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Cartilha sobre Bambu

Esta cartilha foi elaborada com a intenção de divulgar informações sobre as potencialidades do
bambu, uma planta muito especial, que acompanha a humanidade desde os primórdios e que até hoje,
mesmo com toda a tecnologia e modernidade, está sendo vista como “a madeira do futuro”.

As informações aqui contidas são frutos de pesquisa teórica e prática, iniciada em meados de
2005, que começou como um hobby de final de semana de forma autodidata, criando luminárias e
artefatos com o bambu. Com o passar do tempo o trabalho foi crescendo e criou-se a necessidade de
maior conhecimento sobre esta versátil planta, pois algumas peças foram rapidamente devoradas
pelos carunchos.
Quando comecei a pesquisar sobre o bambu fiquei impressionado com as possibilidades de
utilização, grande variedade de gêneros e espécies e inúmeras outras particularidades desta planta.
Em 2008 fui morar na zona rural de Porto Alegre-RS onde passei a dedicar-me exclusivamente ao
trabalho com bambu. No início com os artesanatos, e a partir de 2009 com estruturas leves, utilizando
técnicas construtivas de algumas culturas ancestrais.
Neste mesmo ano conheci a Permacultura e me identifiquei profundamente com suas éticas, princípios
e práticas.
No final de 2009 iniciei o Projeto “Espaço Naturalmente”, um local que serve como “laboratório
permacultural”, onde testamos e desenvolvemos as técnicas de Permacultura, como saneamento
ecológico, bioconstruções com terra crua e bambu, produção de alimentos orgânicos, fornos e fogões à
lenha com combustão eficiente, artefatos de bambu (artesanato e móveis) e utilização de fontes de
energias renováveis. Neste local também ministramos cursos relacionados a Permacultura, Bambu e
Bioconstrução. Mas acima de tudo, vivendo esta busca por uma vida sustentável na prática!
Nossa “sociedade moderna” baseada na matriz energética do petróleo, que além de ser poluente
é uma fonte de energia não renovável, está a beira de um colapso energético/econômico; perda de
solos cultiváveis com a utilização de extensos monocultivos insustentáveis e como consequência a
perda da Biodiversidade e escassez de alimentos (principalmente sem agrotóxicos e sem
transgênicos), o consumismo está exaurindo os recursos naturais, a poluição das águas, doenças
causadas por má alimentação e sedentarismo dentre tantos outros problemas atuais.
Não temos mais tempo para ficar esperando que o “poder público” resolva alguma coisa, as
soluções tem que vir de ações práticas das pessoas, e a Permacultura é um grande exemplo prático,
simples e eficiente de sermos responsáveis por nossa própria vida.

Carlos Eduardo da Silveira


Bambuzeiro e Permacultor

Índice

1- Introdução
2- História
3- Botânica
4- Morfologia
5- Crescimento e Desenvolvimento dos Colmos
6- Florescimento
7- Cultivo
8- Manejo
9- Plantio
10- Corte
11- Cura
12- Tratamento
13- Armazenagem de colmos
14- Espécies e Aplicações
1-Introdução

BAMBU: um recurso sustentável e renovável

Vejamos alguns exemplos que conferem este título ao Bambu:

Depois que um bambuzal atinge sua idade adulta, em torno de 8 anos, produz colmos
(troncos) anualmente;

Não precisa ser replantado (a extração de madeira é apenas uma “poda”). Um bambuzal bem
manejado pode viver de 80 a mais de 120 anos;

Brotos para alimentação, rico em proteínas, fibras e substâncias antioxidantes (pode substituir
a extração do Palmito Juçara, ameaçado de extinção);

Planta perene e rústica que pode ser cultivada em solos com baixa fertilidade;

Fitorremediação (utilização de plantas como agentes descontaminantes de solo e água) que


pode ser utilizada em recuperação de áreas degradadas. O bambu também pode ser utilizado no
tratamento de águas residuais de esgotos domésticos;

Ciclagem de nutrientes (grande produção de biomassa);

Grande versatilidade de aplicações e usos;

Excelentes características físicas, químicas e mecânicas.

Frases sobre o Bambu

“Por se tratar de uma planta tropical, perene, renovável e que produz colmos anualmente
sem a necessidade de replantio, o Bambu apresenta um grande potencial agrícola. Além de ser um
eficiente sequestrador de carbono, apresenta excelentes características físicas, químicas e
mecânicas.
Pode ser utilizado em reflorestamentos, na recomposição de matas ciliares, e também como um
protetor e regenerador ambiental, bem como pode ser empregado em diversas aplicações ao
natural ou após sofrer um adequado processamento.
Porém o Bambu ainda é pouco utilizado, quer seja pelo desconhecimento de suas espécies, de
suas características e aplicações, quer seja devido à falta de pesquisas específicas e à ineficiente
divulgação das informações disponíveis.
No Brasil, o uso que se faz do Bambu, excetuando-se a produção de papel, está restrito a
algumas aplicações tradicionais, como artesanato, vara de pescar, fabricação de móveis, e na
produção de brotos comestíveis (PEREIRA, 2001).”

“O Bambu é o recurso natural que se renova em menor intervalo de tempo, não havendo
nenhuma outra espécie florestal que possa competir com o Bambu em velocidade de crescimento e de
aproveitamento por área (JARAMILLO, 1992).”

“O Bambu, uma planta predominantemente tropical e que cresce mais rapidamente do que
qualquer outra planta do planeta, necessitando, em média, de 3 a 6 meses para que um broto
atinja sua altura máxima, de até 30 metros, para as espécies denominadas de gigantes,
apresenta uma admirável vitalidade, grande versatilidade, leveza, resistência e facilidade em ser
trabalhado com ferramentas simples, formidável beleza do colmo ao natural ou após ser processado,
qualidades que lhe têm proporcionado o mais longo e variado papel na evolução da cultura
humana, quando comparado com qualquer outro tipo de planta (FARRELY, 1984).”
“O Bambu sempre esteve presente na cultura e na vida diária do homem primitivo de
todos os continentes com exceção da Europa que não tem o Bambu na forma nativa.
Nos tempos mais remotos o Bambu era empregado na fabricação de arcos e flechas, habitações,
utensílios domésticos, embarcações e outros.
Mais tarde o Bambu foi matéria prima na construção da primeira lâmpada, avião e
bicicleta (SALGADO, 1992).”

Estudos realizados no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia


da UNESP em Bauru mostram que as espécies mais indicadas para o uso estrutural na
construção civil são as dos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu),
Dendrocalamus (denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys pubescens.

2-História
A origem do Bambu, segundo Hidalgo Lopes, remonta o final do período Cretáceo e início do
período Terciário, por volta de 65 milhões de anos atrás.

