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DESIG

NED
MOVE
MENT
GUIA DE
DESENVOLVIMENTO
MOTOR INFANTIL
DE 0 A 7 ANOS PARA
ESTIMULAR O SEU
PEQUENINO

ANDRÉ LIMA
Sobre o Projeto
O projeto ABConcept: Educando Corpo e Mente foi idealiza-
do pelos profissionais de Educação Física André Lima e Carlos
Eduardo Nerosky, tendo por objetivo instruir os pais acerca dos
estágios do desenvolvimento motor humano, desde a mais tenra
idade até a velhice, acendendo o holofote sobre a importância e a
influência da atividade física em cada etapa; fornecendo respos-
tas, diretrizes e atividades que auxiliem os pais a estimular in-
tencionalmente o desenvolvimento completo de seus pequeninos,
promovendo melhor qualidade de vida.

Contato:
Email: abconcept.edf@gmail.com
Facebook e Instagram: @abconcept.edf
Se podemos citar um momento na vida humana que nos deixa
surpresos e sem palavras, esse momento é a notícia da gravidez,
seja ela inesperada ou não. É um momento que traz um certo frio
na barriga de homens e mulheres, principalmente pela preocu-
pação sobre como você deseja marcar a geração seguinte; o que
sem dúvidas se refere a Educação.

Assim como a Educação é muito mais do que escolarização,


veremos que a Educação Física está além do simples aspecto motor.
Contemplaremos como o ser humano é uma máquina completa-
mente conectada entre as suas partes (motor, cognitivo e afetivo).
Desde a mais tenra idade, cada mínimo detalhe, do fio de cabelo a
ponta dos pés, como tudo é tão estruturado e organizado, funcionan-
do de forma eficiente. Sem sombra de dúvidas, você entenderá
que não fomos feitos para ficarmos parados, mas fomos criados
para o movimento.

Portanto, o objetivo do presente livro é auxiliar os pais no


entendimento dos processos do desenvolvimento motor infantil,
desde o período neonatal até os sete anos de idade, conhecendo
mais sobre as fases motoras; como também instruí-los na apli-
cação desses conhecimentos visando a estimulação intencionada,
adequada para o desenvolvimento integral de seus pequeninos;
com diretrizes de como criar e aplicar atividades de estímulo,
retiradas de um longo período de experiência dentro da área de
estimulação motora infantil na Educação Física.

5
INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO 1
Tudo começa do começo - Condições que
podem influenciar no desenvolvimento 22

CAPÍTULO 2
Fase motora reflexa (de dentro do útero
até os 12 meses) 36

CAPÍTULO 3
Fase motora rudimentar (do nascimento
até os dois anos) 60

CAPÍTULO 4
Fase motora fundamental (dos dois anos
aos sete anos) 84

CONCLUSÃO 110

BIBLIOGRAFIA 116
INTRODUÇÃO
Todos nós já fomos criança um dia. Esse período de nossas
vidas costuma nos trazer lembranças de grande aprendizagem,
maravilhosas e marcantes. Correr e saltar, brincar e descansar,
criar e desmontar, rir e chorar, amar, conhecer, interagir, ser e
ousar. Quando amadurecemos, tomamos ciência de quão impor-
tante foram todos esses momentos em nosso desenvolvimento
físico, cognitivo e social.

Sem sombra de dúvidas, o período de sua infância determina


boa parte de seus gostos, princípios morais, comportamento, pen-
samento, e etc. Por exemplo, lembro-me de que, desde muito cedo,
ao chegarmos em um evento, não importava o número de pes-
soas, meu pai nos fazia cumprimentar a todos os presentes. Esse
comportamento refletiu na educação de meus sobrinhos, que são
ensinados a fazer o mesmo por meu irmão. Eu também, ao chegar
num local, tenho o costume de cumprimentar a todos ali presentes.

Podemos dizer que não somente, mas principalmente no


período da infância, o ser humano é como uma esponja que
absorve toda a água a sua volta. Seja essa água limpa ou suja. A cri-
ança interage consigo, com o outro e com o mundo à sua volta; ela
constantemente compreende, interpreta e responde aos estímulos
recebidos, os quais irão acompanhá-la por toda a vida.

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É justamente por saber que nossas atitudes de hoje influen-
ciarão o futuro da geração seguinte que surgem algumas pergun-
tas: “O que queremos oferecer hoje a estas crianças que impactará
positivamente suas vidas? Qual deve ser meu proceder diário em
relação aos meus filhos? Qual é o legado que pretendo deixar para
a próxima geração?” Essas são questões que nos fazem refletir
sobre o por que o ser humano valoriza tanto os seus pequeninos.

Se você perguntasse a qualquer pessoa o que então de-


veríamos oferecer às próximas gerações, acredito que a maioria
esmagadora responderia EDUCAÇÃO. Sim, porque educação não
é algo que pode ser roubado, dificilmente será tirado de alguém
com o passar dos anos, e exerce influência sobre todo o ciclo de
vida do indivíduo.

Mas o que é educação? Se trata de conhecimentos repassa-


dos na escola? Aulas de Português, Matemática e Ciências? Ou
ainda, estudar para o Vestibular? Vou cavar mais fundo, focando
na abordagem do livro, o que seria Educação Física? Diz respeito
apenas aos exercícios físicos?

Assim como o termo Educação vai muito além do processo de


escolarização, a Educação Física vai muito além do simples aspecto
motor. Como foi dito anteriormente, o ser humano é uma criatura
que se relaciona consigo, com o outro e o meio que está inserido.
Além disso, somos seres completos/integrais, compostos por as-
pectos motores, cognitivos e sociais.

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E é exatamente essa educação integral do indivíduo que a
Educação Física busca atingir. No aspecto motor, desenvolver movi-
mentos fundamentais, melhorar a coordenação, ampliar o nível de
aptidão motora, criar e desenvolver a consciência corporal, bem
como suas potencialidades (equilíbrio, lateralidade, força, noções
de espaço e tempo). Sob o ponto de vista cognitivo, desenvolver um
pensamento questionador, capacidade de memória e interpretação,
estimular a resolução de problemas, bem como a aprendizagem
de conteúdos essenciais. Quanto ao aspecto social, melhorar a
autoestima, organização, disciplina, coragem, responsabilidade,
solidariedade, cooperação, entre outros.

É algo óbvio dizer que ninguém já nasce um adulto. Passamos


por milhares de transformações ao longo de nossas vidas. A pala-
vra desenvolvimento em si implica em mudanças comportamen-
tais e/ou estruturais dos seres vivos durante a vida. Um exem-
plo disso é que a cada hora, os seres humanos perdem cerca de
600.000 partículas de pele, ou cerca de 680 gramas por ano. No
momento em que uma pessoa tem 70 anos, ela terá perdido cerca
de 47 quilos de pele, espalhadas pelo mundo afora! Apesar dos
incontáveis tipos de transformações, este livro irá abordar o de-
senvolvimento motor.

Desde o período de recém-nascido até a velhice, o ser huma-


no vai adquirindo habilidades motoras, que vão desde simples
e descoordenados movimentos até movimentos mais regulares

11
e complexos (GALLAHUE et al., 2013). Bebês, crianças, ado-
lescentes e adultos estão envolvidos no processo de aprender a
mover-se com controle e competência, reação aos desafios que
enfrentam diariamente.

MÜTSCHELE (1996, p. 171) ainda escreve que:


para conseguir um desenvolvimento satisfatório, é necessário que
a parte física se desenvolva plenamente, a parte sensorial atinja o
máximo e a inteligência desabroche até o limite pessoal de cada um;
para isso, precisa-se de uma alimentação séria e correta, combate às
doenças, a prática de exercícios físicos e esporte, o contato com a na-
tureza e a tranquilidade da vida social.

MÜTSCHELE (1996, p. 41) acrescenta que para podermos


educar as crianças é preciso que a ensinemos a dominar sua própria
consciência e corpo com senso de equilíbrio. Só assim teremos
sucesso no desenvolvimento da aprendizagem, nossa função en-
quanto educadores é auxiliá-la “desde cedo a controlar o próprio
corpo, equilibrar a respiração, saber usar braços, pernas, apren-
der a se direcionar para a direita, esquerda, lado, saber organizar
percepções, e atenção, dominar as noções do tempo”.

O processo de desenvolvimento motor é apresentado por


GALLAHUE et al. (2013) em uma forma de ampulheta, dividi-
da em fases motoras, onde cada uma é composta por estágios de
desenvolvimento, segundo determinada faixa etária; conforme
podemos observar na figura ao lado:

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UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO
PERMANENTE PERMANENTE PERMANENTE
NA VIDA DIÁRIA RECREATIVA COMPETITIVA

FAIXAS ETÁRIAS APROXIMADAS OS ESTÁGIOS DE


DE DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO MOTOR

14 anos e acima Estágio de utilização Permanente


de 11 a 13 anos FASE MOTORA Estágio de Aplicação
de 7 a 10 anos ESPECIALIZADA Estágio Transitório

De 6 a 7 anos Estágio Maduro


FASE MOTORA
de 4 a 5 anos Estágio Elementar
de 2 a 3 anos FUNDAMENTAL Estágio Inicial
De 1 a 2 anos FASE MOTORA Estágio de Pré-controle
do nascimento
até 1 ano RUDIMENTAR Estágio de Inibição de Reflexos

De 4 meses a 1 ano FASE MOTORA Estágio de Decodificação de Informações


dentro do útero e até REFLEXIVA Estágio de Codificação de Informações
4 meses de idade

 Fase motora reflexiva: os reflexos são as primeiras formas de


movimento humano. Todas as reações que o bebê possui, ao toque,
a luz, a sons, provocam atividades motoras não intencionadas, que
formam a base para as fases do desenvolvimento motor. A atividade
involuntária de pisar e arrastar forma a base do movimento voluntário
de andar e engatinhar, por exemplo. A partir da atividade de reflexos,
o bebê obtém informações sobre o ambiente.

 Fase de movimentos rudimentares: os movimentos ru-


dimentares são os primeiros movimentos intencionais, determi-
nados de acordo com o amadurecimento do bebê e se caracteriza
por uma sequência de aparecimento previsível. O nível que esta
sequência se manifesta pode variar de criança para criança. Elas

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envolvem movimentos estabilizadores, como obter o controle da
cabeça, pescoço e músculos do tronco; as tarefas manipulativas de
alcançar, agarrar e soltar, e os movimentos locomotores de arras-
tar-se, engatinhar e caminhar.

 Fase de movimentos fundamentais: as habilidades motoras


fundamentais deste período são consequências da fase de movimentos
rudimentares do período de recém-nascido. É um período na qual as
crianças pequenas estão descobrindo as capacidades motoras de seus
corpos, movimentos manipulativos, estabilizadores e locomotores,
primeiro de forma isolada, e depois com movimentos combinados;
tais como, saltar e correr, apanhar e arremessar, andar com firmeza e
equilíbrio num pé só, entre outros.

 Fase de movimentos especializados: esse é um período em


que as crianças agora realizam atividades motoras complexas do dia-
a-dia. Os movimentos fundamentais que eram simples, como correr
e pular num pé só, agora podem ser associadas com atividades mais
complexas, como numa corrida de velocidade com barreiras. As ha-
bilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais
são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para o uso
em situações cada vez mais exigentes (GALLAHUE e OZMUN, 2005).

Caso você não tenha notado ainda, não sem razão, Gallahue
utiliza a figura de uma ampulheta. As fases de desenvolvimento
estão interligadas a tal ponto que uma fase incompleta pode afe-
tar negativamente o desenvolvimento motor daquele indivíduo
em todas as outras fases. É como se a areia colocada dentro da
ampulheta não tivesse sido o suficiente para passar para a fase

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seguinte. Talvez você já deve ter visto ou conhecido um adulto que
não apresente competência motora o suficiente para realizar um
movimento combinado como o polichinelo ou pular corda.

O princípio da ampulheta é que, uma vez completa as fases de


desenvolvimento motor (cheia de areia), quando essa ampulheta
for virada ao avesso, o indivíduo seja capaz de realizar qualquer
tipo de atividade motora, seja ela para a vida diária, de natureza
recreativa e/ou competitiva. E quanto menos areia estiver dis-
ponível, menos recursos este indivíduo terá para utilizar de forma
permanente ao longo de sua vida.

Portanto, o desenvolvimento motor individualizado visa não


só a melhora de aspectos físicos no presente, mas estimular o gosto
pela prática de atividade física que permeie toda a vida daquela
pessoa, seja de forma recreativa, competitiva ou para a vida
diária; fazendo com que ela se torne menos suscetível a desordens
emocionais, físicas e cognitivas; tais como depressão, diabetes,
doenças neurodegenerativas (Alzheimer e demência), obesidade,
falta de interação social, problemas cardíacos, câncer e etc.

Mas calma, não precisa se alarmar, pois este processo pode


ser reversível. Talvez você não tenha experimentado completa-
mente todas essas fases de desenvolvimento, e esteja um pouco
alarmado sobre se é possível “voltar atrás”. Podemos afirmar que,
quanto mais o tempo passa, essa reversibilidade se torna um pouco

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mais difícil de acontecer, mais especificamente na fase adulta. Um
trabalho específico pode ajudar qualquer pessoa, ainda que con-
tribuindo com um pouco mais de “areia” em sua ampulheta.

Essa reversibilidade se dá por conta de dois fatores impor-


tantíssimos dentro do desenvolvimento motor. Estes são os fa-
tores Filogenético e Ontogenético. Parece, mas não é nem um
palavrão, nem um bicho de sete cabeças. Traduzindo para um
bom Português, esses são os fatores da Genética (Filogenético) do
indivíduo, e o fator da interação com o Ambiente (Ontogenético).

O desenvolvimento e crescimento humano é influenciado por


estes dois fatores. Para se ter uma ideia, a influência genética na
estatura durante a última infância e adolescência é de aproximada-
mente 60%; e com relação ao peso corporal chega a ser de 40%
(ROWLAND, 2008). O fator genético também influencia o tempo
em que ocorre o estirão do crescimento, progressão do endureci-
mento ósseo, idade da menarca e coitarca, entre outros. Por outro
lado, o fator ambiental também tem sua influência, no caso expos-
to acima, de 40% sobre a estatura, e de 60% sobre o peso corporal,
por exemplo.

O fator genético é como um manual de funcionamento do


corpo humano. Cada corpo tem seu manual próprio, influenciado
pelos manuais de seus pais e avós. Qual a sua provável altura, cor
dos olhos e cabelos, cor da pele, tipo físico, se apresentará ou não

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alguma doença, câncer, e etc. Enfim, este é um fator inalterável.
Por outro lado, não é assim com o fator ambiental. O fator am-
biental é alterável e adaptável, dependendo de suas rotinas e
práticas individuais. Qual o seu peso, aspecto nutricional, parte
emocional, coordenação motora, aptidão física, resistência, per-
sonalidade, entre outros. É exatamente essa maior flexibilidade
que revela a importância da estimulação desde a mais tenra idade,
pois você pode influenciá-lo positivamente, maximizando o seu
desenvolvimento integral desde muito cedo.

