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ANÁLISE MATEMÁTICA

CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD

Análise Matemática - Prof. Dr. Alessandro Ferreira Alves

Meu nome é Alessandro Ferreira Alves, sou Doutor


em Matemática Aplicada a Engenharia Elétrica pela
Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação
da Universidade Estadual de Campinas (FEEC-
UNICAMP), mestre em Matemática Pura pelo
Instituto de Matemática, Estatística e Computação
da Universidade Estadual de Campinas (IMECC-
UNICAMP), com Licenciatura Plena em Matemática
pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Sou
coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática na modalidade a distância do
Centro Universitário do Sul de Minas Gerais (UNIS-MG) desde o segundo semestre de
2007. Atuo como docente no Centro Universitário do Sul de Minas Gerais (UNIS-MG),
nas áreas de Matemática, Estatística e Computação em diversos cursos de graduação na
modalidade presencial e a distância, tais como: Matemática, Física e Engenharias, bem
como atuo em diversos cursos de pós-graduação, nas áreas de Métodos Quantitativos,
Finanças e Métodos de Simulação em Finanças, tanto na modalidade em EAD como na
modalidade presencial. Além disso, sou membro do Conselho Universitário (CONSUN) 
desta instituição desde o ano de 2009, atuando como representante do quadro de
coordenadores da instituição. De outra forma, atuo com projetos de consultoria na área
de Finanças, Estatística Aplicada a Mercado e Controle Estatístico de Processos (CEP).

E-mail: alemengo2003@yahoo.com.br

Fazemos parte do Claretiano - Rede de Educação


Alessandro Ferreira Alves

ANÁLISE MATEMÁTICA

Batatais
Claretiano
2014
© Ação Educacional Claretiana, 2014 – Batatais (SP)
Versão: dez./2014

515 A477a 
 
      Alves, Alessandro Ferreira 
     Análise matemática / Alessandro Ferreira Alves – Batatais, SP : Claretiano,  
2014. 
             236 p.   
 
 
              ISBN: 978‐85‐8377‐331‐3 

      1. Números reais. 2. Sequências numéricas. 3. Funções reais de uma variável. 
      4. Conceituação. 5. Limites. 6. Continuidade. I. Análise matemática.   
 
 
 
 
 
                                                                                                                                                                CDD 515 

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera
Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rafael Antonio Morotti
Rodrigo Ferreira Daverni
Josiane Marchiori Martins Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera Projeto gráfico, diagramação e capa
Raquel Baptista Meneses Frata Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos

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forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.

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SUMÁRIO

CONTEÚDO INTRODUTÓRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 9
2 GLOSSÁRIO DE CONCEITOS.............................................................................. 17
3 ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE................................................................. 22
4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 23
5 E-REFERÊNCIAS . ............................................................................................... 23

Unidade 1 – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DA ANÁLISE MATEMÁTICA


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 27
2 CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA............................................................... 28
2.1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS E ESPECÍFICOS
DA ANÁLISE MATEMÁTICA........................................................................ 28
2.2. CONCEITOS BÁSICOS SOBRE FUNÇÕES.................................................... 34
2.3. PROPRIEDADES IMPORTANTES DAS FUNÇÕES........................................ 37
2.4. FORMAS BÁSICAS DE DEMONSTRAÇÕES................................................. 49
2.5. O CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS................................................. 51
2.6. ENUMERABILIDADE: QUAL O SIGNIFICADO DE UM CONJUNTO SER
ENUMERÁVEL?............................................................................................. 60
2.7. O CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS........................................................ 64
3 LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................... 80
4 CONTEÚDOS DIGITAL INTEGRADOR................................................................ 82
5 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 84
6 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 88
7 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 88
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 89

Unidade 2 – SEQUÊNCIAS E SÉRIES NUMÉRICAS


1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 93
2 CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA............................................................... 94
2.1. COMO DEFINIR UMA SEQUÊNCIA NUMÉRICA?...................................... 94
2.2. LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA..................................................................... 95
2.3. SEQUÊNCIAS MONÓTONAS: O QUE É ISSO?............................................ 106
2.4. LIMITES E OPERAÇÕES............................................................................... 109
2.5. SÉRIES NUMÉRICAS – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS................................ 111
2.6. SÉRIES CONVERGENTES............................................................................. 113
2.7. SÉRIES ABSOLUTAMENTE CONVERGENTES............................................. 121
2.8. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA................................................................. 123
3 CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES.......................................................... 126
4 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 127
5 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 129
6 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 130
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 130

Unidade 3 – LIMITES DE FUNÇÕES


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 133
2 COMO DEFINIR O LIMITE DE UMA FUNÇÃO y = f(x) ? ............................. 134
2.1. NOÇÕES TOPOLÓGICAS FUNDAMENTAIS ............................................... 141
2.2. CONCEITOS TOPOLÓGICOS FUNDAMENTAIS ......................................... 141
2.3. O CONJUNTO DE CANTOR: UM CONJUNTO ESPECIAL! .......................... 146
2.4. A DEFINIÇÃO FORMAL DE LIMITE . .......................................................... 147
2.5. PROPRIEDADES OPERATÓRIAS DOS LIMITES . ........................................ 151
2.6. LIMITES LATERAIS . .................................................................................... 155
2.7. COMO PODEMOS FUGIR DAS INDETERMINAÇÕES
NOS CÁLCULOS DE LIMITES? . .................................................................. 162
2.8. LIMITES NO INFINITO E LIMITES INFINITOS ........................................... 165
3 CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES.......................................................... 168
4 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS......................................................................... 169
5 CONSIDERAÇÕES .............................................................................................. 172
6 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 172
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 173

Unidade 4 – FUNÇÕES CONTÍNUAS E FUNÇÕES DERIVÁVEIS


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 177
2 CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA............................................................... 182
2.1. FUNÇÃO CONTÍNUA: DEFINIÇÃO FORMAL E PRIMEIRAS
PROPRIEDADES ......................................................................................... 183
2.2. COMO VISUALIZAR FUNÇÕES CONTÍNUAS EM INTERVALOS
DA RETA REAL? .......................................................................................... 190
2.3. CONJUNTOS COMPACTOS: COMO
CARACTERIZAR CONTINUIDADE? ............................................................ 193
2.4. INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA DERIVADA:
A INCLINAÇÃO DA RETA TANGENTE ........................................................ 198
2.5. A NOÇÃO FORMAL DO CONCEITO DE DERIVADA ................................... 202
2.6. REGRAS OPERATÓRIAS ............................................................................. 208
2.7. DERIVADAS E CRESCIMENTO LOCAL . ...................................................... 211
2.8. FUNÇÕES DERIVÁVEIS NUM INTERVALO ................................................ 215
2.9. IMPLEMENTAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE:
COMO DISCUTIR TÓPICOS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NO ENSINO
FUNDAMENTAL E MÉDIO?........................................................................ 216
3 CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES.......................................................... 227
4 QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS ........................................................................ 229
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . ................................................................................ 232
6 E-REFERÊNCIAS................................................................................................. 234
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 234
Conteúdo
Introdutório CI

“Ao longo do tempo muitos homens conseguiram


atingir o êxtase da criação. A estes homens, Deus os
denominou de MATEMÁTICOS.” (Leonardo Euler).
Conteúdo
Números Reais: enumerabilidade, densidade, completicidade; Sequências
Numéricas: limites, subsequências, Teorema de Bolzano-Weierstrass; Funções
reais de uma variável: conceituação, limites, continuidade; Abordagem histórico-
metodológica e implementação na prática docente.

Bibliografia Básica
ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.  
______. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.
LEITHOLD, L.  Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. Patarra. 3. ed. São
Paulo: Harbra, 1994. v. 2.    

Bibliografia Complementar
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
1999. v. 2. Séries.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
______. Problemas e exercícios de análise matemática. São Paulo: Escolar Editora, [s. d.].
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
SIMMONS, G. F.  Cálculo com geometria analítica. Tradução de Seiji Hariki. São Paulo:
Makron Books, 1987. v. 2. 
É importante saber
Esta obra está dividida, para fins didáticos, em duas partes:
Conteúdo Básico de Referência (CBR): é o referencial teórico e prático que de-
verá ser assimilado para aquisição das competências, habilidades e atitudes
necessárias à prática profissional. Portanto, no CBR, estão condensados os prin-
cipais conceitos, os princípios, os postulados, as teses, as regras, os procedi-
mentos e o fundamento ontológico (o que é?) e etiológico (qual sua origem?)
referentes a um campo de saber.
Conteúdo Digital Integrador (CDI): são conteúdos preexistentes, previamente
selecionados nas Bibliotecas Virtuais Universitárias conveniadas ou disponibi-
lizados em sites acadêmicos confiáveis. São chamados “Conteúdos Digitais In-
tegradores” porque são imprescindíveis para o aprofundamento do Conteúdo
Básico de Referência. Juntos, não apenas privilegiam a convergência de mídias
(vídeos complementares) e a leitura de “navegação” (hipertexto), como tam-
bém garantem a abrangência, a densidade e a profundidade dos temas estuda-
dos. Portanto, são conteúdos de estudo obrigatórios, para efeito de avaliação.
© Conteúdo Introdutório 9

1. INTRODUÇÃO
Querido aluno, seja bem-vindo!
Daremos, neste instante, os primeiros passos para
entendermos um dos conteúdos mais importantes para um
curso de Licenciatura em Matemática: a Análise Matemática,
que inicialmente poderíamos pensar como desenvolvimento e
formalismo do Cálculo Diferencial e Integral de uma variável real,
ou seja, na descrição formal dos diversos resultados e propriedades
que cercam as funções do tipo y = f(x).
Quando falamos em Cálculo, no nível de uma disciplina
introdutória, as apresentações comumente são realizadas de forma
intuitiva e bem informal, talvez com nenhum rigor matemático em
demonstrações de resultados. Didaticamente falando, poderíamos
dizer que isso está correto, já que pela própria natureza dos temas
discutidos, estes tiveram o seu desenvolvimento, a partir do século
17 até aproximadamente 1820, de maneira intuitiva e baseado na
informalidade.
Porém, a partir dos avanços da Matemática de uma forma
geral, exigiram-se conceituações mais precisas das ideias de função,
continuidade, derivada, convergência, integral etc. A necessidade
de uma estruturação mais formal dos tópicos de Cálculo Diferencial
e Integral ocasiona o surgimento de uma disciplina inicial de
Análise Matemática. Em outras palavras, definimos de um modo
bem simples que a Análise Matemática é uma formalização
mais apurada dos tópicos de Cálculo Diferencial e Integral de
uma variável real, ou seja, a disciplina surgiu diretamente da
necessidade de descrevermos demonstrações rigorosas das ideias
intuitivas do cálculo, tais como: limites, derivadas, integrais, séries
e sequências, séries numéricas etc.
É de fundamental importância que um licenciado em
Matemática e futuro professor dessa área não possua lacunas
em processos de demonstrações. Cabe ainda comentarmos que

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10 © Análise Matemática

você terá a oportunidade de se familiarizar com as ferramentas e


resultados de uma das mais relevantes áreas da Matemática.
Antes de começarmos a nossa discussão propriamente dita
sobre a abordagem da Análise Matemática, devemos salientar
que atualmente a Matemática pode ser dividida em cinco grandes
áreas, que são: Análise, Topologia, Álgebra, Teoria dos Números e
Matemática Aplicada. (Figura 1).

Figura 1 A divisão da Matemática nos dias atuais.

A parte relacionada à Análise trabalha com o detalhamento


rigoroso dos aspectos do Cálculo Diferencial e Integral, enquanto
que a Topologia descreve as várias faces da geometria. De outra
forma, a Álgebra retrata os conceitos, propriedades e resultados
acerca da Álgebra Linear e Estruturas Algébricas. Além disso, a
Teoria dos Números aborda os pontos principais relacionados aos
números, ou seja, da Aritmética. Por fim, a Matemática Aplicada
discute os pontos principais das ferramentas aplicadas à análise
quantitativa de mercado, tais como os métodos da Matemática
Financeira e as técnicas da Estatística aplicadas ao meio empresarial.
Assim, teremos alguns resultados e propriedades importantes
a serem discutidos e demonstrados com maior rigor matemático,
desde os mais simples até os mais complexos, como Teoremas
Fundamentais relacionados a conjuntos compactos, dentre eles,
podemos citar:
© Conteúdo Introdutório 11

1) A série harmônica é divergente.


2) Toda função derivável é uma função contínua.
3) Descrição dos Axiomas de Peano para a construção do
Conjunto dos Números Naturais.
4) Todo subconjunto dos números naturais é um conjunto
enumerável.
5) A construção do conjunto dos números reais como um
corpo ordenado completo.
6) O conjunto dos números reais não é enumerável.
7) O limite de uma função real quando existe é único.
8) Toda série absolutamente convergente é convergente.
9) (Teorema de Bolzano-Weierstrass) Toda sequência limi-
tada de números reais possui uma subsequência conver-
gente.
10) (Teorema do Valor Intermediário): Seja f :[a, b] → ℜ
contínua. Se f (a) < d < f (b) então existe c ∈ (a, b) tal
que f(c) = d
Todos esses resultados são averiguados pela Análise Mate-
mática, com foco voltado para uma descrição matemática mais
complexa e completa no sentido do formalismo matemático. Além
disso, podemos salientar que você recordará, ainda, conceitos fun-
damentais da Matemática Elementar.
É importante que você saiba que a Análise Matemática con-
tribuirá de forma significativa para uma formação sólida na sua
área de atuação, já que alguns problemas básicos do Ensino Fun-
damental serão demonstrados e discutidos aqui. De outra forma,
embora a Matemática e, especificamente o Cálculo Diferencial e
Integral, possam assustar um pouco, será necessário conhecer vá-
rios conceitos importantes para sua aplicação na Análise Matemá-
tica, bem como no seu dia a dia profissional em sala de aula.
A seguir, abordaremos, brevemente, o que será estudado
em cada uma de nossas unidades de estudo.

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12 © Análise Matemática

Na Unidade 1 você verá que para construirmos toda a teoria


acerca do Cálculo Diferencial e Integral de uma variável real será
necessário introduzirmos a construção formal do conjunto dos
números naturais tendo como ponto de referência os Axiomas de
Peano, para discutirmos a noção de conjuntos finitos, infinitos e
enumeráveis.
Ressaltamos que apesar de aparentemente estarmos
familiarizados com a noção de conjunto finito e infinito lhes daremos
um tratamento diferenciado, trabalhando com a identificação de
funções bijetoras para eles. Isso significa que estaremos definindo
um conjunto finito quando este for o conjunto vazio ou se existir
uma função bijetora entre ele e um subconjunto próprio finito dos
naturais, conjunto esse denotado por I n .
Contrariamente, definimos que um subconjunto X dos
naturais  é dito infinito, quando ele não é o conjunto vazio ou
quando não existir uma função bijetora entre ele e um subconjunto
próprio finito I n . Aqui, já podemos notar o formalismo mais apurado
em duas definições, ou seja, a nossa ideia sobre um conjunto finito
é de que o ele possua um número finito de elementos, enquanto
que para o conjunto infinito, imaginamos diretamente um conjunto
que possua um número infinito de elementos.
Em seguida, apresentaremos a noção de enumerabilidade,
que é a definição formal de conjuntos enumeráveis. Nesse
caso, diremos que um subconjunto X dos números naturais
é dito enumerável quando é finito ou quando existe uma
bijeção f : IN → X , além, é claro, de discutirmos as principais
propriedades e resultados relacionados.
Discutiremos as principais propriedades e resultados do
conjunto dos números reais, ou seja, mostraremos que este é um
corpo ordenado completo.
Daí, a partir dos conceitos introdutórios e propriedades
colocadas anteriormente, provaremos alguns teoremas e
© Conteúdo Introdutório 13

proposições acerca dos conjuntos finitos, infinitos e enumeráveis,


donde poderíamos citar:
1) Todo subconjunto de um conjunto finito é finito.
2) Conjunto finito e conjunto limitado no universo dos nú-
meros naturais são conceitos equivalentes.
3) Todo subconjunto dos números naturais é enumerável.
4) O conjunto dos números racionais é enumerável.
5) O conjunto dos números reais é um corpo ordenado
completo.
6) O conjunto dos números reais, bem como o conjunto
dos irracionais não são conjuntos enumeráveis.
Além disso, apresentaremos uma leitura complementar, de-
monstrando algumas técnicas relacionadas à Lógica Matemática,
bem como o Princípio da Indução Finita (PIF), que é muito impor-
tante para a justificativa de diversas demonstrações a serem feitas
ao longo dos nossos estudos.
Na Unidade 2, estaremos interessados em apresentar toda a
teoria associada às sequências e séries numéricas, bem como os
principais teoremas relacionados e critérios de convergência. Em
verdade, esta unidade poderia ter como ponto de partida o que
conhecemos com relação às progressões geométricas. De outro
modo, discutiremos um resultado fundamental, que é o Teorema
de Bolzano-Weirtress, mostrando que toda sequência limitada de
números reais possui uma subsequência convergente.
Definimos uma sequência de números reais como sendo uma
função dos naturais no conjunto dos reais, que associa a cada nú-
mero natural n um número real xn , denominado o n-ésimo termo
da sequência. Além disso, formalmente falando, apresentaremos
a noção de limite de uma sequência, bem como discutiremos as
propriedades relacionadas a sequências convergentes, limitadas e
monótonas. Esse conceito de limite de uma sequência será gene-
ralizado na unidade seguinte, quando falaremos em limite de uma
função y = f(x). A seguir, é colocada a parte sobre as Séries Numé-

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14 © Análise Matemática

ricas, donde é sabido que dentro do Cálculo Diferencial e Integral é


necessária a representação de funções como somas infinitas. Isso
requer que a operação usual de adição em conjuntos finitos de nú-
meros seja estendida para conjuntos infinitos. Para tanto, usamos
um processo de limite por meio de sequências, dando origem ao
estudo das séries numéricas. Também serão discutidas nas entre-
linhas séries convergentes e divergentes, bem como os principais
critérios para a caracterização da convergência ou não das séries
numéricas.
Assim, alguns resultados importantes serão apresentados e
demonstrados, tais como:
1) Uma sequência não pode convergir para dois limites dis-
tintos, ou seja, o limite de uma sequência, se existir, é
único.
2) Se uma sequência é convergente, então qualquer subse-
quência desta também é convergente.
3) Toda sequência limitada de números reais possui uma
subsequência convergente.
4) Toda série absolutamente convergente é convergente.
5) O termo geral de uma série convergente tem limite igual
a zero.
6) A soma de séries convergentes também é uma série con-
vergente.
Na unidade 3, abordaremos os aspectos relacionados às
noções topológicas na reta, bem como apresentaremos o limite de
uma função y = f(x) e propriedades associadas. A Topologia, cuja
a palavra é proveniente do grego, significando "estudo do lugar",
é o ramo da Matemática que estuda os espaços topológicos,
sendo então considerada uma extensão da geometria. Assim,
para os nossos propósitos, estaremos encarando a topologia
para descrever uma família de conjuntos abertos utilizados para
definirmos o conceito de limite de uma função, ou seja, com
relação aos aspectos topológicos, estaremos interessados em
© Conteúdo Introdutório 15

descrever apenas os pré-requisitos necessários para o nosso


estudo de funções.
Na verdade, você já vem se familiarizando com a ideia de
função desde o Ensino Médio. Tendo em conta a importância
desse conceito no Cálculo e na Análise, vamos retomá-lo nesta e
na unidade seguinte, quando estudaremos limites, continuidade
e a derivada de funções. Embora a ideia de função possa ser
identificada em obras do século 14, foi a partir do século 17 que
ela teve grande desenvolvimento teórico e utilização. Isso porque
nessa época surgiu a Geometria Analítica, e muitos problemas
matemáticos puderam ser convenientemente formulados e
resolvidos em termos de variáveis ou incógnitas, que podiam ser
representadas em eixos de coordenadas.
A noção de limite, que estudamos na parte de sequências
numéricas, será agora estendida à situação mais geral onde temos
uma função f : X → ℜ , definida num subconjunto qualquer
X dos números reais. Na verdade, estamos interessados em dar
um tratamento mais completo com relação à noção de limite
estudada no Cálculo Diferencial e Integral de uma variável real.
Historicamente, deve ser salientado que o conceito de limite de
uma função é posterior ao de derivada. Ele surgiu da necessidade
de calcular limites de razões incrementais que definem derivadas,
que estudaremos mais a frente.
Daí, a partir dos conceitos preliminares e propriedades
associadas, discutiremos resultados pertinentes aos aspectos
topológicos, donde poderíamos citar:
1) A interseção de um número finito de conjuntos abertos
é um conjunto aberto.
2) O conjunto dos racionais é denso com relação ao conjun-
to dos números reais.
3) O limite de uma função, quando existe, é único.
4) O limite da soma é igual a soma entre os limites.

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16 © Análise Matemática

1
5) A função f ( x) = sen   não possui limite no ponto x
= 0. x
6) A função f ( x) = | x | possui limite no ponto x = 0.
Na Unidade 4, apresentamos as funções contínuas e
deriváveis, bem como os seus principais resultados relacionados.
A noção de função contínua é um dos pontos centrais da
Topologia, denominação dada à parte da Geometria dentro da
Matemática. Ela será estudada nesta unidade em seus aspectos
mais básicos, como introdução a uma abordagem mais ampla e
como instrumento para aplicação na parte de derivadas e na
resolução de diversos exemplos simulados. Como é sabido, quando
falamos em função contínua, lembramos, grosso modo, que uma
função é contínua quando a sua representação geométrica não
possui nenhum "furo" ou "salto".
Com relação à parte das funções deriváveis, salientamos
inicialmente a sua interpretação geométrica por meio da inclinação
da reta tangente, depois visualizamos a definição formal e regras
operatórias, bem como a parte dos resultados fundamentais.
É necessário destacarmos a aplicabilidade da derivada nas mais
diversas áreas do conhecimento. Observe a Figura 2.

Figura 2 A aplicabilidade do conceito de derivadas em Administração e Economia.


© Conteúdo Introdutório 17

A partir dos conceitos introdutórios e das propriedades colo-


cadas anteriormente, provaremos alguns teoremas e proposições
acerca das funções contínuas e deriváveis, donde poderíamos ci-
tar:
1) Se f é uma função derivável no ponto x0 então f é contí-
nua no ponto x0 .
2) A soma de funções contínuas é uma função contínua.
3) O produto de funções contínuas também é uma função
contínua.
4) (Teorema do Valor Intermediário): seja f :[a, b] → ℜ
contínua. Se f (a) < d < f (b) , então existe c ∈ (a, b) tal
que f (c) = d .
5) Se I é um intervalo da reta real e f : I → ℜ é contínua,
então f ( I ) é um intervalo, ou seja, funções contínuas
transformam intervalos em intervalos.
Vale salientar ainda que apenas o conteúdo que apresenta-
mos não é suficiente para a formação de conceitos sólidos; por
isso, é de fundamental importância que você pesquise os livros
apresentados nas referências bibliográficas de cada unidade de
estudo.
É importante que você saiba que ninguém aprende Matemá-
tica ouvindo ou assistindo o professor na sala de aula virtual, por
mais organizadas e claras que sejam as suas explicações teóricas e
por mais que se entenda tudo o que ele explica. É necessário estu-
dar por conta própria logo, resolvendo os exercícios após as aulas.
Mãos a obra e ótimos estudos!

2. GLOSSÁRIO DE CONCEITOS
"Zero, esse nada que é tudo” (Laisant).

O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-


pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um

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18 © Análise Matemática

bom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de


conhecimento dos temas tratados em de Análise Matemática. A
seguir, listamos a definição dos principais conceitos:
1) Afirmações equivalentes: significa que uma afirmação
implica na outra afirmação.
2) Análise Matemática: é a parte da Matemática que se
preocupa com o formalismo apurado dos resultados do
Cálculo Diferencial e Integral de uma variável real.
3) Axiomas de Peano: são as propriedades características
da construção formal dos naturais.
4) Conjunto aberto: é um conjunto que coincide com o
conjunto de seus pontos interiores.
5) Conjunto compacto: é um conjunto que é limitado e fe-
chado.
6) Conjunto de Cantor: é um subconjunto especial do in-
tervalo fechado [0; 1]. Em verdade, é um conjunto que
é compacto, tem interior vazio, não possui pontos isola-
dos e é não enumerável.
7) Conjunto enumerável: é um subconjunto X dos naturais
que é finito ou que existe uma bijeção f : IN → X .
8) Conjunto fechado: é um conjunto que coincide com o
seu fecho.
9) Conjunto finito: é um conjunto que possui um número
finito de elementos.
10) Conjunto infinito: é um conjunto que não possui um nú-
mero finito de elementos, ou seja, é um conjunto que
não é finito.
11) Conjunto limitado inferiormente: é um subconjunto X
dos números reais tal que tal que x ≥ a para todo x ∈ X
. O número a é chamado de cota inferior.
12) Conjunto limitado superiormente: é um subconjunto X
dos números reais tal que x ≤ b para todo x ∈ X . O nú-
mero b acima é chamado de cota superior.
13) Conjunto limitado: um subconjunto X dos naturais é dito
limitado quando existir um número natural p tal que x ≤
p para todo x ∈ X .
© Conteúdo Introdutório 19

14) Conjunto não enumerável: é um conjunto que não é


enumerável.
15) Derivada de f(x): geometricamente falando, é a inclina-
ção da reta tangente ao gráfico de f no ponto x.
16) Desigualdade triangular: desigualdade fundamental en-
volvendo o módulo da soma de dois números reais.
17) Elemento máximo: é o maior elemento do subconjunto
X dos reais.
18) Elemento mínimo: é o menor elemento do subconjunto
X dos reais.
19) Função bijetiva (bijeção): é uma função simultanea-
mente injetiva e sobrejetiva.
20) Função contínua: é uma função cujo gráfico não possui
nenhum salto ou furo.
21) Função injetiva: é uma função que satisfaz a ≠ b então
f(a) ≠ f(b) onde a e b são dois pontos do domínio da fun-
ção.
22) Função sobrejetiva: é uma função em que o contrado-
mínio coincide com o conjunto imagem.
23) Homeomorfismo: um homeomorfismo entre os conjun-
tos X e Y é uma bijeção contínua f : X → Y cuja inversa
f −1 : Y → X é também contínua.
24) Ínfimo: é a maior das cotas inferiores de um subconjun-
to X dos reais.
25) Intervalo degenerado: é um intervalo que se reduz a um
único ponto, ou seja, quando os extremos do intervalo
são iguais.
26) Intervalo: subconjuntos especiais da reta real.
27) Lema: é uma afirmação aceita como verdadeira perante
demonstração, que é usada muitas vezes como proposi-
ção para a prova de um teorema.
( )
28) Limite de uma função real lim f ( x) = L : quer dizer
x→a
que podemos tornar f(x) tão próximo de L quanto se
queira desde que se torne x ∈ X suficientemente próxi-
mo, porém, diferente do ponto a.

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20 © Análise Matemática

29) Número irracional: é um número que não é racional.


30) Número racional: é um número que se escreve como
fração, ou seja, que a sua representação decimal ou é
finita ou é infinita periódica.
31) Ponto aderente: é um ponto que é limite de alguma se-
quência de pontos do subconjunto X dos reais.
32) Ponto anguloso: quando as derivadas laterais (direita e
esquerda) existem e são diferentes em um ponto x, dize-
mos que esse ponto é um ponto anguloso do gráfico da
função de f.
33) Ponto crítico: é um ponto de uma função derivável ao
qual a derivada se anula.
34) Ponto de acumulação: o número real a é um ponto de
acumulação do conjunto X ⊂ ℜ quando toda vizinhan-
ça V de a contém algum ponto de X diferente do próprio
a. Isto é, V ∩ ( X – {a}) ≠ ∅ . Indicamos por X’ o con-
junto dos pontos de acumulação de X.
35) Ponto fixo: Um ponto x ∈ X tal que f(x) = x é denomina-
do ponto fixo da função f : X → ℜ .
36) Princípio da boa ordenação: é uma das principais pro-
priedades acerca da relação de ordem x < y.
37) Princípio da indução finita (PIF): técnica de demonstra-
ção muito utilizada na Matemática, principalmente para
justificativa de fórmulas de recursão.
38) Proposição: é uma afirmação aceita como verdadeira
perante demonstração.
39) Proposições primitivas: são afirmações aceitas como
verdadeiras sem demonstrações. As proposições primi-
tivas são também conhecidas como axiomas ou postu-
lados. Por exemplo, um postulado bastante conhecido
é que "por dois pontos distintos existe (passa) uma, e
somente uma, reta”.
40) Regra da cadeia: regra utilizada para o cálculo de deriva-
das de funções compostas.
41) Regra de L’Hospital: é uma regra das mais populares
aplicações da derivada.
© Conteúdo Introdutório 21

42) Sequência convergente: é uma sequência que possui li-


mite.
43) Sequência divergente: é uma sequência que não possui
limite.
44) Sequência limitada: é uma sequência limitada superior-
mente e inferiormente. Isso equivale a dizer que existe k
> 0 tal que | xn | ≤ k para todo n ∈ IN .
45) Sequência monótona: é uma sequência ( xn ) que se tem
xn ≤ xn +1 para todo n ∈ IN ou então xn +1 ≤ xn para todo
n.
46) Sequência numérica (sucessão numérica): é uma fun-
ção x : IN → ℜ , que associa a cada número natural n
um número real xn , chamado o n-ésimo termo da se-
quência.
47) Série absolutamente convergente: a série ∑ an é de-
nominada absolutamente convergente quando ∑ | an |
converge.
48) Série condicionalmente convergente: a série ∑ an
é denominada absolutamente convergente quando
∑ | an | = +∞ .
49) Série convergente: é uma série que possui limite.
50) Série divergente: é uma série que não possui limite.
51) Série numérica: é uma soma do tipo a1 + a2 + ... + an + ...an
com um número infinito de parcelas.
52) Subsequência: é uma sequência de uma sequência.
53) Supremo: é a menor das cotas superiores de um subcon-
junto X dos reais.
54) Teorema: é uma proposição que se deduz de conceitos
primitivos, de definições e de postulados ou de proposi-
ções já aceitas como verdadeiras. Em um teorema des-
tacam-se duas partes: a hipótese e a tese.
55) Valor absoluto de x (módulo de x): é o maior dos núme-
ros x ou – x.

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22 © Análise Matemática

3. ESQUEMA DOS CONCEITOS-CHAVE


O Esquema a seguir possibilita uma visão geral dos conceitos
mais importantes deste estudo.
Análise Matemática

Axiomas de Conjunto dos


Peano Números Reais

Noções
Sequências
Topológicas
Numéricas

Limite e Limite de uma Funções


Propriedades Função Contínuas
Relacionadas

Séries
Numéricas
Funções
Deriváveis

Critérios de
Convergência
Teoremas Fundamentais

Figura 3 Esquema dos Conceitos-Chave de Análise Matemática.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
© Conteúdo Introdutório 23

ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.  
______. Análise matemática para licenciatura. São Paulo: Edgard Blucher, 2001.
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
1999. v. 2. Séries.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
EDWARDS, Jr. C. H.; PENNEY, D. E. Cálculo com geometria analítica. Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997. v. 1.
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1996.
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. P. 3. ed. São Paulo:
Harbra, 1994. v. 2.    
LIMA, E. L. Análise real. Coleção Matemática Universitária. Rio de Janeiro: IMPA, 1989.
v. 1.
SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica.  Tradução de Seiji Hariki. São Paulo:
Makron Books, 1987. v. 2. 
THOMAS, George B. Cálculo. São Paulo: Addison Wesley, 2003. v. 1.

5. E-REFERÊNCIAS
ENADE. Questões. Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/enade/matemati-
ca2008.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2013.
INFOESCOLA. Números naturais. Disponível em: <http://www.infoescola.com/matema-
tica/numeros-naturais/>. Acesso em: 8 out. 2013.
MATEMÁTICA ESSENCIAL. Matemática encial: alegria financeira fundamental mé-
dio geometria trigonometria superior cálculos. Disponível em: <http://pessoal.sercom-
tel.com.br/matematica/superior/calculo/nreais/nreais.htm>. Acesso em: 8 out. 2013.
OBM. Olimpíada brasileira de matemática. Disponível em: <http://www.google.com.br/
url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=6&ved=0CEoQFjAF&url=http%3A
%2F%2Fwww.obm.org.br%2Fexport%2Fsites%2Fdefault%2Frevista_eureka%2Fdocs%2F
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dQlNtWIOR0Ltdew>. Acesso em: 8 out. 2013.
PROFMAT. Mestrado profissional em matemática em rede nacional. Disponível em:
<http://bit.profmat-sbm.org.br/xmlui/handle/123456789/345>. Acesso em: 8 out. 2013.
SABE.BR. A importância da matemática nas áreas do conhecimento. Disponível em:
<http://www.sabe.br/blog/matematica/files/2011/10/A-Import%C3%A2ncia-da-
Matem%C3%A1tica.pdf>. Acesso em: 27 nov. 2013.
SLIDESHARE. Exerícios. Disponível em: <http://www.slideshare.net/RodrigoThiagoPas-
sosSilva/exerccios-pif>. Acesso em: 8 out. 2013.
UNESP. Introdução à ánalise. Disponível em: <http://www.mat.ibilce.unesp.br/personal/
pauloricardo/introducaoanalise.pdf>. Acesso em: 8 out. 2013.
UOL. Educação. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/matematica/inducao-infi-
nita-raciocinio-logico-na-matematica.jhtm>. Acesso em: 8 de out. 2013.
USP. Universidade estadual de São Paulo. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/ferra-
mentas/pif/exercicios/exercicios.htm>. Acesso em: 8 out. 2013.

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Claretiano - Centro Universitário
Aspectos Introdutórios da
Análise Matemática 1
Objetivos
• Apresentar a construção formal do conjunto dos números naturais pelos
Axiomas de Peano.
• Compreender a definição formal de conjuntos finitos e infinitos.
• Compreender a definição formal de conjuntos enumeráveis.
• Estar plenamente familiarizado com técnicas relacionadas a demonstrações
de resultados, tais como teoremas, proposições e lemas.
• Caracterizar as operações básicas do conjunto dos números reais a fim de
compreendermos a estrutura algébrica de corpo.
• Identificar o Princípio da Indução Finita.
• Compreender a definição de supremo e ínfimo no conjunto dos números re-
ais.
• Caracterizar o conjunto dos números reais como um corpo ordenado com-
pleto.
• Compreender, relacionar e aplicar os principais resultados do cálculo diferen-
cial e integral de uma variável em situações do dia a dia.

Conteúdos
• Axiomas de Peano.
• Conjunto dos números naturais.
• Operações básicas.
• Conjuntos finitos.
• Conjuntos infinitos.
• Conjuntos limitados.
• Conjuntos enumeráveis.
• Conjunto dos números reais como corpo ordenado completo.
• Supremo e ínfimo.
• Princípio da Indução Finita (PIF).
• Técnicas de demonstração.
26 © Análise Matemática

Orientações para o estudo da unidade


Antes de você iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia com
atenção as orientações a seguir:

1) Tenha sempre à mão o significado dos conceitos explicativos no Glossário e


suas ligações pelo Esquema de Conceitos-Chave para o estudo de todas as
unidades desta obra. Isso poderá facilitar sua aprendizagem e seu desem-
penho.

2) Lembre-se de que quando falamos em análise matemática, referimo-nos ao


Cálculo Diferencial e Integral com demonstrações formais, tal abordagem a
ser discutida é de fundamental importância para a formação sólida de um
licenciando em Matemática, bem como para o desenvolvimento de sua car-
reira profissional na área acadêmica. Utilizamos a Matemática de forma di-
reta e indireta a todo momento.

3) Mantenha sempre ao seu lado os livros que compõem a nossa bibliografia


básica e/ou complementar, porém, é importante também que pesquise e
discuta com seus colegas a respeito dos exercícios propostos no decorrer do
seu estudo.

4) Você, como futuro professor, deve lembrar-se de que, apesar do grau de


complexidade da disciplina, na maioria das vezes, o repúdio pela Matemá-
tica é motivado por professores que não tiveram habilidade suficiente para
mostrar-lhe a beleza e aplicabilidade dessa ciência, na sua forma mais apli-
cada ou abstrata.

5) Sempre leia mais de uma vez os conceitos e/ou descrição dos resultados
propostos nesta obra, pois nem sempre conseguiremos entender na primei-
ra ou segunda leitura realizada tais definições e métodos de demonstração.

6) Nunca tenha receio de revisitar os conceitos apresentados nesta unidade,


muito menos em indagar, a fim de sanar suas dúvidas. Com este estudo,
você verá que a Matemática é bela e muito útil para o desenvolvimento de
novas teorias mais complexas.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 27

1. INTRODUÇÃO
A Análise Matemática é uma formalização mais apurada do
Cálculo Diferencial e Integral de uma variável real, estudado nas
disciplinas específicas de Cálculo, ou seja, ela surgiu diretamen-
te da necessidade de descrevermos demonstrações rigorosas das
ideias intuitivas do cálculo, tais como: limites, derivadas, integrais,
séries e sequências, séries numéricas etc.
Segundo Ferreira (2010, p. 4):
A Matemática é produto da cultura humana e faz parte do nosso
cotidiano. Por isso, deve ser trabalhada de forma a ser aprendida
por todos. É uma ciência exata, cuja produção envolve o pensar
crítico e criativo. Ela atualmente esta presente em todas as áreas
do conhecimento, participando de forma significativa para o desen-
volvimento de novas teorias, resolvendo diversas situações. Nes-
ta disciplina, ao invés de atuar como um transmissor de regras e
modelos do fazer simplesmente [...] tentarei ser um organizador
de aprendizagens, um consultor que oferece as informações e um
estimulador da aprendizagem.

Assim, como estamos acostumados a alguns questionamen-


tos relativos aos conteúdos de Matemática, você poderia estar se
perguntando: “se já estudamos Cálculo, para que me servirá uma
disciplina como esta? Por que todo esse formalismo?”
Um dos objetivos principais da Análise Matemática seria a
prática contínua de demonstrações, desde as mais simples até as
mais complexas. Saliento ainda que, para um licenciado em Mate-
mática ser um bom professor de Ensino Básico, é necessário que
ele tenha a habilidade de trabalhar com definições, bem como de
enunciar e demonstrar resultados (teoremas, proposições, lemas
etc.) de forma bem peculiar.
No que se refere à Matemática Elementar, recordaremos com
você alguns conceitos básicos e resultados de problemas simples,
bem como discutiremos novas teorias, como a parte envolvendo
enumerabilidade e corpo ordenado completo, em que muitas ve-
zes não conseguimos acompanhar o raciocínio de um exercício por
falta de conhecimentos básicos.

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28 © Análise Matemática

Desse modo, nesta unidade introdutória, pretendemos apre-


sentar os conceitos básicos necessários para o desenvolvimento
de todo nosso conteúdo, de forma suficiente para que você possa
acompanhar com mais tranquilidade, mais adiante, os conceitos e
resultados mais complexos do Cálculo Diferencial e Integral, que
serão apresentados nas unidades subsequentes desta obra. Para
tal, aqui discutiremos a construção formal do conjunto dos núme-
ros naturais pelos Axiomas de Peano, bem como a caracterização
do conjunto dos números reais como um Corpo Ordenado Com-
pleto. Além disso, revisaremos algumas técnicas de demonstração
e o Princípio da Indução Finita, numa espécie de leitura comple-
mentar da unidade.

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta
os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão inte-
gral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos
Digitais Integradores.

2.1. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS E ESPECÍFICOS DA ANÁLISE


MATEMÁTICA

De acordo com a história da Matemática, as ideias referen-


tes ao Cálculo Integral já faziam parte dos estudos de Arquimedes
(287-212 a.C.) sobre áreas e volumes. Todavia, o que percebemos
é que o Cálculo Diferencial e Integral se desenvolveu de forma gra-
dativa com o passar do tempo; não foi um desenvolvimento de
imediato. Por exemplo, a ponte que liga a derivada com a integral
só foi escrita em meados do século 17 (Figura 1).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 29

Figura 1 A caminhada do Cálculo Diferencial e Integral no século 17.

O motivo pelo qual talvez o cálculo não se desenvolveu


com Arquimedes e seus comandados foi com relação ao medo de
descrever formalmente o infinito. A fim de demonstrar seus re-
sultados, desviando das situações que envolviam o infinito, Arqui-
medes usava o método da"dupla redução ao absurdo". Mas como
descobria esses resultados? Provavelmente ele se valia de passa-
gens ao limite. Em outras oportunidades recorria a raciocínios físi-
cos, que eram seguidos de demonstrações rigorosas (Figura 2).

Figura 2 Arquimedes e o medo do “infinito”.

A característica mais significativa da Matemática grega era


precisamente essa insistência no rigor e no cuidado em não utilizar
o conceito do infinito, pelas contradições que podia acarretar.
Como vários abalizados historiadores da ciência já observaram,
esse traço do pensamento grego foi a causa principal que levou a
Matemática da época a uma completa estagnação (Figura 3).

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30 © Análise Matemática

Figura 3 A Matemática da Grécia.

O fato de a Matemática grega haver se enveredado pelo lado


da Geometria, com prejuízo da Matemática numérica (Aritmética
e Álgebra), especialmente o simbolismo algébrico, foi sem dúvi-
da outra razão pela qual o Cálculo não pôde se desenvolver na
antiguidade, sendo que tal Matemática numérica só apareceu no
século 18, no Ocidente europeu (Figura 4).

Figura 4 Surgimento da Matemática numérica.

Outro fator importante, que preparou o caminho para o sur-


gimento do Cálculo Diferencial e Integral, foi a familiaridade que
os matemáticos dos tempos modernos adquiriram em relação às
obras clássicas, especificamente falando sobre as ideias de Eucli-
des e Arquimedes.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 31

Paralelamente, há de se considerar ainda a atitude dos ma-


temáticos da época, que não se pautavam pelos mesmos padrões
de rigor dos matemáticos gregos. Eles preferiam avançar no de-
senvolvimento dos novos métodos e técnicas mesmo que isso cus-
tasse a falta de rigor.
No século 17, o cálculo de áreas e volumes pelos métodos
infinitesimais teve início com os trabalhos de Kepler (1571-1630),
em conexão com a descoberta de sua 2ª lei planetária, ou Lei das
Áreas. Nesse estudo, Kepler é levado a considerar somas de infini-
tos termos de áreas infinitesimais, produzindo áreas finitas. Uma
situação mais simples, em que isso é fácil de se entender, é a do
cálculo do volume da esfera. Kepler lembra que o procedimento
usado por Arquimedes no cálculo da área do círculo equivalia a
considerar o círculo como união de uma infinidade de triângulos
infinitesimais, todos de vértice no centro e base na circunferên-
cia do círculo. Ele adota procedimento semelhante no cálculo do
volume da esfera; esta é considerada como a união de uma infini-
dade de pirâmides de vértices no centro e base em sua superfície.
A soma dos volumes dessas pirâmides, de altura igual ao raio da
esfera, resulta no produto de 1/3 do raio pela soma das áreas das

bases (que é a área 4.π .r 2 da superfície da esfera), ou seja, 4π .r .


