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Intimidades expostas e quem adora vê-las: quem usa quem na web?

Mirtzi Lima Ribeiro


mirtzi@gmail.com
O que leva uma mulher madura ou mesmo uma jovem entre 20 a 40 anos de idade, a fazer vídeos na
internet para se exibir na busca voraz por "seguidores" e "curtidas"? Ou produzir fotos arrebatadoras,
sensuais onde colocam decotes generosos ou seios à mostra, muitas vezes até seminuas ou nuas,
exclusivamente para postar nas redes sociais? Elas são vítimas delas mesmas, de suas fugas da
realidade, da falta de SIGNIFICADO em suas vidas, com a mente e o campo emocional deteriorados. É
fato que todo EXCESSO carrega consigo distúrbios e até patologias a serem examinados e curados.

E o que dizer de homens e mulheres (faixa jovem, adulta e idosa), que movidos por DEPENDÊNCIA
EMOCIONAL, PSICOLÓGICA e até PSÍQUICA, que desenvolvem o hábito diário de perseguir e/ou
interagir com esses perfis que se exibem o tempo todo?
Não há dúvida, que eles possuem DISFUNÇÕES que precisam ser trazidas à realidade e à cura, porque
nesse vício, jamais irão produzir bons resultados em sua vida pessoal. Geralmente, embarcam num vazio
existencial mais cedo ou mais tarde, por terem vivido dessa ILUSÃO por muito tempo.

O que ambos os grupos têm em COMUM? Distúrbios psicológicos e distúrbios emocionais, muitos destes
já enraizados (talvez trazidos até mesmo da infância e adolescência), que precisariam ser tratados,
porque saem do limite da normalidade e passam a se constituir uma ANOMALIA da personalidade.
Através desse comportamento, consciente ou inconscientemente, eles mascaram outros problemas de
ordem emocional e/ou psicológica e algumas vezes até de ordem psíquica.

Nesse ambiente tóxico da web, QUEM ASSEDIA QUEM? Quem USA quem? Quem DEPENDE de
quem? Só há quem elabore esse tipo de conteúdo porque há clientela ou público para sua exibição.

Na realidade, esses grupos se retroalimentam em sua distopia: quem se exibe precisa de seguidores e
estes dependem da visualização dessas imagens que expõem a privacidade e intimidade alheias. Essa
necessidade mútua faz com que eles formem entre si uma teia invisível na nuvem da web, que funciona
como uma PRISÃO emocional, uma simbiose tóxica onde ambos os lados estão perdidos no limbo de
mentes imaturas e às vezes adoecidas. São agraciados com um terceiro elemento FACILITADOR: os
algorítimos da própria web que proporciona a ligação e manutenção desses interesses comuns, que são
ser visto amplamente e ver uma gama variada de quem se expõe.

Dependência nociva MÚTUA de desconhecidos no ambiente da web, cuja patologia se encontra nos
escombros ou em calabouços de suas mentes. O que é HILÁRIO e ao mesmo tempo muito CRUEL nisso
tudo, é que para quem se exibe, os seus ávidos seguidores são apenas um número, um seguidor a mais,
sem alma, sem rosto, sem endereço, sem conexão. O novo seguidor não representa nada.
E, embora esses seguidores sejam especialistas em perambular de perfil em perfil, de storie em storie,
de status em status, babando pelo que é ilusório, jogam fora a oportunidade de investir tempo de
qualidade em formar laços e afetos verdadeiros.
Para estes usuários, aqueles que se exibem são apenas corpos expostos, sem conteúdo, sem história,
sem vida, uma miragem que perseguem para esconder sua incapacidade de se aprofundar, se doar a
alguém ou alguma causa, de construir relacionamentos agregadores. Por isso, um bom número deles são
solitários ou vivem sozinhos, porque terminam perdendo o 'feeling', ou seja, vão reduzindo
gradativamente a sua capacidade de sentir afeto de modo estável, de perceber com SENTIMENTO
durável, de ter a sensação humana essencial que é o de PERTENCIMENTO a pessoas queridas. Esse
link, essa conexão, esse elo, termina sendo rompido, gerando um vazio existencial.

