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Vv Immanuel Kant Immanuel Kant (c. 1768) ~ Becker [Coles3o particular] Parece que o flésofo ‘alemio foi em sua vida prética um homem t30 metédico como em sua Vida intelectual, Conta- “se que se deitava ese levantava rigorosamente 30 mesmo hora, além de seguir sempre 10 mesmo itinersria entre ‘sua casa @ 2 universidade, 3 a i 3 3 Vejamos, por dltimo, aquele que é considera- do maior filésofo do lluminismo alemao e um dos principais pensadores de todos os tempos. Trata-se de Immanuel Kant (1724-1804), nascido em Kénigsberg, pequena cidade da Alemanha Homem metédico e de habitos arraigados, lecionou durante 40 anos na Universidade de Kénigsberg Morreu aos 80 anos, sem nunca ter se afastado das imediacdes de sua pequena cidade natal Para Kant, a filosofia deveria responder a quatro questées fundamentais: 0 que posso saber? Como devo agir? 0 que posso esperar? E, por fim, o que é o ser humano? Esta iltima questao estaria implicita nas trés anteriores Os estudos de Kant partiram da investigacao sobre as condicdes nas quais se da o conhecimento {o que posso saber|, realizando um exame critico darazao em sua obra mais célebre: Critica da razdo pura. Nela, confessa que Hume o havia despertado, pela primeira vez, de seu “sonho dogmatico” (a ilusao de que a razao pode conhecer como sao as coisas em si, levando-o a instituir 0 que ficou conhecido como “tribunal da razao ‘Seu exame do agir humano listo é, sobre a ética, que corresponde a sua segunda perguntal deu origem basicamente & Critica da razao pratica e & Fundamentacéo da metafisica dos costumes’ Aterceira pergunta remetia ao futuro e a religiao, e Kant, fiel ao espi- rito das Luzes, subordina a religiao & razao e & lei moral, 0 que ele expds em varios textos, como no Religido nos limites da simples razéo. Outro aspecto importante da obra de Kant sao suas reflexies a respeito da estética, presentes na Critica do juizo Maioridade humana Em seu texto 0 que ¢ ilustracao, Kant sintetiza seu otimismo em relacao a possibilidade de 0 ser humano guiar-se por sua propria razao, sem se deixar enganar pelas crencas, tradigdes e opi- nides alheias. Nele, descreve o processo de ilustragao como a saida do ser humano de sua “menoridade”, ou seja, um momento em que 0 individuo, como uma crian- aque cresce e amadurece, torna-se consciente da forca e da independéncia [autonomial de sua inte- ligéncia para fundamentar sua prépria maneira de agir, sem a tutela ou doutrinacao de outrem. Tipos de conhecimento Uma das questées mais importantes do pen- samento de Kant é, portanto, o problema do co- nhecimento, a questao do saber. Na Critica da razéo pura, ele distingue duas formas basicas do ato de conhecer: + conhecimento empirico (a posteriori) - aquele que se refere aos dados fornecidos pelos sen- tidos, ou seja, que é posterior a experiéncia Por exemplo, para fazer a afirmacao [ou juizo) Este livro tem a capa verde", foi necessario ter primeiro a experiéncia de ver 0 livro e assim conhecer a sua cor; portanto, trata-se de um conhecimento posterior a experiéncia; conhecimento puro (a priori) - aquele que nao depende de quaisquer dados dos sentidos, ou seja, que é anterior & experiéncia, nascendo puramente de uma operacao racional da mente. Exemplo: a afirmagao “Duas linhas paralelas jax mais se encontram no espaco” nao se refere a esta ou aquela linha paralela, mas a todas, pois sempre que duas linhas forem paralelas elas necessariamente nao se encontrar3o no espaco [se elas se encontrassem, nao seriam paralelas). Trata-se, portanto, de um conhecimento neces sario ¢ universal. Além disso, é uma afirmacao que, para ser valida, ndo depende de nenhuma condicao especifica ou experiéncia anterior. O conhecimento puro, por conseguinte, con- duz a juizos universais e necessarios, enquanto © conhecimento empirico nao apresenta essa caracteristica. Tipos de juizo 0s juizos, por sua vez, sao clasificados por Kant, em dois tipos: + juizo analitico - aquele em que o predicado ja est contido no conceito do sujeito, Ou seja, basta analisar 0 sujeito para deduzir 0 pre~ dicado, Tomemos, por exemplo, a afirmacao (0 quadrado tem quatro lados”. Analisando © sujeito dessa afirmacao - quadrado -, de- duzimos necessariamente 0 predicado: tem quatro lados. Kant também chamava os juizos analiticos de juizos de elucidacao, pois o predi- cado simplesmente elucida algo que ja estava contido no conceito do sujeito; + juizo sintético - aquele em que o predicado nao esté contido no conceito do sujeito. Nesses juizos, acrescenta-se ao sujeito algo de novo, que é 0 