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11. l. O verbo é a chave


Se existe uma ch;1vcp.ira a ,1111,1,c
do porh1j\11h,é o \'Crbo.Quamlo conhece-
mos o verbo de u111,1 oração - i~toé, ~cu,1gnificadoe o~ complt•mcntos t·om que
ele co-ocorrc - podemos dclcrmi11arbo,, park d., t'~truturada, orações cm que ele
' ,,
figura, Por exemplo, digamo, qut· o \'Crbo<lJor.1,ào(: confiar:a partir dc:~s.a
infor-
mação podemos prC\'Crque:ha\'c:r.íum ~u1e1lo c-0111
o papd lt•m:\ticode Experien-
ciador; e que ha,·crá um complemento go\'CíllJdopda prcpoS11;ão ern, com o papel

, ..,. ,.;....•,,,.,...~~ ,. .... de Causador de experiência, corno cm


A meninaconfia em você.
111

Como sabemo,, 11J se a11alisac:omoclabor.1çãode uma c:onstru~·ào,E o con-


junto elasconstruções nos fornece gr.111clt·
parle ela t·,trutur., i;rnn,ahcal da lfni:;ua'.
. ,'.' As construções são descritas em krmo, dos co111pk111entos co111pativci,co111cacl,1
verbo:sua forma sintática e:,cm p.,pé" kmáhcos. Cad,1wrho pode ocorrer cm um
conjunto bem cl<:limilaclo de:comtruçõc,, c cs,c conjllnlo Jc comtruc;õ{', é o q11c
chamamos a valência do verbo.
A primeira obscrva,~o a fo,.cré que 11111\'crbo pode
ocorrer cm mais ele 11111:1
construçllo.Confiar,que vimosacin,a, (, 1clat11,11nl·nlc
simplc,; ma~ o 1·crbocrrgor-
dar pode Ot'Orrer cm pelo menos três con.tmçõcs bem distinta,. a !><lbcr.

1
Apenasgr.indc parte. ni)o tuJo 11.1nu1ilc." d,1C:)tnttur.ig,r111natt\,,I
n1ipcctos que pIC'l l~m ,c1 dC"Sl
nto!I
forada l1)tadt comlruçõc~.ma.5cila ~ um pasM> md&\1-'('ll~\.d

uJ1 IUt> li Ili V1\t.J'.NUA


Ji

12JO íamldso 5'@DfÔOUo franao- lransilival


Cconstruç.lo Os futorcsque governama ocorrênciadessessinlagtn:1,1
de causasãosemfinlicos,ou
llJAzu enpda. (c:onstruçiob'al1llltva
~ obje!Oelpdco)
seja.elesocorremondequerquesejamsemanticamente adequados. Afrase[1J] é estra•
~IA mernenpdou. (C0MJ\JÇJ0 ergatlva)'
nha não por~uaestmturagramatical,masporquediz algumacoisaque não la,; sentido:
E= btos sugerem imediatamente duns tarcÍllsa serem realizadasdentro da mi• A menmconfiaem você~~
descriçãoda língua:
Compare-se essa situação com a do complemento com a preposiçãoem que
(a) uma lista elasconstruçõespossíveis;
1 (b) uma lista dos verboselalíngua. cada um deles associadoàs construçõesem ocorrecom confiar. Se romente levarmosem conta a semântica, eu poderia dizer
l' que ocorre. IUI• A mellll,l confia a mãe.
1
Uma vez realizadasessasduas taroefas,teremos em mãos boa parte da estrntura ou então
da oraçàoportuguesa.Não se trata de conhecimento puramente teórico:.a valência
)UI• A rneiâ'laconfia da mãe.
de um verbo representaparte do conhecimento que todo &lante precisater para po-
d.erusaressevtrbocorrc111rncnte.Qualquerfalantedo portuguêssabe que rngordar e seriapossívelcompreendero que o falantequer dizer.No entanto, essasli-asessão
p-Odeocorrernas construçõesexemplificadasem [2], [3] e [4], mas não em inaceitáveisporque a preposiçãoestá errada;com o verboconfiar,precisaser em.
151
• O fazenderoengordouno frango.

sendo o fazendeiroAgente e no frango Paciente. Jábatercaberia ai:


11.2. Diátese, valência
o~
161 bale.\l
no frango.
~ ~
Vamosoonsideraragorao verboe seuscomplementos.Vimosque cada constru•
Estamosfalando,portanto, não meramente de especulaçõesteóricas,mas elades- çãoadmitecertosverbose rejeitaoutros.Porexemplo,na construçãoergatíva,istoé, '1
criçãode um conhecimentoque existena memóriade todosos falantesdo português. 1141H
Padenle
\' !'
Poroutro lado, nem tudo na oração depende do verbo. Há elementos de intro-
dução sintaticamentelivre,que pod,emocorrer com a mesma formae o mesmo cabemos verbosengordar,
rncher,desanimar
e muitosoutros:
1. s.ignificado.seja qual for o verbo. Vimos no capitulo 2 que esseselementos são de-
nominadosadjuntos - em contraste com os complementos, cuja forma sintática
Você engordou.
1151 l],
lj
'~ ·l
e papeltemáticodependem do verbo de alguma maneira. Um exemplode adjunto
é uma expressãode Causa da forma por causa de SN. Note-secomo se p-Odeacres-
(16]O tanqueencheu.
1'171
A turma desanimou. , l
' 1 centar um sintagmadessaforma e papel temático às frasesacima: Mas muitos outrosverbosnão cabem nessaconstrução.Assim,podemoster co-
171A memaconfiaem \Od porcansa tin pmfewJr mer com sujeito e sem outro SN, mas o sujeitoé
sempreAgente, nunca Paciente:
181o fuenderoengordouo frangopor cavsado Nffl•I [18)Eu já comi
t9JAua engordaporca,e doscaT-li:hu».
rr>lA mrila enpdou ()0(: uusado rxcrm dep:tza """"
Outros verbos que não cabem na construção ergativasão matar, ler, estudar,
1 beliscaretc. lsso significaque temos aqui dois grupos de verbos:os que cabem na
Sóparattlemh,., a diíueOÇ11 de antlÍJc:enb'e Ili e 14):1li~ um exemplod, eonslruçiotransitivadé
1 o sujcito ~ Agente;e [4) ilustra a ergativaporqU<!tem ,ujcílO Paciente.
objeto elíptico poT<(ue construçãoergativae os que não cabem.
11

00 Pa'1\JCllSIIWWW.)
01AMA11CA • MÃRlOA PIRN CN'fn.lon li VALtNaA
j,

1 1.

11·: 1
Em outras palavras,a construção ergativadivide os verbos da língua em dois 11.3.Classes de verbos
·1 grupos:osquepodeme 0$ que não podem ocorrer nela. Uma construção que tem
11
essapropriedadese denomina uma diátese. Existem muitas diátescsem português Vimos q,ue a cliálcseé um tipo de construção. Cada diátese divide os verbos da
,l
_ não se sabe ao certo quantas. Por exemplo, a construção transitiva é também língua em d"Uasclasses:o~que podem e os que não podem ocorrer nela. Por exem• :1
'
11
1
i
1
uma diátese.Assim,o verbo comerpode ocorrer na conslnição transitiva,como em pio, nossa conhecida constmção transitivadistingue os verbosque a aceitam, como t

[J9J Eu coni os pastds.


comer,mata.reescrever dos que não a aceitam, como ser,aparecere cair: ·!
' !
,..,,.. l'ldo<u 122]A Carol comeua pizza / matou o rato/ escreveuumtvro.
1
1231• A Carol apareceu uma piua.
mas o verboacontecer
não pode, porque nunca aparece com sujeito Agente e objeto • A Carol c.w o lvro no chão.
[2-41
Paciente.
É verdade que podemos dizer
Parece que a maioria dos verbos pode ocorrer em mais de uma diátese. Por
[251A Carolé a esposado )orge.
exemplo, engordar,que ocorre na diátcse ergativa, também ocorre na transitiva:
comparar f2] com mas aqui não temos a construção transitivaporque o sujeito não é Agente, nem o
o fazendeiroengordoutJ1!sporoos. objeto, Paciente.
(,20)
,..,.. ,_ Assimse classificamos verbosquanto a sua valência. Mas não se trata de uma
O conjunto de todasas diátescsem que um verbo pode ocorrer t:a valência des- subclassificaçãoprogressiva,segundoa qual os verbosse dividemem duas classes,A
se verbo;a valênciade engordarinclui a di~tese transitiva,a ergativae pelo menos e B;a classe A se subdivideem C e D; a classe B cm E e F etc. Cada cli.itesedivide
o todo dos verbos em duas classes,sem consideração do que resultou da ação de
mais uma, a transitivade objeto elíptico, como no ex. (3].
outJllsdiátes.cs,de maneira que a classificaçãoacaba sendo complexa.Para exempli-
Algumasdiátesessó valem para um pequeno número de verbos. Por.exemplo, ficar,vamos pegar um grupo de cinco verbos:
a diátesedenominada de paciente com em tem um sujeito Agente e um Paciente
boter,comer,decepcionar,
{a:zer,morrer
expressopor sintagma preposicionadocom a preposiçãoem:
O Alexbateuna Valbia.
1.21)

