Itália decreta quarentena na Lombardia, Veneza feriu alcance global ao esvaziamento daqueles
e outras regiões por coronavírus. Folha de S. Paulo, 7 de espaços e contribuiu para sua produção como
março de 2020. <https://www1.folha.uol.com.br/equili-
brioesaude/2020/03/italia-quer-quarentena-na-lombardia-
-veneza-e-outras-regioes-por-coronavirus.shtml> (acessa- 13
Mundo em isolamento devido ao coronavírus. Folha de
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-16, e020019, 2020
do em 15 de julho de 2020); Di Donato, Valentina e ou- S. Paulo, 20 de março de 2020. Disponível em <https://
tros. All of Italy is in lockdown as coronavirus cases rise. fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1661700790427625
CNN, 13 March 2020. Disponível em <https://edition.cnn. -mundo-em-isolamento-devido-ao-coronavirus#fo-
com/2020/03/09/europe/coronavirus-italy-lockdown-intl/ to-1661700790572868> (acessado em 15 de julho de
index.html> (acessado em 14 de julho de 2020). 2020).
11
Sousa Pinto, Ana Stela. Espanha fecha 47 milhões em 14
He, Guojun e outros. The short-term impacts of CO-
casa a partir de segunda. Folha de S. Paulo, 147 de março VID-19 lockdown on urban air pollution in China. Nature
de 2020. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/ Sustainability, 7 July 2020. Disponível em <https://www.
equilibrioesaude/2020/03/espanha-determina-que-popula- nature.com/articles/s41893-020-0581-y> (acessado em 14
cao-fique-em-casa-a-partir-de-segunda.shtml> (acessado de julho de 2020).
em 15 de julho de 2020); Jones, Sam. Spain orders na-
tionwide lockdown to battle coronavirus. The Guardian, 15
Di Donato, Valentina e outro. Venice’s canal water looks
14 March 2020. Disponível em <https://www.theguar- clearer as coronavirus keeps visitors away. Disponível em
dian.com/world/2020/mar/14/spain-government-set-to-or- <https://edition.cnn.com/travel/article/venice-canals-cle-
der-nationwide-coronavirus-lockdown> (acessado em 14 ar-water-scli-intl/index.html> (acessado em 14 de julho
de julho de 2020) de 2020).
12
Erlanger, Steven. Macron declares France ‘at war’ with 16
AFP e Reuters. Contra coronavírus, Francisco reza m
virus, as E.U. proposes 30-day travel ban. New York Ti- frente a crucifixo da peste negra. Folha de S. Paulo, 27 de
mes, 16 March 2020. Disponível em <https://www.nyti- março de 2020. Disponível em <https://www1.folha.uol.
mes.com/2020/03/16/world/europe/coronavirus-france- com.br/mundo/2020/03/contra-coronavirus-francisco-re-
-macron-travel-ban.html> (acessado em 14 de julho de za-em-frente-a-crucifixo-da-peste-negra.shtml> (acessado
22020). em 15 de julho de 2020).
9
REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
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dimensão inédita com a pandemia, suscitando Pensamos que o descolamento entre fala
uma série de questões. e opinião, tomada no sentido que Arendt lhe
Tais mídias possibilitam encontros e empresta, pode ajudar a entender por que a
trocas que têm o condão de reabilitar a con- circulação de mais manifestações não signifi-
versa, o que importa em geral e especialmente ca, necessariamente, maior pluralidade nem
em contextos nos quais o debate público pa- de ideias, nem de perspectivas. Pode ajudar a
rece ‘polarizado’, isto é, organizado em torno compreender, ademais, um problema que ad-
de duas posições cristalizadas e radicalmen- quiriu contornos dramáticos com a pandemia:
te antagônicas. Pensando com Arendt (1992), o negacionismo dos fatos e do conhecimento.