“A partir do nascimento os bebês iniciam um processo do aprendiza-


do de como interagir com o ambiente. Essa interação é um processo
tão perceptivo quanto motor.” (GALLAHUE e OZMUN, 2005, p.213).

Esse primeiro contato ambiental do bebê é justamente com


a sua família.

O grupo familiar tem um papel fundamental na constituição dos in-


divíduos, sendo importante na determinação e na organização da
personalidade, além de influenciar no comportamento individual
através das ações e medidas educativas tomadas no âmbito familiar.
(PRATTA; SANTOS, 2007, apud DRUMMOND FILHO 1998, p.1).

A família deve ter consciência de como ela é importante


na vida da criança, e entender que, ainda que essa criança fre-
quente uma instituição de ensino, os familiares não podem

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querer transferir a responsabilidade para a instituição, apesar
de todo o carinho e cuidados recebidos, nada substitui o cari-
nho da família. A criança precisa desse apoio, da consciência de
que a sua família está em casa, e não o contrário.

O ambiente familiar precisa ser um local onde a criança possa


se desenvolver de uma forma saudável, pois um lar onde não há
estímulos e cuidados necessários para a criança só irá atrapalhar
o seu desenvolvimento, então é necessário haver estímulos dos fa-
miliares na vida dessas crianças desde as atividades mais simples.

[...] É necessário que as crianças se deparem, nesse ambiente, com


solicitações que lhes possibilitem construir seus conhecimentos e esta-
belecer mais e novas relações entre objetos e pessoas, que encontrem
“alimentos” para a formação de novas conexões cerebrais, já que se
acham numa fase essencial para o desenvolvimento intelectual, afeti-
vo, físico e social. (COSTA, 2010, p.9).

Como professor de Educação Física há um bom tempo, posso


afirmar categoricamente que as crianças que recebem estímulos
de seus pais, seja em casa ou em modalidades esportivas, pos-
suem um desenvolvimento integral (social, cognitivo e motor)
muito mais avançado, se comparados aos que recebem pouco ou
nenhum estímulo. É notável a todos o seu melhor desempenho
nas práticas físicas, aprendizagem rápida da leitura e escrita, mais
facilidade de fazer novas amizades e se inserir num grupo, capaci-
dade comunicativa e verbalização de ideias, entre outros.

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De acordo com GALLAHUE et al. (2013) um fator que in-
fluencia muito no desenvolvimento de uma criança é o brincar,
pois é através das brincadeiras que a criança começa a ter cons-
ciência de seu próprio corpo e de sua capacidade motora, brin-
car também serve para facilitar o desenvolvimento cognitivo e
afetivo dessa criança e ainda ajuda a desenvolver sua capacidade
motora. Por isso a importância de um ambiente propício às brin-
cadeiras para essa criança.

A criança necessita que o ambiente seja um local que lhe


ofereça oportunidades de se desenvolver, seja este a sua casa ou a
instituição de ensino, é preciso que todos a sua volta estejam dis-
postos a enriquecer este ambiente para assim proporcionar uma
melhor qualidade de vida a essa criança.

De fato, esse ambiente envolve atividades de cunho dire-


cionado e não direcionado. É muito importante que a criança
tenha seu momento de liberdade para desenvolver tudo aquilo
que deseja, desde que não quebre as regras. Todos nós, mes-
mo adultos, precisamos de um tempo off para nos distrairmos;
sendo que a criança precisa disso ainda mais. Contudo, quero
te mostrar nesse livro também a importância das propostas de
atividade direcionadas/intencionais.

Imagine que você tenha o desejo de aprender a jogar futebol.


Então, eu simplesmente te entregue uma bola e diga: “Vai em
frente, pode jogar. Você vai conseguir.” Tenho certeza que você

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vai brincar por um pouco, pode até melhorar um pouco aqui ou
ali, mas é só. Você não conseguirá a devida evolução. Agora, na
segunda situação, eu te entregue uma bola e comece a te passar
instruções, diretrizes para que você se desenvolva, como por
exemplo: “Se há apenas uma bola em jogo e diversos jogadores,
como todos podem jogar ao mesmo tempo? Surge então a neces-
sidade de compartilhar a bola por meio do fundamento do passe.”
ou “Qual a forma correta de se efetuar o passe? E se ele for mais
longo, será que eu toco na bola da mesma forma?” ou “No jogo
enfrentamos adversários. Como fazemos para não perder a bola?
Vamos praticar uma condução por um circuito para melhorar
suas habilidades?”

Existem habilidades que são trabalhadas com quaisquer


jogadores, não importa se é um jogador iniciante ou mais avança-
do. Além disso, essas atividades também podem e devem envolver
um aspecto lúdico, principalmente nas idades iniciais, de maneira
que você desenvolva o gosto do seu filho pela prática de atividade
física. Ele irá aprender enquanto se diverte, e você sabe exatamente
onde pretende chegar, já que a atividade foi direcionada.

Portanto, o objetivo do presente livro é auxiliar os pais no


entendimento dos processos do desenvolvimento motor humano,
desde o período neonatal até os sete anos de idade, conhecendo
mais sobre as fases motoras; como também instruí-los na apli-
cação desses conhecimentos visando a estimulação intencionada,

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adequada para o desenvolvimento integral de seus pequeninos;
com diretrizes de como criar e aplicar atividades de estímulo,
retiradas de um longo período de experiência dentro da área de
estimulação motora infantil na Educação Física.

21
1
TUDO COMEÇA NO COMEÇO
Condições que podem influenciar no
desenvolvimento

“Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.


Eu te louvo porque me fizeste de modo especial e admirável. Tuas
obras são maravilhosas! Digo isso com convicção.” (Salmo 139:13-14)

Se podemos citar um momento na vida humana que nos deixa


surpresos e sem palavras, esse momento é a notícia da gravidez,
seja ela inesperada ou não. É um momento que traz um certo frio
na barriga para homens e mulheres. Para muitas mulheres, a reali-
zação de um sonho. Para os homens, a preocupação de mais uma
boca para alimentar.

Brincadeiras a parte, por mais incrível que pareça, o desen-


volvimento de seu filho(a) já teve início. Por menor que ele possa

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ser, ainda que invisível ao olho nu, ele já está absorvendo muita
coisa. Lembra do que disse acerca da esponja? Pois é, o bebê absor-
ve coisas boas e coisas ruins. Existem alguns fatores pré-natais
que influenciam no desenvolvimento. Vamos entender um pouco
melhor tudo isso?

FATORES DE RISCO
Embora existam gestações tranquilas, outras podem ser con-
sideradas de alto risco, na qual a mãe teve ou tem alguma condição
antes ou durante a gravidez que aumenta os riscos da criança de
passarem por problemas pré-natais ou pós-natais. Eis algumas
dessas condições na tabela abaixo (GALLAHUE et al., 2013):

CONDIÇÕES QUE PODEM RESULTAR


EM GRAVIDEZ DE ALTO RISCO

CONDIÇÕES
EXPOSIÇÃO A USO DE HISTÓRIA
MÉDICAS

Asma Alguns Álcool Idade (<16, >35)


Câncer medicamentos Tabaco Sangramento
Diabetes Poluentes químicos Drogas ilícitas Hereditariedade
Hipertensão Citomegalovírus Inadequação nutri-
Doença Cardíaca Radiação cional
Excessiva Aborto
Doença Renal
Rubéola espontâneo prévio
Doença Hepática
Toxoplasmose Peso muito superior
Estresse ou muito inferior ao
materno normal
Distúrbios na tireóide Indigência
Doenças sexualmente
transmissíveis

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Vou fazer uma breve explicação de algumas das condições da
tabela acima, tendo em vista que a Fase Motora Reflexa já tem
início desde o período uterino do bebê.

Apesar de a inadequação nutricional muitas vezes ser logo


associada com um comportamento da mãe, ela pode ser por
origem placentária ou fetal. No primeiro caso, ocorre um pe-
queno problema na distribuição desses nutrientes da placenta
para o bebê, que depende do suprimento de sangue da mãe e
da ação osmótica da placenta e do cordão umbilical para obter
nutrientes. No segundo caso, o bebê possui alguma alteração no
seu metabolismo que impedem ou interrompem o uso normal
dos nutrientes disponíveis.

Com relação às responsabilidades nutricionais da mãe, mui-


tas mulheres se preocupam com o ganho de peso na gravidez. Não
querem aumentar tanto o peso por receio de “não voltar ao que
era” após o período da gravidez. Geralmente o peso adquirido pela
mãe na gestação é um indicativo do aspecto nutricional do bebê. É
claro que os valores podem alterar dependendo do indivíduo, mas
o ganho médio esperado está entre 9 kg - 14,5 kg (INSTITUTE
OF MEDICINE AND NATIONAL RESEARCH COUNCIL, 2009).

Outra condição que pode gerar bastante risco e prejudicar o de-


senvolvimento motor é o uso de medicação. Eles podem interferir
no crescimento de órgãos ou na diferenciação celular e resultar em

25
1,7 KG
LÍQUIDO SANGUE
EXTRACELULAR Ele fica, diriamos,
1,1 KG Hormônios placentários aguando. Isso explica
estimulam o estoque a tendência à
de sódio, que segura retenção de líquidos
0,8 KG água no corpo na gestação

1,1 KG
LÍQUIDO AUMENTO
AMNIÓTICO DAS MAMAS
Ele envolve o feto, Há um aumento
protegendo-o no seu volume e
contra choques e nos seus vasos
4 KG mantendo-o numa para deixá-lo pronto
temperatura ideal à amamentação

ÚTERO TECIDO ADIPOSO


1,6 KG É a casa do bebê
e, logo, vai sendo
Funciona como uma
reserva energética,
expandida à medida tanto para a mãe
que ele cresce como para o pequeno

3,1 KG
PLACENTA FETO
Elapossibilita a Aos poucos,suas
passagem de células se diferenciam
diversas substâncias e crescem em
ao filho e serve número e tamanho
1,1 KG como filtro

desvios em relação ao desenvolvimento normal. A penetrabilidade


da placenta pode ser alterada, reduzindo o fluxo de oxigênio e os nu-
trientes ou potencializando a concentração que flui para o bebê. A
medicação ainda pode prejudicar o desenvolvimento e o funciona-
mento de alguns órgãos do bebê, como o fígado que é responsável
por equilibrar os produtos descartados pelo sangue (GALLAHUE et
al., p.111, 2013). Segundo Gallahue, alguns fatores precisam ser leva-

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dos em consideração, em caso de necessidade do uso de um medica-
mento (como um caso de tratamento de câncer ou outra desordem):
1. O período da gestação em que o medicamento será ministrado;

2. A dosagem;

3. O tempo de uso do medicamento;

4. A predisposição genética do bebê;

5. A interação entre esses quatro fatores.

A tabela abaixo mostra os possíveis efeitos no bebê de deter-


minados medicamentos comumente usados durante a gravidez
(GALLAHUE et al., 2013):

DROGAS COMUMENTE USADAS DURANTE A GRAVIDEZ E


POSSÍVEIS EFEITOS SOBRE O BEBÊ

Condição
Remédio Possíveis efeitos
Materna

Deformidades macroscópicas,
Anormalidade
Progesterona masculinização dos órgãos
menstrual
femininos

Alergia ou Deformidades (em estudos


Anti-histaminas
resfriado com animais)

Drogas para controle Fissura labiopalatal e outras


Epilepsia
de convulsão malformações

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Infelizmente, existem algumas condições que a responsabi-
lidade maior recai sobre os hábitos da mãe, tais como o uso de
álcool, cigarro e até doenças sexualmente transmissíveis (DST’s).

No caso do uso de álcool, o bebê não tem capacidade de oxi-


dação do etanol; portanto, álcool entra diretamente no seu siste-
ma, já que a substância no sangue materno passa através da pla-
centa diretamente para o bebê. Um conjunto de pesquisas sobre
síndrome alcoólica fetal (WITTI, 1978) revelou que o consumo
de grandes e até pequenas quantidades de álcool provavelmente
resulte em dano no sistema nervoso central e retardo mental.
Esses resultados levaram alguns dos principais grupos de defesa
da saúde, como o MARCH OF DIMES (2010) e a AMERICAN
ACADEMY OF PEDIATRICS (2011), a recomendarem abstinên-
cia do consumo de álcool para mulheres que planejam engravidar
ou que já se encontrem grávidas.

Já o tabagismo tem sido apontado, em numerosos estudos,


como causa do baixo peso de nascimento em bebês e do aumento
do risco de parto prematuro (MARCH OF DIMES, 2010). Outras
condições também têm sido associadas com o tabagismo materno,
como lábio e/ou palato leporino e retardo mental (DREWS et
al., 1996). Além disso, após o nascimento, doenças respiratórias,
doenças infecciosas graves, asma e síndrome da morte súbita in-
fantil têm sido associadas a exposição do bebê à fumaça de cigarro
no ambiente (AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS, 1997).

28
Quanto às Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s),
como por exemplo a herpes genital, clamídia, gonorreia, sífilis e
HIV/ aids (vírus da imunodeficiência humana/síndrome de imu-
nodeficiência adquirida), são uma ameaça direta à criança em
gestação. A DST materna pode ser transmitida para a criança
antes do nascimento, durante o parto ou pelo leite. DST’s como a
sífilis atravessam a placenta e infectam o bebê no útero. Gonor-
reia, clamídia e herpes genital podem ser transmitidos ao bebê
recém-nascido na hora do parto, quando ele passa pelo canal
vaginal. A infecção por HIV pode ser transmitida no útero, du-
rante o parto e pela amamentação. As consequências das DST’s
podem ser devastadoras tanto para a mãe como para a criança.
Portanto, é muito importante que as mulheres na expectativa de
uma gravidez ou que já estão grávidas façam testes de DST’s com
um profissional da área de saúde.

Por fim, conforme dito na introdução deste livro, os fatores


genéticos também exercem influência em qualquer indivíduo, como
a cor do cabelo e dos olhos, altura, sexo, tamanho corporal, e etc.
Bem sabemos que esse fator recebe parte da influência do pai e a
outra parte da mãe. Nesse aspecto, o pai também apresenta reponsa-
bilidade. A sua exposição a medicamentos vendidos sem receita
médica, a drogas ilícitas, a outros poluentes químicos, incluindo
chumbo e mercúrio, e à quimioterapia pode causar defeitos genéticos
no espermatozóide, o que pode resultar em problemas no bebê.