Essadiátesesó valepara o verbo bater,e para nenhum outro. Já a diátese transi-


tiva,exemplificadaem [19] e (20), vale para milhares de verbos.
Vamosclassificaressesverbosusandoquatrodiátese.5,
a saber,a transitiva.a
ergativa,a transitiva de objeto elíptico e a de paciente com em; todasforam defini-
dasanleriormente. Vamosver como cada uma delas subdivideessegnipo de quatro
verbos,e depois vamosavaliaros resulladosglobais.
u
O conhecimento das v.ilênciasdos verbos é uma parte essencial do conheci- A diálese transitivase aplica a bater(a N6dia bateuo carro),comer,decepcionar
e faur, mas não a morrer,porque não se pode di-ier
mento que um falante tem de sua língua. Ou seja, não é possívelfalar uma língua
conetamente - e mesmo inteligivelmente - sem dominar as valências de grande 1261
• A e.obramorreuo célv.llo.
número de verbos.E qualquer falante Ruente do portugub sabe pelo me.nosalguns
J.Ia erga.tivavale para decepcionare morrer,mas não para bater,comerou fazer;
milharesde verbos,todos eles com suas respectivasvalências1. por exemplo, a frase
A DarielaJ'comeu.
C27I
' O mímerodosverbos llS3dos M pcltllgu~~lwll(stmcontu 1ermosttcni:005,regio0111
corret1lcmtntc
e arcaioos)t estimadoCffl cerca de 6.000. não é ergatiw porque o sujeilo não é Paciente.Já em

ca>.MÃT'CAOOPOlll\D.l5_..,. MÃRJOA.l'SlN CAÁTU.O n Ili VAllNaA


1

J
11'.: [28) A tlmla decepdonOU.
ses à maneira tradicional: decepcionarfica junto com bater, comere faur segundo
um critério, mas fica junto com morrersegundo outro. E ambos os critérios são
!l
1 '
temos uma ergativa,porque a tum1aé Paciente•. importantes, porque qualquer falante da língua conhece as construções transitiva e
ergativa,e sabe quais verbos cabem em cada uma.
A transitivade objeto eHpticovale parabater,comere decepcionar,mas não para
fazernem para morrer.Por exemplo, a frase Por enquanto, lemos simplesmente cinco classes, cada uma com um verbo.
Quando se amplia essa classificaçãopara mais verbose mais diáteses, acabam apa-
• o menno
1291 fez.
recendo grupos de verbos de valência idêntica; por exemplo, considerando apenas
não é aceitável.Mas podemos dizer as quatro diálcses acima, encliertem valência igual à de decepcionar,e desaparecer
tem valência igual à de morrer.Mas ainda assim o número de classes de verbos é
!)O] Essejogado<
batedemais..
muito grande - pelo menos dezenas, mas mais provavelmentecentenas. Mapear
A de paciente com em só vale para bater: o léxico para estabelecer essas classesde verbos é um trabalho ainda a realizar. Por
l31lO sujeik>
batianosfh>s. ora, vamos nos contentar com princípios gerais.
Os verbos da Hngua se classificamsegundo as diátesesem que cada um pode
Essasobservaçõespodem ser resumidas em um quadro, que permite uma visão
11 ocorrer; ou seja, segundo a valência de cada um. A valência de decepcionar,por
geral da validadedas diáteses para os cinco verbos. No quadro abaixo,'+' quer dizer
exemplo,inclui as diáteses transitiva,ergativae transitivade objeto elíptico:
que o verbopode ocorrer naquela diátesc, e• - · quer dizer que não pode.
[32) O professordecepcionouos alunos.(transitiva)
1
.J ll3JOs alunosdecepcionararn (efgilliva)S
li \'nbo, (34) Esseprofessordecepciona. (transitiva de obje1oefptico)
h,,tn ~ +
1 flilh'T + _. A valência dos verbos é parte essencial do conhecimento gramatical que nos
dn.c/11r,ili,tT + .. pemiite usar a língua, construindo e interpretando frasescorretamente. Por isso é
/u:n ... tão importante estudar as valências,que subclassificamos ,·erbosem muitos grupos,
nwrri·r +
cada um com seu comportamento gramatical próprio.

