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O processo de construção sonora de 'Pot-pourri' foi bastante experimentado e marcado

pela exploração dos tipos de interpretação da voz masculina que canta as músicas
'remontadas/reorganizadas/rearranjadas', e por que não, reconstruídas, de Márcio
Greyck. No início do processo, os realizadores conceberam uma voz que funcionaria
como um off, (com o recurso narrativo do voice over), ao passo que essa voz também
cantaria essas músicas, aproximando o produto de um musical. Foram realizados vários
testes acerca da impostação dessa voz, o timbre, em quais oitavas as melodias seriam
entoadas, as pausas, as novas divisões na métrica e de que forma isso contribuiria para a
percepção definitiva de que se tratava de uma narração, um over, uma música, tudo ao
mesmo tempo.

As decisões tomadas vão dizer respeito a gradação da quantidade de 'canto' que temos
nessa voz. A primeira vez que ouvimos o personagem ele, temos um "Eu..." cantado
anunciando uma perspectiva musical. Mas em seguida a voz começa a narrar, sem
elementos musicais, até que paulatinamente a melodia vai surgindo e novos
instrumentos são adicionados. Os arranjos musicais foram cruciais para dimensionar o
fator 'música' na voz. Além disso, há outros tratamentos, como na música 'Vivendo por
viver'. Vivendo é tocada, enquanto na tela dentro de um VHS, casais dançam. A canção
inicia low-fi, com ruídos, emulando o arquivo caseiro/fita, até que se revela: os ruídos
gradativamente vão baixando, a estética de 'rádio' some, e o som diegético torna-se não-
diegético.

Na terceira música os arranjos são engendrados de acordo com o universo do 'baile',


onde o filme foi rodado, e na última canção (um pot-pourri fatal onde todas as canções
utilizadas se encontram) o escopo e a dramaticidade aumenta, com um naipe de cordas e
sopros.

Para além da complexidade de função dessa voz, ela é a chave narrativa do filme e a
intersecção do elemento estético 'Márcio Greyck', que os realizadores tanto queriam,
com o universo filmado.

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