conversas representam uma reabertura da pos- O vírus afinal encontrou no Brasil uma
sibilidade de repensar crenças, preconceitos, sociedade desigual e empobrecida – aspectos de
dogmas e as próprias ideias, ou seja, de alargar que não nos ocuparemos aqui, mas que sua evo-
mentalidades e construir espaços pela e para a lução cuidou rapidamente de evidenciar –– e ter-
experimentação de novas formas de ação, que reno fértil à propagação de mentiras e desinfor-
podem transbordar de ambientes digitais para mação.19 No que se refere à propagação de menti-
o espaço físico, para a interação face-a-face. ras e desinformação, ela se insinua na forma que
Um aspecto a considerar, no entanto, é o debate público sobre a pandemia assumiu já ao
que a forma de funcionamento das mídias e pla- início, com o presidente e empresários buscando
taformas de um modo geral não é amistosa ao organizá-lo em torno de pares como distancia-
silêncio e, como o tempo delas é outro, acabam mento/isolamento –– emprego e proteção da vida
impelindo a responder e a buscar respostas ime- – manutenção da vida,20 contrariando inclusive
diatas. De uma parte, esse modo de funciona- o entendimento de economistas a respeito. Esses
mento favorece os engajamentos e a circulação pares distorceram o debate por criarem uma falsa
das falas, até porque cria um ambiente propício a dicotomia, ancorada na equivalência de valores
confrontos, que fazem falar e ser visto. Por isso se que economistas, por exemplo, afirmavam não
pode afirmar que ele facilita a formação de públi- serem concorrentes.
co para certos discursos. É interessante pensar, O intuito primordial do presidente e
de outra parte, que essas interações tendem a se seus apoiadores parecia ser apelar “[a]o sexto
dar em um tempo diferente das interações face- e mais elevado sentido” (Arendt, 1998, p. 274),
-a-face, que, como vimos, inspiraram a elabora- o senso comum, que ajusta o homem (sic) à
ção tanto de Arendt quanto de Habermas acerca realidade a ele circundante, para validar sua
do espaço público ou da esfera pública. Para am-
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REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
tese de que a fome pela paralisação da econo- nhecimento científico e opiniões arbitrárias.
mia mataria tanto quanto a doença, dispondo Arendt não abre mão da distinção, e a aborda
as pessoas contra a ciência e abrindo espaço criticamente, ou seja, fornece elementos para
para a contestação da necessidade da adoção entendermos que o conhecimento científico
do conjunto de medidas já implementadas em deve informar as opiniões, tendo papel impor-
outros países e que governadores e prefeitos tante para a qualidade das trocas, da delibera-
buscavam implementar no Brasil.21 Essas me- ção no espaço público, em especial no mun-
didas visavam, por um lado, controlar o ritmo do moderno, em que o debate tem por objeto
do contágio pelo vírus para evitar a sobrecar- questões complexas.
ga do sistema de saúde e, por outro, evitar a Pensando com ela, o papel do conheci-
completa deterioração das condições de vida e mento é, contudo, instrumental, ou seja, ele
de retomada da atividade econômica passada a deve estar a serviço do público. É certo que,
fase aguda da pandemia. para que esse papel chegue a se cumprir, é pre-
Formulando o problema em termos aren- ciso que o conhecimento seja compreensível,
dtianos, a propagação de mentiras, desinforma- isto é, tenha sentido para pessoas comuns e
ção e distorção do debate, com consequências importância no mundo. A condição humana
potencialmente mortais, diz respeito à relação tem a técnica e a ciência como objeto de preo-
entre opinião e conhecimento, verdade e menti- cupação. Em 1958, elas já eram mais presentes
ra. O conhecimento científico sobre o vírus e a e potentes do que nunca, a ponto de se poder
doença é produzido enquanto ela evolui ao re- produzir a vida em laboratório e lançar satéli-
dor do mundo, ou seja, em locais diferentes, o tes ao espaço, e também já eram inacessíveis
que lhe imprime um caráter contingente. Mas, a leigos, pois, segundo Arendt (1998), cientis-
nesse caso, a contingência concorre para deses- tas se moviam cada vez mais em um mundo
tabilizar uma imagem comum da ciência como sem discurso e, portanto, ou rigorosamente
instância de verdades, se não perenes, ao me- sem sentido ou de sentido incomum, isto é,
nos duradouras. Essa desestabilização tem se compartilhado apenas entre especialistas e
mostrado importante no Brasil, um país em que distante do senso comum. A popularidade de
o próprio processo de produção científica é des- divulgadores científicos, que aparecem no de-
conhecido da maioria da população. Ela facilita bate público como organizadores do conheci-
aos interessados, se não desacreditar a ciência mento acumulado sobre a doença e mediado-
e outros especialistas, cuja autoridade repousa res empenhados em levar esse conhecimento a
em conhecimento técnico, no mínimo igualar o audiências de não especialistas, faz pensar no
diagnóstico de Arendt. Empiricamente, a cir-