29
Podemos adicionar aos fatores genéticos os defeitos cro-
mossômicos e os defeitos genéticos. Estima-se que 15 a 50% das
gestações são interrompidas por aborto espontâneo, geralmente
durante o primeiro trimestre. A maioria desses abortos é resultado
de anormalidades cromossômicas (MALINA, BOUCHARD e BAR-
OR, 2004; SANTROCK, 2011). Uma das alterações cromossômi-
cas mais conhecida é a Síndrome de Down, que costuma provocar
nascimento prematuro, crescimento mais lento, equilíbrio ruim,
braços e pernas curtos, defeitos cardiovasculares, e etc. Por outro
lado, os defeitos genéticos estão ligados aos distúrbios nos genes.
Então, podemos listar má formação óssea, a ausência de mem-
bros, célula falciforme, espinha bífida, entre outros.

Mas calma, pois como aprendemos na vida, existe um outro


lado na moeda. Assim como existem atitudes e condições que po-
dem levar a uma gravidez de risco, existem atitudes que afetam
positivamente no desenvolvimento do bebê durante a gestação.
Vamos dar uma virada na moeda.

FATORES POSITIVOS
Dentre as atitudes que afetam positivamente o desenvolvimen-
to do bebê durante a gestação podemos citar a prática de atividade
física, o aporte nutricional adequado e a estimulação afetiva.

30
O exercício físico durante a gestação é muito recomendado,
desde que o tipo, a intensidade, a frequência e a duração sejam
monitorados (ACOG, 2010; CLAPP, 2000). Os benefícios para
a mãe incluem a manutenção ou melhoria da aptidão física car-
diovascular, a limitação do ganho de peso, a menor retenção de
gordura, reduz as dores e incômodos comuns, diminui as chances
de desenvolver hipertensão e diabetes gestacional, ajuda na facili-
tação do parto e a melhoria de uma série de fatores psicológicos e
emocionais. Os benefícios ao bebê em gestação incluem redução
da gordura e melhoria da tolerância ao estresse. Os benefícios de
longo prazo para a criança abrangem uma composição corporal
mais magra durante os primeiros anos da infância.

Certamente, há fatores preocupantes em relação ao exercício


durante a gravidez quando a mãe tem uma ou mais condições que
colocam a gestação em alto risco. Algumas dessas condições in-
cluem sangramento vaginal persistente, cérvix incompleta, mem-
branas rompidas e o fato de a mãe ter realizado parto prematuro
em uma gravidez anterior.

Recomenda-se que a atividade física na gravidez tenha du-


ração diária média de 30 minutos, ou várias vezes ao dia durante
o dia. Existem atividades físicas consideradas de baixo risco
(caminhada, corrida leve-trote, natação, hidroginástica e yoga),
médio risco (tênis, musculação e atividades aeróbias) e de alto ris-
co (atividades esportivas, lutas e corrida intensa). As atividades

31
de baixo risco, desde que não haja contraindicação médica, são
recomendadas a qualquer gestante; enquanto que as de alto risco
não devem ser praticadas de forma alguma, pois apresentam ris-
co ao bebê. As gestantes que se exercitavam regularmente antes
da gravidez devem ser estimuladas a manter o nível de atividade
pré-gravidez (CLAPP, 2000; MARCH OF DIMES, 2010).

Quanto ao aporte nutricional, é necessário manter esse cui-


dado especial durante a gestação, amamentação e os primeiros
anos de vida do bebê, o que lhe trará um efeito positivo na per-
formance mental. É importante que a mãe tenha um acompa-
nhamento nutricional, porque ela precisará ingerir mais calorias
do que o convencional, para observar o aumento de peso gradual
e adequado na gestação. Lembrando que, caso a grávida pratique
atividade física regularmente, se faz necessário uma dieta ainda
mais adequada, já que ela utilizará parte desse suporte calórico
no exercício físico.

No período gestacional, é preferível que as grávidas façam a


devida ingestão de Ferro (para não incorrer numa anemia), Cálcio
(para garantir a saúde óssea da mãe), Ácido Fólico (ajuda na for-
mação do tubo neural do bebê e a previne anemia megaloblásti-
ca), fontes de Vitamina B (minimiza o desconforto com o enjoo),
maneirar no consumo de açúcar e sódio, e evitar a ingestão de
alimentos muito gordurosos.

32
Quanto à estimulação afetiva, é incrível a conexão que existe
entre a mãe e seu bebê. Pelo fato de alguns hormônios passarem
pela placenta, então, se a mãe libera adrenalina, o bebê acaba tendo
uma taquicardia por meio dos próprios hormônios da mulher.
Assim como se a mãe estiver bem, ela libera endorfina, que é pas-
sada para o bebê.

Lembro de certa vez estar ouvindo um relato de uma mulher


que foi torturada durante a gravidez. Toda vez que seu torturador
se dirigia até a sua cela, ele batia as chaves nas grades no trajeto.
Só de ouvir aquele som, ela ficava muito agitada, refletindo em
seu bebê. Mesmo ainda hoje, apesar de já ser um adulto, o seu
filho se treme quando ouve barulho de chaves batendo em su-
perfícies metálicas.

Novamente, essa estimulação pode ser boa ou ruim, depende de


como ela é alimentada. Sentimentos de alegria e tristeza, prazer e
desgosto, confiança e temor, segurança e insegurança; são transmiti-
dos da mãe para o bebê. Portanto, estimule seu filho(a) com amor,
afeto, sons, alegria; e evite situações traumáticas e de estresse. De-
pois que passa a fase de formação, que corresponde aos três primei-
ros meses, o bebê começa a ouvir alguns ruídos. Os primeiros sons
que o bebê ouve são aqueles mais graves. Por isso que alguns pais
costumam dizer que quando conversam com o bebê, ele chuta. E é
verdade, ele está reconhecendo o tom grave do pai.

33
Lembre-se de que o desenvolvimento integral do indivíduo,
depende de sua disposição genética e da estimulação à sua volta.
Use essa ferramenta para afetar seu bebê de maneira positiva,
buscando ajudá-lo a absorver as melhores experiências possíveis.
Por mais incrível que pareça, o desenvolvimento de seu filho(a)
já teve início. Por menor que ele possa ser, ainda que invisível ao
olho nu, ele já está absorvendo muita coisa.

Ops, o bebê nasceu… e agora?

34
2
FASE MOTORA REFLEXIVA
Os menores pés deixam as maiores pegadas em
nosso coração.

Desde o instante em que damos às caras neste mundo estamos


em constante interação conosco, com o nosso próximo e com o am-
biente a nossa volta. Pode parecer conversa fiada, mas não o é. Você
deve estar se perguntando como isso acontece, já que o bebê mal
enxerga, não fala, e a princípio parece apenas comer e dormir.

Essa interação acontece por meio de movimentos reflexos.


Esses movimentos são involuntários e controlados subcortical-
mente, pela mesma região responsável pelos processos de ma-
nutenção da vida, como a respiração. Apesar de serem involuntári-
os, eles são preparatórios para os movimentos voluntários que
virão em seguida. Todas as reações que o bebê possui, ao toque, a
luz, a sons, provocam atividades motoras não intencionais, que for-
mam a base para as fases do desenvolvimento motor. A atividade
reflexa de pisar e arrastar formam a base do movimento voluntário
de andar e engatinhar, por exemplo. A partir da atividade de refle-
xos, o bebê obtém informações sobre o ambiente.

37
UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO
PERMANENTE PERMANENTE PERMANENTE
NA VIDA DIÁRIA RECREATIVA COMPETITIVA

MODELO DE
DESENVOLVIMENTO
DE GALLAHUE

De 4 meses a 1 ano
dentro do útero e até FASE MOTORA
4 meses de idade ESPECIALIZADA

FASE MOTORA
FUNDAMENTAL

FASE MOTORA
Estágio de Codificação RUDIMENTAR
de Informações
Estágio de Codificação FASE MOTORA
REFLEXIVA
de Informações

Essa fase motora reflexa é subdividida em Estágio de Codifi-


cação de Informações e Estágio de Decodificação de Informações.
No primeiro estágio, que abrange desde o quarto mês de gestação
ao quarto mês pós-natal, o reflexo é a forma principal de cole-
tar informações a serem armazenadas no córtex em desenvolvi-
mento. Enquanto que, no segundo estágio, os centros cerebrais
adquirem maior controle sobre o aparelho sensório-motor, o
bebê torna-se capaz de processar informações com mais eficiên-
cia (amadurecimento).

É incrível notar a relação tão próxima entre o motor e


o cognitivo. Por meio desses reflexos iniciais, a posterior
movimentação voluntária vai sendo desenhada. Por isso, é
comum que o pediatra tente trazer à tona reflexos primitivos e
posturais no recém-nascido e no bebê. Assim, é possível verificar
um atraso ou disfunção no desenvolvimento cognitivo através do
aspecto motor do bebê, pela ausência ou continuação prolongada
de vários reflexos além dos seus períodos considerados normais.

Um exemplo desse processo são os movimentos de


olhos-de-boneca do recém-nascido, os quais permitem que ele
mantenha a constância da imagem da retina. Quando a cabeça é
inclinada para trás, os olhos miram o queixo, embaixo, e, quando
a cabeça é inclinada para a frente, os olhos miram a testa, acima.
Essa resposta quase sempre é observada em bebês prematuros e
no primeiro dia após o nascimento; depois ela é substituída pelos
movimentos voluntários dos olhos. A continuidade desse reflexo
pode indicar atraso na maturação cortical.

A ausência completa de um reflexo costuma ser menos signifi-


cante do que a sua permanência por tempo demais. Outro indício de
possível dano fica claro quando um reflexo é forte ou fraco demais.

39
O reflexo que gera urna resposta mais forte em um lado do
corpo do que no outro também pode indicar disfunção do sis-
tema nervoso.

Segundo GALLAHUE et al. (2013), os reflexos do bebê apa-


recem e são inibidos de acordo com um cronograma de ritmo
e sequência previsível. Logo, é possível suspeitar de disfunção
neurológica quando pelo menos uma dessas condições surge:

1. A permanência de um reflexo além da idade em que ele deveria ser


inibido pelo controle cortical;
2. Ausência completa de um reflexo;
3. Respostas de reflexo bilateral desiguais;
4. Respostas fortes ou fracas demais.

É importante ressaltar que você se deve ir a um profissional


especializado, caso deseje uma análise mais profunda sobre o
comportamento reflexo do bebê.

Os bebês apresentam dois tipos de reflexos: os reflexos primi-


tivos de sobrevivência, como por exemplo o de sucção e os reflexos
primitivos posturais, que darão origem aos movimentos voluntários.

Durante os últimos 4 meses de vida pré-natal e os primeiros 4 meses


após o nascimento, o repertório da motricidade do ser humano inclui
os movimentos que são da natureza reflexa; isto é, cada movimento é
uma resposta estereotipada involuntária a um determinado estímulo.
Como por exemplo, quando é tocado a mão do bebê, a mão estimula-

40
da se fecha em uma resposta habitual ou estereotipada [...] (PAYNE
e ISAACS, 2007, p.215)

Abordaremos agora alguns dos mais importantes reflexos primi-


tivos que surgem durante a vida do bebê e persistem até o primeiro
ano. Reforço a necessidade de estimulação desses reflexos, pois vão
influenciar nos movimentos voluntários futuros do bebê, como con-
sequência do amadurecimento de seu sistema cognitivo.

REFLEXO DE MORO
O reflexo de moro existe desde o nascimento e segue até os
seis meses de idade do bebê. Este reflexo tem sido um dos instru-
mentos mais utilizados em exames diagnósticos para saber se há
alguma alteração neurológica no infante.

Você pode percebê-lo toda vez que a criança sentir-se inse-


gura, ele pode ser notado a um barulho alto ou o seu próprio
espirro. Esse movimento acarreta na extensão dos braços,
dedos e pernas. Os membros depois retornam a posição de fle-
xão normal contra o corpo. Se esse reflexo ir muito além do sexto
mês pode indicar algum problema neurológico. Conforme des-
crito por PAYNE e ISAACS (2007), a permanência do reflexo
após o período esperado, atrasará a capacidade do bebê em

41
tomar uma posição sentada, o domínio da cabeça e diversas
propriedades motoras.

Reflexo de Moro: (a) fase de


extensão, (b) fase de flexão.

REFLEXOS DE BUSCA E SUCÇÃO


Os dois reflexos ajudam na manutenção básica da vida de
qualquer ser humano, a alimentação. O bebê precisa de nutrientes
presente no leite materno. É mais fácil obter o reflexo de busca
quando o bebê está com fome, dormindo ou na posição normal

42
de amamentação. A estimulação dos lábios, gengivas, língua ou
palato duro (reflexo de busca) provoca um movimento de sucção
(reflexo de sucção) na tentativa de receber nutrição.

O reflexo de busca pode permanecer até o fim do primeiro ano


de vida, já o reflexo de sucção desaparece ao término do terceiro
mês, mas segue como uma reação voluntária.

REFLEXOS BUCO-MANUAIS (MÃO-BOCA)


De acordo com GALLAHUE et al. (2013) existem dois ti-
pos de reflexo buco-manuais no recém-nascido, que podem ser
observados do primeiro mês de vida até o terceiro mês. O reflexo
plantar-mental, é caracterizado pela estimulação de uma coceira
na palma da mão, ocasionando uma contração dos músculos do
queixo levantando-o para cima. Já o reflexo palmar-mandibular
consiste na realização de uma pressão na palma das mãos. O bebê
vai gerar respostas como abrir a boca, fechar os olhos e gerar uma
flexão da cabeça pra frente.

REFLEXO DE PREENSÃO PALMAR


Esse reflexo normalmente está presente ao nascimento e per-
siste durante os quatro primeiros meses. Ele acontece quando

43
você estimula a palma da mão do bebê com um objeto, e em res-
posta, ele fecha a mão envolvendo-o sem o uso do polegar. Caso o
aperto seja avaliado como fraco ou continue após o primeiro ano
de vida pode ser um sintoma de atraso no desenvolvimento motor
ou hemiplegia.

Reflexo de preensão
palmar.

REFLEXO DE BABINSKI E
PREENSÃO PLANTAR
O Reflexo de Babinski acontece quando você pressiona o pé
do recém-nascido, e como resposta ele estica os dedinhos. Por
volta do quarto mês, esse reflexo é substituído pelo de preensão
plantar, no qual sob a mesma ligeira pressão, ele flexiona todos
os dedos do pé.

