Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Esta cartilha foi elaborada com a intenção de divulgar informações sobre as potencialidades do
bambu, uma planta muito especial, que acompanha a humanidade desde os primórdios e que até hoje,
mesmo com toda a tecnologia e modernidade, está sendo vista como “a madeira do futuro”.
As informações aqui contidas são frutos de pesquisa teórica e prática, iniciada em meados de
2005, que começou como um hobby de final de semana de forma autodidata, criando luminárias e
artefatos com o bambu. Com o passar do tempo o trabalho foi crescendo e criou-se a necessidade de
maior conhecimento sobre esta versátil planta, pois algumas peças foram rapidamente devoradas
pelos carunchos.
Quando comecei a pesquisar sobre o bambu fiquei impressionado com as possibilidades de
utilização, grande variedade de gêneros e espécies e inúmeras outras particularidades desta planta.
Em 2008 fui morar na zona rural de Porto Alegre-RS onde passei a dedicar-me exclusivamente ao
trabalho com bambu. No início com os artesanatos, e a partir de 2009 com estruturas leves, utilizando
técnicas construtivas de algumas culturas ancestrais.
Neste mesmo ano conheci a Permacultura e me identifiquei profundamente com suas éticas, princípios
e práticas.
No final de 2009 iniciei o Projeto “Espaço Naturalmente”, um local que serve como “laboratório
permacultural”, onde testamos e desenvolvemos as técnicas de Permacultura, como saneamento
ecológico, bioconstruções com terra crua e bambu, produção de alimentos orgânicos, fornos e fogões à
lenha com combustão eficiente, artefatos de bambu (artesanato e móveis) e utilização de fontes de
energias renováveis. Neste local também ministramos cursos relacionados a Permacultura, Bambu e
Bioconstrução. Mas acima de tudo, vivendo esta busca por uma vida sustentável na prática!
Nossa “sociedade moderna” baseada na matriz energética do petróleo, que além de ser poluente
é uma fonte de energia não renovável, está a beira de um colapso energético/econômico; perda de
solos cultiváveis com a utilização de extensos monocultivos insustentáveis e como consequência a
perda da Biodiversidade e escassez de alimentos (principalmente sem agrotóxicos e sem
transgênicos), o consumismo está exaurindo os recursos naturais, a poluição das águas, doenças
causadas por má alimentação e sedentarismo dentre tantos outros problemas atuais.
Não temos mais tempo para ficar esperando que o “poder público” resolva alguma coisa, as
soluções tem que vir de ações práticas das pessoas, e a Permacultura é um grande exemplo prático,
simples e eficiente de sermos responsáveis por nossa própria vida.
Índice
1- Introdução
2- História
3- Botânica
4- Morfologia
5- Crescimento e Desenvolvimento dos Colmos
6- Florescimento
7- Cultivo
8- Manejo
9- Plantio
10- Corte
11- Cura
12- Tratamento
13- Armazenagem de colmos
14- Espécies e Aplicações
1-Introdução
Depois que um bambuzal atinge sua idade adulta, em torno de 8 anos, produz colmos
(troncos) anualmente;
Não precisa ser replantado (a extração de madeira é apenas uma “poda”). Um bambuzal bem
manejado pode viver de 80 a mais de 120 anos;
Brotos para alimentação, rico em proteínas, fibras e substâncias antioxidantes (pode substituir
a extração do Palmito Juçara, ameaçado de extinção);
Planta perene e rústica que pode ser cultivada em solos com baixa fertilidade;
“Por se tratar de uma planta tropical, perene, renovável e que produz colmos anualmente
sem a necessidade de replantio, o Bambu apresenta um grande potencial agrícola. Além de ser um
eficiente sequestrador de carbono, apresenta excelentes características físicas, químicas e
mecânicas.
Pode ser utilizado em reflorestamentos, na recomposição de matas ciliares, e também como um
protetor e regenerador ambiental, bem como pode ser empregado em diversas aplicações ao
natural ou após sofrer um adequado processamento.
Porém o Bambu ainda é pouco utilizado, quer seja pelo desconhecimento de suas espécies, de
suas características e aplicações, quer seja devido à falta de pesquisas específicas e à ineficiente
divulgação das informações disponíveis.
No Brasil, o uso que se faz do Bambu, excetuando-se a produção de papel, está restrito a
algumas aplicações tradicionais, como artesanato, vara de pescar, fabricação de móveis, e na
produção de brotos comestíveis (PEREIRA, 2001).”
“O Bambu é o recurso natural que se renova em menor intervalo de tempo, não havendo
nenhuma outra espécie florestal que possa competir com o Bambu em velocidade de crescimento e de
aproveitamento por área (JARAMILLO, 1992).”