Sítios arqueológicos no Equador mostram que o Bambu é utilizado há cerca de 5000 anos na
América do Sul, primeiramente pelos indígenas. O artigo do Dr. J.J. Parsons na Geographical Review
Vol. 81: “Giant American Bamboo in the Vernacular Architeture os Colombia and Ecuador”, de 1991 é
didático no assunto. Pontes, cercas, barricadas, aquedutos e até prisões já foram feitas de bambu da
espécie Guadua Angustifolia, preferido dos colombianos e equatorianos.

O Bambu foi e é utilizado das mais variadas formas possíveis, alimentação humana, palitos de
dentes e churrasco, palhetas de saxofones, pranchas de surf, skate, como armadilhas para peixes e
como Arma de Guerra.
No Quilombo dos Palmares foram usadas Armadilhas de bambu, como arma de defesa, também
usavam paliçadas, de forma a impedir o avanço do inimigo.

O bambu por ser biodegradável, quando soterrado, não apresenta a mesma resistência que
materiais como; pedra, osso, cerâmica, vidro, chifre, metais, dificultando sua colaboração com a
Arqueologia, sendo, portanto muito raro achados de artefatos de bambu, dependem muito das
condições do solo e do clima para que cheguem ate nossos dias. Atualmente alguns achados na China
estão sendo revelados.

Na lenda do Saci-Perere, ele nasce dentro do colmo do bambu, passa sete anos dentro do colmo,
depois sai, e vive setenta e sete anos, durante o dia ele fica dentro do bambu e a noite sai, para fazer
suas traquinagens.

A colheita do Bambu no Japão para determinados fins, é realizada com muito respeito, apenas
homens com mais de sessenta anos, vestidos todos de branco.

Uma antiga lenda Chinesa diz que, um grupo de sábios fugitivos da ira de um Imperador se
refugiou num bambuzal, só que naquela época o bambu era uma planta sagrada na China, acreditava-
se que um espírito, o elemental do bambu morava no interior do colmo. Esses sábios, sem ter nada
para comer, passaram a comer os brotos do bambu, e utilizá-lo para fazer casas, móveis e todos os
utensílios de uma casa. Com a morte do imperador que havia perseguido o grupo inicial de sábios e
quando o novo imperador assumiu, já se falava na Cidade de Bambu, então o novo imperador mandou
um destacamento procurar a Cidade de Bambu. Quando a encontraram, os habitantes mostraram para
os emissários do imperador tudo o que haviam feito com Bambu. Então construíram um barco de
bambu e enviaram para o imperador. Este liberou o uso do bambu para se fazer qualquer coisa com
ele, passando a ser utilizado de forma irrestrita na China.

Durante o Ciclo das Navegações, principalmente os Portugueses e Espanhóis, introduziram


algumas espécies de bambu no Novo Mundo, normalmente provenientes do Oriente.
Algumas dessas espécies se aclimataram muito bem nos países para que foram levadas, no
Brasil a mais comum é a Bambusa Vulgaris.
Para denominar esta planta, os indígenas brasileiros empregam, entre outras, as palavras Taboca
e Taquara.

No setor da construção civil, o uso do bambu é bastante difundido na Ásia e em outros países da
América Latina, como Peru, Equador, Costa Rica e Colômbia, onde vários exemplos de edificações
confirmam sua potencialidade.

Vale ressaltar o trabalho dos arquitetos Oscar Hidalgo e Simon Vélez na Colômbia, que pela
sua técnica refinada tem difundido o uso adequado do bambu na construção civil.

O importante centro de pesquisa chinês China Bamboo Research Center – CBRC (2001) destacou
que a partir dos anos 80 tem havido uma intensificação no uso do bambu em diversas áreas
industriais, sobressaindo-se a produção de alimentos, fabricação de papel, além de aplicações em
engenharia e na química.
Produtos à base de bambu processado podem substituir, ou até mesmo evitar, o corte e o uso
predatório de florestas tropicais, destacando-se, dentre outros, produtos como carvão ativado, palitos,
chapas de aglomerados, chapas de fibra orientada (OSB), chapas entrelaçadas para uso em fôrmas
para concreto (compensado de bambu), painéis, produtos à base de bambu laminado colado( tais
como pisos, forros, lambris), esteiras, compósitos, componentes para construção e habitações,
movelaria, dentre outros.

Dos anos 2000 em diante estão começando a ocorrer algumas ações governamentais de apoio ao
uso do bambu, como editais de projetos para o financiamento de pesquisa e recentemente um projeto
aprovado pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) que cria a Política Nacional de
Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu.

Em relação às propriedades estruturais do Bambu, Janssen (2000) comentou que se


forem consideradas as relações de resistência / massa específica e rigidez / massa
específica, tais valores superam as madeiras e o concreto, podendo ser tais relações
comparáveis, inclusive ao aço.

Os principais centros de pesquisa no Brasil são: PUC-Rio, se destacando na área de


construção, estudada pela AMBENTEC, dirigida pelo professor Ghavami e também na área de Desing
com o LILD (Laboratório de Investigação de Livre Design) dirigida pelo professor Ripper; IAC –
Instituto Agronômico de Campinas, que possui o maior banco de espécies de bambu no Brasil,
com cerca de 100 espécies; InBambu em Alagoas e a UNESP.

3-Botânica
Os Bambus pertencem à família Gramínea e subfamília Bambusoidea , algumas vezes tratados
separadamente como pertencentes à família Bambusacea, com aproximadamente 50 gêneros e
1300 espécies, que se distribuem naturalmente dos trópicos às regiões temperadas, tendo, no
entanto, maior ocorrência nas zonas quentes e com chuvas abundantes das regiões tropicais e
subtropicais da Ásia, África e América do Sul. Os bambus nativos crescem naturalmente em
todos os continentes, exceto na Europa, sendo que 62% das espécies são nativas da Ásia,
34% das Américas, e 4% da África e Oceania (HIDALGO LOPEZ, 2003).

São encontrados em altitudes que variam de zero até 4800 metros.


Os tons de cor são variados: preto, vermelho, azul, violeta, tendo o verde e o amarelo como
principais.

No Brasil, as espécies nativas são em sua grande maioria enquadradas na categoria de


ornamentais, e estão associadas a um meio ambiente específico, como as florestas. A maioria das
espécies de bambu que se vê plantadas são exóticas, originárias em sua maior parte de países
orientais, de onde foram sendo trazidas e aqui introduzidas desde o tempo do descobrimento, exceção
feita ao gênero Guadua, originário da América, sendo muito utilizado na Colômbia e Equador, e
possuindo várias espécies nativas no Brasil (PEREIRA, 2001).
De acordo com Figueira & Gonçalves (2004), o Brasil possui 34 gêneros e 232 espécies de
Bambus nativos (174 consideradas endêmicas), sendo considerados 16 gêneros de bambus do tipo
herbáceo (ornamental) e 18 gêneros do tipo lenhoso.
Dentre os bambus lenhosos existem 6 gêneros (com 129 espécies) endêmicos,
destacando-se os gêneros Merostachys, com 53 espécies; Chusquea (*bambu maciço), com
40 espécies; e Guadua, com 16 espécies.