SU'IICI.ASSlnCAÇÃODE CINCO VP;IUIOSSECUNDO QUATaO OIÁTESES

Como se vê, não há dois verbosiguais - cada um dessesverbostem uma valên-


11.4. Contando verbos U
1
1
1
i
cia diferenteda dos outros quatro. Nem é possíveldividiresses cinco verbos em duas Um problema que precisa ser resolvidoé o seguinte: quando temos um verbo
classes"principais",que depois se subdividem, e assim por diante. Se observarmosa com dois ou mais significadosmuito diferentes,temos na verdade um verbo ou mais
diátesetransitiva,temos dois grupos: bater, comer,decepcionare fazeradmitem essa de um? Um caso típico é o de pintar, como em
construção, morrernão admite. Mas se considerarmos a ergativa, a divisão vai ser ll5JLeonardopintoua janela.
1361Leonardopintoulá em casa.
entre bater,comere fazer,que não a admitem, e decepcionare morrer,que admitem.
Uma classificaçãointerfere na outra, impedindo a postulação de classes e subclas-
No PB. ~
1
• Em um regi.sitomais formal, usa« outr• construçilo,com w: os alunos w clt«p,cionorom.
m.tu comum a conslruçiloerg;itiva(sem w).
Mlis exatamente,pode ser Paciente,porque dt«prionor l~mMm 0001Tena lnlruilfra de objeto elíptico.

(Ã'.MÃfCA DO PCll!1\JCUS
!IIWUIIO a MÁRIOA P9tN
n
CN'l'n.t.O 1111
WJ1NClA
11

Ou seja, pintarocorre com dois significados nitidamente diferentes, correspon- momento, pintou é uma forma fonológica a ser associada a deterrninados traços
dendo a Y:Jl!nciastambém diferentes.A pergunta é se devemos distinguir aqui dois rnorfológicos,sintáticos, semânticos com base no contexto em que ocorre - basi- ....
verbospintar,ou apenas um. camente, no que nos interessa, no contexto morfossintático.

• 1'
Paraa<li:mt:lf,digologoque pintaré um único verbo,emboratenhaduas acer.>- EssaprMica valepara todas as formasgramaticais; assim,dizemosque a palavra
! :! ções lilodiferentes. Igualmente, consideramos apanharcomo um ónico verbo, em- que tem usos sintáticos e significados diferentes em ,.
1
j bora tenha pelo menos dois significados bem distintos: "ser espancado" (ele apanha [39) O cachorroQlle eu comprei
. 'í
.l da mulhtr)e "pegar"'(tu apanheio brinquedono chdo);o mesmo para perder,nos 1.WIQue cachorroé es.se?
significadosde •extraviar" (tu perdio mtu relógio)e "apodrecer'' (o leiteperdeupor l4tl8a achaqu.evai cholier. il:m
causado calor).AJ unidades gramaticais se definem em termosformais, pelo menos
l 11 em um primeiro momento. Assim, ir é o mesmo vetbo nas fuases etc. E dizemos que a palavra papel tem significadosdiferentes em
Hi
1 '
137)&., ~ a f"ol1X>
~ a semanaque-,,.
l4il Pega uma toalhade p.apdparamim.
[43) O Rodrigo valfaz.er~ de avô no teatroda escola.
1 1381
Acho que ~ chol,,er.