“O Bambu, uma planta predominantemente tropical e que cresce mais rapidamente do que
qualquer outra planta do planeta, necessitando, em média, de 3 a 6 meses para que um broto
atinja sua altura máxima, de até 30 metros, para as espécies denominadas de gigantes,
apresenta uma admirável vitalidade, grande versatilidade, leveza, resistência e facilidade em ser
trabalhado com ferramentas simples, formidável beleza do colmo ao natural ou após ser processado,
qualidades que lhe têm proporcionado o mais longo e variado papel na evolução da cultura
humana, quando comparado com qualquer outro tipo de planta (FARRELY, 1984).”
“O Bambu sempre esteve presente na cultura e na vida diária do homem primitivo de
todos os continentes com exceção da Europa que não tem o Bambu na forma nativa.
Nos tempos mais remotos o Bambu era empregado na fabricação de arcos e flechas, habitações,
utensílios domésticos, embarcações e outros.
Mais tarde o Bambu foi matéria prima na construção da primeira lâmpada, avião e
bicicleta (SALGADO, 1992).”
2-História
A origem do Bambu, segundo Hidalgo Lopes, remonta o final do período Cretáceo e início do
período Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás.
Sítios arqueológicos no Equador mostram que o Bambu é utilizado há cerca de 5000 anos na
América do Sul, primeiramente pelos indígenas. O artigo do Dr. J.J. Parsons na Geographical Review
Vol. 81: “Giant American Bamboo in the Vernacular Architeture os Colombia and Ecuador”, de 1991 é
didático no assunto. Pontes, cercas, barricadas, aquedutos e até prisões já foram feitas de bambu da
espécie Guadua Angustifolia, preferido dos colombianos e equatorianos.
O Bambu foi e é utilizado das mais variadas formas possíveis, alimentação humana, palitos de
dentes e churrasco, palhetas de saxofones, pranchas de surf, skate, como armadilhas para peixes e
como Arma de Guerra.
No Quilombo dos Palmares foram usadas Armadilhas de bambu, como arma de defesa, também
usavam paliçadas, de forma a impedir o avanço do inimigo.
O bambu por ser biodegradável, quando soterrado, não apresenta a mesma resistência que
materiais como; pedra, osso, cerâmica, vidro, chifre, metais, dificultando sua colaboração com a
Arqueologia, sendo, portanto muito raro achados de artefatos de bambu, dependem muito das
condições do solo e do clima para que cheguem ate nossos dias. Atualmente alguns achados na China
estão sendo revelados.
Na lenda do Saci-Perere, ele nasce dentro do colmo do bambu, passa sete anos dentro do colmo,
depois sai, e vive setenta e sete anos, durante o dia ele fica dentro do bambu e a noite sai, para fazer
suas traquinagens.
A colheita do Bambu no Japão para determinados fins, é realizada com muito respeito, apenas
homens com mais de sessenta anos, vestidos todos de branco.
Uma antiga lenda Chinesa diz que, um grupo de sábios fugitivos da ira de um Imperador se
refugiou num bambuzal, só que naquela época o bambu era uma planta sagrada na China, acreditava-
se que um espírito, o elemental do bambu morava no interior do colmo. Esses sábios, sem ter nada
para comer, passaram a comer os brotos do bambu, e utilizá-lo para fazer casas, móveis e todos os
utensílios de uma casa. Com a morte do imperador que havia perseguido o grupo inicial de sábios e
quando o novo imperador assumiu, já se falava na Cidade de Bambu, então o novo imperador mandou
um destacamento procurar a Cidade de Bambu. Quando a encontraram, os habitantes mostraram para
os emissários do imperador tudo o que haviam feito com Bambu. Então construíram um barco de
bambu e enviaram para o imperador. Este liberou o uso do bambu para se fazer qualquer coisa com
ele, passando a ser utilizado de forma irrestrita na China.
No setor da construção civil, o uso do bambu é bastante difundido na Ásia e em outros países da
América Latina, como Peru, Equador, Costa Rica e Colômbia, onde vários exemplos de edificações
confirmam sua potencialidade.
Vale ressaltar o trabalho dos arquitetos Oscar Hidalgo e Simon Vélez na Colômbia, que pela
sua técnica refinada tem difundido o uso adequado do bambu na construção civil.
O importante centro de pesquisa chinês China Bamboo Research Center – CBRC (2001) destacou
que a partir dos anos 80 tem havido uma intensificação no uso do bambu em diversas áreas
industriais, sobressaindo-se a produção de alimentos, fabricação de papel, além de aplicações em
engenharia e na química.