No Brasil ocorrem 89% de todos os gêneros e 65% de todas as espécies conhecidas na América.
Conforme Azzini & Beraldo (2001), algumas espécies de bambu nativas no Brasil são
conhecidas geralmente como: taquara, taboca, jativoca, taquaruçú ou taboca-açú, conforme
a região de ocorrência. Essas espécies de bambus ocorrem, de acordo com Filgueiras & Gonçalves
(2004), em ambientes de mata, como a Floresta Atlântica (65%), Amazônia (26%), e os
Cerrados (9%) servindo como um tipo de cicatrização da floresta quando se processa a retirada
indiscriminada das árvores.

4-Morfologia
(*Forma e disposição das partes que compõem um vegetal.)

Apesar de ser uma gramínea, os Bambus apresentam hábito arborecente, e possui parte
subterrânea com rizoma e raiz e a parte aérea constituída por colmo, folhas e ramificações.

*Partes do bambu (NMBA, 2004)


Rizoma Paquimorfo - Entouceirante
4.1-Rizoma
É um caule subterrâneo dotado de nós e entrenós com folhas reduzidas a escamas e que se
desenvolve paralelamente a superfície do solo. Não deve ser confundido com a raiz que é uma parte
distinta da planta.
Os rizomas se reproduzem de outros rizomas mais antigos e permanecem conectados entre si.
Nesta interconexão, todos os indivíduos de um mesmo grupo são descendentes do rizoma primordial,
e são, até certo ponto, interdependentes e solidários, pois entre eles há troca de fotoassimilados
(energia). Os brotos utilizam as reservas de um grupo para crescerem e brotarem.
Os bambus do centro do grupo são os mais velhos e os da periferia os mais jovens.

Os Bambus podem ser divididos em seis tipos diferentes de rizomas, sendo três os principais:

Entouceirante (Simpodial)

Alastrante (Monopodial)

Semi-Entouceirante (anfipodial).

*Diferentes tipos de rizomas (NMBA 2004).

Paquimorfo, também denominado entouceirante ou Simpodial, apresenta os gêneros


Bambusa e Dendrocalamus como principais representantes. A maior parte destes bambus se
desenvolve melhor em climas tropicais, apresentando um crescimento mais lento em temperaturas
baixas. Seus rizomas são sólidos, com raízes na sua parte inferior e se denominam paquimorfos por
serem curtos e grossos. Os rizomas são dotados de gemas laterais que dão origem somente a novos
rizomas.

Leptomorfo, também denominado Alastrante ou Monopodial, são bem resistentes ao frio,


tem como representante mais conhecido o gênero Phyllostachys . Os rizomas leptomorfos raramente
são sólidos e de um modo geral apresentam diâmetros menores que o dos seus colmos
correspondentes. Nos nós dos rizomas encontram-se algumas gemas que permanecem por um tempo
ou permanentemente dormentes. Geralmente quando em estado ativo estas gemas brotam e
produzem colmos esparsos o que permite caminhar entre eles.
Estes bambus são extremamente invasores, demandando cuidados especiais ao serem
cultivados. Tais cuidados referem-se à necessidade de manter a floresta plantada confinada em uma
área previamente definida, evitando desta forma conflitos com vizinhos, com as áreas de reserva legal,
áreas de preservação permanente e a competição com outras culturas na mesma propriedade. Os
bambus leptmorfos podem ser isolados por meio de barreiras físicas como: mantas plásticas, estradas
com trânsito regular e cursos d’água. Vale lembrar contudo que não é recomendado o uso dos cursos
naturais de água para este fim, uma vez que dado a grande capacidade de estabelecimento das
espécies deste grupo, a invasão da mata ciliar seria inevitável. Tal fato além de causar um dano
ambiental seria por conseqüência uma transgressão da legislação ambiental brasileira.

Anfimorfo, também denominado Semi-Entouceirante ou Anfipodial, possuem rizomas de


hábito intermediário ao Paquimorfo e Leptomorfo. Um mesmo indivíduo forma várias touceiras
próximas e interligadas pelo rizoma. O seu principal representante é o gênero Guadua, nativo das
Américas.

4.2-Colmo
O colmo, originando-se de uma gema ativa do rizoma, compõe a parte aérea dos bambus e dá
sustentação para os ramos e folhas. Como os bambus não apresentam crescimento radial, o colmo já
surge com o seu diâmetro máximo na base e afunila em direção ao ápice assumindo assim a
sua forma cônica. Os colmos são segmentados por nós e os espaços compreendidos entre dois nós são
denominados entrenós, que são menores na base, aumentam o seu comprimento na parte mediana e
reduzem novamente o tamanho na medida em que vão aproximando do ápice.
Os bambus são plantas de rápido crescimento que expressa de forma visível no alongamento dos
seus colmos. Na sua fase inicial de crescimento observam-se as maiores velocidades de crescimento
do reino vegetal, com algumas espécies gigantes crescendo até 40 cm por dia.

4.3-Raízes
As raízes dos bambus partem dos rizomas, se lançam na projeção da copa numa profundidade
diretamente proporcional as dimensões de cada espécie. Por ser uma monocotiledônea a raiz é
fasciculada ,sendo portanto destituído de raiz principal. Além de ancorar a planta, juntamente com os
rizomas, as raízes têm a importante função de extrair nutrientes e água do solo.

4.5-Folhas e ramificações
As folhas dos bambus respondem pela função de elaborar as substâncias necessárias ao rápido
crescimento desta planta através do processo da fotossíntese. Características como: dimensão,
formato da lâmina e presença de pelos nas folhas são informações taxonômicas de grande valia para a
identificação das espécies.
A grande quantidade de folhas depositadas constantemente no solo demonstra que esta planta
tem uma notável capacidade de reposição foliar e produção de biomassa.

Durante as primeiras fases do seu desenvolvimento os colmos dos bambus são protegidos pela
folha do colmo que apresenta uma bainha com uma área muitas vezes superior ao da lâmina. Quando
o ápice do colmo ultrapassa o dossel, alcançando a luz, aumenta a emissão de ramificações e o solo na
projeção da planta fica tomado pelas folhas caulinares que vão gradativamente se desprendendo do
colmo. Nos bambus do gênero Guadua as folhas caulinares são mais persistentes, podendo
acompanhar o colmo por boa parte da sua existência.
As ramificações dos bambus originam-se das gemas localizadas nos nós e são sempre alternas.
Diferem entre as espécies, além de outras características, pelo número e a posição que partem do
colmo assim como pela presença ou não de espinhos. Os espinhos, sempre presentes nos bambus do
gênero Guadua, embora não sejam restritivos, representam uma dificuldade a mais no manejo de
florestas comerciais de bambus. São tão agressivos que podem facilmente perfurar um calçado.