3

3
A importância maior do trabalho de Kepler sobre o cálcu-
lo de volumes de tonéis está no método dos indivisíveis, que ele
desenvolveu e utilizou. Demorou um pouco, mas, alguns anos de-
pois da publicação do livro de Kepler, vários outros matemáticos
seguiram o mesmo caminho. Essencialmente, o que eles faziam
era imaginar a figura cuja área ou volume se pretendia calcular,
como união de uma infinidade de elementos infinitesimais, como
explicamos anteriormente para o caso do círculo e da esfera. Des-
sa forma, vemos que os matemáticos do século 17, ao dividirem
as figuras em elementos infinitesimais, imitavam o procedimen-
to de Arquimedes, só que ficavam apenas na parte intuitiva, sem

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32 © Análise Matemática

se preocuparem em demonstrar rigorosamente seus resultados,


como fazia o matemático grego.
Galileu, em seus Diálogos sobre duas novas ciências, tam-
bém tratou o cálculo de áreas pelos métodos infinitesimais. Bo-
naventura Cavalieri (1598-1647), que foi seu discípulo e seguidor,
depois professor em Bolonha, teve um papel importante no de-
senvolvimento desses métodos. Estimulado pelo próprio Galileu,
ele calculava a área de uma figura plana, considerando-a consti-
tuída de uma infinidade de segmentos de retas paralelas, que ele
chamava indivisíveis de área. Similarmente, um sólido geométrico
era interpretado como constituído de uma infinidade de figuras
planas paralelas, de espessura infinitesimal, dispostas numa pilha,
como as páginas de um livro. Essas figuras eram os indivisíveis de
volume. Os matemáticos do século 17 não usavam limites: eles
consideravam as figuras geométricas já decompostas numa infi-
nidade de indivisíveis. Raciocinando dessa maneira, Cavalieri foi
levado aos princípios que hoje são conhecidos por seu nome.
Como esses métodos, precisavam de uma razoável funda-
mentação lógica; Cavalieri foi criticado e tentou responder aos crí-
ticos, todavia, sem sucesso, já que não dominava a teoria de limi-
tes ou a teoria de integração. A justificação dos métodos, dizia ele,
deveria preocupar os filósofos, não os matemáticos. O fato é que
os raciocínios com os infinitesimais, sem a devida fundamentação
lógica, eram eficazes e foram largamente utilizados ate o início do
século 19.
Sabe-se que em uma disciplina introdutória de cálculo não
existe a preocupação com as demonstrações formais, ou seja, os
conteúdos são colocados de forma intuitiva e bastante informal.
Assim, a introdução de uma conceituação mais organizada com ri-
gor matemático é o que se propõe em uma primeira disciplina de
Análise, mais especificamente, o que propõe a Análise Matemá-
tica. Em outras palavras, um dos objetivos principais dos nossos
estudos é o de praticarmos demonstrações, ou seja, enunciarmos
e demonstrarmos teoremas diversos do Cálculo (Figura 5).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 33

Figura 5 Objetivos Centrais da disciplina.

Revisão de Conceitos
Vejamos agora alguns conceitos básicos que serão de grande
utilidade para o entendimento de novas definições e da formaliza-
ção de diversos resultados a serem apresentados ao longo do seu
estudo. Cabe ressaltar que alguns desses conceitos são de conhe-
cimento da Matemática Elementar. Além disso, salientamos que
para a parte relacionada sobre funções já vamos trabalhar com
os conjuntos numéricos, apesar de colocarmos o formalismo com
relação às suas construções um pouco mais a frente.
A noção de função surge quando se procura estudar fenôme-
nos e fatos do nosso mundo e, especialmente, nos mais diversos
campos do conhecimento. Quantas vezes criamos ou procuramos
relacionar as coisas entre si, por exemplo, ao estudarmos a relação
do lucro com a quantidade vendida de determinado produto, ou
de outra forma, ao estudarmos o fenômeno da queda livre de um
corpo, podemos associar a cada instante a sua velocidade, bem
como a sua posição. Em outras palavras, diretamente e indireta-
mente, estamos utilizando a noção de função de uma variável real.

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34 © Análise Matemática

É importante mencionar que, muitas vezes, ao observarmos


fenômenos da nossa realidade, podemos caracterizar dois
conjuntos e alguma lei que associa os elementos de um dos
conjuntos aos elementos do outro. Uma análise dessas três coisas
– os dois conjuntos e a lei – pode esclarecer detalhes sobre a
interdependência dos elementos desses conjuntos e descrever o
fenômeno em observação.

2.2. CONCEITOS BÁSICOS SOBRE FUNÇÕES

Você verá a seguir alguns conceitos básicos sobre funções.


Definição 1 – função: podemos definir função como sendo
um caso particular de uma relação, ou seja, sendo A e B dois
conjuntos, diremos que uma relação de A em B é uma função se, e
somente se, nessa relação para cada X , X ∈ A , tivermos um único
Y ,Y ∈ B
Exemplo: sejam A o conjunto dos alunos de um colégio e
 o conjunto dos números inteiros. Se associarmos a cada aluno
a sua idade, estabelecemos uma função de A em  , pois, dessa
maneira, associamos a cada elemento de A um único elemento de
.
Exemplo: consideremos os conjuntos A = {0, 1, 2, 3} e B =
{-1, 0, 1, 2, 3}, temos que a relação V = {(0,0), (1, -1), (2, 0), (3, 3)}
é uma função de A em B, já que para todo elemento x ∈ A , sem
exceção, existe um só elemento y ∈ B tal que ( x, y ) ∈ V . Observe
a Figura 6.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 35

Figura 6 A representação gráfica da função V do exemplo.

Salientamos que existem várias formas para representarmos


funções. Por exemplo, consideremos a função f definida no
conjunto dos números reais com contradomínio o próprio
conjunto dos números reais, tal que =y 2 x + 3 . Assim, temos, por
exemplo, que x = 2 , então y = 7 . Dizemos que 7 é a imagem de
2 pela função f e escrevemos f (2) = 7 . De modo similar, temos
que f (0)= 3, f (−1)= 1 e assim por diante. Inicialmente, em vez
de escrevermos = y 2 x + 3 , podemos escrever f ( x= ) 2 x + 3 e,
para indicar que a função foi definida de  em  , escrevemos
f :  →  (Figura 7).

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36 © Análise Matemática

Figura 7 Diretrizes diversas sobre função.

Ao considerarmos uma função definida de A em B, chamamos


A e B respectivamente de domínio e contradomínio da função. Ao
conjunto de todas as imagens, chamamos de conjunto imagem.
Exemplo (domínio, contradomínio e conjunto ima-
gem): consideremos os conjuntos A = {x ∈  / −2 ≤ x ≤ 3} ,
x 2 , temos
B = {x ∈  / −1 ≤ x ≤ 9} e a função f : A → B / f ( x) =
que:

A é o domínio

B é o contradomínio

{0, 1, 4, 9} é o conjunto imagem

Assim, de forma resumida, podemos falar as definições de


domínio, contradomínio e conjunto imagem, como você pode
observar na Figura 8.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 37

Figura 8 A interpretação do domínio, contradomínio e conjunto imagem.

2.3. PROPRIEDADES IMPORTANTES DAS FUNÇÕES

Relembraremos algumas propriedades importantes da Teo-


ria das Funções, tais como paridade, crescimento, composição e
inversão de funções. Inicialmente, para falarmos com relação a pa-
ridade de funções, onde temos funções pares e funções ímpares,
necessitamos do conceito de conjunto simétrico, que é descrito
como segue.
Definição 2 – conjunto simétrico: consideremos A um sub-
conjunto não vazio de  , diremos que A é um conjunto simétrico
se, e somente se, x ∈ A implicar que − x ∈ A .
Contrariamente dizemos que o conjunto A é não simétrico,
ou seja, quando não for satisfeita a condição de que x ∈ A implica
que − x ∈ A .

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38 © Análise Matemática

Exemplo (conjuntos simétricos): desta forma, podemos


perceber, claramente, que os conjuntos a seguir são simétricos:
• A = ]-3, 3[ (conjunto aberto com extremos -3 e 3)
• B = [-3, 3] (conjunto fechado com extremos -3 e 3)
• C =  (conjunto dos números inteiros)
•  = conjunto dos números racionais
•  = conjunto dos números reais
Dessa maneira, podemos perceber, claramente, que os
conjuntos abaixo não são simétricos:
A = [-3, 4]
 = conjunto dos números naturais
Definição 3 – função par: consideremos f uma função cujo
domínio seja um conjunto simétrico. Diremos que f é uma função
par se, e somente se, f (− x) =f ( x) , para todo x pertencente ao
domínio de f.
Exemplo (função par): a função f ( x) = x 2 (função quadrática)
é uma função par, já que podemos visualizar claramente que
( x) 2 =x 2 (Figura 9).
f ( x) =x 2 =f (− x) =−
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 39

Figura 9 O gráfico da função f ( x) = x 2 que é uma função par.

Exemplo (função par): a função f ( x) = | x | (função modular:


módulo de x) é uma função par, já que podemos visualizar
claramente na Figura 10 que: f ( x) =| x | =x =f(− x) = | − x | =x

Figura 10 O gráfico da função f ( x) = | x | que é uma função par.

Definição 4 – função ímpar: consideremos f uma função cujo


domínio seja um conjunto simétrico. Diremos que f é uma função
ímpar se, e somente se, f(− x) =− f(x) .

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40 © Análise Matemática

Exemplo (função ímpar): a função f(x) = x 3 (função polino-


mial) é uma função ímpar, já que podemos visualizar claramente
na Figura 11 que f(− x) =( − x )3 =− x3 =− f(x) .

Figura 11 O gráfico da função f(x) = x 3 que é uma função ímpar.

Exemplo (função ímpar): a função f ( x) = senx (função tri-


gonométrica seno) é uma função ímpar, já que podemos visualizar
claramente que f(− x) =sen(− x) =− senx = − f ( x) (Figura 12).

Figura 12 O gráfico da função f ( x) = senx que é uma função ímpar.


© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 41

Veja na Figura 13 a parte relacionada ao crescimento de uma


função. Para tal, vamos considerar A e B subconjuntos de  , e f
uma função de A em B, isto é, f : A → B . Seja I um subconjunto
de A, I ⊂ A . Com relação ao crescimento de funções, temos os
seguintes tipos:

Figura 13 Tipos de funções com relação à propriedade de crescimento.

Definição 5 – função crescente no intervalo I: diremos


que uma função f é uma função crescente em I se, e somente
se, para todo par de elementos de I, {x1 , x2 }, x2 > x1 , tivermos
f ( x2 ) > f ( x1 ) , isto é, quando x aumenta f(x) aumenta. Observe
a Figura 14.

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42 © Análise Matemática

Figura 14 Função crescente em I.

Definição 6 – função decrescente no intervalo I: diremos


que f é uma função decrescente em I se, e somente se, para todo
par de elementos de I, {x1 , x2 }, x2 > x1 , tivermos f ( x2 ) < f ( x1 ) ,
isto é, quando x aumenta f(x) diminui (Figura 15).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 43

Figura 15 Função decrescente em I.

Definição 7 – função constante no intervalo I: a função f é


uma função constante em I se, e somente se, para todo par de ele-
mentos {x1 , x2 } de I, tivermos f ( x2 ) = f ( x1 ) (Figura 16).

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44 © Análise Matemática

Figura 16 Função constante em I.

Agora, vamos falar sobre a composição de funções; já fala-


mos diretamente e indiretamente sobre tal assunto, desde quan-
do falamos de função polinomial do primeiro grau em tópicos de
Matemática Elementar. Em verdade, criamos uma função compos-
ta quando substituirmos a variável independente x de uma função
por outra função (Figura 17).

Figura 17 O surgimento da função composta.

Definição 8 – função composta: consideremos f uma função


definida de A em B e seja g uma função definida de B em C. Deno-
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 45

minamos de função composta de g com f a função h, definida de A


em C, tal que h ( x ) = g ( f ( x ) ) para todo x pertencente a A, a qual
é denotada por (g f)(x) .
Exemplo (função composta): Assim, por exemplo, considere-
mos as funções:
f :  →  / f ( x) =−2 x + 3 e
3x − 4 ,
g :  →  / g ( x) =
Dessa forma, temos que:
(g f)(x) = g ( f ( x)) = 3. f ( x) − 4 = 3.(−2 x + 3) − 4

Portanto, (g f)(x) =−6 x + 5


Exemplo (função composta): assim, por exemplo, considere-
mos as funções:
f :  →  / f ( x) =−2 x + 3
e
3x − 4 ,
g :  →  / g ( x) =
Vamos encontrar (g f)(2) .
Solução: temos que:
f(−2) =−2.(2) + 3 =−1
E assim:
(g f)(2) =g ( f (2)) =g (−1) =3.(−1) − 4 =−7
Exemplo (função composta): consideremos f ( x) = x 2 e
g ( x) = x 3 , vamos encontrar o valor de ( f  g )(2) .
Solução: temos que:
3
g(2)
= 2= 8
Logo:
2
( f  g )(2)
= f ( g (2))
= f (8)
= 8= 64

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46 © Análise Matemática

Outro conceito muito importante sobre a Teoria de Funções


é a parte relacionada à inversão de funções, ou o conhecimento
da função inversa f −1 de uma dada função f. Nesse contexto, de
forma bastante simples, percebe-se que a variável dependente se
torna independente; e a variável independente se torna depen-
dente (Figura 18).

Figura 18 A inversão de papéis das variáveis dependente e independente.

Porém, para definirmos, formalmente, o conceito de função


inversa, necessitamos de alguns conceitos auxiliares, já que não é
toda função que admite função inversa; portanto, temos os con-
ceitos: de função injetora, função sobrejetora e função bijetora
(Figura 19).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 47

Figura 19 Conceitos necessários para a definição de função inversa.

Definição 9 – função injetiva: falamos que uma função


f : A → B é uma função injetora se, e somente se, para cada par
de variáveis distintas em A, tivermos imagens distintas em B, isto
é, se x1 ≠ x2 ⇒ f ( x1 ) ≠ f ( x2 ) .
Definição 10 – função sobrejetiva: dizemos que uma função
f : A → B é uma função sobrejetora se, e somente se, o seu con-
junto imagem for igual ao seu próprio contradomínio B.
Definição 11 – função bijetiva: falamos que uma função
f : A → B é uma função bijetora se, e somente se, ela for injetora
e também sobrejetora.
Tendo em vista tais definições, diremos que a condição ne-
cessária e suficiente para que uma função admita inversa é que ela
seja bijetora.
Definição 12 – função inversa: dizemos que uma função
−1
f : A → B admite inversa f quando f for uma função bijetiva,
ou seja, quando f é simultaneamente injetiva e sobrejetiva.

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48 © Análise Matemática

f :  →  tal que f(x)


Exemplo (função inversa): sendo = 2 x−1,
−1
vamos encontrar a função inversa f de f.
Solução: na função f temos que = y 2 x − 1 . Como (u; v) ∈ f
implica (v; u) ∈ f , temos na função inversa f −1 que =
−1
x 2 y −1.

x= 2 y − 1 ⇒ x + 1= 2 y ⇒ y= .

Exemplo (função inversa): sendo f uma função bijetora tal


que f ( x) = 2 x − 1 , vamos encontrar f −1 .
5x + 2
2x −1
Solução: na função f temos y = , consequentemente,
5x + 2
em f , temos que:
−1

2 y −1
x= ⇒ 5 xy + 2 x= 2 y − 1 ⇒ 2 x + 1= 2 y − 5 xy ⇒ 2 x + 1=
5y + 2
2x +1
(2 − 5 x). y ⇒ y =
2 − 5x

Para finalizarmos esta parte sobre a função inversa, obser-


vemos que:
1) Se f é uma função bijetora de A em B, então o domínio
e o contradomínio de f são respectivamente o contrado-
mínio e o domínio da sua inversa f −1 .
−1
2) Considerando f uma função bijetora e f a sua inversa,
f −1 ( x)) f=
então f (= −1
(f( x)) x para todo x no domínio.
3) Se f é uma função bijetora e (u; v) ∈ f , então (v; u) ∈ f −1 ,
consequentemente, os gráficos de f e f −1 são curvas si-
métricas com relação à bissetriz dos quadrantes ímpa-
res. Observe a Figura 20.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 49

Figura 20 A simetria entre os gráficos de f(x) = x 2 e f −1 ( x) = x .

2.4. FORMAS BÁSICAS DE DEMONSTRAÇÕES

Em diversas áreas da Matemática utilizamos as principais


formas de demonstração para justificativas de resultados diversos
e especificamente falando na Análise Matemática. Para tal, defini-
remos alguns elementos básicos referente às técnicas de demons-
trações a seguir.
Definição 13 – proposições primitivas: são aquelas afirma-
ções consideradas verdadeiras sem a necessidade de justificativa
perante a demonstração, ou seja, são afirmações aceitas como
verdadeiras sem demonstrações. As proposições primitivas são
também conhecidas como axiomas ou postulados.

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50 © Análise Matemática

Exemplo (proposição primitiva): por exemplo, um postulado


bastante conhecido é que"por dois pontos distintos existe (passa)
uma, e somente uma, reta”.
Definição 14 – teorema: é uma proposição que se deduz de
conceitos primitivos, de definições e de postulados, ou de propo-
sições já aceitas como verdadeiras. Ou ainda, podemos definir um
teorema como sendo uma proposição do tipo p → q .
Em um teorema se destacam duas partes: a hipótese e a
tese. A hipótese é o conjunto de condições admitidas como verda-
deiras, enquanto que a tese é o que se pretende concluir verdadei-
ro como consequência da hipótese.
Exemplo (teorema): “se um triângulo é equilátero então ele
é equiângulo", temos que:
Hipótese: um triângulo é equilátero.
Tese: ele é equiângulo.
Devemos ter em mente que os teoremas são, em geral,
enunciados na forma:
Se ..p.. então ..q...
Onde p é a hipótese e q é a tese. Ou seja, demonstrar um
teorema é concluir a veracidade da tese.
Definição 15 – proposição: é uma afirmação aceita como
verdadeira perante demonstração.
Definição 16 – lema: é uma afirmação aceita como verdadei-
ra perante demonstração, que é usada muitas vezes como proposi-
ção para a prova de um teorema.
Definição 17 – corolário: denominamos corolário a um teo-
rema, que é uma consequência quase direta, de outro já demons-
trado, ou seja, cuja prova é trivial ou imediata.
Todas essas informações iniciais sobre as técnicas de de-
monstração serão muito úteis principalmente com relação às di-
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 51

versas demonstrações que apresentaremos ao longo de toda a


nossa obra. Sempre estaremos apontando teoremas, proposições
e lemas no decorrer dos resultados a serem comprovados de ma-
neira formal.
Para ampliar seus conhecimentos e obter maiores detalhes
sobre a parte relacionada à Lógica Matemática, é interessante que
você leia:
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e
amp. São Paulo: Edgard Blucher, 2006, p. 4-10.

2.5. O CONJUNTO DOS NÚMEROS NATURAIS

Aspectos Introdutórios
Vamos caracterizar o conjunto  dos números naturais por
meio de três propriedades específicas, as quais são chamadas de
Axiomas de Peano, que são descritas a seguir e se encontram na
obra de Elon (1989, p. 1).
P1) (Axioma de Peano 1) Existe uma função injetiva (ou injetora
ou 1 a 1) s :  →  . Desta forma, para os nossos propósitos a
imagem s(n) de cada número natural n ∈  será denominado de
sucessor de n.
P2) (Axioma de Peano 2) Existe um único número natural, que
denotaremos por 1, 1∈  tal que 1 ≠ s ( n) para todo n ∈  .
P3) (Axioma de Peano 3) Se um conjunto X ⊂  é tal que 1 ∈ X
e s ( X ) ⊂  (isto é, n ∈ X ⇒ s ( n) ∈ X ) então X =  .

De outra forma, podemos visualizar ou reformular as


propriedades mencionadas da seguinte maneira:
P1’) (Axioma de Peano 1’) Todo número natural tem um sucessor,
que ainda é um número natural; números diferentes têm sucessores
diferentes.
P2’) (Axioma de Peano 2’) Existe um único número natural 1 que
não é sucessor de nenhum outro.

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52 © Análise Matemática

P3’) (Axioma de Peano 3’) Se um subconjunto dos números naturais


contém o número 1 e contém também o sucessor de cada um dos
seus elementos, então esse conjunto contém todos os números
naturais.

No final desta unidade, apresentaremos alguns exemplos


que ilustram a aplicabilidade do Axioma de Peano 3, o conheci-
do PIF (Princípio da Indução Finita), ferramenta muito importante
na Matemática e, especificamente falando, na parte de Teoria dos
Números. De maneira intuitiva, nós podemos pensar que todo nú-
mero natural n pode ser obtido a partir do número 1, tomando-se
seu sucessor s (1) , o sucessor deste, s (s(1)) , e assim por diante,
com um número finito de etapas.
Outra informação importante que devemos salientar é que
neste primeiro momento não encaramos o número zero como um
número natural, ou seja, observemos que começamos a contar os
naturais a partir do número 1. Em verdade, isso é uma briga que
existe dentro da Matemática, entre duas frentes, que são a Álge-
bra e a Análise. Além disso, o PIF serve como alicerce para uma
maneira de demonstração de teoremas sobre números naturais,
conhecido como o Método de Indução, ou Recorrência, pelo qual
podemos caracterizar o seu funcionamento por meio da seguinte
descrição:
Se uma propriedade P é válida para o número 1 e se, supondo P
válida para o número n daí resultar que P é válida também para
seu sucessor s(n), então P é válida para todos os números naturais
(CARDONA; AZAMBUJA; SANTOS, 2014).

Esse princípio será de fundamental importância ao longo da


Análise Matemática. 
Demonstração: “Como exemplo de demonstração por in-
dução, mostraremos que, para todo n ∈  , temos que s(n) ≠ n ,
ou seja, vamos provar que para todo n ∈  , temos que s(n) ≠ n ”
(ELON, 1989, p. 2).
Prova: notemos, inicialmente, que a afirmação é verdadeira
para = 1 porque, pelo Axioma de Peano 2, temos que 1 ≠ s (n)
n
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 53

para todo n ∈  , logo, em particular, podemos considerar para


n = 1 , ou seja, 1 ≠ s (1) . Agora, vamos supor que a afirmação seja
verdadeira para um certo n ∈  , ou seja, suponhamos que seja vá-
lida que n ≠ s (n) . Como vimos na descrição dos Axiomas de Pea-
no, a função sucessor (s) é injetiva, que segue que s(n) ≠ s ( s (n)) ,
isto é, a afirmação é verdadeira para s(n) . (Note que nessa última
passagem usamos apenas a definição de função injetiva que foi
apresentada anteriormente nesta unidade). C.q.d.
Salientamos que sempre que colocarmos uma demonstração,
no seu final aparecerá a abreviação C.q.d., que significa “como
queríamos demonstrar”, para mostrarmos que tal demonstração
foi finalizada.
Além disso, quando consideramos o conjunto  dos números
naturais, são definidas duas operações binárias importantes, que
são a adição e a multiplicação. No caso da adição, esta associa a
cada par de números naturais (m, n) sua soma m + n , enquanto
que a multiplicação faz corresponder ao par de números naturais
(m, n) seu produto m.n . É importante notarmos que tais operações
são caracterizadas pelas seguintes igualdades, que lhes servem de
definição:
• m + 1 =s (m)
• m + s(n) =s(m + n) , isto é, m + (n + 1) = (m + n) + 1
• m.1 = m
• m.(n + 1)= m.n + m
Em outras palavras, só para ilustrarmos, no caso das igual-
dades anteriores, podemos visualizá-las como sendo: somarmos
1 a m significa tomarmos o sucessor de m. E se já conhecemos a
soma m + n também conheceremos m + (n + 1) , que é o sucessor
de m + n . De outro modo, quanto à multiplicação, para a terceira
igualdade mencionada, multiplicarmos m por 1 não altera o núme-
ro dado m. Para visualização da existência das operações + e . com
as propriedades descritas, bem como sua unicidade, que se faz por

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54 © Análise Matemática

indução, você pode consultar a obra de Elon (1989, p. 2). De outra


maneira, temos as seguintes propriedades da adição e multiplica-
ção, já conhecidas por você, que são:
• Associatividade:
m + (n + p) = (m + n) + p, m.(n .p) = (m.n).p
• Distributividade: m.(n + p) = m.n + m.p
• Comutatividade: m + n = n + m, m.n = n .m
• Lei do corte: m + n = m + p ⇒ n = p, m.n = n. p ⇒ n = p
Definição 18 – m é menor do que n (ELON, 1989, p. 3): “Con-
sideremos dois números naturais m e n. Escrevemos m < n quan-
do existir p ∈  tal que n= m + p . Neste caso, falamos que m é
menor do que n”. Ressaltamos ainda que a notação m ≤ n nos diz
que m < n ou que m = n .
Quando falamos na relação de ordem < sobre o conjunto dos
números naturais, uma das mais importantes propriedades dessa
relação é o conhecido Princípio da Boa Ordenação, como enuncia-
mos e veremos a seguir.
Teorema 1 – Princípio da Boa Ordenação: todo subconjunto
não vazio A ⊂  possui um menor elemento, isto é, um elemento
n 0 ∈ A tal que n 0 < n para todo n ∈ A (ELON, 1989, 3).
Prova: a fim de provarmos essa afirmação, para cada núme-
ro n ∈  , chamemos de I o conjunto dos números naturais me-
n
nores do que n, ou seja, I n = {1, 2,..., n} . Assim, temos dois casos a
considerar:
Caso 1: neste caso, consideremos que 1 pertença ao conjun-
to A. Se 1 ∈ A , então 1 será o menor elemento de A e, assim, não
temos nada a provar.
Caso 2: aqui vamos considerar o caso de o elemento 1 não
pertencer a A, ou seja, 1 ∉ A . Dessa maneira, tomemos o conjunto
X dos números naturais n tais que I n ⊂  − A . Como o conjunto
unitário I1 = {1} ⊂  − A , vemos que 1 ∈ X . De outro modo, como
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 55

A é um conjunto não vazio, concluímos que o conjunto X é um


subconjunto próprio dos naturais, isto é, que X ≠  . Logo, a con-
clusão do Axioma de Peano 3 não é válida. Assim, concluímos que
deve existir um número natural n ∈ X tal que n + 1 ∉ X . Então
=I n {1, 2,..., n} ⊂  − A , logo n + 1 = n 0 ∈ A . Portanto, caracteriza-
mos que n 0 é o menor elemento do conjunto A. C. q. d.

2.6. CONJUNTOS FINITOS E INFINITOS: QUAL O


SIGNIFICADO FORMAL?
Antes de definirmos a noção formal de Conjunto
Finito, ressaltamos que continuaremos usando a notação
In = { p ∈  / p ≤ n} , para denotarmos o conjunto dos números
naturais menores ou iguais a n.
Definição 19 – conjunto finito (ELON, 1989, p. 3):
Dizemos que um conjunto X é dito finito quando ele é o conjunto
vazio ou quando existir uma bijeção entre ele e I n . Se escrevermos
=x1 f= ( x1 ), x2 f ( x= 2 ),..., xn f ( xn ) temos então que
X = {x1 , x2 ,..., xn } . A bijeção f é dita uma contagem dos
elementos de X e o número n é denominado o número de
elementos, ou número cardinal do conjunto finito X.

Teorema 2: “Se A é um subconjunto próprio de I n , não pode


existir uma bijeção f : A → I n ” (ELON, 1989, p. 4).
Prova: suponhamos por absurdo, que o teorema seja falso
e consideremos n 0 ∈  o menor número natural para o qual exis-
tem um subconjunto próprio A ⊂ I n0 e uma bijeção f : A → I n0 .
Se n 0 ∈ A , então existe uma bijeção g : A → I n0 com g(n 0 ) = n0 .
Nesse caso, a restrição de g ao conjunto A − {n 0 } é uma bijeção
do subconjunto próprio A − {n 0 } sobre I n0 −1 , o que contraria a mi-
nimalidade do elemento n 0 .
Contrariamente, se tivermos n 0 ∉ A , então tomamos
a ∈ A com f(a) = n , e a restrição de f ao subconjunto próprio
0
A − {a} ⊂ I n0 −1 será uma bijeção sobre I n0 −1 , o que novamente vai

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56 © Análise Matemática

contrariar a minimalidade de n 0 , ou seja, encontramos uma con-


tradição. Dessa maneira, segue que o teorema é verdadeiro, ou
seja, se A é um subconjunto próprio de I n , não pode existir uma
bijeção f : A → I n . C. q. d.
Corolário 1: se f : I m → X e g : I n → X são bijeções, então
m = n (ELON, 1989, p. 4).
Prova: suponhamos por absurdo que o Corolário seja falso,
ou seja, m ≠ n , suponhamos ainda sem perda de generalidade que
m < n . Dessa forma, sendo m < n então I seria um subconjunto
m
−1
próprio de I n , o que violaria o Teorema 1, pois g  f : I m → I n é
uma bijeção, ou seja, encontramos uma contradição. Similarmen-
te, podemos mostrar que não é possível m > n . Logo, o Corolário
é verdadeiro, portanto, temos que m = n . C. q. d.
Corolário 2: consideremos X um conjunto finito do conjunto
dos naturais. Uma função f : X → X é injetiva se, e somente se,
for sobrejetiva (ELON, 1989, p. 4).
Prova: com efeito, existe uma bijeção ϕ : I n → X . A aplica-
ção f : X → X será injetiva ou sobrejetiva se, e somente se, a apli-
cação composta ϕ −1  f  ϕ : I n → I n o for também. Logo, podemos
considerar f : I n → I n . Para justificarmos tal resultado, temos uma
prova envolvendo a bicondicional (se e somente se), ou seja:
( ⇒ ) Suponhamos que f seja injetiva, então pondo A = f(I n )
teremos uma bijeção f −1 : A → I n . Pelo Teorema 2 anterior,
A = I n e f é sobrejetiva.
( ⇐ ) Reciprocamente, suponhamos que f seja sobrejetiva
então, para cada x ∈ I n , podemos escolher= y g(x) ∈ I n tal que
f(y) = x . Isso define uma aplicação g : I → I tal que f(g(x)) = x
n n
para todo x ∈ I n . Então g é injetiva e, pelo que acabamos de
provar, g é sobrejetiva. Assim, se y1 , y 2 ∈ I n forem tais que
f(y1 ) f(y 2 ) tomamos x1 , x 2 ∈ I n com g(x1= ) y=1, g(x 2=) y2
e teremos = x1 f ( g= ( x1 )) f=( y1 ) f=( y2 ) f(g(x
= 2 )) x2 . Daí
y1 g(x
= = 1) g(x
= 2) y 2 , logo f é injetiva. C. q. d.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 57

Corolário 3: “Não pode existir uma bijeção entre um conjun-


to finito e uma parte própria sua” (ELON, 1989, p. 5).
Prova: notemos que o Corolário 3 é uma mera reformulação
do Teorema 2.
Agora, vamos mostrar um resultado aparentemente natural
de se pensar, porém, um pouco mais complexo para provar, que é
o fato de que um subconjunto de um conjunto finito é também
finito. Esse fato é enunciado no Teorema 3, logo a seguir.
Teorema 3: todo subconjunto de um conjunto finito é finito
(ELON, 1989, p. 5).
Prova: vamos provar, primeiramente, o seguinte caso parti-
cular: se X é finito e a ∈ X , então o subconjunto X – {a} é também
finito. De fato, existe uma bijeção f : I n → X , a qual, pelo corolá-
rio anterior, podemos supor que cumpre f (n) = a . Se n = 1 , então
X − {a} = ∅ é finito. Se n > 1 , a restrição de f a I n −1 é uma bijeção
sobre X − {a} , logo X − {a} é finito e tem n − 1 elementos. O caso
geral se prova por indução no número n de elementos de X. Ele é
evidente quando X = ∅ ou n = 1 . Supondo o teorema verdadei-
ro para conjuntos com n elementos, consideremos X um conjunto
com n + 1 elementos e Y um subconjunto de X. Se Y = X , nada há
para provarmos. Caso contrário, existe um elemento a ∈ X com
a ∉ Y . Então, na realidade, Y Y ⊂ X − {a} . Como X − {a} tem n
elementos, concluímos que Y é finito. C. q. d.
Definição 20 – conjunto limitado: um subconjunto X ⊂  é
dito limitado, quando existe p ∈  tal que x ≤ p para todo x ∈ X
(ELON, 1989, 5).
Corolário 02: um subconjunto X ⊂  é finito se, e somente
se, for limitado (ELON, 1989, p. 5).
Prova: mais uma vez, observemos que se trata de uma prova
do tipo ida e volta. Desse modo, temos que:

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58 © Análise Matemática

( ⇒ ) Neste sentido, notemos que temos por hipótese que


X é finito e devemos mostrar que X é limitado. Para tal, como X é
finito, podemos escrever= X como X {x1 , x2 ,..., xn } ⊂  ; assim, se
colocarmos p = x1 + x2 + ... + xn , vemos claramente que para todo
x em X, que x < p , ou seja, X é limitado.
( ⇐ ) Neste sentido, temos por hipótese que X é limitado e
devemos provar que X é finito. Para tal, se X ⊂  é limitado, en-
tão X ⊂ I p para algum p ∈  , segue-se pois o Teorema 2, em que
provamos anteriormente que o conjunto X é finito. C. q. d. (Figura
21).

Figura 21 Relação entre conjunto finito e limitado.

Agora vamos definir a noção de conjunto infinito, que, em


verdade, já podemos pensar de forma natural que se trata do con-
trário da noção de conjunto finito.
Definição 21 – conjunto infinito: um conjunto X é dito infini-
to quando ele não é finito. Assim, X é infinito quando não é vazio
e nem existe, seja qual for n ∈  , uma bijeção f : I n → X (ELON,
1989, p. 6).
Por exemplo, o conjunto IN dos números naturais é infinito,
em virtude do Corolário 2 do Teorema 2, pelo mesmo motivo.
Outro exemplo de conjunto infinito é dado se considerarmos
k ∈  , então o conjunto k . dos múltiplos de k é também um
conjunto infinito.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 59

Teorema 3: se X é um conjunto infinito, então existe uma


aplicação injetiva f :  → X (ELON, 1989, p. 6).
Prova: para cada subconjunto não vazio A ⊂ X ,
escolhemos um elemento x A ∈ A . Em seguida, definimos
a função f :  → X ,indutivamente, da seguinte forma:
colocando f(1) = x X e supondo já definidos f(1), f(2),..., f(n) ,
escrevemos A n= X − {f(1), f(2),..., f(n)} . Como X é infinito, A n
é um conjunto não vazio. Definimos então f (n + 1) = x A . Dessa
forma, completamos a definição da função f. Para provarmos
que f é injetiva, consideremos m, n ∈  , digamos sem perda de
generalidade, que m < n . Então f(m) ∈ {f(1), f(2),..., f(n − 1)} ,
enquanto f(n) ∈ X − {f(1), f(2),..., f(n − 1)} . Logo f (m) ≠ f (n) , ou
seja, f é injetiva. C. q. d.
Corolário 3: um conjunto X é infinito se, e somente se, existe
uma bijeção ϕ : X → Y sobre um subconjunto próprio Y ⊂ X
(ELON, 1989, p. 6).
Prova: notemos que, novamente, temos uma prova nos dois
sentidos.
( ⇒ ) Neste sentido, temos por hipótese que X é um conjunto
infinito e devemos mostrar que existe uma bijeção ϕ : Xv Y sobre
um subconjunto próprio Y ⊂ X . Com efeito, sejam X infinito e
f :  → X uma aplicação injetiva. Escrevamos, para cada n ∈  ,
f (n) = xn , considerando o subconjunto próprio Y= X − {x1} .
Dessa forma, se definirmos a função ϕ : X → Y , pondo ϕ ( x) = x
se x não é um dos xn e ϕ= ( xn ) xn +1 (n ∈ ) , que claramente é uma
função bijetora.
( ⇐ ) Neste sentido, se existe uma bijeção de X sobre um
subconjunto próprio, então X é infinito, em virtude do Corolário 3
do Teorema 2. C. q. d.

Curiosidade sobre os Números Pares e Números Ímpares!–––


Se considerarmos =1  − {1} então a função
ϕ :  →  1 , ϕ ( n) =
n + 1 , é uma bijeção de  sobre seu sub-

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60 © Análise Matemática

conjunto 1 = {2,3,...} . Mais geralmente, se fixarmos p ∈ 


podemos considerar  p ={p + 1, p + 2,...} e definir a bijeção
ϕ :  →  p , ϕ ( n) =
n + p . Fenômenos desse tipo já tinham
sido observados por Galileu, que foi o primeiro a notar que “há
tantos números pares quantos números naturais”, mostrando que
se P = {2, 4, 6,...} é o conjunto dos números pares então ϕ : IN
→ P, dada por ϕ (n) = 2n, é uma bijeção. Evidentemente, se I =
{1,3,5,... } é o conjunto dos números ímpares, então ψ : IN → I,
com ψ (n) = 2n – 1, também é uma bijeção. Nestes dois últimos
exemplos, IN – P = I e IN – I = P são infinitos enquanto IN – N p =
{1,2,... , p} é finito (ELON, 1989, p. 6).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

2.6. ENUMERABILIDADE: QUAL O SIGNIFICADO DE UM CON�


JUNTO SER ENUMERÁVEL?

A seguir, você terá a noção de enumerabilidade, em que num


primeiro momento interpretamos um conjunto como sendo enu-
merável se pudermos contar seus elementos numa certa ordem,
que se convenciona como nos números naturais: o de ordem 1,
ordem 2, ordem 3 etc. Ou seja, vamos definir a noção de conjunto
enumerável, bem como descreveremos as principais propriedades
e resultados associados.
Definição 22 – conjunto enumerável: “Um conjunto X é
dito enumerável quando é finito ou quando existe uma bijeção
f :  → X . Neste caso, dizemos que f é uma enumeração dos ele-
mentos X”. Escrevendo = f (1) x=
1 , f (2) x2 ,...,
= f (n) xn ,..., temos
que X = {x1 , x2 ,..., xn ,...} (ELON, 1989, p. 6).
Nesse sentido, o conjunto dos números naturais,  , é enu-
merável: 1 é o elemento de ordem 1, 2 é o elemento de ordem 2,
e assim sucessivamente. No conjunto dos números inteiros,  , o
elemento 0 é o de ordem 1, 1 o de ordem 2, – 1 o de ordem 3, 2 o
de ordem 4, e assim por diante.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 61

Agora, vamos caracterizar que qualquer subconjunto X dos


naturais é um conjunto enumerável.
Teorema 4: todo subconjunto X ⊂  é enumerável (ELON,
1989, p. 1).
Prova: se X é finito, não necessitamos demonstrar nada, já
que de forma direta o caracterizamos como enumerável. Vamos
supor que X é não finito, dessa forma, enumeramos os elemen-
tos de X pondo x1 = menor elemento de X, e supondo definidos
x1 < x2 < ... < xn , escrevemos A=n X − {x1 , x2 ,..., xn } . Notemos
que An ≠ ∅ , pois X é um conjunto infinito; definimos xn +1 = me-
nor elemento de An .
Dessa forma, afirmamos que X = {x1 , x2 ,..., xn } , então X é
enumerável, de fato, pois se existisse algum elemento x ∈ X di-
ferente de todos os xn , teríamos x ∈ An para todo n ∈  , logo
x seria um número natural maior do que todos os elementos do
conjunto infinito {x1 , x2 ,..., xn ,...} , contrariando o Corolário 2 do
Teorema 3. C. q. d.
Corolário 5: “Seja f : X → Y injetiva. Se Y é enumerável en-
tão X também é enumerável. Em particular, todo subconjunto de
um conjunto enumerável é enumerável” (ELON, 1989, p. 7).
Prova: basta considerarmos o caso em que existe uma bije-
ção ϕ :Y →  . Então a função composta ϕ  f : X →  é uma bi-
jeção de X sobre um subconjunto de  , o qual é enumerável, pelo
Teorema 4. No caso particular de X ⊂ Y , tomamos f : X → Y
igual à aplicação de inclusão. C. q. d.
Corolário 6: seja f : X → Y uma aplicação sobrejetiva. Se X
é enumerável então Y também é enumerável (ELON, 1989, p. 7).
Prova: com efeito, para cada y ∈ Y podemos escolher
um= x g ( y ) ∈ X tal que f ( x) = y . Isso define uma aplicação
g : Y → X tal que f ( g ( y )) = y para todo y ∈ Y , donde concluí-
mos que g é injetiva. Dessa forma, pelo Corolário 5, concluímos
que Y é enumerável. C. q. d.

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62 © Análise Matemática

Corolário 7: “O produto cartesiano de dois conjuntos enu-


meráveis é um conjunto enumerável” (ELON, 1989, p. 7).
Prova: se os conjuntos X e Y são enumeráveis, então exis-
tem funções sobrejetivas f :  → X e g :  → Y , daí a função
composta ϕ :  ×  → X × Y , definida por ϕ (m, n) = ( f (m), g (n))
é sobrejetiva, pois é uma composta de funções sobrejetivas. Por-
tanto, basta provarmos que  ×  é enumerável. Para tal, conside-
remos a aplicação ψ :  ×  →  , dada por ψ (m, n) = 2m.3n . Pela
unicidade da decomposição de um número (no caso 2m.3n ) em
fatores primos, concluímos que ψ é injetiva. Dessa forma,  × 
é enumerável, portanto segue que o produto cartesiano X × Y é
enumerável. C. q. d.
Corolário 8: a reunião de uma família, enumerável de
conjuntos enumeráveis é enumerável (ELON, 1989, p. 8).
Prova: vamos considerar os conjuntos X 1 , X 2 ,..., X n ,...
enumeráveis. Assim, existem funções sobrejetivas
f1 :  → X 1 , f 2 :  → X 2 ,..., f n :  → X n ,.... . Vamos tomar que o
conjunto X = n =1X n , a reunião da família de conjuntos X n .

Definimos a sobrejeção f :  ×  → X pondo f (m, n) = f n (m) .


Como  ×  é enumerável, concluímos que X é enumerável, como
queríamos justificar.

Salientamos que o Teorema 3, o qual enunciamos e apresentamos


a sua demonstração anteriormente, nos diz que o enumerável é
o “menor” dos infinitos. Ou seja, o Teorema 3 pode ser reescrito
da seguinte forma: todo conjunto infinito contém um subconjunto
infinito enumerável.

Vejamos mais alguns exemplos envolvendo conjuntos


enumeráveis e não enumeráveis.
Exemplo (conjunto enumerável): o conjunto dos núme-
ros inteiros = {..., −2, −1, 0,1, 2,...} é um conjunto enumerável.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 63

Para visualizarmos tal fato, basta considerarmos a função bijetiva


f :  →  definida da seguinte maneira por dupla sentença:

 n −1
 2 , se n é ímpar
f ( n) = 
 −n , se n é par
 2

Exemplo (conjunto enumerável): o conjunto


m
 { ; m, n ∈ , n ≠ 0} dos números racionais é também
=
n
enumerável. Para tal, se escrevermos *=  − {0} , podemos definir
uma função sobrejetiva f : * ×  →  colocando f (m, n) = m .
n
De outra maneira, para visualizarmos que o conjunto dos números
racionais Q é enumerável, procedemos da seguinte forma:
podemos escrever os números racionais (na verdade, apenas os
positivos e alguns repetidamente) como você pode observar no
Quadro 1:
Quadro 1 Disposição da ordenação do conjunto dos racionais.
1 1 1
...
1 2 3
2 2 2
...
1 2 3
3 3 3
...
1 2 3
4
. . .
1
. . . .
. . . .

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64 © Análise Matemática

Exemplo (conjunto não enumerável): a seguir, mostraremos


que o conjunto dos números irracionais (  ) e o conjunto dos
números reais  não são conjuntos enumeráveis. Observe a
Figura 22:

Figura 22 Conjuntos Enumeráveis e Não Enumeráveis.