Produtos à base de bambu processado podem substituir, ou até mesmo evitar, o corte e o uso
predatório de florestas tropicais, destacando-se, dentre outros, produtos como carvão ativado, palitos,
chapas de aglomerados, chapas de fibra orientada (OSB), chapas entrelaçadas para uso em fôrmas
para concreto (compensado de bambu), painéis, produtos à base de bambu laminado colado( tais
como pisos, forros, lambris), esteiras, compósitos, componentes para construção e habitações,
movelaria, dentre outros.
Dos anos 2000 em diante estão começando a ocorrer algumas ações governamentais de apoio ao
uso do bambu, como editais de projetos para o financiamento de pesquisa e recentemente um projeto
aprovado pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) que cria a Política Nacional de
Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu.
3-Botânica
Os Bambus pertencem à família Gramínea e subfamília Bambusoidea , algumas vezes tratados
separadamente como pertencentes à família Bambusacea, com aproximadamente 50 gêneros e
1300 espécies, que se distribuem naturalmente dos trópicos às regiões temperadas, tendo, no
entanto, maior ocorrência nas zonas quentes e com chuvas abundantes das regiões tropicais e
subtropicais da Ásia, África e América do Sul. Os bambus nativos crescem naturalmente em
todos os continentes, exceto na Europa, sendo que 62% das espécies são nativas da Ásia,
34% das Américas, e 4% da África e Oceania (HIDALGO LOPEZ, 2003).
No Brasil ocorrem 89% de todos os gêneros e 65% de todas as espécies conhecidas na América.
Conforme Azzini & Beraldo (2001), algumas espécies de bambu nativas no Brasil são
conhecidas geralmente como: taquara, taboca, jativoca, taquaruçú ou taboca-açú, conforme
a região de ocorrência. Essas espécies de bambus ocorrem, de acordo com Filgueiras & Gonçalves
(2004), em ambientes de mata, como a Floresta Atlântica (65%), Amazônia (26%), e os
Cerrados (9%) servindo como um tipo de cicatrização da floresta quando se processa a retirada
indiscriminada das árvores.
4-Morfologia
(*Forma e disposição das partes que compõem um vegetal.)
Apesar de ser uma gramínea, os Bambus apresentam hábito arborecente, e possui parte
subterrânea com rizoma e raiz e a parte aérea constituída por colmo, folhas e ramificações.
Os Bambus podem ser divididos em seis tipos diferentes de rizomas, sendo três os principais:
Entouceirante (Simpodial)
Alastrante (Monopodial)
Semi-Entouceirante (anfipodial).
4.2-Colmo
O colmo, originando-se de uma gema ativa do rizoma, compõe a parte aérea dos bambus e dá
sustentação para os ramos e folhas. Como os bambus não apresentam crescimento radial, o colmo já
surge com o seu diâmetro máximo na base e afunila em direção ao ápice assumindo assim a
sua forma cônica. Os colmos são segmentados por nós e os espaços compreendidos entre dois nós são
denominados entrenós, que são menores na base, aumentam o seu comprimento na parte mediana e
reduzem novamente o tamanho na medida em que vão aproximando do ápice.
Os bambus são plantas de rápido crescimento que expressa de forma visível no alongamento dos
seus colmos. Na sua fase inicial de crescimento observam-se as maiores velocidades de crescimento
do reino vegetal, com algumas espécies gigantes crescendo até 40 cm por dia.
4.3-Raízes
As raízes dos bambus partem dos rizomas, se lançam na projeção da copa numa profundidade
diretamente proporcional as dimensões de cada espécie. Por ser uma monocotiledônea a raiz é
fasciculada ,sendo portanto destituído de raiz principal. Além de ancorar a planta, juntamente com os
rizomas, as raízes têm a importante função de extrair nutrientes e água do solo.
4.5-Folhas e ramificações
As folhas dos bambus respondem pela função de elaborar as substâncias necessárias ao rápido
crescimento desta planta através do processo da fotossíntese. Características como: dimensão,
formato da lâmina e presença de pelos nas folhas são informações taxonômicas de grande valia para a
identificação das espécies.
A grande quantidade de folhas depositadas constantemente no solo demonstra que esta planta
tem uma notável capacidade de reposição foliar e produção de biomassa.
Durante as primeiras fases do seu desenvolvimento os colmos dos bambus são protegidos pela
folha do colmo que apresenta uma bainha com uma área muitas vezes superior ao da lâmina. Quando
o ápice do colmo ultrapassa o dossel, alcançando a luz, aumenta a emissão de ramificações e o solo na
projeção da planta fica tomado pelas folhas caulinares que vão gradativamente se desprendendo do
colmo. Nos bambus do gênero Guadua as folhas caulinares são mais persistentes, podendo
acompanhar o colmo por boa parte da sua existência.