5- Crescimento e desenvolvimento dos colmos


 A fase de brotação dos bambus entouceirantes inicia-se em meados da primavera e
permanece durante todo o verão.
 A fase de brotação dos bambus alastrantes ocorre entre os meses de agosto a novembro.

*Estas épocas de brotação são referentes ao hemisfério sul.

Existem 3 fases de crescimento e desenvolvimento dos colmos:

Fase 1- Alongamento do colmo: inicia-se quando os colmos, ainda na forma de brotos, são
tenros, apresentam entre 30 e 40 cm de altura e estão completamente cobertos pelas folhas
caulinares. Esta fase termina quando os colmos atingem praticamente a altura total;

Fase 2- Aparecimento de brotações laterais: estas brotações laterais dão origem aos ramos.
Nesta fase as folhas caulinares começam a se desprender do colmo.

Fase 3- Aparecimento das folhas: é caracterizada pelo aparecimento das folhas e estende-se
até o desenvolvimento completo da copa do colmo.

O total desenvolvimento dos colmos (desde o broto até sua altura máxima)
se dá em aproximadamente:

4 meses para entouceirantes;


2 meses para alastrantes.

A maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3 anos, para bambus de
rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma leptomorfo (alastrante).

6- Florescimento
Em muitas espécies de bambus o florescimento é um fenômeno raro, podendo acontecer em
intervalos de até 120 anos. Várias espécies de bambus morrem ao florescer devido a energia
desprendida pela planta para a formação de um grande número de sementes.
Porém, nem todo bambu que floresce morre. Ximena Londoño afirma que o gênero Guadua
costuma ter sempre um indivíduo florescendo em um dado grupo.

Os bambus apresentam três tipos de florações:

Esporádica - ocorre apenas em algumas plantas de uma população sendo que ao florescer a
planta ou parte dela morre.

Sincrônica - ocorre simultaneamente em todas as plantas de uma população. Neste caso toda
a população poderá morrer. As causas deste tipo de floração continuam sendo um enigma para os
botânicos, existindo muitas teorias carentes de comprovação.
A ocorrência simultânea de florações de uma mesma espécie em diferentes locais do mundo é
um evento ainda estudado. A teoria mais aceita é que as plantas de um mesmo clone (reproduzidas
através de pedaços de uma mesma planta) podem florescer simultaneamente em locais diferentes.

Floração de “stress” – ocorre quando a planta é submetida a uma agressão ou uma forte
adversidade ambiental. Neste caso pode ocorrer o florescimento em apenas alguns bambus.
7- CULTIVO
O estabelecimento de uma plantação de bambu demora, em média, de cinco a oito anos,
dependendo das condições locais, quando a moita atinge as dimensões características da espécie,
como diâmetro, espessura da parede e altura do colmo (KUSACK, 1999).

Porém, uma touceira conterá sempre certa quantidade de colmos com variadas idades,
denominados brotos (um ano), jovens (de um a três anos) e maduros (superior a três anos),
sendo em média, formados dez novos colmos anualmente, em touceiras que se encontrem
estabilizadas.

Não há, ainda, uma concordância sobre a produtividade alcançada pelo bambu (LIESE, 1985),
sendo obtidos valores anuais da ordem de 10 t/ha a 30 t/ha.

O colmo de bambu tem sua durabilidade durante certo tempo no bambuzal, pois se trata de uma
cultura perene, que se renova ou brota todo ano, com isso o colmo cresce e depois de alguns
anos morre. Este tempo pode variar conforme o gênero. O gênero Bambusa dura em torno de 7 anos,
já o Dendrocalamus dura de 15 a 20 anos na touceira.

 Vantagens para produção de matéria prima para fins estruturais:

Planta rústica que se adapta bem em diferentes climas e solos;

Depois que um BAMBUZAL atinge a maturidade, em torno de 8 anos,


pode-se coletar colmos anualmente;

Com o manejo adequado, não precisa ser replantado.

Comparação entre o cultivo de Bambu, Pinus e Eucalipto:

Características BAMBUSA PINUS EUCALIPTO


Agrícolas

Plantio Mudas Sementes Sementes

Corte Frequente 12 anos 6 anos

Produção 20t/ha./ano 10t/ha./ano 11t/ha/ano

Replantio Não Inevitável Inevitável

Exigência de solo Poucas Muitas Razoável

8-Manejo
Normalmente o primeiro manejo de uma plantação estabelecida de bambu inicia-se no quarto
ano, por meio da retirada e da limpeza dos colmos que nasceram no primeiro ano. No quinto ano se
retiram ou se colhem os colmos nascidos no segundo ano, e assim sucessivamente. Como regra geral
deve-se colher anualmente somente os colmos maduros, com pelo menos três anos, e os colmos
defeituosos ou que iriam congestionar a moita.
O ideal é fazer uma marcação com o ano de nascimento em cada colmo, assim teremos maior
precisão na hora de colher os colmos maduros.
Durante a fase de formação, a plantação necessita apenas de capinas mecânicas ou manuais,
isto quando o mato estiver crescido. Essa recomendação é necessária até o segundo ano, pois a
partir do terceiro já não mais será preciso, já que o bambuzal desenvolver-se-á suficientemente
abafando o mato.

Devem ser feitas limpezas periódicas nos bambuzais, para eliminar os caules secos, velhos,
com defeitos e quebrados e deixar as touceiras mais arejadas. Tal prática propicia maior recebimento
dos raios solares e evita também, na hora da colheita, que o agricultor tenha dificuldades no corte e
remoção das plantas melhores.
Segundo especialistas, o mais importante é o raleamento anual da colheita, que consiste em
retirar da touceira todos os bambus finos e fracos, que devem ser cortados pela base, pois assim ter-
se-á uma touceira mais rala e com maior ventilação, constituída apenas de bambus fortes, espessos e
uniformes.
Não é recomendável ainda deixar restos vegetais amontoados nas touceiras, que podem
prejudicar o bom desenvolvimento dos novos brotos. Mas nem todos os restos vegetais devem ser
retirados, como é o caso das folhas que cobrem o solo, pois servem de adubo, fornecem sílica e
impedem a evaporação da água do solo; dessa forma, mantém-se maior umidade e evita-se
superaquecimento, causado pela incidência direta dos raios solares.

Quando são bambuzais que já existiam, e que nunca foram manejados, ou apenas cortados
esporadicamente, temos que analisar alguns fatores:
-As posições e crescimento de fibras ao longo dos colmos, como a tortuosidade e redução de
tamanho (encolhimento, muitas vezes causado pela super população de bambuzal não manejado);
-Adensamento da touceira, verificar se existem colmos de boa qualidade, mas sem
disponibilidade de corte;
-A produção real, o que pode ser realmente utilizado;

Cálculo para verificação do bom desenvolvimento do bambuzal


Para saber se realmente o colmo está atingindo uma boa qualidade e se o bambuzal está tendo
um bom desempenho, recomenda-se o seguinte cálculo:

Diâmetro do pé do colmo X π
X 60
Resultado maior que o colmo, bambuzal de má qualidade;
Resultado menor que o colmo, bambuzal de boa qualidade.