Para complementar o seu estudo sobre conjuntos finitos, in-


finitos e enumeráveis, é importante que você leia:
ÁVILA, Geraldo. Análise matemática para licenciatura. 3. ed.
rev. e amp. São Paulo: Edgard Blucher, 2006, p. 32-38.

2.7. O CONJUNTO DOS NÚMEROS REAIS

O conjunto dos números reais, que será o nosso conjunto


universo de estudo ao longo da Análise Matemática, será deno-
tado por  . Já estamos perfeitamente familiarizados com ele,
quando tratamos da bijeção entre  e uma reta, fazendo, assim,
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 65

a identificação da reta real. Dessa forma, apresentaremos uma


descrição de suas principais propriedades, que, juntamente com
suas consequências, utilizaremos nas unidades seguintes.

O conjunto dos números reais é um corpo: o que isso significa?


A estrutura de corpo é uma das estruturas algébricas que
estudamos na parte da Álgebra Abstrata, onde são definidas as
estruturas mais complexas, baseando-se na noção natural de con-
juntos.
Em verdade, quando falamos que o conjunto dos números
reais é um corpo ordenado completo, isso nos diz que estão defi-
nidas em  duas operações binárias, semelhantemente às defini-
das nos naturais, ao qual denominamos mais uma vez de adição
e multiplicação, que cumprem certas condições, as quais especifi-
caremos a seguir.
São as operações usuais que trabalhamos sempre em sala de
aula e no nosso dia a dia.
A adição faz corresponder a cada par de elementos reais
x, y ∈  , sua soma x + y ∈  , enquanto a multiplicação associa
a esses elementos o seu produto x. y ∈  . As propriedades que
essas duas operações obedecem são descritas da seguinte forma:
• Associatividade: para quaisquer x, y, z ∈  , temos que
( x + y ) + z =x + ( y + z ) e ( x. y ).z = x.( y.z ) .
• Comutatividade: para quaisquer x, y ∈  , temos que
x + y = y + x e x. y = y.x .
• Elementos neutros: existem em  dois elementos dis-
tintos, que denotaremos por 0 e 1 tais que x + 0 = x e
x .1 = x para qualquer x ∈  .
• Inversos: todo elemento x ∈  possui um inverso adi-
tivo, que denotaremos por − x ∈  tal que x + (− x) =0
e, se x ≠ 0 . Existe também um inverso multiplicativo
x −1 ∈  tal que x. x −1 = 1 .

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66 © Análise Matemática

• Distributividade: para x, y, z ∈  quaisquer, temos que


x.( y + z ) = x. y + x.z (Figura 23).

Figura 23 Axiomas envolvendo a soma e multiplicação sobre os reais.

Das propriedades mencionadas resultam todas as regras fa-


miliares de manipulação com os números reais, que já conhece-
mos desde a Matemática Elementar.
Por exemplo, da comutatividade podemos escrever que
0 + x = x e –x + x = 0 para todo x ∈  . De modo similar,
−1
1. x = x e x .x = 1 quando x ≠ 0 . A soma x + (− y ) será indicada
por x − y e é denominada diferença entre x e y.
−1 x
Se y ≠ 0 , o produto x . y será representado também por
y
e denominado quociente de x por y. As operações (x, y)  x − y
x
e (x, y)  chamam-se, respectivamente, subtração e divisão.
y
Evidentemente, a divisão de x por y só faz sentido quando
y ≠ 0 , pois o número 0 como já sabemos não possui inverso multi-
plicativo. Por outro lado, de x. y = 0 podemos concluir que x = 0 ou
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 67

y = 0 . Com efeito, se for y ≠ 0 então podemos multiplicar ambos


os membros desta igualdade por y −1 e obtemos x. y. y −1 = 0. y −1 ,
donde segue que x = 0 .
Exemplo (regra dos sinais): da propriedade da distributiva
descrevemos as conhecidas regras dos sinais, que são, segundo
Elon ( 1989, p. 12):
x.(− y ) =(− x). y =−( xy ) e (− x)(− y ) =
xy
Prova: de fato, podemos escrever:
x.(− y ) + xy = x.(− y + y ) = x.0 = 0

Somando −( x. y ) a ambos os membros da igualdade, vem


que:
x.(− y ) + xy =vem
0 x.(− y ) =−(x . y)
Analogamente,
(− x). y =
−(x . y)

Logo
(− x).(− y ) = −[−(xy)] = xy
Em particular, temos que:
(−1).(−1) =
1.
O conjunto dos números reais é um corpo ordenado: o que
significa?
Em outras palavras, isso significa que existe um subconjunto
+
 ⊂  , chamado conjunto dos números reais positivos, que
cumpre as seguintes propriedades:
• P1) A soma e o produto de números reais positivos são sempre
positivos. Ou seja, x, y ∈  + ⇒ x + y ∈  + e x. y ∈  + .
• P2) Dado x ∈  , exatamente uma das três alternativas
seguintes ocorre: ou x = 0 , ou x ∈  + ou − x ∈  + .

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68 © Análise Matemática

Se indicarmos com  − o conjunto dos números − x onde


x ∈  + , a condição (P2) nos diz que  =  + ∪  − ∪ {0} , e os con-
juntos  + ,  − e {0} são dois a dois disjuntos. Os números y ∈  −
são denominados números reais negativos.
Todo número real x ≠ 0 tem seu quadrado como sendo um
2 +
número positivo. Com efeito, se x ∈  então x= x.x ∈  por
+

(P1). Se x ∉  + então (como x ≠ 0 ) − x ∈  + , logo, ainda por causa


2 +
da propriedade (P1), temos que x= x.x ∈  . Em particular, 1 é
um número positivo porque 1 = 12 .
Definição 23 – x é menor do que y: dizemos que x é menor
do que y quando y − x ∈  + , isto é, y= x + z onde z é positivo.
Escrevemos x < y . Neste caso, escrevemos também y > x e
dizemos que y é maior do que x. Em particular, x > 0 significa que
x ∈  + , isto é, que x é positivo, enquanto x < 0 quer dizer que x é
negativo, ou seja, que − x ∈  + (ELON, 1989, p. 13).
Dessa maneira, são válidas as seguintes propriedades da
relação de ordem x < y em  :
1) Transitividade: se x < y e y < z então x < z .
2) Tricotomia: dados x, y ∈  , ocorre exatamente uma das
alternativas x = y , x < y ou y < x .
3) Monotonicidade da adição: se x < y então, para todo
z ∈  , tem-se x + z < y + z .
4) Monotonicidade da multiplicação: se x < y , então para
todo z > 0 se tem x.z < y.z . Se, porém, z < 0 então
x < y implica y.z < x.z .

Prova:
+ +
1) x < y e y < z significam y − x ∈  e +z − y ∈  .
Por (P1) segue que ( y − x) + ( z − y ) ∈  , isto é,
z − x ∈  + , ou seja, x < z .
+
2) Dados x, y ∈  , ou y − x ∈  , ou y − x = 0 ou
+
− y − x ∈  + (isto é, x − y ∈  ). No primeiro caso, tem-
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 69

-se x < y , no segundo x = y , e no terceiro y < x . Essas


alternativas se excluem mutuamente, por (P2).
3) Se x < y então y − x ∈  + , donde
( y + z ) − ( x + z ) = y − x ∈  + , isto é, x + z < y + z .
4) Se x < y e z > 0 , então y − x ∈  e z ∈  , logo
+ +

( y − x).z ∈  + , ou seja, y.z − x.z ∈  + , o que significa


x.z < y.z . Se x < y e z < 0 então y − x ∈  + e − z ∈  + ,
donde ( x.z − y.z ) = ( y − x).(− z ) ∈  + , o que significa
y.z < x.z . C. q. d.

Geralmente, x < y e x ' < y ' implicam x + x ' < y + y ' . Com
efeito ( y + y ') − ( x + x ') = (y − x) + (y'− x') ∈  + .

Analogamente, 0 < x < y e 0 < x ' < y ' implicam x.x ' < y. y ' ,
pois y. y '− x.x ' = y. y '− y.x'+ y.x'− x.x ' = y.(y'− x') + (y − x).x' > 0 .

Se 0 < x < y então y −1 < x −1 . Para provar, notamos primeiro


x −1 x.( x −1 ) 2 > 0 . Em seguida, multiplicando ambos
que x > 0 ⇒=
−1 −1 −1 −1
os membros da desigualdade x < y por x . y vem que y < x .
Como 1∈  é positivo, segue-se que 1 < 1 + 1 < 1 + 1 + 1 < ...
Podemos então considerar  ⊂  . Segue-se que  ⊂  , pois
0 ∈  e n ∈  ⇒ −n ∈  . Além disso, se m, n ∈  com n ≠ 0 , então
m
= m. n −1 ∈  , o que nos permite concluir que  ⊂  . Assim,
n
 ⊂  ⊂  ⊂  . Dessa maneira, temos a seguinte disposição,
dada pela Figura 24.

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70 © Análise Matemática

Figura 24 A relação de inclusão entre os principais conjuntos numéricos.

Na seção seguinte, veremos que a inclusão  ⊂  é própria,


ou seja, que o conjunto dos racionais está contido em  e não
sendo igual a  .
O valor absoluto, ou módulo do número x, é definido como
sendo a distância da origem 0 (zero) até o número x, dessa forma,
como mensura distância não pode ser negativo. O valor absoluto
de x é definido como sendo:
 x, se x ≥ 0
| x| =
− x, se x < 0
Uma das propriedades fundamentais que temos relacionadas
ao valor absoluto de x, que também é muito utilizada na
Geometria é a famosa desigualdade triangular, a qual enunciamos
e demonstramos no próximo teorema, a seguir.
Teorema 5 – Desigualdade Triangular: se x, y ∈ ℜ então
| x + y | ≤ | x | + | y | (ELON; 1989, p. 14).

Prova: somando membro a membro as desigual-


dades | x | ≥ x e | y | ≥ y vem | x + y | ≥ x + y . Analoga-
mente, de | x | ≥ − x e | y | ≥ − y resulta | x + y | ≥ −( x + y ) .
Logo + y | máx{(x + y), −(x + y)} .
| x | + | y | ≥ | x= Ou seja,
| x + y | ≤ | x | + | y | . C. q. d.
Teorema 6: se x, y ∈  então| x. y | ≤ | x | . | y | (ELON, 1989, p.
14).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 71

Prova: para provarmos que | x . y | ≤ | x | . | y | , basta mostrarmos


que esses dois números têm o mesmo quadrado, já que ambos
são ≥ 0 . Ora o quadrado de | x. y | é (x . y) 2 = x 2 . y 2 , enquanto
| . | y |) 2 | x=
(| x= |2 . | y |2 x 2 . y 2 . Logo, | x . y | ≤ | x | . | y | . C. q. d.
Teorema 7: sejam a, x, δ ∈  . Temos | x − a | < δ se, e
somente se, a − δ < x < a + δ (ELON, 1989, p. 15).
Prova: como | x − a | é o maior dos dois números
( x − a ) e −( x − a ) , afirmar que | x − a | < δ equivale a dizer
que se tem | x − a | < δ e ( x − a ) < δ −( x − a ) < δ , ou seja,
( x − a ) < δ e ( x − a ) > −δ . Somando o número a, vem que:
| x − a | < δ ⇔ x < a + δ e x > a − δ ⇔ a − δ < x < a + δ . C. q. d.
Usaremos as seguintes notações para representar tipos
especiais de conjuntos de números reais, chamados de intervalos,
donde um pouco mais a frente estaremos relacionando com
conjuntos abertos e conjuntos compactos, para caracterização de
funções contínuas e deriváveis nesses conjuntos.
[a, b] = {x ∈  / a ≤ x ≤ b} (intervalo fechado)
(− ∞, b=
] {x ∈  / x ≤ b}
(a, b) = {x ∈  / a < x < b} (intervalo aberto)
(− ∞, b=
] {x ∈  / x < b}
[a, b) = {x ∈  / a ≤ x < b}
[a, + ∞)= {x ∈  / x ≥ a}
(a, b] = {x ∈  / a < x ≤ b}
(a, + ∞)= {x ∈  / x > a}
(− ∞, +∞) = 
Não podemos nos esquecer de que + ∞ e − ∞ não são nú-
meros, ou seja, não podem ser considerados números finitos. Em
verdade, eles servem para representar a tendência de uma variá-

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72 © Análise Matemática

vel ou de uma função para um comportamento no sentido de cres-


cer ou decrescer ilimitadamente. Discutiremos muito essa parte
em limites de funções reais.
Notemos que os quatro intervalos da esquerda são limita-
dos, com extremos a, b :[a, b] é um intervalo fechado, (a, b) é
aberto, [a, b) é fechado à esquerda e (a, b] é fechado à direita.
Os cinco intervalos à direita são ilimitados: (− ∞, b] é a semirre-
ta esquerda fechada de origem b . Os demais têm denominações
análogas. Quando a = b , o intervalo fechado [a, b] reduz-se a um
único elemento e é denominado intervalo degenerado.
Em termos de intervalos, o Teorema 7 nos diz que | x − a | < ε
se, e somente se, x pertence ao intervalo aberto (a − ε , a + ε ) .
Analogamente, | x − a | ≤ ε ⇔ x ∈ [a − ε , a + ε ] .
É muito conveniente imaginar o conjunto  como uma reta
(a “reta real”) e os números reais como pontos dessa reta. Então
a relação x < y significa que o ponto x está à esquerda de y (e y à
direita de x); os intervalos são segmentos de reta e | x − y | é à dis-
tância do ponto x ao ponto y. O significado do Teorema 7 é de que
o intervalo (a − ε , a + ε ) é formado pelos pontos que distam me-
nos de ε do ponto a. Tais interpretações geométricas constituem
um valioso auxílio para a compreensão dos conceitos e teoremas
da Análise Matemática.

O conjunto dos números reais é um corpo ordenado completo


Nada do que falamos até o presente momento nos permi-
te, ainda, diferenciar o conjunto dos números reais  do conjun-
to dos números racionais  , pois os números racionais também
constituem um corpo ordenado. Assim, vamos finalizar agora a ca-
racterização de  , descrevendo-o como um corpo ordenado com-
pleto, propriedade que o conjunto dos números racionais  não
apresenta. Ou seja, a partir daí diferenciamos os dois conjuntos
salientando mais uma vez que o conjunto dos números reais será
o nosso conjunto universo de estudo na Análise Matemática.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 73

Definição 24 – conjunto limitado superiormente e conjun-


to limitado inferiormente: um conjunto X ⊂  é dito limitado
superiormente, quando existe algum b ∈  tal que x ≤ b para
todo x ∈ X . Nesse caso, dizemos que b é uma cota superior de
X. Analogamente, dizemos que o conjunto X ⊂  é limitado infe-
riormente, quando existe a ∈  tal que a ≤ x para todo x ∈ X . O
número a chama-se, então, uma cota inferior de X (ELON, 1989, p.
16).
Definição 25 – conjunto limitado: se o conjunto X for limitado
superior e inferiormente, dizemos que X é um conjunto limitado.
Isso significa que X está contido em algum intervalo limitado [a, b]
ou, equivalentemente, que existe k > 0 tal que x ∈ X ⇒ | x | ≤ k
(ELON; 1989, p. 16).
As duas próximas definições, que são novas, são muito im-
portantes para os nossos propósitos, que são a noção de supremo
de um conjunto e ínfimo de um conjunto.
Definição 26 – supremo: consideremos X ⊂  limitado su-
periormente e não vazio. Um número b ∈  é dito o supremo do
conjunto X quando é a menor das cotas superiores de X. Mais ex-
plicitamente, b é o supremo de X quando cumpre às duas condi-
ções seguintes:
• S1. Para todo x ∈ X , temos que x ≤ b (ou seja, b é uma
cota superior de X).
• S2. Se c ∈  é tal que x ≤ c para todo x ∈ X , então b ≤ c
(ou seja, b é a menor das cotas superiores de X).
Podemos reformular a condição (S2) da seguinte forma:
S2’. Se c < b então existe x ∈ X com c < x .
De fato, (S2’) diz que nenhum número real menor do que b
pode ser cota superior de X. Às vezes se exprime S2’ assim: para
todo ε > 0 existe x ∈ X tal que b − ε < x (ELON, 1989, p. 16).

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74 © Análise Matemática

Representaremos o supremo de X pela notação b = supX.


De modo similar, vamos definir agora o ínfimo de um
conjunto, como segue.
Definição 27 – ínfimo: se X ⊂  é um conjunto não vazio,
limitado inferiormente, um número real a chama-se o ínfimo do
conjunto X, e escrevemos a = infX, quando é a maior das cotas
inferiores de X. Isto equivale às duas afirmações seguintes:
I1. Para todo x ∈ X temos a ≤ x (ou seja, a é uma cota
inferior de X).
I2. Se c ≤ x para todo x ∈ X então c ≤ a (ou seja, a é a maior
das cotas inferiores de X).
A condição (I2) pode também ser formulada assim:
I2’. Se a < c então existe x ∈ X tal que x < c .
De fato, (I2’) diz que nenhum número maior do que a é cota
inferior de X. Equivalentemente, para todo existe x ∈ X tal
que x < a + ε (ELON, 1989, p. 16).
Definição 28 – elemento máximo: dizemos que um número
b ∈ X é o maior elemento (ou elemento máximo) do conjunto X
quando b ≥ x para todo x ∈ X . Isso quer dizer que b é uma cota
superior de X, pertencente a X (ELON, 1989, p. 17).
Exemplo (elemento máximo): b é o elemento máximo do
intervalo fechado [a, b] , mas o intervalo [a, b) não possui maior
elemento.
É importante ressaltar que, evidentemente, se um conjunto
X possui elemento máximo, este será seu supremo.
A noção de supremo serve precisamente para substituir a
ideia de maior elemento de um conjunto quando esse maior ele-
mento não existe. O supremo do conjunto [a, b) é b. Considera-
ções inteiramente análogas podem ser feitas em relação ao ínfimo
de um conjunto.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 75

A afirmação de que o corpo ordenado  é completo significa


que todo conjunto não vazio, limitado superiormente, X ⊂ 
=
possui supremo b sup X ∈  .
Não é necessário estipularmos também que todo conjunto
não vazio, limitado inferiormente, X ⊂  , possui ínfimo. Com
efeito, nesse caso o conjunto Y =
{− x / x ∈ X } é não vazio, limitado
superiormente, logo possui um supremo b ∈  . Então, como se vê
sem dificuldade, o número a = − b é o ínfimo de Y.
Em seguida, é de nosso interesse a verificação de algumas
consequências da completeza de  que são muito relevantes
para os nossos objetivos.
Exemplo (supremo e ínfimo): considere o conjunto
1
X {
= / n ∈ ; n ≥ 1} . Pede-se:
n +1
1
a) Mostre que sup X = .
2
b) Mostre que inf X = 0 .
Solução:
1
a) Para provarmos que sup X = , inicialmente, notemos
1 2
que claramente é uma cota superior de X, já que
2
1
≥ x , para todo x ∈ X , pois n ≥ 1 .
2

0 1/3 ½ -ε ½

1 1 1
Dessa forma, se tomarmos ε < − , segue que existe x = ,
1 2 3 2
tal que − ε < x , onde utilizamos (S2’), que é a reformulação da
2
condição (S2).
b) Para mostrarmos que inf X = 0 , notemos inicialmente
1
que 0 é uma cota inferior de X, já que > 0 para
n +1

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76 © Análise Matemática

todo n ≥ 1 . Para mostrarmos que é a maior das cotas in-


feriores, vamos utilizar a condição (I2'), que é a reformu-
lação da condição (I2) na definição
1 de ínfimo. Assim, para
todo ε > 0 existe = x ∈X e a =0< x <ε +0.
Ou seja, inf X = 0 . m0 + 1

Observação: dado ε > 0 , notemos que sempre existe m0 tal


1 1
que < < ε . C. q. d.
m0 + 1 m0
Exemplo (supremo): mostre que o supremo de um conjunto
X quando existe é único.
Solução: suponhamos que b1 e b2 sejam supremos de um
conjunto X. Daí:
b1 ≥ x, ∀ x ∈ X
i) sup X= b1 ⇒ 
 se c ≥ x, ∀ x ∈ X então b1 ≤ c

b2 ≥ x, ∀ x ∈ X
ii) sup X= b2 ⇒ 
 se c ≥ x, ∀ x ∈ X então b2 ≤ c

(1) Em particular, em (i) para x = b2 , temos que b1 ≤ b2 .


(2) Em particular, em (ii) para x = b1 , temos que b2 ≤ b1 .
Donde concluímos de (1) e (2) que b1 = b2 , ou seja, o supre-
mo de um conjunto quando existe é único. C. q. d.

Exemplo (ínfimo): sejam A e B dois conjuntos numéricos não


vazios. Prove que:
A ⊂ B ⇒ inf A ≥ inf B.
Solução: suponhamos que inf A = a1 e inf B = a2 , dessa
forma, devemos provar que a1 ≥ a2 . Daí:
a1 ≤ x, ∀ x ∈ A
i) inf A= a1 ⇒ 
 se c ≤ x, ∀ x ∈ Aentão c ≤ a1
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 77

a2 ≤ y, ∀ y ∈ B
ii ) inf B
= a2 ⇒ 
 se c ≤ y, ∀ y ∈ B então c ≤ a2
Como inf B = a2 é outra cota inferior de A (já que A ⊂ B ),
segue de (i) para c = a2 , que a2 ≤ a1 , ou seja, a1 ≥ a2 , ou ainda,
inf A ≥ inf B , como queríamos mostrar.
Exemplo (ínfimo): mostre que todo conjunto X limitado in-
feriormente tem ínfimo.
Solução: consideremos X um conjunto limitado inferior-
mente. Seja B o conjunto definido da seguinte forma:
B = {conjunto de todas as cotas inferiores de X}

Temos que o conjunto B é não vazio, ou seja, B ≠ ∅ , já que


X é limitado inferiormente. Além disso, notemos que B é um
conjunto limitado superiormente por qualquer elemento de X .
Dessa forma, B tem supremo.
Observação: estamos usando o seguinte resultado: todo
conjunto limitado superiormente possui um supremo.
Seja s = sup B , assim, para todo k em B segue que k < s .
Vamos mostrar que o número s é o ínfimo do conjunto X .
Para tal, notemos que:
(i) s ≤ a para todo a em A, pois todo número menor do que
s está em B;
(ii) dado ε > 0, ∃ a ∈ X / a < s + ε , caso contrário, todo nú-
mero menor do que s + ε estaria em B, assim, s não seria o supre-
mo de B.
Portanto s = inf X , logo todo conjunto limitado inferior-
mente possui um ínfimo. C. q. d.
Teorema 8: as seguintes afirmações são equivalentes, ou
seja, afirmações equivalentes significa que uma implica na outra.

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78 © Análise Matemática

Em outras palavras, se as afirmações (a) e (b) são equivalentes,


então (a) implica (b) e vice-versa, ou seja, (a ) ⇒ (b) e (b) ⇒ (a )
(ELON, 1989, p. 17).
i. O conjunto  ⊂  dos números naturais não é
limitado superiormente.
1
ii. O ínfimo do conjunto= X { / n ∈ } é igual a 0.
n
iii. +
Dados a, b ∈  , existe n ∈  tal que n.a > b .
Prova:
i. Suponhamos por absurdo que  ⊂  é limitado su-
periormente, logo existe c = sup  . Então c − 1 não
é uma cota superior de  , isto é, existe n ∈  com
c − 1 < n . Daí resulta c < n + 1 , logo c não é cota su-
perior de  (absurdo, já que c é o supremo de  ).
Portanto, provamos (i).
ii. Notemos inicialmente que 0 é evidentemente uma
cota inferior de X. Basta então provarmos que ne-
nhum c > 0 é cota inferior de X. Ora, dado c > 0 , exis-
1 1
te, por (i), um número natural n > , donde < c , o
que prova (ii). c n
iii. Dados a, b ∈  + usamos (i) para obter n ∈  tal que
b . Então n.a > b , o que demonstra a afirmação
n>
a
(iii). C. q. d.
As propriedades (i), (ii) e (iii) do Teorema 8 acima são equi-
valentes e significam que  é um corpo arquimediano. Na reali-
dade, (iii) é devida ao matemático grego Eudoxo, que viveu alguns
séculos antes de Arquimedes.
Teorema 9 – Teorema dos Intervalos Encaixados: dada
uma sequência decrescente I1 ⊃ I 2 ⊃ ... ⊃ I n ⊃ ... de intervalos
limitados e fechados I n = [an , bn ] , existe pelo menos um número
real c tal que c ∈ I n para todo n ∈  (ELON, 1989, 18).
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 79

A demonstração com todos os detalhes desse resultado


pode ser visualizada na referência citada acima.
Teorema 10 – O Conjunto dos Números Reais é Não
Enumerável: o conjunto  dos números reais não é enumerável
(ELON, 1989, p. 18).
Prova: para averiguarmos essa afirmação, mostraremos
que nenhuma função f :  →  pode ser sobrejetiva. Para
isso, supondo f dada, construiremos uma sequência decrescente
I1 ⊃ I 2 ⊃ ... ⊃ I n ⊃ ... de intervalos limitados e fechados tais que
f (n) ∉ I n . Então, se c é um número real pertencente a todos os I n ,
nenhum dos valores f (n) pode ser igual a c , logo f não é sobrejeti-
va. Para obtermos os intervalos, começamos tomando I1 = [a1 , b1 ]
tal que f(1) < a1 e, supondo obtidos I1 ⊃ I 2 ⊃ ... ⊃ I n ⊃ ... tais que
f (j) ∉ I i , olhamos para I n [an , bn ] . Se f (n + 1) ∉ I n podemos
simplesmente tomar I n +1 = I n . Se, porém, f (n + 1) ∈ I n pelo me-
nos um dos extremos, digamos an , é diferente de f (n + 1) , isto
é, an < f (n + 1) . Nesse caso, tomamos I n +1 = [a n +1 , b n +1 ] , com
(a + f (n + 1))
an +1 = an e bn +1 = n . C. q. d.
2
Definição 29 – número irracional: dizemos que um número
a ∈  é irracional quando ele não é racional. O conjunto dos
números irracionais será denotado por I , obviamente temos
que I=  −  (ELON, 1989, p. 18). Como I=  −  , sendo 
enumerável e  não enumerável, concluímos que o conjunto dos
irracionais também é não enumerável.
Para maiores detalhes sobre o conjunto dos números reais e
seus principais resultados relacionados, leia:
ÁVILA, G. Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e
amp. São Paulo: Edgard Blucher, 2006, p. 23-45.
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Edito-
ra, 1996, p. 1-45.

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80 © Análise Matemática

LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de


Cyro C. Patarra. 3. ed. São Paulo: Harbra, 1994. v. 2. p.  2-13.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione:
Análise Matemática – Vídeos Complementares – Complementar 1.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. LEITURA COMPLEMENTAR
Recomendamos a leitura do texto complementar, pois isso
fixará os pontos que abordamos nesta Unidade.

Um Enfoque do Princípio da Indução Finita––––––––––––––––


Neste momento, iremos relembrar o Princípio da Indução Finita (PIF), consti-
tuindo uma ferramenta essencial para a demonstração de diversos resultados ao
longo dos nossos estudos, além de ser uma ferramenta indispensável em outras
áreas do conhecimento, como por exemplo, para Ciência da Computação, espe-
cificamente falando na área de Matemática Discreta. Um exemplo simples que
ilustra o Princípio da Indução Matemática é o efeito dominó, ou seja, uma fila sem
fim de peças do jogo dominó para a qual, ao derrubar a primeira peça todas as
demais peças são derrubadas em cadeia.
Definição 30 – Princípio da Indução Finita: uma proposição é verdadeira para
todo número natural n, n ≥ n0 , se e somente se:
Primeira Parte: é verdadeira para n = n0 .
Segunda Parte: a validade da proposição para um número natural qualquer
n = k implica na validade para n= k + 1 .
Notemos que para utilizarmos o PIF, devemos proceder na divisão em duas
partes, sendo a primeira parte temos que mostrar que o resultado é verdadeiro
para um dado valor particular de n. Já para a segunda parte, formatamos a
hipótese de indução (supomos que o resultado é válido para n = k ) e sendo
necessário provar a validade do resultado para n= k + 1 (tese de indução).
n.(n + 1)
Exemplo (PIF): prove pelo PIF que + ... + n
1 + 2 + 3= ,n∈.
Solução: Neste caso, temos que:
2
Primeira Parte – a proposição é verdadeira para n = 1 , pois:
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 81

10 membro =1 
 0 0
0 1.(1 + 1)  1 membro = 2 membro
2 membro
= = 1
2 

k .(k + 1)
Segunda Parte – hipótese de indução: 1 + 2 + 3 + ... + k =
2
k .(k + 1)
tese de indução: 1 + 2 + 3 + ... + k =
Prova: 2
k (k + 1)
1
+ 2 3 + ... +k + (k=
+  + 1) + (k=+ 1)
por hipótese 2
k (k + 1) + 2(k + 1) (k + 1)(k + 2)
=
2 2 c. q. d

Exemplo (PIF):
3 3 3 n 2 .(n + 1) 2
3
Prove pelo PIF que + ... + n
1 + 2 + 3= ,n∈ .
4
Solução:
Primeira Parte – a proposição é verdadeira para n = 1 , pois:
0
1 membro =1 3

 0 0
0 12
.(1 + 1) 2
 1 membro = 2 membro
2 =membro = 1
2 

k 2 .(k + 1) 2
Segunda Parte – hipótese de indução: 13 + 23 + 33 + ... + k 3 =
4
Tese de Indução:
3 3 3 3 (k + 1) 2 .(k + 2) 2
3
1 + 2 + 3 + ... + k + (k + 1) =
4

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82 © Análise Matemática

Prova:
3 k 2 (k + 1) 2 k 2 (k + 1) 2 + 4.(k + 1)3
+ 23 
1 33 + ... + 
+  k 3 + (k=
+ 1)3 + 1)3
+ (k= =
por hipótese 2 2
(k + 1) 2 (k 2 + 4k + 4) (k + 1) 2 .(k + 2) 2
=
2 4 c. q. d
Exemplo (PIF): Prove pelo PIF que p(n): n < 2n .
Solução: Consideremos o seguinte teorema:
n
Para qualquer n ∈  , vale n < 2 .
Uma prova por indução de p (n) : n < 2n é como segue:
a) Base de Indução. Seja k = 0 . Então: 0 < 1 =20 .
Portanto, p (0) é verdadeira.
b) Hipótese de Indução. Suponhamos que, para algum k ∈  , temos
k
que: p (k) : k < 2 é verdadeira.
Passo de Indução. A prova para p (k + 1) : (k + 1) < 2k +1 é como segue:
k +1
k + 1 < 2 (Pela hipótese de indução)
≤ 2k + 2k = 2.2k = 2k +1
Logo, para qualquer n ∈  , temos que n < 2n . C. q. d.
Para maiores detalhes sobre o PIF (Princípio da Indução Finita) e outros exemplos
resolvidos, você pode consultar a obra de ÁVILA, 2006, p. 11.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

4. CONTEÚDOS DIGITAL INTEGRADOR


Você verá a seguir uma série de fontes de pesquisa na qual
pode encontrar maiores detalhes com relação à teoria da Análise
Matemática apresentada nesta unidade. É importante ressaltar-
mos que a leitura e visualização de novos exemplos de exercícios
simulados e demonstrações é relevante para a sua sólida forma-
ção como futuro professor de Matemática, garantindo a você um
leque maior de situações que são resolvidas a partir do que foi
discutido nesta parte inicial da disciplina. Tal fato é importante,
pois coloca você no universo da pesquisa e produção científico-
-cultural, bem como o auxilia no desenvolvimento da habilidade
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 83

de pesquisa por meio da prática, além de proporcionar um modelo


de seleção crítica de conteúdos.
Nesta primeira unidade, vimos que na Análise Matemática
trabalhamos a todo momento com questões mais simples e outras
mais complexas. Falamos, inicialmente, na construção do conjunto
dos naturais pelos Axiomas de Peano, onde percebemos que o
zero não é considerado natural a priori, pois no caso não seria o
sucessor de nenhum outro número natural. Assim, na referência
a seguir você pode pesquisar mais problemas como este tipo de
abordagem.
• LIMA, E. L. Conceitos e Controvérsias. Disponível em:
<http://www.rpm.org.br/indice.pdf>. Acesso em: 14 jan.
2014.
• SBM. Homepage. Disponível em: <www.sbm.org.br>.
Acesso em: 22 abr. 2014.
Além disso, realizamos algumas demonstrações que são
bem construtivas e, conforme colocado no início, aprendemos a
atacar novas demonstrações a partir do momento que vivencia-
mos diversos artifícios para a descrição delas. Por exemplo, quan-
do falamos na unicidade, podemos justificar por redução ao absur-
do, onde supomos que existem dois diferentes e chegamos a uma
contradição. Dessa forma, neste painel descrito por Garbi, o aluno
é instigado a descobrir dentre todos os caminhos para resolver um
problema, àquele que é considerado mais correto e cômodo. Essa
abordagem pode ser amplamente trabalhada em problemas das
olimpíadas de matemática, que faz com o leque de opções para re-
solução de problemas fique cada vez maior, levando a experiência
para resolver problemas cada vez mais complexos.
A dificuldade na familiarização da escrita de novos símbolos
e nomenclaturas da Análise Matemática, a priori, surge como uma
dificuldade natural. Desta maneira, na referência a seguir, aparece

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84 © Análise Matemática

a discussão sobre padronização de escrita e notações envolvendo


radicais e números reais. Comumente, existem dúvidas com
relação à raiz quadrada de um determinando número real. Neste
sentido, temos a explicação a partir da resolução de uma equação
algébrica a convenção na escrita da raiz quadrada.
• BARONE, M. Jr. O Leitor Pergunta. Disponível em: <http://
www.rpm.org.br/indice.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2014.
Para visualização de mais exemplos práticos envolvendo o
Princípio da Indução Finita (PIF), você pode pesquisar na referência
a seguir.
• USP. Princípio da Indução Infinita. Disponível em: <http://
ecalculo.if.usp.br/ferramentas/pif/pif.htm>. Acesso em:
18 jan. 2014.
Duas das principais constantes na Matemática são o número
π e a constante de Euler. Na referência a seguir, podemos averiguar
as provas da irracionalidade destas duas constantes.
• ALVES, A. F. Algumas Importantes Constantes em
Matemática. (Dissertação de Mestrado). Disponí-
vel em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/
document/?code=00017038>. Acesso em: 11 jan. 2014.

5. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder às questões propostas a seguir para fixar
com mais propriedade os aspectos teóricos que foram propostos
nesta unidade. É muito importante você praticar a utilização das
definições e resultados discutidos anteriormente na realização de
novos problemas simulados. Além disso, é importante saber que
tal abstração é muito útil em outras áreas do conhecimento, como
na Área Computacional, no manuseio da Computação Gráfica e Ál-
gebra de Boole.
1) Consideremos P uma propriedade relativa aos números naturais. Sabe-se
que:
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 85

a) P é verdadeira para o natural n = 10 .


b) Se P é verdadeira para n, então P é verdadeira para 2n .
c) Se P é verdadeira para n, n ≥ 2, então P é verdadeira para n − 2 .

Dessa forma, podemos concluir que:


a) ( ) P é verdadeira para todo natural n .
b) ( ) P é verdadeira somente para os números naturais n, n ≥ 10.
c) ( ) P é verdadeira para todos os números naturais pares.
d) ( ) P é verdadeira somente para as potências de 2.
e) ( ) P não é verdadeira para os números ímpares.

2) Mostre que a – b ≤ a – b . (Essa desigualdade é conhecida


como a segunda desigualdade triangular).

a
3) Mostre que= 2 + 3 é um número irracional.

4) Vimos nos aspectos teóricos da Unidade 1 do Guia de Estudos que um con-


junto X é dito finito quando é vazio ou então existem n ∈  e uma bijeção
f : I n → X . Se escrevermos
= x1 f= ( x1 ), x2 f ( x=
2 ),..., xn f ( xn )
temos, então, que X = {x1 , x2 ,..., xn } . A bijeção f é dita uma contagem
dos elementos de X, e o número n é denominado o número de elementos,
ou número cardinal do conjunto finito X. Dessa forma, caracterize cada um
dos conjuntos a seguir em finito ou infinito.
a) O conjunto dos números inteiros maiores do que -7.
b) O conjunto dos naturais compreendidos entre -1 e -10.
c) O conjunto dos números inteiros entre 2 e 13.
d) O conjunto das frações compreendidas entre 0 e 4.
e) O conjunto das soluções de x + 1 = 4 - 7.
f) O conjunto dos racionais que se encontram entre 2 e 3.
g) O conjunto formado pelas vogais do nosso alfabeto.
h) O conjunto dos números primos maiores do que 1200.
i) O conjunto dos números pares maiores do que 100.
j) O conjunto dos números ímpares menores do que 1.298.345.000.
2
k) O conjunto das raízes da equação x = 1 , considerando o conjunto uni-
verso como sendo o conjunto dos números reais.
l) O conjunto dos números ímpares maiores a 1.234.678.

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86 © Análise Matemática

5) Classificar em V ou F as seguintes afirmações:


a) ( ) O número 1 é o único natural que não é sucessor de nenhum outro.
b) ( ) Se X ⊂  é finito, então não necessariamente X é limitado.
c) ( ) s ( n) = n para algum natural n.
d) ( ) Se A ⊂ I n (subconjunto próprio), então existe uma única função
bijetiva f de A em I n .
e) ( ) O produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é um conjunto
enumerável.
f) ( ) Se X ⊂  é limitado então X é finito.
g) ( ) Teorema é uma proposição verdadeira do tipo “P implica Q”.
h) ( ) Se A ⊂ X , com X finito então A é finito.
i) ( ) Se A ⊂  , assim, se 1 ∈ A temos que A =  .
j) ( ) Toda função injetiva é sobrejetiva.
k) ( ) Seja X ⊂  , então não necessariamente X possui um menor ele-
mento.
l) ( ) Toda função sobrejetora não necessariamente é injetora.
m) ( ) Todo número natural n tem um sucessor.
6) Consideremos os números x e y. Pede-se para mostrar que o produto x.y é
ímpar se, e somente se, x e y forem ímpares.

Gabarito
1) Letra (c).

2) Solução
a –=
b ² ( a | b |) ²
–= a ² – 2. a . b b ²
+=
a ² – 2. a . b + b ² ≤ a ² – 2.a.b=
+ b² (a =
– b) ² a – b²

Portanto, a – b ≤ a – b . C. q. d.

a
3) Solução: seja= 2 + 3 , logo podemos escrever:
a− 2 =3
Elevando ambos os membros ao quadrado, obtemos:
(a – 2 )² = ( 3 )²
Ou seja:
x ² – 2. 2.x + 2 =3
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 87

Ou ainda:
x ² –1 = 2. 2.x
Elevando, novamente, ambos os membros da igualdade anterior, temos que:
x4 − 2x2 + 1 =8.x 2
Como as possíveis raízes racionais da equação apresentada são -1 e 1? Lembra
da teoria sobre polinômios no segundo grau, segue que 2 + 3 não é
racional? C. q. d.

4) Soluções
a) INFINITO g) FINITO
b) FINITO h) INFINITO
c) FINITO i) INFINITO
d) INFINITO j) FINITO
e) FINITO k) FINITO
f) INFINITO l) INFINITO
5) Verifique se F ou V:
a) V h) V
b) F i) V
c) F j) F
d) F k) F
e) V l) V
f) V m) V
g) V
6) Solução
(⇒) Por hipótese, temos dois números naturais, denotemos por x e y, tais
que o produto entre os dois seja ímpar, isto é, podemos escrever:
x.y
= 2.k + 1, com k natural.
Dessa forma, devemos provar que x e y são ímpares. Em verdade, vamos
fazer a prova por redução ao absurdo, ou seja, vamos negar a tese (supor por
absurdo que x e y não sejam ímpares) e chegarmos a uma contradição com o
fato de que o produto x.y é ímpar.
Daí:
Logo, suponhamos por absurdo que x e y não sejam ímpares, isto é, x e y são
números naturais pares, logo podemos escrever x = 2.r e y = 2.s, com r e s
números naturais, então:
=x.y ( 2.r ) . ( 2.s )
= 2. ( 2.r.s ) , ou seja, o produto x.y é par (absurdo,
já que o produto x.y por hipótese é ímpar).

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88 © Análise Matemática

( ⇐ ) Nesse sentido, temos por hipótese que x e y são números ímpares e


devemos provar que o produto x.y também é ímpar. Supondo x e y ímpares,
podemos escrever= x 2.k + 1 e= y 2.t + 1 , daí:

x.y = ( 2.k + 1) . ( 2.t + 1) = 4.k.t + 2.k + 2.t + 1 que


obviamente é um número ímpar. C. q. q.

6. CONSIDERAÇÕES
A partir do momento em que discutimos os principais con-
ceitos e resultados da teoria sobre os conjuntos dos naturais e dos
reais, por meio da apresentação das propriedades características e
resultados fundamentais, que servem de alicerce para o desenvol-
vimento de toda a teoria acerca da Análise Matemática, em nossa
próxima unidade vamos trabalhar com as sequências numéricas e
séries numéricas, discutindo resultados e critérios de convergên-
cia. Nesta unidade que finalizamos, devemos salientar, mais uma
vez, que foi descrita uma construção formal do conjunto dos na-
turais, bem como foi mostrado que o conjunto dos números reais
é um corpo ordenado completo. Tivemos a revisão de conceitos e
propriedades já conhecidas desde a Matemática Elementar, mas
sobre um ponto de vista mais formal, além, é claro, de visualizar-
mos novas definições, como de enumerabilidade.

7. E-REFERÊNCIAS
BRASIL ESCOLA. Números reais. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/matema-
tica/numeros-reais.htm>. Acesso em: 8 out. 2013.
______. Números naturais. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/matematica/
numeros-naturais.htm >. Acesso em: 8 out. 2013.
CARDONA, A. V.; AZAMBUJA, C. R. J.; SANTOS, M. B. ENADE comentado. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=__xULfnRoG4C&printsec=frontcover&dq=inaut
hor:%22Augusto+Vieira+Cardona,+C%C3%A1rmen+Regina+Jardim+de+Azambuja,+Mon
ica+Bertoni+dos+Santos%22&hl=ptBR&sa=X&ei=dOQEU4vVHsLesAT6joKYAw&ved=0CC
wQ6AEwAA#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 8 out. 2013.
INFO ESCOLA. Números naturais. Disponível em: <http://www.infoescola.com/matema-
tica/numeros-naturais/>. Acesso em: 8 out. 2013.
© U1 - Aspectos Introdutórios da Análise Matemática 89

MATEMÁTICA ESSENCIAL. Cálculo real. Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.


br/matematica/superior/calculo/nreais/nreais.htm>. Acesso em: 8 out. 2013.
OBM. Olimpíada Brasileira de Matemática. Disponível em: <http://www.google.com.br/
url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=6&ved=0CEoQFjAF&url=http%3A
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dQlNtWIOR0Ltdew>. Acesso em: 8 out. 2013.
PEREIRA, P. C. A. O princípio da indução finita – uma abordagem no ensino médio. Dis-
ponível em: <http://bit.profmatsbm.org.br/xmlui/handle/123456789/345>. Acesso em:
8 out. 2013.
SLIDESHARE. Exercícios – princípio da indução finita (PIF). Disponível em: <http://www.
slideshare.net/RodrigoThiagoPassosSilva/exerccios-pif>. Acesso em: 8 out. 2013.
UNESP. Introdução à análise. Disponível em: <http://www.mat.ibilce.unesp.br/personal/
pauloricardo/introducaoanalise.pdf>. Acesso em: 8 out. 2013.
UOL EDUCAÇÃO. Raciocínio lógico na matemática. Disponível em: <http://educacao.uol.
com.br/matematica/inducao-infinita-raciocinio-logico-na-matematica.jhtm>. Acesso
em: 8 out. 2013.
USP – Universidade Estadual de São Paulo. Exercícios. Disponível em: <http://ecalculo.
if.usp.br/ferramentas/pif/exercicios/exercicios.htm>. Acesso em: 8 out. 2013.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.  
______.  Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Edgard
Blucher, 2006.
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
1999. v. 2. Séries.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
EDWARDS, Jr. C. H.; PENNEY, D. E. Cálculo com Geometria Analítica. Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997. v. 1.
FERREIRA, A. A. Guia de Estudos da Disciplina de Matemática. Varginha: Centro
Universitário do Sul de Minas Gerais (UNIS/MG), 2009.
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1996.
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. Patarra. 3. ed. São
Paulo: Harbra, 1994. v. 2.    
LIMA, E. L. Análise Real. Rio de Janeiro: IMPA, 1989. v. 1. (Coleção Matemática
Universitária).
SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica.  Tradução de Seiji Hariki. São Paulo:
Makron Books, 1987. v. 2. 
THOMAS, G. B. Cálculo. São Paulo: Addison Wesley, 2003. v. 1.