As ramificações dos bambus originam-se das gemas localizadas nos nós e são sempre alternas.
Diferem entre as espécies, além de outras características, pelo número e a posição que partem do
colmo assim como pela presença ou não de espinhos. Os espinhos, sempre presentes nos bambus do
gênero Guadua, embora não sejam restritivos, representam uma dificuldade a mais no manejo de
florestas comerciais de bambus. São tão agressivos que podem facilmente perfurar um calçado.
Fase 1- Alongamento do colmo: inicia-se quando os colmos, ainda na forma de brotos, são
tenros, apresentam entre 30 e 40 cm de altura e estão completamente cobertos pelas folhas
caulinares. Esta fase termina quando os colmos atingem praticamente a altura total;
Fase 2- Aparecimento de brotações laterais: estas brotações laterais dão origem aos ramos.
Nesta fase as folhas caulinares começam a se desprender do colmo.
Fase 3- Aparecimento das folhas: é caracterizada pelo aparecimento das folhas e estende-se
até o desenvolvimento completo da copa do colmo.
O total desenvolvimento dos colmos (desde o broto até sua altura máxima)
se dá em aproximadamente:
A maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3 anos, para bambus de
rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma leptomorfo (alastrante).
6- Florescimento
Em muitas espécies de bambus o florescimento é um fenômeno raro, podendo acontecer em
intervalos de até 120 anos. Várias espécies de bambus morrem ao florescer devido a energia
desprendida pela planta para a formação de um grande número de sementes.
Porém, nem todo bambu que floresce morre. Ximena Londoño afirma que o gênero Guadua
costuma ter sempre um indivíduo florescendo em um dado grupo.
Esporádica - ocorre apenas em algumas plantas de uma população sendo que ao florescer a
planta ou parte dela morre.
Sincrônica - ocorre simultaneamente em todas as plantas de uma população. Neste caso toda
a população poderá morrer. As causas deste tipo de floração continuam sendo um enigma para os
botânicos, existindo muitas teorias carentes de comprovação.
A ocorrência simultânea de florações de uma mesma espécie em diferentes locais do mundo é
um evento ainda estudado. A teoria mais aceita é que as plantas de um mesmo clone (reproduzidas
através de pedaços de uma mesma planta) podem florescer simultaneamente em locais diferentes.
Floração de “stress” – ocorre quando a planta é submetida a uma agressão ou uma forte
adversidade ambiental. Neste caso pode ocorrer o florescimento em apenas alguns bambus.
7- CULTIVO
O estabelecimento de uma plantação de bambu demora, em média, de cinco a oito anos,
dependendo das condições locais, quando a moita atinge as dimensões características da espécie,
como diâmetro, espessura da parede e altura do colmo (KUSACK, 1999).
Porém, uma touceira conterá sempre certa quantidade de colmos com variadas idades,
denominados brotos (um ano), jovens (de um a três anos) e maduros (superior a três anos),
sendo em média, formados dez novos colmos anualmente, em touceiras que se encontrem
estabilizadas.
Não há, ainda, uma concordância sobre a produtividade alcançada pelo bambu (LIESE, 1985),
sendo obtidos valores anuais da ordem de 10 t/ha a 30 t/ha.
O colmo de bambu tem sua durabilidade durante certo tempo no bambuzal, pois se trata de uma
cultura perene, que se renova ou brota todo ano, com isso o colmo cresce e depois de alguns
anos morre. Este tempo pode variar conforme o gênero. O gênero Bambusa dura em torno de 7 anos,
já o Dendrocalamus dura de 15 a 20 anos na touceira.
8-Manejo
Normalmente o primeiro manejo de uma plantação estabelecida de bambu inicia-se no quarto
ano, por meio da retirada e da limpeza dos colmos que nasceram no primeiro ano. No quinto ano se
retiram ou se colhem os colmos nascidos no segundo ano, e assim sucessivamente. Como regra geral
deve-se colher anualmente somente os colmos maduros, com pelo menos três anos, e os colmos
defeituosos ou que iriam congestionar a moita.
O ideal é fazer uma marcação com o ano de nascimento em cada colmo, assim teremos maior
precisão na hora de colher os colmos maduros.
Durante a fase de formação, a plantação necessita apenas de capinas mecânicas ou manuais,
isto quando o mato estiver crescido. Essa recomendação é necessária até o segundo ano, pois a
partir do terceiro já não mais será preciso, já que o bambuzal desenvolver-se-á suficientemente
abafando o mato.