Isso não significa que as evidentes diferenças de significado e de uso sintático


não sejam levadas em conta na gramática. Trata-se apenas da opção de se dizer "o
11.5. Diferença entre "construção" e "diátese"
verbo ir tem diferentes significados e diferentes propriedades sintáticas", e não "há
váriosverbos ir em português, e cada um deles tem um significado". É a noção de valência que nos leva a diferenciar dois terrnosque à primeira vista
podem parecer sinônimos, mas não são: construção e diátese.
Há boasrazões para isso.Um dosprincípiosbásicosda descriçãogramaticalé o
de que temos que estabelecer uma relação entre formas(tais como percebidas pelo Como já se disse em 11.3, cada diátese divide os verbosda língua em duas clas-
receptor) e significados. A:; formas são o ponto de partida necessário para a inter- ses: os que podem e os que não podem ocorrer nela. Assim, a díátese ergativa dis-
pretação, e precisam estar registradas na memória do falante. Ao ouvir (35}ou [36), tingue os verbos que .a aceitam (morrer,engordar,encher...) e os que não a aceitam
o que ele tem é um verbo com a forma pintar6.É tarefa do receptor atribuir a essa (comer,matar,bater...). Então dizemos que essa consbução é uma diátese. Ou seja,
fon11ao significado "cobrir de tinta• ou ~aparecel', com base no contexto da senten- toda diátese é uma construção.
ça. Ora, parte desse contexto é justamente o entomo sintático - a construção em
que a forma ocorre. Se pintartem sujeito7 e é seguido de um SN, ou seja, se ocorre
na construção transitiva,só pode ter a primeira das acepções acíma.
Mas nem toda construção é uma diátese, porque há construções que não divi-
dem os verbos em classes da maneira indicada acima. Por exemplo, a construção de
objeto topicalizado, ,que consiste em colocar um objeto no início da sentença, vale
L
Se quisermos relacionar a descrição da língua com seu uso - o que é um dos para todos os verbos que têm objeto:
objetivos da linguística - teremos que descrever o processo que, a partir de um 144)CeNejaeu não bebo.
sinal fonnal,atribui significadosaos enunciados. É claro que precisamos distinguir, 1451
Essagaveta eu '\/OU encherde dinheiro.
em algum momento, o item pintar que ocorre em [35] do que ocorre em (36],
mas isso é resultado de um processamento, não um ponto de partida. No primeiro Assim, não se coQocaa possibilidade de topicalizar um objeto na valência de
nenhum verbo,porque essa possibilidade não dependedo verbo,mas de fatores
estruturais como a pTesença de um objeto. Encherpode ter objeto (e isso,já está
' Ou, rruai.s
e,catamente,pintou, que se associacom um lexema que inclui pintar ele.
E/ou sufixode pessoa-número,ou seja, •H•. explicitado em sua valência, porque ele pode aparecer na diátese transitiva); e esse

aw.tÃl'ICA 00 POlnUCUS
IIWI.IR) 111MARio A PERN ~nlll vml'-OA

....
objeto pode ser topicalizado- mas isso não é Ct1mctcrísticn
do verbo eucher, ma,
0maisdas vezes com preposição,como nos exemplosacima; mas às vezes é expres-
de todosos verbosque podem ler ob jcto.
sotambém por um nominal, como cm
Assim,podemosdi:r,era construção lnmsitiv11ou a di6tcsc transitiva, por<111c lS2) ~truçlo amblenLal.
{Paciente)
toda diáteseé uma construção. Mas não é correto chamur n construção de objeto (S3IA deds.lo~ C,,gen1e)
top.icalizadode diAtese,porque nem toda construção é diáte5c,e essanão é. U111a
di:ltcse.em resumo,é uma conslmção onde só cabe uma parledos verbosdo llngua, lt bom notar que, ao conlr.!riodos verbos, muitos nominaise advérbios,talvez
em virtude de suas propriedades lexicais. Correspondentemente, pode..scsempre a maioria, 1111'0têm valênciaprópria;por exemplo,ca,a pode ter adjuntos. mas estes
detcnninar de que verbos uma construçllo é diátcse (por exemplo, a constmç~o são definidos por regrasgerais, n~o condicionadaslexicalmente:minha c08a,ca,a
transitivaé diátcsedosverboscmc/1cr.comer,malar,mas não de morrer). demadeiraetc.