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Claretiano - Centro Universitário
Sequências e Séries
Numéricas 2
Objetivos
• Apresentar e identificar a teoria envolvendo as sequências numéricas com
valores reais.
• Definir e aplicar o conceito de limite de uma sequência numérica.
• Identificar e discutir os principais resultados envolvendo o limite de uma se-
quência.
• Compreender as operações que envolvem o limite de uma sequência.
• Trabalhar sem dificuldades com limites infinitos de sequências.
• Trabalhar sem dificuldades com algumas características de sequências, como
sequências monótonas e limitadas.
• Interpretar e aplicar o Teorema de Bolzano-Weierstrass na resolução de pro-
blemas simulados.
• Identificar a teoria envolvendo as séries numéricas.
• Interpretar e aplicar a noção de séries absolutamente convergentes.
• Identificar e aplicar os principais testes para caracterizar a convergência ou
não de séries numéricas.
• Compreender os principais critérios de convergência das séries numéricas.
• Compreender, relacionar e aplicar os principais resultados do cálculo diferen-
cial e integral de uma variável em situações do dia a dia.

Conteúdos
• Sequências numéricas.
• Limite de uma sequência numérica.
• Sequências limitadas.
• Sequências monótonas.
• Subsequências.
• Sequências convergentes.
• Sequências divergentes.
92 © Análise Matemática

• Teorema de Bolzano-Weierstrass.
• Séries convergentes.
• Séries divergentes.
• Critérios de convergência para séries numéricas.

Orientações para Estudo da Unidade


A seguir, são apresentadas a você algumas orientações para o estudo desta uni-
dade:
Observe com cuidado que uma sequência numérica é uma função definida no
conjunto dos números naturais, tomando valores reais. É importante entender
perfeitamente tal conceito, já que se faz necessário este para trabalharmos com
as séries numéricas.

1) Realize uma leitura apurada da definição formal de limite de uma sequência,


bem como das primeiras propriedades operatórias, já fazendo uma ponte
com o discutido em limites de funções.

2) Refaça os exemplos introdutórios sobre sequências e séries numéricas, para


familiarizar-se com as notações e símbolos.

3) Revise todos os teoremas e proposições discutidos na unidade sobre sequ-


ências e séries numéricas, pois isso vai fazer com que você ganhe mais ex-
periência para solucionar os problemas apresentados durante o seu estudo.

4) Refaça todos os exemplos resolvidos sobre os critérios de convergência de


séries numéricas, pois isso servirá, e muito, para resolver novos problemas
sobre convergência de séries.
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 93

1. INTRODUÇÃO
Você já deve ter visto a nomenclatura das sequências infini-
tas, em verdade, já deve ter certa familiaridade com tal conceito,
visto que este já foi estudado em um curso de cálculo diferencial e
integral introdutório.
Sabe-se, com o passar do tempo, que muitos são os nomes
de pessoas que dedicaram suas vidas à descoberta e ao aperfei-
çoamento da matemática. Elas atuaram nos mais variados ramos
do conhecimento humano, mas compartilharam entre si um dese-
jo comum: o manuseio dos números e das formas.
Na França, no ano de 1789, nascia Cauchy, um dos matemá-
ticos que contribuíram de forma significativa para o desenvolvi-
mento do cálculo, mais precisamente, porque descreveu nas en-
trelinhas a teoria sobre sequências e séries numéricas.
Outro conceito muito importante dentro da Matemática que
estaremos abordando nesta unidade, é o de série numérica, ou sé-
rie infinita, que surgiu naturalmente da tentativa de se generalizar
o conceito de soma para uma sequência de infinitos termos. Para
discutirmos as séries numéricas, poderíamos pensar, inicialmente,
nos exemplos envolvendo as progressões geométricas, estudadas
na Matemática Elementar. Sabemos que as progressões geométri-
cas são formadas por uma sequência numérica, onde esses núme-
ros são definidos (exceto o primeiro) utilizando a constante q, que
representa a razão da PG. Essas séries surgem muito cedo, ainda
no Ensino Fundamental, quando lidamos com dízimas periódicas.
Com efeito, uma dízima como 0,7777... nada mais é do que uma
progressão geométrica infinita.
Além disso, discutiremos as principais propriedades e resul-
tados fundamentais associados às sequências e séries numéricas.

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94 © Análise Matemática

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta de forma sucinta
os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão inte-
gral é necessário o aprofundamento pelo estudo dos Conteúdos
Digitais Integradores.

2.1. COMO DEFINIR UMA SEQUÊNCIA NUMÉRICA?

Antes de definirmos, formalmente, o conceito de sequência


numérica vamos considerar um exemplo introdutório bem sim-
ples, para visualizarmos o termo sequência em linhas práticas.
Exemplo introdutório (sequência): observe a informação
com relação à Copa do Mundo da FIFA realizada no ano de 2010,
para compreender a ideia prática de sucessão ou sequência nu-
mérica.
A Copa do Mundo de 2010, realizada na África do Sul, teve
como campeã, ou seja, como seleção que ficou em primeiro lugar,
a Espanha; no segundo lugar, a Holanda; no terceiro lugar, a Ale-
manha e no quarto, Uruguai. Esses dados podem ser mais bem
visualizados se utilizarmos representações de ordem.
Veja:
• 1° lugar – Espanha
• 2° lugar – Holanda
• 3° lugar – Alemanha
• 4° lugar – Uruguai
Sabendo dessas informações, poderíamos escrever a ordem
de classificação dessa Copa do Mundo da seguinte forma: Espa-
nha, Holanda, Alemanha, Uruguai. Ainda segundo essa ideia, te-
mos, por exemplo, que os dias segunda-feira, terça-feira, quarta-
-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo representam a
sequência ou sucessão de dias de uma semana.
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 95

Dessa maneira, podemos trabalhar com o conceito intuitivo


de sequência numérica com o objetivo de generalizá-lo para
sequências com um número infinito de termos e, por consequência,
detalhar de maneira formal tal tratamento. A priori, entendemos
que toda função/relação cujo domínio (conjunto de partida) é o
conjunto dos números naturais é, também, uma sequência ou
sucessão.

2.2. LIMITE DE UMA SEQUÊNCIA

Em especial, quando tratamos do contexto de sequências,


é importante discutir as sequências convergentes. Inicialmente,
antes de definirmos de maneira formal o limite de uma sequência,
apresentamos a definição formal de sequência numérica de reais
como segue.
Definição 1 – sequência numérica: uma sequência de
números reais, ou sucessão numérica, é uma função x :  →  ,
que associa a cada número natural n um número real xn , chamado
o n-ésimo termo da sequência (ELON, 1989, p. 22).
Dessa maneira, escrevemos ( x1 , x2 ,..., xn ,...) ou ( xn ) n∈ , ou
simplesmente ( xn ) , para indicar a sequência cujo n-ésimo termo
é xn . Em outras palavras, sequência é uma função cujo domínio é
o conjunto{1, 2,3,..., n,...} de todos os números inteiros positivos
ou  .
Vale ressaltar que não podemos confundir a sequência ( xn )
com o conjunto {x1 , x2 ,..., xn ,...} dos seus termos. Por exemplo, a
sequência (1,1,1,...,1,...) não é o mesmo que o conjunto {1}. Ou
então: as sequências (0,1, 0,1,..., 0,1,...) e (0, 0,1, 0, 0,1,..., 0, 0,1,...)
são diferentes, mas o conjunto dos seus termos é o mesmo e igual
a {0,1}.

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96 © Análise Matemática

1 1 1
Exemplo (sequência numérica): ( xn ) = 1, , ,..., ,... é a sequência
2 3 n
cujo n-ésimo termo é dado por xn =
1 . Note que os primeiros quatro
n
termos dessa sequência são: 1, 1 , 1 e 1 .
2 3 4
1 1 1
Exemplo (sequência numérica): ( xn ) = 1, , 2 , 3 ,... é a se-
2 2 2
1
quência cujo n-ésimo termo é dado por xn = 2 . Note que os pri-
n
1 1 1
meiros quatro termos dessa sequência são: 1, , e .
2 4 8

1 1
Exemplo (sequência numérica): ( xn ) = 1,3, ,3, ,3,... é a
2 3
1
sequência cujo n-ésimo termo é dado por xn = se n for ímpar
n
e xn = 3 se n for par. Note que os primeiros seis termos desta se-
1 1 1
quência são: 1,3, ,3, ,3 e .
2 3 4
Exemplo (sequência numérica): ( xn ) = 1, 2,1, 4,... é a sequên-
cia cujo n-ésimo termo é dado por xn = n . Note que os primeiros
quatro termos dessa sequência são: 1, 2, 3 e 4.
Exemplo (sequência numérica): ( xn ) = 2, 2, 2, 2,... é a se-
quência cujo n-ésimo termo é dado por xn = 2 . Note que essa se-
quência possui todos os termos iguais a 2.
n
Exemplo (sequência numérica): se f (n) = , então:
2.n + 1
1 2 3 4
=f (1) = , f (2) = , f (3) = , f(4) e assim por diante. A ima-
3 5 7 9
1 2 3 4
gem de f consiste nos elementos da sequência , , , ,... Alguns
3 5 7 9
1 2 3 4
dos pares ordenados na sequência são (1, ), (2, ), (3, ) e (4, ) .
3 5 7 9
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 97

Exemplo (sequência numérica): a sequência


1 1 1
( x=
n) (= ) (1, , ,...) tem como elementos os recíprocos dos
n 2 3
números inteiros positivos.
Exemplo (sequência numérica): a sequência numérica
definida da seguinte forma:
1, se n for ímpar

f ( n) =  2
 n + 2 , se n for par
1 1
possui como elementos 1, ,1, ,...
2 3
Vale mencionar que recíproco nada mais é do que outra
nomenclatura dada ao inverso multiplicativo de um determinado
número não nulo.

Elementos ou Termos de Sequência––––––––––––––––––––––


Quando falamos em sequências numéricas, devemos notar que:

Os números na imagem de uma sequência são chamados de elementos ou


termos da sequência.

Se o n-ésimo elemento for dado por f(n), então a sequência será o conjunto de
pares ordenados da forma (n, f(n)) ; onde n é um inteiro positivo.

Notemos que temos sucessões que possuem os mesmos elementos, contudo,


as sucessões são diferentes.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Definição 2 – sequência limitada superiormente e sequência
limitada inferiormente: uma sequência ( xn ) é dita limitada
superiormente (respectivamente, inferiormente), quando existe
c ∈  tal que xn ≤ c (respectivamente xn ≥ c ) para todo n ∈ 
(ELON, 1989, p. 22).

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98 © Análise Matemática

Definição 3 – sequência limitada: dizemos que a sequência


( xn ) é limitada quando ela é limitada superior e inferiormente.
Isso equivale a dizer que existe k > 0 tal que | xn | ≤ k para todo
n ∈  . (ELON, 1989, p. 22).
Exemplo (sequência limitada superiormente e sequência
limitada inferiormente): consideremos o número real a, tal que
2 n
a > 1 . Vamos mostrar que a sequência ( xn ) = (a, a ,..., a ,...) é
limitada inferiormente, porém, não é limitada superiormente
(ELON; 1989, p. 22).
Prova: se multiplicarmos ambos os membros da desigualdade
1 < a por a n obtemos a n < a n +1 , note que utilizamos apenas
propriedades básicas da potenciação. Daí, podemos escrever que
a < a n para todo n ∈  , logo (a n ) é limitada inferiormente pelo
próprio número real a . Por outro lado, temos que a = 1 + d , com
d > 0 (já que a > 1 ). Pela Desigualdade de Bernoulli (veja abaixo),
para todo n ∈  vale a > 1 + n.d . Portanto, dado qualquer c ∈ 
n

n
podemos obter a > c , desde que tomemos 1 + n.d > c , isto é,
c −1 n
n> , logo concluímos que a sequência (a ) não é limitada
d
superiormente. C.q.d.
Assim, de acordo com a Desigualdade de Bernoulli, para todo
número real x ≥ −1 e todo n ∈  , temos que (1 + x) n > 1 + n.x .

Definição 4 – subsequência: dada uma sequência x ( n ) n∈ ,


uma subsequência de x é a restrição da função x a um subconjunto
infinito  ' = {n1 < n2 < ... < nk < ...} de  . Escrevemos x' = ( xn ) n∈ '
ou ( xn1 , xn2 ,..., xnk ,...) ou ( xnk ) k∈ para indicar a subsequência
x' = x ' . A notação ( xnk ) k∈ mostra como uma subsequência
pode ser considerada como uma sequência, isto é, uma função
cujo domínio é  (ELON, 1989, 23).
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 99

Lembre-se da Unidade 1, em que você viu que  ' ⊂ 


é infinito se, e somente se, é ilimitado, isto é, para todo n0 ∈ 
existe nk ∈  ' com nk > n0 .
Definição 5 – limite de uma sequência: dizemos que o
número real L é limite da sequência ( xn ) quando para todo número
real ε > 0 , dado de maneira arbitrária, podemos obter um número
n0 ∈  tal que todos os termos xn com índice n > n0 cumprem a
condição | xn − L |< ε . Nesse caso, escreveremos L = lim xn para
representar tal fato (ELON, 1989, p. 23).
A definição mencionada pode ser interpretada da seguinte
forma: para valores muito grandes de n , os termos xn tornam-
se e se mantêm tão próximos de L quanto se deseje. Mais
precisamente, estipulando-se uma margem de erro ε > 0 , existe
um índice n0 ∈  tal que todos os termos xn da sequência com
índice n > n0 são valores aproximados de L com erro menor do
que ε .
Em símbolos matemáticos, escrevemos:
=L lim xn ≡ ∀ε > 0, ∃ n0 ∈ ; n ≥ n0 ⇒ | xn − L |< ε
Ressaltamos que o símbolo (≡) nos diz que o que vem
depois é a definição do que vem antes. O símbolo ∀ significa
“para todo” ou “qualquer que seja”, sendo definido na Lógica
Matemática como o quantificador universal, enquanto que o
símbolo ∃ significa “existe” e é conhecido como quantificador
existencial. Além disso, lembremos que a desigualdade | xn − L |< ε
é equivalente a L − ε < xn < L + ε , isto é, xn pertence ao intervalo
aberto ( L − ε , L + ε ) . Ou ainda, podemos visualizar que L = lim xn
significa afirmar que qualquer intervalo aberto de centro L contém
todos os termos xn da sequência, salvo para um número finito de
índices n (a saber, os índices n ≤ n0 onde n0 são escolhidos em
função do raio ε do intervalo dado).

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100 © Análise Matemática

Vale ressaltar que, de forma sugestiva, uma sequência ( xn )


é convergente à medida que o índice n cresce, pois o elemento
xn vai-se tornando arbitrariamente próximo do número L , que
representa o limite da sequência em questão.
Definição 6 – sequência convergente: quando uma
sequência ( xn ) possui limite, dizemos que esta é convergente.
Caso contrário, ela é dita divergente (Figura 1) (ELON, 1989, p. 24).

Figura 1 Sequências convergentes e divergentes.

Exemplo (limite de uma sequência): consideremos a


n
sequência numérica ( xn ) = . Vamos mostrar que o limite
2.n + 1
1
dessa sequência é igual a .
2
Prova: neste caso, devemos mostrar que a sequência
1
é convergente e que, em verdade, converge para L = . Ou
2
 n  1
seja, queremos provar que lim   = . De acordo com a
n →∞ 2.n + 1
  2
definição formal colocada anteriormente, necessitamos mostrar
que para todo ε > 0, ∃ n0 ∈  , tal que se n for inteiro e se
n 1
n > n0 ⇒ | − |< ε .
2.n + 1 2
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 101

n 1
Assim, temos que: se n > n0 , então | − |< ε ⇔
2.n + 1 2
2.n − 2.n − 1
se n > n0 , então | | <ε ⇔ se n > n0 então
2.(2.n + 1)
1 1
< ε ⇔ se n > n0 , então 2n + 1 > ⇔ se n > n0 , então
2.(2.n + 1) 2ε
1 − 2ε .
n>

1 − 2ε
Para que a afirmação anterior seja válida, toma-se n0 =
e se n for um inteiro: 4ε
1 − 2ε n 1
(I) se n > então | − |< ε
4ε 2.n + 1 2
1 3
Note que no caso em que ε = , então n0 = e (I) torna-se:
8 2
3 n 1 1
se n > então | − |<
2 2.n + 1 2 8
Por exemplo, se n = 4 ,
n 1 4 1 1
| − | =| − | =
2.n + 1 2 9 2 18
1 1
e < . O que acabamos de estabelecer em (I) mostra
18 8
1
que a sequência em questão converge para o valor , ou seja,
2
 n  1
lim   = . C. q. d.
n →∞ 2.n + 1
  2
Exemplo (limite de uma sequência): a sequência
1 1 1
( xn ) = 1, , ,..., ,... é convergente ou divergente? Justifique.
2 3 n
1 1 1
Prova: sim, a sequência ( xn ) = 1, , ,..., ,... é convergente,
2 3 n
e temos que o seu limite é 0, ou seja, lim xn = 0 . De fato, dado
n∈ 

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102 © Análise Matemática

1
ε > 0 , tomaremos um n0 > . Então, para todo n > n0 , teremos
ε
1 1 1
n > , o que implica < ε , ou seja, | − 0 | < ε . C. q. d.
ε n n
Exemplo (limite de uma sequência): determine se a
 4.n 2 
sequência numérica ( xn ) =  2  é convergente ou divergente,
 2.n + 1 
justificando a sua resposta.
 4.n 2 
Prova: em verdade, queremos determinar se lim  2 
n →∞ 2.n + 1
 
2
4.x
existe. Para tal, vamos considerar a função f ( x) = e
2.x 2 + 1
estudar o limite lim f ( x) . Notemos que:
x →∞

 4.x 2   
 4.x  2  2   4 
lim x
=  lim =  lim
=   2
 x→∞  2.x + 1  x→∞  2 + 1 
x →∞ 2.x 2 + 1 2

 2   x2 
 x x2 

 4.n 2 
Dessa forma, lim  2  e é igual a 2 , ou seja,
n →∞ 2.n + 1
 
 4.n 2 
lim  2  = 2 . Em outras palavras, concluímos que a sequência
n →∞ 2.n + 1
 
em questão é convergente e que converge para 2 . C. q. d.
Vejamos agora uma série de resultados fundamentais para a
continuidade dos nossos propósitos sobre a teoria das sucessões
numéricas.
Teorema 1 – Unicidade do Limite de uma Sequência: uma
sequência não pode convergir para dois limites distintos, ou seja,
o limite de uma sequência, se existir, é único. (ELON, 1989, p. 24).
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 103

Prova: consideremos lim xn = L1 e suponhamos por absur-


do que dado L2 ≠ L1 temos lim x L , ou seja, estamos supon-
do que a sequência em questão converge para dois limites dife-
rentes. Daí, podemos tomar ε > 0 tal que os intervalos abertos
I =( L1 − ε , L1 + ε ) e J =( L2 − ε , L2 + ε ) sejam disjuntos. Pela de-
finição de limite de uma sequência, existe um índice n0 ∈  tal
que n > n0 implica xn ∈ I . Então, para todo n > n0 , temos xn ∉ J ,
o que contradiz o fato de lim xn = L2 . Portanto, uma sequência,
quando é convergente, converge para um único limite. C. q. d.
Teorema 2 – Limite de uma Subsequência de uma Sequência
Convergente: se lim xn = L então toda subsequência de ( xn )
converge para o limite L (ELON, 1989, p. 24).
Prova: consideremos ( xn1 , xn2 ,..., xnk ,...) uma subsequência
qualquer de ( xn ) . Assim, dado qualquer intervalo aberto I de
centro L , existe n0 ∈  tal que todos os termos xn com n > n0
pertencem ao intervalo I . Em particular, todos os termos xnk com
xnk > n0 também pertencem a I . Logo lim xn = L . C. q. d.
k

Teorema 3 – Limite de uma Sequência: toda sequência ( xn )


convergente é limitada (ELON, 1989, p. 24).
Prova: consideremos ( xn ) uma sequência convergente,
ou seja, lim xn = L . Tomando ε = 1 , vemos que existe um índice
n0 ∈  tal que n > n0 ⇒ xn ∈ ( L − 1, L + 1) . Sejam b o menor e c o
maior elemento do conjunto finito {x1 , x2 ,..., xn0 , a − 1, a + 1} . Dessa
forma, percebemos que todos os termos xn da sequência estão
contidos no intervalo [b, c] , logo a sequência ( xn ) é limitada.
C.q.d.

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104 © Análise Matemática

Exemplo: será que a recíproca do Teorema 3 é verdadeira,


ou seja, uma sequência limitada ( xn ) é convergente? A resposta
para a essa indagação é não, pois a sequência ( xn ) = (2, 0, 2, 0,...) ,
n +1
cujo n-ésimo termo é xn = 1 + (−1) , é limitada; porém, não é con-
vergente, já que possui duas subsequências constantes, ( x2 n −1 ) = 2
e ( x2 n ) = 0 , com limites diferentes.
Exemplo (limite de uma sequência): a sequência
( xn ) = (1, 2,3,...) , com xn = n , não é convergente, já que ela não
é limitada.
Exemplo (limite de uma sequência): determine se a sequên-
π
cia ( xn ) = (n .sen( )) é convergente ou divergente, justificando a
n
sua resposta.
π
Prova: queremos determinar se o limite lim n.sen( ) existe.
n →+∞ n
π 
Para tal, vamos considerar inicialmente a função f ( x) = x.sen  
x
e estudar o lim f ( x) . Uma vez que f ( x) pode ser escrita na
x →+∞

 
sen  
forma   (O que fizemos aqui?) e lim sen( π ) = 0 , bem
  x →+∞ x
 
 
1
como xlim = 0 , a Regra de L’ Hopital, que é uma ferramenta para
→+∞ x

contornarmos indeterminações, ou seja, aqui derivamos a função


do numerador e a função do denominador, pode ser aplicada para
obtermos:
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 105

−π π
.cos( )
x 2
x π
=lim f ( x) lim= lim
= π .cos( ) π
x →+∞ x →+∞ −1 x →+∞ x
2
x
Logo, lim xn = π , se n for inteiro positivo. Dessa forma, con-
n →+∞
π
cluímos que a sequência dada é convergente e nlim n.sen( ) = π .
→+∞ n
C. q. d.
Exemplo (limite de uma sequência): é imediato que a se-
quência ( xn ) = (1, 2,1, 4,...) não pode convergir. Por quê?
Prova: essa sequência não é convergente, pois possui duas
subsequências que convergem para valores distintos.
Exemplo (limite de uma sequência): a sequência
( xn ) = (2, 2, 2, 2,...) obviamente é convergente e converge para o
limite L = 2 . C. q. d.
Exemplo (limite de uma sequência): a sucessão
1 1 1
( xn ) = (1,3, ,3, ,3, ,3,...) não converge, visto que, novamente,
2 3 4
temos duas subsequências distintas de ( xn ) que convergem para
valores diferentes. C. q. d.
Exemplo (limite de uma sequência): determinar se a sequên-
cia ( xn ) =((−1) n + 1) é convergente ou divergente (ELON, 1989, p.
24).
Prova: os elementos dessa sequência são
n
0, 2, 0, 2,..., (−1) + 1,.... Como xn = 0 se n for ímpar e xn = 2
se n for par, parece que a sequência é divergente. Para provar-
mos isso, vamos supor por absurdo que a sequência é convergente
e chegarmos a um absurdo. Para tal, consideremos lim xn = L ,
n →+∞
logo, pela definição de limite, para todo ε > 0 existe um número
n0 > 0 tal que se n for inteiro e se n > n0 , então | xn − L |< ε .

Claretiano - Centro Universitário


106 © Análise Matemática

1
Em particular, par ε = , existe um número n0 > 0 tal que
2
1
se n for inteiro e se n > n0 então | xn − L |< ⇔ n > n0 , então
2
1 1
− < xn − L < .
2 2
Como xn = 0 para n ímpar e xn = 2 para n par, decorre
dessa afirmação que:
1 1
1 1
− <L< < 2−L <
e −
2 2
2 2
1 3
Mas se − L > − , então 2 − L > e, assim, 2 − L não pode
2 2
1
se menor do que . Logo, existe um absurdo e a sequência dada
2
realmente é divergente. C. q. d.
Você pode encontrar maiores detalhes sobre os aspectos
introdutórios das sequências numéricas e primeiras propriedades
em Ávila (2006, p. 72-80), bem como em Leithold (1994, p. 688-
710).

2.3. SEQUÊNCIAS MONÓTONAS: O QUE É ISSO?

Vimos que toda sequência convergente é limitada, mas que


nem toda sequência limitada é convergente, como também exem-
plificamos com simples exemplos. Dessa forma, nesta seção, es-
taremos interessados em estudar uma classe importante das se-
quências limitadas, que são as chamadas sequências monótonas,
as quais também são convergentes.
Definição 7 – sequência monótona: uma sequência ( xn ) é
dita monótona quando se tem xn ≤ xn +1 para todo n ∈  ou, então,
xn +1 ≤ xn para todo n . No primeiro caso, dizemos que a sequência
( xn ) é monótona não decrescente e, no segundo, que ( xn ) é mo-
nótona não crescente. Se, mais precisamente, tivermos xn < xn +1
(respectivamente xn > xn +1 ) para todo n ∈  , diremos que a se-
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 107

quência é crescente (respectivamente decrescente) (ELON, 1989,


p. 25).
Inicialmente, ressaltamos que toda sequência monótona
não decrescente (respectivamente não crescente) é limitada in-
feriormente (respectivamente superiormente) pelo seu primeiro
termo. Observe a Figura 2.

Figura 2 Sequências monótonas.

O próximo teorema que apresentaremos nos dá uma con-


dição suficiente para que uma sequência monótona seja conver-
gente. A título de informação, tal resultado foi tentando ser de-
monstrado pelo matemático R. Dedekind, que ao preparar suas
aulas percebeu a necessidade de uma conceituação mais precisa e
específica sobre número real.
Teorema 4 – Limite de uma Sequência: toda sequência ( xn )
monótona limitada é convergente (ELON, 1989, p. 25).
Prova: consideremos ( xn ) uma sequência monótona, assim,
sem perda de generalidade, vamos falar que ( xn ) é não decrescente
e limitada. Vamos escrever X = {x1 , x2 ,..., xk ,...} e L = sup X . Afir-
mamos que L = lim xn . De fato, dado ε > 0 , o número L − ε não
é cota superior de X. Logo, existe n0 ∈  tal que L − ε < xn0 ≤ L .
Assim, n > n0 ⇒ L − ε < xn0 ≤ xn < L + ε e daí L = lim xn . C. q. d.

Claretiano - Centro Universitário


108 © Análise Matemática

Teorema 5 – Teorema de Bolzano-Weierstrass: toda sequên-


cia limitada de números reais possui uma subsequência conver-
gente (ELON, 1989, p. 25).
Prova: com efeito, basta mostrarmos que toda sequência ( xn )
possui uma subsequência monótona. Digamos que um termo xn
da sequência dada é destacado quando xn ≥ x p para todo p > n .
Seja D ⊂  o conjunto dos índices n tais que xn é um termo des-
tacado. Se D for um conjunto infinito, D = {n1 < n2 < ... < nk < ...} ,
então a subsequência ( xn ) n ∈ D será monótona não crescen-
te. Se, entretanto, D for finito, seja n1 ∈  maior do que todos
os n ∈ D , então xn não é destacado, logo existe n2 > n1 com
xn1 < xn2 . Por sua vez, xn2 não é destacado, logo existe n3 > n2 com
xn1 < xn2 < xn3 . Prosseguindo, obtemos uma sequência crescente
xn1 < xn2 < xn3 < ... < xnk < ... C. q. d.
Exemplo (sequência monótona): a sequência cujo n-ésimo
1
termo é ( xn ) = ( ) é monótona decrescente e, é claro, limitada.
n
1 1
Temos então que lim= inf{ ; n ∈= } 0 , como já visto
n n
anteriormente.
Exemplo (sequência monótona): seja 0 < a < 1 . A sequência
(a, a 2 ,..., a n ,...) , formada pelas potências sucessivas de a , é
decrescente, limitada, pois multiplicando 0 < a < 1 por a n temos
n
que 0 < a n +1 < a n . Dessa forma, afirmamos que lim a = 0 .
n →∞

1
Prova: de fato, dado ε > 0 , como
> 1 (já que 0 < a < 1 ),
a
seguindo o exemplo 1, em que, dado arbitrariamente ε > 0 , existe
n
1 1
0

n0 ∈  tal que   > , ou seja, a 0 < ε . Logo, temos que


n

a ε
n n
lim=a inf{a ; n ∈=
} 0 . C. q. d.
n →∞
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 109

Para maiores detalhes sobre as sequências monótonas e


resultados associados, você pode consultar a obra de Ávila (2006,
p. 85-93), bem como em Leithold (1994, p. 695-717).

2.4. LIMITES E OPERAÇÕES

Teorema 6 – Teorema do Sanduíche: se lim


= xn lim
= yn L e
n
xn ≤ zn ≤ yn para todo suficientemente grande, então lim zn = L
(ELON, 1989, p. 27).
Prova: dado ε >0,
arbitrariamente exis-
tem n1 , n 2 ∈  tais que n > n1 ⇒ L − ε < xn < L + ε e
n > n2 ⇒ L − ε < yn < L + ε . Consideremos n0 max{n1 , n2 } . En-
tão n > n ⇒ L − ε < xn ≤ zn ≤ yn < L + ε ⇒ zn ∈ ( L − ε , L + ε ) , ou
seja, que lim zn = L . C. q. d.

Teorema 7: se lim xn = 0 e (y n ) é uma sequência limitada


(convergente ou não) então lim( xn . yn ) = 0 . (ELON, 1989, p. 27).

Prova: inicialmente, devemos notar que, por hipóte-


se, existe c > 0 tal que | y n | ≤ c para todo n ∈  , já que a se-
quência (y n ) é uma sequência limitada. Além disso, como a
sequência ( xn ) converge para zero, temos que dado arbitra­
ε
riamente ε > 0 , existe n0 ∈  tal que n > n0 ⇒ | x n | < . Logo,
c
ε
n > n0 ⇒ | x = n . yn | | x n | . | yn | <
= .c ε , e então, lim( xn . yn ) = 0 . C.
c
q. d.
1
Exemplo (sequência): se xn = e yn = sen(n) en-
n
tão (y n ) não converge, porém, como −1 ≤ yn ≤ 1 , temos que
sen(n)
lim(
= xn . yn ) lim= 0 . Por outro lado, se lim xn = 0 , mas yn
n
não é limitada, o produto xn . yn pode divergir (por exemplo, se

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110 © Análise Matemática

1
xn
considerarmos= =, y n n 2 ) ou convergir para um valor qual-
n 1
quer (por exemplo, se considerarmos = xn = e y n c.n ).
n
Teorema 7 – Regras Operatórias: Se lim xn = L1 e lim y n = L2 ,
então:

1) lim( xn ± yn ) =L1 ± L2

2) lim( xn . yn ) = L1.L2

3) = x L1
lim( n ) , se L2 ≠ 0
yn L2
A prova desse resultado pode ser vista em Elon (1989, p. 27).

Exemplo (uma das constantes mais importantes dentro da


Matemática – a constante de Euler e ): a sequência cujo termo
1 1 1
geral é an = 1 + 1 + + + ... + é evidentemente crescente.
2! 3! n!
1 1 1
Ela também é limitada, já que 2 < an < 1 + 1 + + 2 + ... + n ≤ 3 .
2 2 2
Escreveremos e = lim an . O número e é uma das constantes mais
n →∞
importantes da Análise Matemática e, principalmente, da Mate-
mática, ao lado do número π . Como vimos, temos que 2 < e ≤ 3 .
Na realidade, e = 2, 7182 , com quatro decimais exatas. Atualmen-
te, conhece-se o seu valor com mais de 1 milhão de casas decimais
com precisão. C. q. d.
Definição 7 – limite infinito: dada uma sequência ( xn ) ,
dizemos que “o limite de xn é mais infinito” e escrevemos
lim xn = + ∞ , para significar que, dado arbitrariamente A > 0 ,
n →∞

existe n0 ∈  tal que n > n0 implica xn > A (ELON, 1989, p. 31).


Teorema 8 – Regras Operatórias: temos as seguintes afirma-
ções com relação aos limites infinitos:
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 111

1) Se lim xn = + ∞ e (y n ) é limitada inferiormente, então


n →∞

lim( xn + yn ) = + ∞ .
n →∞

2) Se lim xn = + ∞ e existe c > 0 tal que yn > c para todo


n →∞

n ∈  , então lim( xn . yn ) = + ∞ .
n →∞

3) Se xn > c > 0 , yn > 0 para todo n ∈  e lim yn = 0 , en-


n →∞
xn
tão lim( ) = + ∞ .
n →∞ y
n
x
4) Se ( xn ) é limitada e lim yn = + ∞ , então lim( n ) = 0 .
n →∞ n →∞ y
n

A prova desse resultado pode ser vista em Elon (1989, p. 31).


Para conhecer maiores detalhes sobre operações envolven-
do limites de sequências infinitas e outros exemplos resolvidos,
você pode consultar a obra de Ávila (2006, p. 73-84).

2.5. SÉRIES NUMÉRICAS – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Vamos iniciar nosso estudo sobre séries numéricas com


exemplos bastante simples, envolvendo as progressões geométri-
cas. Essas séries surgem muito cedo, ainda no Ensino Fundamen-
tal, quando lidamos com as chamadas dízimas periódicas. Com
efeito, uma dízima como 0,7777... nada mais é do que uma pro-
gressão geométrica infinita. Note que podemos escrever a dízima
anterior da seguinte forma:
1 1 1  1 1 1 
0,7777...= 7.(0,1111...)= 7.  + +  7.  + 2 + 3 + ...  =
+ ...=
 10 100 1000   10 10 10 
 
 1   10  7
7.  − 1=
 7.  − 1=
 1− 1  9  9
 10 

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112 © Análise Matemática

Porém, no Ensino Fundamental, quando se ensinam essas


dízimas, não é necessário recorrer às séries infinitas, já que se uti-
lizou o seguinte raciocínio:
7
x = 0, 777... ⇒ 10.x = 7, 777... = 7 + x ⇒ 9 x = 7 ⇒ x =
9
As séries numéricas surgem diretamente do processo de li-
mite de uma sequência, a partir do momento em que queremos
identificar funções a partir de "somas infinitas", constituindo um
dos pontos-chave desta unidade (Figura 3).
Associamos à sequência numérica
a1 , a2 ,...an ,...
uma “soma infinita” denotada por
a1 + a2 + ... + an + ...

Figura 3 Definimos séries a partir de sequências.

Então você pode estar se perguntando: “Qual o significado


de tal expressão? O que isso representa? Isto é, o que queremos
denotar com a "soma" de um número infinito de termos e quais
circunstâncias essa soma existe?” Dessa maneira, o nosso objetivo
agora é o de definir, interpretar e aplicar toda a teoria envolvendo
as séries numéricas.
Uma série é uma soma a1 + a2 + ... + an + ... com um número
infinito de parcelas. Para que isso faça sentido, vamos colocar
= s lim n→∞ (a1 + a2 + ... + an ) .
Como todo limite, este pode existir ou não. Por isso, nós te-
mos séries convergentes e séries divergentes. Ter em mente essa
diferença entre séries convergentes e divergentes é importante, já
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 113

que identificamos somas que convergem para um número finito


ou não.

2.6. SÉRIES CONVERGENTES

Dada uma sequência (an ) de números reais, a partir dela


formamos uma nova sequência ( sn ) onde:
s1 = a1 ,
s=
1 a1 + a2 ,
.............
s1 = a1 + a2 + ... + an , etc.

Os números sn são denominados reduzidas ou somas par-


ciais da série ∑ an . A parcela an é o n-ésimo termo ou termo
geral da série.

Definição 8 – séries convergentes e séries divergentes: caso


exista o limite s = lim n→∞ sn , diremos que a série ∑a n é conver-

s
gente e = ∑ a=n ∑ a=
n =1
n a1 + a2 + ... + an + ... será chamado a

soma da série. Se lim n→∞ sn não existir, diremos que ∑a n é uma


série divergente.
Salientamos que em alguns casos é mais interessante con-

siderar séries do tipo ∑a


n =0
n que começam em a0 ao invés de a1 .
Vejamos alguns exemplos introdutórios envolvendo as séries
numéricas.
Exemplo (séries numéricas): consideremos a sequência {un }
1 1 1 1 1 1 1
onde: un = n −1 :1, , , , , ,..., n −1 ,... A partir dela, vamos
2 2 4 8 16 32 2
formar uma sequência de somas parciais:

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114 © Análise Matemática

s1 = 1
1 3
s2 =1 + =
2 2
1 1 7
s3 =1 + + =
2 4 4
1 1 1 15
s4 =1 + + + =
2 4 8 8
1 1 1 1 31
s5 =1 + + + + =
2 4 8 16 16
1 1 1 1 1
sn =1 + + + + + ... + n −1
2 4 8 16 2
Essa sequência de somas parciais {sn } é a série infinita
denotada por:
+∞
1 1 1 1 1 1
∑2
i =1
n −1
=1 + + + + + ... + n −1 + ...
2 4 8 16 2

Vale mencionar que, quando {sn } é uma sequência de


somas parciais, sn −1 = u1 + u2 + u3 + ... + un −1 . Dessa forma, podemos
escrever a seguinte relação:
=sn sn −1 + un

Exemplo (séries numéricas): dada à série infinita


+∞ +∞
1
∑ un = ∑
=i 1 =i 1 n.( n + 1)
. Pede-se que:
a) Determine os quatro primeiros elementos da sequência
de somas parciais.
b) Determine a fórmula para sn em termos de n .
Prova: Neste caso, temos que:
a) Como = sn sn −1 + un (observação anterior), segue que:
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 115

1 1 1 1 2
s=
1 u=
1 = s2 =s1 + u2 = + =
1.2 2 2 2.3 3

2 1 3 3 1 4
s3 =s2 + u3 = + = s4 =s3 + u4 = + =
3 3.4 4 4 4.5 5

1
b) Como uk = , temos, por frações parciais,
k .(k + 1)
1 1
uk = − .
k k +1
Logo, podemos escrever:
1 1 1 1
u1 = − =1 − =
1 1+1 2 2
1 1
u2= −
2 3
1 1 1 1
u3= un −1
−= −
3 4 n −1 n
1 1
un = −
n n +1
Assim, como sn = u1 + u 2 + u 3 + ... + u n −1 + u n ,
 1 1 1 1 1  1 1 1 1 
sn =1 −  +  −  +  −  + ... +  − + − 
 2  2 3 3 4  n −1 n   n n +1 
Eliminando os parênteses e combinando os termos, obtemos:
1 n
sn =1 − =
n +1 n +1
Tomando n igual a 1, 2, 3 e 4, vemos que os resultados estão
de acordo. C. q. d.
Exemplo (séries numéricas): vimos, anteriormente, na
parte sobre sequências que, quando | a | < 1 , a série geométrica
1
1 + a + a 2 + ... + a n + ... é convergente, com soma igual a ,ea
1− a
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116 © Análise Matemática

1 1 1
série 1 + 1 + + + ... + + ... também é convergente, com soma
2! 3! n!
igual a constante de Euler e = 2,7174.... C. q. d.

Exemplo (séries numéricas): a série 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + ... , de


n+1
termo geral igual a (−1) , é divergente, pois a soma parcial sn é
igual a zero quando n é par e igual a 1, quando n é ímpar.
Portanto não existe o limite de sn , isto é, lim sn não existe.
C. q. d.
Exemplo (séries numéricas – a série harmônica):
Denominamos de série harmônica a série
1 1 1 1
∑ n =1 + 2 + 3 + ... + n + ... Pelo modo como seu termo
geral tende a zero, quem encontra essa série pela primeira vez é
inclinado a pensar que ela converge. Foi Nicole Oresme, um ma-
temático do século 14, quem primeiro provou que ela é uma série
divergente. Oresme começou por agrupar os termos da série da
seguinte forma:

1 1 1 1 1 1 1
s =1 + + + + + + + +
2 3 4 5 6 7 8
1 1 1 1  1 1 1 1 
 + + + ... +  +  + + + ... +  + ...
 9 10 11 16   17 18 19 32 
Em seguida ele observou que cada um desses grupos é maior do
1
que :
2
1 1 1 1 1
 + > + =
3 4 4 4 2
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
 + + +  >  + + + = 4. =
5 6 7 8 8 8 8 8 8 2
1 1 1 1  1 1 1 1 1 1
 + + + ... +  >  + + + ... + = 8. =
 9 10 11 16   16 16 16 16  16 2
 1 1 1 1   1 1 1 1  1 1
 + + + ... +  >  + + + ... + =  16. =
 17 18 19 32   32 32 32 32  32 2
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 117

E assim por diante, de sorte que:


1 1 1 1 1 1 1 1 1
s > 1+ + 2. + 4. + 8. + 16. + ... =1 + + + + + ...
2 4 8 16 32 2 2 2 2
(ELON, 1989, p. 38)

Como essa última soma é infinita, é claro que a série harmô-


nica é divergente. C. q. d.
Teorema 9 – A Série Harmônica é Divergente: vamos pro-
var de maneira formal que a série harmônica é divergente (ELON,
1989, p. 38).
Prova: para tal, vamos fazer a prova por Redução ao Absurdo,
1
assim, suponhamos por absurdo que se ∑ n fosse convergente e
1
1 1 ∑ =u
que ∑ n = s , então ∑ 2n = t =te 2n − 1 também seriam
convergentes. Além disso, como s2 n= tn + un −1 , fazendo n → ∞ ,
1 1 1 s
teríamos s = t + u . Mas = t ∑= ( )= ∑ , portanto,
2n 2 n 2
s
u= t = . Por outro lado, temos que:
2
 1   1 1   1 1 
u −=
t lim(un − t=
n) lim 1 −  +  −  +  +  − =
n →∞ n →∞
 2   3 4   2 n − 1 2 n  
 1 1 1 1 
lim  + + + + >0
n →∞ 1.2
 3.4 5.6 (2n − 1).2n 

Logo u > t (absurdo). Portanto, a série harmônica é


divergente. C. q. d.
Agora, vejamos alguns resultados que em verdade são
critérios para caracterizarmos a convergência ou divergência de
determinadas séries infinitas. Não será de nosso interesse a prova
de todos os resultados seguintes.
Teorema 10 – Critério da Comparação: consideremos ∑ an
e ∑ bn séries de termos não negativos. Se existem c > 0 e n ∈  0

Claretiano - Centro Universitário


118 © Análise Matemática

tais que an ≤ c.bn para todo n > n0 , então a convergência de ∑a n

implica na convergência de ∑ bn . Por outro lado, a divergência de


∑ an implica na divergência de ∑ bn (ELON, 1989, p. 38).
Prova: as reduzidas sn e tn , de ∑a
n e ∑b
n , respectiva-
mente, formam sequências não decrescentes tais que sn ≤ c.t n
para todo n > n0 . Como c > 0 , (t n ) limitada implica (s n ) limitada,
s
e (s n ) ilimitada implica (t n ) ilimitada, pois t n ≤ n . C. q. d.
c
Vejamos um exemplo de aplicação do teorema anterior.
1
Exemplo (critério da comparação): se r > 1 , a série ∑ n r
n
 2 ∞

converge. Com efeito, seja c a soma da série geométrica ∑  2r  .


n =0  

 1 
Vamos mostrar que toda reduzida sm da série é tal que ∑  n r  < c .
n =0  
Seja n tal que m ≤ 2n − 1 . Então:

1 1 1 1 1 1  1 1 
sm ≤ 1 +  r + r  +  r + r + r + r  +  +  n−1 r +  + n r 
2 3  4 5 6 7   (2 ) (2 − 1) 

Ou seja,
i
2 4 2n −1 n −1
 2
sm < 1 + +
2r 4r
+  + =
2( n −1) r
∑  r  <c
i =0  2 

Como a série harmônica diverge, resulta do Critério de Com-


1
paração (Teorema 1), em que ∑ n r diverge quando r < 1 , pois,
1 1
nesse caso, r > . C. q. d.
n n
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 119

Teorema 11: o termo geral de uma série convergente tem


limite igual a zero (ELON, 1989, p. 39).