Devem ser feitas limpezas periódicas nos bambuzais, para eliminar os caules secos, velhos,
com defeitos e quebrados e deixar as touceiras mais arejadas. Tal prática propicia maior recebimento
dos raios solares e evita também, na hora da colheita, que o agricultor tenha dificuldades no corte e
remoção das plantas melhores.
Segundo especialistas, o mais importante é o raleamento anual da colheita, que consiste em
retirar da touceira todos os bambus finos e fracos, que devem ser cortados pela base, pois assim ter-
se-á uma touceira mais rala e com maior ventilação, constituída apenas de bambus fortes, espessos e
uniformes.
Não é recomendável ainda deixar restos vegetais amontoados nas touceiras, que podem
prejudicar o bom desenvolvimento dos novos brotos. Mas nem todos os restos vegetais devem ser
retirados, como é o caso das folhas que cobrem o solo, pois servem de adubo, fornecem sílica e
impedem a evaporação da água do solo; dessa forma, mantém-se maior umidade e evita-se
superaquecimento, causado pela incidência direta dos raios solares.
Quando são bambuzais que já existiam, e que nunca foram manejados, ou apenas cortados
esporadicamente, temos que analisar alguns fatores:
-As posições e crescimento de fibras ao longo dos colmos, como a tortuosidade e redução de
tamanho (encolhimento, muitas vezes causado pela super população de bambuzal não manejado);
-Adensamento da touceira, verificar se existem colmos de boa qualidade, mas sem
disponibilidade de corte;
-A produção real, o que pode ser realmente utilizado;
Diâmetro do pé do colmo X π
X 60
Resultado maior que o colmo, bambuzal de má qualidade;
Resultado menor que o colmo, bambuzal de boa qualidade.
Corte total
Cortar todos os colmos da touceira. Corte na altura de 30 cm, um pouco depois do período de
chuvas.
Manejo indicado para touceiras adensadas (populosa), com muitos colmos podres, fracos e finos,
com pouca brotação e irregular.
Após aproximadamente 4 anos começa a emitir novamente os colmos no diâmetro da espécie.
Pode matar a touceira.
Fazer uma única vez na planta.
Corte parcial
Dividir a touceira em seis setores. Retirar todos os colmos de um setor por ano. Após seis anos a
touceira estará renovada.
Indicado para touceiras com muitos bambus maduros e de boa qualidade.
A maioria das espécies de bambu fornece brotos comestíveis, ricos em proteínas, fibras e
substâncias antioxidantes, os quais muito se assemelham em ao palmito jussara (Euterpe edulis).
O broto de bambu apresenta uma textura suave e um tanto crocante, sendo muito utilizado nas
culinárias chinesa e japonesa. Algumas espécies, como o Dendrocalamus giganteus,
Dendrocalamus asper, Dendrocalamus latiflorus, Bambusa oldhami e Phyllostachys
pubecens, são muito apreciados na produção de brotos.
Na prática, o broto de qualquer espécie de bambu é comestível, pois o que varia é a quantidade
de ácido cianídrico presente, e que vai ser responsável pela qualidade do sabor. As espécies Guadua
angustifólia e Bambusa vulgaris não são muito apreciadas, pois produzem brotos muito amargos.
Portanto, antes de utilizar um broto de bambu na alimentação humana, deve-se fazer uma
fervura de pelo menos trinta minutos, acrescentando uma porção de bicarbonato de sódio ou de
fermento branco, o que normalmente é suficiente para eliminar o ácido cianídrico e,
consequentemente o sabor amargo do broto. Para as espécies com maior concentração de ácido
cianídrico sugere-se fazer duas ou mais fervuras, trocando a água a cada fervura.
9-Plantio
A topografia tem forte influência sobre o bambu, pois este prefere terrenos montanhosos e
quando plantado em terreno declivoso suas varas tomam a forma de elipse, porém só possuem pleno
desenvolvimento em terrenos planos quando bem drenados. Quanto maior a altitude, mais grossos
são os colmos.
Separação de rizomas
Deve-se escolher rizomas de um ano de idade no máximo.
Para rizomas paquimorfos (entouceirante) corta-se no pescoço, onde se liga ao rizoma
antigo, e acima do primeiro nó do seu jovem colmo. Depois planta-se vertical, com o colmo para fora,
ou horizontalmente, com o rizoma a poucos centímetros abaixo da terra.
Para rizomas leptomorfos (alastrante) sem colmos deve-se cortar um segmento com pelo
menos três nós com gemas não usadas. Planta-se horizontalmente, abaixo da terra.