*Cálculo proposto por Ueda (China)

8.1-Tipos de manejo específicos:


Raleamento
Retirada dos colmos podres e finos, varas quebradas e excesso de galhos.
Colher 50% dos maduros, deixando o restante dos colmos maduros em diferentes setores da
touceira.
Fazer caminhos para acessar o centro da touceira, onde estão os bambus mais antigos.
Manejo indicado para touceiras com bambus fortes, retilíneos e não muito adensados.

Corte total
Cortar todos os colmos da touceira. Corte na altura de 30 cm, um pouco depois do período de
chuvas.
Manejo indicado para touceiras adensadas (populosa), com muitos colmos podres, fracos e finos,
com pouca brotação e irregular.
Após aproximadamente 4 anos começa a emitir novamente os colmos no diâmetro da espécie.
Pode matar a touceira.
Fazer uma única vez na planta.
Corte parcial
Dividir a touceira em seis setores. Retirar todos os colmos de um setor por ano. Após seis anos a
touceira estará renovada.
Indicado para touceiras com muitos bambus maduros e de boa qualidade.

8.2-Manejo para obtenção de brotos comestíveis


O manejo da plantação para fornecimento de brotos é um pouco diferente do manejo para
obtenção de colmos estruturais. Enquanto que nesse último caso deseja-se a maior quantidade de
colmos possíveis em uma touceira (normalmente de 40 a 50 colmos, entre brotos, jovens e adultos),
para a produção de brotos a touceira não deve apresentar mais do que dez colmos. O manejo consiste
basicamente em cortar o broto com 30 a 40 cm, assim que ele interrompe seu crescimento inicial, que
pode durar de 10 a 15 dias. Depois desta fase o broto irá crescer e se tornar muito fibroso, tornando-
se, portanto, inadequado para o consumo humano. Assim que um broto é colhido, é ativada uma nova
gema presente no rizoma (para as espécies entouceirantes) e produz-se um novo broto, que, ao ser
colhido, vai estimular uma nova gema e um novo broto, podendo tal fato repetir-se durante dois a três
meses. Para alcançar grande produtividade a touceira necessita de adubação mais frequente para este
tipo de manejo, sendo indicado adubar mensalmente as touceiras durante o período de colheita.
Também se deve deixar que anualmente dois a três brotos se transformem em colmos maduros,
os quais serão as mães para os brotos do ano seguinte.

A maioria das espécies de bambu fornece brotos comestíveis, ricos em proteínas, fibras e
substâncias antioxidantes, os quais muito se assemelham em ao palmito jussara (Euterpe edulis).
O broto de bambu apresenta uma textura suave e um tanto crocante, sendo muito utilizado nas
culinárias chinesa e japonesa. Algumas espécies, como o Dendrocalamus giganteus,
Dendrocalamus asper, Dendrocalamus latiflorus, Bambusa oldhami e Phyllostachys
pubecens, são muito apreciados na produção de brotos.
Na prática, o broto de qualquer espécie de bambu é comestível, pois o que varia é a quantidade
de ácido cianídrico presente, e que vai ser responsável pela qualidade do sabor. As espécies Guadua
angustifólia e Bambusa vulgaris não são muito apreciadas, pois produzem brotos muito amargos.
Portanto, antes de utilizar um broto de bambu na alimentação humana, deve-se fazer uma
fervura de pelo menos trinta minutos, acrescentando uma porção de bicarbonato de sódio ou de
fermento branco, o que normalmente é suficiente para eliminar o ácido cianídrico e,
consequentemente o sabor amargo do broto. Para as espécies com maior concentração de ácido
cianídrico sugere-se fazer duas ou mais fervuras, trocando a água a cada fervura.

9-Plantio
A topografia tem forte influência sobre o bambu, pois este prefere terrenos montanhosos e
quando plantado em terreno declivoso suas varas tomam a forma de elipse, porém só possuem pleno
desenvolvimento em terrenos planos quando bem drenados. Quanto maior a altitude, mais grossos
são os colmos.

A forma mais utilizada para fazer mudas de bambu é a propagação vegetativa.


Pode ser realizada por separação de colmos, rizomas ou galhos.

Separação de rizomas
Deve-se escolher rizomas de um ano de idade no máximo.
Para rizomas paquimorfos (entouceirante) corta-se no pescoço, onde se liga ao rizoma
antigo, e acima do primeiro nó do seu jovem colmo. Depois planta-se vertical, com o colmo para fora,
ou horizontalmente, com o rizoma a poucos centímetros abaixo da terra.
Para rizomas leptomorfos (alastrante) sem colmos deve-se cortar um segmento com pelo
menos três nós com gemas não usadas. Planta-se horizontalmente, abaixo da terra.
No caso de rizomas leptomorfos com colmos deve-se cortar um segmento com algumas gemas e
acima do primeiro nó do colmo. Depois planta-se o rizoma horizontalmente abaixo da terra, com o
colmo para fora.

Separação de colmos
Funciona muito bem com gêneros tropicais como Bambusa e Dendrocalamus. O colmo deve
ter até um ano de idade. Deve-se deixar os galhos principais que saem das gemas dos nós do
colmo, mas cortados acima dos seus primeiros nós.
Pode-se usar um nó simples, ou seja, cortar antes e depois de um nó, enterrando
horizontalmente, com o galho apontando para cima.

Pode-se também usar um nó duplo, ou seja, cortando antes de um nó e depois do nó seguinte.


Ainda pode-se fazer um furo, encher parcialmente a parte interna do entrenó de água, e tapar com
alguma bucha (algodão, pano). Depois enterra-se com algum galho orientado para cima. Este método
é mais seguro de funcionar do que o simples.

Galho lateral
Indicado para bambus entouceirantes.
Corta-se o galho na base, onde se liga ao colmo. Deixa-se o galho com 3 nós, cortando acima do
terceiro nó. Enterra até a metade, em vaso ou sacos para mudas. Tem um índice de 50% de “pega”.
Depois de 6 meses pode ser plantado no local definitivo.

*Mistura da terra para o saco de muda:


50% de areia + 25% de esterco curtido + 25% de argila.

9.1-Preparo da cova e plantio


Abrir um buraco no solo com aproximadamente 50cm de diâmetro por 50cm de profundidade,
em seguida coloca-se no fundo do buraco uma camada de aproximadamente 20cm de esterco de
curral curtido e revigorado com 300g de calcário dolomítico, visando o fornecimento de Cálcio e
Magnésio e eventuais correções de acidez do solo.
Depois desta etapa coloca-se o torrão da muda na cova, completando o restante do volume com
terra preta e com a primeira camada de 20 cm de solo que foi retirada para a abertura do buraco.
Deve-se atentar para deixar a muda levemente abaixo do nível do solo, formando uma suave
depressão, de modo que a água de chuvas e regas possa se acumular no pé da muda. Por fim o solo
deve ser coberto com mulch (cobertura vegetal seca), para diminuir a perda de umidade do solo e
proteção contra a lixiviação.