predicado (produzindo-se uma sintese entre eles]. Assim, os juizos sintéticos enrique ‘cem nossas informacoes e ampliam o conheci mento. Por isso, Kant também os denominava juizos de ampliagao. Por exemplo, na afirma- 0 "Os corpos se movimentam”, por mais que analisemos conceito corpo (sujeito], nao ex- trairemos dele a informacao representada pelo predicado se movimentam. Valor dos juizos Por fim, analisando o valor de cada juizo, Kant distingue trés categorias: + juizo analitico - como no exemplo da afirmacao ‘0 quadrado tem quatro lados”, é um juizo uni- versal e necessério, mas serve apenas para elucidar ou explicitar aquilo que jé se conhece do sujeito. Ou seja, a rigor, é apenas importante para se chegar & clareza do conceito ja existente, mas nao conduz a conhecimentos novos; + juizo sintético a posteriori - como no exemplo da afirmacao “Este livro tem a capa verde”, amplia o conhecimento sobre o sujeito, mas sua validade esta sempre condicionada ao tempo e ao espaco em que se dé a experiéncia e, portanto, nao cons- titui um juizo universal e necessario; + juizo sintético a priori - como no exemplo da afirmacao “Duas linhas paralelas jamais se en- contram no espaco” {e em outras da matemé- tica e da geometrial, acrescenta informacées novas ao sujeito, possibilitando uma ampliacao do conhecimento. E como nao esta limitado pela experiéncia, é um juizo universal e necessario. Por isso, Kant conclui que se trata do juizo mais importante para a ciéncia, razao pela qual a ma- tematica e a fisica, por trabalharem com juizos sintéticos a priori, se constituiriam em disciplinas cientificas por exceléncia. Estruturas do sentir e conhecer Kant buscou saber como 6 0 sujeito a priori, isto &, 0 sujeito antes de qualquer experiéncia. Concluiu que existem no ser humano certas estruturas que possibilitam a experiéncia (as formas a priori da sensibilidade) e determinam o entendimento (as formas a priori do entendimento). Trata-se do chamado apriorismo. Vejamos: + formas a priori da sensibilidade - 80 o tempo 0 espaco. Kant dird que percebemos e repre- sentamos 2 realidade sempre no tempo e no espaco, Essas duas nocdes constituem “intui= des puras”, existem como estruturas basicas na nossa sensibilidade e sao elas que permitem a experiéncia sensorial + formas a priori do entendimento - de modo se~ methante, os dados captados por nossa sensi- bilidade sao organizados pelo entendimento de acordo com certas categorias. As categorias sdo ‘conceitos puros” existentes a priori no entendi- mento, tais como causa, necessidade, relacdo ¢ outros, que servirao de base para a emissao de juizos sobre a realidade Limites do entendimento 0 conhecimento, portanto, seria o resultado de uma interacao entre o sujeito que conhece (de acor- do com suas préprias estruturas a priori] e 0 objeto conhecido. Isso significa que ndo conhecemos as coisas em si mesmas [o ser em sil, como elas sdo de forma independente de nés. Sé conhecemos as coisas tal como as percebemos (0 ser para nds]. Em outras palavras, as coisas sao conhecidas de acordo com nossas préprias estruturas mentais. Desse modo, a filosofia kantiana representou uma superacdo do impasse criado entre o raciona- lismo e 0 empirismo, pois edificou uma teoria se- gundo a qual o conhecimento seria o resultado des- ses dois ambitos: a sensibilidade, que nos oferece dados dos objetos, e o entendimento, que determi- na as condicées pelas quais o objeto é pensado. Nova revolucao copernicana Desse modo, a critica kantiana representou uma revolucao muito especial do pensamento, No prefacio de Critica da razao pura, 0 préprio Kant re- conhece isso ao comparar seu papel na filosofia a0 de Copérnico na astronomia. Vejamos por qué: + Copérnico - quando ateoria geocéntrica nao mais conseguia explicar o conjunto de movimentos dos astros, o astrdnomo vislumbrou a necessidade de tirar a Terra do centro do Universo e fazer-nos, como espectadores, girar em tarno dos astros. Assim, lancando o modelo heliocéntrico, resolveu 0s impasses da astronomia da época; + Kant - realizou algo semethante ao inverter a questao tradicional do conhecimento, pois antes evewuenneeaseo rani se propunha que todo o conhecimento era regu- lado pelos abjetos e, com o filésofo alemao, os objetos passaram a ser regulados pelas formas a priori de nosso conhecimento. Perspicécia (Autorretrato, 1936] ~ René Magritte, leo sobre tela. De acordo com a teoria kantiana, as coisas existern para nés nao como sao, mas como as percebemos. Como essa teoria se exprossa metaforicamente no quadro acima?

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