No caso de rizomas leptomorfos com colmos deve-se cortar um segmento com algumas gemas e
acima do primeiro nó do colmo. Depois planta-se o rizoma horizontalmente abaixo da terra, com o
colmo para fora.
Separação de colmos
Funciona muito bem com gêneros tropicais como Bambusa e Dendrocalamus. O colmo deve
ter até um ano de idade. Deve-se deixar os galhos principais que saem das gemas dos nós do
colmo, mas cortados acima dos seus primeiros nós.
Pode-se usar um nó simples, ou seja, cortar antes e depois de um nó, enterrando
horizontalmente, com o galho apontando para cima.
Galho lateral
Indicado para bambus entouceirantes.
Corta-se o galho na base, onde se liga ao colmo. Deixa-se o galho com 3 nós, cortando acima do
terceiro nó. Enterra até a metade, em vaso ou sacos para mudas. Tem um índice de 50% de “pega”.
Depois de 6 meses pode ser plantado no local definitivo.
9.2-Espaçamento
Para espécies gigante, geralmente se utiliza o espaçamento de 7x5 metros, com ruas largas para
manuseio e transporte dos colmos de forma prática e eficiente. As espécies alastrantes podem ser
plantadas em 3x3 metros, de forma a deixar também ruas largas para manuseio e transporte, o que
facilitará o controle de invasão, que poderá ser manual, com a retirada de novas brotações e rizomas
ou então fazendo valetas que limitarão o seu sistema radicular.
9.3-Solo
Entre as inúmeras vantagens do bambu, está a sua pouca exigência com relação ao solo. Produz
bem em quase todos os tipos de solo, mas prefere os de maior profundidade, mais férteis e com boa
drenagem, que sejam também arenosos e leves. Para o plantio evitam-se os terrenos compactos,
argilosos e sujeitos a encharcamentos, assim como os solos excessivamente ácidos ou
alcalinos. O terreno tem de ter equilíbrio, favorecendo assim seu desenvolvimento.
Próximo às margens de rios, riachos e lagos, desde que não sejam encharcados, essa planta
tem demonstrado bom desenvolvimento. O terreno para o seu plantio também não tem
necessariamente de receber preparo especial, desde que se verifique que nele há fertilidade de nível
médio, o que no caso pode dispensar a adubação.
10-Corte
A moita ou bosque necessita ser podada todos os anos. Assim haverá mais luz para a
fotossíntese e mais nutrientes para os colmos restantes.
O ponto de corte deve ser logo acima do primeiro nó aparente, rente ao solo.
O corte deve ser bem acima do nó, evitando deixar um “copo”. A água da chuva contida
nestes “copos” apodrece o rizoma abaixo da terra.
Usa-se uma serra de poda ou “dente de tubarão” para o manejo adequado. Evitamos usar facões
para este tipo de corte, visto que este procedimento poderá trincar o bambu, favorecendo o
apodrecimento do rizoma na touceira ou bosque.
Como visto anteriormente, a maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3
anos, para bambus de rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma
leptomorfo (alastrante).
Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua, esta sendo a lua
minguante.
Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de tecelagem ou cestaria
usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua flexibilidade. Para fins de construção deve-se
usar os bambus maduros, mas não podres, com cerca de 3 a 6 anos, quando atingiram sua
resistência ideal.
Para evitar que o bambu “trinque”, devemos furar os diafragmas (membrana que
divide os entrenós internamente) logo após o corte. Pode ser feito com barra de ferro ou
outro bambu menor.
11- Cura
O processo de cura consiste na secagem e diminuição da seiva (alimento dos insetos que
atacam o bambu) contida no bambu. Não confundir com tratamento.
Cura na mata: cortar o colmo de bambu e deixar apoiado encima de uma pedra, no próprio
bambuzal, por 30 dias, ainda com as folhas. Durante este tempo o bambu irá transpirar boa parte de
sua seiva através das folhas. Também fica mais fácil de retirar os colmos do bambuzal, visto que estes
ficarão mais leves (com menos umidade). Não é 100% eficiente.
Imersão em água: As varas de bambu devem ficar totalmente imersas em água por quatro
semanas – o bambu é rico em amido e açúcar que serão eliminados em grande parte (mas não
totalmente) com esse banho –, após, devem ser armazenadas na posição vertical, em ambiente livre
de umidade e sem incidência direta dos raios de sol nas varas, para uma secagem lenta e natural.
O amido irá degradar-se através de fermentação anaeróbica.
Cura pela ação do fogo: consiste em submeter os colmos ao aquecimento em fogo direto,
para eliminar a seiva por exsudação. Com o aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente
o amido, tornando-o menos atrativo ao caruncho.