44
Reflexo de preensão
plantar.

REFLEXOS TÔNICOS ASSIMÉTRICO E


SIMÉTRICO DO PESCOÇO
Neste reflexo, o bebê é colocado de barriga para cima e seu
pescoço é virado de modo que a cabeça fique voltada ora para um
lado, ora para o outro. Os braços assumem uma posição parecida
com a de um lutador de esgrima. Ou seja, o braço se estende do
lado do corpo para o qual a cabeça está voltada, e o outro braço
assume uma posição bem flexionada. Os membros inferiores
ficam em posição similar à dos braços.

O reflexo tônico simétrico do pescoço pode ser instigado com


o bebê sentado, com apoio. A extensão da cabeça e do pescoço gera
a extensão dos braços e a flexão das pernas. Quando a cabeça e o
pescoço são flexionados, os braços flexionam e as pernas estendem.

45
Os dois reflexos tônicos do pescoço são observados na maio-
ria dos bebês prematuros, mas não são uma resposta obrigatória
em recém-nascidos (não acontece sempre que a cabeça do bebê
é virada). Entretanto, o bebê de 3 a 4 meses de idade assume
a posição assimétrica cerca de 50% do tempo e depois ela vai
deixando de se manifestar gradualmente. Caso persista além do
sexto mês, existe a probabilidade de falta de controle dos centros
cerebrais superiores sobre os inferiores.

A persistência do reflexo tônico assimétrico do pescoço no


começo da infância pode impedir o desenvolvimento de tarefas mo-
toras como rolar o corpo, coordenar os olhos e vários tipos de nado.
Crianças e adultos com paralisia cerebral grave com frequência
exibem reflexo tônico assimétrico persistente (SHERRILL, 2004).

a b
c

Reflexo tônico assimétrico do pescoço e (b) + (c) reflexo tônico simétrico do pescoço.

46
REFLEXO DE ENDIREITAMENTO
LABIRÍNTICO E ÓPTICO
Ambos os reflexos podem ser estimulados quando se inclina
o corpo do bebê para frente, para trás ou para o lado. A criança
reage mantendo a cabeça ereta no sentido oposto do deslocamen-
to para manter o alinhamento da cabeça em relação ao solo. Por
exemplo, se o bebê for mantido na posição de barriga para baixo e
for inclinado para trás, ele responderá erguendo a cabeça. Os dois
reflexos são parecidos, mas a diferença do visual é que os olhos
seguem a condução da cabeça para cima.

c
b
a
Reflexos labirínticos em três posições: (a) ereta,
(b) inclinada para trás e (c) bruços.

REFLEXO DE FLEXÃO (LEVANTAMENTO)


Esse tipo de reflexo pode ser observado a partir do terceiro
mês e se estende até o primeiro ano de vida.Acontece quando, ao

47
inclinar o bebê em qualquer direção, a criança flexione os braços
para tentar permanecer na posição ereta.

a c
b

Reflexo de flexão.

REFLEXO DE PARAQUEDAS E DE
EXTENSÃO (AMORTECIMENTO E APOIO)
Esse é um reflexo defensivo, e acontece quando o bebê recebe
o estímulo visual de que vai cair ao solo (suspenso no ar), ele es-
tica os braços para frente buscando amortecer o contato com a
superfície, sua reação fica parecendo um paraquedista no meio de
um salto. Os reflexos de extensão podem ser provocados quando
o bebê é tirado do equilíbrio na posição sentada, empurrando-o
para a frente ou para trás.

Essas reações costumam ter início por volta do quarto mês.


A reação de extensão para os lados surge pela primeira vez em

48
tomo do mês sexto. A reação para trás pode ser vista se manifes-
tando pela primeira vez entre o décimo e o décimo segundo mês.
Cada uma dessas reações tende a continuar além do primeiro ano
e são necessárias antes de o bebê aprender a caminhar.

Reflexo de paraquedas.

REFLEXO DE ENDIREITAMENTO DO CORPO


E DO PESCOÇO
O reflexo de endireitamento do pescoço é visto quando o bebê
é colocado de barriga para cima, com a cabeça voltada para o lado.
Todo o restante do corpo se movimenta de forma involuntária (re-
flexa) na mesma direção da cabeça. Primeiro os quadris e as per-
nas viram-se de modo alinhado, seguidos pelo tronco. Já o reflexo
de endireitamento do corpo é o contrário do endireitamento da
cabeça, nele ao se virar a cabeça do bebê ele tende a virar o corpo
para o mesmo lado da cabeça “endireitando” o corpo.

49
De acordo com PAYNE e ISAACS (2007), ambos os reflexos
estão relacionados com os movimentos de rolamento. O reflexo de
endireitamento do pescoço desaparece em tomo dos 6 meses de
idade. O reflexo de endireitamento do corpo emerge em tomo do
sexto mês e persiste até cerca dos 18 meses.

(a) Reflexo de
endireitamento
do pescoço e
a (b) reflexo de
endireitamento
b do corpo.

REFLEXO DE ENGATINHAR
O reflexo de engatinhar é observado quando o bebê é colocado
de barriga para baixo e você vai empurrando devagarinho a sola
do seu pé. De modo reflexo, ele assume uma posição de engati-
nhar, usando tanto os braços como as pernas. A pressão na sola
de ambos os pés gera o retorno da pressão por parte do bebê e um
empurrão para esticar a perna contrária.

50
Este reflexo costuma se apresentar no nascimento e desapare-
cer por volta do terceiro ou quarto mês. Por volta do sétimo mês,
ele reaparece como um movimento intencional, não mais reflexo.

Reflexo de engatinhar.

REFLEXO PRIMÁRIO DE CAMINHAR


O reflexo de caminhar será o sinal inicial para o importante mo-
vimento que é o caminhar. Este reflexo pode ser observado quando se
segura o bebê na posição vertical com os pés apoiados a uma superfície
de apoio, por haver uma pressão sobre a sola dos pés do bebê isso per-
mitirá que suas pernas sejam levantadas e, a seguir, abaixadas de forma
alternada, parecendo-se muito com uma forma imatura de caminhar.

Vale ressaltar que ele não é, de jeito nenhum, uma ativi-


dade motora voluntária, pois é controlado de modo subcortical.

51
Entretanto, ele pode fornecer ao bebê informações valiosas, que
serão usadas mais tarde, quando os centros cerebrais superiores
amadurecem e a musculatura corporal torna-se forte o suficiente
para suportar o ato voluntário de ficar de pé e caminhar.

ZELAZO (1976) e BOWER (1976) investigaram como a prática


prematura e insistente desse reflexo pode afetar na manifestação
do comportamento intencional de andar. Eles descobriram que,
por meio do condicionamento deste reflexo no grupo experimental,
os bebês apresentaram o surgimento do caminhar independente
de forma mais acelerada e precoce do que o grupo controle, que
não apresentou aceleração do desenvolvimento.

Reflexo primário
de pisar.

52
REFLEXO DE NADAR
Quando colocado na posição de barriga para baixo dentro
ou sobre a água, o bebê realiza movimentos rítmicos extensores
e flexores dos braços e das pernas como se estivesse nadando.
Além disso, ele apresenta o reflexo de prender a respiração
quando o rosto do bebê é colocado na água. Esses movimentos
são tão organizados que nem se parecem com reflexos. Esses
movimentos involuntários geralmente desaparecem em torno
do quarto mês.

DANDO UMA MÃOZINHA


Vimos ao longo deste capítulo a Fase Motora Reflexiva, ca-
racterizada por movimentos involuntários (reflexos) do bebê que
o ajudam a sobreviver, interagir e se desenvolver no ambiente em
que vive. Também vimos que alguns movimentos reflexos que
ele apresenta são muito parecidos com os realizados de forma
voluntária meses mais tarde. E que esses movimentos reflexos
também possuem certa duração, pois caso sejam prolongados,
existe um indício de retardo no amadurecimento cognitivo. Mas
como eu posso ajudar a estimular meu bebê? Como posso “dar
uma mãozinha”?

53
PERÍODO DE 0 A 3 MESES:
É um período em que o cuidado e a segurança são palavras-
-chave, já que o bebê nasceu há pouco tempo, e seus estímulos
deverão ser de natureza mais suave. O foco aqui é mais de
interação entre pais e filhos, pois o bebê precisa desse contato e
afeto. Lembrando que é necessário respeitar a rotina de sono e
alimentação do bebê.

 No momento do banho, massageie as mãos e os pés com


delicadeza, brincando com cada um dos dedos do bebê;

 Com movimentos cuidadosos, deite o bebê de barriga para


cima, segure nos seus pés e empurre devagar e suavemente
os joelhos na direção do peito. Mova seus braços, flexionando
e alongando;

 Também de barriga para cima, posicione brinquedos e


objetos coloridos à uma distância de dois palmos dos olhos
do bebê, e movimente de um lado para o outro, para que ele
possa mover a cabeça;

 Estimule a bilateralidade de seu bebê, estimulando am-


bas as mãos com objetos para que realize movimentos de
preensão manual, e os pés para realizar movimentos de
esticar os dedos. Se colocarmos nosso dedo ou uma argo-
la na palma da mão do bebê ele dobra os dedinhos e segura

54
o objeto. Neste “segurar” ele experimenta de modo bastante
sutil diferentes sensações táteis;

 Estimule o reflexo tônico e endireitamento do pescoço,


ao suavemente virá-lo para o lado e deixando que seu corpo
o acompanhe;

 Chocalhos e brinquedos com textura e sons diferentes


ajudam a estimular a audição e curiosidade nesta fase.

PERÍODO DE 3 A 6 MESES:
Suas relações com o mundo que a cerca se tornam mais
fortes. O bebê já é capaz de sentar-se com apoio, virar a cabeça
quando ouve um barulho, tenta se equilibrar e orientar no es-
paço. Neste período o bebê começa entender mais sobre o seu
“eu”, o corpo como sendo seu, por isso ele brinca com o mesmo.
À medida que o bebê vai crescendo, os exercícios também
avançam em complexidade.

 Deixe a criança brincar na banheira, e converse sobre o


corpo, “vamos lavar a mão”, “a cabeça”... quando estiver tro-
cando as fraldas, você pode fazer o mesmo.

 Coloque-o de barriga para cima e faça um leve movimento


com as pernas, como se ele estivesse andando de bicicleta.

55
 Deitado de barriga para cima, dobre uma perna enquanto
estica a outra e ajude o pequeno a torcer o corpo na direção
da perna esticada. Repita esse exercício com a outra perna.

 Enquanto ainda estiver deitado de barriga para cima,


segure os braços e levante-os lentamente até o bebê ficar
sentado.

 Agora de barriga para baixo, coloque alguns brinquedo na


frente do bebê para que ele tente alcançá-los.

 Deite a criança de bruços e pressione um seus pés por vez


para o estimular a engatinhar.

 Deixe o bebê ficar no chão por certo tempo para poder


se movimentar e experimentar novas posições. Você também
pode virar a criança de costas e conversar com ela para
que vire-se.

 Brinque com livros com seu filho. Existem livros de plástico,


de pano, com odores e texturas distintas.

 Estimule a preensão plantar usando algum objeto para


tocar os pés do bebê.

 Brinque com seu filho mudando de direção, passeando pela


casa com ele, de forma que ele exercite seu reflexo postural de
endireitamento labiríntico.

56
 Trabalhe o reflexo de endireitamento do pescoço posicio-
nando o bebê de barriga para cima, com a cabeça voltada
para o lado. Todo o restante do corpo deve se movimentar
na mesma direção da cabeça. Primeiro os quadris e as pernas
viram-se de modo alinhado, seguidos pelo tronco.

PERÍODO DE 6 A 12 MESES:
Esta é a fase em que o bebê adquire cada vez mais independên-
cia, principalmente motora. Tem vontade de pegar tudo, já pega os
brinquedos, sobe e desce, grita, canta. É neste período que a criança
adquire maior consciência sobre si e os outros. O bebê consegue se
ver “além” da mãe. Basicamente, os pais passam a ser o instrumento
para que esses pequenos possam sair andando por aí.

 O espaço deve proporcionar o movimento, mas de forma


segura. Portanto, empilhe potes de tamanhos diferentes,
cubos, ofereça brincadeiras com bolas coloridas, jogar a bola
no cesto, areia, baldes, passar por dentro do bambolê, por
baixo da cadeira, brincar embaixo da mesa, empurrar e puxar
as coisas, subir e descer, entre outros.

 Estimule a musicalidade com a criança, de maneira que ela


vivencie noções de ritmo.

 Estimule seu movimento reflexo de amortecimento e apoio

57
no solo ou na cama, aproximando-o e afastando-o do solo,
deixando que, ao tocar o solo, sustente parcialmente o peso
do próprio corpo.

 Enquanto ainda estiver deitado de barriga para cima, segure


os braços e levante-os lentamente até o bebê ficar sentado. Em
seguida, suavemente o pressione a deitar novamente, e veja sua
reação em tentar manter-se equilibrado e sentado.

 A partir do estímulo do reflexo de endireitamento do pes-


coço, ajude o bebê a rolar de um lado para o outro.

 Pressione com suas mãos os pés do bebê para que faça


força para esticar a perna. Posteriormente, deixe-o tentar sus-
tentar o próprio corpo se apoiando em objetos.

 A partir do exercício da bicicleta realizado no período ante-


rior, estimule seu filho a realizar o movimento de caminhada.

Eita, o bebê já parece até ter vontade própria… e agora?

58
3
FASE MOTORA RUDIMENTAR
O ambiente onde vive um bebê precisa permitir
suas explorações e descobertas; precisa
permiti-lo brincar.

No capítulo anterior, vimos que a primeira fase (Fase Mo-


tora Reflexiva) era composta por movimentos involuntários,
que ajudavam o bebê a sobreviver e interagir em seus primeiros
dias, semanas e meses de vida. E que esses movimentos reflexos
também possuem certa duração, pois seriam substituídos por
movimentos propositais ou voluntários.

É nesse contexto que adentramos na segunda parte da ampu-


lheta, a Fase Motora Rudimentar. Os movimentos rudimentares
são os primeiros movimentos voluntários, determinados de acordo
com o amadurecimento do bebê e se caracteriza por uma sequência
de aparecimento previsível. Essa fase envolve movimentos estabi-
lizadores, como obter o controle da cabeça, pescoço e músculos do

61
tronco; as tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar, e os
movimentos locomotores de arrastar-se, engatinhar e caminhar.

O recém-nascido vai deixando pouco a pouco de executar


movimentos involuntários para realizar movimentos propositais.
No que antes ele usava a boca apenas para sucção do leite ma-
terno, agora ele também usa para produzir sons, imitar feições,
entre outros.

UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO


PERMANENTE PERMANENTE PERMANENTE
NA VIDA DIÁRIA RECREATIVA COMPETITIVA

MODELO DE
DESENVOLVIMENTO
DE GALLAHUE

De 1 a 2 anos do
nascimento até 1 ano FASE MOTORA
ESPECIALIZADA

FASE MOTORA
FUNDAMENTAL
Estágio de Pré-controle
FASE MOTORA
Estágio de Inibição de RUDIMENTAR
Reflexos
FASE MOTORA
REFLEXIVA
Isto é o que caracteriza um dos estágios desta fase motora, no
caso, o Estágio de Inibição de Reflexos, que engloba a maior parte
do primeiro ano de vida do bebê. Assim que os reflexos iniciais
vão enfraquecendo e sumindo (inibidos), que têm início desde o
nascimento, os centros cerebrais passam a tomar o controle das
funções motoras e dos órgãos do sentido (visão, tato, audição,
olfato, paladar e cinestesia), tornando a integração desses pro-
cessos muito desenvolvida; dando lugar ao outro período que é
chamado de Estágio de Pré-controle, que costuma ser do 12º ao
24º mês de vida, onde a criança começa a adquirir maior controle
e exatidão nos movimentos.

Mesmo quando nasce no momento adequado, o bebê não tem


todas as suas funções trabalhando a todo o vapor. A sua visão é
bem limitada, mal consegue chorar, não expressa muitas feições;
enfim, basicamente ele vêm “programado” para atender as neces-
sidades básicas de sobrevivência. Contudo, no decorrer dos dias,
pela seu diário desenvolvimento e amadurecimento dos sistemas,
novas necessidades vão surgindo, como a curiosidade do conhe-
cimento. Tanto adultos como bebês são levados por essa curio-
sidade à sair do lugar, no caso dos pequeninos, isso acontece de
forma literal.

Pare um pouco e reflita. Imagine que alguém está deitado em


uma cama. De repente, uma luz bem forte acende no seu banheiro,
atiçando sua curiosidade em saber o que se passa, já que a luz

63
estava apagada. Pense que uma câmera lenta está posicionada no
quarto, e você é o câmera-man. Você observa atentamente a movi-
mentação dessa pessoa enquanto ela levanta e se direciona até o
banheiro, apaga a luz, e volta para a cama. Não era nada de mais.

Entretanto, você ficou intrigado e decidiu observar


a movimentação em câmera lenta. Você percebeu que a pessoa
foi, em primeiro lugar, estimulada pelos órgãos do sentido a
observar a luz acesa, o que lhe atiçou a curiosidade. Ela então de-
cidiu levantar da cama, mas, para isso, executou um movimento
que começou no controle da cabeça e pescoço, controle do tronco
(rolando lateralmente na cama), sentou-se (com os músculos de
membros inferiores e superiores ativados) e por fim se levantou,
equilibrou-se e começou a caminhar de forma independente.

É exatamente dessa maneira que acontece com um pequeno


bebê. Ele não nasce andando, porém, estimulado pelo ambiente,
tem o desejo de conhecer as coisas. Apesar disso, ele precisa
começar a sair do lugar, se mexer de forma proposital para atin-
gir seus objetivos. Para tal, começa com pequenos movimentos,
que parecem quase nada, mas que são, na verdade, pequenas
grandes vitórias dentro de seu desenvolvimento motor em di-
reção a sua independência.

Portanto, o desenvolvimento prossegue em uma sequência


previsível, mas em ritmos diferentes, pois primeiro se conquista

64
o domínio da cabeça e do tronco e depois dos membros. Quando
consegue sentar e se manter estável, o bebê consegue liberar os
braços de modo mais efetivo para exploração. E assim, as habili-
dades de manipulação, incluindo a utilização da boca, permitem o
uso dos mecanismos sensório-motores para coletar informações.
Desse modo, os movimentos tornam-se símbolos do processo de
pensamento da criança (Gallahue et al., 2013).

Para poder interagir e exercer certo domínio sobre o ambiente


que o cerca, o bebê precisa controlar três categorias primárias de
movimento. Em primeiro lugar, o bebê tem de estabelecer e manter
a relação entre o corpo e a força da gravidade para alcançar uma
postura ereta quando sentado e de pé (habilidades estabiliza-
doras). Em segundo lugar, a criança tem de desenvolver capaci-
dades básicas para se movimentar pelo ambiente (habilidades
locomotoras). Em terceiro, o bebê tem de desenvolver capaci-
dades rudimentares de alcançar, pegar e soltar para ter contato sig-
nificativo com objetos (habilidades manipulativas).

HABILIDADES ESTABILIZADORAS
Pelo fato de todo movimento voluntário requerer um pou-
co de estabilidade, essa se torna a mais básica das habilidades.
Vencer a força gravitacional pode parecer algo muito simples para
nós: crianças, jovens e adultos. Não lembramos de quão forte ela

65
é, até que nos tornemos idosos, quando atividades tão básicas,
como sentar e levantar, se convertem quase que em cruzes para
se carregar.

Como foi dito anteriormente, esse é um processo que percorre


uma sequência previsível em todos os bebês, apesar de variados
ritmos. Os eventos que levam à postura de pé começam com a
aquisição do controle sobre a cabeça e o pescoço e prosseguem em
um movimento descendente, na direção do tronco e das pernas.

Com relação ao controle sobre a cabeça e o pescoço, ao nascer,


o bebê basicamente vira apenas para um lado. Com uma semana,
consegue virar para os dois lados. No primeiro mês, mantém o
controle quando sustentado na base do pescoço. Em torno do se-
gundo mês, ela é capaz de tirar o queixo da superfície de contato.
No mês seguinte, ela já controla na posição de bruços. E por volta
do quinto mês, ela adquire o controle também de barriga para
cima, conseguindo levantar a cabeça do travesseiro, por exemplo
(GALLAHUE et al., 2013).

Concomitante ao controle dos músculos da cabeça e do pes-


coço acontece o controle motor do tórax e lombar do tronco. Por
volta do segundo mês o bebê consegue levantar a cabeça e o tórax.
É possível ver isso se você segurar o bebê pela cintura e obser-
va sua tentativa de manter a postura ereta, apesar das oscilações
posturais. No terceiro mês, ele começa a tentar rolar para ficar de

66
bruços, atingindo esse objetivo no sexto mês. E apenas no oitavo
mês o bebê consegue fazer o rolamento na direção oposta, ou seja,
para ficar de barriga para cima.

No princípio, para conseguir se sentar, no terceiro mês, o


bebê precisa de ajuda de alguém. Como dito no parágrafo aci-
ma, ele tenta manter a postura ereta e se equilibrar. Ao tentar se
sentar no sexto mês, o bebê costuma se projetar para frente para
conseguir maior apoio para as costas. Com o passar do tempo, ele
vai evoluindo aos poucos até se sentar ereto sem qualquer apoio,
por volta do oitavo mês.

a b c

Três estágios da conquista do sentar independente: (a) terceiro


mês, (b) sexto mês e (c) oitavo mês.

Agora, só falta ficar de pé. Algo que o bebê começa a ensaiar


quando alguém segura embaixo de seus braços e ele executa algu-
mas tentativas de se manter de pé equilibrado e até dar uns passos,

67
próximo ao sexto mês. No sexto mês ele já consegue ficar de pé
apoiando-se em algo. Em meados do décimo mês, os pequeninos
já testam seu equilíbrio sem se apoiarem, ainda que por pouco
tempo. Pouco tempo depois ele começa a empurrar o próprio cor-
po para ficar de pé, partindo da posição ajoelhado; em seguida,
atingindo o ápice ao ficar de pé sozinho por períodos mais longos,
e até treinando uns passinhos para frente, entre o décimo primei-
ro e o décimo terceiro mês.

A partir daí, a independência em pessoa começa a trilhar o


seu caminho, e não para quieto.

HABILIDADES LOCOMOTORAS
Enquanto que as habilidades estabilizadoras tenham um maior
foco no equilíbrio, as habilidades locomotoras se referem ao que
gera movimento. Embora ela não esteja dissociada do aspecto
locomotor, já que para se locomover se faz necessário o equilíbrio.

A primeira manifestação locomotora do indivíduo é o rastejo,


que evolui conforme o domínio dos músculos da cabeça, do pes-
coço e do tronco aumenta. No começo as pernas não costumam
ser usadas no rastejar do bebê, que costuma aparecer em torno do
sexto mês. Em seguida, aproximadamente no nono mês, o peque-
no descobre uma forma de se movimentar mais eficiente, usando

68
as pernas e os braços, que é o engatinhar. Passando depois a an-
dar de quatro apoios alternando braços e pernas opostos (perna
direita e braço esquerdo), com cerca de onze meses.

Algumas pesquisas sugerem que os bebês que transpuseram o


rastejo e passaram direto para o engatinhar eram menos eficientes
para engatinhar do que aqueles que haviam experimentado o raste-
jar primeiramente (ADOLPH, VEREIJKEN e DENNY, 1998).

a
b
(a) Rastejar e (b) Engatinhar.

Desde o sexto mês, o bebê consegue caminhar/marchar,


ainda que seja com alguém o segurando pelas axilas. Tendo cer-
to equilíbrio e força de sustentação de membros inferiores, ele
começa a andar com a condução de alguém por volta do mês onze.
O pequeno evolui e começa a andar sem ajuda com as mãos para
cima, até conseguir andar ereto com as mãos para baixo, em torno
do décimo terceiro mês.

É importante salientar que um ambiente que conte com


a estimulação e auxílio dos pais e pontos de sustentação/apoio

69
podem ajudar no tempo de surgimento do caminhar sem ajuda.
Tive um colega no meu trabalho, também educador físico, que
estimulava e prestava assistência no desenvolvimento motor de
seu filho, o qual conseguiu andar sozinho com cerca de 10 meses.

O desenvolvimento de capacidades de movimento de loco-


moção, estabilidade e manipulação em bebê é influenciado tan-
to pela maturação como pelo aprendizado. Essas duas facetas
do desenvolvimento estão inter-relacionadas e é por meio dessa
interação que o bebê desenvolve e refina as capacidades de movi-
mento rudimentar. Essas capacidades de movimento são as bases
necessárias ao desenvolvimento dos padrões de movimento fun-
damental e das capacidades de movimento especializado.

HABILIDADES MANIPULATIVAS
Assim como as demais habilidades, a manipulativa também é
influenciada pela maturação do sistema sensório-motor do bebê,
e seu desenvolvimento também pode variar em cada indivíduo.
Para adquirir o controle da capacidade de manipulação rudimen-
tar, o bebê precisa dominar algumas tarefas, são elas: alcance,
preensão e soltura.

No primeiro trimestre de vida, o recém-nascido não é capaz


de fazer movimentos de alcançar. Ele apenas acompanha o objeto

70
com os olhos. Por volta do quarto mês, o pequeno começa a fazer
ajustes finos dos olhos e das mãos, necessários ao contato com o
objeto. Os movimentos ainda são lentos e estranhos, envolvendo,
principalmente, o ombro e o cotovelo. Mais tarde o punho e a mão
começam a agir de forma mais direta. No final do quinto mês, ela
já é capaz de alcançar objetos no ambiente e de fazer contato tátil
com eles. Essa conquista é necessária antes que a criança possa,
enfim, segurá-lo e prendê-lo na mão.

Segundo HALVERSON (1937), a criança passa por seis es-


tágios no desenvolvimento da preensão. No primeiro estágio, o
bebê de 4 meses realiza apenas movimentos reflexos para entrar
em contato tátil com o objeto. No segundo estágio, o bebê de 5
meses é capaz de alcançar o objeto e interagir com ele. A criança
é capaz de pegar o objeto com a mão inteira, mas sem firmeza.
No terceiro estágio, os seus movimentos vão se tornando espe-
cíficos e se aperfeiçoam, de modo que em torno do sétimo mês
a palma da mão e os dedos são coordenados. Ainda não há a
capacidade de usar de modo eficiente o polegar e os dedos. No
quarto estágio, em torno do nono mês, a criança começa a usar
o dedo indicador para pegar objetos, formando um movimento
como de uma pinça. No décimo mês, alcançar e pegar são coor-
denados em um único movimento contínuo. No quinto estágio,
o uso eficiente do polegar e do indicador acontece por volta do
décimo segundo mês. No sexto estágio, quando a criança tem 14

71
meses, as capacidades de preensão manual são bem próximas
às dos adultos.

ECKERT (1987) resumiu com clareza esses seis estágios na


seguinte declaração:

Esses atos envolvem transições e incluem passar: (1) da localização


visual do objeto à tentativa de alcançá-lo; (2) da coordenação sim-
ples olho-mão à independência progressiva do esforço visual, com a
expressão final em atividades como tocar piano e digitar; (3) do en-
volvimento inicial da musculatura do corpo ao envolvimento mínimo e
à maior economia do esforço; (4) da atividade proximal dos músculos
grandes dos braços e ombros à atividade muscular distal fina dos dedos;
(5) dos movimentos de ajuntamento iniciais brutos na manipulação de
objetos com as mãos à posterior precisão do tipo pinça no controle com
o indicador e o polegar em oposição; (6) do alcançar e manipular bila-
teral inicial ao uso posterior da mão preferida. (p. 122-123)

Você já deve ter visto um bebê brincando com um chocalho. É


muito fofinho vê-lo sorrindo e chacoalhando o objeto. Mas, de re-
pente, ele começa a chorar e chacoalhar o objeto como se estivesse
com raiva daquilo. É nesse momento que o adulto por perto cos-
tuma tentar fazer o pequenino parar de chorar e se acalmar.

Curioso é saber que uma das razões para essa mudança de


humor repentina pode ser o fato de que, aos seis meses, a cri-
ança ainda não coordena o movimento de soltar o objeto. A arte
de mandar os músculos relaxarem a pegada na hora que eles

72
quiserem. Até quatorze meses, a criança já passa a dominar o
soltar básico, controlando a coordenação de todos os aspectos do
alcance, preensão e soltura até os um ano e meio de idade.

b c

a Capacidades rudimentares: (a) alcançar, (b) pegar e (c) soltar.

DANDO UMA MÃOZINHA


Vimos ao longo deste capítulo como se dá o período de transição
infantil de uma fase de movimentos involuntários (reflexos) para
uma fase de movimentos intencionais básicos (rudimentares). No
período da fase motora rudimentar, pela estimulação do ambiente e
maturação do corpo da criança, ela passa a ter alguns reflexos inibi-
dos, e começa a sua busca por independência, controlando de pouco
em pouco as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipula-
tivas. Sendo que essas habilidades é que vão auxiliar a criança na
satisfação de buscar conhecer e interagir ainda mais intensamente
tudo e todos ao seu redor (ela mesma, o outro e o ambiente).

73
Também percebemos que tudo começa com tentativas meio
brutas, mas intencionais, de realizar uma série de tarefas de movi-
mento. E que, embora seja necessário que o bebê tenha seu siste-
ma neuromuscular amadurecido para poder avançar ao nível de de-
senvolvimento subsequente, um ambiente que forneça estimulação
suficiente, com abundantes oportunidades de prática e incentivo
positivo, pode se mostrar benéfico à aceleração do desenvolvimento
das tarefas rudimentares de estabilidade, locomoção e manipulação.