Prova: se a série ∑a n é convergente, então pode-


mos escrever sn = a1 + a2 + ... + an ; existe s = lim n→∞ sn . Con-
sideremos a sequência (t n ) , com t1 = 0 e tn = sn −1 quando
n > 1 . Evidentemente, lim n→∞ tn = s e sn − tn =
an . Portanto,
lim an = lim( sn − tn ) = lim sn − lim tn = s − s = 0 . C. q. d.
É importante que você saiba que o critério contido no Teo-
rema 2 constitui a primeira coisa a verificar quando se quer saber
se uma determinada série é ou não convergente. Se o termo geral
não tende a zero, a série diverge. Devemos salientar que a série
harmônica mostra que a condição lim an = 0 não é suficiente para
a convergência de ∑ an .
Teorema 12: Seja c uma constante não nula. Então:
i) Se a série ∑ an for convergente e a sua soma for S,

então a série ∑ c.an também será convergente e sua


soma será c.S .

ii) Se a série ∑ an for divergente, então a série ∑ c.a n


também será divergente (LEITHOLD, 1994, p. 712).

Vejamos um exemplo de aplicação do Teorema 12 anterior.


Exemplo (aplicação do Teorema 12): determine se a série
1
∑ 4.n é convergente ou divergente.

1 1 1
Solução: notemos que ∑ = + ... + + ... . Como a
4.n 4 4.n
1
série harmônica ∑ n é divergente, então, pelo Teorema 03 (ii)
1
com c = , a série dada é divergente. C. q. d.
4

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120 © Análise Matemática

Teorema 13: se ∑ an e ∑ bn são séries infinitas convergentes


com somas S e R, respectivamente, então:
i) ∑ (a + b ) é uma série convergente e sua soma é S + R .
n n

ii) ∑ ( a − b ) é uma série convergente e sua soma é S − R


n n

(LEITHOLD, 1994, p. 712)

∑ a for convergente e a série ∑ b


Teorema 14: se a série n n

for divergente, então a série ∑ (a + b ) será divergente (LEI-


n n
THOLD, 1994, p. 713).
Exemplo (aplicação Teorema 14): determine se a série
 1 1 
∑  4.n + 4n  converge ou diverge.
1
Prova: no último exemplo, mostramos que a série ∑
1 4.n
é divergente. Como a série ∑ n é uma série geométrica com
4
1
| r =| < 1 , ela é convergente. Dessa forma, pelo Teorema 5 con-
4
cluímos que a série dada é divergente. C. q. d.
Teorema 15: se ∑ an e ∑ bn são duas séries infinitas que
diferem somente pelos seus n primeiros termos (isto é, ak = bk se
k < m ), então ambas convergem ou ambas divergem (LEITHOLD,
1994, p. 710).
Exemplo (aplicação Teorema 15): determine se a série
1
infinita ∑ é convergente ou divergente.
n+4
Prova: inicialmente, notemos que a série dada é:
1 1 1 1
+ + + ... + + ...
5 6 7 n+4
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 121

Que pode ser escrita como


1 1 1 1
0 + 0 + 0 + 0 + + + + ... + + ... (1)
5 6 7 n
Mas, como vimos anteriormente que a série harmônica é di-
vergente, e
1 1 1 1 1 1 1
1 + + + + + + + ... + + ...
2 3 4 5 6 7 n
A série (1) difere da série harmônica somente nos quatro pri-
meiros termos. Logo, pelo Teorema 6, concluímos que a série dada
também é divergente. C. q. d.
Para maiores detalhes sobre os aspectos introdutórios das
séries numéricas e resultados associados, é interessante que você
leia Ávila (2006, p. 106-124), bem como Leithold (1994, p. 714-
727).

2.7. SÉRIES ABSOLUTAMENTE CONVERGENTES

Agora é de nosso interesse definir e trabalhar com os prin-


cipais resultados envolvendo o contexto de séries absolutamente
convergentes, que também é uma importante classe das séries nu-
méricas.
Definição 9 – série absolutamente convergente: uma série
∑ an é denominada absolutamente convergente quando ∑ | an |
converge (ELON, 1989, p. 39).
Exemplo (série absolutamente convergente): notemos, sem
dificuldades, que uma série convergente cujos termos não mudam
de sinal é absolutamente convergente. Quando -1 < a < 1, a série

geométrica ∑a
n =0
n
é absolutamente convergente, pois | an | =| a |n ,

com 0 ≤ | a | < 1 (ELON, 1989, p. 39).

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122 © Análise Matemática

Exemplo (série absolutamente convergente): um exemplo


clássico de uma série convergente ∑ an tal que ∑ | an | = + ∞ é
(−1) n +1 1 1 1 1 1
dado por ∑ =1 − + − + − + ... Quando tomamos
n 2 3 4 5 6
a soma dos valores absolutos, obtemos a série harmônica, que di-
verge (ELON, 1989, p. 39).
A convergência da série dada segue do resultado a seguir.
Definição 10 – série condicionalmente convergente: uma
série convergente ∑ an tal que ∑ | an | = + ∞ é denominada con-
dicionalmente convergente (ELON, 1989, p. 40).

Teorema 16: toda série absolutamente convergente é uma


série convergente (ELON, 1989, p. 40).

Prova: consideremos uma série ∑a


e suponhamos que
n

ela seja absolutamente convergente, ou seja, ∑ | an | é conver-


gente. Para cada natural n , definamos os números pn e qn , pon-
do pn = an se an ≥ 0 e pn = 0 se an < 0 ; similarmente, qn = − an
se a ≤ 0 e q = 0 se a > 0 . Os números pn e qn chamam-se,
n n n

respectivamente, parte positiva e parte negativa de an . Então


pn ≥ 0, qn ≥ 0, pn + qn =| an | (em particular, pn ≤ | an | e qn ≤ | an |
) e pn − qn = an . (Note que, para cada n ∈  , pelo menos um dos
números pn , qn é zero).

Pelo Teorema 10 – Critério da Comparação, as séries


∑ p e ∑q
n n são convergentes. Logo, é convergente a série
∑a = ∑(p
n n − qn )= ∑ p −∑q
n n . Dada a série ∑a
n , definimos
os números pn = máx{an , 0} e=
qn máx{− an , 0} , a parte positiva e
a parte negativa de an . Se ∑ a é condicionalmente convergente,
n

devemos ter ∑ p = + ∞ e ∑ q = + ∞ . Com efeito, se apenas


n n
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 123

uma dessas duas séries (digamos, a primeira) convergisse,


teríamos ∑ an = ∑ pn − ∑ qn = s − ∞ = − ∞ . E se ambas, ∑ pn
e ∑ n , convergissem, teríamos ∑ n ∑ n ∑ n
q |a |
= p + q < +∞
,e
∑ n seria absolutamente convergente. C. q. d.
a

Para maiores detalhes sobre as séries numéricas absoluta-


mente convergentes e resultados associados, você pode consultar
a obra de Ávila (2006, p. 124-131), bem como Leithold (1994, p.
727-732).

2.8. CRITÉRIOS DE CONVERGÊNCIA

Conforme podemos perceber, é de fundamental importân-


cia a caracterização da convergência ou divergência das séries
numéricas. Assim, desenvolvemos novos resultados ou métodos
para estudarmos a convergência de séries. Você visualizará outros
testes ou critérios amplamente utilizados na prática e que nos ser-
virão na resolução de exercícios diversos. Esses testes ou critérios
serão dados na forma de resultados, por exemplo: teoremas, co-
rolários etc.
Teorema 17: consideremos ∑ bn uma série absolutamen-
te convergente, com bn ≠ 0 para todo n natural. Se a sequência
 an 
  for limitada (em particular, se for convergente), então a série
 bn 
∑ an será absolutamente convergente (ELON, 1989, p. 41).
Surge como consequência direta do teorema anterior o
seguinte corolário, conhecido como Teste de d’Alembert.

Teorema 18 – Teste de d’Alembert: seja an ≠ 0 para todo


an +1
n ∈  . Se existir uma constante c tal que ≤ c < 1 para todo
an

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124 © Análise Matemática

an +1
n suficientemente grande (em particular, se lim < 1 ), então a
n →∞ a
n
série ∑ an será absolutamente convergente (ELON, 1989, p. 41).
De acordo com Elon (1989, p. 41), notemos que, quando apli-

carmos o Teste de d’Alembert, usualmente, procuramos calcular


an +1 a
lim = L . Se L > 1 , então a série diverge, pois tem n +1 > 1 ,
n →∞ a an
n

donde | an +1 | > | an | para todo n suficientemente grande e daí re-


sulta que o termo geral an não tende para zero. Se L = 1 , o teste
1
é inconclusivo. A série pode convergir, como no caso ∑ 2 ; ou
n
1
divergir, como no caso ∑ .
n
1
Exemplo (séries): seja an = ∑ 2 . Considerando
n − 3.n + 1
1 n 2 − 3n + 1
a série convergente ∑ 2 como lim = 1 (Por quê?),
n n →∞ n2
concluímos que ∑ an é convergente.
Teorema 18 – Teste de Cauchy: quando existe um número
real c tal que n | an | < c < 1 para todo n ∈  suficientemente gran-
de (em particular, quando lim n | an | < 1 ), a série ∑a n é absolu-
tamente convergente (ELON, 1989, p. 42).
| an | ≤ c < 1 , então | an | < c n para todo n
Prova: se n

suficientemente grande. Como a série geométrica ∑ c n


é convergente, segue-se o critério de comparação em que
∑a n
converge absolutamente. No caso particular de existir
lim n | an =| L < 1 , escolheremos c tal que L < c < 1 e teremos
n | an | < c para todo n suficientemente grande (Teorema 5),
recaindo, assim, no caso anterior. C. q. d.
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 125

De acordo com Elon (1989, p. 42), também no teste de


Cauchy, sempre é de nosso interesse calcular lim n | an | = L . Se
L > 1 , a série ∑ an diverge. Com efeito, neste caso, temos que
n| an | > 1 para todo n suficientemente grande, donde concluímos
que | an | > 1 , logo a série ∑ n diverge, pois seu termo geral não
a

tende a zero. Quando L = 1 , a série pode divergir, como no caso


1 1
∑ n ; ou convergir, como ∑ n2 .
Teorema 19 – Teste de Comparação com Limite: considere-
∞ ∞
mos ∑ un e
n =1
∑v
n =1
duas séries de termos positivos. Então:
n
u
I. Se lim n = c > 0 , então ambas as séries convergem, ou
n →∞ v
n
ambas divergem. ∞ ∞
u
II. Se lim n = 0 = 0 e se
n →∞ v
∑ vn converge, então
n =1
∑u
n =1
n
n
converge.
∞ ∞

III. Se lim n = + ∞ e se ∑ vn diverge, então ∑ un diverge


u
n →∞ v n =1 n =1
n
(LEITHOLD, 1994, p. 717).

Para maiores detalhes sobre os critérios de convergências


e mais exemplos ilustrativos, é interessante que você leia Ávila
(2006, p. 114-124), bem como Leithold (1994, p. 732-741).

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione:
Análise Matemática – Vídeos Complementares – Complementar 2.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

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126 © Análise Matemática

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES


Nesta unidade, vimos os aspectos teóricos relacionados às
sequências e séries numéricas, bem como propriedades e resul-
tados associados. Na referência a seguir, temos um vasto material
com mais exemplos ilustrativos envolvendo as sucessões numéri-
cas e séries numéricas.
Segundo os autores, estas lições estão divididas em duas
partes e contêm exposições feitas, em 1999, no IM-UFF e nos cur-
sos de verão de 2001 e 2003 do LNCC-MCT. Além disso, ressaltam
que o objetivo principal da primeira parte é examinar as noções
básicas da análise matemática em uma dimensão, iniciando um
processo construtivo dos números reais segundo Dedekind. Na
sequência, examinam as noções de limite, continuidade, continui-
dade uniforme e derivada, além de trabalharem também com as
sucessões e séries numéricas.
• MEDEIROS, L. A. et al. Lições de Análise Real. Disponível
em: <http://www.im.ufrj.br/~medeiros/LinkedDocu-
ments/AnaliseRealultima13092006.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2014.
Nesta unidade, percebeu-se que uma das séries mais conhe-
cidas é a harmônica, sendo esta uma série divergente e utilizada
como critério para a caracterização da divergência de outras séries
pelo critério da comparação. Dessa forma, nas referências a se-
guir, podemos averiguar mais uma apresentação simples de certas
séries infinitas, especificamente falando sobre algumas particula-
ridades da série harmônica, bem como podemos averiguar mais
uma vez as dízimas peridiócas, que constituem conteúdo trabalha-
do no Ensino Fundamental e Médio.
• PORTAL DO PROFESSOR. Sequências Numéricas e
Aplicações. Disponível em: <http://portaldoprofessor.
mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=1592>. Acesso
em: 19 ago. 2014.
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 127

• BRASIL ESCOLA. Sequência Numérica. Disponível em:


<http://www.brasilescola.com/matematica/sequencia-
-numerica.htm>. Acesso em: 19 agos. 2014.
• Profcardy. Exercícios de sequências. Disponível em:
<http://www.profcardy.com/exercicios/assunto.
php?assunto=Seq%FC%EAncias%20Num%E9ricas>. Aces-
so em: 19 ago. 2014.
• MSCABRAL. Estudos das Séries. Disponível em:
<http://www.mscabral.pro.br/sitemauro/aulas/serie.
htm#algebra>. Acesso em: 19 ago. 2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder às questões propostas a seguir para fixar
com mais propriedade os aspectos teóricos que foram propostos
nesta Unidade 2. É importante que você pratique a utilização das
definições e resultados discutidos anteriormente na realização de
novos problemas simulados, principalmente, quando falamos dos
critérios de convergência de séries numéricas.
1) Considere a sequência numérica ( an ) = (1,3,5,...) , com a
=n 2.n + 1 .
A sequência em questão é convergente ou divergente? Justifique a sua
resposta.
 n 
2) Consideremos a sequência ( xn ) =   , mostre que o limite
 n  1.  4.n + 1 
lim  =
n →∞ 4.n + 1
  4
3) Consideremos a sequência de números reais (x n ) . Mostre que: se
lim xn = k então lim | xn |= | k | .
4) Escreva os quatro primeiros elementos da sequência e determine se ela é
convergente ou divergente:

a)
 ln(n) 
 2 
 n 
 3 − n2 
b)  2 
 n −1 

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128 © Análise Matemática

 n3 + n 2 
c)  2 
 n 

d)
 2n + 2 
 
 4.n + 2 

5) Expresse a dízima periódica 5,232323... como uma fração comum, em ou-


tras palavras, encontre a fração geratriz da dízima na questão 4.

Gabarito
1) Neste caso, temos que a sequência ( an ) = (1,3,5,...) , com a=
n 2.n + 1 ,
não é convergente, já que ela não é uma sequência limitada.

2) Neste caso, temos que:


 n   
 n   n   1  1
lim=  lim=  lim
=  
n →∞ 4.n + 1
  n→∞  4.n + 1  n→∞  4 + 1  4
 n n  n
3) Neste caso, basta notarmos que || xn | − | k || ≤ | xn − k | , detalhadamen-
te, a resolução é descrita como segue:
Por hipótese, temos que lim xn = k , logo, pela definição de sequência con-
vergente, segue que:
∀ε > 0, ∃ n0 ∈ ; n ≥ n0 ⇒ | xn − k |< ε
E queremos provar que
∀ε > 0, ∃ n0 ∈ ; n ≥ n0 ⇒ || xn | − | k || < ε
Mas, como
|| xn | − | k || ≤ | xn − k | ,
E o resultado segue.

4) Neste caso, temos que:


 ln(n)   ln(n)   ln(n) 
a)  2  Temos que: xn =0 ≤ zn = 2  ≤ yn =  para
 n   n   n 
 ln(n) 
todo n suficientemente grande e, como lim   = 0 , segue pelo
 n 
 ln(n) 
Teorema do Sanduíche que lim  2  = 0 .
 n 
© U2 - Sequências e Séries Numéricas 129

 3 − n2  2
b)  2  convergente para −1 , basta dividirmos cada termo por n
 n − 1 
e calcular o limite.

 n3 + n 2  2
c)  2  divergente, basta dividirmos cada termo por n e calcular
 n 
o limite, que será + ∞ .

d)
 2n + 1  convergente para 1 , basta dividirmos cada termo por n e
 
 4.n + 1  2
calcular o limite.
5) Temos que:

23  
2
23 23 1  1 
5, 232323... =
5+ + + ... =
5+ . 1 + +  + ...  =
100 (100) 2
100  100  100   a =1
   r =1/100
1
(1− 0,01)

23  1  23 518
5+ . =5 + =
100  0,99  99 99

5. CONSIDERAÇÕES
A partir do momento em que discutimos os principais con-
ceitos e resultados da teoria sobre as sequências numéricas e
séries numéricas por meio da apresentação das propriedades ca-
racterísticas e resultados fundamentais, como, por exemplo, cri-
térios de convergência, que servem de alicerce para a sequência
dos nossos estudos, na próxima unidade, trabalharemos com as
noções topológicas e limites de funções reais. Em verdade, para
a discussão formal sobre o limite de uma função y = f(x), faz-se
necessária a introdução dos aspectos iniciais da Topologia. Cabe
salientar que já estamos familiarizados a diversos resultados sobre
limites de funções.

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130 © Análise Matemática

6. E-REFERÊNCIAS
BRASIL ESCOLA. Sequências numéricas. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/
matematica/sequencia-numerica.htm>. Acesso em: 10 out. 2013.
INFO ESCOLA. Sequências numéricas. Disponível em: <http://www.infoescola.com/
matematica/sequencias-numericas/>. Acesso em: 10 out. 2013.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.  
______.  Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Edgard
Blucher, 2001.
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
1999. v. 2. Séries.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
EDWARDS, Jr. C. H.; PENNEY, D. E. Cálculo com Geometria Analítica. Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997. v. 1
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1996.
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. Patarra. 3. ed. São
Paulo: Harbra, 1994. v. 2.    
LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: IMPA, 1989. v. 1. (Coleção Matemática
Universitária).
SIMMONS, George F.  Cálculo com geometria analítica.  Tradução de Seiji Hariki. São
Paulo: Makron Books, 1987. v. 2. 
THOMAS, George B. Cálculo. São Paulo: Addison Wesley, 2003. v. 1.
Limites de Funções
3
Objetivos
• Compreender os conceitos introdutórios da Topologia.
• Interpretar e aplicar os conceitos introdutórios da Topologia na descrição e
discussão dos resultados envolvendo limites de funções.
• Compreender e aplicar a noção formal de limite de uma função na resolução
de problemas.
• Compreender e explicar geometricamente a noção formal de limite de uma
função na resolução de problemas.
• Discutir e analisar os principais resultados envolvendo o limite de uma fun-
ção y = f(x).
• Compreender os limites laterais, os limites infinitos e expressões indetermi-
nadas.

Conteúdos
• Conjuntos abertos.
• Conjuntos fechados.
• Ponto de acumulação.
• Conjuntos compactos.
• O conjunto de Cantor.
• Limites de funções: definição formal e propriedades iniciais.
• Operações com limites.
• Limites laterais.
• Limites infinitos e limites no infinito.
• Expressões indeterminadas.
• Exemplos e exercícios resolvidos.
132 © Análise Matemática

Orientações para Estudo da Unidade


A seguir, são apresentadas a você algumas orientações que o auxiliarão no estudo
desta unidade:

1) Observe com cuidado a definição formal de uma função f definida nos re-
ais valores reais. É importante entender inicialmente a noção intuitiva para
depois nos adaptarmos à definição formal. Isso será um facilitador para a
resolução de problemas simulados.

2) Leia mais de uma vez, se necessário, os conceitos introdutórios de Topolo-


gia, pois são essenciais para facilitar a sua compreensão.
© U3 - Limites de Funções 133

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, estaremos interessados em descrever for-
malmente um dos conceitos bastante explorados em Cálculo Di-
ferencial e Integral, que é a noção de limite de uma função real y
= f(x). O conceito de limite de uma função realiza um papel muito
importante em toda a teoria matemática envolvida com o Cálculo
Diferencial e Integral. Há uma cadeia ordenada muito bem estabe-
lecida no Cálculo: conjuntos, funções, limites, continuidade, deri-
vadas e integrais.
Em verdade, num primeiro momento poderíamos pensar
que o limite já nos serve para entendermos o comportamento
geométrico de funções um pouco mais complicadas. Por exemplo,
quando estamos estudando uma determinada situação descrita
por uma função polinomial, não temos tanta dificuldade, já que
funções polinomiais são bem comportadas. Não seria plausível fa-
lar o mesmo se, por exemplo, a função que descreve tal situação
fosse uma função logarítmica, ou seja, o grau de complexidade au-
mentaria.
Você vem se familiarizando com a ideia de função desde o
Ensino Fundamental e Médio. Embora a ideia de função possa ser
identificada em obras do século 14, foi só a partir do século 17 que
ela teve grande desenvolvimento e utilização. Isso porque nessa
época surgiu a Geometria Analítica, e muitos problemas matemáti-
cos puderam ser convenientemente formulados e resolvidos em
termos de variáveis ou incógnitas que podiam ser representadas
em eixos de coordenadas, já que o grau de complexidade desses
problemas aumentou de forma significativa.
Dessa maneira, a noção de limite, que estudamos na Uni-
dade 2, referente ao limite de uma sequência, será agora esten-
dida à situação mais geral, no caso, quando falamos no contexto
de funções, ou seja, onde temos uma função f : X →  , definida
num subconjunto qualquer X ⊂  . Em verdade, estamos interes-

Claretiano - Centro Universitário


134 © Análise Matemática

sados em dar um tratamento mais completo com relação à noção


de limite estudada no Cálculo Diferencial e Integral, bem como
numa discussão mais apurada acerca dos principais resultados.
Historicamente, o conceito de limite de uma função é poste-
rior ao de derivada. Ele surgiu da necessidade de calcular limites
de razões incrementais que definem derivadas, o que estudare-
mos mais à frente.
Salientamos que, quando falamos em um estudo mais for-
mal, será necessário inicialmente introduzirmos alguns conceitos
topológicos, tais como conjuntos abertos, conjuntos fechados e
ponto de acumulação, que são necessários para a construção des-
sa abordagem.

2. COMO DEFINIR O LIMITE DE UMA FUNÇÃO y = f(x) ?


Antes de apresentarmos as noções topológicas importantes
e de definirmos formalmente o conceito de limite, vamos realizar
algumas considerações iniciais pertinentes para um bom enten-
dimento acerca desse assunto; assim, poderíamos citar algumas
informações geométricas introdutórias. Grosso modo, sabemos
que no conjunto dos números reais  podemos sempre escolher
um conjunto de números segundo qualquer regra a priori definida,
como visto na parte de sequências numéricas. Por exemplo, vamos
considerar algumas sequências numéricas a seguir para analisar-
mos o seu comportamento:
1) 1, 2, 3, 4, 5, ...
1 2 3 4
2) , , , ,...
2 3 4 5
3) 1, 0, − 1, − 2, − 3, ...
3 5 7
4) 1, ,3, ,5, ,...
2 4 6
© U3 - Limites de Funções 135

Observemos, sem muita dificuldade, que na sequência


numérica (1) os termos desta vão crescendo cada vez mais sem
obviamente atingir um limite. Dessa maneira, é razoável pensar-
mos que dado um número real qualquer, por maior que este seja,
podemos sempre encontrar na sequência em questão um termo
maior. Para descrevermos tal fato, dizemos, então, que os termos
dessa sequência numérica tendem para o infinito, ou que o limite
da sequência é infinito. Escrevemos tal fato por x → + ∞ .
Já na sequência numérica (2) os termos crescem, porém,
não de forma ilimitada como no primeiro caso. Percebe-se que os
números se aproximam cada vez mais do valor real (1), sem nunca
o atingirem. Assim, neste caso, dizemos que a sequência tende a
1 e escrevemos x → 1 . De modo similar, com relação à terceira
sequência exemplificada, observa-se que esta tende a menos in-
finito, ou seja, escrevemos x → − ∞ . Com relação à sequência (4),
podemos notar que esta oscila sem tender a nenhum valor limite
específico.
É importante, porém, ampliar o conceito de limite apresen-
tado anteriormente com relação às sucessões numéricas citadas
para as diversas situações envolvendo limites de funções reais.
Para tal, considere as seguintes funções:
1
Exemplo (funções): consideremos a função y = f ( x) = 1 −
x
, cujo gráfico é apresentado na Figura 1, na qual utilizamos o pro-
grama Winplot. Vale ressaltar que os gráficos desta unidade foram
construídos por meio desse programa.

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136 © Análise Matemática


1
Figura 1 O gráfico da função f ( x ) = 1 − .
x
Para que você entenda um pouco melhor o comportamento
da função em questão, vamos descrever nos Quadros 1 e 2 os va-
lores de f(x) para alguns valores particulares de x.
Quadro 1 Valores tabulados de f(x) para valores positivos de x.
x 1 2 3 4 5 6 ... 500 ... 1000 ...
1 2 3 4 5 499 999
f(x) 0 ... ... ...
2 3 4 5 6 500 1000
© U3 - Limites de Funções 137

Quadro 2 Valores tabulados de f(x) para valores negativos de x.


x -1 -2 -3 -4 -5 ... -100 ... -500 ...
3 4 5 6 101 501
f(x) 2 ... ... ...
2 3 4 5 100 500
1
Dessa forma, podemos observar que a função f ( x) = 1 −
x
definida neste exemplo tende para 1 quando x tende para ∞ .
Basta observarmos os quadros anteriores e o gráfico apresentado
na Figura 1 para caracterizarmos que:
f ( x) → 1 quando x → ± ∞
Tal situação, matematicamente falando, é escrita na forma:

 1
lim 1 −  =
1
x →±∞
 x
y
Exemplo (funções): a função polinomial = x² + 3x – 2
(polinômio de grau 2) tende para + ∞ quando x tende para ± ∞ ,
ou seja, quando x → ± ∞ . Assim, neste caso, a notação que
utilizamos é:

lim ( x 2 + 3 x − 2) = + ∞
x →±∞

De forma intuitiva, basta que você analise os valores tabela-


dos para a função f(x) nos Quadros 3 e 4.
Quadro 3 Valores tabulados de y para valores positivos de x.
x 1 2 3 4 5 6 ... 100 ... 1000 ...
y 2 8 16 26 38 52 ... 10298 ... 1002998 ...

Quadro 4 Valores tabulados de y para valores negativos de x.


x -1 -2 -3 -4 -5 -6 ... -100 ... -500 ...
y -4 -4 -2 2 8 16 ... 9698 ... 248498 ...

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138 © Análise Matemática

Em termos geométricos, você pode observar, na Figura 2, o


gráfico da função discutida neste exemplo.


y
x ² + 3 x – 2 : gerado no programa Winplot.
Figura 2 O gráfico da função =
1
Exemplo (funções): a função y = tende para o in-
( x + 1) 2
1
finito quando x → −1 , e escrevemos tal fato: lim = +∞.
x →−1 ( x + 1) 2

Vamos comentar ainda sobre os limites laterais, mais aqui temos


que: 1 1
lim+ 2
= lim− 2
= +∞
x →−1 ( x + 1) x →−1 ( x + 1)
  © U3 - Limites de Funções 139
+ = − =+∞
 → −   +    → −   +  
Ou seja, temos a igualdade dos limites laterais à direita e à
1 e a esquerda da função y =   . A Figura 03
Ou seja, temos a igualdade dos limites laterais a direita
esquerda da função y = 2
. A Figura 3 nos mostra
+  o gráfico
damostra
abaixo nos funçãoo gráficoem questão.
da função em questão.
( x + 1)

 1
Figura O gráfico
3 03:
Figura O gráfico da função
da função y= y =  : gerado : gerado no programa Winplot.
2 no programa Winplot.
  + (x + 1)
1
Exemplo (funções): a função y = cos
Fonte: Elaborado pelo próprio autor através do programa
  . A Figura 4 nos
Winplot.
x
mostra a representação geométrica do gráfico desta.

Exemplo (Funções): A função y = cos( ) . A Figura 04 abaixo nos mostra a representação geométrica do gráfico da

mesma.

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140 © Análise Matemática


1
Figura 4 O gráfico da função y = cos   : gerado no programa Winplot.
x
Observando a Figura 4 e o Quadro 5, a seguir, podemos afir-
mar que o gráfico desta função oscila numa vizinhança de zero,
sem tender para nenhum limite.
1
Quadro 5 Valores tabulados de y = cos   para valores de x.
x
1 1 1 1
x ≅ 0, 318309 ≅ 0, 159154 ≅ 0, 106103 ≅ 0, 0795774
π 2π 3π 4π
y –1 1 –1 1

A partir do momento em que apresentamos alguns exem-


plos introdutórios, trabalhando de forma intuitiva com a noção de
limite, agora é de nosso interesse apresentar a definição formal de
© U3 - Limites de Funções 141

limite como segue na seção subsequente; porém, antes de fazer-


mos essa abordagem, vamos introduzir alguns conceitos topológi-
cos essenciais para os seus estudos.

2.1. NOÇÕES TOPOLÓGICAS FUNDAMENTAIS

Você já pode compreender que a parte da Matemática que


estuda com grande generalidade as noções de limite, de con-
tinuidade e resultados associados é a Topologia. Nesse sentido,
veremos alguns conceitos topológicos elementares, envolvendo
subconjuntos de  , para o detalhamento da teoria formal sobre
limites de funções e propriedades. Assim, para adotarmos um lin-
guajar geométrico padronizado, falaremos em "ponto" ao invés de
falarmos "número real", bem como falaremos em "reta real" em
vez do "conjunto  ”.

2.2. CONCEITOS TOPOLÓGICOS FUNDAMENTAIS

Vamos agora comentar uma série de conceitos básicos topo-


lógicos e algumas propriedades relacionadas.
Definição 1 – ponto interior, interior de X e vizinhança:
dizemos que o ponto a é interior ao conjunto X ⊂  quando existe
um número real ε > 0 tal que o intervalo aberto (a − ε , a + ε )
está contido em X . O conjunto dos pontos interiores a X é
denominado de interior do conjunto X e o denotamos por int X .
Além disso, quando a ∈ intX , dizemos que X é uma vizinhança
do ponto a (ELON, 1989, p. 48).
Definição 2 – conjunto aberto: um conjunto A ⊂  chama-
se conjunto aberto quando A = intA , ou seja, quando todos os
pontos de A são pontos interiores a A (ELON, 1989, p. 48).
Exemplo (conjunto aberto): todo ponto c do intervalo aberto
(a, b) é um ponto interior ao conjunto A = (a, b) . Em particular,

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142 © Análise Matemática

1
podemos falar que o ponto a = é um ponto interior do conjunto
A = (0, 1) . 2

Exemplo (conjunto aberto): os pontos a e b que são os


pontos extremos do intervalo fechado [a, b] não são pontos
interiores ao conjunto A = [a, b] .
Exemplo (conjunto aberto): o interior do conjunto  dos
números racionais é vazio.
Exemplo (conjunto aberto): temos que o interior do conjunto
A = [a, b] é o intervalo aberto (a, b) , ou seja, neste caso, podemos
escrever que int ([a, b]) = (a, b) . Em particular, se A = [3, 4] é o
intervalo aberto (3, 4) , ou seja, neste caso, podemos escrever que
int ([3, 4]) = (3, 4) .
Exemplo (conjunto aberto): um intervalo I aberto da reta
real é um conjunto aberto.
Exemplo (conjunto aberto): o conjunto vazio é um conjunto
aberto.
Exemplo (conjunto aberto): todo intervalo aberto (limitado
ou não) é um conjunto aberto.
Pensando um pouco no que discutimos na unidade anterior,
especificamente comentando sobre as sucessões, podemos visu-
alizar a definição de limite de uma sequência de números reais em
termos de conjuntos abertos, ou seja, podemos definir o limite da
sequência ( xn ) como segue: temos que lim xn = a se, e somente
se, para todo conjunto aberto A contendo o ponto a existe um
natural n 0 ∈  tal que n > n 0 então xn ∈ A .
Teorema 1: consideremos A1 e A2 dois conjuntos abertos,
então:
i) O conjunto interseção A1 ∩ A2 é um conjunto aberto.
ii) Se( Aλ )λ∈L é uma família qualquer de conjuntos abertos, a
reunião A =  λ∈L Aλ é um conjunto aberto. (ELON, 1989,
p. 49).
© U3 - Limites de Funções 143

Exemplo (conjunto aberto): o conjunto dos números reais


 é um conjunto aberto.
Exemplo (conjunto aberto): o conjunto vazio é um conjunto
aberto.
Exemplo (conjunto aberto): podemos observar claramente
que temos como consequência direta do Teorema 1 que a
interseção de um número finito de conjuntos abertos é um conjunto
aberto. Ou seja, se tivermos A1 , A2 ,..., An conjuntos abertos, então
A1 ∩ A2 ∩ ... ∩ An é um conjunto aberto.
Exemplo (conjunto aberto): a interseção de um número
infinito de conjuntos abertos pode ou não ser um conjunto aberto.
Definição 3 – ponto aderente: dizemos que um ponto a
é aderente ao conjunto X ⊂  quando a é limite de alguma
sequência de pontos xn ∈ X (ELON, 1989, p. 49).
Notemos que podemos visualizar um exemplo claro de
ponto aderente a um conjunto X , no caso em que o ponto a ∈ X ,
pois este é obviamente aderente a X ; para tal, basta tomarmos
xn = a .
Exemplo (ponto aderente): temos que os extremos do
intervalo aberto (a, b) são pontos aderentes do conjunto
X = ( a, b) .
Exemplo (ponto aderente): consideremos um conjunto
X ⊂  não vazio e limitado. Dessa forma, temos que a = inf X e
b = sup X são pontos aderentes do conjunto X . Para justificarmos
tal fato, para qualquer n natural, podemos escolher uma sequência
1
de pontos xn em X com a ≤ xn ≤ a + e, portanto, concluímos
n
que a = lim xn . Similarmente, pode ser visto que a = lim y n , com
yn ∈ X .
Definição 4 – fecho de um conjunto: chamamos de fecho de
um conjunto X o conjunto denotado por X formado por todos
os seus pontos aderentes (ELON, 1989, p. 49).

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144 © Análise Matemática

Claramente, temos que X ⊂ X , ou seja, um conjunto X


é subconjunto de seu fecho (sempre!). Além disso, temos que
X ⊂Y .
Exemplo (fecho de um conjunto): o fecho dos intervalos
(a, b),[a, b) e (a, b] é o intervalo [a, b] .
Definição 5 – conjunto fechado: um conjunto X é
denominado fechado quando temos a igualdade X = X , ou
seja, dizemos que um conjunto X é fechado quando todo ponto
aderente a X pertence a X (ELON, 1989, p. 49).
Exemplo (conjunto fechado): o conjunto X = [a, b] é um
conjunto fechado, pois o seu fecho X = [a, b] , ou seja, o próprio
conjunto X .
Exemplo (conjunto fechado): o conjunto dos números reais
 é um conjunto fechado. Em verdade, como vimos anterior-
mente, o conjunto  também é um conjunto aberto. Dessa forma,
concluímos que os únicos subconjuntos que são simultaneamente
abertos e fechados em  são ∅ e  .
Exemplo (conjunto fechado?): uma reunião infinita de con-
juntos fechados pode não ser um conjunto fechado, com efeito,
qualquer conjunto (fechado ou não) é reunião dos seus pontos,
que são conjuntos fechados.
Exemplo (conjunto denso): dizemos que um conjunto X é
denso em Y quando Y ⊂ X , isto é, quando todo ponto b em Y
é um ponto aderente a X . Assim, temos que  é denso no con-
junto dos números reais. Além disso, para qualquer intervalo I da
reta real, temos que a interseção  ∩ I é um conjunto denso em
I (ELON, 1989, p. 49).
Definição 6 – ponto de acumulação: dizemos que um ponto
a ∈  é um ponto de acumulação do conjunto X ⊂  quando
toda vizinhança V do ponto a contém algum ponto de X dife-
rente do próprio a (ELON, 1989, p. 52).
© U3 - Limites de Funções 145

Em outras palavras, a definição acima pode ser vista da se-


guinte forma: um ponto a ∈  é um ponto de acumulação do con-
junto X ⊂  quando para toda vizinhança V do ponto a temos
que V ∩ (X − {a}) ≠ ∅ . Denotaremos o conjunto dos pontos de
acumulação do conjunto X por X ' .
Teorema 2: dados X ⊂  e a ∈  são equivalentes as se-
guintes afirmações:
i) a é um ponto de acumulação de X .
ii) a é limite de uma sequência de pontos xn ∈ X − {a} .
iii) Todo intervalo aberto cujo centro é o ponto contém uma
infinidade de pontos de X (ELON, 1989, p. 52).

Exemplo (ponto de acumulação): se considerarmos X um


conjunto finito então X ' = ∅ , ou seja, um conjunto finito não pos-
sui ponto de acumulação. Além disso, podemos perceber que o
conjunto  dos números inteiros é um conjunto infinito, porém,
todos os números inteiros são pontos isolados.
Exemplo (ponto de acumulação): se X =  (conjunto dos
racionais), então temos que X ' =  , ou seja,  ' =  .
Exemplo (ponto de acumulação): se X = (a, b) (intervalo
aberto), então temos que X ' = [a, b] .
1 1 1
Exemplo (ponto de acumulação): se X = {1, , ,..., ,...} ,
2 3 n
então X ' = {0} , isto é, o número real a = 0 é o único ponto de
acumulação de X . Observe que todos os pontos de X são pontos
isolados, o que nos diz que é um conjunto discreto.
Teorema 3: todo conjunto infinito limitado de números reais
admite pelo menos um ponto de acumulação (ELON, 1989, p. 53).
Definição 7 – conjunto compacto: um conjunto X ⊂  é
um conjunto compacto quando é limitado e fechado (ELON, 1989,
p. 53).
Exemplo (conjunto compacto): todo conjunto finito X ⊂ 
é um conjunto compacto.

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146 © Análise Matemática

Exemplo (conjunto compacto): X = [a, b] é um conjunto


compacto.
Exemplo (conjunto que não é compacto): se X = (a, b) ,
então X é limitado, porém, não é fechado, consequentemente,
não é um conjunto compacto.
Exemplo (conjunto que não é compacto): temos que X = 
(conjunto dos inteiros) não é compacto, pois não é limitado.
Teorema 4: um conjunto X ⊂  é um conjunto compacto
se, e somente se, toda sequência de pontos em X possui uma
subsequência que converge para um ponto de X (ELON, 1989, p.
53).
Para ampliar seus conhecimentos sobre as noções topológi-
cas fundamentais, leia Ávila (2006, p. 140-142).

2.3. O CONJUNTO DE CANTOR: UM CONJUNTO ESPECIAL!

A formalização da Teoria dos Conjuntos em um contexto


lógico com maior rigor é obra de grandes matemáticos deste e do
século passado. As contribuições de Hilbert e Gödel foram muito
importantes, porém, foi Georg Cantor (1845-1918) que iniciou
esse estudo sistemático sobre conjuntos por volta de 1872 e quem
mais avançou nele.
Cantor nasceu em São Petersburgo, onde viveu até 1856,
quando sua família se transferiu para o sul da Alemanha. Fez dou-
torado pela Universidade de Berlim, onde foi aluno de Weierstrass,
de quem teve grande influência em sua sólida formação matemá-
tica. Toda sua carreira profissional foi desenvolvida em Halle, para
onde transferiu-se logo que finalizou seu doutorado em Berlim.
É interessante que você saiba que, em um de seus primeiros
trabalhos, Georg Cantor (1955, p. 85) definiu conjunto com os se-
guintes dizeres: "por conjunto entendemos qualquer coleção numa
totalidade M de objetos distintos, produtos de nossa intuição ou
© U3 - Limites de Funções 147

pensamento". Talvez a rigor essa não seja uma boa definição, pois
exige que saibamos o que seja "coleção", termo esse que toma-
mos sempre como sinônimo de conjunto.
Dessa forma, o conjunto de Cantor, que denotaremos por
K , é um conjunto com uma particularidade bem peculiar dentro
da Matemática formal e de modo especial dentro da Teoria dos
Conjuntos com foco na Análise Matemática. Nesse sentido, temos
que o conjunto K de Cantor apresenta as seguintes propriedades:
1) É um conjunto compacto.
2) É um conjunto com interior vazio, ou seja, não contém
intervalos.
3) Não contém pontos isolados, isto é, todos seus pontos
são pontos de acumulação.
4) É um conjunto não enumerável.
Não nos preocuparemos com o detalhamento formal dessas
propriedades, para maiores detalhes com relação às justificativas
das propriedades descritas anteriormente, que são bem construti-
vas, você pode pesquisar em (ELON, 1989, p. 56).
Em verdade, tal conjunto é um subconjunto fechado do intervalo
[0,1] , obtido como complementar de uma reunião de intervalos
abertos, cujos dois passos iniciais de sua construção seriam
1 2
retirar do intervalo [0, 1] seu terço médio aberto ( , ) e logo
3 3
na sequência o terço médio do aberto de cada um dos intervalos
1 2
restantes [0, ] e [ ,1] .
3 3
Para maiores detalhes sobre o conjunto de Cantor, é interes-
sante que leia Ávila (2006, p. 38-40).