Esse tratamento é muito utilizado para colmos de bambu pertencentes ao gênero
Phyllostachys. Durante o tratamento com fogo ocorre o derretimento de uma cera natural presente
nas camadas periféricas do colmo. Geralmente essa cera é retirada, ainda quente, com a fricção de um
pano. Nestes bambus, obtém-se com este processo, uma coloração parda brilhante, conferindo
excelente aspecto estético ao colmo.
No entanto, espécies de bambus entouceirantes, não adquirem tal coloração e nem tal brilho
característico.
Com maçarico
Deve-se começar a secagem a partir da base da vara, indo em direção a parte superior. Técnica
conhecida como “Penteamento de Fibras”, por alinhar as fibras do bambu.
Utiliza-se fogo baixo, sempre girando o bambu para que seque de forma uniforme.
Este tratamento é indicado para os bambus alastrantes (leptomorfos).
12-Tratamento
O bambu possui teor de amido relativamente elevado em sua constituição, por isso ele é
bastante susceptível ao ataque de pragas. Para se obter maior resistência e durabilidade,
principalmente quando destinado à construção, é muito importante que algumas providências sejam
tomadas no sentido de otimizar o aproveitamento desse material.
Segundo alguns autores o bambu apresenta vida útil de um a três anos quando não
tratado, e entre dez a quinze anos ou mais quando tratado.
Solução preservativa indicada:
Tanino;
Tratamento natural contra fungos e insetos.
Os taninos são componentes polifenólicos distribuídos em plantas, alimentos e bebidas (MAKKAR;
BECKER, 1998, SANTOS et al. 1997). De acordo com Zucker (1983), os taninos encontram-se
distribuídos em plantas superiores, ocorrendo em aproximadamente 30% das famílias. Eles são
solúveis em água e solventes orgânicos polares, sendo capazes de precipitar proteínas (HARTICH;
KOLODZIEJ, 1997).
Pode-se extrair o Tanino de forma alternativa através da fervura da casca da árvore, ou através
de fornecimento de empresas que tem o processo industrializado de extração, sendo fornecido em
liquido concentrado ou em pó para diluição.
Utilizado em larga escala no curtimento do couro.
Outras árvores que apresentam elevado teor de taninos totais são a Goiabeira (Psidium guajava:
13 a 17%) e o Araça Pitanga (Psidium runn: 20%).
A Erva Cidreira de arbusto (Lippia alba) possui 20% de taninos totais e apresenta um grande
potencial para a extração de tanino, por se tratar de um arbusto e ter rápido crescimento, se
comparado às árvores, visto que a coleta da casca de uma árvore, em grande quantidade, acaba por
matar a mesma. Devemos plantar a espécie que pretendemos utilizar para extrair o tanino e utilizá-lo
no tratamento de bambu, em média ou larga escala.
Em pequena escala poderá ser feito uma poda na árvore escolhida e utilizar galhos e folhas para
a produção do chá de tanino.
Este método utilizando o tanino ainda tem poucos dados publicados. Devemos fazer testes
práticos para atestar a viabilidade deste tratamento.
Guilhermo Gayo, dirigente do Takuara Rendá no Paraguai, centro de estudos sobre o bambu
(www.takuararenda.org) aprendeu essa técnica com os índios do Paraguai. Para produzir o tanino
utiliza as cascas e folhas de aroeira pimenteira e cozinha-se com água.
O tanino inibe o ataque às plantas por herbívoros vertebrados ou invertebrados, como o
caruncho (diminuição da palatabilidade, dificuldades na digestão, produção de compostos tóxicos a
partir da hidrólise dos taninos) e também por micro-organismos patogênicos tais como os fungos
(Wikipédia).
Colocar o “chá” de tanino em um balde, extrair a vara do bambuzal, colocando a base dentro de
um balde com tanino e deixar o bambu apoiado no bambuzal por 30 dias. Neste tempo o bambu vai
puxar o tanino para os colmos. O tanino sobe aproximadamente 5 metros no colmo.
Tratamento Químico
Receita:
Bórax:
Substância: Bórax.
-Perigos mais importantes: O bórax é um pó branco inodoro, não é inflamável, não combustível,
não explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica.
-Efeitos do produto: O produto em grande quantidade se inalado pode ser prejudicial às vias
respiratórias.
A exposição do produto a pele não é preocupante, pois o produto não é absorvido pela pele.
-Efeitos ambientais: O produto em grandes quantidades pode ser perigoso para as plantas e
outras espécies, deve-se reduzir a descarga no meio ambiente.