Mas como eu posso ajudar a estimular meu bebê? Como pos-


so “dar uma mãozinha”?

No ano de 2009, a National Association of Sports and Physi-


cal Education (NASPE) [Associação Nacional de Esportes e Edu-
cação Física] fez uma declaração de orientação de atividade física
desde o nascimento até os 5 anos (Active Start: A Statement of
Physical Activity Guidelines for Children from Birth to Age 5), na
qual algumas diretrizes foram dadas para atividade física para a
fase motora rudimentar. Vejamos algumas delas.

1 - O bebê deve interagir com os seus pais/responsáveis


em atividades físicas diárias dedicadas a explorar o
movimento e o meio ambiente.

É de extrema importância que a criança tenha essa relação afetiva


com seus pais, sentindo-se acolhida e segura. Tudo isso ajudará na

74
formação de sua personalidade e até em sua maturação física. Brincar
permite ao bebê estabelecer relações afetivas e aprender sobre si e o
mundo. É importante passear com a criança, fazê-la experimentar
diferentes superfícies (areia, chão duro, gramado, emborrachado),
espaços, e ensiná-la a valorizar e se alegrar com a criação de Deus (ali-
mentar os animais, visitar parques, regar plantas, e etc).

2 - Os pais/responsáveis devem colocar o bebê em lo-


cal que encoraje e estimule as experiências de movi-
mento e brincadeiras ativas várias vezes ao dia, por
curtos períodos de tempo.

É importante respeitar a rotina da criança, alimentação e soneca,


além de que o bebê dificilmente consegue se manter entretido na mes-
ma brincadeira por muito tempo. Então, aproveite os momentos em
que ele esteja “disponível” e procure estimular a criança e, principal-
mente, encorajá-la nessas atividades. Apesar da pouca idade, o bebê
sabe quando alguém o repreende ou motiva. Por isso é essencial que
nos momentos de interação entre os pais/responsáveis e o bebê, es-
tes lhe dirijam uma palavra, cantem e nomeiem ao bebê o que ele vê,
escuta e, supostamente, sente. Aos poucos, é possível perceber quais
são suas preferências e os limites entre a brincadeira gostosa e seu
excesso (que leva ao desinteresse, cansaço ou estresse). A motivação
não necessariamente envolve palavras, mas a disposição em man-
ter os estímulos mesmo quando você possa estar cansado de ficar

75
segurando o bebê e caminhando para lá e pra cá. Essa motivação o
manterá disposto a manter a tentativa. Parece até difícil pensar em
um bebê sedentário, mas pode acontecer. Estimule-o a brincar e a se
manter ativo durante o dia. Nada de deixá-lo assistir a desenho no
celular, deitado na cama, por horas a fio.

3 - A atividade física do bebê deve promover o desen-


volvimento de habilidades motoras.

A partir das etapas do desenvolvimento da criança em ativi-


dades de estabilização, locomoção e manipulação, acredito que
fique mais fácil a visualização de que tipo de estimulação deve ser
praticada. Identifique o período de desenvolvimento que seu filho
se encontra e, a partir disso, promova aquela competência moto-
ra, de forma que o bebê possa acumular cada vez mais areia em
sua ampulheta da vida. Não se esqueça de usar objetos, estímulos
sonoros, pontos de apoio, entre outros.

4 - O bebê deve ser colocado em um ambiente que


atenda ou até exceda os padrões de segurança
recomendados para realizar atividades físicas que
envolvam todo o corpo.

Como diria a famosa lei da física: “Tudo o que sobe, desce.” Eu


adicionaria que aquilo que levanta, cai. Lembre-se de que o bebê
está buscando vencer uma força que o atrai de volta para o chão.

76
Sim, ele vai cair, e tudo isto faz parte do processo de desenvolvi-
mento. Não vá para o outro extremo de superproteção a ponto de
não deixá-lo vivenciar o ambiente ao redor, ficando apenas sentado
num carrinho ou no colo de alguém; o que prejudicará e poderá
retardar a sua maturação sensório-motora. Agora, pelo fato do
bebê estar em busca de conhecimento e independência, é impor-
tante minimizar os riscos existentes e tomar algumas precauções,
tais como: colocar protetores de tomada, verificar se os pontos de
apoio para o bebê possuem quinas e tentar colocar amortecedores,
manter a porta do banheiro sempre fechada (existem casos de
crianças que se afogam no vaso sanitário), deixar produtos quími-
cos e objetos pontiagudos fora de alcance, e etc.

5 - Os responsáveis ​​pelo bem-estar dos bebês são


encarregados ​​por compreender a importância da
atividade física e devem promover habilidades de
movimento, proporcionando oportunidades para
atividades físicas estruturadas e não estruturadas.

É muito importante que os pais ou responsáveis entendam


a importância de seu filho se movimentar para estimular o aflo-
ramento de suas habilidades de movimento. É muito comum que
os pais se utilizem de meios “hipnotizadores” para manter o seu pe-
queno entretido e assim evitar preocupações maiores sobre o bebê
(Onde ele foi parar? O que está fazendo?). Usar esses meios não é

77
um problema em si, mas seu uso em excesso acaba por usurpar um
tempo precioso de exploração para o seu bebê.

Em adição à esta compreensão sobre a atividade física, está a


proposição de atividades estruturadas e não-estruturadas. Por
não-estruturadas, quero dizer de natureza mais livre. O tempo livre
de exploração, onde muitas vezes o próprio bebê se propõe a fazer
certas coisas. Por atividades físicas estruturadas, me refiro àquelas
intencionais promovidas pelos pais, onde há um objetivo a ser atingi-
do com aquela atividade, uma pretensão de estimular determinada
habilidade de movimento.

Complementando o que foi dito anteriormente, gostaria de


oferecer exemplos mais práticos de como promover habilidades
de movimentos e atividades físicas com o bebê.

PERÍODO DE 0 A 3 MESES:
No primeiro mês, a visão do recém-nascido ainda está em for-
mação. Por isso, seu melhor brinquedo é o rosto dos pais ou res-
ponsáveis. Levantar a sobrancelha, abrir e fechar a boca, mostrar
a língua, fazer bicos com os lábios, piscar um dos olhos, falar em
diferentes tons e ritmos para o bebê são formas de brincar com
ele. Mesmo que o tempo do brincar dure poucos minutos, ele
pode acontecer na troca das fraldas, no banho, quando o bebê está
deitado, mas desperto, ou mesmo no colo.

78
No segundo mês, o bebê é capaz de focar sua visão e, entre outras
coisas, já reconhece o rosto da mãe e de pessoas mais próximas,
como o pai e familiares. Então, é hora de incrementar as brinca-
deiras faciais já que o bebê acaba imitando a expressão que ele
observa; então, execute diversas expressões faciais e dê ao bebê cer-
to um tempo de observação e de resposta para imitação. Apresentar
o espelho também é uma boa dica. Mesmo que ele ainda não saiba
que a imagem é ele.

No terceiro mês, as brincadeiras com as mãos se tornam


mais expressivas, em duração e movimentação Embora o bebê
não consiga segurar intencionalmente o objeto, tudo o que es-
tiver próximo dele se torna um alvo, levando o bebê a “bater”
ou chutar o brinquedo desejado, e assim ele percebe que há um
movimento. Exemplo disso acontece quando ele balança um
chocalho e escuta um som. O bebê começa a perceber a relação
causa-efeito. Nessa idade já é possível colocar o bebê para brin-
car livremente no chão. Ele deve ser colocado de costas, com
objetos ao seu lado ou pendurados por cima dele. Paninhos,
argolas, potinhos, chocalhos, refletores de imagem e morde-
dores com texturas diferentes e cores contrastantes são os
brinquedos mais indicados para esta faixa etária. Livros com
imagens simples, de plástico, tecido ou capa dura, também cos-
tumam agradar os bebê.

79
PERÍODO DE 4 A 6 MESES:
No quarto mês, há uma coordenação entre a cabeça e os olhos
do bebê (visando a mesma direção), e suas mãos se endereçam
para o que ele deseja, sejam pessoas ou coisas. Entre o quarto e o
sexto mês os bebês desenvolvem a habilidade de sentar. Em um
primeiro momento, eles precisam de suporte, mas no final do sexto
mês muitos já se sentam sem nenhum apoio nas costas.

Nesse período, o chão é um lugar muito bom para o bebê brin-


car, já que não oferece riscos de queda e ele pode escolher qual
posição lhe é mais agradável. Para explorar seu próprio corpo e o
que tem à sua volta, livrinhos de tecido ou plástico, pequenos potes,
fitas de cetim, pedaços de pano, bichos ou bonecos macios, argolas,
bolas, cubos, objeto espelhado, chocalhos e mordedores são bons
objetos nesse período.

Entretanto, lembre-se de que o calor humano é mais impor-


tante do que a presença de brinquedos. Aos poucos, conforme o
bebê sente-se seguro com a presença física de alguém a ele conec-
tado (podemos dizer como se fosse uma espécie de “áurea”), ele vai
aprendendo que brincar só não representa solidão, ou sentimento de
abandono, desintegração ou mesmo uma defesa contra o ambiente.
Este tempo vai aumentando conforme o bebê cresce amparado por
esta conexão humana.

80
PERÍODO DE 6 A 9 MESES:
Ele adquire algumas competências que começam a mudar a
sua vida: sentar, rastejar e engatinhar. Ao mesmo tempo, outras
conquistas motoras, como os movimentos de pinça (junção do po-
legar e indicador) e de transferência de um objeto de uma mão para
outra voluntariamente, fomentam e ampliam suas possibilidades
de exploração. A sua máquina do corpo passa a trabalhar coorde-
nadamente: olhos, mãos e boca. Tudo isso lhe dá mais autonomia,
tanto na execução de tarefas quanto na sua forma de comunicação
(desde esticar os braços quando quer colo, até balbuciar). Surge a
necessidade de um espaço mais amplo e seguro para que o bebê
possa se movimentar.

PERÍODO DE 9 A 12 MESES:
Por ter sua habilidade estabilizadora e locomotora mais
desenvolvida nesse período, o bebê entra em uma fase em que
mexe em todas as coisas. A sua curiosidade está muito aflorada.
Consequentemente, é preciso garantir que dentro de casa, am-
biente onde o bebê vive, possa ser por ele conhecido, inclusive
para que ele aprenda e reconheça onde moram os perigos, o que
facilitará sua análise dos perigos no mundo afora.

81
A interação social-afetiva do bebê também muda nesse
período. Eles começam a bater palma, a apontar para o que
desejam, esboçar o aceno do tchau, imitar expressões faciais,
gestos e alguns sons que ouve, convocando seu responsável a
entrar na brincadeira. Use isto ao seu favor, acrescentando às
brincadeiras: conversas, músicas e leituras. Nesses diálogos, in-
clua gestos e expressões faciais (feliz, triste, cansado, animado, e
etc), variações rítmicas e sonoras (por exemplo, falar mais alto e
bem baixinho), nomeações de partes do corpo e o nome do bebê
e brincadeiras como seu mestre-mandou. Isso favorece o desen-
volvimento de sua percepção corporal e linguagem.

Não é um problema repetir as mesmas brincadeiras, já que


elas ajudam o bebê a aprimorar habilidades motoras e desenvolver
aspectos cognitivos, como o aprendizado de relação entre uma
ação e sua consequência (causa-efeito).

Olha lá! O bebê cresceu e já está andando… e agora?

82
4
FASE MOTORA FUNDAMENTAL
“Ser criança é viver em um universo de brin-
cadeiras e conhecer mundos maravilhosos que
apenas uma imaginação abençoada é capaz de
conceber.”

Certo tempo já se passou desde o nascimento. O nosso su-


jeito enfrentou muitos desafios para vencer a incrível força da
gravidade, e agora já consegue caminhar. Um pequeno passo
rumo ao seu desejo em desbravar o mundo ao seu redor. Pelo seu
constante desenvolvimento, evolução e crescente autonomia; ele
vai deixando de ser um pequeno bebê, e está se tornando uma
criança. Pequena ainda, é verdade, e bastante dependente em de-
terminadas atividades rotineiras da vida, tais como alimentação,
necessidades fisiológicas, higiene pessoal, entre outras.

Pelo fato de sua estatura e peso não crescerem demasia-


damente (como no período neonatal), o início da infância é um

85
momento perfeito para a criança se desenvolver e refinar uma
grande variedade de tarefas motoras, pois ela está descobrindo
as capacidades de seu corpo: movimentos manipulativos, esta-
bilizadores e locomotores; primeiro isoladamente, e depois com
movimentos combinados; como por exemplo, quando ela apren-
de a saltar, depois a correr, e posteriormente combinar ambos
os movimentos.

UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO UTILIZAÇÃO


PERMANENTE PERMANENTE PERMANENTE
NA VIDA DIÁRIA RECREATIVA COMPETITIVA

MODELO DE
DESENVOLVIMENTO
DE GALLAHUE

De 6 a 7 anos
de 4 a 5 anos FASE MOTORA
de 2 a 3 anos ESPECIALIZADA

FASE MOTORA
FUNDAMENTAL

Estágio Maduro FASE MOTORA


RUDIMENTAR
Estágio Elementar
Estágio Inicial FASE MOTORA
REFLEXIVA
Chegamos, portanto, a chamada Fase Motora Fundamental.
As habilidades do movimento fundamental no início da infância
são fruto da fase do movimento rudimentar do bebê, sendo que
sua utilidade perpassa toda a vida e são componentes importantes
da vida diária de adultos e também de crianças. As tarefas diári-
as de caminhar até o transporte público, subir e descer escadas,
realizar tarefas domésticas leves e pesadas, e equilibrar-se em
posições dinâmicas e estáticas (pegando uma travessa de vidro
em cima do armário) são habilidades básicas importantes ao lon-
go de toda a vida.

A fase motora fundamental é subdivida em três estágios: ini-


cial, elementar e maduro/proficiente.

O estágio inicial da fase do movimento fundamental repre-


senta as primeiras tentativas da criança orientadas para o obje-
tivo de executar uma habilidade fundamental. Seu movimento
ainda falta determinadas partes ou é composto por uma sequên-
cia desacertada, pelo uso acentuadamente restrito ou exagerado
do corpo e por uma má coordenação e fluxo rítmico. Exemplo
disso é quando você faz o movimento repetitivo de levantar
as sobrancelhas, e a criança, tentando imitá-lo, fica revirando
os olhos de uma lado para o outro ou ainda mexe a língua; a
única coisa que não movimenta são as sobrancelhas. Em geral,
os movimentos de locomoção, manipulação e estabilidade dos 2
aos 3 anos encontram-se no nível inicial.