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Renata Nagamine, Denise Vitale
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REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
questão de igualdade, ora como questão de po- real e a contestação de crenças, preconceitos,
breza, vulnerabilidade ou precariedade. No cer- dogmas, valores e mesmo ideias: ela abre, em
ne do debate se colocam formas de transferên- síntese, a possibilidade de que nesses circuitos
cia direta de renda. É claro que essa questão en- ganhem adesão narrativas descoladas do mun-
cerra aspectos técnicos intrincados; o que nos do. Nessa hipótese, a multiplicação de manifes-
interessa aqui, contudo, é que ela emerge na tações individuais parece dar materialidade e
pandemia como uma questão política por exce- com isso emprestar credibilidade a falsificações
lência. Pensando com Arendt, podemos enten- dos fatos e mesmo do conhecimento, o que pen-
der, de um lado, que se trata, então, de uma to- sando com Arendt significa minar as condições
mada do espaço da política pela questão social, de possibilidade das opiniões e, por conseguin-
e de outro que não há incongruência entre sua te, do debate e da política. Para pensar esses pú-
transformação numa questão política e o pen- blicos é importante considerar, assim, o que nos
samento arendtiano porque, como dissemos, a parece ser uma dimensão normativa do pensa-
política, para Arendt (2018b), requer um julga- mento arendtiano, a saber, sua relação com a
mento livre de interesses privados, imparcial pluralidade, ou, ainda mais especificamente, a
no sentido de particularmente desinteressado, igualdade e a diferença. Levando essa dimensão
e isso demanda o que ela chamou de liberação a sério, no caso dos públicos constituídos a par-
dos constrangimentos impostos pelas necessi- tir da circulação de mentiras e notícias falsas,
dades vitais. Nessa discussão, importa ter em não estaríamos diante de um público em sen-
conta que, ao relacionar julgamento imparcial e tido arendtiano, que está calcado na diferença
política, no registro do republicanismo, Arendt de perspectivas, um reflexo do modo único pelo
(2018b) não está afirmando que os pobres não qual o mundo se abre a cada um, e sim diante
possam julgar desinteressadamente, nem que de práticas de destruição do mundo, violentas:
os ricos não julguem tendo em vista interesses no caso da pandemia, tendo como consequên-
particulares, mas sim que é ilegítimo esperar cia mortes em massa.
que os pobres não sintam o peso da fome na No contexto contemporâneo, marcado
formação dos seus juízos e que ancorar mate- por um mundo em compasso de espera por
rialmente sua cidadania pode ser uma forma remédios ou vacinas capazes de dar cabo da
de controle político sobre os ricos e a captura pandemia, repensar as categorias de Hannah
do Estado. Uma medida como essa, de provisão Arendt é instigante. Dados o rápido desenvol-
de recursos suficientes para a participação des- vimento da ciência e da tecnologia, bem como
preocupada na política, é orientada, enfim, por a intensa colaboração entre os cientistas de
um horizonte de universalidade – a cidadania –,
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-16, e020019, 2020
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Renata Nagamine, Denise Vitale
go comum e externo à raça humana, o vírus, os ____________. Understanding and politics. In: KOHN,
Jerome (ed.). Essays in understanding (1930-1954):
indivíduos se viram vulneráveis. Isolados for- formation, exile, and totalitarianism. New York: SChocken
Books, 1994b.
çadamente em espaços privados, precisaram
___________. Philosophy and politics. In: KOHN, Jerome
se reconectar por meio das tecnologias virtuais (ed.). Essays in understanding (1930-1954): formation,
no desempenho das múltiplas dimensões da exile, and totalitarianism. New York: SChocken Books,
1994c.
vida, do trabalho, dos afetos, da arte, do lazer ___________. The human condition. 2nd ed. Chicago-
e da política. De casa, buscaram reconstruir London: The University of Chicago Press, 1998.
mundos, sobretudo em ambientes digitais. ___________. Introduction into politics. In: KOHN, Jerome
(ed.). The promise of politics. New York: Schocken Books,
Embora se procure reproduzir nesses espaços 2005, p. 93-200.
as interações que se tem em espaços físicos de ___________. Entre o passado e o futuro. Tradução de
Mauro W. Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2016.
sociabilidade, o que vemos são processos de
___________. “The freedom to be free”: the conditions and
remodelagem, nos quais tanto os indivíduos se meaning of revolution. In: KOHN, Jerome (ed.). Thinking
without a banister: essays in understanding 1953-1975.
conectam por afinidades de ideias, agendas ou New York: Schocken Books, 2018a.
identidades, quanto se multiplicam opiniões à __________. Public rights and private interests: a response
semelhança umas das outras. Ou seja, tanto se to Charles Frankel. In: KOHN, Jerome (ed.). Thinking
without a banister: essays in understanding 1953-1975.
criam pontes quanto se formam ‘bolhas’. New York: Schocken Books, 2018b.