1 1 11.6. Valência nominal e adverbial


A valêncianlio é uma carncterísllicaexclusivados verbos.Os nominais e os ad.
~rbios também muitas \/Cl.CS tomam complementos. Por exemplo,o nominal amor
pode seraoompanhadopor um complemento introduzido pela preposiçãopor:
Elesthn um grandeamocpd;aescola
1461
Medo requer a preposiçãode:
Todonuldo andacom medoda5eodJent1$
147! 1
Fa~-orável
requer a preposiçãoa:
[481A~ aomali:lo
foí fallora-..el
1

u
E o advérbiofa~ravelmmte também exigea:
decidiu~
[49) O trbJ1a! IA mama.
O papel temático desses complementos também precisa ser cstipulado na '"J·
lência dos diferentes itens. Por exemplo, o complemento podeser um Paciente,
como em
l! f.501
A demoiçJoda.row) ficoua c.argoda imlll empresa.

i ou um Agente:
A dedsãoda<h1Plia
1S1J foinulO contestada.
1
Assim,o item lexicalcorrespondentea essesnominais e advérbiostambém in·
clui a listadas diáleses
em que elesaparecem. O complemento dosnonúnaisocorre

OtAMA,v. 00 POlnUO.ts
llWl.(IOO 1111
MÃIUO A. l'fRN
CNfru.on aw,ilNOA
--And-
-MortO<Mardonlfo

~-c.obual-
e- • • -
C-...0--..:Ant,s,.NaJo/"""""1dl
c.n,-hllOa>/intl/
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SUMÁRIO
--11o1
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rom
<H&Ull. CArM.DU{Ao"" NOTA 00 EDITOR ······· ............. ········ ................................................................. .
5alCAl'OIUOOIML
IQS llfl1IIIES
li( unes,li
l'SZ19 APRESENTAÇÃO
........................................ .......................................................... 17
-AUrioA.(WlloAll>fflDJ, 190·
-dapom,gutsbm.lolro/-A."'1W.· Slc>Paulo·
1.Agramáticanão é instrumentode aquisiçãoda línguaescrita........................ 17
-~2010. . 2. f: precisodescrevera língua falada............................................... ................... 19
~ "'9"'tla ;◄)
3. Estudara línguacomo ela é ............................................................................. 21
lnduf blbi"9ra~
IS/IH-.S·7'9-8
4. É precisousar noçõesgramaticaisnovas..........................................................21
5. A gramáticaniloé uma descriçãocompleta.....................................................22
> Ulgw ~. GBIMia. 2. Lfnsluo
~. 8rasll.
l Tltulo.
l Sfrit. 6. A NomenclaturaGramaticalBrasileira(NCBJ................................................ 23
10-002.I CE>0469.5
7. Quadro teórico..................................................................................................25
axJ 811.134.3.36 8. /1 quem se destinaeste livro.............................................................................. 26

CAPÍTULO ZERO: PAAA QUE ESTUDAR CRAMÁTICA7 ............................. ,............ 29


0.1. Sobrea ciênciae o mundo moderno.............................................................29
0.2. Ciência e educação........................................................................................ 30
0.3. O processode analfabctização....................................................................... 32
0.4. O que issoten, a ver com a gramática?.........................................................33

-~--•/ ..__
0.5. A gramáticacomo disciplinacientlti~-a ..................,....................................... 35

,_..,_
=:..,-:,~HtrivN~~obttl,odtwr~ou
--- ....
-•--ltdl.
0

--....-•~Ol,l~fffiQUl6quef~
ou
bMa>
do
0.6. A ciênciana escola.........................................................................................
0.7. Como ficaa gramática?.................................................................................
37
39
0.8. Concluindo....................................................................................................
41
ISBN:97M5-79J4..oow
CAPÍTULO
1: NOSSALÍNGUA.............................................................................. 43
O do -- A.l'omi.2010
1.1.O portuguêsno mundo..................................................................................43
0 d>odlçio l'lribola~ saoP~
bmllelra: ~.,.. 2010
1.2.A língua do Brasil...........................................................................................
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• SUMAAIO

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