87
O estágio elementar, que costuma englobar os 4 e 5 anos de
idade, envolve a aquisição de maior controle motor e coordenação
rítmica das habilidades do movimento fundamental. A harmo-
nização dos elementos de orientação temporal e orientação es-
pacial do movimento progride, mas os movimentos executados
ainda são muito expansivos e “grosseiros”, como se a criança
gastasse muito mais energia para executar um determinado
movimento por não executá-lo com precisão e primor. Esse é o
estágio que muitas crianças começam a ingressar em atividades
esportivas direcionadas (aulas de futebol, balé, ginástica, judô,
capoeira, natação, e etc) que inicialmente requeiram mais uma
coordenação dos grandes músculos para sua execução. Muitos
indivíduos, tanto adultos como crianças, não conseguem avançar
além desses estágios elementares emergentes em uma ou mais
habilidades de movimento fundamental.

Por fim, o estágio maduro/proficiente é caracterizado por


um desempenho mecanicamente eficiente, coordenado e con-
trolado. Nesse estágio, as habilidades manipulativas, locomo-
toras e estabilizadoras estão bem amadurecidas. A maioria das
pesquisas que englobam as fases motoras de desenvolvimento
propõe que as crianças podem e devem estar no estágio maduro
por volta dos 5 ou 6 anos na maioria das habilidades fundamen-
tais (GALLAHUE et al., 2013). As habilidades manipulativas que
exigem a capacidade de coordenar seu movimento a partir

88
daquilo que você está vendo (coordenação viso-manual) e in-
terceptação de objetos em movimento (pegar, rebater, volear)
tendem a desenvolver-se um pouco mais tarde, pois apresentam
exigências visuais e motoras aprimoradas.

Apesar de serem estágios distintos, eles muitas vezes se so-


brepõem um ao outro. Se você olhar para os movimentos de
crianças e adultos vai reparar que muitos deles não desenvolveram
as habilidades de movimento fundamental até o estágio maduro.
Algumas pessoas conseguem fazer o movimento de chute comple-
to, mas não rebater uma bola de tênis, por exemplo, porque ainda
se encontra no estágio inicial desse movimento. Embora algumas
crianças possam alcançar esse estágio quase que apenas pelo quesi-
to genético e com um mínimo de influência do ambiente, a maioria
requer certa combinação entre oportunidades de prática, incentivo
e instrução em um ambiente que promova o aprendizado. Quan-
do não são ofertadas tais oportunidades, fica muito difícil para a
pessoa alcançar o domínio completo das habilidades de movimento
fundamental (O’KEEFFE, 2001; STODDEN et al., 2008).

A consequência disso é que muitas pessoas abandonam ou


se recusam a fazer determinada atividade, porque não é bom
naquilo. Sendo assim, ela deixa de evoluir rumo a fase motora
seguinte, a Especializada. Já perdi a conta de quantos relatos de
alunos e adultos já ouvi de que não “levam jeito para fazer isso”.
Por um bloqueio mental, fruto de uma possível má experiência no

89
passado e consequente falta de estímulo, essas pessoas deixam de
evoluir e adquirir novas habilidades motoras. Mas também devo
relatar a grande quantidade de casos de alunos e adultos que se
esforçaram e conseguiram, sendo que houveram situações em que
nem eles mesmos acreditavam que fossem capazes.

Atuando no ensino esportivo num colégio em Brasília, havia


um aluno bem jovem, com cerca de sete para oito anos. Na aula
de Futsal, alguns colegas mais habilidosos não queriam jogar
no seu time, porque ele tinha certas dificuldades na sua per-
formance. Certa vez, ele estava chorando no canto da quadra.
Quando o professor o abordou, ele contou que alguns colegas
estavam dizendo que ele era ruim. Até então, seria um possível
típico caso do que vimos no parágrafo acima. Contudo, ele res-
pondeu com confiança de que ele iria treinar com ainda mais
empenho para se tornar um bom jogador e jogar com os demais!
Detalhe: esse era um dos alunos com maior suporte familiar em
casa. Ele prosseguiu firme em seu propósito, atingindo o nível
dos demais ainda no mesmo ano. Perceba que sua força de von-
tade é fruto de uma segurança afetiva advinda do apoio familiar.
O estímulo afetivo associado ao treinamento motor foram essen-
ciais em todo esse processo.

Mas lembre-se de que todas essas situações devem ser


incentivadas pela brincadeira. Isso é tudo o que as crianças
fazem nesse período quando não estão comendo ou dormindo.

90
É como se o “trabalho” da criança fosse brincar. Isto aconte-
ce porque é a forma que elas estabelecem relações afetivas e
aprendem sobre si e o mundo, conhecendo mais sobre seus cor-
pos e potencialidades de movimento, favorecendo o seu cresci-
mento cognitivo. A criança expressa muito de si, seu contexto
familiar e tudo que está ao seu redor quando brinca. Por exem-
plo, ao brincar de mamãe e filhinha com uma boneca, a criança
costuma agir como sua mão faz consigo mesma, ou então ela
vai atuar como vê nos desenhos que vê na televisão (as mesmas
expressões e atitudes).

Existe uma lista de habilidades motoras consideradas funda-


mentais, uma espécie de alfabeto motor, que permitirá à criança
“formar uma base para o aprendizado das palavras (habili-
dades motoras combinadas), que depois permitirão às crianças
a produção de sentenças e parágrafos (habilidades esportivas
e sequências de dança específicas) por meio da reestruturação
das letras em várias combinações. Se os princípios básicos dos
caracteres e das letras não forem assimilados, as crianças terão
um desenvolvimento linguístico deficiente” (GALLAHUE et al.,
2013). Caso a criança não adquira a competência motora básica nos
anos iniciais, a sua capacidade de se movimentar com facilidade,
combinando diversas habilidades motoras básicas será afetada.

Em vista disso, quais são essas habilidades motoras conside-


radas fundamentais?

91
 Habilidades manipulativas: arremessar, pegar/recepção,
chutar, voleio (usando os pés, acertar um objeto antes que o
mesmo toque no solo), rebater, rolar, pular/driblar;

 Habilidades de locomoção (estabilizadora e locomotora):


correr, galopar e correr lateralmente, saltar vertical e hori-
zontalmente (saltar para o alto e para frente), saltitar em um
só pé, passo longo saltado, skipping (um passo-saltito com
um pé, seguido de um passo-saltito com o outro pé elevando
os joelhos);

É óbvio que uma criança de 7 anos executará essas


habilidades de forma mais aperfeiçoada que uma de 2 anos. Por
exemplo, no movimento de recepção de uma bola, quase todas
as vezes a bola vai passar entre os braços da pequena criança de
dois anos, enquanto que a criança de sete anos já será capaz de
ir em direção à bola e pagá-la usando apenas as mãos. Logo, para
todas essas habilidades fundamentais existe certa sequência de
desenvolvimento para cada estágio que a criança se encontre.
Não vou me aprofundar nestes detalhes no livro, mas caso quei-
ra saber mais a respeito, livros que abordam o desenvolvimento
motor detalhadamente contém este tipo de informação. Sugiro
um dos livros usados na bibliografia chamado Compreendendo
o Desenvolvimento Motor.

92
MUITO ALÉM DO
ASPECTO MOTOR

As habilidades motoras trabalhadas nesse período, apesar da
aparência de simples atividade física, adquirem uma ferramenta
de desenvolvimento de diversas competências necessárias à vida
de estudos como também diária, pois ela:

precisará usar as mãos para escrever e, portanto, deverá ter uma


boa coordenação fina. Ela terá mais habilidade para manipular os
objetos, como lápis, borracha, régua, se tiver ciente de suas mãos
como parte de seu corpo e tiver desenvolvido padrões específicos de
movimento. Deverá aprender a controlar seu tônus muscular de for-
ma, a saber, dominar seus gestos. (OLIVEIRA, 2008, p. 39).

É nossa responsabilidade prestar auxílio desde cedo aos


nossos pequeninos, visando ajudá-los a controlar o próprio corpo,
equilibrar a respiração, saber usar braços, pernas, aprender a se
direcionar para a direita, esquerda, lado, saber organizar per-
cepções, manter a atenção e dominar as noções do tempo.

O ser humano possui capacidades de percepção que depen-


dem da atividade motora, assim como movimentos voluntários
que dependem de algumas formas de informação perceptiva.
Embora se desenvolvam em ritmos diferentes, como você deve

93
ter percebido, as capacidades motoras e perceptivas das crianças
exercem influência mútua.

Basicamente, esse comando receptivo-motor funciona da


seguinte maneira:

1 - Você recebe um determinado estímulo sensorial


(cinestésico, visual, auditivo ou tátil), que é transmitido para
o cérebro. O que podemos chamar de input sensorial;

2 - Em seguida, organizamos esses estímulos recebidos e


analisamos tendo como base informações anteriormente
armazenadas na memória. Esse processo é chamado de in-
tegração sensorial;

3 - A partir daí, acontece a interpretação motora, na qual o nosso


corpo começa a calibrar a resposta motora que iremos dar, basea-
do em todas essas informações anteriores somadas aos estímulos
sensoriais que ainda estamos recebendo naquele instante.

4 - Ativamos então o movimento desejado;

5 - Recebemos o feedback do nosso próprio corpo, a partir


do sistema sensorial, para avaliar se aquele ato observável foi
efetivo naquilo que se propusera a realizar. Informações estas
que serão armazenadas em nossa memória para momentos
futuros, caso necessário.

94
Tomemos como um exemplo um jogador de beisebol. O estádio
está lotado aguardando a sua rebatida. Por ser o último jogador a re-
bater a bola, o resultado da partida depende dele. Se acertar o time
ganha a partida, mas se errar serão derrotados. Ele está nervoso e an-
sioso, seu coração bate acelerado, por conta da adrenalina que corre
em suas veias. Ao pegar o taco, respira fundo e fecha os olhos para
se concentrar, pois tem em sua memória perceptivo-motora que esse
tipo de atitude o ajudará a se acalmar e concentrar. O adversário faz o
arremesso da bola em sua direção. Ele então recebe o input sensorial
pela visão de que a bola está se aproximando rapidamente. Baseado
em seu HD mental, ele realiza a integração sensorial a partir de infor-
mações anteriores. A partir daí, ele ajusta a angulação do taco e o mo-
mento preciso de efetuar o movimento, dado treinamentos e partidas
anteriores, bem como a partir da velocidade de aproximação da bola,
que ele consegue observar (interpretação motora). E, de repente,
boom! Ele ativa o movimento e acerta em cheio a bola, que segue para
fora do estádio. Seu time termina a partida como vencedor. Ainda que
inconscientemente, seu corpo foi alimentado pelo feedback de que a
respiração profunda e o fechar dos olhos o ajuda na concentração, a
angulação do taco e sua velocidade de reação foram ideias para acertar
o projétil naquela velocidade de deslocamento.

Então, quais são essas capacidades perceptivo-motoras


que devem ser trabalhadas para contribuir com o desenvolvi-
mento infantil?

95
 Consciência corporal: é a noção que a criança tem de seu
próprio corpo. É como se fosse uma visão 3D que ela tem
de si mesma. Quais são as partes de seu corpo, onde elas se
localizam no espaço, o que cada uma é capaz de fazer e como
movimentá-las. Essa consciência está associada a imagem
corporal: qual o meu peso, altura, cor dos olhos e cabelos, o
que me diferencia e associa ao meu próximo.

 Noção espacial: quanto espaço o meu corpo ocupa e qual


a relação dele com objetos externos para projetar o seu corpo
no espaço externo de forma eficiente. Exemplo: será que eu
passo naquele espaço? Qual alteração na minha forma para
conseguir atravessar um bambolê?

 Lateralidade: consciência de várias dimensões do corpo


e objetos externos em relação à sua localização e direção (di-
reita, esquerda, em cima, embaixo, atrás da cadeira, e etc).
Quanto a predominância de lateralidade pessoal, pode acon-
tecer em três níveis: olho, mão e pé.

 Orientação temporal: envolve a noção de tempo (longo ou


curto), de ritmo (acelerado ou irregular), cadência, renovação
cíclica de períodos (dia, mês, semana, estações do ano, e etc),
ordem e sucessão (antes, durante e depois).

 Coordenação motora: envolve a coordenação motora dos


grandes grupos musculares (coordenação global/geral), dos

96
pequenos grupos musculares ou movimentos bem específicos
(coordenação específica/fina), e a coordenação entre aquilo que
se vê e o movimento que se executa (coordenação viso-manual)
como cortar uma linha tracejada usando uma tesoura.

 Discriminação visual e auditiva: saber distinguir detalhes


em ambientes estáticos ou dinâmicos, percepção de profundi-
dade, separação do objeto e o que está ao seu redor, diferentes
formas, tamanhos e cores; diferentes sons, frequência, altura,
entre outros.

A criança cujo desenvolvimento perceptivo é restrito com


frequência encontra dificuldades na execução de tarefas percep-
tivo-motoras. Vou citar alguns exemplos.

As letras b, d, p e q são todas similares. A única diferença está


na direção da “bola” e do “tracinho” que compõem as letras. A
criança que não tem a lateralidade e direcionalidade inteiramente
estabelecida enfrenta considerável dificuldade na distinção de
várias letras do alfabeto; às vezes invertem palavras inteiras: a pa-
lavra uma às vezes é lida como amu; eles pode ser lida como sele
por causa da incapacidade de projetar direção no espaço externo.

Uma criança que não possui uma consciência corporal estabelecida,


costuma apresentar dificuldade em executar movimentos específicos

97
e em expressar lugares em que sente dor no corpo (não consegue
definir com precisão), não consegue gesticular adequadamente.

Uma pessoa que não teve uma noção espacial bem trabalhada
costuma andar esbarrando nas coisas, apresenta dificuldade em
diferenciar formas e tamanhos, se sente em apuros em estacionar
veículos, andar de moto então, nem se fala!

Temos visto até aqui os aspectos físicos e cognitivos, mas não


pense que me esqueci do aspecto emocional. Como foi dito no
começo do livro, a educação física tem por objetivo desenvolver o
indivíduo como um todo, integralmente.

Nessa fase, as crianças podem ser bastante egocêntri-


cas ou demonstrar ausência de qualquer imposição de sua própria
vontade; ou seja, podem ser briguentas e relutantes em compar-
tilhar e conviver com outras pessoas, como também sempre abrir
mão do que quer para não “perder a amizade”. É inegável que o
ponto de equilíbrio neste aspecto não é muito fácil de ser defini-
do. Caberá aos pais ensinarem aos seus filhos a devida medida de
compartilhamento e imposição da vontade pessoal.