9.2-Espaçamento
Para espécies gigante, geralmente se utiliza o espaçamento de 7x5 metros, com ruas largas para
manuseio e transporte dos colmos de forma prática e eficiente. As espécies alastrantes podem ser
plantadas em 3x3 metros, de forma a deixar também ruas largas para manuseio e transporte, o que
facilitará o controle de invasão, que poderá ser manual, com a retirada de novas brotações e rizomas
ou então fazendo valetas que limitarão o seu sistema radicular.

9.3-Solo
Entre as inúmeras vantagens do bambu, está a sua pouca exigência com relação ao solo. Produz
bem em quase todos os tipos de solo, mas prefere os de maior profundidade, mais férteis e com boa
drenagem, que sejam também arenosos e leves. Para o plantio evitam-se os terrenos compactos,
argilosos e sujeitos a encharcamentos, assim como os solos excessivamente ácidos ou
alcalinos. O terreno tem de ter equilíbrio, favorecendo assim seu desenvolvimento.
Próximo às margens de rios, riachos e lagos, desde que não sejam encharcados, essa planta
tem demonstrado bom desenvolvimento. O terreno para o seu plantio também não tem
necessariamente de receber preparo especial, desde que se verifique que nele há fertilidade de nível
médio, o que no caso pode dispensar a adubação.

As condições ideais, quanto às propriedades físicas do solo para o desenvolvimento de


bambuzais, são: abundância de matéria orgânica, boa drenagem e alta umidade (Giraldo Herrera;
Sabogal Ospina, 2007). Vale lembrar que quando falamos em alta umidade, estamos nos referindo a
solos com boa capacidade de retenção de água, e não a solos encharcados, como os de regiões de
brejo e banhados.

10-Corte
A moita ou bosque necessita ser podada todos os anos. Assim haverá mais luz para a
fotossíntese e mais nutrientes para os colmos restantes.

Todos os colmos secos e podres devem ser retirados.

O ponto de corte deve ser logo acima do primeiro nó aparente, rente ao solo.

O corte deve ser bem acima do nó, evitando deixar um “copo”. A água da chuva contida
nestes “copos” apodrece o rizoma abaixo da terra.
Usa-se uma serra de poda ou “dente de tubarão” para o manejo adequado. Evitamos usar facões
para este tipo de corte, visto que este procedimento poderá trincar o bambu, favorecendo o
apodrecimento do rizoma na touceira ou bosque.

Como visto anteriormente, a maturidade dos colmos acontece quando estes atingem 3
anos, para bambus de rizoma paquimorfo (entouceirante) e 5 anos para bambus de rizoma
leptomorfo (alastrante).

10.1- Identificação da idade dos colmos de bambu:


*Colmos maduros apresentam fungos e liquens, tendo aspecto de “sujo”.
*Colmos jovens são “limpos” e muitas vezes ainda apresentam um pó esbranquiçado próximo
dos nós, proveniente da folha caulinar, que após alguns meses de vida do colmo, se desprende do
mesmo.
10.2- A colheita de colmos de Bambu deve respeitar a
fisiologia da planta
Devemos evitar colher no período em que a planta está emitindo os brotos e os
momentos que antecedem esta fase. Nesta hora os colmos maduros estão carregados de carboidratos
presentes na seiva, já que durante esta fase os colmos realizam a função de translocar boa parte da
seiva, que é produzida na fotossíntese, via rizomas aos brotos, como suprimento energético para seu
crescimento. Esse processo de translocação de seiva se prolonga até o momento em que os novos
colmos completam o desenvolvimento das estruturas foliares.
Quando os últimos colmos gerados já apresentam superfície foliar suficiente para realizar a
fotossíntese é que os colmos maduros podem ser removidos, sem prejudicar o crescimento dos colmos
jovens e para a obtenção de colmos com menor quantidade de amido, o alimento de fungos e insetos.

Entouceirantes (paquimorfos): colheita entre julho, agosto e setembro.

Alastrantes (leptomorfos): colheita entre os meses de dezembro a maio.

Referente às regiões Sul e Sudeste do Brasil

Estando na época certa do ano deve-se escolher a fase adequada da lua, esta sendo a lua
minguante.

Outra atenção especial a ser tomada é a idade do bambu. Para fins de tecelagem ou cestaria
usam-se os bambus jovens e imaturos, pela sua flexibilidade. Para fins de construção deve-se
usar os bambus maduros, mas não podres, com cerca de 3 a 6 anos, quando atingiram sua
resistência ideal.

Para evitar que o bambu “trinque”, devemos furar os diafragmas (membrana que
divide os entrenós internamente) logo após o corte. Pode ser feito com barra de ferro ou
outro bambu menor.
11- Cura

O processo de cura consiste na secagem e diminuição da seiva (alimento dos insetos que
atacam o bambu) contida no bambu. Não confundir com tratamento.

Cura na mata: cortar o colmo de bambu e deixar apoiado encima de uma pedra, no próprio
bambuzal, por 30 dias, ainda com as folhas. Durante este tempo o bambu irá transpirar boa parte de
sua seiva através das folhas. Também fica mais fácil de retirar os colmos do bambuzal, visto que estes
ficarão mais leves (com menos umidade). Não é 100% eficiente.

Imersão em água: As varas de bambu devem ficar totalmente imersas em água por quatro
semanas – o bambu é rico em amido e açúcar que serão eliminados em grande parte (mas não
totalmente) com esse banho –, após, devem ser armazenadas na posição vertical, em ambiente livre
de umidade e sem incidência direta dos raios de sol nas varas, para uma secagem lenta e natural.
O amido irá degradar-se através de fermentação anaeróbica.

Cura pela ação do fogo: consiste em submeter os colmos ao aquecimento em fogo direto,
para eliminar a seiva por exsudação. Com o aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente
o amido, tornando-o menos atrativo ao caruncho.
Esse tratamento é muito utilizado para colmos de bambu pertencentes ao gênero
Phyllostachys. Durante o tratamento com fogo ocorre o derretimento de uma cera natural presente
nas camadas periféricas do colmo. Geralmente essa cera é retirada, ainda quente, com a fricção de um
pano. Nestes bambus, obtém-se com este processo, uma coloração parda brilhante, conferindo
excelente aspecto estético ao colmo.
No entanto, espécies de bambus entouceirantes, não adquirem tal coloração e nem tal brilho
característico.

Com maçarico
Deve-se começar a secagem a partir da base da vara, indo em direção a parte superior. Técnica
conhecida como “Penteamento de Fibras”, por alinhar as fibras do bambu.
Utiliza-se fogo baixo, sempre girando o bambu para que seque de forma uniforme.
Este tratamento é indicado para os bambus alastrantes (leptomorfos).