É uma anomalia paradoxal e tóxica que vai interferir também na vida dos que estão ao redor dessas
pessoas de comportamento atípico (porém tão COMUNS atualmente): afeta pais, mães, amigos,
namoradas ou namorados, maridos ou esposas e filhos. Todos eles poderão ser profunda e
dolorosamente afetados (muitas vezes passam a ser co-dependentes, tentando assumir um controle
sobre o descontrole dos viciados nessa distopia).
Então, se por um lado, cada CLIQUE nas imagens (em fotos trabalhadas e em vídeos de exposição
desses corpos), funciona como DELEITE a quem vai em busca desse "ópio", ou como prazer em 'brincar'
esse tipo de 'jogo', por outro lado, consolida a alimentação de uma DEPENDÊNCIA perigosa que vem
para SABOTAR:
1) uma vida sadia;
2) reais e corretas relações pessoais;
3) laços emocionais robustos e enriquecedores;
4) possibilidade de encarar sua própria realidade;
5) a oportunidade de aprofundamento de sentimentos e de convivência sadias;
6) manter e nutrir relacionamentos verdadeiros;
7) se desenvolver como ser humano gregário que contribui com ambiente psico-social saudável;
8) a possibilidade de se ver, se conhecer, se engrandecer, aprimorar sua personalidade através do
'espelho' que é um relacionamento saudável, onde ambas as partes devem se ajudar no crescimento
pessoal;
9) o sentido de PERTENCIMENTO que é essencial à vida gregária; etc.

As pessoas que se exibem desse modo são idiotas úteis a um sistema falido de VENDA de IMAGENS e
CORPOS, de superficialidades e futilidades. Elas não se engrandecem nem crescem como pessoas com
essa exibição, ao contrário, ficam perdidas e sem rumo a cada seguidor que perdem. São frágeis e débeis.

Como é comum ver, essas pessoas desenvolvem problemas de auto-afirmação, e via de regra fazem uso
até de medicamentos para conter sua ansiedade ou equivalentes. Buscam freneticamente mais e mais
seguidores. São zumbis do sistema de vida já moribundo em que vivemos.

E o que dizer dos USUÁRIOS dessa 'DROGA', que vão buscar esses perfis para visualizar, curtir
avidamente muitas e muitas postagens desse tipo? Eles desenvolvem uma dependência que muitas
vezes passa a ser pior do que a fragilidade resultante do uso de drogas físicas (lícitas ou ilícitas)!

Com a continuidade e periodicidade dessa 'prática' ou costume, a chaga psicológica que for gerada,
chegará a ser tão profunda, que sair dela sozinho será difícil. A maioria das vezes é necessário procurar
ajuda de um profissional para conseguir sair sem muitos prejuízos nesse tipo de dependência.

Na nossa atual sociedade, ou cuidamos uns dos outros para podermos ROMPER com esse ciclo vicioso
e nocivo, ou extinguiremos as possibilidades de engendrarmos novos padrões de conduta baseados em
um nível aprimorado de CONSCIÊNCIA.

Não podemos aceitar mais o controle obsessivo de religiões fundamentalistas, assim como é inadmissível
permitir os excessos cometidos na via da libertinagem e do aviltamento do corpo humano por apelo visual
ou físico. Ambos são extremos com alto grau tóxico e nocivo.

Apenas o desenvolvimento de uma CONSCIÊNCIA em contínuo aprimoramento será a SOLUÇÃO,


porque se baseia em princípios de equilíbrio, sensatez, lógica, harmonia, relações pessoais adequadas
e corretas, e, por se pautar no necessário cuidado de modo integral: com o corpo, o campo emocional,
psicológico, psíquico, mental e espiritual.

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