2.4. A DEFINIÇÃO FORMAL DE LIMITE

Vamos definir em termos formais a noção de limite de uma


função real de uma variável y = f ( x) quando x tende a um valor
fixo a . Para tal, consideraremos uma função f ( x) definida em

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148 © Análise Matemática

um intervalo aberto I , tal que a ∈ I e, não necessariamente, a


função esteja definida em a . Em outras palavras, definimos for-
malmente o limite de uma função f ( x) quando x tende a a pelos
conceitos topológicos descritos anteriormente da seguinte forma.
Definição 7 – limite de uma função y = f ( x) : consideremos
X ⊂  um subconjunto dos números reais e f : X →  uma
função real cujo domínio é X e a ∈ X ' um ponto de acumulação
do conjunto X . Dizemos que o número real L é o limite de f ( x)
quando x tende ao ponto a , e escrevemos lim f ( x) = L , quando
x→a
para todo ε > 0 dado arbitrariamente, podemos obter δ > 0 tal
que | f ( x) − L | < ε sempre que x ∈ X e 0 < | x − a | < δ (ELON,
1989, p. 62).
Em símbolos matemáticos tal definição significa:
lim f ( x)= L ≡ ∀ε > 0, ∃δ > 0; x ∈ X , 0 < x – a < δ ⇒| f ( x) − L | < ε
x→a

Salientamos ainda que, num linguajar mais simples, isso nos


diz que L está tão próximo de f ( x) , a partir do momento em que x
estiver bem próximo do ponto a. Além disso, perceba que a restrição
x – a > 0 é equivalente a x ≠ a . Ou seja, quando escrevemos
L = lim f ( x) não é possível que a variável independente x assuma
x→a
o valor a e, assim, a imagem f (a ) não tem relevância alguma
quando queremos encontrar L, ou ainda, o que nos interessa
é o comportamento de f ( x) a partir do momento em que x se
aproxima de a , sempre por valores diferentes do próprio a .
Exemplo (limite de uma função y = f ( x) ): consideremos
a função f ( x=
) 3 x − 1 , dessa forma, estaremos interessados em
analisar o comportamento dessa função quando a variável inde-
pendente x se aproxima de 1, ou seja, em verdade, vamos mostrar
que o limite lim (3 x − 1) é igual a 2, ou ainda, que lim (3 x − 1) =.
2
x →1 x →1
© U3 - Limites de Funções 149

Solução: num primeiro momento, como ainda não trabal-


hamos com as propriedades operatórias envolvendo limites, de-
vemos encontrar tal limite pela definição formal apresentada an-
teriormente. Notemos que, de acordo com a definição formal de
limite, devemos mostrar que, para todo ε > 0 , existe um δ > 0 ,
tal que | (3 x − 1) − 2 | < ε sempre que 0 < x – 1 < δ . Além disso,
salientamos que a averiguação com relação à desigualdade que
envolve o número positivo ε nos possibilita uma chave para en-
contrarmos o δ . Observemos, então, que as seguintes desigual-
dades são equivalentes:
| (3 x − 1) − 2 | < ε
| 3x − 3 | < ε
3. | x − 1| < ε
ε
| x − 1| <
3
Logo, a última desigualdade mencionada nos sugere a esco-
ε
lha para o número δ . Ou seja, tomando δ = , vem que:
3
| (3 x − 1) − 2 | < ε sempre que 0 < x – 1 < δ .
Portanto, concluímos que lim(3 x − 1) =.
2 C.q.d.
x →1

Exemplo (limite de uma função y = f ( x) ): utilizando a


definição formal de limite, vamos mostrar que:

lim x 2 = 16
x→ 4

Solução: inicialmente, notemos mais uma vez que, de acor-


do com a definição formal de limite, devemos mostrar que para
todo ε > 0 existe um δ > 0 , tal que | x 2 − 16 | < ε sempre que
0 < x – 4 < δ . Da desigualdade que envolve ε , temos que:
| x 2 − 16 | < ε

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150 © Análise Matemática

ε
| x − 4 |. | x + 4 | <
3
Dessa maneira, necessitamos agora substituir | x + 4 | por
um valor constante. Assim, vamos supor que 0 < δ ≤ 1 e, então, de
0 < x – 4 < δ seguem as seguintes desigualdades equivalentes:

| x − 4 |< 1
−1 < x − 4 < 1
3 < x < 5 (Por quê?) (Some 4)
7< x+4<9
ε
Portanto, | x + 4 | < 9 . Assim, se escolhermos δ = min{ ,1} ,
temos que se x – 4 < δ , então: 9
| x 2 − 16 | = | x + 4 | . | x − 4 | < δ .9
ε
| x 2 − 16 | = | x + 4 | . | x − 4 | ≤ .9
9
| x 2 − 16 | = | x + 4 | . | x − 4 | < ε

Portanto, concluímos que lim x 2 = 16 . C.q.d.


x→ 4
Vejamos os primeiros resultados importantes envolvendo a
noção de limite de uma função.

Teorema 5 – Unicidade do Limite de uma Sequência: se


lim f ( x) = L e lim f ( x) = M , então L = M , ou seja, o limite de
x→ a x→ a

uma função f ( x) quando existe é único (ELON, 1989, p. 64).


Vamos realizar tal prova de duas formas diferentes.
Prova (primeiro modo): como o ponto a é um ponto de
acumulação do conjunto X , então a é limite de uma sequência de
pontos xn ∈ X − {a} . Então:
© U3 - Limites de Funções 151

L = lim f ( xn ) e M = lim f ( xn ) , logo pela unicidade do limite


da sequência ( f ( xn )) vem que L = M .
Prova (segundo modo): consideremos ε > 0 arbitrário. Por
hipótese, temos que:
lim f ( x) = L , logo existe um número δ1 > 0 tal que
x→ a
ε
| f ( x) − L | <
2
E
lim f ( x) = M , logo existe um número δ 2 > 0 tal que
x→ a

ε
| f ( x) − M | <
2
Tomemos então δ = min{δ1 , δ 2 } , então temos que:
ε ε
| f ( x) − L | < e | f ( x) − M | <
2 2
Sempre que 0 < x – a < δ .
Dessa forma, para x tal que 0 < x – a < δ , então podemos
escrever:
ε ε
| L − M | = | L − f ( x) + f ( x) − M | ≤ | f ( x) − L | + | f(x) + M | < + = ε
2 2
Como a escolha do número ε foi realizada de forma
0 , ou seja, que L = M . Ou
arbitrária, concluímos que | L − M | =
seja, o limite de uma função, quando existe, é único. C. q. d.

2.5. PROPRIEDADES OPERATÓRIAS DOS LIMITES

Nos dois exemplos apresentados anteriormente, utilizamos


a definição formal de limite para provarmos que um dado número
L era limite de uma função f(x). Ressaltamos que é um processo
relativamente simples para funções lineares (funções elementa-
res conhecidas); porém, não podemos dizer o mesmo para alguns

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152 © Análise Matemática

tipos de funções que se caracterizam por um comportamento mais


complexo (funções mais elaboradas).
Dessa maneira, torna-se necessário que conheça as proprie-
dades operatórias dos limites, ou seja, as propriedades que po-
dem ser utilizadas para encontrar muitos limites, sem recorrermos
diretamente para a caracterização do número δ que comparece
na definição formal de limite.
Teorema 6: se a, m e n são números reais, então
lim(mx + n) = m.a + n (ELON, 1989, p. 65).
x→ a
Vejamos alguns exemplos ilustrativos em que você pode uti-
lizar diretamente o Teorema 6 na determinação de limites de fun-
ções.
Exemplo (Teorema 6): vamos determinar os limites das se-
guintes funções utilizando o Teorema 6.
a) lim(2 x + 3)
x →1

b) lim(7 x − 5)
x→ 0

c) xlim (3 x + 1)
→−1

d) lim( x − 4)
x→ 4

e) lim(2 x)
x →1

Solução: neste caso, temos que:


a) lim(2 x + 3)
= 2.(1) += 3 5
x →1 m= 2
n =3

b) lim(7 x − 5) = 7.(0) − 5 =−5


x→ 0 m=
7
n = −5

c) xlim (3 x + 1) = 3.(−1) + 1 =−3 + 1 =−2


→−1 m =3
n =1

d) lim( x − 4)
= 1.(4) −=
4 0
x→ 4 m=
1
n = −4

e) lim(2 x=
) 0 2 c.q.d.
2.(1) +=
x →1 m= 2
n =0
© U3 - Limites de Funções 153

Teorema 7: se os limites lim f ( x) e lim g ( x) existem, e c é


x→ a x→ a
um número real qualquer, então (ELON, 1989, p. 65):

a) lim[ f ( x) ± g ( x=
)] lim[ f ( x)] ± lim[ g ( x)]
x→ a x→ a x→ a

b) lim c. f ( x) = c.lim f ( x)
x→ a x→ a

c) lim f ( x).g ( x) = lim f ( x).lim g ( x)


x→ a x→ a x→ a

f ( x) lim f ( x)
x→ a
d)
= lim , com lim f ( x) ≠ 0 .
x→ a g ( x) lim g ( x) x→ a
x→ a

e) lim[ f ( x)]n = [lim f ( x)]n , para qualquer inteiro positivo


x→ a x→ a
n.

n lim f ( x ) , se lim f ( x ) > 0 e n inteiro ou


n f ( x) =
f) lim
x→ a x→ a x→ a

se lim f ( x) ≤ 0 e n é um inteiro positivo ímpar.


x→ a

g) lim ln[ f ( x)] = ln[lim f ( x)] , se lim f ( x) > 0 .


x→ a x→a x→ a

h) lim cos[ f ( x)] = cos[lim f ( x)] .


x→ a x→a

i) lim sen[ f ( x)] = sen[lim f ( x)] .


x→ a x→a
lim f ( x )
j) lim e f ( x ) = e x→a
x→ a

Veja alguns exemplos ilustrativos, onde pode utilizar direta-


mente o Teorema 7.
Exemplo (Teorema 7): vamos determinar os limites das se-
guintes funções utilizando o Teorema 7.

a) lim( x3 + x 2 − x − 5)
x →1

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154 © Análise Matemática

b) lim 5.x3
x→ 2

x −5
c) lim
x→3 x3 − 7
x2 −1
lim
d) x → 3
x −1
e) lim x4 − 4x + 1
x →− 2

Solução: neste caso, utilizando o Teorema 1 anterior, temos


que:
a) lim( x3 + x 2 − x − 5) =(1)3 + (1) 2 − 1 − 5 =− 4
x →1

b) lim= 5.x3 5.lim


= x3 5.(2)
= 3
40
x→ 2 x→ 2

x −5 x −5 3−5 −2 −2 −1
c) lim = lim = = = =
x→3 x3 − 7 x→3 3 3
x − 7 (3) − 7 27 − 7 20 10
x2 −1 x2 −1
lim
= lim =
x→3 x − 1 x→3 x − 1
d)
( x + 1).( x − 1)
lim = lim( x + 1) = 3 + 1 = 4
x→3 x −1 x→3

lim x 4 − 4=
x +1 lim ( x 4 − 4 x=
+ 1)
x →− 2 x →− 2
e) C. q. d.
(−2) 4 − 4.(−2) +=
1 25
= 5

Teorema 8 – Teorema do Sanduíche, ou do Confronto: se


f ( x) ≤ h(x) ≤ g(x) para todo x em um intervalo aberto contendo
a , exceto possivelmente em x = a , e se lim f ( x)= L= lim g ( x) ,
x→ a x→ a
então (ELON, 1989, p. 63):
lim h( x) = L
x→ a
© U3 - Limites de Funções 155

Exemplo (Teorema 8): utilizando o Teorema 8, pede-se para


1
encontrar lim x 2 . | sen( ) | .
x→ 0 x
Solução: note, inicialmente, que os valores da função seno
estão entre – 1 e 1, já que para todo x ∈  tem que −1 ≤ senx ≤ 1 .
Logo, podemos escrever que:
0 ≤ | senx | ≤ 1 , para todo x ≠ 0 . 1
Ou seja, para o nosso caso, trocamos x por x e, então
reescrevemos:
1
0 ≤ | sen   | ≤ 1 , para todo x ≠ 0 .
x 2
Dessa forma, multiplicando a desigualdade acima por x ,
temos que:
1
0 ≤ x 2 .| sen   | ≤ x 2 , para todo x ≠ 0 .
x
Como lim 0 = 0 e lim x 2 = 0 , pela Proposição 02 anterior,
x→ 0 x→ 0

1
concluímos que lim x 2 . | sen( ) | = 0 . C. q. d.
x→ 0 x

Para maiores detalhes sobre a noção intuitiva de limite,


definição formal, regras operatórias e mais exemplos ilustrativos,
você pode encontrar em Ávila (2006, p. 133-149), bem como em
Leithold (1994, p. 56 -64) e Figueiredo (1996, p. 48 -51).

2.6. LIMITES LATERAIS

Agora, vamos definir de maneira formal o que falamos an-


teriormente, superficialmente, sobre a noção de limites laterais.
Aqui, vamos averiguar que, para o limite bilateral lim f ( x) ex-
x→ a

istir, devemos ter a existência dos limites laterais, além, é claro,


da igualdade destes. Você se lembra dos detalhes de uma variável

Claretiano - Centro Universitário


Agora, vamos definir de maneira formal o que falamos anteriormente superficialmente sobre a noção de
limites laterais. Aqui iremos averiguar que para o limite bilateral     existir, devemos ter a existência dos
156 © Análise Matemática → 
limites laterais além é claro da igualdade dos mesmos. Você se lembra destes detalhes no Cálculo Diferencial e
Integral de uma variável real y = f(x)? Se sim, que bom, caso contrário vamos relembrar agora!
real y = f ( x) ? Se sim, que bom, caso contrário, vamos relembrar
agora!

Figura 5 Condição necessária para a existência do limite bilateral de y = f ( x) .


Figura 05: Condição necessária para a existência do limite bilateral de y = f(x).
Neste caso, para trabalharmos com a noção de limite lateral
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
à direita e à esquerda, vamos considerar X ⊂  um subconjunto
dos números reais.
Neste caso, para trabalharmos com a noção de limite lateral à direita e à esquerda, vamos considerar
X⊂ ℜ um subconjunto dos números reais.
Definição 8 – ponto de acumulação à direita (ELON, 1989,
p. 67):
Definição 08 (Ponto de Acumulação à Direita a): (Ver [4]) Dizemos que o número real a é um ponto de acumulação
à direita para X e escrevemos a ∈ X’+, quando toda vizinhança de a contém algum ponto x ∈ X com x > a.
Equivalentemente: para todo ε >que
Dizemos o número
0 tem-se a
ε ) ≠ ∅ . éA fim
X ∩ (a, a +real que a ∈ X’
umdeponto de acumulação
+ é necessário à direita
e suficiente que

para X e escrevemos a ∈ X '+ ordinário


direita para o conjunto X se, e somente se, é um ponto de acumulação
, quando toda vizinhança de a
a seja limite de uma sequência de pontos x  > a, pertencentes a X. Finalmente, a é um ponto de acumulação à
do conjunto Y = X ∩ (a,+ ∞ ).
contém algum ponto x ∈ X com x > a . Equivalentemente: para
todo ε > 0 tem-se X ∩ ( a, a + ε ) ≠ ∅ . A fim de que a ∈ X '+
é necessário e suficiente que a seja limite de uma sequência de
Definição 09 (Ponto de Acumulação à Esquerda): (Ver [4]) Dizemos que o número real a é um ponto de
acumulação à esquerda para X e escrevemos a ∈ X’ , quando para todo ε > 0 tem-se X ∩ (a, a – ε ) ≠ ∅ , ou
-

(- ∞ , a) ∩xnX. >
seja, a ∈ Z’ onde Z =pontos Paraaque
, pertencentes a X .eFinalmente,
isto aconteça, é necessário suficiente que a = a
lim é
x um ponto
, onde (x  ) é de

uma sequência cujosacumulação à direita


termos x  < a, pertencem a X. para o conjunto X se, e somente se, é um

ponto de acumulação ordinário do conjunto Y= X ∩ ( a, + ∞) .


Definição 10 (Ponto de Acumulação Bilateral): (Ver [4]) Quando a ∈ X´+ ∩ X´- dizemos que a é um ponto de
Definição 9 – ponto de acumulação à esquerda (ELON, 1989,
acumulação bilateral de X.

p. 67):
Dizemos que o número real a é um ponto de acumulação à
esquerda para X e escrevemos a ∈ X '− , quando para todo
ε > 0 tem-se X ∩ (a, a − ε ) ≠ ∅ , ou seja, a ∈  ' onde
 = (− ∞, a ) ∩ X . Para que isto aconteça, é necessário e
suficiente que a = lim xn , onde ( xn ) é uma sequência cujos
termos xn < a , pertencem a X .

Definição 10 – ponto de acumulação bilateral: quando


a ∈ X '+ ∩ X '− dizemos que a é um ponto de acumulação bilateral
de X (ELON, 1989, p. 67).
© U3 - Limites de Funções 157

Definição 11 (limite à direita):


Consideremos f : X →  , a ∈ X '+ . Dizemos que o
número real L é limite à direita de f(x) quando x tende para a ,
e escrevemos L = lim+ f ( x ) quando, para todo ε > 0 dado
x→ a
arbitrariamente, pode-se obter δ > 0 tal que | f (x) − L | < ε
sempre que x ∈ X e 0 < x − a < δ (ELON, 1989, p. 68).

Em símbolos matemáticos, isso quer dizer:


lim f ( x)= L ≡ ∀ε > 0, ∃δ > 0;
x→a

x ∈ X ∩ ( a, a + δ ) ⇒ | f ( x ) − L | < ε
Definição 12 – limite à esquerda (ELON, 1989, p. 68):
Consideremos f : X →  e a ∈ X '− . Dizemos que o nú-
mero real L é limite à esquerda de f(x) quando x tende
para a , e escrevemos L = lim− f ( x) , quando para todo
x→a
ε > 0 dado arbitrariamente, pode-se escolher δ > 0 tal que
x ∈ X ∩ (a − δ , a) ⇒ | f ( x) − L | < ε .

As propriedades gerais dos limites, colocadas anteriormente,


adaptam-se facilmente para os limites laterais. Basta observarmos
que o limite à direita lim+ f ( x) se reduz ao limite ordinário
x→a
lim g ( x) , onde g é a restrição da função f : X →  ao conjunto
x→a

X∩ (a, + ∞) . E analogamente para o limite à esquerda.


Dessa maneira, resumindo, temos que se a ∈ X '+ ∩ X '− ,
existe limite lim f ( x) = L se, e somente se, existem e são iguais
x→a

os limites laterais lim


= +
f ( x) lim
= −
f ( x) L .
x→a x→a
Exemplo (limite lateral de uma função): consideremos a
função f ( x) =+
1 x − 3 , vamos determinar os limites laterais
lim f ( x) e lim− f ( x) se existirem.
x → 3+ x→3
Solução: nesse caso, notemos inicialmente que o domínio da
função f(x) definida no exemplo é dado por D f = {x ∈  / x ≥ 3} .

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158 © Análise Matemática

Dessa maneira, concluímos, de antemão, que não existe o limite


de f ( x) quando x tende a 3 pela esquerda, ou seja, nesse caso,
temos que não existe lim− f ( x) . Para calcularmos o limite de
x→3
f ( x) quando x tende a 3 pela direita, ou seja, para determinarmos
lim f ( x) , podemos aplicar as propriedades operatórias descritas
x → 3+
anteriormente como segue:
lim f ( x=
) lim+ (1 + x − 3)
=
x → 3+ x→3

lim 1 + lim+ x − 3 =1 + lim( x − 3) =1 + 0 =1


x → 3+ x→3 x → 3+

Ou seja, concluímos que: lim f ( x) 1 c.q.d.



Exemplo (limite lateral de uma função): consideremos a
função definida por dupla sentença:

− | x |
 , se x ≠ 0
f ( x) =  x ,
1, se x = 0

Vamos determinar os limites lim+ f ( x) e lim− f ( x) se exis-


x→ 0 x→ 0
tirem.
Solução: notemos, inicialmente, que se x > 0 , então | x | = x
e, portanto, a função f(x) é dada por:
−x
f ( x) = = −1
x ,

Daí:

lim f ( x) =lim+ − 1 =−1


x → 0+ x→ 0
© U3 - Limites de Funções 159

Por outro lado, se x < 0 , então | x | = − x e, portanto, a


função f(x) é dada por:
−( − x )
=f ( x) = 1 ,
x
Logo:
lim f=
( x) lim
= 1 1
x → 0− −
x→ 0

− | x |
 , se x ≠ 0
Você pode observar o gráfico da função f ( x) =  x
na Figura 6. 1, se x = 0







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






− | x |
 , se x ≠ 0
Figura 6 O gráfico da função f ( x) =  x .
1, se x = 0

Exemplo (limite lateral de uma função): consideremos


a função modular f (x) = | x | , vamos determinar, se existir:
lim+ f ( x) e lim− f ( x) .
x→ 0 x→ 0
Solução: neste caso, temos que se x ≥ 0 , então f ( x) = x .

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160 © Análise Matemática

f ( x) lim
Logo, lim+ = = +
x 0 . De outra forma, se x < 0 , então
x→ 0 x→ 0
f ( x) = − x e, portanto, lim− f ( x)= lim (− x)= 0 . A Figura 7 nos
x→ 0 x→ 0−

mostra o gráfico da função f (x) = | x | .

Figura 7 O gráfico da função f (x) = | x | . 

Exemplo (limite lateral de uma função): consideremos a fun-


ção definida por tripla sentença:
 x 2 + 1, para x < 2

= f ( x) =2, para x 2
 2
9 − x , para x > 2
Vamos determinar, se existirem os seguintes limites:
lim+ f ( x), lim− f ( x), lim f ( x).
x→ 2 x→ 2 x→ 2

Solução: neste caso, temos que:


• x > 2: se x > 2, então f ( x)= 9 − x 2 , logo:
lim f ( x) = lim+ (9 − x 2 ) = lim+ 9 − lim+ x 2 = 9 − 4 = 5
x → 2+ x→ 2 x→ 2 x→ 2

) x 2 + 1 , logo:
• x < 2: se x < 2, então f ( x=
lim− f ( x) = lim−+ ( x 2 + 1) = lim− x 2 + lim− 1 = 4 + 1 = 5
x→ 2 x→ 2 x→ 2 x→ 2
© U3 - Limites de Funções 161

Portanto, como lim


= +
f ( x) lim
= −
f ( x) 5 , segue que existe o
x→ 2 x→ 2

limite de lim f ( x) e, neste caso, temos que lim f ( x) = 5 .


x→ 2 x→ 2

Figura 8 O gráfico da função f(x) do exemplo em questão.

Exemplo (limite lateral de uma função):


As funções f , g , h :  − {0} →  , definidas por
1 x 1
f ( x) = sen   , g ( x) = e h( x ) = não possuem
x | x| x
limite quando x → 0 . Quanto aos limites laterais, temos
lim+ g ( x) = 1 e lim− g ( x) = −1 porque g ( x) = 1 para x > 0
x →0 x →0

e g ( x) = −1 se x < 0 . As funções f e h não possuem limites


laterais quando x → 0 , nem à esquerda nem à direita.−1 Por outro
lado, ϕ :  − {0} →  , definida por ϕ ( x) = e , possui limite
x

à direita, lim+ ϕ ( x ) = 0 , mas não existe lim− ϕ ( x ) , pois ϕ não


x →0 x →0
é limitada para valores negativos de x próximos de zero (ELON,
1989, p. 66).

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162 © Análise Matemática

Definição 13 – função monótona não decrescente e função


monótona não crescente:
Uma função f : X →  chama-se monótona não decrescente
quando para x, y ∈ X , x < y implicar que f ( x) ≤ f ( y ) .
Caso x < y implicar que f ( x) ≥ f ( y ), f é dita monótona não
crescente (ELON, 1989, p. 69).

Definição 14 – função crescente e função decrescente: “Se


vale a implicação mais estrita x < y então f ( x) < f ( y ) dizemos
que a função f é crescente. Finalmente, se x < y implicar que
f ( x) > f ( y ) , dizemos que f é uma função decrescente” (ELON,
1989, p. 69).
Teorema 9: seja f : X →  uma função monótona limitada.
Para todo a ∈ X '+ e todo b ∈ X '− , existem L = lim+ f ( x) e
x→a
M = lim− f ( x) . Ou seja: existem sempre os limites laterais de uma
x →b
função monótona limitada (ELON, 1989, p. 69).
Para maiores detalhes sobre limites laterais, resultados
associados e mais exemplos ilustrativos, é interessante que você
leia Ávila (2006, p. 151-160), bem como Figueiredo (1996, p. 56-
64) e, também, Leithold (1994, p. 73-77).

2.7. COMO PODEMOS FUGIR DAS INDETERMINAÇÕES NOS


CÁLCULOS DE LIMITES?

Quando trabalhamos com exercícios simulados para o cál-


culo de limites de uma forma geral, podem aparecer alguns prob-
lemas em tais cálculos. Essas situações específicas são conhecidas
como indeterminações. As expressões que caracterizam as inde-
terminações são:
0 ∞
, , ∞ − ∞, 0.∞, 00 , ∞ 0 ,1∞
0 ∞
Você pode estar se perguntando, como podemos interpretá-
las? O que isso significa para os nossos propósitos?
© U3 - Limites de Funções 163

Para analisarmos tais situações, vamos considerar a situa-


ção . Para tal, vamos considerar duas funções f e g tais que
0
0
lim
= f ( x) lim
= g ( x) 0 .
x→ a x→ a
Logo, inicialmente, podemos dizer que nada se pode afirmar
f
com relação ao limite do quociente . Assim, de acordo com a
g
caracterização de cada uma das funções f e g , esse limite pode
assumir qualquer valor real ou não existir. Descrevemos isso fa-
0
lando que é um símbolo de indeterminação. Para ilustrarmos o
0
que acabamos de comentar, vejamos dois exemplos a seguir:

2
• Consideremos f ( x) = x3 e g ( x) = x , neste caso, temos
que lim f ( x) = 0 e lim g ( x) = 0 , daí:
x→ 0 x→ 0

f ( x) x3
lim = lim= lim
= x 0
x→ 0 g ( x) x→ 0 x 2 x→ 0

2
• Consideremos f ( x) = x e g ( x) = 2 x 2 , neste caso, temos
que lim f ( x) = 0 e lim g ( x) = 0 , daí:
x→ 0 x→ 0

f ( x) x2 1 1
lim = lim= 2
lim
=
x→ 0 g ( x) x→ 0 2 x x→ 0 2 2

 f 
Ou seja, podemos visualizar que o limite do quociente  
g
assume mais de um valor de acordo com a caracterização das fun-
ções f e g envolvidas no quociente analisado.
Vamos ilustrar, agora, por meio dos cálculos de limites,
onde são necessários artifícios algébricos para fugirmos da
0
indeterminação do tipo . São os casos em que temos funções
0
racionais em que o limite do denominador é zero para um

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164 © Análise Matemática

determinado ponto (raiz do polinômio que comparece no


denominador), e o limite do numerador também é zero para esse
ponto (raiz do polinômio que comparece no numerador). Em
0
símbolos, estamos diante de uma indeterminação do tipo .
0
Exemplo (fugindo das indeterminações): vamos determinar
x3 − 3x + 2
lim .
x →− 2 x2 − 4
Solução: neste caso, temos que:
x3 − 3x + 2 ( x 2 − 2 x + 1). ( x + 2) ( x 2 − 2 x + 1) −9
lim 2
= lim = lim = c.q.d.
x →− 2 x −4 x →− 2 ( x − 2). ( x + 2) x →− 2 ( x − 2) 4

Exemplo (fugindo das indeterminações): vamos determinar


x+2 − 2
lim .
x→ 0 x
Solução: neste caso, para este problema, estaremos
utilizando o artifício da racionalização do numerador da função,
dessa forma temos que:
x+2 − 2 ( x + 2 − 2) ( x + 2 + 2) ( x + 2) 2 − ( 2) 2
lim
= lim = . lim
=
x→ 0 x x → 0 x ( x + 2 + 2) x → 0 x.( x + 2 + 2)

x+2−2 1 1 2
lim = lim = =
x→ 0 x.( x + 2 + 2) x → 0 ( x + 2 + 2) 2 2 4

c.q.d.
Exemplo (fugindo das indeterminações): vamos determinar
x −1
3
lim .
x →1 x −1
Solução: neste caso, para facilitar o cálculo, realizaremos
uma troca de variáveis, em verdade, faremos a substituição de
variáveis:
=x t6, t ≥ 0
© U3 - Limites de Funções 165

3 6
3
x −1 t −1 t 2 −1
lim= lim= lim = 3
x →1 x − 1 t →1 t 6 − 1 t →1 t − 1
(t − 1).(t + 1) (t + 1) 2
lim = 2
lim
= 2
t →1 (t − 1).(t + t + 1) t →1 (t + t + 1) 3 c.q.d.

Exemplo (fugindo das indeterminações): vamos determinar


( x + h) 2 − x 2
lim .
h→ 0 h
Solução: neste caso, podemos diretamente desenvolver o
numerador para realizarmos as devidas simplificações possíveis,
ou seja, temos que:

( x + h) 2 − x 2 ( x 2 + 2.x.h + h 2 ) − x 2 2.x.h + h 2
lim = lim = lim =
h→ 0 h h→ 0 h h→ 0 h
h.(2 x + h)
lim = lim(2 x += h) 2.x
h→ 0 h h→ 0

c.q.d.

2.8. LIMITES NO INFINITO E LIMITES INFINITOS

De acordo com Elon (1999, p. 69), considerando X ⊂  ili-


mitado superiormente. Dada f : X →  , escrevemos:
lim f ( x) = L ,
x →+∞
quando o número real L satisfaz à seguinte condição:
∀ε > 0, ∃ A > 0; x ∈ X , x > A ⇒ | f ( x) − L | < ε

Ou seja, dado arbitrariamente ε > 0 , existe A > 0 tal que


| f ( x) − L | < ε sempre que x > A .
Analogamente, definimos xlim f ( x) = L , quando o domínio
→−∞

de f é ilimitado inferiormente: para todo ε > 0 dado, deve existir


A > 0 tal que x < − A ⇒| f ( x) − L | < ε .

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166 © Análise Matemática

Valem os resultados já demonstrados para o limite quando


x → a, a ∈  , com as devidas adaptações.
Devemos salientar que os limites para x → + ∞ e x → − ∞
são, de certo modo, limites laterais (o primeiro é um limite à
esquerda e o segundo, à direita).
Exemplo (limites no infinito): vamos determinar
2x + 5
lim .
x →+ ∞
2x2 − 5
Solução: neste caso, dividimos o numerador e denominador
por x. Além disso, salientamos que no denominador tomamos
x = x 2 , já que os valores de x podem ser considerados positivos
( x → + ∞ ). Dessa maneira, temos que:
5 5 1
2+ 2+ lim (2) + 5. lim ( )
2x + 5 x x x →+ ∞ x →+ ∞ x
=lim lim
= lim
= =
x →+ ∞
2 x 2 − 5 x →+ ∞ 2 x 2 − 5 x→+ ∞ 2 x 2 − 5 5
lim ( 2 − 2 )
x2 x2 x →+ ∞ x
1
lim (2) + 5. lim ( )
x →+ ∞ x →+ ∞ x 2 + 5.(0) 2
= = = 2
5 2 − 5.(0) 2
lim (2 − 2 )
x →+ ∞ x

c.q.d.
Exemplo (limites infinitos): vamos determinar
1
lim( x3 + x + ).
x→ 0 x2

Solução: neste caso, temos que:


1 1
lim( x3 + x + 2
) = lim( x3 ) + lim( x ) + lim( 2 ) = 0 + 0 + ∞ = ∞
x→ 0 x x→ 0 x→ 0 x→ 0 x

c.q.d.
Quando trabalhamos com o intuito de determinar alge-
bricamente limites infinitos relacionando funções diversas, de-
vemos tomar um cuidado especial. Isso se deve ao fato de que,
© U3 - Limites de Funções 167

dependendo da combinação em questão, podemos ter resul-


tados diversos: ±∞, + ∞, − ∞, zero(0) ? (Indeterminação). A se-
guir, veja no Quadro 6, uma lista que envolve as principais com-
binações de funções dos limites infinitos, onde você pode ter
x → a , x → a + , x → a − , x → + ∞, x → − ∞ .
Vale ressaltar que, no Quadro 6, 0+ indica que o limite é

zero, e a função se aproxima de zero por valores positivos, e 0
indica que o limite é zero e a função se aproxima de zero por va-
lores negativos.
Quadro 6 Principais combinações de operações algébricas
envolvendo limites infinitos.
Lim f(x) lim g(x) h(x) = lim h(x) Simbolicamente
01 ± ∞ ± ∞ f(x) + g(x) ± ∞ ± ∞± ∞ =± ∞
(+ ∞ ) – (+ ∞ )
02 + ∞ + ∞ f(x) – g(x) ?
é indeterminação
03 + ∞ k f(x) + g(x) + ∞ + ∞ +k=+ ∞
04 – ∞ k f(x) + g(x) – ∞ – ∞ +k=– ∞
05 + ∞ + ∞ f(x) . g(x) + ∞ (+ ∞ ).(+ ∞ ) = + ∞
06 + ∞ – ∞ f(x) . g(x) – ∞ (+ ∞ ).(– ∞ ) = – ∞
07 + ∞ k>0 f(x) . g(x) + ∞ + ∞ .k=+ ∞,k>0
08 + ∞ k<0 f(x) . g(x) – ∞ + ∞ .k=– ∞,k<0
± ∞ .0
09 ± ∞ 0 f(x) . g(x) ?
é indeterminação
10 k ± ∞ f(x) / g(x) 0 k/± ∞ =0
± ∞ /± ∞
11 ± ∞ ± ∞ f(x) / g(x) ?
é indeterminação

12 k>0
0+ f(x) / g(x) + ∞ k/ 0+ =+ ∞,k>0
13 + ∞ 0+ f(x) / g(x) + ∞ + ∞ / 0+ =+ ∞
14 k>0
0− f(x) / g(x) – ∞ k/ 0− =– ∞,k>0
15 + ∞ 0− f(x) / g(x) – ∞ + ∞ / 0− = – ∞
0/0
16 0 0− f(x) / g(x) ?
é indeterminação

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168 © Análise Matemática

Para maiores detalhes sobre limites infinitos, limites no in-


finito, resultados associados e mais exemplos ilustrativos, você
pode consultar a obra de Ávila (2006, p. 152-160), bem como
Fleithold (1994, p. 78-97).

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
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(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
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Análise Matemática– Vídeos Complementares – Complementar 3.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES


Nesta unidade, falamos sobre as indeterminações, das quais
temos de fugir para realizar algumas operações envolvendo fun-
ções e limites. Cabe ressaltar que esse tipo de procedimento é
relevante para o professor também discutir a parte de fatoração
envolvendo polinômios. Assim, você, como futuro professor de
Matemática, poderá sempre ser indagado com relação a algu-
mas perguntas simples relacionadas aos aspectos colocados an-
teriormente, em que, às vezes, podemos ficar em dúvida de como
responder. Por exemplo, você poderia ser indagado da seguinte
forma: “O número 0 é um número natural?” “Qual é o valor da
divisão de 2 por zero?” “Professor, como explicar que (-1). (-1) =
0
1?” “Qual o valor de 0 ?” Dessa forma, na referência a seguir, o
professor Elon explica de uma maneira fácil e concisa como você
poderia responder tais questões instigando cada vez mais os seus
alunos. Note que são questões muito simples e que aparecem co-
mumente na vida do professor de matemática do Ensino Médio e
Fundamental.
© U3 - Limites de Funções 169

• SBM. Homepage. Disponível em: <www.sbm.org.br>.


Acesso em: 23 abr. 2014.
• LIMA, E. L. Conceitos e Controvérsias. Disponível em:
<http://www.rpm.org.br/indice.pdf>. Acesso em: 14 jan.
2014.
Várias outras indagações curiosas que são feitas pelos alunos
dizem respeito a noção de logaritmo, função logarítmica e função
exponencial. Por exemplo, segundo Wagner, muitos professores já
estiveram na ocasião de ouvir de algum aluno curioso uma per-
gunta do tipo: “Qual número é maior: 99100 ou 10099 ?” A resposta
é simples se o aluno conhece a função logarítmica, a função expo-
nencial e a noção de função crescente e se o professor tem à mão
uma máquina de calcular científica. Dessa maneira, aqui podemos
verificar, mais uma vez, uma série de conceitos trabalhados com
as funções elementares da Matemática, bem como se familiarizar
com mais demonstrações envolvendo tais funções.
b a
• WAGNER, E. A. Os números a e b . Disponível em:
<http://www.rpm.org.br/indice.pdf>. Acesso em: 18 jan.
2014.

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder às questões propostas a seguir para fixar
com mais propriedade os aspectos teóricos que foram propostos
nesta unidade. É muito importante que você pratique a utilização
das definições e resultados discutidos anteriormente na realização
de novos problemas simulados, principalmente, quando falamos
na parte da determinação de limites de funções reais.
1) Qual o significado de falarmos que lim f ( x) = L ?
x→ a

2) Utilizando a definição formal de limite, prove que: lim(2 x − 5) =


3
x→ 4

3) Consideremos a função y = f ( x) definida por:

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170 © Análise Matemática

2 x + 4, se x ≤ 1
f ( x) = 
8 x − 2, se x > 1
Pede-se:

a) Calcule lim f ( x) .
x →1+

b) Calcule lim f ( x) .
x →1−

c) Dessa forma, o limite bilateral lim f ( x) existe? Justifique a sua res-


x →1
posta.
4) Determine cada um dos limites a seguir, utilizando as propriedades
envolvendo os limites infinitos.
3
a) lim(5 x + 3 x + 6)
x →∞

b) lim (4 x5 − 4 x 4 − 6 x + 3)
x →−∞

x2 − 4x + 1
c) lim
x →∞ 2 x 5 − 3 x 2 − 8

x+3 − 3
5) Determinar lim .
x→ 0 x
Gabarito
1) Em verdade, significa dizermos que quando x se aproxima de a , temos
que as imagens de f ( x) se aproximam de L .

2) Neste caso, notemos inicialmente que, de acordo com a definição formal de


limite, devemos mostrar que, para todo ε > 0 , existe um δ > 0 , tal que
| (2 x − 5) − 3 | < ε sempre que 0 < | x − 4 | < δ . Além disso, salientamos
que a averiguação com relação à desigualdade que envolve o número po-
sitivo ε nos possibilita uma chave para encontrarmos o δ . Observemos,
então, que as seguintes desigualdades são equivalentes:
| (2 x − 5) − 3 | < ε
| 2 x− 5 − 3 | < ε
© U3 - Limites de Funções 171

| 2x 8|
2. | x − 4 | < ε
ε
| x− 4 |<
2
Logo, a última desigualdade acima nos sugere a escolha para o número δ . Ou
ε
seja, tomando δ= , vem que:
2
| (2 x − 5) − 3 | < ε sempre que 0 < | x − 4 | < δ .
Portanto, concluímos que lim(2 x − 5) = 3.
x→ 4

3) Neste caso, temos que:


a) Aqui, notamos que quando x tende a 1 pela direita (i.e., valores de x
maiores do que 1) f ( x=
) 8 x − 2 , logo:

lim f ( x) = lim(8 x − 2) = 8.1 − 2 = 6


x →1+ +
x →1

b) Aqui, notamos que quando x tende a 1 pela esquerda (i.e., valores de x


menores do que 1) f ( x=
) 2 x + 4 , logo:
lim f ( x) = lim(2 x + 4) = 2.1 + 4 = 6
x →1− −
x →1

c) Como lim
= f ( x) lim
= f ( x) 6 , segue que existe lim f ( x) e é
x →1+ −
x →1 x →1

igual a 6, ou seja, lim f ( x) = 6 .


x →1
4) Aqui, temos que:
a) lim(5 x3 + 3 x + 6) =lim(5 x 3 ) =

x →∞ x →∞

b) lim (4 x5 − 4 x 4 − 6 x + 3) = lim (4 x 5 ) = − ∞
x →−∞ x →−∞

x2 − 4x + 1 x2 1
c) lim 5 2
= lim = 5
= 0
x →∞ 2 x − 3 x − 8 x →∞ 2 x 2 x3

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172 © Análise Matemática

5) Vamos resolver esta questão utilizando o artifício da racionalização do nu-


merador da função, dessa forma, temos que:

x+3 − 3 ( x + 3 − 3) ( x + 3 + 3)
lim lim
= .
x→ 0 x x→ 0 x ( x + 3 + 3)
( x + 3) 2 − ( 3) 2 x +3−3
lim= lim =
x → 0 x.( x + 3 + 3) x → 0 x.( x + 3 + 3)

1 1 3 3
lim = = .
x→ 0 ( x + 3 + 3) 2 3 3 6

5. CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final desta unidade, na qual você teve a opor-
tunidade de estudar os principais conceitos e resultados da teoria
sobre os limites de funções por meio da apresentação das proprie-
dades características e resultados fundamentais.
Na nossa próxima unidade, trabalharemos com as noções de
continuidade e derivação, ou seja, abordaremos as principais pro-
priedades e resultados fundamentais sobre as funções contínuas e
funções deriváveis. Cabe ressaltar, ainda, que diversos resultados
importantes sobre funções contínuas e deriváveis já são bem con-
hecidos por nós, por exemplo, o fato de que toda função derivável
em x = a é contínua no ponto x = a .

6. E-REFERÊNCIAS
IME. Funções de uma variável real. Disponível em: <http://magnum.ime.uerj.br/~calculo/
Livro/lim.pdf>. Acesso em: 28 out. 2013.
MATEMATICA ESSENCIAL. Conjuntos, funções, limites, continuidade, derivadas e integrais.
Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/calculo/limites/
limites.htm>. Acesso em: 28 out. 2013.
______. Ideia intuitiva de limite. Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/
matematica/superior/calculo/limites/limites.htm#lim02>. Acesso em: 28 out. 2013.
______. Limite de uma função real. Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/
matematica/superior/calculo/limites/limites.htm#lim03>. Acesso em: 28 out. 2013.
______. Limites infinitos. Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/
superior/calculo/limites/limites.htm#lim04>. Acesso em: 28 out. 2013.
© U3 - Limites de Funções 173

______. Limites no infinito. Disponível em: <http://pessoal.sercomtel.com.br/


matematica/superior/calculo/limites/limites.htm#lim05>. Acesso em: 28 out. 2013.
MUNDO EDUCAÇÃO. Limite de uma função. Disponível em: <http://www.
mundoeducacao.com/matematica/limite-uma-funcao.htm>. Acesso em: 28 out. 2013.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000. 
______.  Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Edgard
Blucher, 2001.
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher,
1999. v. 2. Séries.
CANTOR, G. Contributions to the founding of the theory of transfinite numbers.
New York: Dover, 1955.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
EDWARDS, Jr. C. H.; PENNEY, D. E. Cálculo com Geometria Analítica. Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997. v. 1
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1996.
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. Patarra. 3. ed. São
Paulo: Harbra, 1994. v. 2.    
LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: IMPA, 1989. v. 1. (Coleção Matemática
Universitária).
SIMMONS, G. F.  Cálculo com geometria analítica.  Tradução de Seiji Hariki. São Paulo:
Makron Books, 1987. v. 2. 
THOMAS, G. B. Cálculo. São Paulo: Addison Wesley, 2003. v. 1.