12-Tratamento
O bambu possui teor de amido relativamente elevado em sua constituição, por isso ele é
bastante susceptível ao ataque de pragas. Para se obter maior resistência e durabilidade,
principalmente quando destinado à construção, é muito importante que algumas providências sejam
tomadas no sentido de otimizar o aproveitamento desse material.
Segundo alguns autores o bambu apresenta vida útil de um a três anos quando não
tratado, e entre dez a quinze anos ou mais quando tratado.
Solução preservativa indicada:

Tanino;
Tratamento natural contra fungos e insetos.
Os taninos são componentes polifenólicos distribuídos em plantas, alimentos e bebidas (MAKKAR;
BECKER, 1998, SANTOS et al. 1997). De acordo com Zucker (1983), os taninos encontram-se
distribuídos em plantas superiores, ocorrendo em aproximadamente 30% das famílias. Eles são
solúveis em água e solventes orgânicos polares, sendo capazes de precipitar proteínas (HARTICH;
KOLODZIEJ, 1997).

Pode-se extrair o Tanino de forma alternativa através da fervura da casca da árvore, ou através
de fornecimento de empresas que tem o processo industrializado de extração, sendo fornecido em
liquido concentrado ou em pó para diluição.
Utilizado em larga escala no curtimento do couro.

ÁRVORES EM QUE A CASCA PODE SER APROVEITADA PARA


A EXTRAÇÃO DO TANINO:
1. ACÁCIA NEGRA E ACÁCIA MIMOSA;
2. IMBAÚBA-VERMELHA, EMBAÚBA, EMBAÚVA;
3. GRÁPIA, GRAPINHAPUNHA, GARAPA;
4. SUCARÁ, AÇUCARÁ, CORONDA, CORONILHA;
5. BRACATINGA, ABRACATINGA, YBIRÁ-CAÁ-TINGA;
6. CABREÚVA, CABRIÚVA, ÓLEO-PARDO, CABURE;
7. ANGICO, ANGICO-VERMELHO, GURUCAIA, PARICÁ, ANGICO-CAÁ;
8. AMENDOIM, CANAFÍSTULA, GUARACAIA, IBIRÁ-PUITÁ;
9. PAU-JACARÉ;
10. JACATIRÃO, JACATIRÃO-AÇU, CARVALHO-VERMELHO, NHACATIRÃO;
11. CATIGUÁ, CARRAPETA, QUEBRA-MACHADO, CAÁ-TING-NÁ;
12. CAPOROROCA, CAPOROROCA-VERMELHA, CAPOROROCÃO;
13. ARAÇÁ,ARAÇAZEIRO,ARAÇA-DA-PRAIA,ARAÇA-AMARELO
14. CAMBOATÁ-VERMELHO, CUVUTÃ, ARCO-DE-PENEIRA;
15. AÇOITA-CAVALO, IVATINGI, IVATINGUI.
(Lista disponibilizada por Luciano Tizziani em “Tratamento preservativo ecológico de bambus”)

Outras árvores que apresentam elevado teor de taninos totais são a Goiabeira (Psidium guajava:
13 a 17%) e o Araça Pitanga (Psidium runn: 20%).
A Erva Cidreira de arbusto (Lippia alba) possui 20% de taninos totais e apresenta um grande
potencial para a extração de tanino, por se tratar de um arbusto e ter rápido crescimento, se
comparado às árvores, visto que a coleta da casca de uma árvore, em grande quantidade, acaba por
matar a mesma. Devemos plantar a espécie que pretendemos utilizar para extrair o tanino e utilizá-lo
no tratamento de bambu, em média ou larga escala.
Em pequena escala poderá ser feito uma poda na árvore escolhida e utilizar galhos e folhas para
a produção do chá de tanino.
Este método utilizando o tanino ainda tem poucos dados publicados. Devemos fazer testes
práticos para atestar a viabilidade deste tratamento.

Guilhermo Gayo, dirigente do Takuara Rendá no Paraguai, centro de estudos sobre o bambu
(www.takuararenda.org) aprendeu essa técnica com os índios do Paraguai. Para produzir o tanino
utiliza as cascas e folhas de aroeira pimenteira e cozinha-se com água.
O tanino inibe o ataque às plantas por herbívoros vertebrados ou invertebrados, como o
caruncho (diminuição da palatabilidade, dificuldades na digestão, produção de compostos tóxicos a
partir da hidrólise dos taninos) e também por micro-organismos patogênicos tais como os fungos
(Wikipédia).

Colocar o “chá” de tanino em um balde, extrair a vara do bambuzal, colocando a base dentro de
um balde com tanino e deixar o bambu apoiado no bambuzal por 30 dias. Neste tempo o bambu vai
puxar o tanino para os colmos. O tanino sobe aproximadamente 5 metros no colmo.
Tratamento Químico

Solução preservativa indicada (baixa toxidade)

Receita:

1kg de derivado de boro (bórax ou ácido bórico)(inseticida)


+ 1kg de sulfato de cobre (fungicida)
+ 100l de água.

Dissolver o bórax e o sulfato de cobre em 15 litros de água fervente


e depois diluir no restante da água.

*Não recomenda-se utilizar os produtos CCB (boro+sulfato cobre + dicromato) e


CCA (cromo + boro + arsênio) para tratamento de bambus ou madeiras.
O dicromato e o arsênio são altamente tóxicos!

Bórax:
Substância: Bórax.

-Perigos mais importantes: O bórax é um pó branco inodoro, não é inflamável, não combustível,
não explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica.
-Efeitos do produto: O produto em grande quantidade se inalado pode ser prejudicial às vias
respiratórias.
A exposição do produto a pele não é preocupante, pois o produto não é absorvido pela pele.
-Efeitos ambientais: O produto em grandes quantidades pode ser perigoso para as plantas e
outras espécies, deve-se reduzir a descarga no meio ambiente.
-Perigos específicos: O bórax é um pó branco inodoro, não é inflamável, não combustível, não
explosivo e tem baixa toxicidade oral e dermatológica.
-Principais sintomas: Os sintomas detectados pela alta exposição estão relacionados à ingestão.
E podem ocorrer náuseas, vômito, diarreia, com efeitos de vermelhidão e descamação da pele.
-Visão geral de emergências: Remover a vítima ao ar fresco e se tiver dificuldades em respirar
procurar ajuda médica.
Sulfato de Cobre
O sulfato de cobre é um fungicida (mata fungos) muito usado na agricultura e jardinagem. É um
dos principais componentes da Calda Borbalesa, empregada principalmente na cultura de frutos (uva,
figo, goiaba, tomate, etc) contra uma doença fúngica chamada ferrugem.

O sulfato de cobre é classificado como uma substância perigosa (IMO = classe 9 ; UN = 3077 )
fundamentalmente porque pode produzir irritação por contato com mucosas e pele. Esta
irritação se deve à acidez residual que possui, produto de seu processo de fabricação.
Como todo sal de cobre, é solúvel e é tóxico por ingestão.