-Perigos específicos: O bórax é um pó branco inodoro, não é inflamável, não combustível, não
explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica.
-Principais sintomas: Os sintomas detectados pela alta exposição estão relacionados à ingestão.
E podem ocorrer náuseas, vômito, diarreia, com efeitos de vermelhidão e descamação da pele.
-Visão geral de emergências: Remover a vítima ao ar fresco e se tiver dificuldades em respirar
procurar ajuda médica.
Sulfato de Cobre
O sulfato de cobre é um fungicida (mata fungos) muito usado na agricultura e jardinagem. É um
dos principais componentes da Calda Borbalesa, empregada principalmente na cultura de frutos (uva,
figo, goiaba, tomate, etc) contra uma doença fúngica chamada ferrugem.
O sulfato de cobre é classificado como uma substância perigosa (IMO = classe 9 ; UN = 3077 )
fundamentalmente porque pode produzir irritação por contato com mucosas e pele. Esta
irritação se deve à acidez residual que possui, produto de seu processo de fabricação.
Como todo sal de cobre, é solúvel e é tóxico por ingestão.
Boucherie
Consiste em aplicar o produto por pressão. Na parte basal do colmo é conectada uma bolsa, de
forma a ficar bem aderida, ligada a um tubo plástico maleável por onde a substância preservativa será
transportada, do tambor onde está armazenada para o colmo. Ao passo que a pressão é dada, a
substância penetrará pelos vasos condutores do colmo até sair em sua outra extremidade.
A fonte de pressão pode ser por força gravitacional ou por um compressor de ar.
Deve ser aplicado aos colmos de bambu recém cortados, e sem perfuração dos diafragmas do
colmo.
Outro modo muito utilizado para tratamento é ferver o bambu em água. Aconselham-se
períodos de 15 a 60 minutos para cada grupo. As varas tratadas com este método ficam mais
suscetíveis a trincar.
*Esquema utilizando tonéis abertos e soldados.
Este modelo pode ser utilizado tanto para imersão como fervura de bambus.
Bambusa vulgaris
Bambu de colmos tortuosos e de pouca aplicação na movelaria, artesanato e construção. Possui
um alto teor de amido e isto o torna bastante susceptível ao ataque de Dinoderus minutus, o caruncho
do bambu. Por outro lado, este teor de amido pode o caracterizar como uma matéria-prima potencial
para a produção de álcool. Bastante utilizado para produção de carvão e celulose.
É um bambu altamente invasivo e por isso o seu cultivo requer cuidados especiais quanto ao seu
isolamento.
P. Pubescens (MOSO) P. Nigra P. Pubescens “KIKKO”
O gênero Dendrocalamus é originário da Ásia. Esta espécie costuma ser chamada de "bambu-
balde", pela sua grossura. Podem chegar a 25 centímetros de diâmetro e cerca de vinte e cinco metros
de altura. Quando jovens estes bambus apresentam penugem áspera marrom, quase dourada. O
maior bambu de todos é o da espécie Dendrocalamus giganteus.
É um bambu com grande amplitude de utilidades. Pode ser empregado na produção de papel,
brotos comestíveis, móveis, laminados, construção civil, artesanato e outros usos.
DENDROCALAMUS
Os bambus do gênero Guadua tem uma importância crucial na economia de Equador e
Colômbia. É uma espécie conhecida dos nativos há pelo menos 5000 anos. Anteriormente incluídos no
gênero Bambusa, este bambu nativo da América possui espécies com tremenda resistência, o
Guadua angustifolia, sendo notadamente tido como um excelente material de construção. Sua
característica mais chamativa são os nós brancos. No Brasil, segundo Dra. Londoño, existem vastas
florestas naturais de Guadua na Amazônia. Encontramos Guaduas em grande parte do território
brasileiro, de sul a norte.
Guadua Angustifólia
Fontes:
- www.bambubrasileiro.com.br
- Rede Social do Bambu
Sobre Bórax:
http://www.quimidrol.com.br/site/admin/user/anexos/quimico_b12ff4fe897bbaa84825a5f8177d79cf.pdf
http://www.brquim.com.br/fispq/14411.pdf
Livros e apostilas:
-Manual de Construcción con Bambú; Oscar Hidalgo Lópes
-Manual do Arquiteto Descalço; Johan Van Lengen
-Bambu: Cultivo e Manejo; Thiago Greco e Marina Crowberg; Florianópolis 2011. Ed. Insular
-Bambu de Corpo e Alma; Marco A. R. Pereira e Antônio L. Beraldo
-Apostila do curso de capacitação em estruturas de bambu;
Instituto Pindorama, 2012. Facilitação de Bruno Salles