Com a releitura de A condição huma- BENHABIB, Seyla. Feminist theory and Hannah Arendt’s
concept of public space. History of the Human Sciences, v.
na sessenta anos depois de sua publicação, 6, n. 2, 1993, p. 97-114.
podemos perceber a atualidade do princípio ______________. The reluctant modernism of Hannah
Arendt. Laham: Rowman & Littlefield, 2003.
normativo da pluralidade e da intersubjetivi-
BERNSTEIN, Richard. Rethinking the social and the
dade como cernes da ação política. No terre- political. In: Philosophical profiles: essays in a pragmatic
mode. Philadelphia: University of Pennsylvania Press,
moto causado pela pandemia, esse princípio 1986, p. 238-259.
se afirma, tornando mais urgente a construção BUTLER, Judith. Notes toward a performative theory of
de diálogos e pontes para que saídas coletivas assembly. Cambridge, Mass.-London: Harvard University
Press, 2015.
possam ser pensadas. Os temas de formas de CANOVAN, Margaret. A case of distorted communication:
transferências diretas de renda e do lugar da a note on Habermas and Arendt. PoliticalTheory, v. II, n. 1,
February 1983, p. 105-116.
ciência nas democracias têm constituído con-
ELSTER, 1999. The market and the forum: three varieties
teúdos privilegiados desses diálogos. of political theory. In: James Bohman and William Regh
(eds). Deliberative democracy. Cambridge: The MIT Press,
1997.
HABERMAS, Jürgen. O conceito de poder de Hannah
Recebido para publicação em 16 de julho de 2020 Arendt. In: Barbara Freitag e Sergio Paulo Rouanet (orgs).
Aceito em 15 de outubro de 2020 Habermas. São Paulo: Ática, 1980.
_________________. The theory of communicative action.
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REPENSANDO O ESPAÇO PÚBLICO EM TEMPOS DE PANDEMIA...
This paper analysis Hannah Arendt´s concept of Cet essai réfléchit sur l’idée d’espace public dans la
public space, as presented on The human condition, pensée d’Hannah Arendt telle que présentée dans
drawing on the COVID-19 pandemic. The paper La condition de l’homme moderne. Nous allons
focuses on this experience, which invites us to reprendre les concepts d’Arendt en élaborant sur
think about the reconfigurations on space (and La pandémie de Covid-19, 2020. L’essai prend
time), looking at the emptiness of the cities, the la pandémie comme une experience qui invite à
haltof economy, the circulation of fake news and réfléchir aux reconfigurations de l’espace (et du
the strength of certain kinds of interactions. Arendt temps) enregardant le vidage des villes, la paralysie
offers good arguments to think the pandemic de l’économie, la circulation de fake news et la
challenges. redynamisation de certaines formes d’interaction.
Nous comprenons que Arendt fournit des elements
pour réfléchir aux défis posés par lapandémie et
pour imaginer le passage du monde qu’il n’est plus
au monde qui n’est pas encore.
Key-Words: Vita Activa. Public Space. Plurality. Mots clés: Vita activa. Space public. Pluralité;
Pandemic. Political Theory. Pandémie. Theorie politique.
Caderno CRH, Salvador, v. 33, p. 1-16, e020019, 2020
Denise Vitale – Doutora em Direito pela Universidade de São Paulo. Professora do Instituto de
Humanidades, Artes e Ciências prof. Milton Santos da Universidade Federal da Bahia. Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal da Bahia. Pesquisadora
do CNPQ (PQ2). Integra os Grupos de Pesquisa Laboratório de Análise Política Mundial e Território,
Poder e Desigualdades Sociais, desenvolvendo pesquisas na área de direitos humanos, meio ambiente,
democracia e gênero. Suas mais recentes publicações são as co-organizações das coletâneas Gênero, Direito
e Relações Internacionais, em parceria com Renata Nagamine e Dicionário Temático Desenvolvimento e
Questão Social, coordenado por Anete Ivo.
Renata R. V. K. Nagamine – Doutora ou Mestre em direito internacional pela Faculdade de Direito da
USP. Professora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da. Universidade Federal da
Bahia, colabora em pesquisa no Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), desenvolvendo
pesquisas na área de religião e espaço público.
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