Nesse período, as crianças também aprendem a diferenciar o


que é certo do que é errado, bons e maus hábitos, desenvolvendo a
sua consciência. Tudo isto acontece, principalmente, por meio da ob-
servação da criança. Por ser uma esponja, ela irá absorver as práticas
das pessoas de seu Ambiente (arrumar a cama diariamente, escovação

98
dental, palavrões, graça no falar, higienização corporal, limpeza da
casa, bagunças, roupas sujas e limpas, entre outros hábitos).

Por fim, os pequeninos costumam temer novas situações,


que possam gerar certa insegurança daquilo que eles tem por fa-
miliar. Este temor costuma gerar timidez na criança. Se os pais
incentivarem seus filhos a se desafiarem, ou parabenizá-los pe-
las conquistas, a criança sentirá confiança naquilo que realizar.
Essa confiança em seu potencial irá afetar sobremaneira nas fases
seguintes, não apenas no caráter esportivo, mas de confiança pes-
soal, imposição de sua personalidade, atitude, proatividade, e etc.

DANDO UMA MÃOZINHA


Vimos ao longo deste capítulo a Fase Motora Fundamental,
composta pelos estágios Inicial, Elementar e Maduro/Proficiente.
É um período na vida da criança em que ela adquire independência
de forma progressiva. A partir do domínio do caminhar, adquirido
na Fase Motora Rudimentar, a criança se encontra ávida por co-
nhecer o mundo que a rodeia, atiçada por sua curiosidade. Contudo,
ela ainda está em formação, necessita de ajuda em seu desenvolvi-
mento motor, cognitivo e afetivo para lidar com as situações da vida
diária. Além disso, vimos que, apesar de parecer apenas um exercício
físico, a criança na verdade exercita diversas capacidades perceptivo-

99
motoras, que amadurecidas, irão ajudá-la ao longo de toda a sua vida,
envolvendo o processo de escrita, leitura, dirigir veículos, gesticular
e dar direções adequadamente. Por fim, abordamos a importância
do acolhimento afetivo por parte dos pais e responsáveis, visando
oferecer uma segurança e direcionamento emocional para a criança,
tendo em vista que esse é um período de definições de certo e errado,
estabelecimento de bons e maus hábitos, timidez e etc.

Mas como eu posso ajudar a estimular minha criança? Como


posso lhe “dar uma mãozinha”?

Com relação ao aspecto afetivo, é importante oferecer uma ori-


entação sábia e reforço positivo durante as atividades às crianças.
Isto vai ajudá-las a superar a timidez, vencendo a insegurança.
Gradualmente as crianças precisam receber maiores doses de res-
ponsabilidade para promover independência. É preciso também
reforçar bons hábitos, encaminhando a criança no caminho do
fazer certo e adequado, e revelando a necessidade de abandonar
o errado e inaceitável. Entre os bons hábitos devemos reforçar a
escovação dos dentes, o banho diário, limpeza íntima, organização
e limpeza dos ambientes que ela vive e dos demais, correto alinha-
mento da postura, entre outros.

Quanto a instrução física, é importante que a criança partici-


pe de uma atividade física direcionada/estruturada pelo menos 30
minutos ao dia (dos 2 aos 4 anos), aumentando para 60 minutos

100
dos 4 aos 7 anos (NASPE, 2009). Existe também a importância de
que a criança se engaje numa atividade física não-estruturada, ou
seja, de natureza livre; no mínimo 60 minutos diários para ambas as
idades. É muito importante que você explore diferentes ambientes
com a criança, pois oportunidades e estímulos diferentes de
exploração por meio do corpo e uso de objetos do ambiente ampli-
am a eficiência perceptivo-motora. Parques, playgrounds, calçadas,
quintais e gramados devem entrar na lista. Lembre-se de abordar
os aspectos de segurança e possíveis riscos com a criança antes de
qualquer atividade, seja ela direcionada ou não.

Quanto às atividades estruturadas/direcionadas, procure aplicar


certa variedade nas atividades semanais. Por exemplo, em uma se-
mana focar em habilidades manipulativas, na outra locomotoras, e
na seguinte estabilizadoras. Atividades que envolvem subir e pen-
durar-se são benéficas para desenvolver a parte superior do tron-
co e devem ser incluídas no programa. Não é um problema repe-
tir atividades de forma cíclica desde de que se adicione situações
problemas, pois conforme vimos, a criança estará desenvolvendo e
fortalecendo o seu comando receptivo-motor (input sensorial, in-
tegração sensorial, interpretação motora, movimento e feedback).

Para conhecer a consciência corporal que sua criança tem, por


exemplo, você pode pedir para que ela (usando um giz) desenhe uma
pessoa deitada no chão. Em seguida, ela deve detalhar o desenho.
Os detalhes que ela vai desenhar, vai te dizer muito sobre como ela

101
percebe a si e ao outro. Cotovelos, calcanhar, sobrancelhas, ombros,
dentes, cabelo, orelhas, e etc. Por exemplo, uma criança de 2 a 4 anos
dificilmente vai reconhecer os cílios, as unhas, queixo, sobrancelhas,
polegares e ombros; partes essas que já são esperadas para crianças
com 5 a 7 anos. Você pode pedir para que imite os movimentos de
alguém, jogos de lançar e apanhar, correr, saltar, espalhar partes de
um boneco e pedir que a criança monte, entre outros.

Você pode criar trajetos com obstáculos, passagens estreitas,


sobre e sob barreiras e superfícies irregulares, reprodução de
posições (brincar de estátua, mímica ou dublagem), movimen-
tos ginásticos, direções (frente, trás, em cima, embaixo), jogo da
memória e etc., para estimular a noção espacial.

Dança das cadeiras, coelhinho sai da toca, realizar as habilidades


de locomoção em ritmos diferentes, de acordo com o acompanha-
mento de um instrumento musical, batucar objetos, colorir desenhos
que envolvam situações de dia e noite, estações do ano, triste e feliz,
são bons para estimular a orientação temporal e a pré-escrita.

É importante frisar novamente que cada criança tem o seu


ritmo próprio de aprendizagem. Vejamos então quais tipos de
exercícios são convenientes para atingir desenvolvimento espe-
rado dessas capacidades perceptivo-motoras para determinada
faixa etária, segundo MEUR e STAES (1989).

102
IDADE
DE 2 E MEIO
A 4 ANOS
Consciência Corporal
O corpo vivido;
Coordenação motora global e
específica;
Conhecimento do corpo
*Perceber as partes do corpo;
*Conhecer sua denominação.

Lateralidade
Primeira abordagem por
meio de pequenos jogos de
lateralidade.

Noção Espacial
Conhecimento das noções;
Ponto de vista motor;
*Conhecer o espaço imediato
*Desenvolver diferentes
noções.
Ponto de vista
perceptivo-motor;
*Exercícios de seleção e
progressões.
IDADE
DE 4 A 5 ANOS
Consciência Corporal
Conhecimento do corpo
Ponto de vista perceptivo-motor:
*Discriminação visual.
*Desenvolver várias noções corporais.
*Reproduzir uma figura humana.
Orientação espaço-corporal
Ponto de vista motor:
*Apurar os sentidos.
*Aprendizagem das diversas posições
e conseguir reproduzi-las.

Lateralidade
Todos os jogos de lateralidade que
envolvam os membros inferiores e
membros superiores.

Orientação Temporal
Primeira abordagem por meio de
pequenos jogos de lateralidade.

104
Noção Espacial
*Desenvolver noções em espaço plano e
em espaço com três dimensões.
*Exercícios de reprodução de formas,
grandezas e movimentos.

Orientação espacial
Ponto de vista motor:
*Noções de fila, fileira, frente a frente,
costa, costas contra costas.
*Memória espacial:
- descobrir seu lugar;
- memorizar um espaço criado.
*Desenvolver as orientações:
- Seguir um trajeto;
- Descobrir sua orientação quando os
pontos de referência mudam.
Ponto de vista perceptomotor:
*Discriminação visual.
*Memória perceptiva
*Completar o que está faltando.
*Encontrar Figuras idênticas.

Pré-Escrita
Conhecimento das noções;
Ponto de vista motor;
*Conhecer o espaço imediato
*Desenvolver diferentes noções.
Ponto de vista perceptivo-motor;
*Exercícios de seleção e progressões.

105
IDADE
DE 5 A 6 ANOS
Noção Espacial
Ponto de vista perceptivo-motor:
*Mesmos exercícios que para 4 e 5 anos,
mas escolher os mais difíceis.
*Encontrar figuras idênticas.
*Colorir figuras idênticas.
*Ditado de orientação.
*Aquisição dadireção gráfica.
*Conhecer a posição na sequência.
*Colocar e orientar objetos.
*Exercícios detopologia.
*Exercícios de reprodução de um
modelo utilizando cartelas:
- Dois elementos variam;
- Vários elementos variam;
- de pé/deitado;
- esquerda / direita;
- em cima/embaixo;
- esquerda/direita.
*Exercícios de ‘previsão’:
- dominós,
- fósforos.

106
Organização espacial
Ponto de vistamotor e sensório-motor:
*Observar medidas objetivas.
*Orientar-se de olhos abertos.
*Orientar-se de olhos fechado.
*Jogos de trajeto e de mapas.
*Dobraduras.
*Guiar os deslocamentos de outro.
*Prever diversos trajetos, tendo uma
instrução.
Ponto de vista perceptivomotor:
*Discriminação visual.
*Colorir figuras idênticas.
*Perceber um modelo em um conjunto.
*Exercícios de transparência.
*Criar assuntos a partir de formas
simples.

Lateralidade
*Retomar os jogos
que envolvam os membros inferiores e
membros superiores.
*Organizar-se em função de sua
lateralidade

Jogos de reconhecimento esquerda


- direita:
*Exercícios de orientação simples.
*Acrescentar, mudança nos pontos de
referência.
*Cruzar as instruções.
*Transposição para outrem.

107
Consciência Corporal
Ponto de vista perceptomotor:
*Discriminação, reconhecimento de
diversas posições.
*Associar objetos a diferentes partes
do corpo.
*Reproduzir diversas posições:
- no papel;
- por meio de formas.

Organização-espaço -corporal
Ponto de vista motor:
*Perceber, corrigir, reproduzir diversos
movimentos.
*Refinar seus movimentos: exercícios de
coordenação, de equilíbrio, de habilidade.
*Prever o gesto adequado à
determinada circunstância.
*Mímicas.
Ponto de vistaperceptomotor:
*Descobrir a figura humana descrita.
*Associar o movimento e o material.
*Descobrir a ação segundo a atitude.
*Agrupar os movimentos semelhantes.
*Recompor e exprimir os movimentos
e as ações.

Pré-Escrita
Grafismo
*No plano vertical:

108
-os mesmos exercícios que para as de 4
a 5 anos, mas, além disso:
- caramujo;
- ondas;
- pontes;
- argolas;
- linha quebrada e tetos;
- triângulo.
*No plano horizontal:
- os mesmos exercícios que no plano
vertical e exercícios de pressão do lápis;
- evoluções;
- molde vazado;
- colorir o desenho sem levantar o lápis.

Orientação Temporal
Ponto de vista perceptivomo- tor:
*Ordem e sucessão:
- memorizar uma ordem;
- descobrir a ordem cronológica;
- descobrir sequência lógicas.
*Duração do tempo:
- classificar segundo a velocidade;
- utilizar os termos ‘cedo’, ‘tarde’;
- cronômetro.
*Renovação cíclica dos períodos.
- Ordem das estações;
-Gestão da manhã, da noite;
- Ordem dos dias.
*Ritmos:
- Reproduzir um ritmo escrito.

109
CONCLUSÃO

Um momento de alegria indizível é saber que alguém está a


caminho. Alguém tão pequeno e precioso, que precisará dos devi-
dos cuidados e atenção desde o primeiro momento da gestação, até
se tornar um ser humano com independência e autonomia.

Muitas incertezas nos cercam durante todo esse tempo: Como


fazer a diferença em seu futuro? Como educá-lo adequadamente?
Como lhe proporcionar as melhores experiências? Como apoiá-lo nos
momentos difíceis? Como poderei ajudá-lo em seus primeiros passos?

O objetivo deste livro foi auxiliar os pais não apenas no en-


tendimento dos processos do desenvolvimento motor humano,
desde o período neonatal até os sete anos de idade, conhecen-
do mais sobre as fases motoras, como também na aplicação
desses conhecimentos visando a estimulação adequada, para o

111
desenvolvimento integral de seus pequeninos; com diretrizes
de como criar e aplicar atividades de estímulo, retiradas de um
longo período de vivências dentro da área de estimulação motora
infantil na Educação Física.

Pudemos contemplar como o ser humano é uma máquina


completamente conectada entre as suas partes (motor, cognitivo e
afetivo). Apesar de cada parte ter uma determinada independência
da outra, elas possuem intersecções.

COGNITIVO AFETIVO

PSICOMOTOR

Fonte: ALVES, 2011, p.5.


Acredito que você tenha notado que é difícil você dissociar
atividades cognitivas, motoras e afetivas. Estão todas tão inter-
ligadas. Por exemplo, ao pintar um desenho de brinquedos em
uma praia, você pode ensinar a criança o que são períodos de
descanso e trabalho, dia e noite, estimula a motricidade específi-
ca (contribuindo para a pré-escrita), habilidade manipulativa de
preensão manual (pinça), lateralidade, incentivos emocionais,
diferentes cores e formas. Aproveitar o dia ensolarado e propor
que se imaginassem em uma praia, e brincar com um bom banho
de mangueira. E assim em diante...

A partir das diretrizes e sugestões apresentadas neste livro,


existe um mar de possibilidades e atividades que você pode de-
senvolver com seu pequeno dentro e fora de casa desde a mais
tenra idade. Agora é com você! Mas não se considere solitário
neste caminho. Aqui estou eu, me ofereço para ajudá-lo no
que precisar.

Confesso que muitas vezes fico sem palavras quando contem-


plo aspectos tão específicos sobre o corpo humano. Deus criou
tudo muito bom! Cada mínimo detalhe, do fio de cabelo a ponta
dos pés, tudo tão estruturado e organizado, funcionando de forma
eficiente. Sem sombra de dúvidas, não fomos feitos para ficarmos
parados, mas fomos criados para o movimento.

113
Ó SENHOR,
QUÃO
VARIADAS
SÃO AS TUAS
OBRAS!
TODAS AS
COISAS
FIZESTE COM
SABEDORIA;
CHEIA ESTÁ
A TERRA
DAS TUAS
RIQUEZAS.

Salmo 104:24

114
EI, ESPERE
AÍ! NÃO VAI
EMBORA
AGORA,
A NOSSA
CRIANÇA
NÃO
PARA DE
CRESCER!
O QUE VEM
DEPOIS
DISTO? E
AGORA?!

CONTINUED...
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