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Funções Contínuas e
Funções Deriváveis 4
Objetivos
• Compreender as funções contínuas.
• Identificar e aplicar a continuidade de uma função.
• Relacionar o contexto de continuidade com o de limite.
• Identificar e compreender as funções contínuas em conjuntos compactos.
• Compreender a continuidade uniforme.
• Compreender a derivada de uma função.
• Identificar e aplicar a noção de derivada de uma função na resolução de pro-
blemas simulados.
• Relacionar o contexto de derivada com o de limite.
• Identificar e aplicar as funções deriváveis e crescimento local.

Conteúdos
• Funções contínuas.
• Propriedades das funções contínuas.
• Funções contínuas num intervalo.
• Funções contínuas em conjuntos compactos.
• Teorema de Weierstrass.
• Função uniformemente contínua.
• A noção de derivada.
• Interpretação geométrica.
• Derivadas laterais.
• Regras operacionais.
• Derivada e crescimento local.
• A Regra da Cadeia.
• Máximos e mínimos.
• Funções deriváveis num intervalo.
176 © Análise Matemática

• Derivação implícita.
• A Regra de L’Hospital.

Orientações para Estudo da Unidade


A seguir, serão apresentadas a você algumas orientações que o auxiliarão no es-
tudo desta unidade:

1) Observe com cuidado a definição formal de uma função contínua f definida


nos reais valores reais. Inicialmente, é importante entender a noção intuitiva
para depois compreender a definição formal.

2) Refaça os exemplos que serão apresentados no decorrer desta unidade so-


bre as funções contínuas e funções deriváveis, para familiarizar-se com as
notações e símbolos.

3) Sempre tenha em mãos um pequeno resumo sobre as regras operatórias de


derivadas das funções elementares, isso o ajudará na compreensão desta
unidade.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 177

1. INTRODUÇÃO
Nesta unidade, você estudará os aspectos teóricos relacio-
nados à interpretação geométrica de uma dada função, ou seja,
aqui surge a noção de continuidade, ou função contínua. Exem-
plos clássicos de funções contínuas que podemos visualizar sem
grandes dificuldades são as funções polinomiais, ou seja, àquelas
caracterizadas por polinômios.

Ressaltamos que, quando trabalhamos com a definição de


lim f ( x) , na verdade, analisamos o comportamento da função
x→ a
f ( x) para valores de x próximos de a , mas diferentes de a , isto é,
para x ≠ a . Em alguns exemplos discutidos anteriormente, vimos
que lim f ( x) pode existir, mesmo que f não seja definida em a .
x→ a

Se f está definida em a e lim f ( x) existe, pode ocorrer que


x→ a

esse limite seja distinto de f (a ) , i.e., lim f ( x) ≠ f (a) . Quando


x→ a
lim f ( x) = f (a) , falaremos que f é uma função contínua no
x→ a
ponto x = a , em termos geométricos, isso significa que o seu
gráfico não possui nenhum "furo" ou "salto". Em verdade, o
conceito de continuidade é um dos pontos centrais da Topologia.
Contrariamente, vamos falar que uma função é descontínua no
ponto x = a quando o seu gráfico sofre uma espécie de “furo” ou
“salto”. A Figura 1 apresenta uma função descontínua no ponto
x = a.

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178 © Análise Matemática

Figura 1 Um exemplo de função que não é contínua num ponto x = a.

Matematicamente falando, o século 17 já reunia condições


para a criação do Cálculo Diferencial e Integral como disciplina
independente da Geometria; a Álgebra Simbólica e a Geometria
Analítica, ou seja, produtos recentes, propiciavam esse avanço.
Por outro lado, os grandes problemas científicos da época reque-
riam um instrumento matemático mais ágil e abrangente do que o
“método da exaustão”.
Tal método, creditado a Eudóxio, tinha como base a
proposição:
Se de uma grandeza subtrai-se uma parte não menor que sua
metade, do restante outra parte não menor que sua metade, e
assim por diante, numa determinada etapa do processo chega-se
a uma grandeza menor que qualquer outra espécie fixada a priori
(ÁVILA, 2006, p.140).

Esse método representava o expediente grego para evitar


processos infinitos dos quais desconfiavam. E ninguém o manejou
com tanta elegância e mestria como Arquimedes.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 179

Em verdade, esses problemas eram principalmente quatro:


1) Achar velocidade e aceleração de um móvel, conhecida a
lei algébrica relacionando espaço percorrido e tempo (e
vice-versa).
2) Encontrar tangentes a curvas (questões de Óptica, por
exemplo). 
3) Calcular máximos e mínimos (por exemplo, qual a maior e
qual a menor distância de um planeta ao sol?).
4) Calcular comprimentos de curvas, áreas, volumes e
centros de gravidade, para os quais o método de exaustão
se tornava muito engenhoso (UNESP, 2014).

Observe a Figura 2:

Figura 2 Os quatro problemas clássicos do século 17.

Segundo Ávila (2006, p. 175), o conceito de derivada foi in-


troduzido em meados dos séculos 17 e 18 em estudos de proble-
mas de Física ligados ao estudo dos movimentos. Entre outros,
destacam-se nesse estudo o físico e matemático inglês Issac New-
ton (1642-1727), o filósofo e matemático Gottfried Leibniz (1646-
1716) e o matemático francês Joseph-Louis Lagrange (1736-1813),
que, em verdade, nasceu em Turim, na Itália, mas viveu pratica-
mente toda sua vida na França. Observe a Figura 3:

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180 © Análise Matemática

Figura 3 Nomes importantes para o desenvolvimento das derivadas.

Salientamos que as ideias preliminares introduzidas na Física


foram aos poucos sendo incorporadas em outras áreas do conhe-
cimento, por exemplo, na Economia para estudo sobre receitas
marginais (Figura 4).

Figura 4 A aplicabilidade do conceito de derivadas em Administração e Economia.

Vale ressaltar que quando falamos em derivada ou em fun-


ções deriváveis, é que esta é interpretada como sendo a inclinação
da reta tangente ao gráfico de uma função no ponto P(x; y), ou
ainda, como sendo a taxa de variação da função em cada ponto x
. Uma ideia simples do que significa a reta tangente em um ponto
P de uma circunferência é uma reta que toca a circunferência exa-
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 181

tamente em um ponto P e é perpendicular ao segmento OP, como


você pode observar na Figura 5.

Figura 5 A ideia do significado da reta tangente.

Ao tentar estender essa ideia sobre reta tangente a uma


curva qualquer e tomarmos um ponto P sobre a curva, essa
definição perde o sentido, como você verá na Figura 6.

Figura 6 A ideia do significado da reta tangente.

Como podemos observar, nessas curvas, consideramos a


reta tangente à curva no ponto P. Na primeira curva, a reta corta
a curva em outro ponto Q. Na segunda curva, a curva está muito
achatada perto do ponto P e a suposta reta tangente toca a curva
em mais do que um ponto. Na terceira curva, a reta também é
tangente à curva no ponto Q.
Com base neste contexto, surge um dos limites mais impor-
tantes da Matemática e áreas afins, que é exatamente o limite que
define a noção de derivada de uma função y = f ( x) , ou ainda,
que caracteriza a inclinação da reta tangente ao gráfico da função
em questão no ponto de abscissa x .
No decorrer desta unidade discutiremos as relações impor-
tantes entre funções contínuas e funções deriváveis. Assim, você

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182 © Análise Matemática

pode se perguntar: “Toda função contínua no ponto x = a é uma


função derivável no ponto x = a ?” Ou de outra forma: “Toda fun-
ção derivável no ponto x = a é uma contínua neste ponto?” Esta
é uma questão fundamental que devemos responder neste con-
texto e, para tal, vamos inicialmente discutir o comportamento
da função módulo de x , ou seja, da função f ( x) = | x | no ponto
x = 0 (zero). Em verdade, estaremos mostrando que toda função
derivável num ponto é contínua naquele ponto, porém, a recípro-
ca não é verificada. Lembremos que a função valor absoluto de x
no ponto x = 0 tem um gráfico com uma espécie de bico, logica-
mente, neste ponto, ela não admitirá reta tangente, ou ainda, não
será derivável. Por isso, temos que: continuidade não implica em
derivável.
 x, se x ≥ 0
O gráfico da função módulo de x , f ( x) = | x | = 
é mostrado na Figura 7 : − x, se x < 0

Figura 7 O gráfico da função f ( x) = | x | .

2. CONTEÚDO BÁSICO DE REFERÊNCIA


O Conteúdo Básico de Referência apresenta, de forma sucin-
ta, os temas abordados nesta unidade. Para sua compreensão in-
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 183

tegral, é necessário o aprofundamento pelo estudo do Conteúdo


Digital Integrador.

2.1. FUNÇÃO CONTÍNUA: DEFINIÇÃO FORMAL E PRIMEIRAS


PROPRIEDADES

Inicialmente, vamos definir formalmente a continuidade de


uma função e descrever as principais propriedades envolvendo
esse conceito.
Definição 1 – função contínua em x = a (ELON, 1989, p. 74):
Dizemos que uma função f : X →  , definida no conjunto
X ⊂  , é continua no ponto a ∈ X quando, para todo ε > 0
dado arbitrariamente, podemos obter δ > 0 tal que x ∈ X e
| x − a | < δ impliquem | f ( x) − f (a ) | < ε .
Em termos matemáticos, falar que f é contínua no ponto x = a
significa dizermos que:
∀ε > 0, ∃δ > 0; x ∈ X , | x − a | < δ ⇒ | f ( x) − f (a ) | < ε

Definição 2 – Função Descontínua em x = a (ELON, 1989,


p. 74):
Contrariamente, dizemos que uma função :X →  é
descontínua no ponto a ∈ X quando não é contínua nesse ponto.
Isto quer dizer que existe ε> 0 com a seguinte propriedade:
para todo δ > 0 podemos achar xδ ∈ X tal que | xδ − a |< δ
e | f ( xδ ) − f ( a ) | ≥ ε .

Falando de uma maneira simplificada, podemos caracterizar


que uma função f definida em um subconjunto X da reta real
é contínua no ponto x = a , se as três condições a seguir são
satisfeitas:
a) f (a) é definida no ponto a , i.e., existe f (a) ;
b) lim f ( x) existe;
x→ a

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184 © Análise Matemática

c) lim f ( x) = f (a) .
x→ a
Observe a Figura 8:

Figura 8 Condições necessárias para que f seja contínua em a.

Além disso, podemos perceber que se uma dessas três


condições não for satisfeita, falaremos que f é descontínua em
x = a . Como já mencionado anteriormente, f sendo contínua em
x = a nos diz também que o seu gráfico não possui nenhum tipo
de furo ou salto nesse ponto.
Vejamos a ilustração geométrica, na Figura 9, de alguns
exemplos envolvendo funções descontínuas, ou seja, funções que
possuem furos ou saltos nos seus gráficos.

Fonte: Elon (1989, p. 74).


Figura 9 Exemplos de funções descontínuas no ponto a.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 185

Exemplo (função contínua): a função do primeiro grau


) 3 x + 1 é contínua no ponto x = 0 , pois lim(3x + 1)= f (0)= 1 .
f ( x=
x→ a
x−4
Exemplo (função contínua): a função racional f ( x) = 2
x +2
é contínua no ponto x = 1 , já que:
1− 4 −3
I. No ponto a = 1 , temos que: f (1) = 2
= = −1 .
(1) + 2 3
x − 4 −3
II. lim f ( x) existe, já que lim f ( x) = lim = = −1 .
x→ 1 x→ 1 x→ 1 x2 + 2 3
III. Além disso, percebemos claramente de acordo com os cálculos anteriores
que: lim f ( x) = f (1) .
x→ 1

Portanto, concluímos que a função f ( x) é contínua em


a = 1.
Exemplo (função descontínua): consideremos a função
x2 −1
racional f ( x) = . Observemos que a função f ( x) não está
x −1
definida para x = 1 , ou seja, não existe o valor de f (1) . Portanto, a
função f ( x) não satisfaz a condição (i) da definição de continuidade
x2 −1
e, dessa maneira, concluímos que a função f ( x ) = não é
x −1
contínua em a = 1 .

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186 © Análise Matemática

Veja a Figura 10.

x2 −1
Figura 10 O gráfico da função f ( x) = .
x −1

Exemplo (função descontínua): seja a função g definida por


 x2 −1
, se x ≠ 1
dupla sentença g ( x) =  x − 1 , observemos que, neste
1, se x = 1

caso, existe g (1) , ou seja, g (1) = 1 . Por outro lado, notemos que:
x2 −1 ( x + 1).( x − 1)
lim = lim = lim( x + 1) = 1 + 1 = 2
x→ 1 x − 1 x→ 1 x −1 x→ 1

Ou seja, temos que lim g ( x) ≠ g(1) , logo não satisfaz a


x→ 1
condição (iii) da definição de continuidade e, portanto, concluímos
que g (x) não é contínua no ponto a = 1 .
É importante que você saiba que esse tipo de ponto de
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 187

descontinuidade da função g (x) deste exemplo é o que chamamos


de descontinuidade removível. Em outras palavras, o ponto x = 1
é um ponto de descontinuidade da função g , que pode ser
removida.
Exemplo (função descontínua): consideremos a função
1
f ( x) = . Observemos que a função f ( x) não é contínua
( x − 2) 2
no ponto a = 2 , já que a função f ( x) não está definida para x = 1 ,
ou ainda, não existe f (2) . Dessa forma, a função f ( x) não satis-
faz a condição (i) da definição de continuidade e, portanto, con-
1
cluímos que a função f ( x) = 2
não é contínua em a = 2
(Figura 11). ( x − 2)

1
Figura 11 Gráfico da função f ( x) = gerado pelo programa Winplot.
( x − 2) 2

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188 © Análise Matemática

Exemplo (função descontínua): consideremos a função g


 1
 , se x ≠ 2
definida por dupla sentença g ( x) =  ( x − 2) 2 .
3, se x = 2

Observemos que, neste caso, existe g (2) , ou seja, g (2) = 3 .
Embora a função g ( x) esteja definida para x = 2 , temos que
lim g ( x) ≠ g(2) , logo não satisfaz a condição (iii) da definição de
x→ 2

continuidade e, portanto, concluímos que g ( x) não é contínua no


ponto a = 2 (Figura 12).

lim g ( x) = lim− g ( x) = + ∞
x → 2+ x→ 2
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 189


g(2) = 3

 1
 , se x ≠ 2
Figura 12 Gráfico da função g ( x) =  ( x − 2) 2 gerado pelo programa
Winplot. 3, se x = 2

Definição 3 – Função Contínua em um Conjunto X: dizemos
que a função f : X →  é uma função contínua no conjunto X
quando f é contínua em todos os pontos a ∈ X (ELON, 1989, p.
75).
Exemplo (função contínua): todo polinômio p :  →  é
uma função contínua.
p( x)
Exemplo (função contínua): toda função racional
q( x)
(quociente de dois polinômios) é contínua no seu domínio, o qual
é o conjunto dos pontos x tais que q ( x) é diferente de zero (i.e.,

Claretiano - Centro Universitário


190 © Análise Matemática

q ( x) ≠ 0 ), ou seja, é descontínua no ponto 0 e é contínua nos


demais pontos da reta.
Exemplo (função contínua): a função f :  →  , dada por
1
g ( x) = x.sen   se x ≠ 0 e g (0) = 0 é contínua em toda a reta.
x
Exemplo (função contínua): a função f :  →  , definida
por f (x) = 0 para x racional e f (x) = 1 para x irracional, é
descontínua em todos os pontos da reta, porém, suas restrições a
 e a I=  −  são contínuas porque são constantes.
Para maiores detalhes sobre os aspectos introdutórios das
funções contínuas, resultados associados e mais exemplos ilustra-
tivos, você pode consultar a obra de Ávila (2006, p. 161-173), as-
sim como Leithold (1994, p. 98-106) e Figueiredo (1996, p. 60-72).

2.2. COMO VISUALIZAR FUNÇÕES CONTÍNUAS EM INTERVALOS


DA RETA REAL?

Sabemos que os intervalos são subconjuntos especiais da


reta real, assim, é de nosso interesse, neste momento, trabalhar
com a noção de continuidade de funções em intervalos da reta.
Para tal, discutiremos inicialmente um importante resultado de-
nominado Teorema do Valor Intermediário, que é descrito logo a
seguir. Ressaltamos ainda, que esse resultado é um teorema do
tipo Teoremas de Existência.
Teorema 1 – Teorema do Valor Intermediário: seja
f :[a, b] →  contínua. Se f (a) < d < f (b) , então existe c ∈ (a, b)
tal que f (c) = d (ELON, 1989, p. 77).
Para maiores detalhes sobre a prova desse resultado, você
pode realizar um pesquisa na obra de Elon (1989, 77). Além disso,
como consequência direta do teorema anterior, temos o seguinte
resultado, que nos dá uma primeira propriedade envolvendo fun-
ções contínuas definidas em um intervalo I da reta real.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 191

Teorema 2: se I é um intervalo, f : I →  é contínua, então


f ( I ) é um intervalo. Elon (1989, p. 77).
Exemplo (aplicação do Teorema do Valor Intermediário)
(ELON, 1989, p. 77): vamos mostrar que todo polinômio p :  →  ,
de grau ímpar, possui alguma raiz real.
Prova: consideremos p(x) um polinômio de grau ímpar, ou
seja, p(x) pode ser escrito na forma:
p ( x) = a0 + a1.x + a2 .x 2 + ... + an .x n com n ímpar e an ≠ 0 .
Sem perda de generalidade, vamos supor an > 0 . Assim, se
colocarmos o termo an .x n em evidência, podemos reescrever o
polinômio p(x) como:
p ( x) = an .x n .r ( x) ,
onde
a0 1 a1 1 a 1
r=
( x) . n + . n −1 + ... + n −1 . + 1
an x an x an x

Assim, visualizamos que:


lim
= r ( x) lim
= r ( x) 1
x →+ ∞ x →−∞
(Por quê?).
Então,
lim p ( x) = lim an .x n = + ∞ e lim p ( x) = lim an .x n = − ∞
x →+∞ x →+∞ x →−∞ x →−∞

(porque n é ímpar).
Portanto, o intervalo p () é ilimitado inferior e superior-
mente, isto é, p () =  . Isso nos diz que p :  →  é uma fun-
ção sobrejetiva, de acordo com a definição apresentada na Uni-
dade 1. Dessa maneira, em particular, deve existir c ∈  tal que
p (c) = 0 , que significa, em outras palavras, que p ( x) admite uma
raiz real. C. q. d.

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192 © Análise Matemática

Para finalizarmos o raciocínio utilizado no exemplo anterior,


é importante ressaltar que um polinômio de grau par, por exem-
) x 2 + 1 , pode não admitir uma raiz real.
plo, p ( x=
Exemplo (aplicação do Teorema do Valor Intermediário):
Seja f :[a, b] →  uma função contínua tal que f (a) ≤ a
e b ≤ f (b) . Nestas condições, existe pelo menos um número
c ∈ [a, b] tal que f (c) = c . Este ponto c em particular recebe o
nome de ponto fixo. Para visualizarmos tal situação, basta conside-
rarmos a função g :[a, b] →  , definida por g ( x)= x − f ( x) ,
é contínua, com g ( a ) ≥ 0 e g (b) ≤ 0 . Pelo Teorema do Valor In-
termediário, deve existir c ∈ [a, b] tal que ϕ (c) = 0 , que é equi-
valente a escrevermos f (c) = c . Este resultado que acabamos
de justificar é a versão unidimensional do conhecido "Teorema do
Ponto Fixo de Brouwer" (ELON, 1989, p. 78).

Definição 4 – ponto fixo: um ponto x ∈ X tal que f ( x) = x


é denominado ponto fixo da função f : X →  (ELON, 1989, p.
78).
−1
Sabemos que uma função bijetiva f e sua inversa f tem
uma propriedade geométrica bastante interessante, que é a sime-
tria com relação a bissetriz dos quadrantes ímpares. Mas, quan-
do falamos em continuidade, será que existe alguma relação? Em
verdade, quando consideramos uma função bijetiva f : I → J ,
entre intervalos, sendo esta contínua, então a sua função inversa
f −1 : J → I é também contínua. Esse fato está sendo colocado no
Teorema 3, a seguir.
Teorema 3: seja I ⊂  um intervalo. Toda função contínua
injetiva f : I →  é monótona e sua inversa g : J → I , definida
no intervalo J = f ( I ) , é contínua (ELON, 1989, p. 79).
Exemplo (aplicação do Teorema 3): para todo n ∈  , a fun-
ção g :[0, + ∞) → [0, + ∞) , definida por g ( x) = n x , é uma função
contínua.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 193

Exemplo (aplicação do Teorema 03): no caso particular do


n
exemplo acima, quando n é ímpar, f :  →  dada por f ( x) = x
é uma bijeção contínua e sua inversa g :  →  , ainda indicada
com a notação g ( x) = n x , é contínua em toda a reta real. Lembre-
mos que, quando falamos em números pares e ímpares, definimos
estes como subconjuntos dos números naturais.
Definição 5 – homeomorfismo: consideremos X ⊂  e
Y ⊂  . Um homeomorfismo entre X e Y é uma bijeção contínua
f : X → Y cuja inversa f −1 : Y → X é também contínua.
Exemplo (aplicação do Teorema 3): o Teorema 3 nos diz
que se I é um intervalo, então toda função contínua e injetiva
f : I →  é um homeomorfismo entre I e o intervalo J = f ( I ) .
Para maiores detalhes sobre as funções contínuas em inter-
valos, resultados associados e mais exemplos ilustrativos, leia ÁVI-
LA (2006, p. 161-173), bem como Leithold (1994, p. 107-135) e
Figueiredo (1996, p. 60-72).

2.3. CONJUNTOS COMPACTOS: COMO CARACTERIZAR CONTI�


NUIDADE?

Podemos comentar que diversos problemas relacionados à


Matemática consistem na determinação de pontos de um conjun-
to X nos quais uma dada função real f : X →  assume seu valor
máximo ou seu valor mínimo, ou seja, caracterização de pontos
de máximos e mínimos. Além disso, é importante ressaltar que
várias outras áreas do conhecimento, por exemplo, a Engenharia,
demandam esse tipo de abordagem.
Quando se fala em resolver esses tipos de problema, é in-
teressante observarmos que, inicialmente, devemos averiguar se
tais pontos existem ou não. Só para entendermos o que estamos
falando, quando estudamos uma função f , esta pode ser ilimi-
tada superiormente e, consequentemente, não assumir um valor
máximo, ou de outro modo, ela pode ser ilimitada inferiormente

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194 © Análise Matemática

e não possuir um valor mínimo. É interessante também comentar-


mos que, mesmo a função f sendo limitada, não há uma assegu-
ração de que ela terá um valor máximo ou mínimo ou nenhum dos
dois, no conjunto X .
Exemplo (máximos e mínimos): vamos considerar X = (0, 1)
e f : X →  dada por f ( x) = x . Então, a imagem do interva-
lo aberto (0, 1) é o intervalo f (X) = (0, 1) . Dessa maneira, po-
demos observar que para todo x ∈ X existem x ', x '' ∈ X com
f ( x ') < f ( x) < f ( x '') . O que isto nos diz? Em verdade, isto signifi-
ca que, para nenhum ponto x ∈ X , o valor f ( x) é o maior nem o
menor que f assume no intervalo aberto X = (0, 1) .
Exemplo (máximos e mínimos): consideremos agora a função
1
f definida por f :  → , f ( x) = . Temos que 0 < f ( x) ≤ 1
1 + x2
para todo x ∈  . Como f (0) = 1 , vemos que f (0) é o valor máxi-
mo de f ( x) para todo x ∈  . Porém, percebemos que não existe
x real tal que f ( x) seja o menor valor de f . De fato, se existe um
ponto x com x > 0 , basta tomarmos x ' > x para ter f ( x ') < f ( x) .
Contrariamente, se temos o ponto x com x < 0 , tomamos x ' < x
e tem-se novamente f ( x ') < f ( x) . A representação geométrica
da função deste exemplo é mostrada na Figura 13.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 195

1
Figura 13 Gráfico da f ( x) =
gerado pelo programa Winplot.
1 + x2
O Teorema a seguir nos dá a existência de valores máximos e
mínimos de uma função contínua quando seu domínio é um con-
junto compacto, ou seja, quando ela está definida em um compac-
to. Vale relembrar que o conjunto X é dito compacto quando é
limitado e fechado.
Teorema 4 – Teorema de Weierstrass: seja f : X →  con-
tínua no conjunto compacto X ⊂  . Dessa forma, existem núme-
ros reais x0 e x1 tais que f ( x0 ) ≤ f ( x) ≤ f ( x1 ) para todo x ∈ 
(ELON, 1989, p. 82).
Em verdade, o Teorema de Weierstrass é consequência dire-
ta do Teorema 5. Para maiores detalhes sobre as provas relaciona-
das a esses resultados, pesquise em Elon (1999, p. 81-83) e Ávila
(2006, p. 164-177).
Teorema 5: A imagem f ( X ) de um conjunto compacto
X ⊂  por uma função contínua f : X →  é um conjunto com-
pacto (ELON, 1989, p. 82).
Corolário 1: se X ⊂  é um conjunto compacto, então toda
função contínua f : X →  é limitada, isto é, existe c > 0 tal que
| f (x) | ≤ c para todo x ∈ X (ELON, 1989, p. 82).

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196 © Análise Matemática

Exemplo (funções contínuas em conjuntos compactos): a


1
função f : (0,1] →  , definida por f ( x) = , é contínua (note
x
que x = 0 não faz parte de seu domínio), porém, não é limitada.
Salientamos que tal fato ocorre exatamente por conta de seu
domínio, o intervalo 0,1] , não ser um conjunto compacto.
Teorema 6: se X ⊂  é compacto, então toda bijeção
contínua f : X → Y ⊂  tem inversa contínua f −1 : Y → X
(ELON, 1989, p. 82).
Exemplo (funções contínuas em conjuntos compactos): o
1 1
conjunto Y = {0,1, ,.., ,...} é compacto, e a bijeção f :  → Y ,
2 n
1
definida por= f (1) 0,=f ( n) se n > 1 , é contínua; porém,
n −1
sua inversa f −1 : Y →  é descontínua no ponto 0 . Notemos que
no Teorema 06 a compacidade de X não pode ser substituída
pela de Y .
Definição 6 – função uniformemente contínua: uma função
f : X →  é dita uniformemente contínua no conjunto X quan-
do, para todo ε > 0 dado arbitrariamente, pode-se obter δ > 0
tal que x, y ∈ X , | y − x | < δ implicam | f ( y ) − f ( x) | < ε (ELON,
1989, p. 83).
De acordo com a definição anterior, podemos observar que
uma função uniformemente contínua f : X →  é contínua em
todos os pontos do conjunto X. Porém, devemos ficar atentos, pois
a recíproca é falsa.

Exemplo (função uniformemente contínua): uma função


f : X →  é dita lipschitziana quando existe uma constante
k > 0 (chamada constante de Lipschitz da função f) tal que
| f ( x) − f (y) | ≤ k . | x − y | sejam quais forem x, y ∈ X . A fim de
que f : X →  seja lipschitziana é necessário e suficiente que
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 197

f ( y ) − f ( x)
o quociente seja limitado, isto é, que exista uma
y−x
f ( y ) − f ( x)
constante k > 0 tal que x, y ∈ X , x ≠ y ⇒ ≤k.
y−x
Dessa forma, temos a seguinte afirmação: toda função
lipschitziana f : X →  é uniformemente contínua.
Prova: neste caso, temos por hipótese que a função é lips-
ε
chitziana, assim, dado ε > 0 , tomando δ = . Dessa forma:
k
x y ∈ X , | y − x |< ⇒ | f ( x) − f (y) | ≤ . | − y | .
.
Ou seja, segue que f é uniformemente contínua. C. q. d.
Exemplo (função uniformemente contínua): se f :  →  é
um polinômio de grau 1, isto é, f (=
x) a .x + b , com a ≠ 0 , então f
é lipschitziana com constante k = |a|, já que:
| f (y) − f ( x) | ≤ | a. y + b − (ax +=
b) | | a | . | y − x | .
Portanto, esta é uniformemente contínua.
De acordo com Elon (1989, p. 84), cabe ressaltarmos ainda
quatro observações importantes acerca das funções uniforme-
mente contínuas, que são:
• A fim de que f : X →  seja uniformemente
contínua é necessário e suficiente que, para todo par de
sequências ( xn ), ( yn ) em X com lim ( yn − xn ) =
0,
tenha-se lim[ f ( yn ) − f ( xn )] =
0.
• Seja X ⊂  um conjunto compacto. Sendo assim,
toda função contínua f : X →  é uniformemente
contínua.

• Toda função f : X →  , uniformemente contínua


num conjunto limitado X, é uma função limitada.

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198 © Análise Matemática

• Sef : X →  é uniformemente contínua então, para


cada a ∈ X (mesmo que a não pertença a X ), existe
lim f ( x) .
x→a

2.4. INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA DERIVADA: A INCLINA�


ÇÃO DA RETA TANGENTE

Antes de definirmos formalmente o conceito de derivada de


uma função y = f(x), vamos entender geometricamente o seu signi-
ficado, que representa a inclinação da reta tangente ao gráfico da
função no ponto de abscissa x. Para tal, vamos utilizar o raciocínio
utilizado no século 18 por Newton e Leibniz. Além disso, é sabido
da geometria elementar que se conhecemos o coeficiente angular
da reta e um ponto P ao qual esta pertence, podemos caracterizar
a sua equação, dessa forma, também determinaremos a equação
da reta tangente.
Dessa maneira, seja y = f ( x) uma curva definida no inter-
valo aberto I = (a, b) , cuja representação gráfica é apresentada
na Figura 14.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 199

Figura 14 Uma função y = f ( x) definida num intervalo aberto (a, b) .

Consideremos os dois pontos distintos P( x1 , q1 ) e Q( x2 , q2 )


do gráfico da função y = f ( x) e a reta secante s , que passa
pelos pontos P e Q . A partir do momento em que visualizamos
o triângulo PMQ , na Figura 14, temos que a inclinação da reta s
(ou o coeficiente angular de s ) é dada por:
y2 − y1 ∆y
Coeficiente Angular de
= α
s tg= =
x2 − x1 ∆x

A derivada é definida em termos de um limite, logo, supondo


fixo o ponto P e fazendo com que o ponto Q se aproxime de P
sobre a curva, teremos uma posição limite, a partir da variação
sofrida pela inclinação da reta secante s . Devemos observar que
à medida que Q vai se aproximando cada vez mais do ponto P ,
a inclinação da secante varia cada vez menos, tendendo para um
valor limite constante, como mostra a Figura 15.

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200 © Análise Matemática

Figura 15 A interpretação do valor limite na inclinação da reta s.

Essa situação limite, ou seja, esse valor limite é chamado de


inclinação da reta tangente à curva no ponto P , ou também, in-
clinação da curva em P . Assim, formalmente, a inclinação da reta
tangente pode ser vista como segue.
Definição 7 – inclinação da reta tangente: considerando
uma curva y = f ( x) , seja o ponto P( x1 , q1 ) um ponto sobre ela, a
inclinação da reta tangente no ponto P é dada por:

∆y f ( x2 ) − f ( x1 )
m( x1 ) lim
(1) = = lim , quando o limite
Q → P ∆x x2 → x1 x2 − x1
existe.
Se tomarmos x2= x1 + ∆x no limite anterior, podemos

reescrevê-lo como segue:
f ( x1 + ∆x) − f ( x1 )
(2) m( x1 ) = lim
∆x →0 ∆x .
Salientamos que a partir do momento em que conhecemos
a inclinação da reta tangente, diretamente podemos caracterizar
a sua equação.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 201

Definição 8 – equação da reta tangente: se a função y = f ( x)


é contínua em x1 , então a reta tangente à curva y = f ( x) em
P( x1 , q1 ) é dada por:

1) A reta que passa por P tendo inclinação:


f ( x1 + ∆x) − f ( x1 )
m( x1 ) = lim , se este limite existe.
∆x →0 ∆x
Neste caso, temos a equação:
y − f ( x1 =
) m( x1 ).( x − x1 )
f ( x1 + ∆x) − f ( x1 )
2) A reta x = x1 se lim for infinito.
∆x →0 ∆x
Vejamos alguns exemplos ilustrativos.
Vamos encontrar a inclinação da reta tangente à curva
y = f ( x) = x 2 − 2 x + 1 no ponto P( x1 , q1 ) .
Solução: como f ( x) = x 2 − 2 x + 1 , então:
f ( x1 ) =( x1 ) 2 − 2.( x1 ) + 1
Ef ( x1 + ∆x=
) ( x1 + ∆x) 2 − 2.( x1 + ∆x) +=
1
( x1 ) 2 + 2 x1.∆x + (∆x) 2 − 2 x1 − 2∆x + 1
Dessa forma, utilizando a definição da inclinação da reta
tangente no ponto P( x1 , q1 ) , vem que:
f ( x1 + ∆x) − f ( x1 )
=m( x1 ) lim=
∆x →0 ∆x
x + 2. x1. ∆x +(∆x ) 2 -2.x1 − 2.∆x + 1 − ( x12 − 2.x1 + 1)
2
lim 1 =
∆x →0 ∆x
2. x1. ∆x +(∆x ) 2 − 2.∆x ∆x.(2. x1. + ∆x -2)
lim = lim = 2 x1 − 2
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x

Exemplo (inclinação da reta tangente): dada a equação


quadrática y = x 2 (parábola), encontre a inclinação da reta
tangente à parábola no ponto (2; 4).

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202 © Análise Matemática

Solução: temos que a inclinação da reta tangente que passa


pelo ponto (2; 4) dada pela equação y = x 2 , para x1 = 2 , é dada
por:
f (2 + ∆x) − f ( x0 )
m=
( x1 ) m=
(2) lim =
∆x →0 ∆x
(2 + ∆x) 2 − (2) 2 4.∆x + ∆x 2
lim = lim = lim (4 += ∆x) 4
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x ∆x →0

Para maiores detalhes sobre os aspectos introdutórios da


derivada, inclinação da reta tangente e equação da reta tangente,
você pode consultar a obra de Ávila (2006, p. 175-177), bem com
Leithold (1994, p. 139-147) e Figueiredo (1996, p. 75-77).

2.5. A NOÇÃO FORMAL DO CONCEITO DE DERIVADA

Agora, vamos definir formalmente a noção de derivada. Para


tal, vamos considerar f : X →  e a ∈ X ∩ X ' .
Definição 9 – conceito formal de derivada: a derivada da
função f no ponto a é definida formalmente como sendo o limite
(ELON, 1989, p. 90):
f ( x) − f (a)
f '(a ) = lim , quando este limite existe.
x→a x−a
Esse quociente que aparece na definição formal da função
derivada no ponto a é chamado de razão incremental de f rela-
tivamente ao ponto a .
Ou ainda, se colocarmos x= a + h , segue das propriedades
de limites que:
f ( x) − f (a) f ( a + h) − f ( a )
= f '( x) lim
= lim , quando esse
x→a x−a h → 0 h
limite existe.
Equivalentemente, podemos representar ainda a derivada
f '( x) como segue:
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 203

f ( x + ∆x) − f ( x)
f '( x) = lim , quando este limite existe.
∆x →0 ∆x

Podemos observar, obviamente, que o limite anterior pode


existir ou não. Se existir, vamos falar que a função f é derivável
no ponto a (ou seja, existe a derivada de f no ponto a , que de-
notamos por f '(a ) ). Quando existe a derivada f '( x) em todos os
pontos x ∈ X ∩ X ' dizemos que f : X →  é derivável no conjun-
to X e obtemos uma nova função f ' : X ∩ X ′ → ℜ, x  f '( x) ,
chamada função derivada de f . Outra terminologia utilizada na
1
Matemática é que se f ' é contínua, dizemos que f é de classe C .
Quando falamos nas representações da derivada, lembramo-
nos de várias denotações, porém, as notações mais utilizadas são
descritas a seguir:
1) Dx f ( x) (vamos ler: derivada de f ( x) em relação a x ).
2) Dx y (vamos ler: derivada de y com relação a x ).
dy
3) (vamos ler: derivada de y com relação a x )
dx
 dy 
4)   (vamos ler: derivada de y com relação a x no
 dx  x = x0
ponto x = x0 )
Vamos apresentar alguns exemplos ilustrativos, em que
determinamos a derivada de uma função f ( x) por meio da
definição formal de derivada. Ressaltamos que na sequência
apresentaremos algumas regras operacionais para cálculo de
derivadas de funções diversas.
Exemplo (definição formal da derivada): vamos encontrar a
derivada da função f ( x) = x 2 no ponto x0 = 3 ?

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204 © Análise Matemática

Solução: neste caso, temos que:


f (3 + ∆x) − f (3) (3 + ∆x) 2 − 32
= f '(3) lim = lim =
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x
2
6∆x + (∆x)
lim = lim (6 + = ∆x) 6
∆x →0 ∆x ∆x →0

Em verdade, isso nos diz que um pequeno acréscimo ∆ x


dado a x , a partir de x0 = 3 acarretará um correspondente
acréscimo ∆f que é aproximadamente 6 vezes maior que o
acréscimo ∆ x .

Exemplo (definição formal da derivada): consideremos a


função f ( x) = | x | (valor absoluto de x ou módulo de x ). A função
f ( x) apresenta derivada no ponto x0 = 0 ?
Solução: neste caso, temos que:
f (0 + ∆x) − f (0) f (∆x) − f (0) ∆x
=f '(0) lim = lim = lim
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x

Dessa forma, percebemos que:


• Se ∆x tende a 0 pela direita, então ∆x > 0 e | ∆x | =∆x e,
∆x
consequentemente, o limite de f '(0) = ∆lim x →0 ∆x
é igual
∆x
a 1, ou seja, lim =1.
∆x →0 ∆x

• Se ∆x tende a 0 pela esquerda, então temos que ∆x < 0


e | ∆x | = − ∆x e, dessa maneira, temos que o limite de
∆x ∆x
f '(0) = lim é igual a -1, ou seja, lim = −1 .
∆x →0 ∆x ∆x →0 ∆x

Como os limites laterais são diferentes, concluímos que não


existe o limite para ∆x tendendo a 0 . Logo, não existe a derivada
de f ( x) no ponto x0 = 0 . Geometricamente falando, já imaginá-
vamos que tal função não admitiria a derivada no ponto x0 = 0 , já
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 205

que esta possui um gráfico com um bico nesse ponto, em outras


palavras, não admite inclinação da reta tangente nesse ponto.
Veja agora os primeiros resultados e regras envolvendo a
derivada de uma função.
Teorema 7: consideremos a função f : X →  e x0 ∈ X . Se
f é derivável em x0 , então f é contínua no ponto x0 (ELON,
1989, p. 91).
Prova: inicialmente, notemos que:
f ( x) − f ( x0 )
f ( x)=
− f ( x0 ) .( x − x0 )
x − x0

Logo:
 f ( x) − f ( x0 ) 
lim[
= f ( x) − f ( x0 )] lim   .lim ( x − x0 )
x →0 x →0
 x − x0  x →0

E, como por hipótese temos que f é derivável em x0 , segue


que:
lim[ f ( x) − f ( x0 )]= f '( x0 ).0= 0
x →0

E, portanto, vem que:


lim f ( x) = f ( x0 )
x →0

Significando que a função f é contínua no ponto x0 . C. q. d.


Exemplo (recíproca do Teorema 7?): observemos que
a recíproca do Teorema 7 não é verdadeira e podemos citar,
como contraexemplo, a função f ( x) = | x | , que anteriormente
mostramos ser contínua no ponto x0 = 0 ; porém, esta não
admite derivada nesse ponto. Lembre-se de que discutimos e
apresentamos o gráfico dessa função no início desta Unidade.

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206 © Análise Matemática

Definição 10 – derivada à direita e derivada à esquerda:


quando a ∈ X é um ponto de acumulação à direita, isto é,
f ( x) − f (a)
a ∈ X ∩ X '+ , pode-se tomar o limite f +′(a ) = lim+ .
x→a x−a
Quando existe esse limite, é chamado de derivada à direita de
f no ponto a . Similarmente, se a ∈ X ∩ X '− tem sentido,
f ( x) − f (a)
consideramos o limite à esquerda f −′(a ) = lim . Se ele
x→a − x−a
existe, ele recebe o nome de derivada à esquerda de no ponto
a (ELON, 1989, p. 91).

É importante salientarmos que, caso o ponto a seja tal que


a ∈ X ∩ X '+ ∩ X '− , isto é, caso a ∈ X seja ponto de acumulação
bilateral, a função f é derivável no ponto a se existem e são iguais
as derivadas à direita e à esquerda, com f=
'(a ) f=′
+ (a) f −′(a ) .
Além disso, em particular, se a ∈ X ∩ X +′ ∩ X ′ e existem ambas as
derivadas laterais f ′(a ) e f ′(a ) , então f é contínua no ponto a
+ −

(mesmo que essas derivadas laterais sejam diferentes).


Exemplo (função derivável): uma função constante é
derivável e sua derivada é identicamente nula.

Exemplo (função derivável): Se f :  →  é dada por


) ax + b então, para c ∈  e h ≠ 0 quaisquer, f '( x) = a e,
f ( x=
então, f '(c) = a .
Exemplo (função derivável): para um número natural n, ou
seja, n ∈ IN qualquer, a função f :  →  , com f ( x) = x n , tem
derivada dada por f '( x) = n.x n −1 .
Exemplo (função derivável): dessa maneira, por exemplo, a
derivada de f ( x) = x é f '( x) = 1 ; se f ( x) = x 2 , então f '( x) = 2 x
3
; caso f ( x) = x , temos que f '( x) = 3 x 2 , e assim por diante.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 207

Exemplo (a regra de L'Hôpital): esta regra constitui uma


das mais populares aplicações da derivada. Em sua forma
mais simples, ela refere-se ao cálculo de um limite da forma
f ( x)
lim no caso em que f e g são deriváveis no ponto a e
x→a g ( x)

lim f ( x)= f (a)= 0= g (a )= lim g ( x) . Então, pela definição de


x→a x→a
f ( x)
derivada, f '(a ) = lim e g '(a ) = lim g( x) (ELON, 1989, p.
x→a x − a x→a x − a

93).
Supondo g '(a ) ≠ 0 , a Regra de L'Hôpital diz que:
f ( x) f '(a )
lim =
x→a g ( x) g '(a )

Notemos que a prova é direta, pois:


f ( x) f ( x)
lim
f ( x) ( x − a) x → a ( x − a) f ′(a)
=lim lim
= = .
x→a g ( x) x→a g ( x) g ( x) g ′(a)
lim
( x − a) x→a ( x − a)

Exemplo (aplicação da regra de L'Hôpital): consideremos


senx ex −1
os limites lim e lim . Aplicando a Regra de L'Hôpital,
x →0 x x →0 x
o primeiro limite se reduz a cos 0 = 1 , e o segundo, a e0 = 1 .
Convém observarmos, entretanto, que essas aplicações (e outras
similares) da Regra de L'Hôpital são indevidas, já que, para utilizá-
la, é necessário conhecer as derivadas f '(a ) e g '(a ) . Nesses dois
exemplos, os limites a calcular são, por definição, as derivadas de
senx e e x no ponto x = 0 .