Equipamentos de proteção individual apropriados:


Proteção dos olhos/face: Nas operações onde possam ocorrer projeções, recomenda-se o
uso de óculos de segurança ou protetor facial.
Proteção da pele e do corpo: Avental, calça e sapatos. Os tipos de auxílios para proteção
do corpo devem ser escolhidos especialmente segundo o posto de trabalho em função da
concentração e quantidade de substância.
Proteção das mãos: Utilizar luvas de segurança. Caso ocorra alguma irritação procurar um
médico.
Proteção respiratória: Quando a concentração no ar exceder os limites de exposição,
devem-se usar máscaras de proteção respiratórias.

Formas de utilização das soluções preservativas:


Por capilaridade (ou substituição de seiva)
Logo após o corte do colmo (ou no máximo 12 horas após), imergir a parte basal (base do
colmo) em solução preservativa.
Utilizado em peças de 2,5m até 3m.
Pode-se utilizar um tonel de 200l com 3/4 de solução preservativa.
Deixar por 7 dias no tonel, após virar as varas (parte basal para cima) e deixar por mais 3 dias.
Furar o diafragma, para não flutuar.
Depois deixar secar por 2 ou 3 meses.

Boucherie
Consiste em aplicar o produto por pressão. Na parte basal do colmo é conectada uma bolsa, de
forma a ficar bem aderida, ligada a um tubo plástico maleável por onde a substância preservativa será
transportada, do tambor onde está armazenada para o colmo. Ao passo que a pressão é dada, a
substância penetrará pelos vasos condutores do colmo até sair em sua outra extremidade.
A fonte de pressão pode ser por força gravitacional ou por um compressor de ar.
Deve ser aplicado aos colmos de bambu recém cortados, e sem perfuração dos diafragmas do
colmo.

Por imerção em solução preservativa


Os colmos são totalmente imersos horizontalmente em tanque com solução preservativa por um
período de 10 a 20 dias. O tanque pode ser definitivo de alvenaria, ou temporário, que pode ser uma
vala com lona.
Usam-se os bambus já secos, com os diafragmas perfurados.

Outro modo muito utilizado para tratamento é ferver o bambu em água. Aconselham-se
períodos de 15 a 60 minutos para cada grupo. As varas tratadas com este método ficam mais
suscetíveis a trincar.
*Esquema utilizando tonéis abertos e soldados.
Este modelo pode ser utilizado tanto para imersão como fervura de bambus.

*Imagem retirada do livro: Manual do Arquiteto Descalço.

13- Armazenagem de colmos

Para armazenar colmos de bambus devemos ter alguns cuidados.


Após a colheita devemos colocá-los em local abrigado da umidade do solo e da chuva e da
incidência direta de raios solares nos colmos, e com boa ventilação.
A forma mais utilizada para armazenamento é em prateleiras horizontais.

Galpão de beneficiamento de Bambus – Instituto Pindorama / Nova Friburgo-RJ


14- Espécies e Aplicações
Bambusa tuldoides
Bambu cujas dimensões dos colmos atingem até 12 m de altura e 6 cm de diâmetro. Apresenta
colmo com parede grossa em relação ao seu diâmetro e isto lhe confere uma alta resistência
mecânica. Esta espécie apresenta uma relativa linearidade nos seus colmos. É bastante empregado no
Vietnã na produção de móveis. No Brasil, conhecido em algumas regiões como bambu crioulo, é uma
das espécies preferidas como tutor no cultivo de tomate.

Bambusa vulgaris
Bambu de colmos tortuosos e de pouca aplicação na movelaria, artesanato e construção. Possui
um alto teor de amido e isto o torna bastante susceptível ao ataque de Dinoderus minutus, o caruncho
do bambu. Por outro lado, este teor de amido pode o caracterizar como uma matéria-prima potencial
para a produção de álcool. Bastante utilizado para produção de carvão e celulose.

Bambusa Vulgaris “Vittata” Bambusa Ventricosa

Bambusa Tuldoides Bambusa Vulgaris


O gênero Phyllostachys pertence ao grupo dos leptomorfos ou alastrantes. Este bambu é
originário da China. O Phyllostachys Áurea tem porte aproximado de 4 m é a espécie mais utilizada
no Brasil para a movelaria e artesanato, provavelmente, devido a sua grande resistência ao caruncho e
a facilidade de ser curvado quando submetido ao calor.

É um bambu altamente invasivo e por isso o seu cultivo requer cuidados especiais quanto ao seu
isolamento.
P. Pubescens (MOSO) P. Nigra P. Pubescens “KIKKO”

O gênero Dendrocalamus é originário da Ásia. Esta espécie costuma ser chamada de "bambu-
balde", pela sua grossura. Podem chegar a 25 centímetros de diâmetro e cerca de vinte e cinco metros
de altura. Quando jovens estes bambus apresentam penugem áspera marrom, quase dourada. O
maior bambu de todos é o da espécie Dendrocalamus giganteus.
É um bambu com grande amplitude de utilidades. Pode ser empregado na produção de papel,
brotos comestíveis, móveis, laminados, construção civil, artesanato e outros usos.

DENDROCALAMUS
Os bambus do gênero Guadua tem uma importância crucial na economia de Equador e
Colômbia. É uma espécie conhecida dos nativos há pelo menos 5000 anos. Anteriormente incluídos no
gênero Bambusa, este bambu nativo da América possui espécies com tremenda resistência, o
Guadua angustifolia, sendo notadamente tido como um excelente material de construção. Sua
característica mais chamativa são os nós brancos. No Brasil, segundo Dra. Londoño, existem vastas
florestas naturais de Guadua na Amazônia. Encontramos Guaduas em grande parte do território
brasileiro, de sul a norte.

Guadua Angustifólia

Fontes:
- www.bambubrasileiro.com.br
- Rede Social do Bambu

Sobre Bórax:
http://www.quimidrol.com.br/site/admin/user/anexos/quimico_b12ff4fe897bbaa84825a5f8177d79cf.pdf
http://www.brquim.com.br/fispq/14411.pdf

Livros e apostilas:
-Manual de Construcción con Bambú; Oscar Hidalgo Lópes
-Manual do Arquiteto Descalço; Johan Van Lengen
-Bambu: Cultivo e Manejo; Thiago Greco e Marina Crowberg; Florianópolis 2011. Ed. Insular
-Bambu de Corpo e Alma; Marco A. R. Pereira e Antônio L. Beraldo
-Apostila do curso de capacitação em estruturas de bambu;
Instituto Pindorama, 2012. Facilitação de Bruno Salles

Elaboração- Equipe Naturalmente


Edição revisada em janeiro/2013
Anexos
Retirado do livro “Manual de Construcción con Bambú”; de Oscar Hidalgo Lópes.

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