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Crimes Virtuais no Brasil

Quem nunca se deparou com um amigo ou parente que lhe diz a


seguinte frase: “Eu não compro pela Internet, porque morro de medo de
clonarem meu cartão.”
Estas pessoas não sabem que o risco que elas assumem em ter seu
cartão clonado na Internet é igual ao de ter o mesmo cartão clonado em um
salão de beleza, por exemplo. Porém, se sentem menos seguras com a Web,
uma vez que desconhecem o alcance dos seus direitos e da legislação.
A verdade é que o Brasil ainda não tem uma legislação específica de
Internet, e por isso os chamados crimes virtuais levam em consideração os
códigos tradicionais.
A Internet possibilita a prática de crimes complexos, que exigem uma
solução rápida e especializada. O avanço tecnológico tem proporcionado o
incremento dos crimes comuns, de tal forma que podemos afirmar que os
delitos virtuais crescem na proporção do avanço da tecnologia.
De fato, o sentimento de anonimato, a impunidade e o alcance global
dos meios de comunicação fazem com que o número de infratores dessa
natureza cresça, não obstante a constante preocupação em inibir tais
condutas. É importante ressaltar que a legislação vigente aplicada aos crimes
praticados no meio físico, pode ser utilizada com perfeição, para os delitos
informáticos, ou para aqueles crimes que de alguma forma, utilizaram o
ambiente virtual.
Com efeito, os Códigos Brasileiros já estão sendo discutidos em crimes
comuns praticados por meio eletrônico. De outro lado, contudo, restam as
condutas que surgiram apenas com a disseminação de ferramentas de alta
tecnologia. É o caso dos crackers, chamados equivocadamente de hackers,
especialistas em invadir sistemas informáticos e bancos de dados, sempre com
o intuito de causar prejuízo (concorrência desleal, dano, violação de direito
autoral e outras condutas). As estatísticas revelam que o Brasil é o País com o
maior número de crackers especialistas no mundo.
Todavia, ainda que a lei brasileira venha sendo aplicada na prática, não
podemos deixar de lado a recomendação de legislação complementar sobre o
assunto, com intuito de prover maior rapidez processual e a efetiva repressão
aos delitos eletrônicos.
Necessária, também, a celebração de tratados internacionais que
coíbam as condutas criminosas no ambiente da Internet, bem como uma
política mundial para cooperação recíproca, dada à questão que envolve a
extraterritorialidade desses crimes.
Mesmo assim, merece destaque, no plano nacional, a lei nº 9.296, de 24
de Junho de 1996, que pune o indivíduo que realizar interceptação de
comunicações em sistemas de informática, desde que se obtenha prova
eletrônica adequada. A sentença é de reclusão, de dois a quatro anos, e multa.
Acrescente-se, pois, que a evidência eletrônica apresenta características
próprias e complexas, exigindo conhecimento especializado na sua coleta e
utilização. Além disso, é da natureza do próprio meio a volatilidade e fragilidade
que, curiosamente, se entrelaçam com a facilidade da recuperação de “rastros”
e outros indícios típicos.
O número de fraudes na internet cresceu 6.513% no País entre 2004 e
2009. Os dados são do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de
Incidentes de Segurança no Brasil. Segundo o delegado José Mariano de
Araújo Filho, da Unidade de Inteligência Policial do Departamento de
Investigações sobre o Crime Organizado (DEIC), de São Paulo, os números se
referem às queixas feitas por administradores de redes, mas o total de fraudes
pode ser bem maior.
A atuação dos criminosos é altamente especializada. Os grupos nem
precisam mais de gênios dos computadores para roubar senhas e aplicar
golpes. Segundo a polícia, agora as quadrilhas têm membros cujos
conhecimentos de informática não passam do nível básico. E elas prestam
serviços até para o crime organizado tradicional: usam senhas roubadas para
colocar crédito em telefones pré-pagos - serviço útil para presidiários.
Para o delegado, vários fatores dificultam o combate a esses grupos,
entre eles, a burocracia. "O crime é online. A legislação, off-line. Se temos
suspeitas e precisamos colher informações de um provedor de acesso, temos
de pedir mandado à Justiça, que decide se aceita ou não. (Temos de) esperar
a Justiça notificar o provedor, o provedor responder à Justiça e só aí
recebemos a informação. Nesse tempo, o suspeito já sumiu", afirma Araújo. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Em suma, é de grande importância a preocupação global, bem como a
atenção nacional despendida ao assunto. Não obstante a esta preocupação,
verifica-se que as leis brasileiras vigentes podem e já estão sendo aplicadas
aos crimes praticados no ambiente virtual, a exemplo da pedofilia, das fraudes
em instituições financeiras, dos crimes contra a honra, dos crimes contra a
propriedade industrial e intelectual e etc., os quais, inclusive, possibilitam à
vítima o recebimento de indenizações pelo prejuízo material ou moral sofrido.
Basta, neste momento, que as vítimas exerçam o direito de buscar
aquilo que é devido. Agindo dessa forma, ainda que por via indireta, teremos,
com certeza, diminuição na impunidade e aumento no exercício da cidadania.

Cleiton Cesar Schaefer é advogado geral, habilitado em Direito Público desde 1996, graduado pela Faculdade de
Direito de Curitiba, sócio da Auto Real Peças e Acessórios, cinéfilo, videolocador e lanhauseiro na New Center Video
Lan, blogueiro com 9 (nove) blogs no ar, pintor de telas, licenciado pleno em informática pelo Centro Universitário de
União da Vitória – UNIUV, onde é professor voluntário de inclusão digital, professor de informática de 5ª à 8ª Série da
Prefeitura de Porto União – SC, pós-graduando pelo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN - MS,
Direito Eletrônico e Sistemas de Informação, e pela PUCPR, Comunicação Audiovisual, e vem filmando em stop
motion a animação de ficção científica, baseada no roteiro próprio “A Fantástica História do Último Homem”.

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