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208 © Análise Matemática

2.6. REGRAS OPERATÓRIAS

Veja agora, as principais regras operatórias envolvendo a no-


ção de derivada de uma função.
Teorema 8: Sejam f , g : X →  deriváveis no ponto
f
a ∈ X ∩ X ' , as funções ( f ± g ), f .g e (caso g (a ) ≠ 0 ) são
g
também deriváveis no ponto a, com derivadas iguais a (ELON,
1989, p. 93):
( f ± g ) '(a) = f '(a) ± g '(a)
( f .g ) '(a) f '(a).g(a) + g '(a). f (a)
=

 f  f '(a ).g (a ) − g '(a ). f (a )


  '(a) =
g g 2 (a)

A demonstração dessas regras operatórias pode ser também


encontrada em qualquer outra das referências citadas no final des-
ta Unidade, ou ainda, em qualquer livro de Cálculo Diferencial e
Integral de uma variável real.
Teorema 9 – Regra da Cadeia: sejam
f , g : X → , a ∈ X ∩ X ', b ∈ Y ∩ Y ', f ( X ) ⊂ Y e f (a ) = b . Se
f é derivável no ponto a e g é derivável no ponto b , então
g  f : X →  é derivável no ponto a , com (ELON, 1989, p. 94):
( g  f ) '(a ) = g '( f (a ). f '(a ) .
Ou seja, a Regra da Cadeia nos dá uma fórmu-
la para encontrarmos a derivada de uma função compos-
ta e, nesse caso, temos que a derivada de g  f é dada por
( g= g ( f (a ))]' g '( f (a ). f '(a ) , isto é, a derivada da
 f ) '(a ) [ =
função de fora aplicada na função de dentro vezes a derivada da
função de dentro.
Teorema 10 – Regra da Função Inversa:
Dada f : X → Y , uma bijeção entre os conjuntos X , Y ⊂  ,
por g
com inversa dada = f −1 : Y → X . Se f é derivável no
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 209

ponto a ∈ X ∩ X ' e g é contínua no ponto b = f (a ) então


g é derivável no ponto b se, e somente se, f '(a ) ≠ 0 . No caso
1
afirmativo, temos que g '(b) = (ELON, 1989, p. 94).
f '(a )
Exemplo (regras operatórias): dada a função f :  → 
derivável, consideremos as funções g :  →  e h :  →  , de-
2
finidas por g ( x) = f ( x ) e h(x) = [ f ( x)]2 . Para todo x ∈  temos
2
que g '( x) = 2.x. f '( x ) e h '( x) = 2. f ( x). f '( x) .
Exemplo (regras operatórias): para n ∈ IN fixo, a função
g :[0, +∞) → [0, +∞) , dada por g ( x) = n x , é derivável no intervalo
1
(0, +∞) com g '( x) = .
n n −1
n. x
Exemplo (regras operatórias): utilizando a Regra da Cadeia,
vamos encontrar a derivada das seguintes funções:
= (2 x + 1)3
a) h(x)
b) h(x)= ( x + 4)10
Solução: neste caso, temos que:
a) h(x) = (2 x + 1)3 : notemos que, para h(x) = (2 x + 1)3 , te-
3
mos que g ( x= ) 2 x + 1 e f ( x) = x , ou seja, a função
h(x) é a composta das funções f (x) e g (x) , ou ainda,
h(x) = f (g(x)) , portanto, devemos utilizar a regra da
cadeia para encontrarmos a derivada da função h(x) .
Logo:
[ f ( g ( x))]' =f '(2 x + 1).g'(x) =3.(2 x + 1) 2 .(2) =6.(2 x + 1) 2
10
b) h(x)= ( x + 4)10 : notemos que para h(x)= ( x + 4) , te-
mos que g ( x)= x + 4 e f ( x) = x10 , ou seja, a função
h(x) é a composta das funções f (x) e g (x) , ou ainda,
h(x) = f (g(x)) , portanto devemos utilizar a regra da
cadeia para encontrarmos a derivada da função h(x) .
Logo:
[ f ( g ( x))]' =f '( x + 4).g'(x) =10.( x + 4)9 .(1) =10.( x + 4)9

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210 © Análise Matemática

Exemplo (regras operatórias): utilizando a Regra da Cadeia,


vamos encontrar a derivada da seguinte função h(x)
= (3 x + 2) 2 .

= (3 x + 2) 2 ,
Solução: neste caso, notemos que para h(x)
= 3 x + 2 e f ( x) = x 2 , ou seja, a função h(x) é
temos que g(x)
a composta das funções f (x) e g (x) , ou ainda, h(x) = f (g(x)) ,
portanto, devemos utilizar a regra da cadeia para encontrarmos a
derivada da função h(x) . Logo:
[ f ( g ( x))]' =f '(3 x + 2).g'(x) =
2.(3 x + 2).(3) = 6.(3 x + 2) = 18 x + 12

Notemos que aqui


f '( x) = 2 x e g '( x) = 3 .

Exemplo (regras 5
operatórias): considerando a função
 3 x + 2  , vamos encontrar dy .
=y h=
( x)  
 2x +1  dx
Solução: neste caso, podemos observar que a função h(x) é
 3x + 2  5
a composta envolvendo as funções g ( x) =   e f ( x) = x ,
 2 x + 1 
logo devemos utilizar a regra da cadeia para encontrarmos a
dy
derivada . Além disso, devemos notar que ao determinarmos
dx
a derivada g '( x) na regra da cadeia, devemos utilizar a regra do
quociente. Daí:
4 4
dy  3 x + 2  3.(2 x + 1) − 2.(3 x + 2)  3x + 2  −1
5.=
  . 2
5.   . 2
dx  2 x + 1  
(2 x + 1)  2 x + 1  (2 x + 1)
g '( x )

Para maiores detalhes sobre a definição formal da derivada,


derivadas laterais e regras operatórias das derivadas, é importante
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 211

que você leia Ávila (2006, p. 178-182), bem como Leithold (1994,
p. 148-190) e Figueiredo (1996, p. 75-81).

2.7. DERIVADAS E CRESCIMENTO LOCAL

A discussão que segue está relacionada aos pontos de máxi-


mo e mínimo de funções, especificamente falando de tais pontos
a nível estrito e absoluto.
Definição 12 – máximo local estrito e mínimo local estrito:
dizemos que a função f : X →  tem um máximo local no ponto
a ∈ X quando existe δ > 0 tal que x ∈ X ,| x − a | < implicam
f ( x) ≤ f (a) . Quando x ∈ X ,| x − a | < δ implicam f ( x) < f (a) ,
dizemos que f tem um máximo local estrito no ponto a . Definições
análogas para mínimo local e mínimo local estrito (ELON, 1989, p.
96).
Definição 13 – máximo local absoluto e mínimo local
absoluto:
Quando a ∈ X , tal que f ( a ) ≥ f ( x) para todo x ∈ X ,
dizemos que a é um ponto de mínimo absoluto para a função
f : X →  . Sendo válida a desigualdade, f (a ) > f ( x) para
todo x ∈ X dizemos que a é um ponto máximo absoluto (ELON,
1989, p. 96).

Teorema 11: se f : X →  é derivável à direita no ponto


a ∈ X ∩ X ' e tem aí um máximo local, então f +′(a ) < 0 (ELON,
1989, p. 96).
Teorema 12: seja a ∈ X um ponto de acumulação bilateral.
Se f : X →  é derivável no ponto a e possui aí um máximo ou
mínimo local, então f '(a ) = 0 (ELON, 1989, p. 96).

Exemplo (Teorema 12): no Teorema 12, mesmo que a função


f seja monótona crescente e derivável, não se pode garantir

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212 © Análise Matemática

que sua derivada seja positiva em todos os pontos. Por exemplo,


f :  →  , dada por f ( x) = x3 , é crescente, mas sua derivada
f '( x) = 3.x 2 se anula para x = 0 .

Definição 13 – ponto crítico: um ponto c ∈ X chama-se um


ponto crítico da função derivável f : X →  quando f '(c) = 0
(ELON, 1989, p. 97).
Vale ressaltar que se c ∈ X ∩ X '+ ∩ X '− é um ponto de
mínimo ou de máximo local, então c é crítico, mas a recíproca é
3
falsa: a bijeção crescente f :  →  , dada por f ( x) = x , não
pode ter máximo nem mínimo local, mas admite o ponto crítico
x =0.
Exemplo (máximo relativo): vejamos o gráfico da função
f ( x) = 1 − x 2 mostrado na Figura 16. Podemos notar que o ponto
2
x = 0 é um ponto de máximo relativo da função f ( x) = 1 − x ,
sendo que o máximo relativo de f é dado por f (0) = 1 .
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 213

Figura 16 O gráfico da função f ( x) = 1 − x 2 gerado pelo programa Winplot.

Exemplo (mínimo local): vejamos o gráfico da função


f ( x) = | x | , mostrado na Figura 17. Podemos notar que o ponto
x = 0 é um ponto de mínimo local da função f ( x) = | x | , sendo
que o mínimo local de f é dado por f (0) = 0 .

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214 © Análise Matemática

Figura 17 O gráfico da função f ( x) = | x | gerado pelo programa Winplot.

Exemplo (mínimo absoluto): a função do primeiro grau


f ( x) = 3 x tem um mínimo absoluto igual a 3 no intervalo I = [1, 3) .
Não existe um máximo absoluto em I = [1, 3) .

Exemplo (máximo absoluto): a função f ( x) =− x 2 + 2 possui


um máximo absoluto igual a 2 no intervalo I = (−3, 2) . Além disso,
podemos dizer que -7 é um mínimo absoluto em I = (−3, 2) .
Para maiores detalhes sobre pontos críticos, máximos,
mínimos e mais exemplos ilustrativos, você pode consultar a obra
de ÁVILA (2006, p. 183-187), bem como em Leithold (1994, p. 199-
234) e Figueiredo (1996, p. 84-91).
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 215

2.8. FUNÇÕES DERIVÁVEIS NUM INTERVALO

Já notamos que temos diversos exemplos de funções que


não são contínuas em determinados pontos, ou seja, são caracte-
rizadas como funções descontínuas. Dessa maneira, cabe ressaltar
que, mesmo quando a função é descontínua, a sua derivada possui
a propriedade do valor intermediário, como veremos no resultado
a seguir. Lembre-se de que discutimos o Teorema do Valor Inter-
mediário para o contexto de funções contínuas.
Teorema 13 – Teorema de Darboux: considerando
f :[a, b] →  derivável. Se f '(a ) < d < f '(b) , então existe um
ponto c ∈ [a, b] tal que f '(c) = d (ELON, 1989, p. 97).

Prova: para tal, vamos supor inicialmente d = 0 . A função


contínua f , pelo Teorema de Weierstrass, atinge seu valor
mínimo em algum ponto c do conjunto compacto [a, b] . Como
f '(a ) < 0 , o Teorema 4 assegura a existência de pontos x ∈ (a, b)
tais que f ( x) < f (a ) , logo esse mínimo não é atingido no ponto
a , isto é, a < c . Por motivo análogo, temos que c < b . Portanto,
f '(c) = 0 . O caso geral reduz-se a este considerando a função
auxiliar g=
( x) f ( x) − d.x . Então, g=
'( x) f '( x) − d , donde
g '(c) =
0 ⇔ f '(c) =
d e g '(a ) < 0 < g '(b) <⇔ f '(a ) < d < f '(b) .
C. q. d.

Exemplo (Teorema 13): seja g :[−1, 1] →  definida por


−1, se − 1 ≤ x < 0
g(x) =  . A função g goza da propriedade do valor
1, se 0 ≤ x ≤ 1
intermediário, pois assume apenas os valores -1 e 1 no intervalo
[−1, 1] . Logo não existe f :[−1, 1] →  derivável tal que f ' = g .

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216 © Análise Matemática

Teorema 14 – Teorema de Rolle: seja f :[a, b] → 


contínua, com f (a ) = f (b) . Se f é derivável em (a, b) então
existe um ponto c ∈ (a, b) tal que f '(c) = 0 (ELON, 1989, p. 98).

Prova: mais uma vez, pelo Teorema de Weierstrass, f atinge


seu valor mínimo m e seu valor máximo M em pontos de [a, b]
. Se esses pontos forem a e b , então m = M e f será constante,
daí f '( x) = 0 qualquer que seja x ∈ (a, b) . Se um desses pontos,
digamos c , estiver em (a, b) , então f '(c) = 0 . C. q. d.

Teorema 15 – Teorema do Valor Médio de Lagrange: seja


f :[a, b] →  contínua. Se f é derivável em (a, b) , então existe
f (b) − f (a )
c ∈ (a, b) tal que f '(c) = (ELON, 1989, p. 98).
b−a
Prova: consideremos a função auxiliar g :[a, b] →  ,
dada por g= ( x) f ( x) − d.x , onde d é escolhido de modo que
f (b) − f (a )
g (a ) = g (b) , ou seja, d = . Pelo Teorema de Rolle,
b−a
f (b) − f (a )
existe c ∈ (a, b) tal que g '(c) = 0 , isto é, f '(c) = . C.
b−a
q. d.

2.9. IMPLEMENTAÇÃO NA PRÁTICA DOCENTE: COMO DISCUTIR


TÓPICOS DE ANÁLISE MATEMÁTICA NO ENSINO FUNDAMEN�
TAL E MÉDIO?

A partir do momento em que discutimos os pontos principais


da Análise Matemática, você, como um futuro licenciado em Ma-
temática, poderia indagar: “Como aproveitar todos esses aspectos
teóricos, desde demonstrações de resultados de conhecimento
direto até os mais complexos, bem como diversas propriedades
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 217

já conhecidas ou novas, no nosso dia a dia de professor de Ensino


Fundamental e Médio?”
É interessante ressaltarmos que tudo o que foi visto até o
momento serve de apoio para preparação de aulas no nível de En-
sino Médio, desde a parte de conjuntos, conjuntos numéricos, fun-
ções, comportamento de funções mais complicadas, problemas de
raciocínio lógico e problemas envolvendo taxas de variação.
Estudamos a parte envolvendo o conjunto dos números na-
turais e reais, juntamente com as suas propriedades e operações
essenciais. Vale lembrar que são conceitos que podem ser traba-
lhados diretamente no Ensino Fundamental e Médio, por exemplo,
na discussão sobre os conjuntos numéricos. Obviamente, a nossa
discussão se deu com um nível de abstração bem maior, porém,
temos questões simples que são dúvidas comuns dos nossos alu-
nos no Ensino Fundamental. Podemos relacionar em um simples
problema: potência (quadrado de um número), número par e um
2
método de demonstração, que é: se a é um número par, então a
também é um número par? A recíproca seria verdadeira?
Perceba que é uma situação que pode acontecer no seu dia
a dia de professor de matemática. Para resolvermos tal situação,
estaríamos utilizando um aparato que os nossos estudos nos pro-
piciaram, fundamentados na discussão de diversas provas. Para
respondermos às indagações anteriores, devemos proceder por
meio de uma demonstração envolvendo "se e somente se", ou
seja, aqui já podemos falar da Lógica Matemática por conta da bi-
condicional. Veja a justificativa a seguir:
2
Exemplo 1: mostre que a é par se, e somente se, a for par.
Solução: neste caso:
(⇒) Temos por hipótese que a é par e devemos provar que
2
a é par. Sendo a par, podemos escrever a = 2r , com r natural,
logo:
a 2 (2r=
= ) 2 4=
r 2 2.(2r 2 ) , que é um número par.

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218 © Análise Matemática

(⇒) Nesse sentido, vamos fazer a prova por redução ao ab-


surdo, ou seja, suponhamos por absurdo que a não é par e chegar
2
em uma contradição com a hipótese de que a é par. Assim, su-
pondo por absurdo que a não seja par, então a é ímpar, e escre-
vemos = a 2k + 1 , desta forma:
a 2= (2k + 1) 2= 4k 2 + 4k + 1= 2.(2k 2 + 2k ) + 1 , que é ímpar
(absurdo).
2
Portanto, a será par se, e somente se, a for par. C. q. d.
Por outro lado, a parte relacionada à indução finita como
método de demonstração vem sendo utilizada desde a Antiguida-
de, inclusive aparecendo implicitamente na obra Os Elementos, de
Euclides (300 a.C.). Além disso, como método para a fundamenta-
ção do conceito de número natural, a indução finita é apresentada
por Peano. É importante lembrar que a indução significa o racio-
cínio que vai do particular ao geral e desempenha papel funda-
mental nas ciências experimentais. Dessa forma, apesar do nome
lembrar algo empírico, a indução finita é considerada um método
dedutivo. Tradicionalmente, a indução finita é visualizada como
uma receita a ser seguida.
Assim, poderíamos nos indagar como ensinar a indução fi-
nita no Ensino Médio? Qual seria a real importância do ensino
desse tópico de Matemática nesse contexto? Baseado nos nossos
estudos, uma resposta direta seria que a indução pode proporcio-
nar ao aluno vivenciar uma experiência matemática, que em geral
consiste na busca da solução de um problema. Tal processo leva
o aluno a traçar os passos da descoberta e da investigação, que
poderá levar durante toda a sua vida.
É interessante observarmos que essa investigação também
pode mesclar a observação, experimentação, indução, analogia e
razões plausíveis. A partir do momento em que o professor co-
loca alguns exemplos interessantes sobre indução, relacionando
outros pontos da Matemática, os alunos tornam-se mais motiva-
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 219

dos e, consequentemente, o seu envolvimento com as atividades é


maior, o que constitui uma questão essencial para os processos de
ensino e aprendizagem de Matemática. Note que, de acordo com
a prática investigativa na área de Matemática, a participação dos
alunos nas atividades de aprendizagem pode indicar se há predis-
posição do aluno para aprender de modo significativo.
Você pode levar um dominó para a sala de aula, perfilar uma
peça atrás da outra e empurrar a primeira, mostrando que as de-
mais cairão, relacionando diretamente com o que acontece com as
entrelinhas da indução matemática.
Veja dois exemplos bem simples que você poderia explorar
em sala de aula com os seus alunos.
Para a primeira situação, você poderia indagar a veracidade
de ser um número par o produto envolvendo dois inteiros positi-
vos consecutivos. Ou seja, se x e ( x + 1) são dois inteiros positivos
consecutivos, então o produto entre eles é sempre par?
Para respondermos tal questão, devemos utilizar, necessa-
riamente, o PIF (Princípio da Indução Finita), como segue.
Exemplo 2: prove pelo PIF que o produto de dois inteiros
positivos consecutivos é sempre par, ou seja, n.(n + 1) é par,
∈ .
Solução: neste caso, devemos utilizar o PIF, como segue:
Primeira Parte - a proposição é verdadeira para n = 1 , pois:
1.2 = 2, que é um número par
Segunda Parte - hipótese de indução: k .(k + 1) é par
Tese de indução: devemos mostrar que (k + 1).(k + 2) é um
número par

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220 © Análise Matemática

Daí:

(k + 1).(k + 2)= k (k + 1) = 2.(k + 1)



    e como a
que é par ( pela hipótese de indução ) par

soma entre dois pares também é par, o resultado segue. C.q.d.


Para a segunda situação, poderíamos instigar os alunos a
pensar: vimos que 1 elevado a infinito é uma indeterminação, mas
quanto seria 1 elevado a um número natural n ? Seria também
uma questão que pode ser indagada por qualquer aluno e, no
caso, temos a solução mostrada a seguir.
n
Exemplo 3: provar pelo PIF que 1= 1, n ∈  .
Solução: este exemplo é bem simples, apenas usaremos a
definição de enésima potência de um número natural. Assim:
Primeira Parte – a proposição é verdadeira para n = 0 , já
que:
10 membro= 10= 1 0 0
0  1 membro = 2 membro
2 membro =1 

Ou seja, a proposição é válida para o valor particular n = 0 .


Dessa forma, justificamos a primeira etapa da indução matemáti-
ca.
k
Segunda Parte – hipótese de indução: 1 = 1 , isto é, vamos
usar como informação que o resultado é válido para n = k .
Tese de indução: devemos mostrar que 1k +1 = 1
Daí:
1k +=
1
1k=
.11 1.11 1 , como queríamos
=
propriedade potenciação hipótese de indução

mostrar.
No decorrer dos nossos estudos, trabalhamos com as sequ-
ências e séries numéricas; podemos discutir tais aspectos teóricos
relacionando-os com a parte de progressões geométricas. Note
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 221

que, quando apresentamos a parte das séries numéricas, sempre


falamos em progressões geométricas infinitas e, no caso, você
poderia explorar a parte relacionada à soma de uma Progressão
Geométrica. Nesse sentido, você poderia selecionar, sem grandes
dificuldades, problemas relativos ao ENEM (Exame Nacional do En-
sino Médio) e associados a outros tipos de provas de vestibulares.
Exemplo 4: (UERJ) Leia com atenção a história em quadrinhos
(Figura 18).

Autor: OS BICHOS: Fred Wagner.


Fonte: (O Globo, 16/03/2001, p. 13).

Considere que o leão da Figura 18 tenha repetido o convite


por várias semanas. Na primeira, convidou a Lana para sair 19 ve-
zes; na segunda semana, convidou 23 vezes; na terceira, 27 vezes
e assim sucessivamente, sempre aumentando em 4 unidades o nú-
mero de convites feitos na semana anterior. Imediatamente após
ter sido feito o último dos 492 convites, o número de semanas já
decorridas desde o primeiro convite era igual a?
a) ( ) 10
b) ( ) 12
c) ( ) 14
d) ( ) 16
e) ( ) 18
Solução: a resposta correta é a letra (B).
Exemplo 5: a soma de todos os números naturais, até um
certo número n ≥ 3:
a) ( ) está entre n e 2n .

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222 © Análise Matemática

b) ( ) está entre 2n e 3n .
2
n n
c) ( ) está entre e .
2 2
2
d) ( ) está entre n e n .
e) ( ) é maior do que n 2 .
Solução: a resposta correta é a letra (D).
Exemplo 6: (ENEM) Leia com atenção a história em
quadrinhos (Figura 19).

Fonte: O Globo (2005, p. 15).


Figura: O horrível.
Uma empresa madeireira, ao desmatar uma floresta, seguia
este cronograma:
• no primeiro dia - uma árvore derrubada.
• no segundo dia - duas árvores derrubadas.
• no terceiro dia - três árvores derrubadas e, assim, suces-
sivamente.
Para compensar tal desmatamento, foi criada uma norma na
qual se estabelecia que seriam plantadas árvores segundo a ex-
pressão =P 2 D − 1 , sendo P o número de árvores plantadas e D
o número de árvores derrubadas a cada dia pela empresa. Quando
o total de árvores derrubadas chegar 1275, o total de árvores plan-
tadas, de acordo com a norma estabelecida, será equivalente a?
a) ( ) 2400
b) ( ) 2500
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 223

c) ( ) 2600
d) ( ) 2700
e) ( ) 2800
Solução: a resposta correta é a letra (B).
Você pode discutir a parte sobre as sequências e séries infi-
nitas, introduzindo os aspectos relacionados as progressões geo-
métricas, bem como trabalhando com a soma de uma PG.
Você já sabe que a noção de função surge quando se procu-
ra estudar fenômenos e fatos do nosso mundo e, especialmente,
nos mais diversos campos do conhecimento; não só dentro da Ma-
temática. Reparemos quantas vezes criamos ou procuramos rela-
cionar as coisas entre si, por exemplo, ao estudarmos a relação
do lucro com a quantidade vendida de determinado produto, ou
de outra forma, ao estudarmos o fenômeno da queda livre de um
corpo, podemos associar a cada instante a sua velocidade, bem
como a sua posição. Em outras palavras, você consegue perceber
diretamente e indiretamente a utilização do conceito de função na
sua vida cotidiana sem grandes dificuldades.
Falando um pouco mais de forma específica, quando comen-
tamos sobre a parte de limites, você poderia propor aos seus alu-
nos uma discussão geométrica, instigando-os com relação à dis-
posição gráfica de funções um pouco mais complexas. Assim, você
poderia discutir também gráficos de funções que são contínuas e
descontínuas apresentando vantagens e desvantagens. Cabe res-
saltar que a partir do desenvolvimento da tecnologia, você pode
trabalhar a construção de gráficos, bem como a interpretação
gráfica de problemas, com a utilização de aplicativos para smar-
tphones, tablets e programas computacionais gratuitos, como, por
exemplo, o que exemplificamos no material, o Winplot. Lembre-se
de que em grande parte o nosso aluno já está familiarizado com
esses mecanismos tecnológicos.

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224 © Análise Matemática

Além disso, poderia trabalhar comumente com problemas


envolvendo crescimento e decrescimento por meio das funções
exponenciais e logarítmicas, por exemplo, quando falamos em
crescimento populacional. E quando falamos na parte de deriva-
das de funções, você poderia propor a resolução de diversos pro-
blemas envolvendo taxas de variação, onde, como sugestão inicial,
poderia aplicar a Matemática na Física, relacionando a velocidade,
o espaço e a aceleração. Na sequência, poderia discutir problemas
de máximos e mínimos desde a aplicabilidade de funções quadrá-
ticas como funções elementares da Matemática. Tais problemas
contribuem de forma significativa para o desenvolvimento do ra-
ciocínio lógico, bem como faz o aluno pensar e raciocinar de uma
forma mais concisa. Mais uma vez, você poderia propor a resolu-
ção de diversos problemas que são cobrados em vestibulares ou
no ENEM.
Veja algumas situações que podem ser trabalhadas em sala
de aula, englobando a parte de funções, continuidade e derivação.
Exemplo 7: em um pomar em que existiam 30 laranjeiras
produzindo, cada uma 600 laranjas por ano, foram plantadas n
novas laranjeiras. Depois de certo tempo, constatou-se que, devido
à competição por nutrientes do solo, cada laranjeira (tanto nova
como velha) estava produzindo 10 laranjas a menos por ano, por
cada nova laranjeira plantada no pomar. Se f (n ) é a produção
anual do pomar, pede-se:
a) Determine a expressão algébrica de f (n ) .
b) Determine os valores de n para os quais f (n ) = 0 .
c) Quantas novas laranjeiras deveriam ter sido plantadas
para que o pomar tenha produção máxima?
d) Qual é o valor desta produção?
Solução: neste caso, temos que:
a) Considerando n o número de laranjeiras novas, segue
que:
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 225

• O número total de laranjeiras é dado por: 30


• A queda de produção de cada laranjeira é dada por: 10n
• A produção anual de cada laranjeira é dada por: 600 − 10n
Portanto, a produção anual do pomar é dada por:
−10n 2 + 300n + 18000
(30 + n).(600 − 10n) =
b) Temos que:
f (n ) = 0 ⇔ (30+ n).(600 − 10n) = 0

Ou seja:
30+ n =0⇔n=−30 (o que não convém já que n é natural)
Ou
600 − 10n = 0 ⇔ n = 60
Donde concluímos que:
f (n) = 0 ⇔ n = 60

c) Sendo a < 0 , vimos que o valor máximo da função


quadrática y = ax 2 + bx + c é encontrado quando
−b
x x=
= V . Como n é um número natural, obtemos
2a
o valor máximo de f (n) = −10n 2 + 300n + 18000 com o
−300
número natural mais próximo de = 15 . Logo,
2.(−10)
devíamos ter n =15 .
d) O valor máximo dessa produção é dado por:
f (15) = (30+15).(600 − 150) = 20250

Feito isso, você pode introduzir o conceito de derivada não


de maneira formal, mas resolvendo a partir de taxa de variação tal
situação. O aluno com certeza se sentirá mais motivado.

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226 © Análise Matemática

Exemplo 8: um quadrado de lado l está se expandindo se-


gundo a equação l= 2 + t 2 , onde a variável t representa o tempo.
Determinar a taxa de variação da área desse quadrado no tempo
t = 2.
Solução: vamos considerar A como sendo a área do quadra-
do, logo podemos escrever que:
2
=Área (lado)
= l2

Notando que de acordo com o enunciado = l (2 + t 2 ) . Dessa


maneira, sabemos que a taxa de variação da área em relação ao
dA dA dl
tempo, num tempo t qualquer, é caracterizada por =. De acordo .= (2.l ).(2.
= t ) 4.l.t
dt dl dt
com os aspectos teóricos apresentados envolvendo o cálculo da
derivada de funções compostas (Regra da Cadeia), vem que:
dA dA dl
= .= (2.l ).(2.
= l.t 4.(2 + t 2 ).t
t ) 4.=
dt dl dt

No tempo t = 2 , temos que:


dA
4.(2 + 22 ).(2) =
= 48 unid . área / unid . tempo
dt (2)
c.q.d.
Para finalizarmos a discussão sobre a implementação deste
conteúdo na prática docente, você pode trabalhar toda esta teo-
ria baseando-se em duas propostas consideradas inovadoras e já
muito utilizadas na prática do professor, que são: a Metodologia
da Problematização e a Aprendizagem Baseada em Problemas.
De acordo com Neusi Aparecida Navas Berbel (1998, v.2, n.2), as
duas propostas, que se desenvolvem a partir de visões teóricas
distintas, têm pontos comuns e pontos diferentes.
O caminho natural para associarmos o ensino e a aprendi-
zagem é a partir da discussão de problemas. Quando falamos na
Metodologia da Problematização, a realidade do aluno se torna
o alicerce para a criação dos problemas a serem abordados, en-
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 227

quanto que na Aprendizagem Baseada em Problemas, os docen-


tes montam os problemas a serem resolvidos de acordo com os
aspectos teóricos do currículo em questão.
De outra forma, existem alguns estudos no mundo todo que
comprovam que o estudo em grupo (mesmo com dois alunos) faz
com que os alunos assimilem de uma forma melhor o conteúdo
específico de disciplinas como a Matemática, fazendo com que o
processo de ensino-aprendizagem se torne mais denso. Ou seja,
você pode propor para uma discussão em grupo problemas de
ENEM e vestibulares, colocar em discussão as soluções e no final
finalizar com as melhores soluções.

Vídeo complementar ––––––––––––––––––––––––––––––––––


Neste momento, é fundamental que você assista ao vídeo complementar.
• Para assistir ao vídeo pela Sala de Aula Virtual, clique no ícone Videoaula,
localizado na barra superior. Em seguida, selecione o nível de seu curso
(Graduação), a categoria (Disciplinar) e o tipo de vídeo (Complementar). Por
fim, clique no nome da disciplina para abrir a lista de vídeos.
• Para assistir ao vídeo pelo seu CD, clique no botão “Vídeos” e selecione:
Análise Matemática– Vídeos Complementares – Complementar 4.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

3. CONTEÚDOS DIGITAIS INTEGRADORES


Na referência a seguir, temos um vasto material com todos
os aspectos teóricos envolvendo o limite de uma função, funções
contínuas e deriváveis.
• MEDEIROS, L. A. et al. Lições de Análise Real. Disponível
em: <http://www.im.ufrj.br/~medeiros/LinkedDocu-
ments/AnaliseRealultima13092006.pdf>. Acesso em: 19
jan. 2014.
Percebe-se que diversos nomes utilizados dentro da Mate-
mática, considerados até certo ponto curiosos, às vezes, são utili-
zados sem que saibamos sua procedência. Por que tais nomes? De
onde surgiram? É por conta dos matemáticos que descreveram tal

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228 © Análise Matemática

teoria? São perguntas interessantes que fazem com que o nosso


conhecimento se torne mais denso com o passar do tempo e com
mais pesquisas específicas de tópicos da Matemática. Assim, é in-
teressante ler o artigo citado a seguir, de autoria do professor Elon,
que nos responde algumas dessas ponderações.
• LIMA, E. L. Conceitos e Controvérsias. Disponível em:
<http://www.rpm.org.br/indice.pdf>. Acesso em: 15 jan.
2014.
Segundo Abreu, por imposição do raciocínio lógico, somos
levados a demonstrar, na Matemática, até as proposições "intui-
tivas", tidas como óbvias. Lembro perfeitamente de uma frase
de um professor na minha graduação em Matemática: "Procure
sempre justificar o óbvio porque o óbvio nem sempre é tão óbvio
como se pensa". Dessa forma, é muito comum acharmos que um
determinado argumento é verdadeiro de uma forma geral, quan-
do na verdade ele não é, ou seja, usamos da intuição e ela nos leva
a cometermos um erro. Fica clara então a necessidade que temos
dentro da Matemática de sempre justificarmos os fatos por meio
das demonstrações.
• ABREU, J. F. de. Quando a intuição falha. Disponível em:
<http://www.rpm.org.br/indice.pdf>. Revista do Profes-
sor de Matemática N° 08. Acesso em: 18 jan. 2014.
Nos textos a seguir, você verá uma síntese das principais
ideias a serem estudadas com relação aos diversos tópicos de um
curso introdutório de Análise Real ou Análise Matemática. Além
disso é apresentado uma série de novos exemplos resolvidos en-
volvendo demonstrações e problemas derivativos dos resultados
aplicados.
• CABRAL, M. Guia de Estudo de Análise Real. Disponível
em: <http://www.labma.ufrj.br/~mcabral/textos/guia-
-estudo-analise.pdf>. Acesso em: 19 jan. 2014.
• CABRAL, M.; NERI, C. Curso de Análise Real. Disponível
em: <http://www.dma.im.ufrj.br/~mcabral/livros/anali-
se-livro.html>. Acesso em: 19 jan. 2014.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 229

4. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Procure responder às questões propostas a seguir para fixar
com mais propriedade os aspectos teóricos que foram colocados
sobre as derivadas e aplicações. É muito importante que você pra-
tique a utilização das definições e resultados discutidos anterior-
mente na realização de novos problemas simulados.
2x + 3
1) A função f ( x) = é contínua no ponto x = −2 ? Justifique a sua
resposta. x² + 4
2) Toda função contínua num ponto x = a é derivável em x = a ? Verdadeiro
ou Falso? Justifique.

3) Vimos, de acordo com os aspectos teóricos estudados, que a derivada pode


ser interpretada como uma inclinação e como uma taxa de variação, dessa
forma, responda:
a) Se a velocidade de um corpo ao tempo t segundos for medida em me-
tros/segundo, quais são as unidades da aceleração?
b) O custo C para construir uma casa de área A metros quadrados é dado
pela função C = f(A). Qual é a interpretação prática da função f ’(A)?
c) O custo para extrair T toneladas de minério de uma mina de cobre é dado
por C = f(T) reais. Qual é o significado de falarmos que f ’(2000) = 100?
4) Determine dois números positivos cuja soma é igual a 4 e tal que a soma
do cubo do menor número com o quadrado do número maior seja a menor
possível, ou seja, seja mínima.

5) Determine no instante t = 2 segundos a velocidade de uma partícula que


1
se move obedecendo à equação horária s = . (Utilizar unidades no SI).
t
Gabarito
2x + 3
1) A função f ( x) =
é contínua no ponto x = −2 , pois existe
x² + 4
2.(−2) + 3 −1
f (−2) =
=
(−2)² + 4 8

2 x + 3 2.(−2) + 3 −1
• lim
= =
x→ −2 x 2 + 4 (−2) 2 + 4 8

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230 © Análise Matemática

Portanto, concluímos de acordo com a definição formal de função contínua,


que a função f definida por
2x + 3
f ( x) = é contínua no ponto x = −2 .
x² + 4
2) A resposta é que não, como visualizamos nos aspectos teóricos, não neces-
sariamente uma função contínua em um ponto x = a implica que ela ad-
mite f '( a ) . O exemplo clássico que temos é para a função f ( x) = | x |
(valor absoluto de x ), que é contínua no ponto x = 0 , porém, não admite
derivada nesse ponto.

3) Neste caso, temos que:


dv
a) As unidades da aceleração, ou como sabemos, Aceleração = ,
dt
metros metros
são = , ou ainda
( segundo).( segundo) ( segundo) 2
metros
escrevemos .
seg 2
dC
b) Temos que f '( A) = é um custo dividido por uma área,
dA
logo é medido em reais por metro quadrado. Podemos pensar
em dC como custo extra para construir dA metros quadrados a
dC
mais. Dessa forma, é o custo adicional por metro quadrado.
dA
Ou seja, se planejarmos construir uma casa de mais ou menos A
metros quadrados de área, f '( A) é o custo por metro quadrado
de área extra envolvida na construção de uma casa um pouco
maior; chamamos de custo marginal. O custo marginal não é
necessariamente o mesmo que o custo médio por metro quadrado
para a casa toda, pois, uma vez que decidimos construir uma casa
grande, o custo para acrescentar uns poucos metros quadrados
poderia ser relativamente pequeno.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 231

dC
c) Temos que f '(2000) = . Como C é medido em reais
dT T = 200
dC
e T em toneladas deve ser medido em reais por tonelada.
dT
dC
Dessa forma, a declaração = 100 diz que, quando 2000
dT T = 200
toneladas de minério tiverem sido extraídas da mina, o custo
de extrair a tonelada seguinte é aproximadamente R$ 100,00.
Outro modo de falarmos isso é que custa cerca de R$ 100,00
extrair a tonelada número 2000 ou 2001. Note que isso pode
ser bem diferente do custo para extrair a décima tonelada, que
provavelmente será mais acessível.

4) Seja:

S ( x) = x3 + (4 − x) 2 , 0 ≤ x ≤ 2 .
Devemos determinar x, que torna mínimo o valor de S. Temos que:
S '( x) = 3 x 2 + 2 x − 8
Daí:
 4
x = 3

S '( x)= 3 x 2 + 2 x − 8 ⇔ ou
 x = −2

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232 © Análise Matemática

- +




 










 

4
Dessa forma, x=
torna mínimo o valor de S. Ou seja, concluímos que os
3
4 8
números procurados são e .
3 3
5) Sabemos que a velocidade é a taxa de variação do espaço com relação ao
tempo, ou seja, neste caso, podemos escrever:

Velocidade = s'(t)
Ou seja,
−1
Velocidade =
t2
−1 −1
Logo, a velocidade no tempo t = 2 é dada por s'(2)
= =
22 4

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vimos que a Análise Matemática é caracterizada como sen-
do o desenvolvimento formal do Cálculo Diferencial e Integral de
uma variável real, ou seja, a descrição formal dos diversos resul-
tados e propriedades que cercam as funções do tipo y = f ( x) ,
ou ainda, com nenhum rigor matemático em demonstrações de
resultados mais apurados.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 233

Na primeira unidade, introduzimos a construção formal do


conjunto dos números naturais tendo como ponto de referência
os Axiomas de Peano, para discutirmos a noção de conjuntos fi-
nitos, infinitos e enumeráveis, bem como discutimos as principais
propriedades e resultados do conjunto dos números reais, ou seja,
mostramos que este é um corpo ordenado completo. Por fim, nes-
sa Unidade, aplicamos o PIF na resolução de problemas simulados
e vimos a sua importância para a justificativa de diversos teoremas
ao longo da obra.
Na Unidade 2, apresentamos a teoria associada às sequên-
cias e séries numéricas, bem como os principais teoremas relacio-
nados e critérios de convergência. Em verdade, essa unidade teve
como pontapé inicial as progressões geométricas amplamente dis-
cutidas na Matemática Elementar. De outro modo, falamos num
resultado fundamental, que é o Teorema de Bolzano-Weirtress,
mostrando que toda sequência limitada de números reais possui
uma subsequência convergente.
Na Unidade 3, trabalhamos com os aspectos relacionados
às noções topológicas na reta, bem como apresentamos formal-
mente o conceito de limite de uma função y = f(x) e propriedades
associadas. Em verdade, para os nossos propósitos, encaramos a
Topologia para a descrição de uma família de conjuntos abertos
utilizados para a definição de limite de funções.
Na Unidade 4, discutimos os principais resultados e proprie-
dades envolvendo a continuidade e derivação, ou seja, apresenta-
mos os conceitos fundamentais, propriedades importantes e teo-
remas sobre as funções contínuas e deriváveis.
Cabe ressaltar que, para o fechamento formal dos tópicos de
Cálculo Diferencial e Integral, faltou a parte da Teoria da Integra-
ção, que comumente não é discutido em Análise Matemática, mas
sim num segundo plano.
Dessa forma, podemos averiguar que a partir dos nossos es-
tudos teremos um embasamento maior para discutir, interpretar e

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234 © Análise Matemática

resolver, especificamente falando, problemas relacionados à parte


de funções e sequências, problemas esses que são amplamente
visualizados não só na Matemática como um todo, mas também
no Ensino Fundamental e Médio. Em outras palavras, este estudo
com certeza contribui de forma significativa para uma sólida for-
mação do futuro licenciado em Matemática. Saliento ainda, que é
necessário que você continue buscando novas situações, a fim de
desvendar esse maravilhoso mundo que é o da Matemática, apri-
morando novas teorias para problemas.

6. E-REFERÊNCIAS
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Livro/lim.pdf >. Acesso em: 31 out. 2013.
MATEMATICA ESSENCIAL. Cálculo: Derivadas de Funções (II). Disponível em: <HTTP
http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/calculo/derivada/derivada2.
htm>. Acesso em: 31 out. 2013.
______. Ensino Superior: Cálculo: Máximos e Mínimos: Conceitos básicos. Disponível em:
<http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/superior/maxmin/mm01.htm>. Acesso
em: 31 out. 2013.
MUNDO EDUCAÇÃO. Limite de uma função. Disponível em: <http://www.
mundoeducacao.com/matematica/limite-uma-funcao.htm>. Acesso em: 31 out. 2013.
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SCIELO. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas: diferentes termos
ou diferentes caminhos? Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v2n2/08>.
Acesso em: 4 jan. 2014.
UNESP, Homepage. Disponível em: <http://www.mat.ibilce.unesp.br/laboratorio/pages/
historia/leibniz.htm>. Acesso em: 4 abr. 2014.
USP. Continuidade. Disponível em: <http://ecalculo.if.usp.br/derivadas/continuidade/
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WIKIDOT. Definição de continuidade. Disponível em: <http://amiii.wikidot.com/2-1-
continuidade-de-funcoes-de-varias-variaveis-parte-4>. Acesso em: 31 out. 2013.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ÁVILA, G. Introdução à análise matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2000.  
______.  Análise matemática para licenciatura. 3. ed. rev. e amp. São Paulo: Edgard
Blucher, 2001.
© U4 - Funções Contínuas e Funções Deriváveis 235

BERBEL, N. N. “Problematization” and Problem-Based Learning: different words or


different ways? Interface — Comunicação, Saúde, Educação, v.2, n.2, 1998.
BOULOS, P.  Introdução ao cálculo: cálculo integral. séries. 2. ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 1999. v. 2.
CANTOR, G. Contributions to the founding of the theory of transfinite numbers. New
York: Dover, 1955.
DEMIDOVITCH, B. Problemas e exercícios de análise matemática. Portugal: McGraw-Hill,
1993.
EDWARDS, Jr. C. H.; PENNEY, D. E. Cálculo com Geometria Analítica. Rio de Janeiro:
Prentice-Hall do Brasil, 1997. v. 1
FIGUEIREDO, D. G. Análise I. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1996.
GUIDORIZZI, H. R. Um curso de cálculo. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2002. v. 4.
HAGAR, C. B. O horrível. O Globo, [s. l.], p. 15, 16 abr. 2005.
LEITHOLD, L. Cálculo com geometria analítica. Tradução de Cyro C. Patarra. 3. ed. São
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LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: IMPA, 1989. v. 1. (Coleção Matemática
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SIMMONS, G. F. Cálculo com geometria analítica.  Tradução de Seiji Hariki. São Paulo:
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THOMAS, George B. Cálculo. São Paulo: Addison Wesley, 2003. v. 1
WAGNER, F. Os bichos. O Globo, [s. l.], p. 13, 16 mar. 2001.

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